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- 1 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani SUMÁRIO CAPÍTULO I – REGIME JURÍDICO DA ADMINISTRAÇÃO ................................. 3 1. Noção básica de Direito Administrativo .......................................................................... 3 2. Direitos e deveres da Administração ............................................................................... 4 CAPÍTULO II – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO ....... 5 1. Princípio da legalidade .................................................................................................... 5 2. Princípio da impessoalidade ............................................................................................ 6 3. Princípio da moralidade ................................................................................................... 6 4. Ações judiciais para combater atos de improbidade ........................................................ 7 5. Princípio da publicidade .................................................................................................. 9 6. Princípio da eficiência ..................................................................................................... 9 CAPÍTULO III – PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .............................. 11 1. Poder vinculado ............................................................................................................... 11 2. Poder discricionário ......................................................................................................... 11 3. Poder hierárquico ............................................................................................................. 11 4. Poder disciplinar .............................................................................................................. 11 5. Poder normativo ............................................................................................................... 12 6. Poder de polícia ............................................................................................................... 13 CAPÍTULO IV – ATOS ADMINISTRATIVOS ............................................................ 15 1. Atributos .......................................................................................................................... 15 2. Requisitos de validade ..................................................................................................... 15 3 Formas de extinção ........................................................................................................... 17 CAPÍTULO V – SERVIÇO PÚBLICO ........................................................................... 19 1. Titularidade ...................................................................................................................... 19 2. Formas de transferências de serviços públicos ................................................................ 23 3. Noção de serviço público adequado ................................................................................ 24 4. Formas de extinção dos contratos .................................................................................... 25 5. Parcerias público-privadas ............................................................................................... 26 CAPÍTULO VI – LICITAÇÃO ........................................................................................ 29 1. Definição .......................................................................................................................... 29 2. Competência .................................................................................................................... 29 3. Fases da licitação ............................................................................................................. 29 4. Homologação ................................................................................................................... 31 5. Adjudicação ..................................................................................................................... 31 6. Modalidades de licitação ................................................................................................. 32 7. Contratação direta ............................................................................................................ 33 CAPÍTULO VII – CONTRATOS ADMINISTRATIVOS ............................................ 37 1. Definição .......................................................................................................................... 37 2. Cláusulas exorbitantes ..................................................................................................... 37 3. Execução .......................................................................................................................... 37 4. Teoria da imprevisão ....................................................................................................... 38 Direito Administrativo CELSO SPITZCOVSKY - 2 - 5. Alteração do contrato administrativo ............................................................................... 40 6. Rescisão do contrato administrativo ................................................................................ 40 CAPÍTULO VIII – RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO .............................. 41 1. Definição .......................................................................................................................... 41 2. Agentes públicos .............................................................................................................. 41 3. Tipo de responsabilidade ................................................................................................. 42 4. Responsabilidade subjetiva .............................................................................................. 44 5. Direito de regresso ........................................................................................................... 44 CAPÍTULO IX – AGENTES PÚBLICOS ...................................................................... 47 1. Introdução ........................................................................................................................ 47 2. Legitimidade para ingresso .............................................................................................. 47 3. Investidura em cargos públicos ....................................................................................... 47 4. Estabilidade e vitaliciedade ............................................................................................. 49 5. Provimento em cargo ....................................................................................................... 50 6. Investidura ....................................................................................................................... 50 7. Entrada em exercício ....................................................................................................... 50 8. Acumulação remunerada de cargos e empregos .............................................................. 50 9. Remuneração dos servidores públicos ............................................................................. 51 10. Aposentadoria ................................................................................................................ 51 11. Vacância ou desinvestidura dos cargos públicos ........................................................... 52 CAPÍTULO X – DIREITO DE PROPRIEDADE .......................................................... 55 1. Definição .......................................................................................................................... 55 2. Sançõespor descumprimento da função social ............................................................... 56 3. Meios de intervenção na propriedade .............................................................................. 56 CAPÍTULO XI – BENS PÚBLICOS ............................................................................... 61 1. Classificação .................................................................................................................... 61 2. Afetação ........................................................................................................................... 