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Revista de Educaçüo ColI/illuada do CRMV-SP / COl/til/uous Educariol/ Journal CRMV-SP. Süo Paulo. \'oluII/e 2,Jascículo I. p. 34 - 38. 1999. Physiopathology of the congestive heart failure in small animal ApartridoAntonio Camacho1·CRMV-SPno 2212 PatriciaMendes Pereira2- CRMV-SP n° 8256 I Professor Adjunto do Depru1alllento de Clínica e Cirurgia Veterinária da fCAVIUNESP/Calllpus de Jaboticabal - São Paulo 2 Professora Assistente do Departamento de Clínica e Cimrgia Veterinárias da niversidade Estadual de Londrina - Paraná RESUMO Praf. DI'. Aparecido Antonio Camacho Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - UNESP Rodovia Carlos Tonanni, Km 05 CEP: 14870-000 Jaboticabal- SP. e-mail: camacho@fcav.unesp.com.br Os autores revisam os principais aspectos fisiopatológicos e clínicos da insuficiência cardíaca con- gestiva em pequenos animais (cães e gatos), enfatizando a ICC como índrome decorrente de diver- sas cardiopatias e detalhando os mecanismos compensatórios relacionados mormente aos si temas impático e renina-angiotensina-aldosterona. Palavras chaves: Insuficiência cardíaca, Cães, Gatos onsiderada uma sín- drome clínica decor- rente de diversas car- diopatias, a insuficiên- cia cardíaca con- gestiva (ICe) é o resultado fi- nal da disfunção sistólica e/ou diastólica, que leva à produção de sinais clínico de conges- tão, edema e perfusão an- güínea inadequada3. As prin- cipais cardiopatias em cães e gatos que podem levar à ICC são: miocardiopatias dilatada, rupertrófica e restritiva, miocar- dites, endocardites e endocar- dioses, parasitoses cardíacas, efu ões pericárdicas, arritmi- as, tumores e cardiopatias con- gênitas 10 (Quadro I). 34 CAMACHO, A.A;PEREIRA, P. M. FisiopalOlogia da insuficiência cardíaca congestiva em pequenos animais. Revista de Educação Continuada do CRMV-SP I COII/illuous Educa/ioll Jouma/ CRMV-SP. São Paulo, volume 2, fascículo I, p. 34 - 038, 1999. A angiotensina II é um potente vasocon tritor que auxilia na manutenção da PA, elevando a resis- tência vascular periférica (RVP) e conseqüentemen- te a pós-carga, e também estimula a produção e se- creção de aldosterona. Esta última, por ua vez, pro- move a retenção de sódio e água nos túbulo coleto- res renais aumentando o volume plasmático (pré-car- ga)9,17,IO,20. Além desta ações, a angiotensina II atua nos túbulos renais, facilita diretamente a reab- sorção e retenção circulatória de ódio e água; em ação indireta no sistema nervoso central promove a liberação do hormônio anti diurético e ativa o reflexo da sede, o qual aumenta a ingestão de água e com isto ocorre uma maior retenção de fluido e aumento da pré-carga. Simultaneamente, a angioten ina 11 es- timula o sistema nervoso simpático, contribuindo para uma maior vasoconstrição e regulação da pre são ar- terial l . O aumento da RVP tem sido documentado em cães com ICC9, 15, 16; consequentemente, a elevação da pós- carga acarreta efeitos desfavoráveis que inclu- em: diminuição do débito cardíaco e um maior consumo de oxigênio pelo miocárdio. Em cães com insuficiência da valva mitral, a elevação da RVP aumenta o volume sangüíneo regurgitado para o átrio esquerdo. Por sua vez, a ECA, além de atuar na conversão da angiotensina I em angioten ina lI, também atua na inativação da bradicinina22 . A bradicinina é um potente hormônio va odilata- dor, derivado das cininas pela ação das calicre- ínas, que está presente na circulação ou pode ser produzida localmente por célula endoteli- ais 18. Uma conseqüência adicional da ação ca- talítica da enzima conversora é que a angioten- sina II e a bradicinina têm outros importante efeitos além da regulação do tônus arteriolar. A angiotensina II também tem ação mitogênica, enquanto a bradicinina não é somente um vasodilatador, mas tam- bém é um inibidor do crescimento e proliferação celu- lar, estando estas substâncias diretamente ligadas à estimulação e inibição da hipertrofia cardíaca, respecti- vamente8. A hipertrofia cardíaca é uma resposta inadequada ao estímulo no crescimento dos miócito cardíacos onde