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Brasília-DF. Distúrbios Do sistema CarDiovasCular Elaboração Jefferson Bruno Pereira Ribeiro Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I DOENÇAS CARDÍACAS ......................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 REVISÃO ANÁTOMO-FISIOLÓGICA ............................................................................................ 9 CAPÍTULO 2 VERME DO CORAÇÃO ........................................................................................................... 46 CAPÍTULO 3 TUMORES CARDÍACOS ........................................................................................................... 57 CAPÍTULO 4 DOENÇAS CARDÍACAS .......................................................................................................... 64 UNIDADE II DIAGNÓSTICOS ESPECÍFICOS .............................................................................................................. 90 CAPÍTULO 1 AFECÇÕES CARDIOVASCULARES ........................................................................................... 90 PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 120 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 122 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução Caro estudante, este material reúne conteúdos conceituais, factuais e procedimentais que permitirão que você estude e compreenda as manifestações clínicas da doença cardíacas, aprofundando conhecimentos sobre suas variantes, bem como trataremos sobre diagnóstico e terapêutica sobre este acometimento. O sistema cardiovascular é fundamental para o bom funcionamento do organismo, mas também é um dos sistemas mais afetados por doenças sérias. Existem diversos tipos de doenças cardiovasculares, as quais podem variar desde a sua causa até o seu grau de agressividade, decorrente de fatores genéticos ou mesmo ambientais. As doenças cardíacas que cometem pequenos animais não são iguais às que acometem os homens. O processo de degeneração ou envelhecimento das válvulas cardíacas, chamado de endocardiose ou doença valvular crônica, varia em função do tamanho e da raça do animal. Observa-se que os distúrbios cardiorrespiratórios se apresentam em uma proporção substancial e há decorrente evolução das técnicas de diagnóstico utilizadas na clínica veterinária para aumento da longevidade dos animais. A cardiologia veterinária vem se fortalecendo a cada dia. Os avanços tecnológicos, assim como a acessibilidade a novos métodos de diagnóstico e tratamento, são responsáveis por um grande avanço na cardiologia de pequenos animais. É nesta perspectiva que este material de apoio vai contribuir para seu processo de ensino e aprendizagem. Espera-se que, ao final de sua leitura, você tenha alcançado os objetivos elencados a seguir. Objetivos » Estudar as manifestações clínicas da doença cardíaca, envolvendo arritmias, insuficiência cardíaca, hipertensão, dirofilariose e tumores. » Aprofundar sobre doenças cardíacas congênitas, doenças valvulares, endocárdicas, pericárdicas e do miocárdio. » Promover o aprendizado sobre diagnóstico e terapêutica de doenças cardíacas. 8 9 UNIDADE IDOENÇAS CARDÍACAS CAPÍTULO 1 Revisão anátomo-fisiológica Coração Neste capítulo, é feita uma breve revisão anátomo-fisiológica do sistema circulatório. Para o bom entendimento da semiologia do sistema circulatório, bem como de todos os demais sistemas, há a necessidade de alguns conhecimentos básicos de anatomia (estruturas e topografia) e fisiologia (e fisiopatogenia) referentes a ele, bem como as particularidades de cada espécie animal (...). Com isso, pode-se aprender o que se deve procurar, onde pesquisar os sintomas e como examinar os diferentes órgãos que compõem o sistema em estudo. (NETO; CAMACHO; MUCHA, 2017) No cão adulto, o coração é constituído por 4 câmaras: 1. Átrio direito. 2. Átrio esquerdo. 3. Ventrículo direito. 4. Ventrículo esquerdo. As 4 câmaras são separadas por um septo interno denominado septo interatrial e septo intraventricular. 1. O átrio direito contém 3 óstios principais: › Óstio da veia cava cranial. 10 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS › Óstio da veia cava caudal (seio coronário – abre-se ventralmente à veia cava caudal). › Óstio atrioventricular direito (contém a valva tricúspide). O ventrículo direito contém o óstio pulmonar e o óstio atrioventricular. No átrio esquerdo chegam as veias pulmonares geralmente em número de sete ou outoe origina-se o óstio atrioventricular esquerdo que contém a valva bicúspide ou mitral. Finalmente, no ventrículo esquerdo, temos o óstio aórtico e o óstio atrioventricular esquerdo. Na base da artéria pulmonar e da aorta existem ainda três valvas de forma de semi lua, que são denominadas semilunares e se fecham após o término da contração ventricular. O sistema cardiovascular é constituído por uma bomba, uma série de vasos de distribuição e de coleta e por um extenso sistema de finos vasos que permitem trocas rápidas entre os tecidos e os canais vasculares. O coração consiste em câmaras, com dito anteriormente: o átrio e o ventrículo esquerdos, que são parte da circulação sistêmica; e o átrio e o ventrículo direitos, que fazem parte da circulação pulmonar. Na circulação sistêmica, o sangue proveniente do ventrículo esquerdo é bombeado para a aorta; segue, então, para um sistema de artérias de distribuição, terminando nos diversos órgãos da circulação sistêmica. Em cada órgão, o sangue passa por meio dos vasos arteriolares cujo calibre pode ser alterado por controle neural ou metabólico. As alterações do calibre arteriolar podem regular a pressão e o fluxo no circuito sistêmico e/ou transferir o sangue de um órgão para outro. As arteríolas drenam o sangue para os capilares onde o oxigênio e outros metabólitos fluem pelas paredes capilares para o espaço extracelular. Produtos do metabolismo celular, por outro lado, passam para o fluido extracelular e, daí, para o sangue. O sangue, agora venoso, entra nas vênulas e corre em direção às veias, que funcionam como condutor reservatório de volume. As grandes veias se unem para formar as duas veias cavas, cranial e caudal. Delas, o sangue chega ao átrio direito. Na circulação pulmonar, o sangue venoso flui do átrio direito para o ventrículo direito, que bombeia o sangue para a artéria pulmonar, artérias menores e os capilares pulmonares. A liberação do dióxido de carbono e a captação do oxigênio ocorrem pela difusão entre o sangue e o gás alveolar. Deste ponto, o sangue oxigenado entre nas veias pulmonares, retornando ao átrio esquerdo e, deste, ao ventrículo esquerdo. 11 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I Manifestações clínicas da doença cardíaca Sabemos que a tosse é um sinal clínico muito característico de algumas doenças cardíacas. Em muitos casos, é o mais relatado pelos proprietários. Sabemos também que a tosse é uma expiração súbita e forçada, cuja principal finalidade é liberar toda a árvore traqueobrônquica. Em algumas doenças cardíacas, este reflexo deixa de ser fisiológico e se torna um importante sinal clínico, que deve ser detalhadamente investigado durante anamnese realizada pelo médico veterinário. Os cães afetados por outras doenças como a traqueobronquite infecciosa canina também desenvolvem a tosse como uma das principais características. Diante disso, como diferenciar a tosse das doenças cardíacas da tosse desenvolvida por outras doenças? Quadro 1. Termos técnicos utilizados na avaliação de pacientes acometidos por doenças cardíacas. Cianose Coloração azulada da pele e mucosas por hipóxia. Dispneia Dificuldade respiratória. Caquexia cardíaca Aumento notável do catabolismo. Síncope Perda súbita da consciência e do tônus muscular. Arritmia sinusal São aquelas originadas no nó sinusal ou sino-atrial. Taquiarritmia Cadência rápida do ritmo do coração, arritmia rápida. Bradiarritmia Frequência e/ou ritmo cardíaco que cursam com resposta ventricular baixa. Taquicardia Aceleração dos batimentos cardíacos acima dos parâmetros da espécie. Bradicardia Retardamento do ritmo cardíaco abaixo dos parâmetros da espécie. Icterícia Deposição de bilirrubina na pele e mucosas. Edema pulmonary Acúmulo de líquido no pulmão. Ascite Acúmulo de líquido na cavidade abdominal. Fonte: Mulinari; Esper (2015). O coração é o órgão central muscular que funciona como uma bomba de sucção pressão: as diferenças de pressão causadas pela sua contração relaxamento determinam a circulação do sangue e da linfa. No animal adulto, é constituído por: átrio direito, átrio esquerdo, ventrículo esquerdo, ventrículo direito. O coração é constituído por duas bombas em cada lado dentro de um único órgão. A bomba direita recebe mais sangue e este é desoxigenado e o conduz ao tronco pulmonar, já a bomba esquerda recebe sangue oxigenado e o leva para a artéria aorta, que o distribui para todo o corpo. 