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Indivíduos e grupos: Definição de intimidade: As relações íntimas são um tipo particular de interação social que apresenta características próprias. O seu significado varia de relacionamento para relacionamento e dentro de um mesmo relacionamento ao longo do tempo. A intimidade e relacionamentos saudáveis andam de mãos dadas. Certamente a intimidade é um ingrediente básico em qualquer relacionamento com algum significado: a base da amizade e uma das fundações do amor. A intimidade pressupõe, então, uma relação mutua, de estabilidade e confiança, onde prevalece o diálogo e uma partilha de emoções, ideias, sentimentos, ou seja, é uma experiencia que implica um grande envolvimento e uma comunicação profunda. Num casal toda esta intimidade é mais intensa, mais frequente e mais duradoura. Dimensões da intimidade: A intimidade tem uma dimensão relacional e uma dimensão pessoal. A dimensão pessoal está ligada à personalidade das pessoas, à sua história pessoal e ao contexto de vida em que se encontra, e a dimensão relacional esta ligada às relações que as pessoas estabelecem. Existem diferentes dimensões da intimidade: - intimidade social (experiencia de ter amigos); - intimidade sexual (experiencia de partilhar o contacto físico, sexual); - intimidade emocional (proximidade de sentimentos, encontro da compreensão e apoio); - intimidade intelectual (partilhar ideias e conceções do mundo e da vida); - intimidade lúdica (experiencia de partilhar tempos livres e de lazer e gostos). Componentes das interações íntimas: A intimidade implica comunicação, essencialmente direta que pode ser verbal ou não verbal. As comunicações verbais dos pensamentos e emoções é um elemento fundamental da interação íntima. É através da conversa que partilhamos com o outro as nossas emoções, sentimentos e pensamentos mais íntimos e confidências. As interações não-verbais manifestam de forma mais verdadeira os nossos sentimentos e emoções e, portanto, as nossas relações de intimidade: proximidade física, carícias, o toque, apoiar-se no corpo do outro, a forma como se sorri, como se olha o outro, etc. Por vezes, este tipo de interações manifestam-se de forma mais verdadeira os nossos sentimentos e emoções. Quando falamos de intimidade é importante ter em conta o contexto social, ou seja, a forma como as relações íntimas se exprimem e se exercitam varia com o espaço e o tempo. Definir e caracterizar a relação de amizade: A amizade é um relacionamento humano que envolve conhecimento mútuo, estima e afeição. Amigos sentem-se bem na companhia uns dos outros e possuem um sentimento de lealdade entre si, ao ponto de colocarem os interesses dos outros antes dos próprios interesses. Os amigos são pessoas muito importantes na nossa vida, sendo irmãos ou mesmo tornando-se irmãos. Podemos contar, desabafar e confiar neles. Além de se divertirem também gostam de trabalhar juntos. Uma relação de amizade é então uma relação pessoal, informal, voluntaria, positiva, de confiança e lealdade, de longa duração, que facilita os objetivos que os envolvidos querem atingir. Envolve atração pessoal e implica reciprocidade. As relações de amizade correspondem a um importante suporte psicológico, a sua rutura é um fator de grande perturbação. O significado de uma rutura não é sempre o mesmo porque as amizades são diferentes umas das outras e variam de importância ao longo da vida. Fatores que determinam a amizade: O Homem tende a fazer amizades com os outros avaliando primeiro todo um conjunto de fatores que passam por: - Idade: Apesar de serem necessárias relações de amizade em qualquer faixa etária, estas são demonstradas e encaradas de forma totalmente distinta. Na infância, são grandes orientadoras do desenvolvimento cognitivo e socioafectivo, tendo um importante papel da construção da autonomia das crianças. Introduzem-se nas crianças os valores da lealdade, cooperação, afeição e segurança. Na adolescência, os amigos assumem um papel importantíssimo no processo de socialização e afirmação do indivíduo. As amizades assumem o maior grau de importância e funcionam como centro de apoio numa fase complicada da construção do indivíduo. Na fase adulta, os amigos não são tão relevantes como na adolescência. A não ser que já advenham de outras fases da vida, não é comum haver muita intimidade. São relações estruturadas e ocupam um lugar muito mais periférico do que a família que, entretanto, se forma. - Género: Os homens e as mulheres têm formas diferentes de encarar a amizade. As mulheres são muito mais confidentes, íntimas e cúmplices do que a maioria dos homens. - Contexto Social: As amizades variam no espaço e no tempo e o significado que lhes atribuímos variam com o tempo e com a cultura em que nos inserimos. - Características individuais: normalmente, as pessoas tendem a procurar amigos que os entendam, que percebam as suas características psicológicas e que se enquadrem nelas. Definição de amor: A palavra amor adapta-se a múltiplos significados na língua portuguesa. Pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, atração, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido, etc. O conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e alimentar as estimulações sensoriais e psicológicas necessárias para a sua manutenção e motivação. Diferentes tipos de amor: Existem diferentes tipos de amor: - O amor apaixonado: romântico, a que correspondem os termos proximidade, fascinação, exclusividade, desejo sexual, preocupação intensa fantasia sobre o outro e emoções relativamente rápidas é um estado de envolvimento muito forte com outra pessoa, em que intervém uma excitação fisiológica, um desejo sexual; - O amor companheiro é um forte afeto que sentimos por um conjunto de pessoas com quem temos relações fortes, por exemplo os nossos pais e outros familiares, os amigos íntimos e outras pessoas muito próximas. Modelo de amor: Segundo o autor Robert Sternberg, o amor tem 3 dimensões, três componentes: - Intimidade: correspondem sentimentos que visam a proximidade emocional, a união, a compreensão mútua e a partilha (componente essencialmente emocional); - Paixão: envolve um intenso desejo sexual, uma vontade irreprimível de estar com o outro (componente essencialmente motivacional); - Compromisso: corresponde