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Disciplina: Climatologia Agrícola Professor: Sidnei Osmar Jadoski ____________________________________________________________________________ 1 BBAALLAANNÇÇOO HHÍÍDDRRIICCOO 1. Introdução O balanço hídrico é a contabilização da água do solo, resultante da aplicação do princípio de conservação de massa num volume de solo vegetado. A variação de armazenamento de água no volume considerado (ARM), por intervalo de tempo, representa o balanço entre o que entrou e o que saiu de água do volume de controle. Como a chuva é expressa em milímetros, isto é, em litros de água por metro quadrado de superfície, para facilitar a contabilização do balanço hídrico, adota-se também uma área superficial de 1 m2 para o volume de controle. Portanto, o volume de controle torna-se uma função apenas da profundidade do sistema radicular das plantas. Admite-se que esse volume de controle seja representativo de toda a área em estudo. Genericamente o balanço hídrico de uma área vegetada pode ser representado pela Figura 1: ENTRADAS: SAÍDAS P = Precipitação (+ Orvalho) ET = Evapotranspiração I = Irrigação Es = Escorrimento Superficial (Run-off) Ee = Escorrimento Superficial (Run-in) DLs = Drenagem Lateral DLe = Drenagem Lateral DP = Drenagem profunda AC = Ascensão Capilar Figura 1. Representação esquemática dos fluxos do balanço hídrico. A chuva e o orvalho dependem do clima da região, enquanto que as demais entradas dependem do tipo de solo e de relevo. O orvalho (O) representa uma contribuição com ordem de magnitude muito pequena (no máximo 0,5mm/dia), muito menor que o consumo diário de uma vegetação ARM P ETI Ee Es DLe DLs AC DP ARM P ETI Ee Es DLe DLs AC DP Disciplina: Climatologia Agrícola Professor: Sidnei Osmar Jadoski ____________________________________________________________________________ 2 em pleno crescimento ativo. Nessas condições, sua contribuição é mais importante no aspecto ecológico, sendo desprezado para o cálculo do balanço hídrico. As entradas e saídas por escorrimento superficial (Ri e Ro) e drenagem lateral (DLi e DLo) tendem a se compensar pois o volume de controle adotado é pequeno (1m2x profundidade efetiva do sistema radicular), nessas condições o balanço hídrico pode, então, ser expresso da seguinte forma: ARM = P + I - ET + AC - DP (1) A precipitação (P) e a irrigação (I) podem ser medidas facilmente. A ascensão capilar (AC), que ocorre em períodos secos, e a drenagem profunda (DP), que ocorre em períodos chuvosos, podem ser determinadas utilizando-se conhecimentos de física de solos. E por fim, a evapotranspiração (ET) pode ser determinada pelos diversos Métodos ou modelos matemáticos já tratados em aulas passadas. Uma observação importante é que o modelo de ET utilizado, como os dados meteorológicos disponíveis, é que vão determinar o intervalo de tempo do cálculo do balanço hídrico para que se possa conhecer a disponibilidade hídrica do solo, ou seja, o seu armazenamento (ARM). O volume de controle é, portanto, determinado pelo conjunto Solo-Planta-Clima. Em solos profundos sob alta demanda atmosférica, as raízes das plantas se desenvolvem explorando um volume maior de solo, na procura por mais água, visando atender a demanda. Nessa situação, as plantas investem na formação do sistema radicular como modo de garantir sua sobrevivência. Por outro lado, se a demanda atmosférica for baixa, um volume menor de solo será suficiente para atendê-la. De modo geral, nos solos argilosos, com maior capacidade de retenção de água, as raízes não necessitam se aprofundar tanto quanto em solos arenosos, que retêm menor quantidade de água. Alguns solos apresentam uma camada compactada que impede tanto a penetração das raízes como a drenagem profunda, e na época chuvosa, o solo fica encharcado, asfixiando as raízes mais profundas, reduzindo o