12 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS Figura 1. Anatomia do coração e grandes vasos. Fonte: Adaptada de Nogueira, Muzzi (2008). Em relação ao tamanho, em regra, é relativamente maior nas espécies e nos indivíduos menores. Em geral, é considerado cerca de 0,75% do valor corporal, o formato e a posição em geral são semelhantes em todos os mamíferos. Quer saber mais sobre a anatomia do coração canino? Acesse o link: <https:// www.youtube.com/watch?v=7bQnrxsMKU0> e fique por dentro! As doenças cardíacas, também nominadas de cardiopatias, são alterações patológicas que acometem o coração por diferentes causas e em diferentes manifestações nos animais. Sua classificação também varia em função da gravidade, forma de evolução e localização anatômica. Há de se considerar, também, que tal acometimento pode ser no próprio músculo do coração (cardiomiopatias), nas válvulas cardíacas (valvulopatias) ou nas artérias que irrigam o coração (coronariopatias). Doença cardíaca não significa necessariamente falência cardíaca. Muitos animais com problemas cardíacos não apresentam sintomatologia e são capazes de viver com boa qualidade de vida, sem necessitarem de medicação. Existem casos como as Endocardites, Miocardites e Dirofilariose em que, após o tratamento específico, há melhora clínica e pode se interromper a terapia. Contudo, a maior parte dos pacientes cardiopatas tende a piorar depois dos primeiros sintomas, necessitando de tratamento para o resto da vida. 13 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I Dentre as principais manifestações clínicas da doença cardíaca em pequenos animais, podemos citar: » arritmias; » insuficiência cardíaca; » hipertensão; » dirofilariose; » tumores. Estas manifestações clínicas estão detalhadas nos itens a seguir. Arritmias Arritmias, também chamadas de distúrbio de condução cardíaco, são distúrbios de formação ou condução do impulso, como as arritmias atriais, taquicardia juncional (nodal), taquicardia ventricular, bradiarritmias, como silêncio atrial ou bloqueio atrioventricular de terceiro grau, que podem levar à Insuficiência Cardíaca (IC). A arritmia é uma causa primária para parada cardiorrespiratória, com súbita interrupção da respiração e da circulação. Tratam-se de anormalidades: » na frequência cardíaca; » no ritmo; » na origem do impulso cardíaco; » na despolarização atrial ou ventricular. As arritmias podem ser atribuídas às desordens na geração e ou na condução dos impulsos elétricos. Esses fenômenos elétricos anormais, que são depressão na condução de resposta rápida de impulsos excitatórios, resultando em estado patológico, comumente originada devido à: » hipóxia; » isquemia; » desequilíbrio eletrolítico; » administração de certos fármacos. 14 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS Algumas arritmias podem ser benignas ou potencialmente perigosas, mas a maioria das apreensões cardíacas súbitas é resultado direto de taquicardia ventricular e/ou fibrilação ventricular. Insuficiência cardíaca O coração é um músculo formado por duas metades, direita e esquerda. Quando uma dessas cavidades falha como bomba, não sendo capaz de enviar adiante todo o sangue que recebe, falamos que há IC. Ao tratarmos das manifestações clínicas da doença cardíaca, iniciaremos por um tópico específico que é a IC, que é considerada uma síndrome multissistêmica, ocorrendo anormalidades da: » função cardíaca, muscular esquelética; » função renal e metabólica, associada à elevada estimulação do sistema nervoso simpático;» um complexo padrão de alterações neuro-humorais e inflamatórias. A IC não é uma doença do coração por si só. É uma incapacidade de o coração efetuar as suas funções de forma adequada como consequência de outras enfermidades, do próprio coração ou de outros órgãos. Quando o coração não bombeia o sangue em velocidade compatível às demandas metabólicas do corpo, ocorre a IC, sendo resultado: » da disfunção sistólica; » da disfunção diastólica; » das disfunções sistólica e diastólica, conjuntamente; » das mudanças hemodinâmicas; » pela estimulação de mecanismos compensatórios neuro-humorais que produzam sinais clínicos de congestão e edema e baixa perfusão sanguínea. A síndrome representa uma interação complexa de respostas compensatórias que podem preservar a função cardíaca e o fluxo sanguíneo regional e são ativadas no coração para tentar aumentar o débito cardíaco e manter a pressão sanguínea arterial. Estes mecanismos são comuns para todos os tipos de insuficiência cardíaca, mesmo com variação de extensão em função da gravidade e da etiologia da insuficiência. 15 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I Existem a Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) e a Insuficiência Cardíaca Aguda (ICA). A homeostasia pode ser preservada pelos mecanismos de compensação, sem atingir o ponto de produção de efeitos colaterais deletérios, ou seja, ICC, levando a disfunção em outros órgãos. Esta disfunção em outros órgãos caracteriza muitos sinais associados à insuficiência cardíaca e está entre as principais doenças cardíacas em pequenos animais. ICC trata-se de uma condição à qual o coração é insuficiente para bombear o sangue, que se acumula nos vasos sanguíneos e deixa de ter um fluxo normal, ocasionando formação de edema que é o acúmulo de líquido em regiões do corpo, além de pressão venosa. A mensuração da pressão venosa Permite estimar a relação entre o volume sanguíneo e a capacidade vascular, bem como a habilidade do coração em bombear o sangue que chega até ele, sendo de grande utilidade nas grandes perdas sanguíneas, quando infusões rápidas de grandes volumes de fluidos são requeridas e quando há suspeita de insuficiência cardíaca direita. (DE REZENDE et al., 2002). A ICA é um acontecimento súbito e catastrófico e que ocorre devido a qualquer situação que torne o coração incapaz de uma ação eficaz, consequente a um infarto do miocárdio – com rara ocorrência em cães e gatos – ou a uma arritmia severa do coração. Por outro lado, existem ICA provocadas por doenças não cardíacas, como: » hemorragia severa; » traumatismo cerebral grave; » choque elétrico de alta voltagem. A ICA é uma situação grave, que exige tratamento médico emergencial e, mesmo assim, é, muitas vezes, fatal. Considerando a parte clínica, a causa mais comum da IC é a redução da centralidade cardíaca, sendo que, na maior parte de sua ocorrência, a perfusão inapropriada tecidual é consequente à redução do débito cardíaco (DC). A fisiopatologia da IC inicia-se a partir de um dano miocárdico primário, que gera disfunção ventricular que deflagra mecanismos adaptativos associados à ativação neuro-humoral, gerando: 16 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS » alterações na forma e na eficiência mecânica do coração (remodelamento ventricular); » alterações periféricas circulatórias; » danos secundários, devido ao aumento do estresse oxidativo; » inflamação e morte celular (apoptose). A síndrome de ICC pode evoluir de estágio compensado assintomático até formas mais avançadas, causando insuficiência cardíaca descompensada (ICD). O desempenho da função cardíaca está relacionado a determinantes que comprometem o desenvolvimento da descompensação da insuficiência cardíaca, conforme o mecanismo do dano principal e a evolução temporal. É na IC que se deflagram os distúrbios hemodinâmicos que se associados a alterações sistêmicas neuro-humorais (sistema renina-angiotensina-aldosterona, sistema simpático, peptídeos vasomotores como endotelina-1 e óxido nítrico), com repercussões em tecido cardíaco, em que a ação destes fatores leva à apoptose de miócitos e a alterações na estrutura cardíaca (matriz extracelular), caracterizando o remodelamento ventricular. Há reconhecida atividade inflamatória associada coma progressão da IC, na qual citocinas desempenham papéis importantes, como as citocinas pró-inflamatórias vasodepressoras (TNF-alfa, interleucina-6 e interleucina-1 beta). Por outro lado, na IC, aumentam os elementos protetores (vasodilatadores e diuréticos), tais como: » peptídeos natriuréticos; » bradicinina; » Prostaciclinas. Em quadros descompensatórios, há indícios de maior ativação de alguns destes sistemas, por exemplo, níveis de catecolaminas e citocinas aumentam significativamente. A apresentação clínica da IC não é uniforme e nem sempre evidente, sendo essencial a avaliação individual de cada paciente, para que se determine o quê de fato tem provocado a IC, bem como as respostas compensatórias que necessitam de maior modificação para que sejam aliviadas as manifestações clínicas. Além da arritmia, para que tenhamos uma perspectiva terapêutica, é essencial identificar os outros três tipos de insuficiências baseadas na fisiopatologia da IC: 17 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I » Insuficiência do miocárdio. » Insuficiência por sobrecarga de pressão ou volume. » Insuficiência por complacência ventricular ou disfunção diastólica. O primeiro caso, ou seja, a insuficiência do miocárdio é definida como uma diminuição na centralidade do miocárdio resultante de uma doença primária (cardiomiopatia dilatada idiopática ou miocardite) ou secundária, por um aumento na carga de trabalho do miocárdio (regurgitação aórtica ou mitral). Quando a insuficiência do miocárdio está presente, a função sistólica fica deficiente, resultando em um débito cardíaco reduzido e secundário à retenção de volume. O segundo caso, a insuficiência por sobrecarga de pressão ou volume, refere-se a uma situação em que a regurgitação de mitral ou tricúspide resulta em uma perda evidente do volume de ejeção que volta para o interior do átrio esquerdo ou direito, respectivamente. O aumento do fluxo sanguíneo sistólico no átrio resulta no aumento da pressão arterial a qual, quando grave, pode causar congestão e edema e aumentar a dimensão atrial. Lesões de estenose valvular congênita aórtica ou pulmonar causam um aumento da pressão sistólica intraventricular. Em menores graus de estenose não é comum se desenvolver IC, a não ser que seja um caso de regurgitação grave concomitantemente. Já o terceiro, caso, a insuficiência por complacência ventricular ou disfunção diastólica, refere-se a pericardite constritiva causada por doenças que resultam em fibrose pericárdica e epicárdica. A fibrose resulta em constrição cardíaca; esta, por sua vez, resulta em aumento da pressão diastólica intraventricular. O tamponamento cardíaco também pode ser uma causa, mas sua incidência é reduzida. Nestes casos, o que ocorre é a compressão do coração devido ao fluído dentro do saco pericárdico, causando sinais de IC direita. Quer saber mais sobre os sinais clínicos de insuficiência cardíaca congestiva? Leia o texto de Neto, Camacho e Mucha (2017). SINAIS CLÍNICOS DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA A princípio, sempre se deve pensar, quando se examina um animal, que muitos dos sinais clínicos apresentados se assemelham a sinais de outros sistemas. Por outro lado, quando diante de um animal com sinais clínicos de insuficiência cardíaca congestiva (ICC), geralmente, estes sinais estarão relacionados com a circulação pulmonar, se a cardiopatia for no lado esquerdo do coração, ao passo que, se o problema estiver localizado no lado direito cardíaco, os sinais clínicos refletirão a congestão venosa da grande circulação. 