ocorre um aumento na síntese protéica (fibrobJasto), mas a divisão celular está bloqueada. Este crescimento inde- sejado leva as células miocárdicas à morte, precoce- mente, por apoptose (morte celular programada), mas o mecanismo que acelera esta mOlte celular ainda não está clar08. QUADRO 2: REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DOS MECANISMOS COMPENSATÓRIOS RELACIONADOS COM O SISTEMA RENINA ANGIOTENSINA ALDOSTERONA DURANTE A ICC • DESENVOLVIMENTO DA ICC • SECREÇÃO DE RENINA • CONVERSÃO DO ANGIOTENSINOGÊNIO EM ANGIOTENSINA I • ENZIMA DE CONVERSÃO DE AI PARA Ali (VASOATIVO) • Ali ESTIMULA SECREÇÃO DE ALDOSTERONA • ALDOSTERONA PROMOVE ABSORÇÃO Na· e CI- e SECREÇÃO DE K· e H' • O SAL RETÉM H'O E AUMENTA A VOLEMIA Durante a ICC, a incapacidade cardíaca de bom- bear o angue re ulta na redução do débito cardíaco (DC) e posterior aumento na pre são diastólica final (PDF) do ventrículo esquerdo (VE)13,14,15. A redução do DC pro- move a diminuição da pressão arterial sistêrnica (PA), enquanto o aumento da PDF do ventrículo esquerdo po- derá acarretar em congestão das veias pulmonares. A síndrome representa uma interação complexa de meca- nismos compensatórios que tentam preservar a função cardíaca e o fluxo sangüíneo ll ,17. Os principais meca- nismo compensatórios referidos anteriormente são re- presentado pelo aumento na atividade do sistema ner- voso autônomo simpático através da liberação de cate- colanlinas, pelas modificações dos pressoreceptores aór- ticos e carotídeos em função das mudanças da PA, pela ativação do istema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) sistêmico e local, (Quadro 2) e, por último, pela hipertrofia cardíaca excêntrica decorrente da retenção de sódio e água e conseqüente aumento de volume san- güíneo ou pré-carga I 1,5,16,13,12,21. O aumento da atividade simpática e a conseqüen- te redução do fluxo sangüíneo renal demarcam um aumento na liberação de renina com ativação do SRAA I. Por sua vez, o angiotensinogênio plasmático é convertido em decapeptídeo denominado angiotensina I pela ação direta da renina. A angiotensina I formada é um hormônio vasoativo de baixa potência, que é poste- riormente hidrolizado pela ação da enzima conversora de angiotensina (ECA) e convertido em octapeptídeo designado angiotensina 119,2,14,17,10,2°. O sistema reni- na-angioten ina-aldo terona é considerado um sistema hormonal circulante e tecidual, pois todos os seus com- ponentes têm sido detectados no coração e em outros tecidos7. 35 CAMACHO, A.A;PEREIRA, P. M. Fisiopatologia da insuficiência cardíaca congestiva em pequenos animais. Revista de Educação Continuada do CRMV-SP I COll/inL/oL/s Edllcalion JOL/rna/ CRMV-SP. São Paulo. volume 2, fascículo I, p. 34 - 38, 1999. r--..-rr -aÜÂORO 3: ALGORITMO DA ~",~. PATOGENIA DO Et?EMA PULMONAR ~ E DA EFUSAO DA ICC ...:.::... ti. DÉ.B.!T.O .- CORAÇÃO -. INSU.. FIC.I.ÊNC.IA-.·.,I. CARDIACO .. ' . VENTRICULAR_ l~.·/VO~. PbASMATICO j'HA D ··.·i-·.·.···.',.-. '1"'}'. PRESSAO' . -to .. ...;:%~~..,i. ~o--- TONO' PRESSÃO,l.Jt~~~: .AORENAL~ jSIMPATICO ~ VE~OSA"~ l ·rFRAç.AOO.EFILTRACAO ~R.ET.. ENÇÃO' 'i EDEMAE.~~'.. RENINA-ANGIOTENSINA -. DE N H EFUSÕES::;' • ALDOSTERONA . . . a+ e 20 " .. ,'.L.=. .' .... ,'.:.,y. .. " Cada mecanismo compensatório da patogenia da ICC (Quadro 3), eventualmente, poderá produzir efeitos colaterais deletérios quando ativados por um tempo ex- cessivo. Os efeitos deletérios destes mecanismos são os responsáveis pelos sinais clínicos da ICC5,2, 10,13. A ICC esquerda pode apresentar sinais respirató- rios como tosse, taquipnéia, taquicardia e expectoração Figura I - Representação fotográfica do edema pulmonar durante a ICC esquerda. Figura 2 - Representação fotográfica da ascite durante a ICC direita36 espumosa (Fig. I), enquanto que a ICC direita causa con- gestão venosa da circulação sistêmica, hepatomegalia, esplenomegalia, efusões em cavidades corpóreas, ede- ma de membros, caquexia e ganho de peso por retenção de água (Fig.2). A ICC generalizada ou bilateral apre- .~.:~..\C.."':.J.A..s S.. .A..S (;_..