volume efetivo de solo disponível. Nessa situação as plantas são incapazes de atender à uma demanda elevada por muito tempo. Se o terreno for inclinado a drenagem lateral amenizará o problema pela eliminação do excesso de água.Então,o impedimento físico é prejudicial tanto na época da chuvas como na seca. Muitos solos são fisicamente profundos mas agronomicamente rasos pelo acúmulo de elementos tóxicos numa certa profundidade, que interferem no crescimento das raízes. Nesse caso o impedimento químico pode ser minimizado pela correção química (calagem, etc..) ou pela utilização de plantas e variedades resistentes aos elementos tóxicos Para culturas anuais, a profundidade de solo explorado pelas raízes varia com o estádio de desenvolvimento das plantas. Uma vez definida a profundidade, tem-se o volume de controle. 2. Determinação da Capacidade de Água Disponível (CAD) Dependendo da magnitude dos fluxos de entrada e saída de água no volume de controle considerado, o solo pode ter diferentes condições hídricas ao longo do tempo. Um conceito importante a se considerar é o de água disponível às plantas, a qual é considerada como sendo aquela água retida no solo entre as umidades na "capacidade de campo" (limite superior) e no "ponto de murcha permanente" (limite inferior) (Figura 2). Disciplina: Climatologia Agrícola Professor: Sidnei Osmar Jadoski ____________________________________________________________________________ 3 Figura 2. Situações de retenção de umidade pelo solo: SAT= Umidade de Saturação, CC = Umidade na Capacidade de Campo, PMP = Umidade no Ponto de Murcha Permanente e SECO = Solo Totalmente Seco (só em laboratório). Durante uma precipitação pesada ou forte irrigação, um solo poderá ficar saturado de água, ocorrendo imediata drenagem profunda. Nesse momento o solo é considerado como saturado (SAT) e encontra-se na sua máxima capacidade de retenção. A tensão matricial é essencialmente igual a zero. Quando a água de drenagem parar de escorrer teremos (o que ocorre aproximadamente em 2 a 3 dias) a situação de capacidade de campo (CC). Nesse momento a água já saiu dos macroporos (seu lugar foi ocupado pelo ar), e os microporos encontram-se ainda preenchidos pela água, nessa situação teremos ETP= ETR. Se o solo estiver em processo de secamento (até o ponto de murcha permanente), cada vez mais a ETR será menor que ETP o que acarretará uma perda na produtividade da cobertura vegetal. O ponto de murcha permanante (PMP) é aquela condição que o solo apresenta umidade (microporos menores e ao redor das partículas do solo) mas esta já não está disponível para as plantas. As plantas submetidas nessas condições morrerão se um suprimento hídrico não for providenciado. Então, a capacidade de água disponível (CAD) para as plantas pode ser calculada pela expressão 2: CAD = (CC - PMP) x D x Z (2) sendo CC e PMP são as umidade com base em volume ( cm 3 H2O cm -3 solo), D a densidade do solo (g/cm3) e Z a profundidade adotada, sendo considerada como aquela correspondente à profundidade efetiva de exploração de água do sistema radicular. Se L for expressa em mm a CAD terá a unidade de mm de lâmina de água. Os valores de umidade na CC e no PMP são característicos de cada tipo de solo e dependem da textura e da densidade global (ou aparente) do solo e podem ser determinados em laboratório. Entretanto, o valor da CAD é dependente do clima, pois está relacionado à disponibilidade hídrica às plantas o que determina a profundidade do sistema radicular. CAD SECO PMP CC SAT (15 bares) (0,1-0,3 bares) (0 bar) CAD SECO PMP CC SAT (15 bares) (0,1-0,3 bares) (0 bar) Disciplina: Climatologia Agrícola Professor: Sidnei Osmar Jadoski ____________________________________________________________________________4 Ex. Um indivíduo fez uma análise física de solo e determinou que a densidade do solo=1,2, CC =0,287 (cm 3 H2O /cm 3 SOLO) e PMP =0,163. A CAD para uma profundidade de 50 cm (500 mm) será: CAD= (0,287-0,163) x 1,2 x 500 = 74,4 mm Critério prático: Como o balanço hídrico, segundo Thornthwaite & Mather (1955), é mais utilizado para fins de caracterização da disponibilidade hídrica de uma região em bases climatológicas e comparativas, uma opção prática é fazer a seleção da CAD em função do tipo de cultura do que do tipo de solo. Justifica-se isso comparando-se um solo arenoso e um argiloso: se no primeiro o valor de (CC-PMP) é menor, a profundidade do efetiva do sistema radicular (L) é maior, de maneira que há uma compensação, tornando a CAD aproximadamente igual para os dois tipos de solo. Assim, independentemente do tipo de solo, pode-se adotar os seguintes valores de CAD: Tabela 1: Valores adotados de CAD para diferentes grupos de culturas no cálculo do balanço hídrico 3. Balanço Hídrico Climatológico (ou Normal) O balanço hídrico climatológico, desenvolvido por Thornthwaite & Mather (1955) é uma das várias maneiras de estimar o armazenamento médio de água do solo ao longo do tempo. Partindo-se do suprimento natural de água ao solo, simbolizado pelas chuvas (P), e da demanda atmosférica, simbolizada pela evapotranspiração potencial (ETP), e com uma CAD apropriada ao tipo de planta cultivada, o balanço hídrico climatológico fornece estimativas da evapotranspiração real (ETR), da deficiência hídrica (DEF), do excedente hídrico (EXC) e do armazenamento da água no solo (ARM). Para que não haja nem excesso nem deficiência hídrica, a chuva (P) deve ser igual a ETP. Portanto a ETP representa a chuva ideal (que deveria entrar no volume de controle). Essa situação só acontece esporadicamente em alguns períodos. Em algumas regiões há excesso praticamente o ano todo, enquanto que em regiões áridas e semi- áridas isso nunca ocorre. Em regiões tropicais, é mais comum haver excesso numa época, e deficiência em outra. Thornthwaite & Mather (1955) demonstrou, então que : ] CAD Neg.Acum [ eCADARM (3) O Negativo Acumulado da equação 3 indica a perda potencial acumulado de água no solo que será detalhada mais adiante no item 3.1. Uma simplificação, para fins práticos, é considerar desprezível a ascenção capilar (AC=0). Desse modo, torna-se possível estimar a variação do armazenamento, denominada alteração do armazenamento (ALT), a evapotranspiração real (ETR), e a drenagem profunda, agora denominada de excedente hídrico (EXC), resultando na seguinte equação: CAD Hortaliças 25 e 50 mm Culturas anuais 75 e 100 mm Culturas perenes 100 e 125 mm Espécies Florestais 150 e 300 mm Disciplina: Climatologia Agrícola Professor: Sidnei Osmar Jadoski ____________________________________________________________________________ 5 ALT = P-ETR-EXC (ou ARMATUAL-ARMANT) (4) Além de ALT e de EXC, a determinação de ETP e ETR permite estimar o déficit hídrico (DEF), definido como: DEF= ETP- ETR (5) A equação 5 indica que sempre que ocorrer uma umidade do solo inferior à CAD, teremos ETR<ETP e portanto a ocorrência de deficiência hídrica. A DEF assim definida não é somente função do solo, mas sim do sistema solo-planta e atmosfera (ver capítulo sobre ET). Relacionando ALT, ETP, ETR, DEF, EXC e ARM, poderemos achar 5 situações diferentes mostradas na Figura 3 (valores hipotéticos). A situação 1: Como o ARM inicial era máximo (=CAD) e a P que ocorreu foi >= ETP a demanda atmosférica foi totalmente atendida pois não houve falta de água no solo, nessa situação a ETR foi igual a ETP sendo que ainda "sobrou água" ocorrendo EXC. Situação 2: Apesar do ARM inicial ter sido menor que a CAD, a chuva (P) que ocorreu fez com que o valor da CAD fosse atingido ocorrendo uma reposição hídrica no solo suficiente também para que ETR fosse igual a ETP e ocorresse novamente EXC. Situação 3: As mesmas condições da situação 2 só que não sobrou água