18 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS Em síntese, os sinais clínicos congestivos à esquerda representam a congestão venosa pulmonar com sintomatologiade tosse e/ou dispneia/ taquipneia, terminando com um quadro de edema pulmonar. Nesses casos, deve-se procurar diferenciar dos quadros respiratórios. Pelo lado direito, os sinais clínicos congestivos irão se apresentar como coleções de líquidos como efusões, devendo o clínico diferenciar dos quadros efusivos decorrentes de outros órgãos como, por exemplo, o fígado. Dispneia/Taquipneia A taquipneia (aumento da frequência respiratória) normalmente precede à dispneia (dificuldade respiratória). Por essa razão, quase todos os pacientes dispneicos são também taquipnéicos. A frequência respiratória normal no cão em repouso deve ser menor a 30 movimentos respiratórios/minuto. Provavelmente, a taquipneia seja um dos primeiros sinais clínicos de insuficiência cardíaca congestiva em felinos. Podemos observar três tipos de dispneia basicamente: inspiratória (associada a alterações das vias aéreas superiores); expiratória (relacionada às doenças pulmonares, bronquiais, intersticiais ou alveolares ou ao edema pulmonar por insuficiência cardíaca congestiva) ou ainda mista (por exemplo, na insuficiência cardíaca congestiva com efusão pleural concomitante). Nos casos mais graves de estresse respiratório, o animal adota posições anormais que lhe facilitam a respiração. Na posição ortopneica, o cão reluta a deitar-se, permanecendo sentado sobre os membros pélvicos e com os membros torácicos estendidos em abdução. A cabeça está esticada, as narinas dilatadas e é possível observar uma expressão de angústia na face do animal. Esse quadro representa uma grave congestão pulmonar, na qual o animal procura, com essa postura, favorecer o ingresso de ar aos pulmões. Devemos ressaltar que nesses casos é muito importante evitar o estresse do animal. O primeiro passo será compensar o paciente (oxigénio, diuréticos, vasodilatadores etc.) para, posteriormente, começar com as manobras ou exames subsidiários. Fisiopatologia da insuficiência cardíaca congestiva Na insuficiência cardíaca congestiva, o bombeamento sanguíneo insuficiente resulta na diminuição do débito cardíaco e aumento da pressão diastólica final no ventrículo esquerdo. Se o débito está baixo, cai também o rendimento cardíaco. Neste momento, as arteríolas não sofrem vasoconstrição e a resistência aumenta, diminuindo a pressão arterial. Com a sensibilização dos barorreceptores, ocorre a ativação do sistema nervoso simpático. Neste período, a pressão sanguínea está normal, principalmente devido à constrição do sistema arteriolar, e o débito cardíaco está reduzido (hipoperfusão). 19 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I O sistema cardiovascular, então, precisa encontrar outro meio de aumentar o débito cardíaco, a fim de normalizar o fluxo sanguíneo para o organismo. Ao compensar, o sistema aumenta o volume diastólico final no ventrículo esquerdo pela hipertrofia irregular por sobrecarga de volume (comumente chamada de dilatação). Esta hipertrofia é estimulada pelo aumento do retorno venoso para o coração, induzido pelo aumento do volume sanguíneo, causado pela retenção de água e sódio pelo rim, aumentando a dilatação do miocárdio na diástole. A redução do fluxo sanguíneo renal, o aumento da atividade simpática e a diminuição do sódio sérico determinam uma maior liberação de renina e consequente ativação do sistema renina-angiotensina. Pela ação da renina liberada pelos rins ocorre a conversão do angiotensinogênio plasmático em angiotensina I e esta, por sua vez, é convertida em angiotensina II no leito vascular pulmonar pela ação da enzima conversora de angiotensina (ECA). A ECA também está localizada em diversas áreas do coração, incluindo valvas, vasos coronários, átrios e miocárdio. A ECA, nome para pela NC-IUBMB: peptidil-dipeptidase A, teve sua descoberta em 1950, sendo o último componente do sistema renina angiotensina a ser identificado, sendo o componente central do sistema renina-angiotensina, controlando a pressão arterial e regulando o volume de fluidos no corpo. Figura 2. Representação da estrutura da ECA. Fonte: Bernstein et al. (2013). 20 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS A angiotensina II é um potente vasoconstritor que ajuda a manter a pressão arterial, aumentando a resistência vascular periférica e a pós-carga e, também, estimula a produção e a secreção de aldosterona, que, por sua vez, promove a retenção de sódio e água nos túbulos coletores aumentando o volume plasmático e a pré-carga. Além destas ações, a angiotensina II tem uma ação inotrópica positiva direta no miocárdio. Nas últimas duas décadas, os iECA exerceram um importante papel no tratamento da hipertensão arterial e falha cardíaca congestiva. No entanto, tais drogas não promovem uma completa supressão na geração de AII, uma vez que elas não inibem vias alternativas de geração de AII por serino-proteases. (RIBEIRO; MUSCARÁ, 2001). Além disso, por atuar nos túbulos renais, a angiotensina II facilita diretamente a reabsorção e a retenção circulatória de sódio e água. Neste estágio, o sistema nervoso central libera o hormônio antidiurético e ativa o reflexo da sede, promovendo maior retenção de líquido e aumentando a pré-carga. Deste modo, a angiotensina II também estimula o sistema nervoso simpático, contribuindo para uma maior vasoconstrição e regulação da pressão arterial, podendo levar ao aumento da resistência vascular periférica. Isto, em cães com insuficiência de valva mitral, pode aumentar o volume sanguíneo regurgitado para o átrio esquerdo o uso dos bloqueadores da enzima conversora de angiotensina (ECA), tanto na hipertensão arterial como na insuficiência cardíaca (IC), produz efeitos marcantes na arquitetura e funcionamento do coração. Mais recentemente, o desenvolvimento de bloqueadores dos receptores da AII também demonstra a importância desse peptídeo no coração, principalmente em estados patológicos. (MIL et al., 1997) Os rins, entretanto, continuam retendo sódio e água, na tentativa de produzir um aumento adicional. Neste momento, a retenção de sal e água começa a provocar um aumento no volume sanguíneo para os ventrículos, consequentemente ocorrendo aumento da pressão diastólica e pressão hidrostática plasmática e diminuição da pressão cardíaca. O aumento da pressão diastólica provoca regurgitação de sangue dos ventrículos para os átrios e para as veias pulmonares e ou cavas caudal e cranial, associada com as variações das pressões hidrostáticas e oncóticas dando origem ao edema pulmonar ou circulatório. 21 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I Levando-se tudo isso em consideração, cada mecanismo compensatório, eventualmente, causa efeitos deletérios quando ativados por muito tempo, os quais são responsáveis pelos sinais clínicos da insuficiência cardíaca congestiva. Manifestações clínicas A IC e suas manifestações clínicas são de surgimento lento, com exceção àquelas situações catastróficas de ocorrência infrequente, quando o coração é submetido à pera aguda da contratilidade ou da eficiência mecânica. Caso tenha tempo para efetuar os ajustes compensatórios, o coração possui capacidade notável para manutenção do débito cardíaco normal em repouso e para o aumento do fluxo sanguíneo até níveis que permitam atividades físicas modestas, até um ponto bem avançado na história natural da patologia subjacente. Para facilitar a identificação clínica e a classificação etiológica da IC, as manifestações podem ser agrupadas de modo a caracterizar a insuficiência do lado direito ou esquerdo do coração, ou a combinação das duas, chamada insuficiência generalizada. Em pequenos animais, como o cão, a insuficiência cardíaca congestiva esquerda tem como sinais clínicos: » expectoração espumosa rósea; » taquipneia; » taquicardia; » esforço debilitado; » fadiga; » palidez; » síncope; » oligúria e azotemia pré-renal; » arritmias cardíacas; » edema pulmonar; » dispneia; » ortopneia; 22 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS » hemoptise; »cianose; » crepitação pulmonar; » tosse. Esses sinais clínicos são decorrentes do edema pulmonar ou da compressão das vias artérias. Na insuficiência cardíaca congestiva