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Tema de redação FUVEST 2008 + Questões de português

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PPPPOOOO RRRRTTTTUUUUGGGGUUUUÊÊÊÊSSSS
1
Jornalistas não deveriam fazer previsões, mas as fazem
o tempo todo. Raramente se dão ao trabalho de prestar
contas quando erram. Quando o fazem não é decerto
com a ênfase e o destaque conferidos às poucas pre-
visões que acertam. 
Marcelo Leite, Folha de S. Paulo.
a) Reescreva o trecho “Jornalistas não deveriam fazer
previsões, mas as fazem o tempo todo”, iniciando-o
com “Embora os jornalistas...” 
b) No trecho “Quando o fazem não é decerto com a
ênfase (...)”, a que idéia se refere o termo grifado? 
Resolução 
a) “Embora os jornalistas não devessem fazer previsões,
fazem-nas o tempo todo”.
b) O pronome demonstrativo o funciona como elemento
de coesão, retomando a idéia de “prestar contas
quando erram”.
2
Devemos misturar e alternar a solidão e a comunicação.
Aquela nos incutirá o desejo do convívio social, esta, o
desejo de nós mesmos; e uma será o remédio da
outra: a solidão curará nossa aversão à multidão, a
multidão, nosso tédio à solidão. 
Sêneca, Sobre a tranqüilidade da alma. Trad. de J.R.
Seabra Filho.
a) Segundo Sêneca, a solidão e a comunicação devem
ser vistas como complementares porque ambas satis-
fazem um mesmo desejo nosso. É correta essa inter-
pretação do texto acima? Justifique sua resposta. 
b) “(...) a solidão curará nossa aversão à multidão, a
multidão, nosso tédio à solidão.” 
Sem prejuízo para o sentido original, reescreva o trecho
acima, iniciando-o com “Nossa aversão à multidão...” 
Resolução 
a) Não, pois solidão e comunicação correspondem a di-
ferentes desejos do ser humano: a solidão supre a ne-
cessidade de isolamento, a comunicação satisfaz nos-
sa carência de relacionamento social.
b) Nossa aversão à multidão será curada pela solidão;
o tédio à solidão será curado pela multidão.
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3
Em janeiro de 1935, um grupo de turistas pernam-
bucanos passeava de carro quando deu de cara com
Lampião e seu bando. Revirando a bagagem do grupo,
um cangaceiro encontrou uma Kodak e entregou ao
chefe, que perguntou a quem ela pertencia. Apavorado,
um deles levantou o dedo. “Quero que o senhor tire o
meu retrato”, disparou o “rei do cangaço”, pondo-se a
posar. O homem, esforçando-se, bateu uma chapa, mas
avisou: “Capitão, esta posição não está boa”. Dando
um salto e caindo de pé, Lampião perguntou: “E esta?
Está melhor?” Outra foto foi feita. Quando libertava os
turistas, após pilhá-los, o “fotógrafo” de ocasião
indagou-lhe como podia enviar as imagens. “Não é pre-
ciso. Mande publicar nos jornais”, disse o cangaceiro. 
Carlos Haag, Pesquisa FAPESP.
a) No texto, as aspas em “rei do cangaço” e “fotógrafo”
foram empregadas pelo mesmo motivo? Justifique
sua resposta. 
b) Os trechos abaixo encontram-se em discurso indireto
e discurso direto, respectivamente. Transforme em
discurso direto o primeiro trecho e, em discurso indi-
reto, o segundo. 
I. (...) um cangaceiro encontrou uma Kodak e entre-
gou ao chefe, que perguntou a quem ela pertencia.
II. “Quero que o senhor tire o meu retrato”, disparou
o “rei do cangaço” (...). 
Resolução 
a) Aspas indicam, em geral, que se trata de discurso
citado, ou seja, que o autor do texto não é responsáv-
el pela expressão aspeada. Há, porém, diferença
entre o que as aspas sinalizam nos dois casos em
questão. Em “rei do cangaço”, elas se devem ao fato
de a expressão ser um lugar-comum, o epíteto
popularmente associado à personagem; em “fotó-
grafo”, elas se justificam pelo fato de a expressão
aspeada não ser adequada, pois o turista não era pro-
priamente fotógrafo, mas tinha sido convertido em tal
pelo cangaceiro ou pela situação.
b) I. … um cangaceiro encontrou uma kodak e entre-
gou ao chefe, que perguntou:
– A quem ela pertence?