para o EXC. (A chuva não foi tão intensa) Situação 4: Apesar do ARM inicial ter sido igual a CAD, a chuva (P) não foi tão intensa (< ETP) ocorrendo uma diferença negativa entre P-ETP, denominada de Negativo Acumulado. Nessa situação, como ARM< CAD a ETR < ETP, resultando em DEF. Como houve uma diminuição do ARM temos uma retirada hídrica do solo. Situação 5: As mesmas condições da situação 4 só que o ARM inicial já era menor que a CAD. O Balanço Hídrico Normal pode ser calculado tanto na escala diária como em escalas maiores como a mensal, utilizando-se valores médios de vários anos. Dessa forma ele (o BH), torna-se um indicador climatológico da disponibilidade hídrica de uma região. Essa Metodologia também se aplica quando se quer fazer o acompanhamento da disponibilidade hídrica regional em tempo real, para tanto, calcula-se o balanço hídrico em períodos sequenciais ao longo do ano ou do período de interesse, e não mais com valores normais. Nessa Situação, o balanço hídrico é dito seqüencial ou seriado. Disciplina: Climatologia Agrícola Professor: Sidnei Osmar Jadoski ____________________________________________________________________________ 6 Figura 3. Representação das possíveis situações de variação do armazenamento,e sua relação com ETR, DEF e EXC do balanço hídrico de Thornthwaite & Mather (1955). SOLO com CAD = 100 mm Situação 1 INÍCIO OCORRE FIM P >= ETP ETR ARM ini = CAD=100mm ARM fin = CAD=100mm 82 74 74 ALT = 0 mm ETR = ETP = 74 mm DEF = 0 mm EXC EXC = 8 mm ARM = CAD ARM = CAD 8 Situação 2 INÍCIO OCORRE FIM P > ETP ETR ARM ini = 30 mm ARM fin = CAD=100mm 158 74 74 ALT = +70 mm ETR = ETP = 74 mm DEF = 0 mm EXC EXC = 14 mm ARM = 30 ARM = CAD 14 Situação 3 INÍCIO OCORRE FIM P > ETP ETR ARM ini = 30 mm ARM fin = 46 mm 90 74 74 ALT = +16 mm ETR = ETP = 74 mm DEF = 0 mm EXC = 0 mm ARM = 30 ARM = 46 Situação 4 INÍCIO OCORRE FIM P > ETP ETR ARM ini = CAD=100mmmm ARM fin = 64 mm 30 74 66 ALT = -36 mm ETR = 66 mm DEF = 8 mm EXC = 0 mm ARM = CAD ARM = 64 Situação 5 INÍCIO OCORRE FIM P > ETP ETR ARM ini = 61 mm ARM fin = 36 mm 20 74 46 ALT = -25 mm ETR = 46 mm DEF = 28 mm EXC = 0 mm ARM = 61 ARM = 36 Disciplina: Climatologia Agrícola Professor: Sidnei Osmar Jadoski ____________________________________________________________________________ 7 3.1 Roteiro para Elaboração do Balanço Hídrico Climatológico Tomando-se como exemplo os dados médios de 1961 a 1990 (normais) para Ribeirão Preto, SP, será apresentado como foi realizado os cálculos, usando-se o método de Thornthwaite, simplificado por Camargo para a estimativa da ETP. Embora o exemplo seja com ETP calculado pelo método de Thornthwaite, é importante saber que este roteiro pode ser utilizado com ETP estimada por qualquer método. É óbvio que se for outro método então serão inutilizadas as colunas da planilha correspondentes à estimativa pelo método de Thornthwaite. A vantagem do método Thornthwaite é que são necessários apenas dados de chuva, que representa a principal entrada de água no solo, em condições naturais. Disciplina: Climatologia Agrícola Professor: Sidnei Osmar Jadoski ____________________________________________________________________________ 8 EXEMPLO: Local: Ribeirão Preto (SP) Latitude: 21 o 11’S Período: 1961-1990 CAD = 100mm Mes T( o C) ETT mm COR ETP mm P mm P-ETP NEG. ACUM ARM mm ALT mm ETR mm DEF mm EXC mm Jan 23.6 3.5 1.11 120 268 +148 0 100 0 120 0 148 Fev23.6 3.5 1.07 105 218 +113 0 100 0 105 0 113 Mar 23.4 3.2 1.02 101 159 +58 0 100 0 101 0 58 Abr 22 2.9 0.97 84 81 -3 -3 97 -3 84 0 0 Mai 19.7 2.2 0.92 63 55 -8 -11 90 -7 62 1 0 Jun 18.7 1.9 0.90 51 31 -20 -31 73 -17 48 3 0 Jul 18.7 1.9 0.91 54 28 -26 -57 57 -16 44 10 0 Ago 20.9 2.6 0.95 77 25 -52 -109 34 -23 48 29 0 Set 22.5 3.2 1.00 96 58 -38 -147 23 -11 69 27 0 Out 23.3 3.2 1.05 104 139 +35 -54 58 +35 104 0 0 Nov 23.5 3.5 1.10 116 174 +58 0 100 +42 116 