direita, observam-se sinais atribuíveis à redução do débito cardíaco e hipertensão venosa sistêmica, como: » esforço debilitado; » fadiga; » palidez; » síncope; » congestão venosa sistêmica com distensão da veia jugular; » pressão venosa central elevada; » congestão hepática e esplênica; » acúmulo de fluído nos espaços extravasculares como efusão pericárdica; » efusão pleural levando a atelectasia; » taquipneia; » angústia respiratória e cianose; » efusão peritoneal (ascite); » edema periférico. A IC generalizada ou bilateral apresenta sintomatologia de: » fraqueza e fadiga (intolerância ao exercício); » perda de peso; » caquexia cardíaca; » dispneia de esforço; 23 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I » taquiarritmia; » perfusão periférica deficiente com aumento do tempo de preenchimento capilar; » membranas pálidas; » cianose; » extremidades frias. Tosse A tosse é uma queixa frequente de proprietários de pequenos animais, especialmente os cães, que possuem ICC esquerda. Geralmente, a tosse é vigorosa e, em geral, não produtiva; é facilmente induzida pela manipulação da traqueia. A denominada tosse da IC é comumente causada por um aumento do coração do lado esquerdo, acompanhado da compressão do brônquio principal esquerdo entre o átrio esquerdo e a aorta, como ocorre frequentemente nos casos de regurgitação mitral crônica principalmente em cães de pequeno porte. A tosse é um ato reflexo produzido pela estimulação da faringe, da traquéia, dos brônquios, dos bronquíolos, da pleura, do pericárdio e do diafragma, que pode resultar de causas respiratórias, bem como cardíacas. Entre as causas cardíacas, pode-se mencionar o aumento do átrio esquerdo (caso típico de degeneração mixomatosa da valva), que produzirá compressão do brônquio principal esquerdo, desencadeando o reflexo tussígeno (...). Outra causa de tosse é a insuficiência ventricular esquerda, que produzirá aumento da pressão venosa pulmonar, desenvolvendo edema pulmonar que, no começo, será intersticial e logo depois alveolar. A dirofilariose canina também ocasiona tosse, devido à injúria e à inflamação pulmonar e vascular. (NETO; CARMACHO; MUCHA, 2017). O clínico deve se lembrar que a tosse não é um sinal específico de IC. Desse modo, outras doenças compatíveis de produzir tosse crônica, como colapso de traqueia do cão idoso, devem ser diagnosticadas. Descartadas estas hipóteses, deve-se direcionar para o problema cardíaco e o edema pulmonar. 24 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS Quando o animal tosse, não significa, necessariamente, que ele está com alguma enfermidade. Entretanto, caso seja persistente, há de se ter uma avaliação profissional, pois tal manifestação pode ser resultado de vários fatores que vão desde uma possível doença até algo que esteja obstruindo o esôfago. Taquipneia, dispneia e ortopneia A taquipneia é caracterizada como um aumento na frequência respiratória. Este é um sinal comum que ocorre na IC esquerda. No cão com ICC esquerda conhecida, a taquipneia pode ser um meio de controle do estado do paciente. No que se refere à dispneia, a complacência diminuída dos pulmões congestos aumenta o esforço respiratório, causando dificuldade respiratória. Está presente no edema pulmonar grave ou hidrotórax. Ela pode ser facilmente detectada durante o exercício, tornando-se, assim, um sintoma precoce de IC esquerda. Uma diminuição da tolerância ao exercício ao longo de um curto período de tempo sugere a presença de IC. A ortopneia é uma dificuldade de respirar enquanto deitado. Nota-se que o animal reluta em deitar-se ou que ele respira vagarosamente quando deitado em repouso. Também não constituiu um sintoma específico de IC, já que pode ser proporcionada por uma pneumonia crônica. Dispneia paroxística noturna Um paciente apresenta dispneia paroxítica noturna quando acorda subitamente durante à noite, apresentando dificuldade para respirar, algumas horas após deitar-se. O proprietário nota que o animal acorda tossindo ou dispneico, levanta, anda ao redor dele mesmo, bebe água ou se senta até sentir-se confortável novamente. Esse sinal ocorre pelo retorno de líquido extravascular para sistema sanguíneo, havendo acúmulo de líquido (edema) nos pulmões em decorrência do aumento da pressão capilar pulmonar, resultando no aumento da pressão diastólica ventricular pelo animal ter assumido uma posição de decúbito lateral. Este não é um sinal característico de insuficiência cardíaca porque cães com outras doenças podem tossir à noite e muitos cães com IC podem tossir somente de dia ou após o exercício. Intolerância ao exercício e fadiga A intolerância ao exercício e fadiga é um dos primeiros sinais da IC. Entretanto, devido ao fato de muitos animais não se exercitarem, este sinal clínico nem sempre 25 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I é observado. A intolerância ao exercício ocorre devido ao débito cardíaco inadequado para uma demanda de oxigênio tecidual gerada pelo exercício. Os resultados são de hipóxia tecidual, acidose láctica e fadiga muscular. A fadiga pode ser um sintoma proeminente na IC avançada, em virtude do fluxo sanguíneo inadequado para a musculatura esquelética durante os exercícios físicos. Pode ocorrer também devido à depleção de íons potássio e pode ser acentuada pela anorexia, decorrente da toxidade medicamentosa ou da IC progressiva. Edema e congestão pulmonar O edema pulmonar se inicia nos espaços intersticiais e peribrônquicos causando queda na complacência pulmonar e algum aumento no esforço respiratório. Este quadro pode evoluir para edema alveolar, que possui maior significado funcional, já que interfere mais seriamente na troca gasosa. O edema alveolar provoca o surgimento de sons pulmonares inspiratórios crepitantes. Sintomas gastrointestinais Os pacientes com IC podem apresentar anorexia, náuseas, vômitos, distensão abdominal constipação e dor abdominal, decorrentes da ingurgitação e congestão venosas do trato gastrointestinal. A enteropatia com perda de proteínas pode ser observada em alguns pacientes com IC crônica e é o maior responsável pela caquexia cardíaca. Cianose A cianose ocorre devido ao conteúdo reduzido de oxigênio no sangue venoso, resultado da maior extração de oxigênio pelos tecidos que estão recebendo uma perfusão insatisfatória. A saturação arterial de oxigênio, geralmente, é normal. Ascite, efusão pleural e edema periférico A ascite, geralmente, é encontrada em cães com IC direita, e o acúmulo de líquido pode provocar distensão abdominal e aumento do peso corporal. Quando grave, ela pode ser detectada apenas pela visualização ou pelo balotamento. Quando é mais branda, pode ser detectada por radiografia abdominal ou ultrassonografia. A ultrassonografia representa um dos maiores avanços relativamente aos métodos de diagnóstico utilizados na prática clínica em medicina veterinária (...), tendo apresentado um acentuado progresso nas últimas 26 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS duas décadas (...). A ampla disponibilidade de meios de tecnologia ultrassonográfica tem proporcionado uma melhor compreensão e avaliação das doenças cardiovasculares, tornando a ecocardiografia uma ferramenta indispensável na prática da especialidade de cardiologia veterinária. (MARQUES, 2010). A efusão pleural e o edema periférico são outros sinais de IC direita que podem ocorrer. A efusão pleural é uma anormalidade associada à IC direita ou esquerda, provavelmente, porque as veias pleurais drenam para o interior das veias pulmonares aumentando a pressão destas e causando efusão. A congestão venosa sistêmica pode ser evidente e a pressão venosa central está aumentada. O edema periférico é relativamente raro e, em geral, é uma manifestação tardia de IC direita ou IC generalizadacom predomínio do lado direito. Sons de galope Os sons de galope são comuns em pacientes com grave sobrecarga de volume no ventrículo esquerdo e ou diminuição na complacência do miocárdio. Ocorrem durante a diástole precoce, com o rápido enchimento ventricular (S3), e após a diástole, durante a sístole atrial (S4). Como o galope não é audível fisiologicamente, este som diastólico tem significado patológico, mas não prediz o tipo de doença cardíaca existente. Hepatomegalia Hepatomegalia é decorrente da congestão venosa passiva e é um achado proeminente da IC direita e da IC generalizada. Ao examinar o fígado, ou seja, ao executar a compreensão manual do abdome cranial, pode-se observar a distensão da veia jugular ampliada (refluxo hepatojugular). Classificação da insuficiência cardíaca congestiva Para que se possa iniciar um tratamento correto de um paciente com ICC, é necessário classificá-la de acordo com o sistema de classificação que se baseia no diagnóstico anatômico e na gravidade dos sintomas clínicos em repouso que foi proposta pelo Conselho Internacional de Cardiologia de Pequenos Animais e constitui-se de três classes: 1. Paciente assintomático. 2. Insuficiência cardíaca leve a moderada. 3. Insuficiência cardíaca avançada. 27 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I Paciente assintomático A doença cardíaca está presente, mas o paciente não se encontra visivelmente acometido e não demonstra sinais clínicos, podendo ou não ter compensação. Os achados diagnósticos podem incluir um sopro cardíaco, arritmia ou aumento da câmara cardíaca, que sejam detectados por radiografia ou ecocardiografia. Divide-se em classes Ia (sinais de cardiopatia presentes, porém, sem sinais de compensação, como hipertrofia ventricular por sobrecarga de volume ou pressão) e Ib (sinais de cardiopatia presentes associadas a evidências radiográficas ou ecocardiográficas de compensação cardíaca, como hipertrofia ventricular por sobrecarga de volume ou pressão). Segundo Neto, Camacho e Mucha (2017), a intensidade do sopro é medida em uma escala de I a VI, sendo: 1. Grau I: sopro muito suave, que é detectado somente após um longo período de ausculta em um ambiente muito tranquilo. 