61 3. Regime jurídico dos bens públicos .................................................................................. 61 4. Instrumentos para transferência de uso dos bens públicos .............................................. 62 - 3 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani CAPÍTULO I – REGIME JURÍDICO DA ADMINISTRAÇÃO Toda atividade desenvolvida pelo Poder Público terá, por finalidade única, a preservação dos interesses da coletividade, ou seja, toda vez que o Poder Público estiver atuando, não poderá fazê-lo para representar a si próprio, para representar os interesses do próprio administrador, somente para representar os interesses da coletividade. Por isso, as regras que comandam o direito administrativo são tão diferentes daquelas que comandam as regras de direito privado, porque nesse, as relações se estabelecem entre particulares e esses, quando estão atuando, representam a si próprios, o seu patrimônio e seus interesses. O Regime Jurídico da Administração ou Regime Jurídico-Administrativo, caracteriza-se por se delinear em função da consagração de dois princípios: supremacia do interesse público sobre o privado e indisponibilidade, pela Administração, dos interesses públicos. No geral, ele reproduz as características do Regime de Direito Público, acrescidas daquelas que o especificam dentro dele. 1. Noção básica de Direito Administrativo A Administração Pública só pode atuar para representar os interesses da coletividade, isso quer dizer interesse público primário. Sempre que o administrador, ao atuar, representar só interesses próprios, o que não pode acontecer, diz-se que ele procura um interesse público secundário. Desta forma, por exemplo, quando o Poder Público, em processo judicial, apresenta sistematicamente recursos e mais recursos, só por dever de ofício, para protelar o resultado final, porque já sabe que vai perder, está, a toda evidência, representando interesse próprio e não o da coletividade, ou seja, está agindo em nome do interesse público secundário. Ou ainda, se a Administração Pública desapropriar alguém, não para atender ao interesse público, e sim porque o imóvel é de um inimigo pessoal do administrador, só para fazer frente a rusgas de caráter pessoal, a administração não terá atuado para preservar a coletividade, mas para atender aos próprios interesses, lançando mão de prerrogativas que ela recebe do ordenamento jurídico, ou seja, a possibilidade de desapropriar, para atingir a um interesse pessoal. Isso não pode acontecer. A única finalidade que o administrador pode perseguir quando atua é o interesse público primário ou da coletividade. Toda vez que ele se afastar desta finalidade única que tem de perseguir, haverá desvio de finalidade (desvio de poder). Havendo desvio de finalidade por ter se afastado daquele objetivo único que se tem de perseguir, a administração incidirá em uma ilegalidade. Dessa forma, o Judiciário poderá reapreciar esse ato, porque o único tipo de controle que ele faz dos atos da administração pública é um controle de legalidade. Sendo provocado por terceiros, promoverá um controle de legalidade com o intuito de anular o ato que tenha extrapolado os limites da lei ou que tenha se afastado do interesse público. Ao reapreciar o ato, o judiciário o anula, não o revoga, porque o fundamento da anulação se dá por razões de ilegalidade, enquanto que o fundamento da revogação se dá por razões de conveniência e oportunidade. O judiciário nunca poderá revogar atos da administração pública, porque atos revogados são aqueles que eram válidos. Se forem lícitos o judiciário não pode revogar, pois se o fizesse estaria interferindo no princípio da separação entre os poderes. Então, o judiciário só atua em relação aos atos da administração no campo da legalidade. Direito Administrativo CELSO SPITZCOVSKY - 4 - Assim, se acaso, a administração desapropria alguém para construir uma estação do metrô, essa obra representa uma situação de interesse público. Dessa forma, o ato é válido e a pessoa que está sendo desapropriada não poderá ir ao Judiciário para pleitear sua anulação. Se o Judiciário pudesse dizer que seria melhor um terminal de ônibus ao invés da estação de metrô, ou ainda, que aquele não é um lugar apropriado para sua construção, entraria no mérito do ato e isso não seria possível, pois só atua no campo da legalidade promovendo sua anulação e não revogação. 2. Direitos e deveres da Administração Por força dos interesses representados pela administração o ordenamento jurídico lhe confere direitos, vantagens, prerrogativas, deveres e obrigações que não se estendem aos particulares. Direitos, vantagens e prerrogativas são conferidos à Administração para que ela consiga atingir seu objetivo único, a realização do interesse público. Quando um particular toca música acima dos limites máximos, gera duas situações diferentes: uma em relação ao vizinho, o particular, e outra, ao fiscal, que integra a administração. Enquanto o vizinho representa a si próprio, o fiscal representa a coletividade. Assim, o vizinho, para preservar seus direitos precisa ir ao judiciário enquanto que o fiscal pode lavrar um auto de infração sem autorização prévia. A esta possibilidade de a administração poder atuar de forma unilateral, sem precisar de autorização prévia do Poder Judiciário, dá-se o nome de auto-executoriedade. Vale dizer, que a administração não necessita de autorização prévia do judiciário, o que representa uma vantagem em relação à iniciativa privada. Por outro lado, a administração pública, em razão dos interesses que representa, também tem obrigações que não são conferidas aos particulares. Quando um particular resolve contratar alguém para a sua empresa ele não precisa cumprir nenhuma formalidade. Ele pode contratar quem ele quiser, pagar quanto ele bem entender porque a empresa é dele. Ele não tem limite de espécie alguma. Agora, se a administração quiser contratar alguém para os seus quadros terá que abrir concurso público. É o que se vê no artigo 37 inciso II da Constituição, que diz que a titularização de um cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público, de provas ou provas e títulos, pois essa é a forma mais impessoal de tratar a todos os interessados em ingressar na administração. Se um empresário quer contratar algum serviço para sua empresa ele contrata quem quiser e paga o valor que quiser, mesmo que esteja acima do mercado. Mas se a administração pública pretende contratar serviços de terceiros, em regra, essa contratação terá que ser precedida de licitação, onde os eventuais interessados em contratar com ela apresentarão suas propostas e documentos em condições de igualdade que estarão previstas no edital. Assim, aquele que apresentar a melhor proposta poderá ser contratado. Dessa forma, a administração não vai contratar quem ela quiser. Esse conjunto de prerrogativas e obrigações, que só a administração, pública tem denomina-se regime jurídico da administração. - 5 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani CAPÍTULO II – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO Os princípios que comandama atividade administrativa estão no caput do artigo 37 da Constituição Federal, que diz que a administração direta e indireta dos poderes da união, estados, municípios e DF deverá obedecer aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. No entanto esses princípios compõem um elenco meramente exemplificativo, não esgotando, portanto, a matéria. Há outros princípios que não estão expressos no caput desse artigo. É o caso do princípio da isonomia, princípio básico de qualquer estado democrático de direito, localizado no artigo 5.