a intenção de um comprometimento em manter uma relação amorosa (componente essencialmente cognitiva). As diferentes relações que estabelecemos refletem casa dimensão em proporções diferentes, em quantidades que podem variar com o tempo. O amor consumado integraria estas três dimensões: as pessoas partilham uma grande intimidade e paixão bem como um compromisso, isto é, a decisão consciente de participar na relação. Modelo de Lee: Defende 3 estilos de amor primário: • Ludos: - Amor como um jogo; - dura enquanto tiver graça; - não implica compromisso; - desprende-se fácil e rapidamente. • Eros: - Amor romântico e apaixonado; - enfase na beleza e atratividade; - crença no “amor á primeira vista”; - são sensíveis aos defeitos físicos. • Storge: - Amor baseado na afeição e não na paixão; - crença de que o amor surge da amizade; - os parceiros partilham os mesmos interesses; - as longas separações não ameaçam o relacionamento. Defende e estilos de amor secundários misturando-os com os primários: • Mania: - Amor ansioso, incerto, obsessivo e possessivo; - ciúme excessivo; - quando a relação é perturbada ficam incomodados (doentes). • Pragma: - Pratico; - são ponderadas as origens do parceiro, convicções políticas, religiosas, estilo de educação e estatuto social; - são realistas, pragmáticos e não românticos. • Ágape: - Amor incondicional; - dá-se sem expectativa de reciprocidade; - não amam para ser amados; - altruísmo Defende 6 estilos terciários: • Ludos-pragma: - Muito calculista, continuam com a sedução contínua, mas apenas a um grupo exclusivo de pessoas; - amor como modo de elevação social. • Pragma-Storge: - Muito realistas; - consideram que a relação só funciona se tiverem interesses em comum; - antes de apaixonados têm que ser amigos; - o que se mantém ao longo da vida. • Ágape-Storge: - Preocupação intensa; - interesses e crenças em comum; - amizade • Ágape-eros: - Amor incondicionado pelo ídolo; - amor muito adolescente; - sem esperar reciprocidade; - pouca duração; • Eros-mania: - Estar apaixonado pelo amor; - estar apaixonado pelo sentimento e não pela pesssoa; - amor obsessivo; - muito ciumento. • Mania-ludos: - Obsessivo e possessivo em relação a alguém com quem não se quer estabelecer um compromisso. Definição de estereótipo: Estereótipo é o conjunto de crenças que dá uma imagem simplificada das características de um grupo ou dos membros dele. Aprendem-se pelo processo de socialização e são crenças a propósito de características, atributos e comportamentos dos membros de determinados grupos, são formas rígidas e esquemáticas de pensar que resultam dos processos de simplificação e que se generalizam a todos os membros do grupo. Exemplos de estereótipos: “os futebolistas têm pouca cultura”; “o lugar da mulher é na cozinha”; “as loiras são burras”; “os alentejanos são preguiçosos”; “os médicos são dedicados”, etc. Relação entre estereótipos e categorização: Na base dos estereótipos está também um processo de categorização: colocamos os indivíduos que nos rodeiam em “gavetas”, o que nos permite, de uma forma rápida e económica, orientarmo-nos na vida social. Uma vez interiorizado, o estereótipo é aplicado de uma maneira quase mecânica. O conteúdo dos estereótipos é uma construção social e não meras construções individuais. Dizemos que uma categoria é estereotipada quando os elementos de um mesmo grupo partilham a convicção de que um ou mais traços particulares caracterizam as pessoas dessa categoria. Por exemplo, os estudantes de Economia podem considerar os estudantes de Belas-Artes irreverentes, imaginativos e contestatários; estes podem considerar os primeiros conservadores, rigorosos e alinhados. Os estereótipos, que existem em todas as sociedades, têm uma função de simplificação que permite a adoção de quadros de interpretação do mundo social em que se está integrado. Refletem também as dinâmicas de posicionamento e de poder intergrupais e a manutenção e reprodução de formas de relação e de organização social. Ao adotar-se o modo de ver, de pensar e agir da família, do grupo, da cultura, da sociedade a que se pertence, está-se a assegurar a integração social. Quando nos comportarmos de acordo com os estereótipos, obtemos a aceitação social, porque agimos de acordo com o que está estabelecido. Funções dos estereótipos: Os estereótipos têm uma função sociocognitiva, uma vez que o categorizar a realidade social permite-nos encarar eficazmente o mundo em que nos encontramos inseridos, definindo o que esta bem e o que esta mal, o que é justo e injusto. Uma outra função dos estereótipos é de ordem socioafectiva, que se relaciona com o sentimento de identidade social. Efetivamente, reconhecemo-nos enquanto pertencentes a grupos com os quais nos identificamos. Parte do que somos relaciona-se com o facto de pertencermos a determinados grupos sócias, o que nos leva a distinguirmo-nos dos outros que pertencem a outros grupos: desenvolvemos o sentimento de “nos” por oposição aos “outros”. Permite a um grupo definir-se, positiva ou negativamente, por relação a um outro. Os estereótipos, ao caracterizarem o grupo dos “ outros”, reforçam a identidade do nosso grupo. Ao desenvolver uma imagem negativa em dos outros grupos, os estereótipos contribuem para reforçar a identidade positiva do grupo a que pertence. Talvez devido a esta função se explique por que razão é que os estereótipos que se partilham depreciem os grupos a que não pertence. Os estereótipos caracterizam-se por: - Simplicidade: as imagens veiculadas pelo estereótipo são pobres; - Uniformidade: o estereótipo é uniforme num dado grupo; - Tonalidade afetiva: um estereótipo nunca é neutro: ou é favorável ou é desfavorável; - Durabilidade e constância: o estereótipo tem tendência a perpetuar-se no tempo, no interior do grupo que o partilha; - Pregnância: o grau de adesão ao estereótipo varia de um individuo para outro, podendo ir desde uma adesão superficial a uma adesão profunda. Definição de preconceitos: Preconceito é a atitude que envolve um pré-juízo, pré-julgamento, na maior parte das vezes negativo, relativamente a pessoas ou grupos. É uma atitude que gera sentimentos negativos, como por exemplo, desconfiança e desprezo, em relação a membros de um grupo resultante de um juízo desfavorável que foi prévia e infundadamente constituído. É também