2. Grau II: sopro suave, auscultado imediatamente em um foco valvar. 3. Grau III: sopro de intensidade leve a moderada. 4. Grau IV: sopro de intensidade moderada a grave, sem a presença de frémito (sensação táctil dada pelo sopro). 5. Grau V: sopro claro à ausculta, com um frémito palpável e que não se detecta quando afastamos o estetoscópio do tórax. 6. Grau VI: sopro grave, com frémito detectável e auscultado mesmo quando o estetoscópio é afastado do tórax. Nesta mesma perspectiva, Mulinari e Esper (2015) relacionaram os graus de sopro e palpitação, conforme apresentado nos quadros que seguem. Quadro 2. Graus de sopro. Grau I Baixa intensidade que pode ser auscultado apenas após alguns poucos minutos de ausculta e sobre uma área bem localizada. Grau II Sopro de baixa intensidade, identificado após a colocação do estetoscópio. Grau III Sopro de intensidade moderada, audível logo após a colocação do estetoscópio, e que se separa uma ampla área de ausculta, mas que não produz frêmito palpável. Grau IV Sopro de alta intensidade que é ouvido em uma ampla área, sem frêmito palpável. Grau V Sopro de alta intensidade que gera um frêmito palpável. Grau VI Sopro de alta intensidade suficiente para ser auscultado estando o estetoscópio apenas próximo à superfície torácica e que gera um frêmito facilmente palpável. Fonte: Mulinari e Esper (2015). 28 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS Quadro 3. Palpação. Utilizado para a avaliação arterial e vascular Avaliação pulso arterial Frequência, ritmo, amplitude. Classificação Hipercinético: forte Hipocinético: fraco Locais para avaliação Cão e gato: artéria femoral. Fonte: Mulinari e Esper (2015). Insuficiência cardíaca leve a moderada Os sinais clínicos da IC estão presentes em repouso ou com exercício leve e afetam, de modo adverso, a qualidade de vida os sinais clínicos são típicos de IC. A hipotensão em repouso em geral não está presente. Insuficiência cardíaca avançada A IC avançada pode ser direita, esquerda ou bilateral. A ICC é óbvia no animal em repouso, com sinais clínicos graves. Em quadros nos quais o paciente está em choque cardiogênico, a morte ou a grave debilidade são prováveis na ausência de tratamento. Divide-se em classes IIIa (o tratamento em casa ainda é possível) e IIIb (a hospitalização é necessária, devido ao choque cardiogênico edema pulmonar agudo, ascite refratária ou efusão pleural grave). Etiologia É preciso compreender que, além de uma complexa patogênese, a insuficiência cardíaca possui muitas etiologias. As causas de insuficiência cardíaca são congênitas ou adquiridas, localizadas no endocárdio, no miocárdio, no pericárdio, nas valvas cardíacas ou nos vasos cardíacos. O tratamento das doenças cardíacas dos animais domésticos tem ganhado grande eficiência e propiciado a melhora da qualidade de vida de muitos animais em todo o mundo. A maior longevidade que os animais têm desenvolvido nas últimas décadas está acossada a evolução das possibilidades de tratamento que estes animais têm recebido. As doenças cardíacas que antes eram pouco tratadas hoje possuem tratamento especializado na rotina de atendimento clínico e cirúrgico de pequenos animais. O tratamento das doenças cardíacas pode ser realizado com medicamentos, por meio de cirurgias e com ações realizadas pelos proprietários, como dietas e atividades físicas. 29 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I Tratamento da insuficiência cardíaca congestiva em pequenos animais O tratamento da insuficiência cardíaca congestiva em pequenos animais raramente leva o animal à cura. O objetivo principal é proporcionar melhoria na qualidade de vida do animal. Para isso, é preciso tratar os sintomas e assim evitar complicações que possam levar o animal ao óbito. O tratamento é realizado de forma a controlar e estabilizar os sinais de congestão e modular a ativação neuro-humoral excessiva e assim reduzir o trabalho cardíaco. Desta forma, o volume e a pressão são aliviados por meio da utilização de um inibidor de ECA que age como vasodilatador, e reduz a atividade da aldosterona e dos hormônios antidiuréticos. Inodilatador Relatos de pesquisar realizadas nos últimos anos têm demonstrado excelentes resultados com a utilização do agente pimobendam, cuja ação inotrópica e o efeito de vasodilatação, além de propriedades neuromoduladoras e antitrombóticas, têm se mostrado muito positivos para o manejo clínico da ICC em pequenos animais. O pimobendam propicia um aumento do débito cardíaco, reduz a pós e pré-carga, aumenta a contração miocárdica sem que tenha aumento do consumo de oxigênio nem de energia do miocárdio. Dois outros fatores positivos da utilização do pimobendam estão associados à sua capacidade de diminuir a pressão capilar arterial e pulmonar sem que a pressão arterial sistêmica seja alterada. Diuréticos Existem disponíveis no mercado várias opções de diuréticos que podem ser utilizados no tratamento da ICC. Eles são indicados no tratamento de pacientes cardiopatas por serem capazes de reduzir o volume circulante e combater a retenção de sódio e água. São indicados nos casos de edemas, congestões e nas efusões cavitárias. Os diuréticos mais utilizados na rotina veterinária para tratar os animais acometidos por ICC e cardiopatias de forma geral são a furosemida, a espironolactona e a hidroclortiazida. Dentre os três, a furosemida é a mais utilizada tanto para o tratamento quanto para a prevenção da ICC. Sua ação ocorre na alça de Henle, a administração pode ser feita por via oral ou injetável (intravenosa/subcutânea). Deve ser utilizada levando em consideração os possíveis efeitos colaterais que são a desidratação, hipopotassemia e hipomagnesiemia. 30 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS Outro diurético de ampla utilização é a espironolactonaque é um inibidor competitivo da aldosterontem e sua ação ocorre na porção distal dos túbulos contorcidos distais e nos ductos coletores. Seu efeito é diretamente dependente do aumento da concentração da aldosterona. É vastamente empregada para realizar o bloqueio sequencial do néfron em pacientes diagnosticados com ascite refratária. Além disso, apresenta ação cardioprotetora, diminuindo o remodelamento cardíaco. Seu uso em felinos deve ser criterioso e reservado, pela possibilidade de farmacodermia. A utilização da hidroclortiazida no tratamento da ICC em pequenos animais também é indicada por ela ser um diurético que age nos túbulos contorcidos distais. Seu uso é sempre realizado em associação com à furosemida em pacientes que não respondem a terapia com o uso de apenas único diurético. Também é bastante indicada no tratamento dos pacientes diagnosticados com edema pulmonar refratário por desempenharem a ação de bloqueio sequencial do néfron. É um medicamento utilizado na rotina de atendimento de cães e gatos. Os diuréticos são apenas alguns dos medicamentos que podem ser utilizados na terapia de pacientes cardiopatas. Estes devem estar associados ao uso de outros medicamentos que tratem de forma eficaz a afecção apresentada pelo paciente. Na utilização deste grupo de medicamentos, vale lembrar que é muito importante realizar o monitoramento de eletrólitos séricos, creatinina, o grau de hidratação e pressão arterial sistêmica do animal. Quadro 4. Possibilidades terapêuticas. Diurético Mecanismo de Ação Local de Ação Dose (Dependerá da avaliação do Médico Veterinário) Furosemida Inibe de modo reversível a absorção de sódio, potássio e cloro. Alça de Henle 1 mg/kg a cada 12 horas. Espironolactona Inibidor competitivo da aldosterona. Porção distal dos túbulos contorcidos distais e ductos coletores. De 2 a 4 mg/kg/ dia. Hidroclortiazida Age diretamente sobre os rins atuando sobre o mecanismo de reabsorção de eletrólitos. Túbulo contorcido distal. De 2 a 4 mg/kg/ dia. Fonte: Adaptada de <cardiologia.vet.br>. Acesso em: 4/7/2018. Hipertensão A hipertensão arterial sistêmica refere-se à elevação constante da pressão sanguínea arterial, sistólica, diastólica ou ambas, de acordo com os considerados valores de referência para espécie e pode ser classificada como: 31 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I » Primária (idiopática). » Secundária. A classificação secundária é mais comum em cães e gatos, e pode estar associada a alguma doença ou condição concomitante. No caso dos cães, os principais órgãos atingidos pela hipertensão são os olhos, rins, cérebro e coração. Mesmo afetando cerca de 1 a 2% dos cães, é uma enfermidade perigosa e exige atenção dos tutores e dos médicos veterinários. As afecções que podem relacionar-se à hipertensão arterial sistêmica incluem: » nefropatias; » cardiopatias; » hiperadrenocorticismo; » hipertireoidismo; » feocromocitoma; » anemia crônica em felinos; » dieta com alto teor de sal; » diabetes mellitus; » hepatopatia; » obesidade. A aferição da pressão arterial representa o método mais importante de avaliação do sistema cardiovascular, e é influenciada por condições físicas e patológicas. Isso quer dizer que os animais que estão em situação de estresse e ansiedade, no ato de aferição da pressão arterial, podem apresentar valores inconsistentes de pressão sanguínea. Os mecanismos fisiológicos envolvidos na variação da pressão sanguínea são determinantes para o clínico, por isso, devem ser estudados, para que se conheça o processo dos fármacos e os resultados esperados. 