º, I da CF, segundo o qual, homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações. A supremacia do interesse público sobre o do particular é outro princípio que dificilmente se encontra de forma expressa. Através desse princípio fica autorizado o poder público a tomar medidas que possam inclusive sacrificar direitos de terceiros, ainda que expressos na constituição. Tudo isso para preservar a única finalidade que é o interesse público primário ou da coletividade. É este princípio, que fundamenta, entre outros, a intervenção do Estado no direito de propriedade. Assim, o direito de propriedade está previsto na constituição, no artigo 5º. É direito fundamental, é cláusula pétrea, e mesmo pagando IPTU, taxas, atendendo a função social, mesmo assim o proprietário corre o risco de sofrer alguma intervenção na sua propriedade, podendo, inclusive, perdê-la em nome do interesse público em um processo de desapropriação. O terceiro é o principio da razoabilidade. Ele significa que a administração pública quando atua não pode tomar medidas que não sejam razoáveis, proporcionais em vista dos fatos que foram apresentados. Um servidor público, após 30 anos de conduta exemplar, chega pela primeira vez, atrasado ao serviço. Mesmo justificando seu atraso o administrador o demite por motivos pessoais, não agindo com razoabilidade. A sanção aplicada não foi proporcional ao deslize cometido pelo servidor. No exemplo acima o administrador incidiu em desvio de finalidade que é uma forma de ilegalidade. O servidor que foi demitido pode recorrer ao judiciário pedindo a reapreciação do ato praticado pela a Administração. Atenção: “Não se abatem pardais com canhões”. Frase retirada de um exame da OAB, onde o candidato tinha que relacioná-la a um dos princípios da administração. Essa frase diz respeito ao princípio da razoabilidade/ proporcionalidade uma vez que não são necessários canhões para se abater pardais, percebe-se, portanto, a desproporção do ato. 1. Princípio da legalidade É a base de qualquer Estado Democrático de Direito. Isto porque através desse princípio os litígios não serão resolvidos com base na força, mas na lei. Surge como direito fundamental, cláusula pétrea, inserido no artigo 5.º, II que traz a seguinte redação: “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer senão em virtude de lei.” Isso quer dizer que a administração pública, bem como os particulares, só serão obrigados a fazer ou deixar de fazer alguma coisa em virtude de lei. Direito Administrativo CELSO SPITZCOVSKY - 6 - Ocorre que, se por um lado tanto a administração pública, quanto os particulares têm a obrigação de atender e respeitar a lei, esse principio não tem o mesmo perfil para ambos. Legalidade para os particulares significa dizer que, ao atuarem, poderão fazer tudo aquilo que a lei não proíbe, ou seja, têm uma liberdade muito maior porque não precisam de uma lei prévia autorizadora. Basta que não exista uma lei proibindo. Já para a administração pública, legalidade significa que ela só poderá fazer aquilo que a lei expressamente determina. Portanto, para que o poder público possa editar um ato ele precisa ter uma lei anterior autorizando. Por isso é que se diz que toda atividade administrativa é subordinada à lei. Em latim poderia se dizer que é uma atividade “sub legem”, ou seja, só se legitima se for feita debaixo da lei, subordinada a ela. A importância deste princípio pode ser vista no direito penal onde se observa que não existe crime sem lei anterior que o defina e nem pena sem prévia cominação legal. (artigo 5º, XXXIX). No direito tributário, este princípio aparece no artigo 150 da CF, que proíbe a criação ou majoração de tributos que não venham através de lei. 2. Princípio da impessoalidade Por esse princípio a administração tem que manter uma posição de neutralidade em relação aos administrados, não privilegiando nem prejudicando de forma gratuita, mas tão somente para preservar o interesse público primário ou interesse da coletividade. Quando se fala em impessoalidade, é inconcebível que o Poder Público possa estabelecer discriminações gratuitas para favorecer ou prejudicar quem quer que seja. A discriminação somente será valida se for feita para preservar o interesse público. Este to deverá ser motivado. Se não tiver motivo será um ato arbitrário, pessoal do administrador. Assim, por exemplo, se um concurso público é aberto para preenchimento de vagas para Delegado de Polícia e o edital diz que não poderão participar do concurso os candidatos com menos de 1,60 cm de altura, estará ocorrendo discriminação, pois tal exigência em nada interferirá no adequado desempenho do cargo. Por outro lado, abre-se um concurso de preenchimento de vagas para guarda de honra do presidente e o edital diz que quem tiver menos de 1,70 não participará. O critério discriminatório é o mesmo, a altura. Nesse caso é válido porque altura é importante para guarda de honra. Dependerá, pois, do caso concreto, da discriminação, se é gratuita ou não. 3. Princípio da moralidade A partir da Constituição de 1988, ninguém mais põe em dúvida que moralidade é princípio constitucional da administração, por força da redação do artigo 37 caput da CF. Logo, pode-se dizer que ato imoral surge como sinônimo de ato inconstitucional. Por isso, toda vez que for praticado um ato de imoralidade o Judiciário poderá ser acionado, pois fará um controle de legalidade. O princípio da moralidade impõe à Administração Pública o dever de lealdade, honestidade, lealdade, boa-fé e probidade. Importante observar que a Constituição não se preocupou em relacionar as hipóteses caracterizadoras de atos de imoralidade, remetendo essa tarefa para o legislador ordinário. A lei 8429/92 disciplinadora da matéria, descriminou quais as hipóteses caracterizadoras de improbidade administrativa, que é a imoralidade administrativa qualificada pelo enriquecimento ilícito, pelo prejuízo ao patrimônio público e pela ofensa aos princípios da Administração Pública. - 7 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani Dentro deste contexto, o artigo 9.º relaciona os atos de improbidade, que produzem enriquecimento ilícito considerados os de maior gravidade pelo legislador. Para que esses atos se configurem, a doutrina e a jurisprudência, com base na diretriz fixada pelo legislador exigem a caracterização de dolo. Exemplos: - Uso de equipamentos públicos com fins particulares. É claro que se o equipamento é público não se pode cogitar da possibilidade de seu uso para algo que não seja para o interesse da coletividade. - Um trator da prefeitura escavando em terreno particular. Havendo a comprovação desse fato configura-se a improbidade produzindo enriquecimento ilícito. - Um carro da secretaria da fazenda, (equipamento público) encontrado no estacionamento de uma casa de espetáculos em um final de semana. Seria para alcançar uma finalidade pública ou para atender a interesses particulares? - Facilitação de liberação de verbas públicas. Realização de pagamentos desrespeitando a ordem dos precatórios mediante recebimento de determinada quantia pelo agente publico.. De outra parte, o artigo 10 discrimina os atos de improbidade que causam danos aoerário. Aqui, o legislador admite as modalidades dolosa e culposa. Exemplos: - Aquisição de bens acima do valor de mercado (superfaturamento). - Alienação de bens públicos abaixo do valor de mercado. A alienação de bens abaixo do valor de mercado também causa danos ao erário. O bem vale 10 (dez) e o administrador vende por 2 (dois). - Contratação sem licitação quando ela deveria ter sido aberta. Dentro deste contexto surgem agora no artigo 11 os atos de improbidade que atentam contra os princípios da administração. Foram considerados pelo legislador os mais brandos. Por orientação jurisprudencial e doutrinária, só admitem a forma dolosa. Exemplos: - Contratação sem concurso quando a Constituição Federal determina a sua realização. - Negação de publicidade a atos oficiais fora das hipóteses previstas pela Constituição, no artigo 5º XXXIII. - Divulgação de informações oficiais de forma privilegiada e gratuita para terceiros. Atenção: O elemento comum para a configuração de atos de improbidade é o dolo. 4. Ações judiciais para combater atos de improbidade Partindo-se do pressuposto que ato de improbidade surge como sinônimo de ato inconstitucional, passível, portanto, de reapreciação pelo Judiciário, importante observar agora qual a ações judiciais que podem ser utilizadas para combater atos desta natureza. 4.1. Ação popular A ação popular está prevista no artigo 5.º, inciso LXXIII, da Constituição. Ela poderá ser proposta por qualquer cidadão, vale dizer, o nacional de um país que se encontra no pleno exercício dos direitos políticos, ou seja, com plena capacidade para votar e ser votado já que o objetivo aqui é a defesa dos interesses da coletividade. Assim, pessoa jurídica não pode ajuizar Ação Popular e o Ministério Público também não, pois não são pessoas físicas. Direito Administrativo CELSO SPITZCOVSKY - 8 - O pólo passivo da ação deverá ser composto obrigatoriamente por três pessoas. Primeiro, a pessoa física responsável pela pratica do ato. Segundo, contra a pessoa jurídica que ela representa. Por último, contra os terceiros que se beneficiaram do ato. Esses aspectos não se encontram na Constituição, e sim na Lei 4717/65 que a disciplina, em especial no seu artigo 6.