II. O “rei do cangaço” disparou (disse) que queria
que o homem tirasse o seu retrato.
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4
O autoclismo da retrete 
RIO DE JANEIRO – Em 1973, fui trabalhar numa
revista brasileira editada em Lisboa. Logo no primeiro
dia, tive uma amostra das deliciosas diferenças que nos
separavam, a nós e aos portugueses, em matéria de lín-
gua. Houve um problema no banheiro da redação e eu
disse à secretária: “Isabel, por favor, chame o bombeiro
para consertar a descarga da privada.” Isabel franziu a
testa e só entendeu as quatro primeiras palavras. Pelo
visto, eu estava lhe pedindo que chamasse a Banda do
Corpo de Bombeiros para dar um concerto particular de
marchas e dobrados na redação. Por sorte, um colega
brasileiro, em Lisboa havia algum tempo e já escolado 
nos meandros da língua, traduziu o recado: “Isabel,
chame o canalizador para reparar o autoclismo da
retrete.” E só então o belo rosto de Isabel se iluminou. 
Ruy Castro, Folha de S. Paulo. 
a) Em São Paulo, entende-se por “encanador” o que no
Rio de Janeiro se entende por “bombeiro” e, em
Lisboa, por “canalizador”. Isto permitiria afirmar que,
em algum desses lugares, ocorre um uso equivocado
da língua portuguesa? Justifique sua resposta. 
b) Uma reforma que viesse a uniformizar a ortografia da
língua portuguesa em todos os países que a utilizam
evitaria o problema de comunicação ocorrido entre o
jornalista e a secretária. Você concorda com essa afir-
mação? Justifique. 
Resolução 
a) Não se trata de equívoco, mas de variações ou dife-
renças entre os dialetos do português falados em Por-
tugal e nas cidades brasileiras mencionadas. No ca-
so, as diferenças são lexicais, ou seja, dizem respeito
ao vocabulário empregado e às variações regionais
no sentido das palavras.
b) Não, pois a uniformização ortográfica não afeta as
diferenças lexicais, que dizem respeito ao emprego do
vocabulário e ao sentido das palavras.
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5
Para Pirandello, o cômico nasce de uma “percepção
do contrário”, como no famoso exemplo de uma velha já
decrépita que se cobre de maquiagem, veste-se como
uma moça e pinta os cabelos. Ao se perceber que aque-
la senhora velha é o oposto do que uma respeitável
velha senhora deveria ser, produz-se o riso, que nasce
da ruptura das expectativas, mas sobretudo do senti-
mento de superioridade. A “percepção do contrário”
pode, porém, transformar-se num “sentimento do con-
trário” — quando aquele que ri procura entender as
razões pelas quais a velha se mascara, na ilusão de
reconquistar a juventude perdida. Nesse passo, a velha
da anedota não mais está distante do sujeito que
percebe, porque este pensa que também poderia estar no
lugar da velha — e seu riso se mistura com a compreen-
são piedosa e se transforma num sorriso. Para passar
da atitude cômica para a atitude humorística, é preciso
renunciar ao distanciamento e ao sentimento de superi-
oridade.
Adaptado de Elias Thomé Saliba, Raízes do riso.
a) Considerando o que o texto conceitua, explique bre-
vemente qual a diferença essencial entre a “per-
cepção do contrário” e o “sentimento do contrário”.
b) “Ao se perceber que aquela senhora velha é o oposto
do que uma respeitável velha senhora deveria ser,
produz-se o riso (...)”.
Sem prejuízo para o sentido do trecho acima, rees-
creva-o, substituindo se perceber e produz-se por for-
mas verbais cujo sujeito seja nós e é o oposto por não
corresponde. Faça as adaptações necessárias.
Resolução 
a) A diferença essencial entre “percepção do contrário”
e “sentimento do contrário” é que a primeira expres-
são sugere a idéia de distanciamento e superioridade
do observador da cenacômica, e a segunda remete à
identificação e à compaixão do observador, que ge-
ram humor e não propriamente comicidade.
b) Ao percebermos que aquela senhora velha não cor-
responde ao que uma respeitável velha senhora deve-
ria ser, produzimos o riso.
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6
I. Não deis aos cães o que é santo, nem atireis aos por-
cos as vossas pérolas (...).
(Mateus, 7:6)
II. Você pode atirar pérolas aos porcos. Mas não adianta
nada atirar pérolas aos gatos, aos cães ou às galin-
has porque isso não tem nenhum significado estab-
elecido.
