Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1/3 Dos contratos em geral Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. A “função social do contrato” acentua a diretriz de “sociedade de direito” e por identificação dialética guarda intimidade com o princípio da “função social da propriedade”, prevista na Constituição. A concepção social do contrato apresenta-se, modernamente, como um dos pilares da teoria contratual. A moldura limitante do contrato tem o escopo de acautelar as desigualdades substanciais entre os contratantes, valendo, como exemplo, os contratos de adesão. Por sua função social, o contrato é submetido a novos elementos integradores de relevância à sua formação, existência e execução, superando a esfera consensual; o contrato fica em condições de prestar relevantes serviços ao progresso social, desde que sobre as vontades individuais em confronto, se ausente o interesse coletivo, através das regras de ordem pública, inafastável pelo querer de ambos ou de qualquer dos contratantes, com o propósito menor de evitar o predomínio do economicamente forte sobre o economicamente fraco. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Cuida-se de dispositivo específico sobre os princípios da propriedade e da boa-fé. O primeiro princípio versa sobre um conjunto de deveres, exigidos nas relações jurídicas, em especial os de veracidade, de integridade, de honradez e de lealdade. O princípio da boa-fé não apenas reflete uma regra de conduta, consubstancia a eticidade orientadora da construção do Código Civil. É, em verdade, o preceito paradigma na estrutura do negócio jurídico da qual decorrem diversas teorias, dentre as quais a teoria da confiança. O dispositivo apresenta insuficiências e deficiências na questão objetiva da boa-fé nos contratos. As principais insuficiências convergem às limitações junto ao período de conclusão do contrato até a sua execução, não valorando a necessidade de aplicação da boa-fé às fases pré-contratual ou pós- contratual. As deficiências decorrem da ausência de duas funções para a cláusula geral de boa-fé: a “supplendi” e a “corrigendi”; no que diz respeito, fundamentalmente, aos diversos anexos ao vínculo principal, cláusulas faltantes e abusivas. Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. A referência a contrato de adesão sugere, por conceituação legal, espécie e não gênero. Em verdade, porém, não existe um contrato de adesão, existem contratos celebrados por adesão. O mesmo ocorre com relação aos contratos aleatórios e os atípicos que se pretendem regular em seções da parte geral deste código. Nessa categoria, existem diversos contratos por adesão, caracterizados por técnicas 2/3 comuns de contratação de massa, com visível desequilíbrio de força dos contratantes e forte atenuação na liberdade de contratar diante de cláusulas pré- elaboradas. Não foi dispensada, todavia, regulação própria aos contratos de adesão, tal como observada pela Lei 8078, de 11 de setembro de 1990 – o Código de Defesa do Consumidor – a crítica de eminentes juristas que apontam o tratamento tímido dado pelo Código Civil de 2002 a essa técnica de formação dos contratos ao dispensar-lhe apenas 2 dispositivos – VIDE Artigo 541, CDC. Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio. O dispositivo resulta do preceito fundamental segundo o qual a liberdade de contratar só pode ser exercida em razão e nos limites da função social do contrato, implicando os princípios definidos pelo Artigo 422, do CC, já citado. O ofertante não pode privar o aderente de direito resultante da natureza do negócio ao qual este aderiu. A justiça contratual impõe a efetividade dos negócios jurídicos seguindo os princípios da probidade e da boa-fé. Essas cláusulas opressivas estão presentes, notadamente, em contratos de trato sucessivo, complexo e de longa duração, não podendo o aderente resultar desprovido de segurança contratual. O caráter abusivo da cláusula situa-se em face de tratar-se de uma cláusula de exclusão ou de exoneração, frustrante aos interesses do aderente colocado diante da própria motivação ou necessidade de adesão. O Artigo 25 do CDC2 não permite cláusulas que impossibilitem, exonerem ou atenuem a obrigação de indenizar previstas na lei consumerista, e que se compatibiliza com a necessidade de garantia de direito básico do consumidor no tocante à efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais individuais, coletivos e difusos – Artigo 6º, VI, CDC3. 1 Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. 2 Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores. 3 VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; 3/3 Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código. O dispositivo trata dos contratos atípicos ou inominados, sendo lícito as partes ajustá-los, verificando, para esse fim, as normas que disciplinam os contratos típicos. Contratos atípicos são os que não dispõem de regramento próprio, embora quanto à eficiência e à validade assumam os requisitos ao Artigo 1044 do Código Civil de 2002. Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. A lei proíbe a estipulação de pacto sucessório, ou seja, o contrato não pode ter como objeto a herança de pessoa viva, não se permitindo cogitar de sucessão futura. Cuida-se de preceito de ordem pública, com origem no direito romano. 4 Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei.
Compartilhar