º. Tem por objeto a anulação do ato administrativo, nesse caso em especial, por desvio de legalidade, conforme o art. 2º, “a” da Lei 4717/65. Os exemplos caracterizadores de atos lesivos ao patrimônio publico se multiplicam não representando privilegio de nenhum Partido Político que esteja no poder: - Constatação de superfaturamento em um contrato celebrado por um governo estadual para a construção de uma estrada. A ação, neste caso, deveria ser proposta contra o governador, contra o governo do Estado e contra os terceiros que eventualmente tenham se beneficiado, ou seja, as empreiteiras. - Um Ministro de Estado vai “a trabalho” passar um final de semana em Fernando de Noronha utilizando-se de uma aeronave oficial, levando uma comitiva de 50 pessoas. A ação deveria ser proposta contra o Ministro, a União e contra a comitiva que o acompanhou por ter se beneficiado do ato. .4.2. Ação civil de improbidade A Ação de Improbidade é o segundo instrumento legitimado a combater atos de improbidade administrativa. É uma espécie de ação coletiva, Ação Civil por Improbidade Administrativa, com regramento na Lei 8429/92. Quando promovida pelo Ministério Público pode ser chamada de Ação Civil Pública, conforme entendimento do STF. A Ação Civil por Improbidade tem aspectos próprios: - Somente possuem legitimidade ativa o Ministério Público e a Pessoa Jurídica interessada; - É vedada a transação; - A condenação em dinheiro é revertida para o patrimônio público e não para o fundo de reparação, previsto na Lei 7347/85; - Admite cautelares específicas de seqüestro e de indisponibilidade de bens, em caso de enriquecimento ilícito e prejuízo ao erário; - Está sujeita a um juízo prévio de admissibilidade. No que se refere ao pólo passivo da ação a matéria vem disciplinada na Lei 8429/92, em seus artigos 2.º e 3.º. Assim, o artigo 2.º estabelece que a ação deve ser proposta contra o agente público. Por outro lado, o artigo 3.º diz que também devem figurar no pólo passivo aqueles que embora não estejam na administração, contribuíram para que o ato ocorresse, ou dele se beneficiaram. Esta ação se processa no juízo cível e não incide regra especial de foro, assim como na Ação Civil Pública. Como se trata de uma ação coletiva, admite-se antecipação de tutela e concessão de liminar. O pedido corresponde à aplicação das sanções previstas na Lei 8.429/92, pela prática de atos de improbidade, e também pode compreender a anulação dos atos ou contratos administrativos que tenham gerado o ato ímprobo. No que diz respeito às sanções a serem aplicadas, o artigo 37, § 4.º da Constituição relaciona as seguintes: - Perda da função; - Suspensão dos direitos políticos; - Declaração de indisponibilidade dos bens; - 9 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani - Ressarcimento dos danos causados ao erário. E o art. 12 da Lei 8429/92, amplia esse rol, acrescentando-lhe: - Perda de Bens - Multa Civil - Proibição de Contratar e Receber Benefícios Atenção: Não confundir perda da função com suspensão e suspensão dos direitos políticos. 5. Princípio da publicidade Por este princípio a idéia importante que deve ser encontrada é que a administração tem obrigação de oferecer transparência de todos os atos que pratica e de todas as informações que estejam armazenadas nos seus bancos de dados. Se o poder público somente atua para representar os interesses da coletividade, todas as informações que ele armazena em nome dela, devem ser acessíveis aos cidadãos. A regra não é o sigilo, mas a transparência. Esse princípio se encontra no art.5.º, XXXIII, CF: “Todos têm o direito de obter dos órgãos públicos informações de caráter particular, coletivo ou geral... as informações deverão ser oferecidas pelo poder publico no prazo da lei... a menos que a informação pedida, se oferecida, possa comprometer a segurança e o sigilo do estado e da sociedade” Atenção: Se um cidadão pede uma informação que é de interesse particular, coletivo ou geral e o poder público se nega a oferecê-la e não é uma informação que deva permanecer sob sigilo, pois não compromete a soberania do estado, há uma lesão a um direito fundamental. Par afastar tal ofensa os remédios constitucionais cabíveis serão o habeas data e o Mandado de segurança. O habeas data vai assegurar o acesso a informações de caráter personalista, ou seja, informações sobre a pessoa do impetrante, conforme artigo 5.º, LXXII, da CF, informações a respeito do próprio cidadão, que estiverem em banco de dados da administração. Já o mandado de segurança será utilizado quando as informações de interesse coletivo ou geral forem negadas, pois tal garantia constitucional se presta à proteger direito líquido e certo não amparado por hábeas corpus ou hábeas data, conforme prevê o art. 5.º , LXIX, da CF. Informações os cidadãos têm direito, mas a garantia constitucional, hábeas data ou mandado de segurança, vai depender da natureza da informação, se de interesse particular ou de terceiros, respectivamente. 6. Princípio da eficiência O princípio da eficiência foi o último a ser inserido na Constituição Federal, pela Emenda Constitucional n.º 19/98.Impõe ao Poder Público manter ou ampliar a natureza e qualidade dos serviços que presta, com economia de despesas. Dele decorre a necessidade de realização de Concurso Público de Provas e Títulos para contratação pela Administração Pública de pessoal. Mediante concurso público apura-se a eficiência dos candidatos (as suas condições p/ o exercício do cargo). A lei pode trazer requisitospara a acessibilidade, sendo certo que eles devem razoáveis e indispensáveis para o adequado desempenho do cargo, sob pena de ofensa ao princípio da igualdade. Exigências descabidas, incompatíveis com as atribuições do cargo serão inconstitucionais (art. 37, II CF). Quanto ao assunto é importante a leitura da súmula 266 do STJ e das súmulas 683, 684 e 686, todas do STF. Direito Administrativo CELSO SPITZCOVSKY - 10 - A EC n.º 19/98, trouxe também para o administrador, como reflexo do princípio em tela, mais um requisito para o agente público adquirir estabilidade, qual seja, o de que passe por uma avaliação especial de desempenho, devendo, mesmo depois de adquiri-la se submeter a avaliações periódicas de desempenho, podendo ser exonerado caso não aprovado em qualquer delas (art. 41 da CF). Outra decorrência do princípio da eficiência é a possibilidade de a Administração realizar contrato de gestão, que tem por objetivo aumentar a autonomia de órgãos e entes públicos e em contra partida fixar metas de desempenho a cumprir (art. 37, parágrafo 8º da CF). Os destinatários dos princípios acima referidos, aparecem no caput do artigo 37 da Constituição: Administração Direta e Indireta dos poderes da União, Estados, Municípios e do Distrito Federal. A Administração direta é composta por órgãos que, em regra, não são dotados de personalidade jurídica. Se não têm personalidade jurídica, não têm capacidade para estar em juízo, nem para propor, e nem para sofrer medidas judiciais. Na esfera federal podemos citar os Ministérios da justiça, fazenda, planejamento, saúde e educação, etc.. Na esfera estadual e também municipal há as Secretarias da Fazenda, Justiça, Segurança, Educação, Saúde, etc. Em âmbito municipal, existem ainda, as administrações regionais, ou como em São Paulo, as subprefeituras. Todas essas figuras integram a administração direta, não tendo, portanto, em regra, personalidade jurídica, não podendo, em caso de necessidade, ingressar ou sofrer ação judicial. Já a administração indireta é composta basicamente por pessoas, que têm personalidade jurídica e, portanto, capacidade para estar em juízo, propondo ou sofrendo medidas judiciais. São elas as autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista. Surgem como exemplos, a Caixa Econômica Federal, que é uma empresa pública, e que se quebrar o sigilo bancário de um cidadão, poderá sofrer uma ação de indenização, porque sendo pessoa que tem personalidade jurídica, tem capacidade para estar em juízo. Da mesma forma, o metrô, que é uma sociedade de economia mista, também pode estar em juízo para propor ou sofrer medidas judiciais. As pessoas da Administração indireta são criadas para exercer duas finalidades possíveis: para executar serviço público, quando não competem com a iniciativa privada, ou para explorar atividades econômicas quando então a competição passa a existir. Desta maneira, o Metrô, surge como uma sociedade de economia mista prestadora de serviço público. Até porque o transporte