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Marcos Cesar Lomba M ar co s Ce sa r L om ba Gestão de Pessoal G es tã o de P es so al Su pe rv is ão , I ns pe çã o e O rie nt aç ão E du ca ci on al As relações interpessoais desenvolvem-se em decorrência do proces- so de interação entre os seres humanos, pois o ser humano não vive em círculo fechado, porque é na relação com o outro que o seu eu constrói-se. Quando uma pessoa começa a participar de um grupo, in- cluindo o do ambiente profissional, há uma base interna de diferen- ças que englobam conhecimentos, informações, opiniões, preconceitos, atitudes, experiências anteriores, gostos, crenças, valores e estilo comportamental, o que traz inevitáveis diferenças de percepções, opiniões, sentimentos em relação a cada situação compartilhada. Essas diferenças passam a constituir um repertório novo: o daquela pessoa naquele grupo. Como essas diferenças são encaradas e tratadas determina a modalidade de relacionamento entre os membros do grupo, colegas de trabalho, superiores e subordinados. A maneira de lidar com as diferenças individuais criam um “certo” clima entre as pes- soas e tem forte influência sobre toda a vida em grupo, principal- mente nos processos de comunicação, no relacionamento interpessoal, no comportamento organizacional e na produtividade. Se as diferenças são aceitas e tratadas em aberto, a comunicação flui fácil, em dupla direção, as pessoas ouvem as outras, falam o que pensam e sentem, e têm possibilidades de dar e receber feedback, retorno ou resposta crítica aos comportamentos do outro. Quando as diferenças são nega- das e suprimidas, a comunicação torna-se falha, incompleta, insufi- ciente, com bloqueios e barreiras, distorções e “fofocas”. As pesso- as não falam o que gostariam de falar, nem ouvem as outras, só captam o que reforça sua imagem das outras e da situação. O relacionamento interpessoal poderá então, tornar-se e manter-se harmonioso e praze- roso, permitindo trabalho cooperativo, em equipe, com integração de esforços, conjugando as energias, conhecimentos e experiências para um produto maior que a soma das partes, ou seja, a tão buscada siner- gia. Ou assim, tender a tornar-se muito tenso, conflitivo, levando à desintegração de esforços, à divisão de energias e crescente dete- rioração do desempenho grupal para um estado de entropia do sistema e final dissolução do grupo. É neste sentido, que a disciplina de Gestão de Pessoal contribuirá refletindo e instrumentalizando o alu- no e/ou aluna para os processos envolvidos na dinâmica das relações interpessoais com vistas à gestão de pessoal nas organizações. Para isso, apresentará as categorias de interação entre os seres humanos, desenvolvidas em decorrência das relações interpessoais. Refletirá os aspectos envolvidos na convivência humana com base no indivíduo como ser biopsicossocial e seus reflexos no contexto das organiza- ções. Proporcionará o reconhecimento dos processos que envolvem a comunicação intra e interpessoal e sua importância no contexto das relações interpessoais refletindo assim, na gestão de pessoal. Os conteúdos abordarão também os fenômenos humanos da autopercepção e heteropercepção; empatia, autoestima e seus impactos nas relações interpessoais na vida e na gestão de pessoal. Ainda, será possibili- tado a conhecer e compreender a prática do feedback no relacionamento interpessoal com vista a sua prática na gestão de pessoal e vivências de metodologias para o aprimoramento da competência interpessoal com aplicabilidade na gestão de pessoal. As relações interpessoais de- senvolvem-se em decorrência do processo de interação entre os seres humanos, pois o ser humano não vive em círculo fechado, porque é na As relações interpessoais desenvolvem-se em decorrência do proces- so de interação entre os seres humanos, pois o ser humano não vive em círculo fechado, porque é na relação com o outro que o seu eu constrói-se. Quando uma pessoa começa a participar de um grupo, in- cluindo o do ambiente profissional, há uma base interna de diferen- ças que englobam conhecimentos, informações, opiniões, preconceitos, atitudes, experiências anteriores, gostos, crenças, valores e estilo comportamental, o que traz inevitáveis diferenças de percepções, opiniões, sentimentos em relação a cada situação compartilhada. Essas diferenças passam a constituir um repertório novo: o daquela pessoa naquele grupo. Como essas diferenças são encaradas e tratadas determina a modalidade de relacionamento entre os membros do grupo, colegas de trabalho, superiores e subordinados. A maneira de lidar com as diferenças individuais criam um “certo” clima entre as pes- soas e tem forte influência sobre toda a vida em grupo, principal- mente nos processos de comunicação, no relacionamento interpessoal, no comportamento organizacional e na produtividade. Se as diferenças são aceitas e tratadas em aberto, a comunicação flui fácil, em dupla direção, as pessoas ouvem as outras, falam o que pensam e sentem, e têm possibilidades de dar e receber feedback, retorno ou resposta crítica aos comportamentos do outro. Quando as diferenças são nega- das e suprimidas, a comunicação torna-se falha, incompleta, insufi- ciente, com bloqueios e barreiras, distorções e “fofocas”. As pesso- as não falam o que gostariam de falar, nem ouvem as outras, só captam o que reforça sua imagem das outras e da situação. O relacionamento interpessoal poderá então, tornar-se e manter-se harmonioso e praze- roso, permitindo trabalho cooperativo, em equipe, com integração de esforços, conjugando as energias, conhecimentos e experiências para um produto maior que a soma das partes, ou seja, a tão buscada siner- gia. Ou assim, tender a tornar-se muito tenso, conflitivo, levando à desintegração de esforços, à divisão de energias e crescente dete- rioração