0 16 Dez 23.3 3.2 1.12 111 298 +187 0 100 0 111 0 187 Ano 21.9 -- -- 1082 1534 452 -- -- 0 1012 70 522 3.2 Aferição Dos Cálculos Depois de terminado o Balanço Hídrico Normal é conveniente verificar a exatidão dos cálculos, através das seguintes relações: P = ETP + (P - ETP) (6) P = ETR + EXC (7) ETP = ETR + DEF (8) ALT = 0 (9) Aferição do exemplo: P = ETP + (P - ETP) 1534 = 1082 + 452 = 1534 P = ETR + EXC 1534 = 1012 + 522 = 1534 ETP = ETR + DEF 1082 = 1012 + 70 = 1082 ALT = 0 - 77 + 77 = 0 Disciplina: Climatologia Agrícola Professor: Sidnei Osmar Jadoski ____________________________________________________________________________ 9 3.3 Inicialização do Balanço Hídrico Climatológico Normal Existem várias maneiras de se inicializar o balanço hídrico climatológico normal. O critério proposto por Thornthwaite & Mather (1955) é o de que o solo se encontra na capacidade máxima de armazenamento no final do período úmido, ou seja, NEG.ACUM = 0 e ARM = CAD. Caso isso não seja a realidade (ALT 0), procede-se novamente os cálculos do balanço hídrico com o último valor encontrado para o ARM no final do período úmido e assim sucessivamente até que a ALT seja igual a zero na aferição final. Esse critério é facilmente aplicável em regiões onde o clima é úmido ou super-úmido, onde as chuvas no período úmido são suficientemente elevadas para reabastacer completamente o armazenamento de água no solo. No entanto, em regiões onde isso não ocorre (regiões de clima semi-árido e árido), o critério desses autores torna-se um processo repetitivo, demandando tempo e dificultando sua informatização. Outro critério de inicialização do balanço hídrico é o proposto por Mendonça (1958), o qual é válido no caso da região ter uma estação úmida e uma estação seca. Esse critério possibilita se determinar os valores corretos de ARM e NEG.ACUM dispensando os cálculos iterativos originalmente propostos por Thornthwaite & Mather (1955). O critério parte da soma dos valores de P-ETP da estação seca (N), negativos, e da soma dos valores de P-ETP da estação úmida (M), positivos, dividindo-se em dois casos: a) Caso 1: soma anual de P-ETP 0 - neste caso no final do período chuvoso o solo está plenamente abastecido de água (ARM = CAD) (O que ocorreu no exemplo de Ribeirão Preto). b) Caso 2: soma anual de P-ETP < 0 e CAD > M - Como a CAD > M, o ARM nunca será igual à CAD, sendo assim desconhecidos os valores iniciais de ARM e NEG.ACUM. A solução proposta por Mendonça (1958) é a seguinte: CAD N e1 CAD M Ln CAD NEG.ACUM. (10) Se porventura ocorrer soma anual de P-ETP<0 e CAD< M, significa que no fim do período chuvoso o ARM aumentará até atingir o valor da CAD então inicia-se o balanço conforme o caso 1. EXEMPLO: M = (P-ETP)POS = 50 N = (P-ETP)NEG = -380 CAD = 100mm 0,67 e1 100 50 Ln CAD NEG.ACUM. 100 380 Então, ARM = CAD . exp (NEG.ACUM/CAD) = 100 . exp (-0,67) = 51mm ARM do último mês do período de P-ETP>0 (ver o exemplo do BH para Barra-SP no item 6). Disciplina: Climatologia Agrícola Professor: Sidnei Osmar Jadoski ____________________________________________________________________________ 10 4. Representação Gráfica do Balanço Hídrico A representação gráfica tem por finalidade permitir a visualização do ritmo anual dos elementos do balanço hídrico para facilitar sua interpretação. Tradicionalmente essa representação pode ser completa ou simplificada. Completa: plota-se os dados de Precipitação (P), ETP e ETR, pelas áreas formadas obtém-se os EXC (ETP>P), DEF (ETR<ETP), REPOSIÇÃO (ALT >0) e RETIRADA (ALT<0).O período com EXC significa que as chuvas (P) foram maiores que a ETP. Nessa situação ETR=ETP pois não há restrição de água no solo. No início do período seco, o solo ainda tem água suficiente para atender a demanda atmosférica por no mês de abril, mas depois, as chuvas sendo inferiores a ETP, resulta em um período com