é um serviço público, de caráter essencial. Sendo assim, não existe competição com a iniciativa privada. No entanto, o Banco do Brasil que também é uma sociedade economia mista, explora atividade econômica, pois se é banco é uma instituição financeira. Logo, o Banco do Brasil atua no mesmo segmento do Real, Safra, Bradesco, competindo com outros bancos na tentativa de captação de clientes. Atenção: Independente de ser a pessoa criada para executar um serviço público ou para explorar atividade econômica, se integrar a administração pública indireta, terá que se submeter aos princípios administrativos. - 11 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani CAPÍTULO III – PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA De início, cumpre estabelecer uma observação básica segundo a qual o uso destes poderes só se legitima se for para alcançar uma finalidade única, a preservação dos interesses da coletividade. Assim, toda vez que o poder público lançar mão destes poderes para alcançar outro objetivo, usando o poder que lhe foi conferido de uma forma indevida ficará configurada a hipótese de abuso de poder, que surge como forma de ilegalidade, passível de apreciação pelo poder judiciário. Por outro lado, vale lembrar que o uso desses poderes só se legitima se for feito debaixo da lei. Até porque toda atividade administrativa é exercida “sub legem”, ou seja, subordinada à lei. 1. Poder vinculado É aquele em que o administrador se encontra totalmente preso ao enunciado da lei, não existindo espaço para que faça um juízo de valores, um juízo de conveniência e oportunidade. Por exemplo: Pedido de aposentadoria por idade de um servidor com 70 anos, que instrui o pedido com cópia do documento de identidade. Aqui a solução é única por parte do administrador na medida em que o servidor público tem limite de idade para permanecer na administração, 70 anos (art. 40, parágrafo 1º, II, da CF). Aliás, não por outra razão a essa modalidade de aposentadoria se dá o nome de “aposentadoria compulsória”. 2. Poder discricionário É aquele em que o administrador está preso ao enunciado da lei, porém, não totalmente, existindo espaço para se fazer um juízo de valores, um juízo de conveniência e oportunidade. Por exemplo: Proprietários de um bar ingressam com um pedido junto à administração para a colocação de mesas e cadeiras na calçada em frente ao seu estabelecimento. . Esse caso não comporta solução única eis que o deferimento do pedido dependerá de alguns itens tais como: tamanho da calçada, da quantidade de mesas, do movimento de pedestres naquele local, etc. Atenção: Toda vez que o examinador descrever uma situação hipotética se comportar solução única , como no exemplo da aposentadoria compulsória, então será vinculado, se comportar diversas soluções será discricionário. 3. Poder hierárquico Poder hierárquico é o poder conferido a administração para se auto-organizar, ou seja, é o poder que a administração tem para estabelecer, fixar, os campos de atuação dos órgãos, pessoas que a integram e dos seus agentes públicos. Atenção: As ordens emitidas por um superior só deverão ser cumpridas, se forem lícitas, se forem válidas. 4. Poder disciplinar É o poder conferido à administração para aplicação de sanções pela prática de infrações de caráter funcional, vale dizer, só de caráter administrativo. Este destaque é importante na Direito Administrativo CELSO SPITZCOVSKY - 12 - medida em que o agente pode, por uma mesma irregularidade, sofrer sanções na esfera administrativa, (demissão), na esfera civil (devolução do que foi subtraído dos cofres públicos) e também na área penal, se o ilícito estiver previsto no código Penal no capítulo dos crimes contra a administração. As modalidades mais freqüentes de sanções administrativas encontradas em sede de legislação ordinária são: advertência, suspensão, demissão, alguns estatutos trabalham com demissão a bem do serviço público, na medida em que cada ente da Federação tem competência para disciplinar a matéria. A aplicação dessas sanções de natureza administrativa só terá lugar quando houver a prática de infrações de caráter funcional, ou seja, ligadas às atribuições do cargo, do emprego, das funções, exercidas pelo servidor. Se, por exemplo, o servidor matar alguém e a morte não estiver relacionada ao exercício do cargo, não poderá ser sancionado na esfera administrativa. Ele será processado e eventualmente condenado na esfera penal. Se, por outro lado, o servidor público que trabalha das 8h às 18h bebe todos os dias das 18h às 8h, a aplicação de sanção dependerá dos efeitos exercidos pelo álcool em seu organismo. Se o servidor já estiver acostumado e não apresentar nenhum efeito pelo uso desta substância, não caberáqualquer sanção. No entanto, se um servidor, que não está acostumado a beber, resolve fazer uso do álcool das 18h às 8h, e quando chega ao local de trabalho deixa os documentos caírem, não se apresenta de forma condizente, ou seja, a substância exerceu muitos efeitos em seu organismo, impedindo-o de trabalhar corretamente. Nessa situação deverá ser aplicada uma sanção porque a incontinência alcoólica é uma irregularidade prevista no estatuto dos servidores. Para a aplicação de qualquer sanção o servidor tem direito a abertura de uma sindicância ou de um processo administrativo disciplinar, assegurando-se o contraditório e a ampla defesa. 5. Poder normativo Poder conferido à administração para a expedição de decretos e regulamentos visando oferecer fiel execução à lei. É também conhecido por poder regulamentar sendo que a legitimidade para o seu uso foi entregue ao Chefe do Poder Executivo. Assim, na esfera federal a legitimidade é do Presidente da Republica; na esfera estadual é do Governador e na municipal, do Prefeito. Seu fundamento constitucional encontra-se no artigo 84 IV, em especial em sua parte final quando se lê que o Presidente da Republica tem competência privativa para a expedição de decretos e regulamentos para oferecer fiel execução á lei. Atenção: Em razão da redação do artigo 84, IV da Constituição pode se concluir que para que o Chefe do Poder executivo possa expedir um decreto ou regulamento deve existir uma lei anterior disciplinando o tema, para que possa oferecer fiel execução a ela. Saliente-se ainda, que em termos de hierarquia estes decretos e regulamentos estão abaixo da lei, sendo, portanto, infra-legais, devendo se limitar ao que ela havia exposto anteriormente, não podendo inovar em relação a ela.. Em outras palavras, esses decretos servem, tão somente, para melhor explicitar as diretrizes já previamente estabelecidas em lei , não podendo extrapolar os limites por ela impostos. Neste particular, importante registrar o entendimento de alguns autores admitindo a existência em nosso ordenamento jurídico de decretos autônomos, que não necessitam da existência de lei anterior para serem editados. Esta não é a orientação que vem sendo adotada pela OAB. - 13 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani 6. Poder de polícia É o poder conferido à administração para, disciplinar, limitar, restringir, condicionar, frenar o exercício de direitos e atividades dos particulares para a preservação dos interesses da coletividade. Atenção: No uso desse poder a administração poderá passar por cima de direitos individuais, ainda que expressos na Constituição Federal, para preservar interesses da coletividade. O fundamento para o exercício do Poder de Polícia encontra-se na supremacia do interesse público sobre o do particular. Esse poder pode incidir sobre atos ou situações gerais ou sobre situações específicas. É o único que além de uma definição doutrinária apresenta também uma definição legal, pois surge como fato gerador da cobrança de um tributo, a taxa, conforme estabelece o art. 145 da Constituição. Assim, surgindo como fato gerador da cobrança de taxas, o poder de polícia foi definido pelo Código Tributário Nacional em seu artigo 78. Se, por exemplo, uma lei proíbe estabelecimentos comerciais que ofereçam música ao vivo de funcionarem depois das 22h a menos que tenham revestimento acústico, brigada de segurança, de manobristas, está exercendo o poder de polícia sobre situações gerais. Nesse caso regula-se atividade comercial estabelecendo-se restrições. No mesmo contexto, se uma lei proíbe a venda de bebida alcoólica para menores ou proíbe a colocação de placas de publicidade; outdoors para diminuir a poluição visual. Por outro lado, o fechamento de um restaurante por falta de higiene na cozinha ou o