do desempenho grupal para um estado de entropia do sistema e final dissolução do grupo. É neste sentido, que a disciplina de Gestão de Pessoal contribuirá refletindo e instrumentalizando o alu- no e/ou aluna para os processos envolvidos na dinâmica das relações interpessoais com vistas à gestão de pessoal nas organizações. Para isso, apresentará as categorias de interação entre os seres humanos, desenvolvidas em decorrência das relações interpessoais. Refletirá os aspectos envolvidos na convivência humana com base no indivíduo como ser biopsicossocial e seus reflexos no contexto das organiza- ções. Proporcionará o reconhecimento dos processos que envolvem a comunicação intra e interpessoal e sua importância no contexto das relações interpessoais refletindo assim, na gestão de pessoal. Os conteúdos abordarão também os fenômenos humanos da autopercepção e heteropercepção; empatia, autoestima e seus impactos nas relações interpessoais na vida e na gestão de pessoal. Ainda, será possibili- tado a conhecer e compreender a prática do feedback no relacionamento interpessoal com vista a sua prática na gestão de pessoal e vivências de metodologias para o aprimoramento da competência interpessoal com aplicabilidade na gestão de pessoal. As relações interpessoais de- senvolvem-se em decorrência do processo de interação entre os seres humanos, pois o ser humano não vive em círculo fechado, porque é na GESTÃO DE PE SSOAL Marcos cesar lomba 1a Edição / Outubro / 2011 Impressão em São Paulo - SP Editora Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 L839g Lomba, Marcos Cesar. Gestão de pessoal. / Marcos Cesar Lomba. – São Paulo: Know How, 2011. 148 p.: 21 cm. Inclui bibliografia ISBN: 978-85-8065-119-5 1. Gestão de pessoas. 2. Gestão. 3. Comunicação interpessoal. 4. Relação interpessoal. I. Título. CDD – 658.3 GESTÃO DE PESSOAL Coordenação Geral Nelson Boni Coordenação de Projetos Leandro Lousada Professor Responsável Marcos Cesar Lomba Projeto Gráfico, Capa e Diagramação Vitor Bioni Bertollini Revisão Ortográfica Célia Ferreira Pinto Coordenadora Pedagógicade Cursos EaD Esp. Maria de Lourdes Araujo 1ª Edição: Outubro de 2011 Impressão em São Paulo/SP Copyright © EaD KnowHow 2011 Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. As relações interpessoais desenvolvem-se em decorrência do processo de interação entre os seres humanos, pois o ser humano não vive em cír- culo fechado, porque é na relação com o outro que o seu eu constrói-se. Quando uma pessoa começa a participar de um grupo, incluindo o do ambiente profissional, há uma base interna de diferenças que englobam co- nhecimentos, informações, opiniões, preconceitos, atitudes, experiências anteriores, gostos, crenças, va- lores e estilo comportamental, o que traz inevitáveis diferenças de percepções, opiniões, sentimentos em relação a cada situação compartilhada. Essas diferenças passam a constituir um repertório novo: o daquela pessoa naquele grupo. Como essas diferenças são encaradas e tratadas de- termina a modalidade de relacionamento entre os membros do grupo, colegas de trabalho, superiores e subordinados. A maneira de lidar com as diferenças in- dividuais criam um “certo” clima entre as pessoas e tem forte influência sobre toda a vida em grupo, principalmente nos processos de comunicação, no relacionamento interpessoal, no comportamento or- ganizacional e na produtividade. Se as diferenças são aceitas e tratadas em aber- to, a comunicação flui fácil, em dupla direção, as pes- soas ouvem as outras, falam o que pensam e sentem, e têm possibilidades de dar e receber feedback, retorno ou resposta crítica aos comportamentos do outro. Quando as diferenças são negadas e supri- midas, a comunicação torna-se falha, incompleta, insuficiente, com bloqueios e barreiras, distorções e “fofocas”. As pessoas não falam o que gostariam de falar, nem ouvem as outras, só captam o que reforça sua imagem das outras e da situação. O relacionamento interpessoal poderá en- tão, tornar-se e manter-se harmonioso e prazeroso, permitindo trabalho cooperativo, em equipe, com integração de esforços, conjugando as energias, co- nhecimentos e experiências para um produto maior que a soma das partes, ou seja, a tão buscada siner- gia. Ou assim, tender a tornar-se muito tenso, confli- tivo, levando à desintegração de esforços, à divisão de energias e crescente deterioração do desempenho grupal para um estado de entropia do sistema e final dissolução do grupo. É neste sentido, que a disciplina de Gestão de Pessoal contribuirá refletindo e instrumentalizan- do o aluno e/ou aluna para os processos envolvidos na dinâmica das relações interpessoais com vistas à gestão de pessoal nas organizações. Para isso, apre- sentará as categorias de interação entre os seres hu- manos, desenvolvidas em decorrência das relações interpessoais. Refletirá os aspectos envolvidos na convivência humana com base no indivíduo como ser biopsicossocial e seus reflexos no contexto das organizações. Proporcionará o reconhecimento dos processos que envolvem a comunicação intra e inter- pessoal e sua importância no contexto das relações interpessoais refletindo assim, na gestão de pessoal. Os conteúdos abordarão também os fenô- menos humanos da autopercepção e heteropercep- ção; empatia, autoestima e seus impactos nas relações interpessoais na vida e na gestão de pessoal. Ainda, será possibilitado a conhecer e compreender a prá- tica do feedback no relacionamento interpessoal com vista a sua prática na gestão de pessoal e vivências de metodologias para o aprimoramento da competência interpessoal com aplicabilidade na gestão de pessoal. Plano de Estudos Unidade 1 A Dinâmica das Relações Interpessoais Unidade 2 Competência Interpessoal Unidade 3 Comunicação como Forma de Interação Unidade 4 Autopercepção e Heteropercepção Unidade 5 