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TIPOLOGIA TEXTUAL Descrição TEXTO 1 TEXTO 2 Retrato Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face? (Cecília Meireles) TEXTO 3 Auto-retrato Eu sou um menino maior que muitos e menor que outros. Na cabeça tenho cabelo que mamãe manda cortar muito mais do que eu gosto e, na boca, muitos dentes, que doem. Estou sempre maior que a roupa, por mais que a roupa do mês passado fosse muito grande. Só gosto de comer o que a mãe não me quer dar e ela só gosta de me dar o que eu detesto. Em matéria de brincadeiras as que eu gosto mais são as perversas, mas essa minha irmãzinha grita muito. (Millôr Fernandes) Descrever não é enumerar o maior número possível de detalhes, mas assinalar os traços mais singulares, mais salientes; é fazer ressaltar do conjunto uma impressão dominante e singular. Dependendo da intenção do autor, varia o grau de exatidão e minúcia na descrição. NARRAÇÃO A aliança Luis Fernando Veríssimo Esta é uma história exemplar, só não está muito claro qual é o exemplo. De qualquer jeito, mantenha-a longe das crianças. Também não tem nada a ver com a crise brasileira, o apartheid, a situação na América Central ou no Oriente Médio ou a grande aventura do homem sobre a Terra. Situa-se no terreno mais baixo das pequenas aflições da classe média. Enfim. Aconteceu com um amigo meu. Fictício, claro. Ele estava voltando para casa como fazia, com fidelidade rotineira, todos os dias à mesma hora. Um homem dos seus 40 anos, naquela idade em que já sabe que nunca será o dono de um cassino em Samarkand, com diamantes nos dentes, mas ainda pode esperar algumas surpresas da vida, como ganhar na loto ou furar-lhe um pneu. Furou-lhe um pneu. Com dificuldade ele encostou o carro no meio-fio e preparou-se para a batalha contra o macaco, não um dos grandes macacos que o desafiavam no jângal dos seus sonhos de infância, mas o macaco do seu carro tamanho médio, que provavelmente não funcionaria, resignação e reticências... Conseguiu fazer o macaco funcionar, ergueu o carro, trocou o pneu e já estava fechando o porta-malas quando a sua aliança escorregou pelo dedo sujo de óleo e caiu no chão. Ele deu um passo para pegar a aliança do asfalto, mas sem querer a chutou. A aliança bateu na roda de um carro que passava e voou para um bueiro. Onde desapareceu diante dos seus olhos, nos quais ele custou a acreditar. Limpou as mãos o melhor que pôde, entrou no carro e seguiu para casa. Começou a pensar no que diria para a mulher. Imaginou a cena. Ele entrando em casa e respondendo às perguntas da mulher antes de ela fazê-las. — Você não sabe o que me aconteceu! — O quê? — Uma coisa incrível. — O quê? — Contando ninguém acredita. — Conta! — Você não nota nada de diferente em mim? Não está faltando nada? — Não. — Olhe. E ele mostraria o dedo da aliança, sem a aliança. — O que aconteceu? E ele contaria. Tudo, exatamente como acontecera. O macaco. O óleo. A aliança no asfalto. O chute involuntário. E a aliança voando para o bueiro e desaparecendo. — Que coisa - diria a mulher, calmamente. — Não é difícil de acreditar? — Não. É perfeitamente possível. — Pois é. Eu... — SEU CRETINO! — Meu bem... — Está me achando com cara de boba? De palhaça? Eu sei o que aconteceu com essa aliança. Você tirou do dedo para namorar. É ou não é? Para fazer um programa. Chega em casa a esta hora e ainda tem a cara-de-pau de inventar uma história em que só um imbecil acreditaria. — Mas, meu bem... — Eu sei onde está essa aliança. Perdida no tapete felpudo de algum motel. Dentro do ralo de alguma banheira redonda. Seu sem-vergonha! E ela sairia de casa, com as crianças, sem querer ouvir explicações. Ele chegou em casa sem dizer nada. Por que o atraso? Muito trânsito. Por que essa cara? Nada, nada. E, finalmente: — Que fim levou a sua aliança? E ele disse: — Tirei para namorar. Para fazer um programa. E perdi no motel. Pronto. Não tenho desculpas. Se você quiser encerrar nosso casamento agora, eu compreenderei. Ela fez cara de choro. Depois correu para o quarto e bateu com a porta. Dez minutos depois reapareceu. Disse que aquilo significava uma crise no casamento deles, mas que eles, com bom-senso, a venceriam. — O mais importante é que você não mentiu pra mim. E foi tratar do jantar. Texto extraído do livro "As mentiras que os homens contam", Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2000, pág. 37. Eduardo e Mônica Legião Urbana Quem um dia irá dizer que existe razão Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer Que não existe razão? Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar Ficou deitado e viu que horas eram Enquanto Mônica tomava um conhaque No outro canto da cidade Como eles disseram Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse - Tem uma festa legal e a gente quer se divertir Festa estranha, com gente esquisita - Eu não estou legal, não aguento mais birita E a Mônica riu e quis saber um pouco mais Sobre o boyzinho que tentava impressionar E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa - É quase duas, eu vou me ferrar Eduardo e Mônica trocaram telefone Depois telefonaram e decidiram se encontrar O Eduardo sugeriu uma lanchonete Mas a Mônica queria ver o filme do Godard Se encontraram então no parque da cidade A Mônica de moto e o Eduardo de camelo O Eduardo achou estranho e melhor não comentar Mas a menina tinha tinta no cabelo Eduardo e Mônica eram nada parecidos Ela era de Leão e ele tinha dezesseis Ela fazia Medicina e falava alemão E ele ainda nas aulinhas de inglês Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus De Van Gogh e dos Mutantes Do Caetano e de Rimbaud E o Eduardo gostava de novela E jogava futebol-de-botão com seu avô Ela falava coisas sobre o Planalto Central Também magia e meditação E o Eduardo ainda estava No esquema "escola, cinema, clube, televisão" E, mesmo com tudo diferente Veio mesmo, de repente Uma vontade de se ver E os dois se encontravam todo dia E a vontade crescia Como tinha de ser Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia Teatro e artesanato e foram viajar A Mônica explicava pro Eduardo Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer E decidiu trabalhar E ela se formou no mesmo mês Em que ele passou no vestibular E os dois comemoraram juntos E também brigaram juntos, muitas vezes depois E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa Que nem feijão com arroz Construíram uma casa uns dois anos atrás Mais ou menos quando os gêmeos vieram Batalharam grana e seguraram legal A barra mais pesada que tiveram Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília E a nossa amizade dá saudade no verão Só que nessas férias não vão viajar Porque o filhinho do Eduardo Tá de recuperação E quem um dia irá dizer que existe razão Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer Que não existe razão? Link: http://www.vagalume.com.br/legiao-urbana/eduardo-e-monica.html#ixzz3BPva0Icu A narração consiste em arranjar uma sequência de fatos na qual os personagens se movimentam num determinadoespaço à medida que o tempo passa. O texto narrativo é baseado na ação que envolve personagens, tempo, espaço e conflito. Seus elementos são: narrador, enredo, personagens, espaço e tempo. TEXTO DISSERTATIVO Leia o texto dissertativo a seguir e observe sua construção. A posição social da mulher de hoje Ao contrário de algumas teses predominantes até bem pouco tempo, a maioria das sociedades de hoje já começam a reconhecer a não existência de distinção alguma entre homens e mulheres. Não há diferença de caráter intelectual ou de qualquer outro tipo que permita considerar aqueles superiores a estas. Com efeito, o passar do tempo está a mostrar a participação ativa das mulheres em inúmeras atividades. Até nas áreas antes exclusivamente masculinas, elas estão presentes, inclusive em posições de comando. Estão no comércio, nas indústrias, predominam no magistério e destacam-se nas artes. No tocante à economia e à política, a cada dia que passa, estão vencendo obstáculos, preconceitos e ocupando mais espaços. Cabe ressaltar que essa participação não pode nem deve ser analisada apenas pelo prisma quantitativo. Convém observar o progressivo crescimento da participação feminina em detrimento aos muitos anos em que não tinham espaço na sociedade brasileira e mundial. Muitos preconceitos foram ultrapassados, mas muitos ainda perduram e emperram essa revolução de costumes. A igualdade de oportunidades ainda não se efetivou por completo, sobretudo no mercado de trabalho. Tomando- se por base o crescimento qualitativo da representatividade feminina, é uma questão de tempo a conquista da real equiparação entre os seres humanos, sem distinções de sexo. Fonte: <http://caes.inatel.br/caes/index2.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=19& Itemid=37>. Acesso em: 5 fev. 2010. Perceba que o texto acima possui quatro parágrafos. Introdução O primeiro parágrafo apresenta o tema: a ideia de que os homens não são superiores as mulheres. Argumento 1 O segundo parágrafo desenvolve o argumento de que as mulheres se destacam em atividades que outrora eram tidas somente como atividades masculinas. Argumento 2 O terceiro parágrafo traz a ideia de que a participação das mulheres na sociedade é tanto quantitativa como qualitativa. Conclusão: O texto conclui dizendo que a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres ainda não foi alcançada. Características do texto dissertativo: - É um texto predominantemente temático. Pode conter figuras de forma genérica. - O autor de um texto dissertativo pretende dizer somente a verdade, ele mostra os fatos, mas não está preocupado em convencer o leitor. - O