fechamento de um teatro ou casa de espetáculo por falta de segurança ou por falta de uma brigada de incêndio ou ainda, a interdição de um prédio residencial por falta de segurança, constitui exercício do poder de polícia sobre situações específicas. Por fim, importante anotar a atuação do Poder de Polícia nos meios de comunicação. Neste sentido nossa Constituição se por um lado proibiu a censura nos meios de comunicação (artigo 220 § 2º) por outro permitiu a realização de uma classificação indicativa sobre a programação ( artigo 220 § 3º e 21 XVI ). Esta classificação, em vista da redação do artigo 21, XVI, da CF inclui também os espetáculos em geral, vale dizer, cinemas, teatros, shows, e é feita pelo Ministério da Justiça, através da edição de inúmeras portarias. - 15 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani CAPÍTULO IV – ATOS ADMINISTRATIVOS Ato administrativo é todo aquele editado pela administração, debaixo de regras de direito público (regime jurídico administrativo), para a preservação dos interesses da coletividade. Essas regras de direito público vão conferir aos atos administrativos atributos e requisitos de validade que não se estendem aos particulares. Dentro deste contexto , pode-se concluir que estes atributos e requisitos de validade não surgem de forma gratuita posto que derivam dos interesses que a administração representa, os da coletividade. 1. Atributos 1.1. Presunção de legitimidade Os atos editados pela administração pública, desde sua edição gozam desta presunção de legitimidade, já que são guiados pelo princípio constitucional da legalidade, admitindo , no entanto , prova em contrário. 1.2. Auto-executoriedade A administração pode executar sozinha seus próprios atos, não necessitando de autorização prévia do poder judiciário. Assim, por exemplo, um fiscal poderá, de forma unilateral, lavrar um auto de infração em face de uma danceteria por tocar ela música acima dos limites máximos permitidos.Enquanto que o vizinho da mesma danceteria não poderá fazer nada, sozinho, contra o estabelecimento.Terá de propor medida judicial. 1.3. Imperatividade/coercibilidade Os atos da administração não são de cumprimento facultativo, mas obrigatório, ainda que representem sacrifício a direitos já expressos na Constituição. Em relação a este atributo pode ser ele conhecido também por coercibilidade ou ainda exigibilidade. Ainda que alguns autores procurem estabelecer diferenças entre estes rótulos, no fundo apresentam o mesmo significado. Assim todos eles apontam para uma mesma realidade: os atos administrativos, a partir de sua edição, são de cumprimento obrigatório. Por isso se, por exemplo, a administração expede um decreto expropriatório para a construção de uma escola, o desapropriado não poderá se negar a sair e nem discordar desta finalidade apontada pelo poder publico, ainda que veja sacrificado seu direito de propriedade. 2. Requisitos de validade Como visto, em razão dos interesses que representa a administração, ao editar seus atos, deve cumprir requisitos de validade específicos e outros comuns aos atos jurídicos em geral regulados pelo Código Civil. Assim, tem-se que o Código Civil, em seu artigo 104, relaciona como requisitos de validade para os atos jurídicos em geral: agente capaz, objeto lícito e forma não proibida por lei. Em relação aos atos administrativos, a doutrina relaciona cinco requisitos de validade: competência, forma, finalidade, motivo e objeto. Direito Administrativo CELSO SPITZCOVSKY - 16 - 2.1. Competência Este requisito exige que o ato seja editado por alguém que tenha legitimidade de acordo com previsão estabelecida em lei, correspondendo ao conceito de agente capaz estabelecido no Código Civil. Não pode o agente público, por isso, praticar ato que extrapole os limites de sua competência, sob pena de este ato ser nulo por excesso de poder, espécie do gênero abusode poder, que surge como forma de ilegalidade. 2.2. Forma O ato administrativo, ao ser editado, deve-se revestir da forma expressamente autorizada por lei. Este requisito aparece também para os atos jurídicos no Código Civil. A diferença é que para a administração pública a forma é somente a que está prevista em lei, enquanto que no Código Civil a forma é aquela não proibida por lei. Em regra a forma é a escrita, porém os apitos ou gestos de um guarda de trânsito são também considerados atos administrativos. 2.3. Objeto No que tange ao objeto deve ele ser lícito. No entanto, encontramos aqui outra diferença. No Código Civil, objeto lícito significa que o particular poderá fazer tudo o que não for proibido por lei, enquanto que a administração pública só poderá fazer expressamente o que ela determina. 2.4. Finalidade A finalidade surge como requisito de validade somente dos atos administrativos na medida em que, ao contrario dos particulares que atuam em nome próprio, seu objetivo único é a preservação do interesse público. Afastando-se desta finalidade única incidirá em desvio de finalidade, ou desvio de poder, espécie do gênero abuso de poder, que surge como forma de ilegalidade. 2.5. Motivo Este requisito exige que o Poder Público, ao editar seus atos, apresente as razões que o justificaram, inclusive para permitir que se faça um controle de legalidade. Dentro deste contexto, pode-se mencionar a teoria dos motivos determinantes segundo a qual todos os atos da administração pública devem ser motivados. Ainda segundo esta teoria a partir do momento em que os motivos são apresentados eles passam a condicionar a atuação do administrador que deles não poderá se afastar. Sendo requisito de validade de todos os atos administrativos, a motivação torna-se obrigatória tanto para os atos vinculados quanto para os discricionários, incluindo-se a nomeação e exoneração para cargos em comissão. - 17 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani Aliás, o STF já decidiu que a titularização de cargos em comissão por parentes de juízes até um determinado grau de parentesco, em seus gabinetes, configura ato de improbidade administrativa. Dentro deste contexto, oportuno registrar a existência de uma só hipótese em que o administrador poderá se afastar dos motivos iniciais invocados sem que esta conduta represente desvio de finalidade: quando a finalidade muda mantendo-se, ainda, o interesse público. Tal se dará, por exemplo, quando a Administração Pública desapropria um imóvel de propriedade de um particular para construir uma escola, e acaba construindo uma delegacia. 3 Formas de extinção Entre as inúmeras formas de extinção dos atos administrativos destacaremos as duas principais, vale dizer, a anulação e a revogação. 3.1 Anulação Forma de extinção dos atos administrativo por razões de ilegalidade. Tem legitimidade a própria administração pública, e também o judiciário, desde que provocado por terceiros. A anulação de um ato administrativo opera efeitos “ex tunc”, retroagindo até a origem do ato, o momento em que ele foi editado, para eliminar todos os efeitos por ele até então gerados. Por implicar a eliminação de todos os efeitos até então gerados, a anulação não autoriza a invocação de direito adquirido. Segundo o disposto no artigo 54 da Lei 9.784/99, o Poder Público tem o prazo decadencial de cinco anos para anular atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para terceiros, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má fé. 3.2 Revogação Forma de extinção dos atos administrativos por razões de conveniência e oportunidade. A competência foi atribuída somente para a administração pública. Atenção: O judiciário está terminantemente proibido de reapreciar atos administrativos lícitos. A revogação opera efeitos “ex nunc”, incidindo somente daquele momento em diante mantendo-se todos os efeitos até então gerados pelo ato eis que até aquele instante ele era valido. Desta forma, admite-se a invocação de direito adquirido, uma vez que o ato era lícito até o momento em que a administração o revogou. Essas, aliás , foram as duas formas de extinção contempladas pelo Supremo Tribunal Federal na Sumula 473: “A administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornam ilegais porque deles não se originam direitos ou revogá-los por motivos de conveniência e oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada em todos os casos a apreciação judicial”. - 19 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani CAPÍTULO V – SERVIÇO PÚBLICO Serviço público é todo aquele prestado pela administração ou por quem lhe faça as vezes, debaixo de regras de direito público, para a preservação dos interesses da coletividade. 