32 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS Figura 3. Exame de aferição da pressão arterial feito conforme recomendações do American College of Veterinary Medicine Consensus Panel. Fonte: <http://cardiologia.vet.br/servicos_prestados.html>. Acesso em: 4/7/2018. O tratamento da hipertensão arterial pode ser classificado como dietético ou farmacológico, geralmente baseado em protocolos terapêuticos humanos, sendo que o tratamento farmacológico inclui » vasodilatadores; » bloqueadores de canais de cálcio; » β-bloqueadores e diuréticos; » outras drogas. Existem diferenças nos valores de referência considerados normais para pressão arterial em cães e gatos, além das influências de fatores como idade, sexo e raça. Os valores de referência podem variar em função da autoria e dos estudos envolvidos, tal qual apresentados nos quadros 5 (para cães) e 6 (para gatos). Quadro 5. Pressão arterial sistólica por método não-invasivo – cães saudáveis. AUTOR MÉTODO DE AFERIÇÃO PAS (mmHg) Bodey e Michell (1996) Oscilométrico 131 ± 20 Coulter e Keith (1984) Oscilométrico 144 ± 27 Kallet et al. (1997) Oscilométrico 137 ± 15 Stepien et al. (1999) Oscilométrico 150 ± 20 Meurs et al. (2000) Oscilométrico 136 ± 16 33 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I AUTOR MÉTODO DE AFERIÇÃO PAS (mmHg) Remillard (1991) Oscilométrico 147 ± 28 Chalifoux et al. (1985) Ultrassonografia Doppler 145 ± 23 Stepien et al. (1999) Ultrassonografia Doppler 151 ± 27 Remillard et al. (1991) Ultrassonografia Doppler 150 ± 16 Soares et al. (2010)* Ultrassonografia Doppler 136 ± 21 Soares et al. (2010)** Ultrassonografia Doppler 155 ± 25 Onde PAS = pressão arterial sistólica; *Ambiente doméstico; **Ambiente hospitalar Fonte: Soares et al. (2010). Quadro 6. Pressão arterial sistólica por método não-invasivo – gatos saudáveis. AUTOR MÉTODO DE AFERIÇÃO PAS (mmHg) Mishina et al. (1998) Oscilométrico 115 ± 10 Bodey et al. (1998) Oscilométrico 139 ± 27 Kobayashi et al. (1990) Ultrassonografia Doppler 118.4 ± 10.6 Sparkers et al. (1999) Ultrassonografia Doppler 162 ± 19 Nelson et al. (2002) Ultrassonografia Doppler 145.5 ± 18.3 Lin et al. (2006) Ultrassonografia Doppler 133.6 ± 16 Onde: PAS = pressão arterial sistólica. Fonte: Soares et al. (2010). O tratamento anti-hipertensivo, recomendado para cães e gatos, baseado nos autores relacionados nos quadros 5 e 6, é para cães e gatos com pressão sistólica maior que 200 mmHg ou pressão diastólica acima de 120 mmHg, independente de outros sinais clínicos. Fique atento e veja o estudo de Pellegrino et al. (2010) sobre tensão arterial em Golden Retriever. A hipertensão arterial sistêmica é uma enfermidade que afeta tanto cães quanto gatos e apresenta grande importância na prática da clínica veterinária. É caracterizada pelo aumento sustentado da pressão arterial sistêmica sistólica e/ou diastólica e pode levar a consequências deletérias, principalmente em rins, coração, olhos e sistema nervoso central. Diferentes estudos já foram realizados para a avaliação de técnicas de medida da pressão arterial em cães, comparando diferentes técnicas, com animais em diversos estados de consciência e em diferentes posições. A faixa de normalidade pode variar fisiologicamente nos cães, principalmente de acordo com a raça, sexo, idade, temperamento, condições patológicas, exercícios e dieta. Sabendo-se que o 34 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS Golden Retriever pode apresentar distrofia muscular canina ligada ao cromossomo X e pode desenvolver cardiomiopatia dilatada e hipertensão sistêmica, no presente estudo, fez-se a mensuração da pressão arterial (por meio de dispositivo de Doppler) em 38 cães clinicamente sadios da referida raça com o propósito de obter parâmetros cardiovasculares que possam servir de referência. A partir dos resultados, pôdese concluir que alterações significativas no peso corpóreo, principalmente dos três aos seis meses de idade, influenciam nos valores de pressão arterial; que a pressão arterial sistólica é maior em machos do que em fêmeas; e que os valores de pressão arterial são variáveis dentro de uma mesma raça canina. Manejo dietético O manejo dietético apropriado deve ser fundamentado em fatores específicos de cada animal, assim como nas características da doença e apetite do animal (palatabilibidade alimentar). A restriçãode sódio, normalmente, é um dos primeiros passos, sendo que a alta ingestão de sal tem efeitos adversos, principalmente, em caso de doença renal crônica. Por outro lado, o tratamento da doença apenas com dieta hipossódica não é indicado, ou seja, esta dieta deve ser associada ao tratamento farmacológico. Neste mesmo contexto, a obesidade também pode estar relacionada à doença, sendo indicada a perda de peso. Tratamento farmacológico O protocolo farmacológico para tratamento vai variar para cada caso, sendo que várias classes de fármacos podem ser adotadas contra a hipertensão arterial sistêmica em monoterapias ou associações. Variantes para escolha do protocolo farmacológico: » Espécie do animal. » Afecção adjacente relacionada (para hipertensão arterial sistêmica secundária). » Grau de avanço da doença. » Resposta individual de cada animal ao tratamento. 35 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I Inibidores de enzima conversora de angiotensina Os inibidores de ECA geralmente são recomendados como primeira de agente farmacológico para o tratamento de hipertensão arterial sistêmica em medicina veterinária, sobretudo para cães. Os efeitos da angiotensina II e seus fragmentos provocam queda da pressão arterial. Em medicina veterinária, os fármacos mais utilizados são o enalapril e o benazepril, sedo também admitidos: captopril, com baixa potência e curta ação; lisinopril; ramipril, com efeito cardioprotetor. Bloqueadores dos canais de cálcio Diminuem a concentração de íons livres de cálcios nas células musculares e arteriolares, vasodilatando e reduzindo o débito cardíaco, sendo, para esta classe, o besilato de amlodipina o principal fármaco. De forma alternativa, o β-bloqueador ou inibidor de ECA pode ser adicionado ao tratamento, quando não há resposta adequada com a monoterapia com besilato de amlodipina. Diuréticos Podem ser benéficos, pois induzem a excreção urinária de sódio e água, diminuindo o volume de sangue e o débito cardíaco. Para que sejam eficazes, é preciso que estes fármacos sejam associados, não sendo a única forma de terapia. O uso de diuréticos pode ser indicado para animais com expansão de volume aparente, por exemplo, hipertensão e insuficiência cardíaca congestiva evidentes, sendo combinados a inibidor de ECA. Dentre os fármacos utilizados, estão a furosemida, diurético de asa, e hidroclorotiazida, diurético tiazídico. O mecanismo anti-hipertensivo dos diuréticos está relacionado, em uma primeira fase, à depleção de volume e, a seguir, à redução da resistência vascular periférica decorrente de mecanismos diversos. São eficazes como monoterapia no tratamento da hipertensão arterial, tendo sido comprovada sua eficácia na redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares. Como anti-hipertensivos, dá-se preferência aos diuréticos tiazídicos e similares. Diuréticos de alça são reservados para situações de hipertensão associada a insuficiências renal e cardíaca1. 1 Disponível em: <http://departamentos.cardiol.br/dha/consenso3/capitulo5.asp>. Acesso em: 25 abr 2018. 36 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS Bloqueadores β-adrenérgico Podem reduzir a pressão sanguínea pela redução do débito cardíaco e liberação renal de renina. Estes fármacos, normalmente, precisam ser associados a outros fármacos para o tratamento anti-hipertensivo. Como fármacos desta classe citam-se o atenolol, propranolol e carvedilol. Bloqueadores alfadrenérgicos Tratam-se de fármacos antagonistas dos receptores adrenérgicos tipo alfa, cujo bloqueio causa vasodilatação e consequente taquicardia reflexa, em resposta à queda de pressão arterial. Como exemplo de bloqueadores alfadrenérgicos citam-se a Doxazonina, Fenoxibenzamina, Fentolamina e Labetalol. Bloqueadores dos receptores da angiotensina II Os fármacos da classe dos bloqueadores dos receptores da angiotensina II (por exemplo, candesartan e losartan) têm efeito vasodilatador, visto que possuem elevada afinidade e seletividade aos receptores AT1 são utilizados em humanos e com poucas experiências veterinárias com resultados satisfatórios quando utilizados em cães hipertenso, com efeito anti-hipertensivo e baixa toxidade. Inibidores da renina Os inibidores da renina têm como principal representante o alisquireno que bloqueia a conversão de angiotensinogênio em angiotensina I, reduzindo a angiotensina II. Diferentemente dos inibidores de ECA e dos bloqueadores dos receptores da angiotensina II, que estimulam o aumento da atividade da renina plasmática, o alisquireno suprime os efeitos da renina e leva a uma redução de sua atividade plasmática. Quadro 7. Tratamento de hipertensão arterial sistêmica em cães e gatos. FÁRMACO CLASSE DOSE (CÃES) DOSE (GATOS) Benazepril Inibidor de ECA 0.25-0.5 mg/kg q12- 24h VO 0.25-0.5 mg/kg q12h-VO Enalapril Inibidor de ECA 0.5 mg/kg q12 – 24 VO 0.25 – 0.5 mg/kg