Millôr Fernandes, Millôr definitivo: a bíblia do caos.
a) Considerando-se que o texto II tem como referência o
texto I, qual é a expressão que, de acordo com Millôr
Fernandes, tem um “significado estabelecido”?
b) No texto I, os significados dos segmentos “não deis
aos cães o que é santo” e “nem atireis aos porcos as
vossas pérolas” reforçam-se mutuamente ou se con-
tradizem? Justifique sucintamente sua resposta.
Resolução 
a) Millôr Fernandes refere-se à expressão proverbial
“atirar pérolas aos porcos”, utilizada correntemente
no sentido de “desperdiçar esforços com quem não é
digno deles ou não é capaz de se beneficiar com
eles”.
b) As duas injunções negativas se reforçam mutuamente,
pois ambas significam que não se deve destinar um
bem valioso a quem não é digno dele ou não tem
condições de o apreciar.
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7
Considere os dois trechos de Machado de Assis relacio-
nados a Iracema, publicados na época em que apareceu
esse romance de Alencar, e responda ao que se pede.
a) A poesia americana está completamente nobilitada;
os maus poetas já não podem conseguir o descrédito
desse movimento, que venceu com o autor de “I -
Juca Pirama”, e acaba de vencer com o autor de
Iracema.
Adaptado de Machado de Assis, Crítica literária.
Machado de Assis refere-se, nesse trecho, a um movi-
mento literário chamado, na época, de “poesia ameri-
cana” ou “escola americana”. Sob que outro nome
veio a ser conhecido esse movimento? Quais eram
seus principais objetivos?
b) Tudo em Iracema nos parece primitivo; a inge-
nuidade dos sentimentos, o pitoresco da linguagem,
tudo, até a parte narrativa do livro, que nem parece
obra de um poeta moderno, mas uma história de
bardo* indígena, contada aos irmãos, à porta da
cabana, aos últimos raios do sol que se entristece.
Adaptado de Machado de Assis, Crítica literária.
*bardo: poeta heróico, entre os celtas e gálios; por extensão,
qualquer poeta, trovador etc.
No trecho, Machado de Assis afirma que a narração de
Iracema não parece ter sido feita por um “poeta moder-
no”, mas, sim, por um “bardo indígena”. Essa afirmação
se justifica? Explique sucintamente.
Resolução 
a) Machado de Assis se refere ao Indianismo, tendência
romântica brasileira cujo objetivo central era nobili-
tar o passado nacional, associando-o a mitos herói-
cos elaborados por meio da idealização dos indíge-
nas e de sua cultura, assimilados a padrões europeus
de excelência física e moral.
b) A afirmação é pertinente, pois o estilo de Iracema
procura incorporar a linguagem e a cosmovisão in-
dígena. A tentativa de simular a cosmovisão indíge-
na é visível, por exemplo, na marcação temporal, que
toma como parâmetro os ciclos da natureza. A apro-
priação da linguagem aborígine ocorre nos nomes
próprios, nas aglutinações lexicais, nas perífrases e
nas comparações com elementos da natureza.
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8
Sou o Descobridor da Natureza.
Sou o Argonauta* das sensações verdadeiras.
Trago ao Universo um novo Universo
Porque trago ao Universo ele-próprio.
Alberto Caeiro, Poesia.
*Argonauta: tripulante lendário da nau mitológica Argo; por
extensão, navegador ousado.
Nos versos acima, Alberto Caeiro define-se a si mesmo
de um modo que tanto indica sua semelhança como sua
diferença em relação a um tipo de personagem de grande
importância na História de Portugal.
a) Em sua definição de si mesmo, a que tipo de perso-
nagem da História portuguesa assemelha-se o poeta?
Explique brevemente.
b) Considerados no contexto geral da poesia de Alberto
Caeiro, que diferença esses versos assinalam entre o
poeta e o referido tipo de personagem histórica de
Portugal? Explique sucintamente.
Resolução 
a) Em sua autodefinição, Caeiro compara-se aos nave-
gantes que participaram da Expansão Marítima
Portuguesa, já que tanto estes como ele realizaram
uma tarefa ousada, que levou à descoberta de um
novo mundo.
b) Caeiro é o heterônimo pessoano que prega a apreen-
são imediata, direta e objetiva da realidade que nos
circunda, sem o racionalismo e a metafísica que,
segundo ele, fizeram adoecer a nossa civilização. Sua
descoberta, portanto, não é de um novo território,
como ocorrera com os navegantes portugueses, mas
de uma nova relação com a realidade, uma nova
forma de conhecimento e de entendimento do mundo. 