Prática do Feedback Unidade 6 Vivências de Metodologias para o Aprimoramento da Compreensão Interpessoal Referências sumário 11 13 31 47 77 97 109 148 11 plano de estudos Ementa Compreensão dos processos envolvidos na dinâmica das relações interpessoais: comunicação intra e inter- pessoal, autopercepção e heteropercepção, empatia, saber ouvir, autoestima, prática do feedback no rela- cionamento interpessoal. Vivência de metodologias para o aprimoramento da competência interpessoal. Competências • Conhecer e compreender os processos envolvidos na dinâmica das relações interpessoais e sua impor- tância na gestão de pessoal; • Reconhecer os processos que envolvem a comuni- cação intra e interpessoal e sua importância na gestão de pessoal; • Compreender os fenômenos humanos da auto- percepção e heteropercepção; empatia, autoestima e seus impactos nas relações interpessoais na vida e na gestão de pessoal; • Conhecer e compreender a prática do feedback no relacionamento interpessoal com vista a sua aplicabi- lidade na gestão de pessoal; • Conhecer vivências de metodologias para o aprimo- ramento da competência interpessoal para sua aplica- bilidade na gestão de pessoal. 12 Habilidades • Exercer positivamente a dinâmica das relações in- terpessoais com consciência e plenitude na vida pes- soal e na gestão de pessoal; • Utilizar os fenômenos humanos da autopercepção e heteropercepção; empatia, autoestima de forma a impactar positivamente as relações interpessoais na vida e na gestão de pessoal; • Estabelecer nas ações de gestão de pessoal, nas orga- nizações em que se insere, a prática contínua de feedback. • Aplicar vivências de metodologias para o aprimora- mento da competência interpessoal na gestão de pessoal. Carga Horária: 30 horas 13 Unidade 1 A Dinâmica d as Relações Int erpessoais Nesta primeira unidade, refletiremos os processos envolvidos na dinâmica das relações inter- pessoais, bem como sua importância nas organiza- ções com vista à gestão de pessoal. 15 As modificações, que o homem tem pro- vocado no ambiente em que vive, têm gerado um problema de adaptação contínua, principalmente no ajustamento às outras pessoas, grupos e sociedades em geral. Há uma perceptível defasagem entre o pro- gresso tecnológico e humano reconhecida nos sen- timentos de perplexidade, inadequação, alienação e despersonalização do indivíduo que conforme Mos- covici (2005), o gestor é educador em qualquer ní- vel que exerça liderança e não apenas chefia de um grupo de pessoas. Dentre os seus papéis sociais, está o de conduzir pessoas sendo esta uma função educa- tiva, pois o gestor “que vê os outros como pessoas e não apenas como instrumentos de produção, passa a exercer função educativa que permite o desenvolvi- mento dos subordinados como pessoas.” (MOSCO- VICI, 2005, p. 20) A cultura industrializada e urbana em que vi- vemos imprime, ainda hoje, uma tendência no relacio- namento social, a tratar a outra pessoa como objeto, o qual pode ser possuído e manipulado. Esta tendência manipulativa refletia-se como prática generalizada, até recentemente, nas relações patrão-empregado, chefe- -subordinado, professor-aluno, médico-paciente, pai- -filho, marido-mulher. A nova ética humanística, resultante de ideias de pensadores como Martin Buber, Carl Rogers, Rollo 16 May, Jean-Paul Sartre, Erich Fromm e outros, e de ino- vações sociais da educação de laboratório, da comuni- dade terapêutica, dos grupos de encontro, enfatiza que uma pessoa só despersonaliza outras pessoas à custa de seu próprio humanismo. O relacionamento huma- no é precioso demais em suas potencialidades para ser reduzido ao nível de funcionamento de uma máquina. A dimensão interpessoal transcende os estreitos limi- tes da avançada tecnologia e, também, pode e deve desenvolver-se com intuição e criatividade. 1.1 Entendendo as Relações Interpessoais As relações interpessoaisdesenvolvem-se em decorrência do processo de interação entre os se- res humanos. O ser humano não vive em círculo fechado, pois é na relação com o outro que o seu eu constrói-se. As interações com o outro se concentram, principalmente, em três categorias, que conforme Chanlat (2007a): Inicialmente, podem consistir em um face a face com um pequeno número de pessoas, denominada relação self-outro (EU/OUTRO) que consti- tui a relação social básica. 17 Por sua vez, a relação ego-massa aquela que um indivíduo pode manter com a multidão. Por fim, pode referir-se à relação que um grupo man- tém com outro grupo, a relação nós a nós, consti- tuindo o universo das relações sociais, objeto de estu- dos no campo da sociologia e da antropologia social. Estes três diferentes tipos de interação contribuem cada um à sua maneira para construir certa ordem. O primeiro, segundo Gooffam (1988 apud CHANLAT, 2007a) é o universo relacional da face a face, que coloca em jogo atores, atividades, rituais, gestos, convenções, palavras e papéis num quadro es- paço-temporal determinado. A noção de face remete de um lado à fisionomia, à expressão, e de outro lado, à estima de si próprio. No contexto organizacional, produz um grande número de situações deste gênero. Basta pensar em numerosas reuniões, encontros quo- tidianos, entrevistas entre superiores e subordinados, trocas de informações entre colegas, conversas de corredor etc. O segundo tipo de interação é um universo relacional efêmero e muito circunscrito no tempo, que pressupõe a existência de uma multidão onde as re- lações que se estabelecem são mais de ordem de fu- são do que de qualquer outro tipo de interação. Nas 18 organizações, tal interação pode ser vista por ocasião de manifestações que mobilizam o pessoal no todo ou em parte – greves, desfiles, ocupação de fábrica, as- sembleias gerais, mas também manifestações sindicais políticas, esportivas ou religiosas. (CHANLAT, 2007) O terceiro