uma disposição adquirida cujo objetivo é uma diferenciação social. Os preconceitos aprendem-se no processo de socialização nos grupos a que se pertence: família, grupos de pares, meios de comunicação social. Funções dos preconceitos: Os preconceitos têm uma função principalmente socioafectiva, isto porque expressam um desejo de união e de proteção de um grupo social. Assumem, em geral, posições radicais contra um ou vários grupos. São, frequentemente, o reflexo de tensões manifestas ou latentes entre grupos sociais ou culturais. Componentes dos preconceitos: O preconceito é constituído por três componentes: componente cognitiva (ideias que se formulam acerca de membros de um grupo social); componente afetiva (sentimentos que se experimentam relativamente ao objeto do preconceito) e componente comportamental (refere-se á orientação do comportamento face á pessoa ou grupo). Definição de discriminação: A discriminação designa o comportamento dirigido aos indivíduos visados pelo preconceito, ou seja, são um conjunto de comportamentos em relação aos membros de um grupo que não são justos por comparação com membros de outros grupos. São atos intencionais que assentam em distinções injustas e injuriosas relativamente a um grupo. Na base da discriminação está o preconceito, que sendo uma atitude sem fundamento, injustificado, dirigida a grupos e aos seus membros, geralmente desfavorável, pode conduzir á discriminação. Contudo, não se pode confundir discriminação com preconceito: enquanto este é uma atitude, a discriminação é o comportamento que decorre do preconceito. Então, o tipo de discriminação esta ligado ao preconceito que lhe esta subjacente. Os comportamentos discriminatórios manifestam-se com mais intensidade em períodos de crise económica e social: as pessoas, não podendo agir sobre as causas da sua situação, dirigem os seus sentimentos negativos, a sua agressividade contra grupos ou pessoas inocentes. A discriminação pode manifestar-se em diferentes níveis, podendo ir desde uma atitude de evitamento até comportamentos hostis e a agressões ao indivíduos e grupos visados. Segundo Allport, a hostilidade patente nos preconceitos pode assumir diversos graus: verbalização negativa (as pessoas só falam dos seus preconceitos com aqueles com que têm confiança, aos quais expressão as suas opiniões negativas); evitamento de relações (as pessoas furtam-se ao convívio com os elementos dos grupos hostilizados); medidas discriminatórias (as pessoas desses grupos são excluídos de determinados empregos, de morar em determinados bairros, de frequentar escolas, participar em determinados cargos, etc); agressão física (algumas vezes as pessoas discriminadas são também alvo de agressões); extermínio (liquidação dos sujeitos discriminados, massacres, linchamentos, genocídio étnico). Relacionar discriminação e autoestima: A discriminação social tem graves influências na autoestima dos afetados. Estudos revelam que os grupos discriminados frequentemente acabam por partilhar juízos negativos sobre si próprios. Assim, ao serem vítimas de preconceitos, as pessoas tendem a interiorizar as razões da discriminação e a concordar com elas, perdendo autoestima e amor-próprio em prol da opinião depreciativa comum. Definição de conflito: O conflito está associado a um conjunto de palavras que refletem o sentido de divergência: desacordo, desaprovação, dissensão, desentendimento, incongruência, discordância, inconsistência, oposição. Ao lermos os jornais, ao ouvirmos conversas sobre relações de trabalho, relações afetivas ou outras, ao analisarmos algumas das nossas experiencias pessoais, constatamos que o conflito está presente nas varias dimensões da vida social, no contexto das interações sociais. A situação de conflito pode assumir o caracter de conflito intrapessoal (conflito interno), conflito interpessoal (conflito entre pessoas) e conflito intergrupal (conflito entre grupos). Apesar de haver conflitos noutras estruturas sociais, vamos deter a nossa atenção no conflito intergrupal. Podemos então definir conflito como uma tensão que envolve pessoas ou grupos quando existem tendências ou interesses incompatíveis. Conflito e cooperação: Experiencia de Muzafer Sherif: Há 4 fases: numa 1º fase propuseram projetos que implicavam a cooperação dentro de cada grupo. Numa 2º fase, confrontaram-se os dois grupos em que o nível de competitividade entre os grupos for crescendo, manifestando-se uma forte rivalidade entre eles. Numa 3º fase os investigadores procuraram atividades que levassem os rapazes a unirem-se, o que fez com que em vez de produzir cooperação houvesse mais conflito entre eles. Numa 4º fase, os investigadores introduziram objetivos superordenados, que são atividades que só se podiam concretizar se ambos os grupos colaborassem. O desenvolvimento desta atividade levou a que os dois grupos se unissem em um só, dando lugar a novas amizades. Conflito e relação: Só há conflito se houver uma relação próxima entre as partes, uma interação significativa que justifique o confronto. Geralmente, as partes em conflito são interdependentes, como, por exemplo, a relação entre patrões e trabalhadores, pais e filhos, entre amigos, etc. se não há relação não há conflito, seja entre pessoas, seja entre grupos. Uma característica que acompanha o conflito é o estado de insatisfação entre as partes. A insatisfação pode ter varias origens: divergência de interesses, competição pelo poder, incompatibilidade de objetivos, partilha de recursos escassos, desacordos do ponto de vista, etc. Nas últimas décadas, a psicologia, designadamente a psicologia do desenvolvimento, tem encarado os conflitos intrapessoais (que cada um de nos vive quando está perante motivações que são incompatíveis) numa perspetiva positiva. A vivência de conflitos marca crises que se manifestam em angústia e confusão, porque pomos em causa a forma como vemos e como estamos no mundo. Contudo, a vivência dos conflitos e as crises que daí decorrem correspondem, geralmente, a processos de desenvolvimento psicológico. Ultrapassando o conflito, somos mais capazes de responder de forma mais adaptada á situação que vivemos. Constata-se que também os conflitos intergrupais têm sidos encarados de forma diferente. Abandonou-se a perspetiva dominante, que defendia o caracter negativo e ate