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9
— Você janta comigo, Escobar?
— Vim para isto mesmo.
Minha mãe agradeceu-lhe a amizade que me tinha,
e ele respondeu com muita polidez, ainda que um tanto
atado, como se carecesse de palavra pronta. (...)
Todos ficaram gostando dele. Eu estava tão contente
como se Escobar fosse invenção minha. José Dias des-
fechou-lhe dois superlativos, tio Cosme dois capotes, e
prima Justina não achou tacha que lhe pôr; depois, sim,
no segundo ou terceiro domingo, veio ela confessar-nos
que o meu amigo Escobar era um tanto metediço e tinha
uns olhos policiais a que não escapava nada.
— São os olhos dele, expliquei.
— Nem eu digo que sejam de outro.
— São olhos refletidos, opinou tio Cosme.
— Seguramente, acudiu José Dias, entretanto, pode
ser que a senhora D. Justina tenha alguma razão. A ver-
dade é que uma coisa não impede outra, e a reflexão
casa-se muito bem à curiosidade natural. Parece
curioso, isso parece, mas...
— A mim parece-me um mocinho muito sério, disse
minha mãe.
— Justamente! confirmou José Dias para não discor-
dar dela.
Quando eu referi a Escobar aquela opinião de minha
mãe (sem lhe contar as outras naturalmente) vi que o
prazer dele foi extraordinário. Agradeceu, dizendo que
eram bondades, e elogiou também minha mãe, senhora
grave, distinta e moça, muito moça... Que idade teria?
Machado de Assis, Dom Casmurro.
a) Um crítico afirma que, “examinada em suas relações,
a população de Dom Casmurro compõe uma pa-
rentela, uma dessas grandes moléculas sociais do
Brasil tradicional, no centro da qual está um proprie-
tário mais considerável, cercado de figuras que
podem incluir, entre outros, um ou mais agregados,
vizinhos com obrigações, comensais, parentes pobres
em graus diversos, conhecidos que aspiram à proteção
(...).” (Adaptado de Roberto Schwarz, Duas meni-
nas.)
Identifique o papel que cada uma das personagens que
aparecem no trecho de Dom Casmurro desempenha
na composição da referida “parentela”.
(Observação: os nomes das personagens encontram-
se reproduzidos na página de respostas).
b) Na conversação apresentada no trecho, as falas de
José Dias refletem a posição social que ele ocupa
nessa “parentela”? Justifique sua resposta.
Resolução 
a) Escobar: representa a categoria dos “conhecidos que
aspiram à proteção (...)”. O fragmento deixa patente
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a intenção da personagem de agradar e bajular o
amigo que fez no seminário e, especialmente, sua
mãe: “... disse... que me estimava pelas minhas boas
qualidades e aprimorada educação... Insistia ‘na
doce e rara mãe’ que o céu me deu...”
D. Glória (mãe de Bentinho): representa o que Ro-
berto Schwarz denomina o centro da parentela, o
“proprietário mais considerável”. Era uma viúva
rica, cujo patrimônio provinha de rendimentos das
propriedades e de escravos, arrendados ou alugados.
Na visão do crítico, D. Glória compõe, com o círculo
de parentes, agregados e dependentes em diversos
graus, um microcosmo de sociedade brasileira no Se-
gundo Reinado.
José Dias: é o agregado, figura característica da es-
trutura patriarcal. É o homem que, não sendo escravo
nem empregado, não era também parente, mas vivia
sob a proteção do “senhor”, ao qual devia obediên-
cia e favores, retribuídos com trabalhos diversos e
uma subserviência constante. Personagem das mais
interessantes da galeria machadiana, é o “homem
dos superlativos”, que “sabia opinar, obedecendo” e
que foi agregado à família pelo falecido pai de
Bentinho, a quem se apresentou como “médico home-
opata”, atribuindo a si mesmo algumas curas.
Vivendo desde então com a família, faz da esperteza,
da dissimulação, da perspicácia na observação das
relações de poder e conveniência, uma forma de
sobreviver, da maneira mais favorável, num meio ao
qual não pertence propriamente.
Tio Cosme: é, também viúvo, o parente que se coloca
sob o teto e a proteção da matriarca.