e último tipo relaciona-se com a esfera das identidades coletivas que delimitam as ori- gens sociais dos indivíduos, onipresente igualmente nas organizações. Ele cria numerosas relações e cli- vagens nós-eles/elas que recortam universos sociais distintos: direção superior-base, executivo-operário, grupos sócio-profissionais, universo masculino-fe- minino, nacional-estrangeiro, velho-jovem etc. Estas relações sociais, colocando em jogo as relações de poder e de significados, contribuem para edificar o que segundo o autor qualifica-se de ordem organi- zacional. (CHANLAT, 2007a) Esses três grandes tipos de interação podem ser formais, isto é, codificados por um conjunto de regras e procedimentos explícitos, estabelecidos em um quadro claramente definido, ou ainda informais, originários de relações que são tecidas espontanea- mente nos locais de trabalho; a realidade combinando sem cessar as duas formas, conclui Chanlat (2007). Para existir, este mundo da interação neces- sita e coloca em jogo certo número de mecanismos ou modos de comunicação, ritos de interação e de processos psíquicos com estrita relação entre si. 19 No ambiente de trabalho, compartilhadas por duas ou mais pessoas, há atividades predetermi- nadas a serem executadas, bem como interações e sentimentos recomendados, tais como: comunicação, cooperação, respeito, amizade. À medida que as atividades e interações prosseguem, os sentimentos despertados podem ser diferentes dos indicados inicialmente e então – inevi- tavelmente – os sentimentos influenciarão as intera- ções e as próprias atividades. Assim, sentimentos positivos de simpatia e atração provocarão aumento de interação e coope- ração, que na visão de Moscovici (2005) repercuti- rão, favoravelmente, nas atividades e ensejarão maior produtividade. Por outro lado, sentimentos negativos de antipatia e rejeição tenderão à diminuição das in- terações, ao afastamento, à menor comunicação, re- percutindo desfavoravelmente nas atividades, com provável queda de produtividade. Esse ciclo “atividades-interações-sentimen- tos”, não se relaciona diretamente com a competên- cia técnica de cada pessoa. “Profissionais competen- tes individualmente podem render muito abaixo de sua capacidade por influência do grupo e da situação de trabalho”, explica Moscovici (2005, p. 34). 20 Quando uma pessoa começa a participar de um grupo, há uma base interna de diferenças que englobam conhecimentos, informações, opiniões, preconceitos, atitudes, experiência anterior, gostos, crenças, valores e estilo comportamental, o que traz inevitáveis diferenças de percepções, opiniões, sen- timentos em relação a cada situação compartilhada. (MOSCOVICI, 2005) Ainda, de acordo com Moscovici (2005), essas diferenças passam a constituir um repertório novo: o daquela pessoa naquele grupo. Como essas diferenças são encaradas e tratadas determina a mo- dalidade de relacionamento entre membros do gru- po, colegas de trabalho, superiores e subordinados. Por exemplo: se no grupo há respeito pela opinião do outro, se a ideia de cada um é ouvida, e discutida, es- tabelece-se uma modalidade de relacionamento dife- rente daquela em que não há respeito pela opinião do outro, quando ideias e sentimentos não são ouvidos, ou ignorados, quando não há troca de informações. A maneira de lidar com diferenças indivi- duais cria um “certo” clima entre as pessoas e tem forte influência sobre toda a vida em grupo, princi- palmente nos processos de comunicação, no re- lacionamento interpessoal, no comportamento organizacional e na produtividade. Se as diferenças são aceitas e tratadas em aberto, a comunicação flui fácil, em dupla direção, 21 as pessoas ouvem as outras, falam o que pensam e sentem, e têm possibilidades de dar e receber feedba- ck, retorno ou resposta crítica dos comportamentos, assuntos sobre o outro. Quando as diferenças são negadas e supri- midas, a comunicação torna-se falha, incompleta, insuficiente, com bloqueios e barreiras, distorções e “fofocas”. As pessoas não falam o que gostariam de falar, nem ouvem as outras, só captam o que reforça sua imagem das outras e da situação. O relacionamento interpessoal pode: [...] tornar-se e manter-se harmonioso e prazeroso, permitindo trabalho cooperativo, em equipe, com in- tegração de esforços, conjugando as energias, conheci- mentos e experiências para um produto maior que a soma das partes, ou seja, a tão buscada sinergia. Ou, então, tender a tornar-se muito tenso, confli- tivo, levando à desintegração de esforços, à divisão de energias e crescente deterioração do desempenho grupal para um estado de entropia do sistema e final dissolução do grupo. (MOSCOVICI, 2005, p.34) Relações interpessoais e clima de grupo in- fluenciam-se recíproca e circularmente, caracterizando um ambiente agradável e estimulante, ou desagradável e averso, ou neutro e monótono. Cada modalidade traz satisfações ou insatisfações pessoais ou grupais. 22 1.2 Eu e os Outros Como trabalhar bem com outros? Como en- tender os outros e fazer-se entender? Porque os ou- tros não conseguem ver o que eu vejo, como eu vejo? Por que não percebem a clareza de minhas intenções e ações? Por que os outros interpretam erroneamente meus atos e palavras e complicam tudo? Por que não podemos ser objetivos no trabalho e deixar proble- mas pessoais de fora? Não seria mais prático deixar as emoções e sentimentos de lado? Quem já não pensou assim, alguma vez, em algum momento ou situação? Desde sempre, a convivência humana é difícil e desafiante. Escritores e poetas, através dos tempos, têm abordado a problemática do relacionamento hu- mano. Sartre, em sua admirável peça teatral Huis Clos, faz a famosa afirmação “O inferno são os outros...” Estaremos, realmente, condenados a so- frer com os outros? Ou podemos ter esperanças de alcançar uma convivência