destrutivo dos conflitos. Hoje considera-se que os conflitos têm aspetos negativos porque correspondem a períodos de tensão e de insatisfação das pessoas e dos grupos, e têm aspetos positivos porque o confronto é gerador de mudança, que é o fundamento da evolução e do desenvolvimento social. O conflito social é encarado como um elemento vital da mudança e das dinâmicas sociais. Conflito e identidade grupal: O conflito entre os dois grupos implicava uma avaliação das ocorrências em que o endogrupo (grupo a que se pertence) era encarado como “bom” e o exogrupo (grupo a que não se pertence) era avaliado como “mau”. Um dos aspetos que tem sido estudado a propósito dos conflitos intergrupais é o reforço da identidade do grupo: o conflito reforça a conceção de “nós” (o endogrupo) por oposição a “eles” (o exogrupo). Este sentimento corresponde á necessidade de as pessoas verem o seu grupo como “melhor” que qualquer outro grupo. A situação de conflito reforça esta necessidade, podendo aumentar a coesão do endogrupo, ao mesmo tempo que pode aumentar a rejeição ao exogrupo. Estes sentimentos estão relacionados com o desenvolvimento dos preconceitos e da discriminação. A situação de conflito pode aumentar ou diminuir, segundo diferentes fatores que decorrem das relações no interior de cada grupo (intensifica-se, se há convicção da legitimidade da razão que provocou o conflito) e das relações entre os grupos (o conflito pode atenuar-se ou intensificar-se, se se desenvolverem atitudes de provocação ou de conciliação) Causas dos conflitos: - Se os interesses são divergentes, ou seja, se os grupos precisam de estar em relação um com o outro para atingir os objetivos; - Se os interesses são convergentes, mas os recursos limitados, ou seja, não é permitido que um grupo os atinja, traduzindo-se num conflito através de comportamentos e atitudes competitivas, que podem atingir formas elevadas de hostilidade e até agressão. Por outro lado quando os interesses objetivos de dois grupos forem convergentes e os recursos suficientes para que ambos consigam atingir, é mais provável que haja cooperação entre eles, sendo os comportamentos orientados para a colaboração. Conflito e cooperação: Certas experiências vieram mostrar que, muitas vezes, não basta o simples contacto entre grupos hostis para se ultrapassarem os preconceitos e conflitos. O contacto que envolva cooperação, a entreajuda e a interdependência tem muito mais possibilidade de sucesso na superação de conflitos. Efetivamente, é necessária a cooperação, isto é, a ação conjunta que implique a colaboração dos envolvidos para se atingir um objetivo comum. Conflito e mediação: A mediação é uma forma de resolver um conflito recorrendo a uma outra parte – o mediador- que não está envolvida no conflito. Recorre-se a um mediador quando os adversários já não conseguem serenamente mas pretendem resolver a hostilidade em que vivem. A mediação pode ser familiar, por exemplo, quando há um divórcio e os cônjuges já não conseguem, sozinhos, ultrapassar a dificuldade ou a impossibilidade de comunicar. A mediação existe também nos conflitos laborais e, a uma escala mais ampla, nas relações internacionais: a ONU procura se mediadora de crises e conflitos entre países. O papel do mediador é promover a comunicação entre as partes em conflito. Conflito e negociação: A negociação é um processo de resolução de conflitos em que as partes intervenientes, voluntariamente, procuram construir um acordo no sentido de impedir o desenvolvimento da hostilidade para fases mais agudas. A negociação visa evitar a confrontação direta. É um processo dinâmico em que as duas ou mais partes fazem cedências e exigências mútuas. Modelo ecológico do desenvolvimento: Definição de modelo ecológico do desenvolvimento: Bronfenbrenner elabora um modelo explicativo – modelo ecológico do desenvolvimento - em que defende que o desenvolvimento humano é um processo que decorre ao longo de toda a vida a partir de interações entre os indivíduos e os seus contextos de vida. Os seres humanos desenvolvem-se em múltiplos contextos – dos mais simples aos mais complexos - através de processos de interação continuada com os ambientes onde vivem. Como seres ativos que são, os seres humanos transformam, não apenas a si, mas também aos ambientes onde atuam. O desenvolvimento depende das características dos contextos assim como das características biopsicológicas dos indivíduos. A perspetiva ecológica do desenvolvimento é especialmente útil para que se consiga ter uma imagem mais abrangente dos vários fatores, pessoais ou do contexto, que influenciam a trajetória desenvolvimental de uma pessoa. Contextos da existência dos indivíduos: Numa perspetiva ecológica, os contextos onde participamos e com os quais temos relações são concebidos como uma serie de sistemas inter-relacionados. Cada um destes sistemas está contido em sistemas mais abrangentes. Por exemplo, a escola que nós frequentamos faz parte do nosso contexto de vida e também dos nossos pais, mas a posição que ocupa não é a mesma. Para nós, é um contexto onde participamos diretamente, onde passamos grande parte do nosso tempo e onde estabelecemos um grande número de relações sociais; para os nossos pais, a escola é o local onde estudamos, por isso, importante, mas onde apenas ocasionalmente participam de forma direta, sendo o número de relações que estabelecem muito menor. Microssistemas: São os contextos mais imediatos, de maior proximidade, em que os indivíduos participam diretamente. Do microssistema fazem parte os contextos onde as pessoas estabelecem relações face a face, tais como a família, a escola, o grupo de colegas e amigos. Nestes ambientes, os indivíduos interagem diretamente e com continuidade, não apenas com outras pessoas que neles participam, mas também com os objetos e símbolos presentes. Através das pessoas, objetos e símbolos, nós aprendemos a reconhecer e a utilizar esses objetos e símbolos, a construir significados, bem como modos de estar e fazer. Em todo este processo a família tem um papel muito importante. Assim, este contexto é o mais importante no desenvolvimento do individuo. Mesossistema: Do Mesossistema fazem parte as interações e os processos que ocorrem entre dois ou mais contextos do microssistema, ou seja, é um sistema de microssistemas. Para nós que