Prima Justina: representa uma situação semelhante à
de tio Cosme, e cabe observar que a agregação de
ambos à estrutura familiar de Dona Glória prende-se
à convenção de que, viúva, a matriarca não deveria
viver sob o mesmo teto com um homem solteiro, o
agregado José Dias. Assim, convocados a se abri-
garem sob a proteção da viúva Santiago, serviam
como “biombo”, que preservava o decoro e as
aparências.
b) “— Justamente! — confirmou José Dias para não
discordar dela” e “— Seguramente — acudiu José
Dias —; entretanto, pode ser que a senhora Dona
Justina tenha alguma razão.”
Essas duas intervenções do agregado são exemplares
de sua posição subserviente e sua habilidade em
“opinar obedecendo.”
No primeiro instante, parece dar razão à Prima Jus-
tina, que identifica o caráter “um tanto metediço” e
os “olhos policiais” de Escobar. No instante seguinte,
contradiz-se, e concorda também com D. Glória, a
quem Escobar parecia “um mocinho muito sério”.
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10
Em seu poema chamado “Graciliano Ramos:”, João
Cabral de Melo Neto coloca-se no lugar desse escritor e
desenvolve quatro afirmações:
I. “Falo somente com o que falo:” (= com os meios que
uso para expressar-me, com o estilo que emprego).
II. “Falo somente do que falo:” (= dos assuntos de que
trato, dos aspectos que privilegio).
III. “Falo somente por quem falo:” (= em nome de quem
falo, a quem dou voz em minha obra).
IV. “Falo somente para quem falo:” (= a quem me dirijo
ao escrever, de que modo trato o leitor).
Imitando o procedimento de João Cabral, coloque-se
no lugar de Graciliano Ramos e desenvolva cada
uma dessas quatro afirmações, tendo como refe-
rência o romance Vidas secas.
(Observação: As quatro afirmações a serem desen-
volvidas encontram-se reproduzidas na página de
respostas).
Resolução 
I. “Falo somente com o que falo”, ou seja com con-
cisão, economia vocabular, recorrendo a estruturas
fragmentárias, períodos curtos, próximos da técnica
cinematográfica, com exibição das mesmas imagens,
focalizadas sob ângulos diversos (Estes recursos
compõem, em Vidas Secas, uma poética da secura, da
carência e da opressão, que expressa tanto a aridez
do sertão nordestino, como a visão fragmentária e a
“mudez introspectiva”, a “afasia simbólica”, em que
vivem os retirantes, aprisionados também pela inca-
pacidade de comunicação verbal).
II. “Falo somente do que falo”, ou seja, da realidade
social e psicológica do sertanejo, oprimido pela
inclemência do meio geográfico e pela sociedade
excludente, desigual, injusta e arcaica.
III. “Falo somente por quem falo”, ou seja, dou voz aos
“viventes”, para fazê-los “falar” exibindo as seqüe-
las sociais e psicológicas da violência, com a in-
tenção de harmonizar a objetividade da crítica do
narrador onisciente com a sua capacidade de, pris-
maticamente, traduzir pelo discurso indireto livre os
conflitos, as angústias e os sonhos dos retirantes,
homens e animais, captados em sua interioridade
dolorosa e problemática.
IV. “Falo somente para quem falo”, com o desejo de
mobilizar o leitor, de levá-lo à consciência e desta à
ação transformadora em relação à realidade que
retrato e denuncio.
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RRRREEEEDDDDAAAAÇÇÇÇÃÃÃÃOOOO
Vigilância epistêmica* é a preocupação que todos nós
deveríamos ter com relação a tudo o que lemos, ouvimos
e aprendemos de outros seres humanos, para não sermos
enganados, para não acreditarmos em tudo o que é
escrito e dito por aí. É preciso vigiar o futuro para
sabermos separar o joio do trigo**. 
Hoje boa parte dos sites de busca indexam tudo o que
encontram pela frente à internet, mesmo que se trate
de uma grande bobagem ou de evidente inverdade.
Qualquer opinião emitida, vista como um direito de
todos, é divulgada aos quatro cantos do mundo. De fato,
alguns desses sites de busca deveriam colocar, nos
primeiros lugares, páginas de renomadas Universida-
des, preocupadas com a verdade. 
Todos precisamos estar muito atentos a dois aspectos
com relação a tudo o que ouvimos e lemos: 
• se quem nos fala ou escreve conhece a fundo o
assunto, se é um especialista comprovado, se sabe do
que está falando; 
• se quem nos fala ou escreve, na verdade, é um idio-
ta que ouviu falar algo e simplesmente repassa, aos out-
ros, o que leu e ouviu, sem acrescentar absolutamente
nada de útil. 