razoavelmentesatis- fatória e produtiva? Para entender todo esse contexto é impres- cindível ter consciência de que o indivíduo é por de- finição um ser biopsicossocial, tríplice origem que lhe confere uma complexidade. (MORAM, 1973; REFFIÉ, 1976 apud CHANLAT, 2007a) Se for possível estudar o indivíduo isola- 23 damente, sem um dos três aspectos, na realidade é sempre difícil ignorar os dois outros. O biológico, o psíquico e o social contribuem cada um a seu modo, para a edificação da ordem individual, a colocar o indivíduo enquanto pode influenciar o psíquico, e mesmo o componente social. Por exemplo, uma pes- soa atingida por uma perturbação funcional qualquer pode rever sua posição no trabalho, suas atividades e suas relações sociais. O inverso é igualmente verdadeiro – o psí- quico e o social podem ter consequências biológicas. Por exemplo, uma pessoa de certa identidade cultural pode encontrar-se em uma situação paradoxal de alte- ridade, entrando em contato com outra cultura. Esta situação de aculturação antagônica pode provocar, às vezes, disfunções psíquicas ou orgânicas. (BATESON, 1979: DEVEREUX, 1972 apud CHANLAT, 2007a) SER HUMANO Social Psíquico Biológico Figura 1: Composição biopsicossocial do ser humano Fonte: elaboração própria 24 Esta tríplice composição está presente quan- do se estudam os seres humanos nas organizações. Na escala individual, o biológico, o psíquico e o so- cial exercem um papel, mais ou menos, importante segundo o contexto e as pessoas envolvidas. A herança biológica, os traços de caráter, a história pessoal, as origens socioculturais deixam sua marca ao sabor dos eventos e condutas individuais. A realidade humana observada neste nível, conjugando sutilmente estes três elementos, explica em certa me- dida porque em situações organizacionais similares, alguns se comportarão ou reagirão diferentemente no plano individual – o conformismo ou a revolta, a aceitação ou a crítica, a resistência ou a autodestrui- ção têm suas raízes em grande parte no arcabouço biopsicossocial de cada um, ou seja, o eu é indissoci- ável da própria história, da própria experiência e das vivências. (CHANLAT, 2007a) Pessoas convivem e trabalham com pessoas e portam-se como pessoas, isto é, reagem às outras pessoas com as quais entram em contato: comuni- cam-se, simpatizam e sentem atrações, antipatizam e sentem aversões, aproximam-se, afastam-se, entram em conflito, competem, colaboram, desenvolvem afeto. (MOSCOVICI, 2005) Essas interferências ou reações, voluntá- rias ou involuntárias, intencionais ou inintencionais, constituem o processo de interação humana em que 25 cada pessoa na presença de outra pessoa não fica in- diferente a essa situação de presença estimuladora. Conforme Moscovici (2005, p. 32): “O processo de interação humana é complexo e ocor- re permanentemente entre pessoas, sob forma de com- portamentos manifestos e não-manifestos, verbais e não-verbais, pensamentos, sentimentos, reações men- tais e/ou físico-corporais.” Assim, um olhar, um sorriso, um gesto, uma postura corporal, um deslocamento físico de apro- ximação ou afastamento constituem formas não- -verbais de interação entre pessoas. Mesmo quando alguém vira as costas ou fica em silêncio, isto também é interação – e tem um significado, pois comunica algo aos outros. O fato de “sentir” a presença dos outros já é interação. Há alguns anos, a imagem de um indivíduo massacrado pelo coletivo, socialmente determinado, cede progressivamente lugar para outra representa- ção: “Aquela de um indivíduo que participa da cons- trução e destruição da realidade, de uma pessoa que é ao mesmo tempo sujeito em ato e um ator de sua historicidade.” (CHANLAT, 2007a, p. 46) Dentro desta perspectiva Chanlat (2007, p.46) concorda com Coulon (1987) que argumenta 26 que “um membro não é apenas uma pessoa que res- pira e que pensa, é uma pessoa dotada de um con- junto de procedimentos, de métodos, de atividades, de vivências...” e conclui: “torna capaz de inventar dispositivos de adaptação para dar sentido ao mundo que a cerca.” Pensar nesses processos de interação e como ocorrem, é fundamental para entender o ser humano e seu posicionamento dentro das organizações. 1.3 A Primeira Impressão O contato inicial entre pessoas gera a chama- da “primeira impressão”, o impacto que cada um causa ao outro. Essa primeira impressão está condicionada a um conjunto de fatores psicológicos da experiência anterior de cada pessoa, suas expectativas e motivação no momento e a própria situação do encontro. Primeiras impressões poderão ser muito di- ferentes se certos preconceitos prevalecerem ou não, se as predisposições do momento forem favoráveis ou não à aceitação de diferenças no outro e se o contexto for formal ou informal, de trabalho neutro ou de ansiedade e poder assimétrico, tal como, por exemplo, uma entrevista para solicitar emprego, ou promoção, ou outras vantagens 27 Quando a primeira impressão é positiva de ambos os lados, haverá uma tendência a estabelecer relações de simpatia e aproximação que facilitarão o relaciona- mento interpessoal e as atividades em comum. No caso de assimetria de percepções iniciais, isto é, impacto positivo de um lado, mas sem reciprocidade, o relacionamento tende a ser difícil, tenso, exigindo um esforço de ambas as partes para um conhecimento maior que possa modificar aquela primeira impres- são. (MOSCOVICI, 2005) Quantas vezes geramos e recebemos primei- ras impressões errôneas que nos trazem dificuldades e aborrecimentos desnecessários, porque não nos dispomos a rever e, portanto, confirmar ou modifi- car aquela impressão. Quando isto acontece, natural- mente, ao longo de uma convivência forçada, como na situação de trabalho, por exemplo, percebemos, então, quanto tempo precioso e quanta energia per- demos por não tomar a iniciativa de procurar conhe- cer melhor o outro e examinar as próprias atitudes e preconceitos, com a intenção de desfazer impressões negativas não-realísticas. É muito cômodo jogar a culpa no outro pela situação equívoca, mas a realidade mostra a nossa par- cela de responsabilidade nos eventos interpessoais. Não há processos unilaterais na interação 28 humana: tudo que acontece no relacionamento inter- pessoal decorre de duas fontes: eu e outro (s). 