estamos a estudar, a escola e a família fazem parte do nosso microssistema; as relações que se estabelecem entre a escola e a família, ou as relações entre a escola e o grupo de amigos, fazem parte do Mesossistema. Do Mesossistema dos nossos pais, por exemplo, fazem parte as relações entre a família e o local de trabalho, ou o seu grupo de amigos e a família. Os contextos em que participamos não são entidades isoladas, estabelecem relações e comunicam através de processos ao nível do Mesossistema. Estas ações mútuas entre contextos imediatos (do microssistema) que se dão ao nível do Mesossistema têm também uma poderosa influência no processo de desenvolvimento e no comportamento humano, conduzindo ao estabelecimento de relações e comunicações. Exossistema: No exossistema reporta-se a contextos que não implicam a participação ativa do sujeito mas que o afetam. Podem fazer parte do exossistema as autarquias, a assistência social, os serviços jurídicos, o local de trabalho, grupos religiosos, centros de saúde, meios de comunicação social. A ação do exossistema constitui um importante fator de desenvolvimento pelo enquadramento que propicia ao individuo. A sua ação pode ser decisiva quando as pessoas vivem situações difíceis, através de apoios de varias ordem (bolsas de estudo, subsídios…). Macrossistema: O macrossistema constitui o sistema mais alargado em termos dos contextos de vida de qualquer individuo. Dele fazem parte os padrões socioculturais, instituições políticas e sociais, os valores, as crenças, os estilos de vida, os recursos materiais e simbólicos que se encontram disponíveis num determinado contexto do desenvolvimento. Todos estes aspetos têm influência no macrossistema e influenciam-nos. Cronossistema: O cronossistema permite incorporar no contexto da vida uma dimensão temporal. Esta dimensão inclui mudanças que podem ser tanto graduais como abruptas. As mudanças ao nível do cronossistema podem, ainda, ser centradas no ambiente ou na pessoa em desenvolvimento, podem ter diferentes graus de consistência. Dada a passagem do tempo, e as mudanças que nesse tempo ocorrem, a configuração dos diversos sistemas, as suas relações e influências podem ser alteradas. Por exemplo: a influência do microssistema família não é a mesma para uma criança ou para um adolescente. A partir da transição para a adolescência, a influência dos contextos exteriores á família, nomeadamente dos grupos de pares, tende a crescer relativamente á influencia que tinha na infância. Por outro lado, os efeitos de algumas das características das relações entre pais e filhos tende a ser mais visível na adolescência do que em crianças pequenas. Mudar da escola secundaria para a universidade ou do contexto escolar para o mundo do trabalho são transições, a nível pessoal, que podem ser lidas em termos da sua ligação ao cronossistema. Inter-relações entre os contextos: O contexto de cada um: O contexto de cada um é um sistema muito amplo, afetado pelo que se passa em cada um dos seus lugares, elementos e subsistemas – lugares como a escola, a família, a comunidade…. As mudanças que ocorrem influenciam continuamente o que se passa nos outros lugares, elementos e subsistemas. As influências que o contexto tem em cada um de nós são profundamente dinâmicas. As ações e reações das pessoas são uma consequência de uma configuração de influências mútuas que vão determinar as características de cada um. 1- Inter-relações no interior de cada contexto: cada contexto é constituído por subsistemas que interagem entre si. Por exemplo, na família, verificamos que no seu interior se desenvolvem dinâmicas próprias entre os seus membros – pai, mãe, filhos, irmãos… - que geram a dinâmica geral do núcleo familiar. Cada um dos elementos que o constitui afeta todos os outros através da sua ação. 2- Inter-relações entre contextos: os contextos não estão isolados uns dos outros, como já vimos: interagem, afetando-se mutuamente. 3- Inter-relações entre o individuo e os contextos: o individuo é ativo, não sofre passivamente a influência dos contextos. A sua ação afeta, influencia os contextos, os ambientes em que participa, transformando-os. Definição de redes sociais: Cada individuo possui uma rede de pessoas a quem está ligado e com quem se relaciona: amigos, professores, familiares, profissionais de saúde, vizinhos, entre outros. Liga-se através de comportamentos ou interações particulares. O conjunto de ligações de uma ou mais redes pessoais ligadas forma uma rede social. Tal como a rede pessoal, a rede social é essencialmente o conjunto de ligações, relações e interações particulares entre diferentes pessoas. Os efeitos das redes sociais: Os membros da rede socia: podem fornecer modelos de relações menos problemáticas entre os membros das famílias, podem providenciar contextos onde novas soluções para os problemas ou novas alternativas de adaptação possam emergir. Os membros das redes sociais podem exercer a sua influencia a diferentes níveis. Parceiros, amigos, familiares, vizinhos, colegas de trabalho, podem afetar os diferentes níveis do contexto, como, por exemplo, o apoio que diferentes elementos de uma rede social podem disponibilizar em certas situações. Mas as redes sociais têm uma poderosa influencia no desenvolvimento e comportamento dos indivíduos, que vai para alem da sua possibilidade de providenciar ou necessitar de apoio material instrumental ou apoio emocional ou afetivo. As redes sociais são fontes muito importantes de informação sobre o contexto. As interações entre os membros das redes sociais ocorrem em contextos sociais informais (como um grupo de amigos que jogam cartas em torno de uma mesa) ou formais (como uma reunião de trabalho ou uma reunião com o direto de turma). Manifestam-se diversos valores e normas que orientam e influenciam as interações, que concorrem para a regulação do comportamento das pessoas umas com as outras, para a adaptação e a ação de cada um nos seus contextos socioculturais. O papel dos contextos no comportamento dos indivíduos: Bronfenbrenner acrescentou algumas reformulações ao seu modelo ecológico do desenvolvimento, considerando que teria que dar mais enfase ao papel do individuo, das suas características biopsicológicas no processo de desenvolvimento, passando a designar o seu modelo por modelo