Aumentar nossa vigilância e preocupação com a ver-
dade é necessidade cada vez mais premente num tempo
que todos os gurus chamam de Era da Informação. 
Discordo, profundamente, desses gurus. Estamos, na
realidade, na Era da Desinformação, de tanto lixo e
ruído sem significado que, na maior parte das vezes, nos
são transmitidos, todos os dias, eletronicamente, sem
que exista o menor cuidado com a precisão e seriedade
do que se emite, por parte das fontes que colocam
matérias na rede. É mais uma conseqüência dessa idéia
que a maioria das pessoas tem sobre a liberdade de
expressar o que bem quiser, de expressar qualquer
opinião que seja, como se opiniões não precisassem se
basear no rigor científico, antes de serem emitidas. 
Stephen Kanitz, Revista Veja, 03/10/2007. Adaptado. 
* Vigilância epistêmica = capacidade de ficar atento e
perceber se uma afirmação tem ou não valor científico. 
** Separar o joio do trigo = no contexto, capacidade de
diferenciar observações equivocadas, mentiras mesmo, de
outras afirmações que contêm verdades. 
HISTÓRIA – D. Pedro II em viagem: fotografia na web
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OOOOBBBBJJJJEEEETTTTIIIIVVVVOOOO
Países se unem em projeto da ONU
Tesouros informativos de vários países estarão
disponíveis gratuitamente para qualquer internauta, a
partir deste mês, com a formação da Biblioteca Digital
Mundial, uma iniciativa da ONU. O portal terá, na
primeira fase, mapas, fotografias e manuscritos, com
textos explicativos em sete línguas, inclusive português.
Na segunda fase, será possívelconsultar livros. 
A Biblioteca Nacional brasileira é uma das parti-
cipantes. 
O Estado de S. Paulo, 02/10/2007. Adaptado. 
O acesso à Informação (em sua maioria, eletrônica)
se tornou o direito humano mais zelosamente defendido.
E aquilo sobre o que a informação mais informa é a flu-
idez do mundo habitado e a flexibilidade dos habitantes.
O noticiário – essa parte da informação eletrônica que
tem maior chance de ser confundida com a verdadeira
representação do mundo lá fora é dos mais perecíveis
bens da eletrônica. Mas a perecibilidade dos noticiários,
como informação sobre o mundo real, é em si mesma
uma importante informação: a transmissão das notícias
é a celebração constante e diariamente repetida da
enorme velocidade da mudança, do acelerado envelhec-
imento e da perpetuidade dos novos começos. 
Zygmunt Bauman. Modernidade Líquida. Adaptado.
Instrução: Os textos apresentados trazem reflexões e
notícias sobre o mundo digital. Com base nesses textos e
em outras informações e idéias que julgar pertinentes,
redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA, argumentando
de modo claro e coerente. 
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Comentário à proposta de Redação
Nunca se produziu, como hoje, tanta informação,
fenômeno impulsionado pelo advento da internet. Com
base nessa constatação, a Fuvest propôs ao candidato
que, valendo-se de três textos oferecidos como subsídio
à sua produção, redigisse uma dissertação analisando
tal fenômeno. 
O primeiro texto alerta contra a tendência crescente
de aceitar como verdadeira toda e qualquer informação
disponível, sobretudo na internet. Para evitar que as
pessoas continuem a ser vitimadas pela falsa informa-
ção, recomenda-se a “vigilância epistêmica” – definida
como “capacidade de ficar atento e perceber se uma
afirmação tem ou não valor científico”. O segundo texto
traz uma notícia digna de nota: a Unesco anunciou, em
outubro último, a criação da Biblioteca Digital
Mundial, que contará com “tesouros” (livros, mapas,
fotografias e manuscritos) em várias línguas, inclusive
na Língua Portuguesa. No terceiro texto, fragmento
adaptado da obra Modernidade Líquida, do sociólogo
Zygmunt Bauman, trata da “perecibilidade” do rio
informativo que nos cerca.
Após refletir sobre as idéias contidas nesses textos, o
candidato deveria adotar um posicionamento em rela-
ção à questão. Caberia, por exemplo, destacar os
aspectos positivos da expansão da informação e sua
conseqüente democratização, sem contudo deixar de ob-
servar os riscos decorrentes dessas mesmas vantagens.
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