1) Indique e justifique dois tipos de interferência que a cultura urbana e industrial exercem sobre as rela- ções interpessoais do nosso tempo. 2) As relações interpessoais desenvolvem-se em de- corrência do processo de interação entre os seres hu- manos. Essas interações com o outro se concentram, principalmente, em três categorias, conforme Chan- lat (2007): relação self-outro, a relação ego-massa e a relação nós a nós. Contextualize essas categorias de interações. 3) Atividades-interações-sentimentos, foi indicado por Moscovici (2005) como um ciclo nas relações interpessoais, que segundo a autora não se relaciona diretamente com a competência técnica de cada pes- soa, dentro de uma organização. O que a autora quer dizer com esta afirmação? 29 4) Desde sempre, a convivência humana é difícil e desafiante. Escritores e poetas, através dos tempos, têm abordado a problemática do relacionamento hu- mano. Estaremos, realmente, condenados a sofrer com os outros? Ou podemos ter esperanças de al- cançar uma convivência razoavelmente satisfatória e produtiva? Contextualize as reflexões acima, com base no conteúdo abordado. 5) O contato inicial entre pessoas gera a chamada “primeira impressão”, o impacto que cada um causa ao outro. Essa primeira impressão está condicionada a um conjunto de fatores psicológicos e da experiên- cia anterior de cada pessoa. Quais são as consequên- cias dessa “primeira impressão” quando o impacto é: a) positivo b) negativo 31 Unidade 2COMPETÊNCIA INTERPESSOAL Nesta segunda unidade, apresentaremos os aspectos que envolvem a competência interpessoal e as formas de sua aquisição, compreendendo assim a sua importância nas organizações dentro das pers- pectivas da gestão de pessoal. 33 Em que consiste esta competência? Segundo Moscovici (2005, p. 36) “Competência interpessoal é a habilidade de lidar eficazmente com relações interpessoais, de lidar com outras pessoas de forma adequada às necessida- des de cada uma e às exigências da situação.” Para Argyris (1968, apud MOSCOVICI, 2005), é a habilidade de lidar eficazmente com rela- ções interpessoais de acordo com três critérios: a) Percepção acurada da situação interpessoal, de suas variáveis relevantes e respectiva inter-relação. b) Habilidade de resolver realmente os problemas interpessoais, de tal modo que não haja regressões. c) Solução alcançada de tal forma que as pessoas envolvidas continuem trabalhando juntas tão eficien- temente, pelo menos, como quando começaram a re- solver seus problemas. Dois componentes da competência inter- pessoal assumem importância capital: a percepção e a habilidade propriamente ditas. O processo da percepção precisa ser treinado para uma visão acu- 34 rada da situação interpessoal. Isto significa um longo processo de crescimento pessoal, abrangendo auto- percepção, autoconscientização e autoaceitação como pré-requisitos de possibilidades de percepção mais realística dos outros e da situação interpessoal. Esse treinamento perceptivo não se realiza espontânea nem facilmente, mas requer treinamento especial, demorado, e muitas vezes sofrido, exigindo coragem e disponibilidade psicológica do treinando no exercício de receber feedback. O autoconhecimento só pode ser obti- do com a ajuda dos outros, por meio de feedback, o qual precisa ser elaborado para autoaceitação de componentes do eu cego, que representa nossas ca- racterísticas de comportamento que são facilmente percebidas pelos outros, mas das quais, geralmente, não estamos cientes. Se o indivíduo tem percepção acurada da situação interpessoal, primeiro passa a observar para poder agir de forma adequada e rea- lística. (MOSCOVICI, 2005) A habilidade de lidar com situações inter- pessoais engloba várias habilidades, entre as quais: flexibilidade perceptiva e comportamental, que sig- nifica procurar ver vários ângulos ou aspectos da mesma situação e atuar de forma diferenciada, não- -rotineira, experimentando novas condutas percebi- das como alternativas de ação. Desenvolve-se, con- comitantemente, a capacidade criativa para soluções 35 ou propostas menos convencionais, com resultados duplamente compensadores: da resolução dos pro- blemas e da autorrealização pelo próprio ato de cria- ção, altamente gratificante para as necessidades do ego (estima), na hierarquia de Maslow. A Teoria de Maslow propõe a Hierarquia das Necessidades – relacionada ao comportamento moti- vacional do indivíduo - é uma das mais consideradas sobre motivação. Para ele, as necessidades dos seres humanos relacionam-se a uma hierarquia de valores que são representadas através de uma pirâmide. Em sua base estão as necessidades fisiológicas e no topo, as necessidades de autorrealização. Tais necessidades ganham importância em fases diversas da vida do indivíduo e necessitam ser ultrapassadas para gerar satisfação, havendo assim uma necessidade constante de empenho para que se possa alcançar o topo. Figura: Pirâmide de Maslow Fonte: Disponível em <http://info.mega6.com.br/2011/>motivacao-e-a-teoria-de-maslow/ Pirâmide de Maslow Autor- realização Autoestima Necessidades Sociais Necessidades de Segurança Necessidades Fisiológicas Básicas 36 Outras habilidades consistem em dar e re- ceber feedback, sem o que não se constrói um relacio- namento humano autêntico, conducente ao encontro eu-tu, de pessoa a pessoa, ao invés da relação eu-isto, de sujeito a objeto, na concepção de Martin Buber. (1970 