bioecológico. Assim, dá mais importância aos processos que decorrem nos contextos mais próximos do individuo, os microssistemas, e que designa por processos proximais. Os processos proximais são formas particulares de interações entre os organismos e o ambiente que operam ao longo do tempo e compreendemos primeiros mecanismos que produzem o desenvolvimento humano. Sem negar o papel dos contextos, o autor considera que o individuo tem um papel central no seu processo de desenvolvimento: não é um produto mecânico dos ambientes, dos lugares com quem interage. É ativo, participando na criação dos próprios contextos. Cada pessoa, portadora de características próprias, entra ao longo do tempo em relação reciproca e dinâmica com os contextos emergindo as trajetórias de vida particulares de cada um. É assim que cada um de nos se vai construindo como um ser único e singular. Assim, no desenvolvimento temos que considerar de forma dinâmica 4 dimensões: a pessoa, o processo, o contexto e o tempo. - Pessoa: características individuais, contexto cultural e história pessoal (onde caracterizamos as nossas características pessoais); - Processo: interações recíprocas entre ambiente e pessoa; - Contexto: microssistema, Mesossistema, exossistema, macrossistema; - Tempo: tempo pessoal, sequência histórica dos acontecimentos. No nosso contexto de vida construímos significado para as diversas situações que experienciamos, interpretamos as múltiplas informações contextuais que permanentemente recolhemos. Em tudo isto participamos, em tudo isto se tornam relevantes as nossas características pessoais. Assim, mesmo quando os elementos do contexto se repetem, a configuração não é a mesma para cada um. As características pessoais: resiliência: O conceito de resiliência descreve a capacidade encontrada por algumas pessoas de encontrarem por algumas pessoas de encontrarem forças e recursos no seu mundo pessoal que lhes permitem guiar por trajetórias desenvolvimentais adaptativas e positivas, mesmo em condições adversas de privação e risco. Frequentemente relacionada com a resiliência está a presença de pessoas e interações significativas, de elementos da rede social, que apoiem de forma adequada, que demonstrem preocupação e afeto pela pessoa em desenvolvimento. Podem estar presentes em diferentes contextos: na escola, na família restrita ou alargada, no grupo de amigos, nas organizações, ou nas pessoas da vizinhança ou da comunidade. Um outro elemento importante a considerar, quando se procura compreender o fenómeno da resiliência, é que esta é um processo ativo. A mente: Definição de mente: Durante muito tempo associou-se o conceito de mente á dimensão cognitiva do ser humano. Falar em mente humana era o mesmo que falar em raciocínio, dedução, abstração, juízos e conceitos. Passado algum tempo, compreendeu-se que o funcionamento mental não se reduz á dimensão cognitiva, á produção racional, abstrata dos conhecimentos. Compreendeu-se que a mente humana implicava também a emoção, os sentimentos, a afetividade e a ação. Mente passa então a ser encarada como um sistema que integra os processos cognitivos e também os processos emocionais e conativos. É uma manifestação total de processos dinâmicos que interagem constantemente de forma complexa: os processos mentais implicam-se mutuamente de forma integrada. Funcionamento dos 3 processos mentais: - Processos cognitivos: estão relacionados com o saber, com o conhecimento, reportam-se á criação, transformação e utilização da informação do meio interno e exterior. Associam-se á questão “O quê?”. No âmbito dos processos cognitivos, estudaremos a perceção, a memória e a aprendizagem. - Processos emotivos: estão relacionados com o sentir; são estados vividos pelo sujeito caracterizados pela subjetividade. Correspondem às vivências de prazer e desprazer e á interpretação das relações que temos com as pessoas, objetos e ideias. Estão associados á questão “Como?”. No âmbito dos processos emotivos estudaremos a emoção, o afeto e o sentimento. - Processos conativos: estão relacionados com o fazer, expressam-se em ações, comportamentos. Correspondem á dimensão intencional da vida psíquica. Estão associados á questão “Porquê?”. No âmbito dos processos conativos procuraremos relacionar os conceitos de intencionalidade, tendência e esforço de realização. Definição de cognição: Cognição consiste no conhecimento humano e animal sob diferentes formas: perceção, aprendizagem, memória, consciência, atenção e inteligência. Segundo Marc Richelle, cognição é o conjunto de mecanismos pelos quais um organismo adquire informação, a trata, a conserva, a explora; designa também o produto mental destes mecanismos, quer seja encarado de um modo generalizado quer a propósito de um caso particular. Definição e caracterização da perceção: A perceção é um processo cognitivo através do qual contactamos com o mundo, que se caracteriza por exigir a presença da realidade a conhecer. Pela perceção, organizamos e interpretamos as informações sensoriais. Por isso, a perceção começa nos órgãos recetores (sensoriais) que são sensíveis a estímulos específicos. A perceção é uma atividade cognitiva que não se limita ao registo da informação sensorial, implica a atribuição de sentido, que remete para a nossa experiência. As perceções resultam de um trabalho árduo de análise e síntese por parte do cérebro, destacando o seu caráter ativo e influenciado pelos conhecimentos, experiências, expectativas e interesses do sujeito, é uma construção mental e uma interpretação da realidade. Processo percetivo: O nosso processo percetivo é construído por sistemas sensoriais: visão, olfato, audição, tato, paladar e ainda pelo sentido do equilíbrio e o sentido dos movimentos corporais. Estes sistemas sensoriais são sensíveis a determinados tipos de estímulos. Embora a receção sensorial seja diferente para os diferentes órgãos dos sentidos, no processo percetivo existe 3 elementos: 1- Estimulo físico; 2- A sua tradução em impulsos nervosos; 3- A resposta á mensagem como perceção. A perceção como representação: As perceções não são cópias do mundo á nossa volta. A perceção não reproduz o mundo como um espelho, o cérebro não regista o mundo exterior como um fotógrafo tridimensional: constrói uma representação mental ou imagem da realidade. Na perceção visual, que é a grande fonte de informação sobre o mundo, há todo um processo biológico complexo em que o estímulo visual é transformado, não se projetando no nosso cérebro como um slide num ecrã. Os estímulos luminosos, que sensibilizam a nossa retina, são codificados em impulsos nervosos, que são transmitidos pelos nervos óticos às áreas visuais do córtex, que os processam como uma representação.