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aula04 contratos em geral

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Dos contratos em geral 
 
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. 
A “função social do contrato” acentua a diretriz de “sociedade de direito” e por 
identificação dialética guarda intimidade com o princípio da “função social da 
propriedade”, prevista na Constituição. A concepção social do contrato apresenta-se, 
modernamente, como um dos pilares da teoria contratual. A moldura limitante do 
contrato tem o escopo de acautelar as desigualdades substanciais entre os 
contratantes, valendo, como exemplo, os contratos de adesão. Por sua função 
social, o contrato é submetido a novos elementos integradores de relevância à sua 
formação, existência e execução, superando a esfera consensual; o contrato fica em 
condições de prestar relevantes serviços ao progresso social, desde que sobre as 
vontades individuais em confronto, se ausente o interesse coletivo, através das 
regras de ordem pública, inafastável pelo querer de ambos ou de qualquer dos 
contratantes, com o propósito menor de evitar o predomínio do economicamente 
forte sobre o economicamente fraco. 
 
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua 
execução, os princípios de probidade e boa-fé. 
Cuida-se de dispositivo específico sobre os princípios da propriedade e da boa-fé. O 
primeiro princípio versa sobre um conjunto de deveres, exigidos nas relações 
jurídicas, em especial os de veracidade, de integridade, de honradez e de lealdade. 
O princípio da boa-fé não apenas reflete uma regra de conduta, consubstancia a 
eticidade orientadora da construção do Código Civil. É, em verdade, o preceito 
paradigma na estrutura do negócio jurídico da qual decorrem diversas teorias, dentre 
as quais a teoria da confiança. O dispositivo apresenta insuficiências e deficiências 
na questão objetiva da boa-fé nos contratos. As principais insuficiências convergem 
às limitações junto ao período de conclusão do contrato até a sua execução, não 
valorando a necessidade de aplicação da boa-fé às fases pré-contratual ou pós-
contratual. As deficiências decorrem da ausência de duas funções para a cláusula 
geral de boa-fé: a “supplendi” e a “corrigendi”; no que diz respeito, 
fundamentalmente, aos diversos anexos ao vínculo principal, cláusulas faltantes e 
abusivas. 
 
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar 
a interpretação mais favorável ao aderente. 
A referência a contrato de adesão sugere, por conceituação legal, espécie e não 
gênero. Em verdade, porém, não existe um contrato de adesão, existem contratos 
celebrados por adesão. O mesmo ocorre com relação aos contratos aleatórios e os 
atípicos que se pretendem regular em seções da parte geral deste código. Nessa 
categoria, existem diversos contratos por adesão, caracterizados por técnicas 
 
 
 
 
 
 
 
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comuns de contratação de massa, com visível desequilíbrio de força dos 
contratantes e forte atenuação na liberdade de contratar diante de cláusulas pré-
elaboradas. Não foi dispensada, todavia, regulação própria aos contratos de adesão, 
tal como observada pela Lei 8078, de 11 de setembro de 1990 – o Código de Defesa 
do Consumidor – a crítica de eminentes juristas que apontam o tratamento tímido 
dado pelo Código Civil de 2002 a essa técnica de formação dos contratos ao 
dispensar-lhe apenas 2 dispositivos – VIDE Artigo 541, CDC. 
 
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do 
aderente a direito resultante da natureza do negócio. 
O dispositivo resulta do preceito fundamental segundo o qual a liberdade de 
contratar só pode ser exercida em razão e nos limites da função social do contrato, 
implicando os princípios definidos pelo Artigo 422, do CC, já citado. O ofertante não 
pode privar o aderente de direito resultante da natureza do negócio ao qual este 
aderiu. A justiça contratual impõe a efetividade dos negócios jurídicos seguindo os 
princípios da probidade e da boa-fé. Essas cláusulas opressivas estão presentes, 
notadamente, em contratos de trato sucessivo, complexo e de longa duração, não 
podendo o aderente resultar desprovido de segurança contratual. O caráter abusivo 
da cláusula situa-se em face de tratar-se de uma cláusula de exclusão ou de 
exoneração, frustrante aos interesses do aderente colocado diante da própria 
motivação ou necessidade de adesão. 
 
O Artigo 25 do CDC2 não permite cláusulas que impossibilitem, exonerem ou 
atenuem a obrigação de indenizar previstas na lei consumerista, e que se 
compatibiliza com a necessidade de garantia de direito básico do consumidor no 
tocante à efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais individuais, 
coletivos e difusos – Artigo 6º, VI, CDC3. 
 
 
 
 
 
 
1 Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela 
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou 
serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu 
conteúdo. 
2 Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou 
atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores. 
3 VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, 
coletivos e difusos; 
 
 
 
 
 
 
 
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Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código. 
O dispositivo trata dos contratos atípicos ou inominados, sendo lícito as partes 
ajustá-los, verificando, para esse fim, as normas que disciplinam os contratos 
típicos. Contratos atípicos são os que não dispõem de regramento próprio, embora 
quanto à eficiência e à validade assumam os requisitos ao Artigo 1044 do Código 
Civil de 2002. 
 
Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. 
A lei proíbe a estipulação de pacto sucessório, ou seja, o contrato não pode ter 
como objeto a herança de pessoa viva, não se permitindo cogitar de sucessão 
futura. Cuida-se de preceito de ordem pública, com origem no direito romano. 
 
 
 
 
 
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 Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: 
I - agente capaz; 
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; 
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

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