q24h VO Lisinopril Inibidor de ECA 0.5 mg/kg q24 VO 0.25 – 0.5 mg/kg q24h VO Ramipril Inibidor de ECA 0.125 – 0.25 mg/kg q-24h VO - Captopril Inibidor de ECA 0.5 – 2.0 mg/kg q 8-12h VO 0.5 – 1.25 mg/kg q 12- 24h VO 37 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I FÁRMACO CLASSE DOSE (CÃES) DOSE (GATOS) Enalaprilato Inibidor de ECA 0.2 mg/kg q 1 -2h de acordo com a necessidade, IV 0.2 mg/kg q 1 – 2h de acordo com a necessidade, IV Besilato de amlodipina Bloqueador de canais de cálcio 0.1 – 0.25 mg/kg q24h VO 0.18 mg/kg ou 0.625 mg/gato q24h VO Prazosina Bloqueador alfadrenérgicos 0.025 – 0.2 mg/kg q8 – 12h VO - Fenoxibenzamida Bloqueador alfadrenérgicos 0.25 mg/kg q8 – 12h ou 0.5 mg/kg q24h VO 2.5 mg/gato q8 -12h ou 0.5 mg/ gato q24h VO Acepromazina Fenotiazínico 0.05 – 0.1 mg/kg (até um total de 3 mg) IV 0.05 – 0.1 mg/kg (até um total de 3 mg) IV Propanolol Bloqueador Beta adrenérgico 0.2 – 1.0 mg/kg q8h VO 2.5 – 5 mg/gato q8h VO Atenolol Bloqueador Beta adrenérgico 0.25 – 1.0 mg/kg q12h VO 6,25 – 12.5 mg/gato q12h VO Espironolactona Diurético 1.0 – 2.0 mg/kg q12h VO 1.0 – 2.0 mg/kg q12h VO Hidroclorotiazida Diurético 2 – 4 mg/kg q12 – 24h VO 2 – 4 mg/kg q12 – 24h VO Furosemida Diurético 1 – 4 mg/kg q 8-24h VO 1 – 4 mg/kg q 8-24h VO Irbesartan Bloqueador dos receptores da angiotensina II 30 – 60 mg/kg q12h VO - Hidralazina Vasodilatador de ação direta 0.5 – 2.0 mg/kg q12h VO; 0.2 mg/kg IV ou IM q 2h 2.5 – 10.0 mg/kg q12h VO; 0.2 mg/kg IV ou IM q 2h Nitroprussiato de sódio Vasodilatador de ação direta 0.5 – 1.0 ug/kg/min (inicial), até 5 – 15 ug/kg/min (IVC) 0.5 – 1.0 ug/kg/min (inicial), até 5 – 15 ug/kg/min (IVC) Esmolol Bloqueadores beta adrenérgicos 50 – 75 ug/kg/min (IVC) 50 – 75 ug/kg/min (IVC) Fentolamina Bloqueadores alfa adrenérgicos 0.02 – 0.1 mg/kg em bolus, acompanhado por IVC até fazer efeito 0.02 – 0.1 mg/kg em bolus, acompanhado por IVC até fazer efeito Fonte: Brown et al. (2007); Papich (2009); Ware (2010). Considerações sobre doenças cardíacas em outros pequenos animais Os gatos sofrem de doenças cardíacas assim como quaisquer outras espécies. Entretanto, os gatos são peritos em esconder os sinais de alerta precoce. Seu estilo de vida descontraído e seu talento para dormir tendem a mascarar sintomas que seriam evidentes em animais mais ativos. Outra dificuldade em identificar a doença cardíaca é a semelhança dos sinais com os sintomas de doença respiratória ou pulmonar. Sendo assim, é importante estar atento para identificar qualquer problema de saúde no gato e levá-los para um veterinário o quanto antes. Leia o artigo completo “Como reconhecer doenças cardíacas felinas?” no link: <https:// pt.wikihow.com/Reconhecer-Doen%C3%A7as-Card%C3%ADacas-Felinas>. 38 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS Répteis O coração dos répteis se diferencia do coração dos mamíferos por se constituir por três câmaras, sendo a divisão da seguinte forma: 1. átrio direito; 2. átrio esquerdo; 3. e um único ventrículo. Entretanto, fundamentalmente, o coração dos répteis possui cinco câmaras que permitem que os sangues arteriais e venosos semisturem. Esta divisão do ventrículo permite que os répteis realizem shunts intracardíacos. Nos repteis, os shunts têm três funções importantes para a fisiologia cardíaca. A primeira função está relacionada ao fato de estabilizar a concentração do oxigénio sanguíneo, durante as pausas respiratórias. A segunda função é a facilitação do aumento da temperatura do corpo do animal, isso porque o shunt é um dos responsáveis pelo aumento da circulação sistémica do animal. A terceira, e muito importante função do shunt, está associada ao fato de direcionar o sangue para longe dos pulmões durante os períodos de apneia, essencial para os animais no momento do mergulho. É muito importante conhecer os shunts no processo de anestesia e sedação dos répteis, visto que eles podem afetar a oxigenação do sangue da circulação sistêmica e a metabolização e eliminação dos anestésicos voláteis. No momento da auscultação dos lagartos, o médico veterinário precisa se atentar à variação anatômica que estes animais apresentam. A localização do coração nos lagartos varia entre os membros anteriores até a parte mais central do corpo do animal. Como exemplo dos que têm o coração localizado entre os membros anteriores, podemos citar os iguanas, camaleões, dragões-de-água. Dentre os lagartos que têm o coração na região mais central do corpo do animal, podemos citar os varanos, tegus e os Tupinambis spp. Nas serpentes, o coração normalmente se localiza no entre o terço proximal e o quarto proximal do comprimento total do corpo do animal, podendo ocorrer pequenas variações. A figura a seguir demonstra de forma esquemática a localização do coração de uma serpente. 39 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I Figura 4. Esquema da localização do coração em serpente. Fonte: <http://www.vevet.com.br/2013/05/anatomia-de-uma-cobra-macho.html>. Acesso em: 4/7/2018. A localização do coração é influenciada diretamente pelo modo de vida predominante do animal. De forma geral, a distância entre a cabeça e o coração é maior nas serpentes aquáticas, terrestres e arbóreas, por ordem decrescente. A altura do coração nas serpentes pode ser direcionada pela visualização dos movimentos das escamas ventrais que é ocasionada pelo batimento do coração do animal. A confirmação pode ser alcançada com a utilização do Doppler vascular. Nos quelônios, há uma dificuldade muito maior para analisar o batimento cardíaco, porque o coração fica localizado dentro da cavidade celómica e está protegido pelos ossos da carapaça e plastrão. Na área externa, ocorre a união do escudo humeral com o torácico do plastrão. Este local é uma boa referência para a sua localização. O médico veterinário, ao examinar o animal, precisa ter em mente alguns, fatores como temperatura, tamanho corporal, metabolismo, estado respiratório e presença ou ausência de estímulos dolorosos podem influenciar frequência cardíaca. Uma peculiaridade do sistema cardiovascular dos répteis é a presença do sistema porto-renal; nele, o retorno venoso da parte caudal do corpo do animal passa diretamente pelos rins. Diante deste fato, o veterinário precisa evitar a administração de medicação intramuscular e intravenosa nos membros posteriores. Anfíbios As tartarugas possuem a capacidade fisiológica de alterar o fluxo sanguíneo de acordo com suas necessidades respiratórias e de temperatura corporal. 40 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS Essa modificação é controlada por meio de diferenças da pressão entre o circuito pulmonar/sistêmico e a possibilidade de realizar a contenção e liberação do sangue remanescente na cava venosa. O desvio acontece do lado direito para o lado esquerdo. O sangue oxigenado é desviado dos arcos aórticos para a artéria pulmonar, propiciando o aumento do volume de sangue oxigenado nos pulmões do animal. Esse desvio ajuda a tartaruga a perder calor por meio da diminuição da temperatura do sangue durante a respiração. Aves Nas aves, o sistema circulatório é considerado fechado, duplo e completo. Ocorre a separação completa entre o sangue venoso e o sangue arterial. O coração é composto por quatro câmaras. O sangue que corre pela aorta sistêmica sai do ventrículo esquerdo e carreia o sangue para a cabeça e corpo, por meio do quarto arco aórtico direito. A circulação é dupla e o sangue passa duas vezes pelo coração do animal. O sangue venoso derivado dos diversos tecidos do animal chega ao coração do animal pelo o átrio direito, enquanto o sangue arterial advindo dos pulmões entra no átrio esquerdo. Após o enchimento dos átrios, ambos se contraem ao mesmo tempo, e isso bombeia o sangue para os respectivos ventrículos (átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo e átrio direito para o ventrículo direito). Em seguida, os ventrículos se contraem simultaneamente levando o sangue que está no interior deles e bombeando as artérias. A artéria pulmonar, que está ligada ao ventrículo direito, conduz o sangue venoso para os pulmões, e a artéria aorta conduz o sangue arterial aos tecidos do corpo. O voo é uma característica da ave que necessita de alta eficiência do coração. Quando as comparamos aos mamíferos, o coração das aves possui o batimento muito mais acelerado. Aves pequenas, como os bicudos, podem apresentar frequência cardíaca de 400 a 500 batimentos por minuto (bpm). Já o coração de aves do tamanho de uma galinha pode bater 300bpm. Estas variações precisam ser observadas no momento do exame físico dos animais. Roedores O crescimento da quantidade de roedores escolhidos como animal de estimação no Brasil tem sido fator determinante para o aparecimento cada vez maior desses animais 41 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I na rotina de atendimento dos estabelecimentos veterinários. No que se refere ao sistema cardiovascular, alguns destes animais apresentam especificidades que precisam ser entendidas para que o atendimento clínico seja realizado de forma adequada. No que se refere às chinchilas, por exemplo, estas podem apresentar murmúrio na auscultação cardíaca, muito embora, ainda não se tenha evidências da relação entre murmúrios e cardiopatias. Por outro lado, há ocorrência de murmúrio cardíaco em chinchila macho, identificado em exame clínico, sendo que ecocardiografia e eletrocardiografia revelaram defeito no septo ventricular e regurgitação na tricúspide. Sobre os hamsters, há casos de trombose atrial, sendo que a maioria das ocorrências está relacionada ao átrio esquerdo secundário à falência cardíaca e coagulopatia. Nos hamsters mais velhos, como sinais clínicos, podem ocorrer hiperpneia, taquicardia e cianose, sendo que se não houver tratamento, em média, estes animais morrem em apenas uma semana. A ocorrência de trombose atrial pode ser influenciada pelo status endócrino do animal, com especial atenção à quantidade de andrógeno circulante. A incidência de trombose atrial pode estar associada à castração dos hamsters machos. A cardiomiopatia é uma enfermidade que deve ser considerada em hamsters com idade superior a um ano e meio, sendo que podem apresentar: » taquipneia; » letargia; » anorexia; » extremidades frias. No que se refere às desordens circulatórias, em paralelo, podem ocorrer: » edema pulmonar; » acúmulo de fluido no tecido intersticial, brônquico e alveolar. Sobre os coelhos, como podem viver mais de dez anos, há a possibilidade de ocorrência de falência cardíaca e arteriosclerose. Os exames de sangue são essenciais para que se diferencie patologias cardíacas de processos infecciosos, em conjunto com avaliação radiológica e auscultação de sons característicos da doença pulmonar. Em situação de ocorrência de edema pulmonar, deve-se realizar tratamento com diuréticos e broncodilatadores. 