´ É no nosso cérebro que se vão estruturar e organizar as representações do mundo, é no cérebro que se dá sentido ao que vemos e ouvimos. Por isso se diz que é no cérebro que se ouve, se vê, se sente o frio, o calor, os cheiros, os sabores. A informação proveniente dos órgãos sensoriais é tratada pelo cérebro. É nesta estrutura do sistema nervoso que ganha sentido e significado. A interpretação da realidade: constância percetiva: A visão que temos do mundo não é uma reprodução da realidade mas uma interpretação – constância percetiva. 1- Constância de tamanho: percecionamos o tamanho de um objeto ou de uma pessoa independentemente da distância a que se encontra. Ora, o mesmo objeto, apresentado a diferentes distancias, forma na retina imagens com diferentes tamanhos: quanto mais longe está, mais pequeno aparece. É no cérebro que interpretamos os dados que recebemos. 2- Constância da forma: um objeto nunca forma a mesma imagem retiniana: a luz é diferente, a incidência e o angulo do olhar diferentes também, a distância muda constantemente. O reconhecimento envolve sistemas elaborados em que intervêm a experiencia anterior do sujeito, as memorias armazenadas, as aprendizagens do sujeito. Por exemplo, nós percecionamos a porta como retangular, mas quando a abrimos ela perde essa forma. 3- Constância do brilho e da cor: mantemos constantes o brilho e a cor dos objetos, mesmo quando as circunstâncias físicas nos dão outra informação. Percecionamos uma casa branca em plena luz do sol e mantemos constante a cor, á noite, percecionamos o sangue sempre vermelho, a neve sempre branca, independentemente da quantidade de luz. Reconhecer o caráter subjetivo da perceção: A nossa perceção do mundo é subjetiva, na medida em que percebemos o meio que nos rodeia em função dos nossos conhecimentos adquiridos, necessidades, interesses, valores, expectativas e experiências passadas. É importante perceber que não percecionamos de uma forma neutra e objetiva, mas antes individual, parcial e subjetiva. E é devido a esta última característica que a perceção nos permite antecipar acontecimentos e prever comportamentos, o que nos permite prepararmo-nos para eles. Por outro lado, a motivação e os estados emocionais de cada um têm grande influência na perceção que o indivíduo tem da realidade numa dada situação, por exemplo, o nervosismo e o medo implicam, regularmente, uma distorção e ampliação de factos que nos é incontrolável. Também o interesse que os acontecimentos e assuntos nos despertam é importante para a perceção já que os estímulos percetivos são selecionados pela nossa atenção e, por isso, tendemos a adquirir mais conhecimentos nas áreas que mais nos fascinam. Por fim, a subjetividade nota-se nas expectativas. Estas afetam as nossas perceções levando-nos, frequentemente, à ilusão e consequente desilusão. Conceito de perceção social: Perceção social é o processo que está na base das interações sociais, ou seja, o modo como conhecemos os outros, analisamos os seus comportamentos e entendemos os seus perfis. É o modo como percecionamos as situações sociais e o comportamento dos outros que orienta o nosso próprio comportamento. Por isso, podemos afirmar que a perceção social está inteiramente relacionada com os grupos sociais, a cultura e o contexto social do indivíduo. A predisposição percetiva mostra-nos que os indivíduos e os grupos sociais atribuem significados particulares à realidade física, reconstruindo-a e, muitas vezes, percebendo situações de modo diferente. Um exemplo disso, é o efeito dos estereótipos e dos preconceitos na perceção. Conceito de perceção e cultura: A forma como percecionamos o mundo varia com a cultura, com o contexto cultural. Reconhecemos que o modo como um chines, um europeu, um americano ou um indiano representam o mundo, é diferente. A perceção de profundidade é também afetada pela cultura. A diferença de tamanhos entre objetos é interpretada como estando a distâncias diferentes: por exemplo um lápis estando mais longe, parece mais pequeno. Definição de memória: A memória pode ser entendida como o registo de todas as experiências existentes na consciência, bem como a qualidade, extensão e precisão dessas lembranças. A memória é a capacidade do cérebro em armazenar, reter e recordar a informação. A memória está na base de todas as funções psíquicas: da perceção, da aprendizagem, da imaginação, do raciocínio, etc. Não podemos conceber a vida humana sem memória. É a partir das informações que o indivíduo possui que se adapta ao meio e atribui significado às experiências vividas. Sem ela, seria impossível a transmissão e desenvolvimento cultural. O homem seria um ser puramente biológico. É a memória que nos dá o sentimento de identidade pessoal: as experiências vividas, acumuladas e que nos reconhecemos como nossas constituem o nosso património pessoal que nos distingue dos outros e nos torna únicos. Sem memória não existe identidade. A memória humana é limitada na sua capacidade de armazenamento e afetada pelos sentimentos, emoções, experiências, imaginação e, ainda, pelo tempo. Processos de memória. Se a memória é a capacidade do cérebro em armazenar, reter e recordar a informação, então são estes os três processos base de memória. A codificação é a primeira operação da memória. Prepara as informações sensoriais para serem armazenadas no cérebro. Traduz os dados recebidos em códigos visuais, acústicos ou semânticos. Quando queremos memorizar algo, agimos em função de uma aprendizagem deliberada que nos exige mais atenção e, como tal, uma codificação mais profunda. Depois de codificada, a informação deve ser armazenada, o que acontece por um período variável. Cada elemento de uma memória é guardado em várias áreas cerebrais. Engramas são traços mnésicos resultantes das modificações no cérebro que ocorrem para o armazenamento. Cada engrama produz modificações nas redes neuronais que permitem a recordação do que se