1. Titularidade A titularidade de um serviço público é intransferível e pertence à administração. O que pode ocorrer é tão somente a transferência da sua execução para um particular que, no entanto, ficará sempre sob sua fiscalização. Portanto, a execução de serviços públicos poderá se realizada pela administração direta, indireta ou por particulares. Oportuno lembrar que a administração direta é composta por órgãos, que não têm personalidade jurídica, que não podem estar, em regra, em juízo para propor ou sofrer medidas judiciais. Exemplos: Ministérios, Secretarias de Estado, administrações regionais, subprefeituras. A administração indireta é composta por pessoas, surgindo como exemplos: autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista. Por outro lado, o serviço público também pode ser executado por particulares, por meio de concessão, permissão, autorização. Importante dizer ainda que todas estas figuras que integram a administração indireta têm de comum entre si os seguintes itens: a) são pessoas jurídicas; b) são criadas ou autorizadas por lei de iniciativa do poder executivo; c) são dotadas de autonomia administrativa , financeira e patrimônio próprio. Dentro deste contexto, observados os aspectos comuns a todas elas, passaremos agora a estabelecer uma definição de cada uma procurando ressaltar seus aspectos característicos, permitindo a visualização das diferenças entre elas. 1.1. Autarquias 1.1.1. Definição São pessoas jurídicas de direito público, criadas por lei específica somente para uma finalidade, a prestação de serviços públicos. Atenção: Autarquias não podem ser criadas para exploração de atividades econômicas. Exemplos de autarquias: INSS, INCRA, BACEN. Atenção: Banco Central não é instituição financeira, pois se fosse não poderia ser autarquia, ninguém tem conta no banco central, ninguém tem caderneta de poupança, RDB, CDB, porque é banco apenas no nome, não é instituição financeira. Entre suas atribuições encontra- se a de fiscalizar as instituições financeiras, para que elas não venham a “quebrar”, prejudicando seus correntistas. Outro exemplo de autarquia é a OAB, em que pese ser ela é detentora de algumas prerrogativas que outras não têm. Assim, o STF já decidiu que a OAB não precisa fazer concurso para contratar pessoas, não precisa abrir licitação para contratar serviços. O STF tem entendido que a OAB é uma pessoa jurídica “sui generis”, não configurando-se como autarquia, e tão pouco como uma associação de direito privado. Direito Administrativo CELSO SPITZCOVSKY - 20 - 1.1.2. Características As autarquias têm autonomia administrativa, financeira e também patrimônio próprio, podendo tomar suas próprias decisões. Não existe subordinação em relação a administração direta o que não impede se mantenha um vinculo em relação a ela. 1.1.3. Criação A sua criação dependede lei de iniciativa do Executivo, conforme a redação do artigo 37, inciso XIX da CF. 1.1.4. Responsabilidade Sendo a autarquia pessoa jurídica, portanto, sujeito de direito e obrigações, e possuindo ainda autonomia financeira, verbas próprias, patrimônio próprio, será ela a responder pelas obrigações que contrair junto à terceiros. A administração direta que a criou, poderá ser chamada, mas apenas em caráter subsidiário. Atenção: A Administração direta que a criou somente poderá responder pelos atos praticados pela autarquia em caráter subsidiário, ou seja, só depois de esgotadas as forças da autarquia, nunca em conjunto com ela, logo, nunca de forma solidária. .1.2. Fundações 1.2.1. Definição Fundações são pessoas jurídicas, de direito público ou de direito privado (há divergência doutrinária, havendo quem entenda que só possuem natureza jurídica de direito público), criadas somente para a prestação de serviços públicos. Atenção: Não confundir estas fundações, que integram a administração indireta, com aquelas que integram a iniciativa privada. Exemplos de Fundações: Fundação Bradesco, Fundação Itaú, FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado- Fundação Airton Senna, Fundação Xuxa, são todas particulares. As fundações particulares são regidas pelo Código Civil. O patrimônio delas é um patrimônio inteiramente particular, não se relacionando em nada com a administração pública. Essas fundações particulares, uma vez criadas, têm sua fiscalização feita pelo próprio Ministério Público e podem ser criadas para fins sociais. Exemplos de Fundações Públicas: FUNAI, IPEA, FUNDAP, FAPESP , Fundação Casa, PROCON. 1.2.2. Características As fundações têm autonomia administrativa, autonomia financeira e também patrimônio próprio. - 21 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani 1.2.3. Criação Sua criação é autorizada por lei específica, conforme, artigo 37, inciso XIX da CF. Isto significa que, autorizada por lei a criação de uma fundação, deve esta ser efetivamente criada com o registro de seus atos constitutivos no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas. 1.2.4. Responsabilidade Se a fundação é uma pessoa, é sujeito de direito e obrigações, e ainda tem autonomia financeira, verbas próprias, patrimônio próprio, ela mesma irá responder pelas obrigações que contrair junto a terceiros. A administração direta que a criou, também poderá ser chamada a responder, mas como as autarquias, apenas de forma subsidiária. 1.3. Empresas públicas 1.3.1. Definição São pessoas jurídicas de direito privado, criadas para a prestação de serviços públicos ou para a exploração de atividades econômicas, contando com um capital inteiramente público e constituídas sob qualquer modalidade empresarial. Se criada para prestar serviços públicos então não competirá com a iniciativa privada. No entanto, se criada para explorar atividades econômicas passará a competir com a iniciativa privada em regime de livre concorrência. Nesse sentido, segundo o artigo 173, § 1.º II, da CF a empresa pública e a sociedade de economia mista, quando exploradoras de atividade econômica vão se submeter ao mesmo regime jurídico das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias. Assim, a caixa econômica federal, empresa pública, uma instituição financeira, compete com as demais instituições financeiras, o Safra, o Real, o Bradesco, o Itaú. Já, a Radiobrás, que é uma empresa pública que presta serviço público, responsável pela produção do programa de rádio: “A voz do Brasil”, não compete com a iniciativa privada. 1.3.2. Características O capital das empresas públicas é inteiramente público, não comporta a participação de particulares. Pode ser constituída por qualquer forma empresarial. As empresas públicas têm autonomia administrativa, financeira, e patrimônio próprio. 1.3.3. Criação A criação de empresas públicas é autorizada por lei, na forma do artigo 37, XIX da CF. Dependerá, ainda, de registro de seus estatutos sociais, como se verifica com qualquer empresa particular. Direito Administrativo CELSO SPITZCOVSKY - 22 - 1.3.4. Responsabilidade São as empresas públicas que respondem pelas suas obrigações, e a administração direta que as criou responderá apenas em caráter subsidiário, ou seja, só depois de esgotadas suas forças. Nunca, em caráter solidário. 1.4. Sociedade de economia mista 1.4.1. Definição A sociedade mista também é pessoa jurídica de direito privado, criada ou para a prestação de serviços públicos ou para a exploração de atividades econômicas. O metrô é uma sociedade de economia mista que presta serviço público, ele oferece transporte coletivo, inclusive considerado pela constituição como de caráter essencial. Já, o Banco do Brasil é sociedade de economia mista que explora atividades econômicas, pois é uma instituição financeira. Dessa forma, compete com a iniciativa privada, e deverá fazê-lo em regime de livre concorrência, com base no artigo 173, § 1.º, II da CF. A Petrobrás, também é uma sociedade mista exploradora de atividade econômica. Estas sociedades contam com um capital misto e são constituídas somente sob a forma empresarial de S/A características que as diferenciam das empresas públicas.. 1.4.2. Características Estas sociedades têm autonomia administrativa, financeira, e patrimônio próprio. 1.4.3. Criação Sua criação é autorizada por lei, conforme artigo 37, XIX, da C F. Dependem de registro de seus estatutos sociais. 1.4.4. Responsabilidade São as sociedades que respondem pelas suas obrigações, e a administração direta que as criou responderá apenas em caráter subsidiário, ou seja, só depois de esgotadas as suas forças. Nunca, jamais em caráter solidário. 