42 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS Sobre os ferrets, há comum ocorrência de cardiopatias, sendo que os animais acometidos, normalmente, apresentam histórico de inapetência, perda de peso, dificuldade para locomoção, letargia e fraqueza nos membros superiores.Não é muito comum a ocorrência de tosse. Nos ferrets, há a extensão do coração da sexta costela até a borda caudal sétima ou oitava costela. As enfermidades cardíacas nos ferrets podem ser constatadas por meio dos exames clínicos, inspeção, auscultação e palpação, quando, demonstram-se: » cianose; » tempo de preenchimento capilar prolongado; » ascite; » hepatomegalia; » esplenomegalia; » distensão ou pulsação da veia jugular. Outros sinais ao exame clínico: » hipotermia; » depressão; » desidratação; » fraqueza nos membros posteriores; » fraqueza generalizada. Nos casos sintomáticos ou assintomáticos, o diagnóstico é obtido por meio da associação dos dados de: » histórico clínico; » exame físico. » radiografia torácica; » eletrocardiografia; » ecocardiografia; 43 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I » exames complementares, tais como: › hemograma completo; › bioquímica sanguínea; › teste para microfilárias; › toracocentese; › abdominocentese com análise de fluido. As alterações cardíacas mais comuns nos ferrets são: » cardiomiopatia dilatada; » cardiomiopatia hipertrófica; » alteração valvular; » miocardite; » doença congênita; » neoplasia; » dirofilariose. Os ferrets mais idosos também podem apresentar insulinoma, linfoma e tumor em adrenal. O tratamento para estes animais, quando acometidos por enfermidade cardíaca segue o mesmo protocolo adotado para cães e gatos. Quer saber mais sobre a cardiologia em felinos? Leia o texto a seguir, escrito por Alice Albuquerque (2011). A cardiologia em felinos é uma área desafiadora. É preciso bastante experiência e conhecimento para realizar um bom exame físico e detectar os sintomas. Os gatos apresentam peculiaridades que os diferenciam dos cães nos exames, como uma maior frequência cardíaca e um coração menor. Os felinos podem apresentar uma série de doenças cardíacas, com início agudo, caracterizado por dificuldade respiratória, tosse e inapetência, ou com sintomas aparecendo lentamente, sendo muitas vezes a doença cardíaca diagnosticada em exames de rotina. 44 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS As doenças do sistema cardiovascular podem ser congênitas (o animal já nasce com elas) ou adquiridas, e acometem animais de qualquer idade. A cardiomiopatia hipertrófica (CMH) é a doença cardiovascular com maior frequência em felinos e ela é definida pela hipertrofia não dilatada do ventrículo esquerdo, na ausência de outra doença cardíaca. A sua causa é desconhecida e acredita-se que, tal como em humanos, tenha base genética. A CMH acomete com maior frequência machos jovens e de meia idade, mas pode também ser diagnosticada em animais com menos de um ano. Gatos domésticos de pelo curto apresentam maior incidência, seguidos pelos maine coons e persas. Manifestações clínicas Os sinais clínicos mais comuns são falta de apetite, relutância em se mover, dificuldade respiratória, desmaios e paresia dos membros posteriores (diminuição da sensibilidade e ausência da atividade motora dos membros traseiros) devido a trombos. Muitos gatos estão normais e são diagnosticados com batimentos irregulares ou sopro durante o exame físico de rotina. Diagnóstico diferencial Hipertireoidismo e hipertensão podem causar hipertrofia do ventrículo esquerdo, portanto, essas doenças devem ser descartadas antes de se fechar o diagnóstico de CMH. Referência: ALBUQUERQUE, A. Gatos doentes do coração. Disponível em: <http://tudogato. blogspot.com.br/2011/05/cmh-gatos-doentes-do-coracao-dia-de.html>. Neste capítulo, estudamos as principais manifestações clínicas da doença cardíaca. Dentre elas, podemos relacionar: » arritmias; » insuficiência cardíaca; » hipertensão. Especificamente à insuficiência cardíaca, trouxemos suas classificações e fisiopatologia. No que concerne às suas manifestações clínicas, há de se considerar: » tosse; » taquipneia, dispneia e ortopneia; 45 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I » dispneia paroxística noturna; » intolerância ao exercício e fadiga; » edema e congestão pulmonar; » sintomas gastrointestinais; » cianose; » ascite, efusão pleural e edema periférico; » sons de golope. 46 CAPÍTULO 2 Verme do coração Dirofilariose A dirofilariose é uma doença que tem ganhado grande atenção por parte de profissionais que atuam na clínica de pequenos animais. Esse fato está relacionado à elevada prevalência e ao ritmo alarmante de aumento de casos em várias partes do Brasil. Outros fatores preocupantes são a gravidade da patologia da doença e seu grande potencial zoonótico. Em alguns casos, os animais desenvolvem a Síndrome da Veia Cava (SVC). Por que isso acontece? A dirofilariose é uma doença parasitária que acomete o cão e o gato em ambientes urbanos e rurais e é conhecida popularmente como doença do verme do coração e tem ganhado a atenção de veterinários de todo o Brasil em decorrência do aumento da quantidade de casos. A doença tem implicações cardiológicas e pulmonares tendo como etiológico Dirofilaria immitis. É uma doença que acomete animais domésticos e silvestres sendo os cães considerados os hospedeiros naturais e principais reservatórios da doença. Outros mamíferos, dentre eles o homem, também podem se infectar com o parasita o que a torna uma zoonose. De distribuição cosmopolita, o parasita Dirofilaria immitis tem maior prevalência em cidades do litoral com climas mais quentes. A transmissão da doença ocorre por meio da picada de vários tipos de mosquitos nos hospedeiros intermediários carreadores das formas infectantes de microfilárias que penetram o tecido muscular e subcutâneo dos animais domésticos e ao entrarem na corrente sanguínea atingem o coração acometendo o ventrículo direito e as artérias pulmonares. Ocasionalmente, podem acometer também a veia cava caudal, veia hepática e veias coronárias, em um período de aproximadamente três meses após o momento da infecção, se transformam em vermes adultos. O quadro a seguir apresenta a classificação filogenética dos parasitas. Quadro 8. Classificação filogenética dos parasitas. Agente etiológico: Dirofilaria immitis Superfamília: Filarioidea Família: Onchocercidae (Leiper, 1911) Subfamília: Dirofilariinae (Sandground, 1921) Gênero: Dirofilaria (Raillet; Henry, 1911) Espécie: Dirofilaria immitis (Leidy, 1856) Raillet; Henry, 1991) Fonte: Anderson e Baun (1976). 47 DOENÇAS CARDÍACAS │ UNIDADE I Ciclo de desenvolvimento da dirofilariose O ciclo de vida da Dirofilaria immitis se inicia no momento em que os mosquitos dos gêneros Aedes spp, Culex spp, Anopheles spp. dentre outros, no repasto sanguíneo, se alimentam de um animal que esteja infectado pelo parasita da dirofilariose no qual circulam microfilárias. Após a ingestão, os parasitas se desenvolvem nos túbulos de Malpighi, músculos torácicos, ou no tecido adiposo. A figura a seguir ilustra o ciclo biológico da Dirofilariose Canina. Figura 5. Ciclo biológico da Dirofilariose Canina. Fonte: Cicarino (2009). O estágio larval L3 é a forma em que o mosquito transmite os parasitas para o hospedeiro definitivo por meio da sua picada. Após a picada do mosquito, as larvas migram para o tecido subcutâneo e seguem em direção ao tórax por meio da corrente sanguínea. Neste momento, as formas larvais L3 se desenvolvem para L4. Após aproximadamente 50 a 60 dias as larvas passando para o estágio L5. Nesse estágio, são conhecidas como adultos imaturos. Já instalados no coração do cão, os vermes adultos podem chegar a medir 20 centímetros de comprimento e causar severos danos cardíacos e pulmonares na vida do anima. Você sabia que as alterações climáticas que estão acontecendo no mundo de forma desordenada podem contribuir para o avanço dos casos de dirofilariose no Brasil e em outras partes do mundo? O artigo de Alho et al. (2014) pode nos ajudar a entender esse fenômeno. Veja: 48 UNIDADE I │ DOENÇAS CARDÍACAS Tendo em conta que temperaturas mais elevadas
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