apud MOSCOVICI, 2005) Assim, ampliam-se a capacidade perceptiva e o repertório comportamental do indivíduo saindo dos limites estreitos da conduta estereotipada do dia a dia. Outro componente da competência inter- pessoal refere-se ao relacionamento em si e com- preende a dimensão emocional-afetiva, predomi- nantemente. Vários autores preocupam-se com esse aspecto, entre os quais W. Bennis (1972 apud MOS- COVICI, 2005), que o expõe por meio de sua matriz de conteúdo/motivação, na qual indica a combinação ideal: verdade/amor. Num relacionamento em médio prazo, é preciso considerar o conteúdo cognitivo e a relação afetiva em qualquer situação de conflito interpessoal. Muitas vezes, a solução é viável para o conteúdo cog- nitivo, mas afeta a relação afetiva. O equilíbrio desses dois componentes é que fará com que o relaciona- mento não sofra danos (às vezes irreversíveis), e até se torne mais forte e verdadeiro. Assim, a competência interpessoal, é re- sultante de: 37 “percepção acurada realística das situações interpesso- ais e de habilidades específicas comportamentais que conduzem a consequências significativas no relacio- namento duradouro e autêntico, satisfatório para as pessoas envolvidas.” (MOSCOVICI, 2005, p.38) 2.1 A Importância da Competência Interpessoal no Mundo do Trabalho A competência técnica para cada profissio- nal não é posta em dúvida, claramente todos reco- nhecem que o profissional precisa ser competente em sua área específica de atividade. A competência interpessoal, porém, só é reconhecida para algumas categorias profissionais notórias, tais como assistência social, psicoterapia, magistério, vendas, serviços de atendimento ao pú- blico, em geral. Em cada profissão, na verdade, os dois ti- pos de competência são necessários, embora em proporções diferentes. O problema consiste em dis- cernir e aprender qual a proporção adequada para prover serviços de alta qualidade, ou seja, para um desempenho superior. 38 Cada tipo ou dimensão de competência é in- terdependente de outra. Assim, a maneira pela qual um gerente, advogado, médico faz as perguntas (ten- do ou não estabelecido um “clima” psicológico favo- rável e uma relação de confiança) pode influenciar as informações que recebe. Neste exemplo, a compe- tência interpessoal (processo) é tão importante quan- to à competência técnica de formular as perguntas adequadas (conteúdo das perguntas). Se a competência técnica pode ser adquirida através de cursos, seminários, leituras e experiência ou prática, a competência interpessoal necessita trei- namento especial de laboratório. A afirmação de Moscovici (2005, p. 35), dei- xa claro que: A liderança e a participação eficaz em grupo de- pendem essencialmente da competência interpessoal do líder e dos membros. O trabalho em equipe só terá expressão real e verdadeira, se e quando os membros do grupo desenvolverem sua competência interpessoal, o que lhes permitirá alcançar a tão desejada e propalada sinergia, em seus esforços co- laborativos, para obter muito mais que a simples soma das competências técnicas individuais como resultado conjunto do grupo. 39 Assim, consegue-se entender a importância em exercer a competência interpessoal no ambiente de trabalho, pois sem esse atributo pessoal, a possibi- lidade do fracasso, nos objetivos do grupo em que se está inserido, fica evidente, comprometendo assim a manutenção do mesmo e do indivíduo neste ambiente. 2.2 A Janela de JOHARI É difícil entender a complexidade da perso- nalidade humana, especialmente em suas relações com os outros. Os quatro retângulos abaixo poderão aju- dar-nos a conceituar o processo da percepção de um indivíduo em relação a si mesmo e aos outros. A representação de áreas da personalidade é chamada de Janela Johari, idealizada por Joseph Luft e Harry Ingham(1961, apud MOSCOVICI, 2005), para ilustrar as relações interpessoais e os processos de aprendizagem em grupo. Dessa forma: A área I (o eu aberto) constitui o nosso com- portamento em muitas atividades, conhecido por nós e por qualquer um que nos observe. Este compor- tamento varia grandemente conforme nossa estima- tiva do que é correto em um ambiente específico e 40 com diferentes grupos de pessoas. Esta área limita-se àquilo de que nossos parentes e amigos estão côns- cios e ao que nós consideramos óbvio, tais como nossas características, nossa maneira de falar, nossa atitude geral, algumas de nossas habilidades etc. A área II (o eu cego) representa nossas ca- racterísticas de comportamento que são facilmente percebidas pelos outros, mas das quais, geralmente, não estamos cientes. Por exemplo, alguma manifes- tação nervosa, nosso comportamento sob tensão, nossas reações agressivas em relação a subordina- dos, nosso desprezo por aqueles que discordam de nós etc. Podemos especular por que estes padrões de comportamento permanecem desconhecidos para nós e, no entanto, são óbvios aos outros. Há evidências de que é nessa área que, frequentemen- te, somos mais críticos com o comportamento dos outros sem percebermos que nos estamos compor- tando da mesma forma. A área III (o eu secreto) representa as coisas sobre nós mesmos que conhecemos, mas que escon- demos dos outros. Estas podem variar desde assun- tos inconsequentes até os de grande importância. Numa situação fechada, ou relativamente autoritária, é provável que haja muito mais deste aspecto do que numa situação aberta. A pessoa que conta tudo sobre si mesma a alguém totalmente estranho, ou a um vizi- nho, pode estar agindo assim por incapacidade de co- 41 municação satisfatória com pessoas que significam, afetivamente, muito para ela. É nesta área e na área II que algumas mo- dificações podem ser seguidas entre indivíduos tra- balhando juntos, experimentalmente com espírito de cooperação e compreensão. Conhecido pelo EU Não conhecido pelo EU Conhecido pelos outros I “ EU ABERTO” II “EU CEGO” Conhecido pelos outros III “EU SE CRETO” IV “EU DESCONHE- CIDO” Figura 2: A janela de Johari (apud MOSCOVICI, 2005, p.43) A área IV (o eu desconhecido) inclui coisas das quais não estamos cônscios e das quais nem os ou- tros o estão. Constitui-se de memórias de infância, potencialidades latentes e aspectos desconhecidos da dinâmica intrapessoal. Algumas coisas estão muito escondidas e talvez nunca se tornem conscientes; ou- tras mais superficiais e com o aumento de abertura e feedback poderão tornar-se conscientes. 