restrição hídrica (DEF), ocasionando ETR<ETP. No início do período chuvoso em setembro, as primeiras chuvas são usadas para repor a água no solo e para manter a ETR, até que finalmente o solo esteja plenamente abastecido (ARM=CAD) e as chuvas cada vez maiores ocasionam novamente EXC (Figura 4). Figura 4 - Representação gráfica completa do BH Climático da cidade de Ribeirão Preto- SP (Período de 1961-1990) Simplificada: Também denominada de Extrato do Balanço Hídrico, essa representação utiliza somente os valores de EXC (valores positivos) e DEF (valores negativos). Disciplina: Climatologia Agrícola Professor: Sidnei Osmar Jadoski ____________________________________________________________________________ 11 Figura 5 - Representação gráfica simplificada do BH Climático (Extrato) da cidade de Ribeirão Preto- SP (Período de 1961-1990) 5. Aplicações do Balanço Hídrico Climatológico (Normal) O balanço hídrico climatológico tem várias aplicações, entre as quais destacam-se: Comparação da disponibilidade hídrica regional com outras áreas. Caracterização de secas e seus efeitos na agricultura, como redução da produção. Zoneamento Agroclimático: BHC serve de base para o estudo climático regional, sendo a região classificada como apta, marginal ou inapta em função das exigências térmicas e hídricas de um determinado cultivo. Determinação das melhores Épocas de Semeadura: indica qual época é menos sujeita a restrições hídricas para a cultura em questão. Pelas Figuras 4 e 5, constata-se que na região de Ribeirão Preto, SP, em média, a melhor época de cultivo para plantas de ciclo anual sem irrigação é o período que se inicia em Outubro/Novembro e termina em Março/Abril. Cultivos fora desse período só serão possíveis desde que se disponha de suporte de irrigação para corrigir a deficiência hídrica regional. Dentro do período chuvoso, há plenas condições para aparecimento de doenças e pragas pelo excesso de umidade regional. -50 0 50 100 150 200 Ja n F ev M ar A b r M ai Ju n Ju l A g o S et O u t N o v D ez D E F E X C ( m m ) Disciplina: Climatologia Agrícola Professor: Sidnei Osmar Jadoski ____________________________________________________________________________ 12 Lista de Balanço Hídrico 1. Calcule os balanços hídricos normais, na escala mensal, das localidades indicadas. Aferir os cálculos e fazer a representação gráfica completa e a simplificada de cada balanço. Indique qual melhor período para plantio de uma cultura anual com aproximadamente 120 dias. Local: Capão Bonito (SP) Lat: 24º02'S Período: 1960-1990CAD = 100mm Mes Tar (ºC) ETT (mm) COR ETP (mm) P (mm) P-ETP NEG ACU ARM (mm) ALT (mm) ETR (mm) DEF (mm) EXC (mm) Jan 23,2 3.2 1.07 123 178 Fev 23,7 3.5 1.06 108 146 Mar 22,8 3.4 1.03 104 123 Abr 20,8 2.9 0.99 86 68 Mai 18,0 2.6 0.90 61 70 Jun 16,0 1.9 0.93 53 66 Jul 16,2 1.3 0.89 57 57 Ago 17,3 2.7 0.97 73 48 Set 18,2 3.2 1.02 98 83 Out 20,4 3.2 1.04 99 116 Nov 21,8 3.7 1.11 113 107 Dez 22,5 3.6 1.10 116 158 ANO 20,1 1220 Disciplina: Climatologia Agrícola Professor: Sidnei Osmar Jadoski ____________________________________________________________________________ 13 Local: Petrolina (PE) Lat: 9º14'S Período: 1960-1990 CAD = 100mm Mes Tar (ºC) ETT (mm) COR ETP (mm) P (mm) P- ETP NEG ACU ARM (mm) ALT (mm) ETR (mm) DEF (mm) EXC (mm) Jan 26,9 3.6 1.10 134 72 Fev 27,0 3.9 1.09 109 90 Mar 26,6 4.2 1.07 108 148 Abr 25,8 3.4 0.90 89 82 Mai 25,4 2.9 0.93 67 29 Jun 24,5 2.1 0.96 56 10 Jul 24,7 1.5 0.93 60 13 Ago 24,8 3.0 0.94 76 4 Set 26,2 3.5 0.99 95 6 Out 27,8 3.6 1.01 97 21 Nov 28,2 3.9 1.08 116 50 Dez 27,1 3.9 1.02 121 84 ANO 26,3 609 Disciplina: Climatologia Agrícola Professor: Sidnei Osmar Jadoski ____________________________________________________________________________ 14 BIBLIOGRAFIA Alfonsi, R.R.; Pedro Jr., M.J.; Arruda, F.B.; et al. 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