\.00S ~A.S ~ , ~ =" = "" ~ "A : ..... A f". A ~ ,.... "" ': =~-- "~VV • • \..1 V.J""\.'-" U./""\. • • -J • .ro..\-I.J""I.'-I "'-../0 ..........._v _ _ ...-..\..1 senta um agravamento na sintomatologia das ICC es- querda e direita (Quadros 4 e 5), tais como fraqueza e fadiga (intolerância ao exercício), perda de peso, caque- xia cardíaca, dispnéia de esforço, taquiarritmia e perfu- são periférica deficiente com aumento no tempo de pre- enchimento capilar, membranas pálidas, cianose e extre- midades frias3,10,13. A ICC é classificada pela New York Heart As- sociation, em seres humanos, de acordo com a severi- dade funcional e é dividida em 4 classes segundo o desenvolvimento de sinais clínicos durante os exercí- cios20,4, IO, não sendo a classificação mais adequada para cãe e gato . A classificação mais adequada para os cães com ICC fundamenta-se no diagnóstico anatômico e na se- CAMACHO, A.A;PERErRA, P. M. Fisiopalologia da insuficiência cardíaca congesliva em pequenos animais. Revista de Educação Continuada do CRMV-SP I Conlinllolls Edllcalion JOllma/ CRMV-SP. São Paulo, volume 2, fascículo I, p. 34 - 38, 1999. veridade dos sinais clínicos do animal em repouso, e foi proposta em 1992 pelo International Small Animal Cardiac Health Council. Nesta classificação, a ICC é dividida em três estágio . Estágio I: pacientes com afecção cardíaca sem sinais clínicos, podendo ou não apresentar sinais de compensação no exame radiográ- fico ou ecocardiográfico. A necessidade de tratamen- to neste estágio é que tionáveI. Estágio 11: pacientes com ICC moderada e com sinai clínicos de intolerân- cia a exercícios, tosse, taquipnéia leve a moderada e ascite, evidentes no repouso ou em exercício modera- do, afetando adversamente a qualidade de vida. Está- gio 111: pacientes com ICC avançada e com sinais clínicos que incluem dispnéia, ascite severa, profunda intolerância ao exercício, ou hipoperfusão em repou- so. Nos casos mais severos o paciente pode apre en- tar-se prostrado e em choque cardiogênico, cuja mor- te ou severa debilitação é provável sem o uso da tera- pia adequada. Os pacientes no estágio IH são subdivi- didos em dois grupos: pacientes que podem ser trata- dos em casa e aqueles cuja severidade dos sinais clíni- cos impõe tratamento hospitalar. O tratamento da ICC deve ser individualizado. A prioridade é determinada pela correção dos sinais QUADRO 6: PROCEDIMENTOS TERAPÊUTICOS DURANTE A ICC ICC E A TERAPIA DOS 5 Ds Dieta Hipossódica Diuréticos Dilatadores Venosos e Arteriais Digitálicos - Inotrópicos positivos Descanso ou repouso Antiarrítmicos se necessário clínicos que possam trazer riscos à vida. Os compo- nentes básicos do tratamento da ICC são: redução na ingestão de sal; redução da oposição à ejeção de san- gue pelo ventrículo esquerdo (pós-carga) por meio de vasodilatadores e repouso; identificação da cardiopa- tia e eliminação dos fatores que precipitam a ICC; con- trole das arritmias cardíacas com utilização de anti- arrÍtrnicos ; redução da volernia ou pré-carga com diuré- ticos e venodilatadores e aumento da contratilidade com inotrópicos positivosS, 10,6,19 (Quadro 6). SUMMARY Clinicai and physiological a pects in congestive heart failure were reviewed in small animal (dog and cats), a1so the relation hip with other cardiac diseases and the interrelates with simpatic and renin- angiotensin-aldosterona systems. Unitenns: Heart failure, Dogs and Cats BIBLIOGRAFIA DE APOIO - AWAN, N.A., MASON, D.T. Direct selective blockade of lhe vascular angioten in 11 receptors in therapy for hypertension and severe congestive heart failure. Am Heart J, v.131, n.l, p.I77-8S,1996. 2 - BATLOUNl, M. Insuficiência cardíaca: da fisiologia ao tratamento. Parte I - Fisiopatologia. Arq Bras Cardiol, v.S7, n.I, p.63- 73, 1991. 3 - CALVERT, C.A. Effect of medicaI therapy on survival of patients with dilated cardiomyopalhy. Vet Clin orth Am; SmaJl Anim Praet, v.21, n.S, p.919-30, 1991. 4 - ISHlBASHI, T. et aI. Hemodynamic effect ofbenazepril, an angi- otensin-converting enzime inhibitor, as studied in conscious nor- motensive dogs. 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