42 MUDANÇAS NOS QUADRANTES Num grupo novo, a área I, do eu aberto, muito pequena, há pouca interação livre e espontâ- nea. Com o desenvolvimento dos processos de gru- po, ela cresce, pois os membros sentem-se mais livres para agir autenticamente. A área III decresce propor- cionalmente ao crescimento da área I, uma vez que, num clima de crescente confiança recíproca, há me- nos necessidade de esconder ou negar pensamentos e sentimentos. Uma área maior de atividade livre nos mem- bros do grupo diminuirá receios e tensões e propi- ciará possibilidades de orientar os recursos do grupo para a tarefa propriamente dita. Isto significa maior receptividade a informações, opiniões e ideias novas, em si mesmo ou em referência aos processos especí- ficos de grupo. O fato de esconder ou negar comportamen- tos, ideias e sentimentos durante o processo interati- vo exige certo dispêndio constante de energia e, por isso a redução da área III (o eu secreto) implica me- nor mobilização de energia para a defesa deste terri- tório. Assim, um número maior de necessidades do indivíduo pode encontrar expressão e maiores serão as probabilidades de o indivíduo ficar satisfeito com seu trabalho e de participar plenamente nas ativida- des do grupo. 43 A área II (o eu cego) leva mais tempo a reduzir- -se porque, usualmente, há fortes razões de ordem psi- cológica para a recusa em ver o que se faz ou sente. É importante frisar que uma mudança em um dos quadrantes provoca modificações em todos os demais. A insegurança tende a diminuir a lucidez e a confiança recíproca, a aumentá-la. O modelo gráfico Janela Johari permite apreciar o fluxo de informações decorrentes de duas fontes – eu e outros – bem como as tendências in- dividuais que facilitam ou dificultam a direção e a extensão deste fluxo. Os processos principais que re- gulam o fluxo interpessoal eu-outros, determinando o tamanho e o formato de cada área da Janela, são os seguintes (MOSCOVICI, 2005): a) Busca de feedback: consiste em solicitar e receber reações dos outros, em termos verbais ou não-verbais, para conhecer como o seu comporta- mento está afetando os outros, isto é, ver-se com os olhos dos outros. b) Autoexposição: consiste em dar feedback aos outros, revelando seus próprios pensamentos, per- cepções e sentimentos de como o comportamento dos outros o está afetando. A utilização desses dois processos de for- 44 ma equilibrada e ampla propicia desenvolvimento individual e de competência interpessoal. Conquan- to, teoricamente, os dois processos possam ser usa- dos igualmente, isto não ocorre nas situações reais, onde um deles é preferido em detrimento do outro, trazendo, assim, um estado de desequilíbrio que se manifesta por tensões, hostilidades e ressentimentos, prejudiciais ao relacionamento e à produtividade. No exame do traçado da Janela Johari, o ta- manho e a forma das áreas merecem atenção, espe- cialmente em se tratando de pessoas que lidam profis- sionalmente com grupos e desempenham o papel de líderes. As implicações desses aspectos são altamente relevantes pelo significado do tipo de relacionamen- to que mantém com os outros e suas consequências diretas e indiretas, em termos de satisfação pessoal e produtividade no trabalho. Uma área livre muito reduzida pode signifi- car inibição e restrição de comunicação no relaciona- mento, resultantes, geralmente, de uma de duas fon- tes de motivação opostas: de um lado, insegurança, e de outro lado desejo de controlar os outros. Quanto maior a área livre, provavelmente maior será também a produtividade, apoiada em relacionamento satis- fatório. Quando esta área é pequena, indica partici- pação mínima da pessoa numa relação de trabalho e passa a influenciar os sentimentos das outras pessoas e seu grau de investimento emocional e energético 45 nas atividades a serem executadas em comum. O desequilíbrio nas áreas da Janela pode apre- sentar-se no sentido vertical ou no sentido horizontal, revelando sempre uma superutilização de um dos pro- cessos e subutilização do outro, com suas consequên- cias prováveis em termos de reações emocionais nega- tivas e disfuncionalidade da dinâmica interpessoal. Os processos de solicitar feedback e de auto- exposição podem revelar preferências consistentes em sua utilização no comportamento interpessoal. Estas tendências, representadas graficamen- te na Janela Johari, mostram aspectos importantes do relacionamento eu-outros sob a forma de estilos in- terpessoais de comunicação. Buscar o aprimoramento da utilização desta ferramenta, a Janela de Johari com o objetivo de influir na gestão de pessoas, tendo como base as relações in- terpessoais na organização, é um passo fundamental na conquista do sucesso enquanto líder na gestão. 46 1) Em que consiste a competência interpessoal? 2) A que critérios atribui-se a competência interpessoal? 3) Dois componentes da competência interpessoal assumem importância capital. A que componentes são referidos? Contextualize sua resposta. 4) Por que a competência interpessoal é tão impor- tante quanto à competência técnica no ambiente profissional? 5) O que vem a ser a Janela de Johari e qual sua con- tribuição no processoda aquisição da competência interpessoal?
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