memorizou sempre que necessário. O processo de fixação é complexo e a informação que se armazena está sempre sujeito a modificações, o que implica que, para que ela se mantenha estável e permanente, seja necessário tempo. A recuperação é, como o nome indica, a fase em que recuperamos, recordamos, reproduzimos a informação anteriormente guardada. Caracterização a memória de curto prazo: A memória a curto prazo está presente no hipocampo. É uma memória que retém a informação durante um tempo curto limitado, a partir do qual pode ser esquecida ou promovida para a memória a longo prazo. Distinguem-se a memória imediata e a memória de trabalho: A memória imediata (sensorial) é aquela que retém a informação apenas por uma fração de tempo (~30segundos). Normalmente, conseguimos reter de 5 a 9 unidades de informação: 5-9 dígitos, 5-9 letras. A memória de trabalho acontece quando mantemos a informação enquanto ela nos é útil, por exemplo quando repetimos um nome ou um número várias vezes porque não o pudemos escrever. Ambas se completam e formam a memória a curto prazo. Qualquer informação que tenha estado na memória a curto prazo e que se tenha perdido é irrecuperável. Conhecer os diferentes tipos de memória de longo prazo. A memória a longo prazo retém os materiais durante horas, meses ou toda a vida. Há dois tipos de memória de longo prazo: a memória não declarativa e a declarativa. - A memória não declarativa é automática, retém as informações do género “como fazer?”. É o exercício, a repetição do conjunto de práticas que tornam a atividade automática. Só conseguimos atingir este tipo de memória através da ação. Explicar como andar de bicicleta é muito complicado, a tendência é sempre exemplificar. Para isso, não é preciso localização temporal, reflexão ou reconhecimento a não ser que nos seja perguntada alguma referência. Memória não declarativa é também chamada memória implícita ou sem registo. - A memória declarativa, explícita ou com registo, implica consciência do passado, do tempo, de experiências vividas, de acontecimentos e pessoas. Esta memória lida com conteúdos que podem ser declarados, ou seja, transpostos para palavras. Dentro desta memória, podemos ainda separar a memória episódica da semântica. - A memória episódica é constantemente associada a memória autobiográfica exatamente porque se reporta a lembranças da vida pessoal. Envolve rostos de pessoas, músicas, factos, experiências. É pessoal e manifesta uma relação íntima entre quem recorda e o que se recorda. - A memória semântica permite identificar objetos e conhecer o significado das palavras. Refere-se ao conhecimento geral sobre o mundo: leis, factos, fórmulas, regras. Não há localização no tempo, não há ligação com qualquer ação ou conhecimento específico. Sabe-se que 3² = 9 e esse conhecimento é retido assim, simplesmente. Se se associar quem ensinou, por exemplo, o professor de matemática, já nos estarmos a reportar à memória episódica. Compreender a memória como processo ativo e dinâmico. A memória é um processo ativo e dinâmico na medida em que não reproduz fielmente aquilo que armazenou. A memória reconstrói os dados, o que implica que dê mais relevo a uns, distorça outros ou mesmo os omita. Por outro lado, quando os acontecimentos são muito emotivos, a memória deixa escapar pormenores que depois são substituídos/reconstruídos pelo cérebro. Quem conta um conto, acrescenta um ponto e, assim, quanto mais se reproduz o que aconteceu, mais elaborada e complexa vai ficando a história, chegando a um ponto em que muitos factos não passam de imaginação. No entanto, as representações que temos são sempre tão claras como se fossem plenas reproduções da realidade, o que faz com que este processo ativo e dinâmico nos passe completamente despercebido. Por este motivo, o mesmo acontecimento pode ser descrito de formas bastante diferentes por diferentes pessoas. Não mentem, apenas têm diferentes interpretações resultantes de diferentes sentimentos, emoções e atenção. Relacionar memória e esquecimento. A memória é seletiva e limitada na sua capacidade de armazenamento. Por isso, o esquecimento é condição essencial ao normal funcionamento da memória. Podemos definir esquecimento como a incapacidade de recordar, de recuperar dados, informações, experiências que foram memorizadas no passado. O esquecimento pode ser provisório ou definitivo. Apesar de estar carregado de uma imagem negativa, o esquecimento é essencial. Só continuamos, ao longo de toda a vida, a memorizar informação porque conseguimos esquecer outra. O esquecimento tem uma função seletiva e adaptativa, já que despreza a informação inútil e desnecessária e os conteúdos conflituosos, impedindo um excesso de informação acumulado no cérebro que bloquearia a captação de novos assuntos. O esquecimento está, normalmente, mais relacionado com a memória a longo prazo uma vez que, na memória a curto prazo, o tempo de retenção da informação é demasiado curto: esta ou passa para a memória a longo prazo ou é apagada. Explicar diferentes tipos de esquecimento: motivado, interferência das aprendizagens e regressivo. O esquecimento regressivo acontece quando há dificuldades em apreender novas informações e relembrar conhecimentos, factos, nomes e números recentes. É frequente ocorrer, maioritariamente, em pessoas mais idosas devido à degenerescência dos tecidos cerebrais. Apesar disso, o envelhecimento pode ser retardado com uma vida ativa, empenhada e equilibrada. O esquecimento motivado aparece na sequência da teoria do psiquismo humano de Freud. Assim, esquecemos o que, inconscientemente, nos convém esquecer. De forma a assegurar o equilíbrio psicológico, o cérebro tende a esquecer todos os conteúdos que possam ser traumatizantes, dolorosos angustiantes, fenómeno a que chamamos recalcamento. Através deste mecanismo de defesa, os conteúdos do inconsciente são impedidos de atingir a consciência, diminuindo a incidência de momentos tensos provocados por conflitos internos. O esquecimento por interferência das aprendizagens explica-se pela interação das novas memórias com as mais antigas. As memórias mais antigas não desaparecem, mas sofrem alterações por efeito da transferência de aprendizagens e experiências posteriores que as tornam irreconhecíveis.
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