tempo verbal mais usado é o Presente Atemporal. - Em vez de seguir ordem cronológica como a Narração, a Dissertação segue a ordem lógica. - É escrito de forma impessoal. Não se usa o pronome EU, ELE, ELA, NÒS, etc. O verbo ficará na 3ª pessoa. Ex: - É necessário, É importante dizer, etc. - Existe no texto relações de anterioridade e de posterioridade e por esse motivo é um texto dinâmico. - Se caracteriza pela defesa de uma ideia, de um ponto de vista, ou pelo questionamento acerca de um determinado assunto. Em geral, para se obter maior clareza na exposição de um ponto de vista, costuma-se distribuir a matéria em três partes. a. Introdução - em que se apresenta a ideia ou o ponto de vista que será defendido; b. Desenvolvimento ou argumentação - em que se desenvolve o ponto de vista para tentar convencer o leitor; para isso, deve-se usar uma sólida argumentação, citar exemplos, recorrer à opinião de especialistas, fornecer dados, etc. c. Conclusão - em que se dá um fecho ao texto, coerente com o desenvolvimento, com os argumentos apresentados. Quanto à linguagem, prevalece o sentido denotativo das palavras e a ordem direta das orações. Também são muito importantes, no texto dissertativo, a coerência das ideias e a utilização de elementos coesivos, em especial das conjunções que explicitam as relações entre as ideias expostas. Portanto, a elaboração de um texto dissertativo não está centrada na função poética da linguagem e sim na colocação e na defesa de ideias e na forma como essas ideias são articuladas. Quando se lança mão de uma figura de linguagem, ela deverá sempre ser utilizada com valor argumentativo, como um instrumento a mais para a defesa de uma determinada ideia. O Esquema-Padrão Inicialmente, é preciso não confundir esquema com rascunho. Esquema é um guia que estabelecemos para ser seguido, no qual colocamos em frases sucintas (ou mesmo em simples palavras) o roteiro para a elaboração do texto. O primeiro passo para a elaboração de um esquema é ter entendido o tema proposto, pois de nada adiantará um ótimo esquema se ele não estiver adequado ao tema. Por ser um roteiro a seguir, deve-se dividir o esquema nas partes de que se compõe a redação. Se formos escrever uma redação dissertativa, o esquema já deverá apresentar as três partes da dissertação: introdução, desenvolvimento e conclusão, que podem vir representadas pelas letras a, b e c, respectivamente. Na letra a, você deverá colocar a tese que vai defender; na letra b, palavras que resumam os argumentos que você apresentará para sustentar a tese; na letra c, uma palavra que represente a conclusão a ser dada. Quando estamos fazendo o esquema do desenvolvimento (letra b), é comum surgirem inúmeras ideias. Registre-as todas, mesmo que mais tarde você não venha a utilizá-las. Essas ideias normalmente vêm sem ordem alguma; por isso, mais tarde é preciso ordená-las, selecionando as melhores e colocando-as em ordem de importância. A esse processo damos o nome de hierarquização das ideias. Para não se perder tempo elaborando um outro esquema, a hierarquização das ideias pode ser feita por meio de números atribuídos às palavras que aparecem no esquema, seguindo a ordem em que serão utilizadas na produção do texto. Apresentamos, agora, um exemplo do esquema com as ideias já hierarquizadas: Tema: A pena de morte: contra ou a favor? a) contra, não resolve. b) 1. direito à vida -- religião 2. outros países -- EUA 3. erro judiciário 4. classes baixas 5. tradição. c) ineficaz: solução: erradicação da pobreza. Feito o esquema, é segui-lo passo a passo, transformando as palavras em frases, dando forma à redação. No exemplo dado, na introdução você se declararia contrário (a) à pena de morte porque ela não resolve o problema do crescente aumento da criminalidade no país. No desenvolvimento, você utilizaria os argumentos de que todas as pessoas têm direito à vida, consagrado pelas religiões; de que nos países em que ela existe, citando os Estados Unidos como exemplo, não fez baixar a criminalidade; de que sempre é possível haver um erro judicial que leve a matar um inocente; de que, no caso brasileiro, ela seria aplicada somente às classes mais baixas; que não podem pagar bons advogados; e, finalmente, de que a tradição jurídica brasileira consagra o direito à vida e repudia a pena de morte. Como conclusão, retomaria a tese insistindo na ineficácia desse tipo de pena e indicando outras soluções para resolver o problema da criminalidade, como a erradicação da miséria. Fatores que resultam numa má dissertação Insuficiência de dados – quando os dados existentes no argumento não são suficientes para confirmar certa afirmação. Provas subjetivas – quando os argumentos são pessoais, principalmente os ligados à política, religião, tabus sociais etc.
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