1.5. Agências Reguladoras São também espécies de autarquia. Logo, são pessoas jurídicas de direito público, prestadoras de serviços públicos. Tem autonomia administrativa, financeira, patrimônio próprio, são criadas por lei e respondem pelas suas obrigações. No entanto são Autarquias de Regime Especial. Tem por finalidade fiscalizar a execução de serviços públicos, principalmente quando transferida para a iniciativa privada. O que varia de uma agência reguladora para a outra é o setor, o campo de atuação atribuído para cada uma delas. Essas agências, introduzidas no Brasil, por influência do direito norte americano no final da década de 90, hoje acabam se multiplicando. - 23 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani Exemplo: ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações ( artigo 21, XI, da CF); ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica (artigo 21 XII , “b” da CF), cria regras para a execução do serviço público de energia elétrica e fiscaliza seu cumprimento; ANP Agência Nacional de Petróleo, de acordo com o artigo 177 da CF é responsável pela criação de regras para a execução de serviços relacionados a petróleo e sua fiscalização, em tese, deve fiscalizar a qualidade do combustível que é comercializado no país inteiro; ANS Agência Nacional de Saúde, conforme o artigo 196 da CF, é a responsável pela criação de regras para a execução do serviço de saúde bem como sua fiscalização; ANAC Agência Nacional de Aviação Civil, responsável pela fixação de regras e pelo seu cumprimento neste setor, encontra seu fundamento no artigo 21, XII, “c” da CF. Seu regime especial apresenta, entre outras características, o fato de serem dotadas de poder normativo, vale dizer, para a criação de regras visando a execução de serviços públicos e também porque seus dirigentes adquirem estabilidade, durante o períodode duração de seu mandato, mesmo sem terem ingressado através de concurso. Assim, durante a vigência de seus mandatos, variável de acordo com a lei que criadora da agência, a demissão só poderá ocorrer pelo cometimento de falta grave. 2. Formas de transferências de serviços públicos O perfil constitucional das concessões e permissões encontra-se no artigo 175 da CF que diz: “Incumbe ao poder público, na forma da lei, diretamente ou por concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos”. Em outras palavras, a titularidade dos serviços públicos é da administração e a sua execução pode ser feita por ela mesma ou transferida, para particulares através de concessão ou permissão. Prevê o artigo 30, V, da CF, que compete aos Municípios organizar e prestar os seus próprios serviços, diretamente ou por concessão ou permissão. Logo, cada município decide se ele próprio executará o serviço ou se transferirá a execução para particulares. 2.1. Concessão É uma espécie de contrato administrativo com prazo determinado através do qual se transfere a execução de serviços públicos para particulares. Sendo uma espécie de contrato , tem de ter prazo determinado, trazendo uma segurança maior para o contratado, já que não poderá ser desfeita a qualquer momento sem pagamento de indenização. 2.2. Permissão Permissão de serviço é um ato administrativo precário, através do qual se transfere a execução de serviços públicos para particulares. Não é um contrato, e sim um ato unilateral. É precário porque não tem prazo determinado, podendo ser desfeita a qualquer momento, sem pagamento de indenização. Em regra , a principal fonte de arrecadação dos concessionários, dos permissionários, é a cobrança de tarifa dos usuários. Tem ela natureza jurídica de preço público, o que impede a incidência de princípios constitucionais tributários. Durante a vigência das concessões e permissões o valor da tarifa pode ser majorado desde que para manter o equilíbrio da equação econômico financeira ( margem de lucro do contratado ) Direito Administrativo CELSO SPITZCOVSKY - 24 - sempre levando-se em consideração que deve permanecer acessível ao usuário. Estas previsões encontram-se nos artigos 6º§1º e 9º da Lei 8987/95 disciplinadora da matéria. 2.3. Peculiaridades acerca de concessão e permissão Enquanto a concessão surge como uma espécie de contrato, com prazo determinado, oferecendo mais segurança para os particulares, a permissão se apresenta como um ato precário, podendo ser desfeita a qualquer momento. Dentro deste contexto, o serviço público pode ser executado pelo próprio titular, a administração pública, quando sua execução será direta ou poderá ser transferida para particulares através de concessão e permissão. Telecomunicações, por exemplo, é um serviço publico cuja titularidade foi entregue á União (art 21,XI, CF) podendo sua execução ser transferida a particulares, através de concessão ou permissão.(TIM, VIVO, CLARO, entre outras). Energia elétrica, também é um serviço público cuja titularidade foi entregue á União (artigo 21, XII, b da CF), podendo sua execução ser transferida para particulares através de concessão ou permissão. O transporte coletivo é um serviço publico cuja titularidade foi entregue aos municípios ( artigo 30, V, da CF) podendo sua execução ser transferida para particulares via concessão ou permissão. Por outro lado, importante anotar que o particular não executa de forma livre o serviço, pois fica sob a fiscalização do titular, o Poder Público. Seguindo ainda por este tema, passamos agora a analise dos tópicos principais contidos na lei 8987/95 regulamentadora do artigo 175 da Constituição, abordando três temas: serviço público adequado, política tarifária e as formas de extinção das concessões. 3. Noção de serviço público adequado O artigo 6.º da Lei 8987/95 ao estabelecer as características de um serviço adequado, incluiu a continuidade de sua prestação o que, em regra impede sua interrupção. 3.1. Interrupção do serviço público Nada obstante, pode-se cogitar da possibilidade do servidor público deflagrar movimento grevista, conforme se verifica da redação do artigo 37, VII, da Constituição. Porém, cumpre observar que esse direito deverá ser exercido não de forma ilimitada mas nos termos e limites fixados em lei. Atenção: A greve no serviço público não pode ser feita nos mesmos moldes da iniciativa privada, ainda que seja o instrumento mais poderoso que o trabalhador tenha nas mãos para pressionar a administração. Um percentual do serviço deve permanecer a disposição da população. A greve geral irrestrita nos hospitais públicos, por exemplo, sem que ninguém fosse atendido independentemente da urgência, afetaria toda a sociedade. O problema que se apresenta é que a edição de lei, que se destina a regulamentar esse direito, tendo em vista ser o art.37, VII, da CF, que o garante, norma constitucional de eficácia limitada, quase 20 anos após a vigência da CF, ainda não foi feita. Outra questão importante sobre este tema refere-se à possibilidade de interrupção do serviço em relação ao usuário inadimplente. - 25 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani Atenção: A jurisprudência e a doutrina se encontram divididas sobre esse assunto. Assim é que a Lei n.º 898795, em seu artigo 6. º, § 3. º, inciso II, autoriza a interrupção do serviço em relação ao usuário inadimplente, desde que seja providenciado o competente aviso prévio, para que possa se defender das acusações que lhe são imputadas. Se, por exemplo, um grande executivo perde um contrato milionário porque no dia em que recebeu a oferta por telefone seu celular estava desligado, por iniciativa da concessionária, sem aviso prévio, verificando-se que este usuário nada devia à concessionária e a suspensão do serviço ocorreu por uma falha da empresa, poderá pleitear indenização. Por outro lado, a lei n.º 8078/ 90, o Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 22, impede o corte no fornecimento do serviço, mesmo diante da inadimplência do usuário, principalmente se o serviço público for de caráter essencial, como água, luz, gás e telefone. Por fim, importante observar que a necessidade de se executar serviços públicos de forma continua, impede a incidência de penhora sobre os bens do concessionário, imprescindíveis para esta tarefa. 3.2. Política tarifária A tarifa surge como principal fonte de arrecadação do concessionário e do permissionário. Através da sua cobrança procuram recuperar seus investimentos e assegurar sua margem de lucro. Exemplo: Cobrança de tarifa de ônibus, pedágio, energia elétrica, água, gás, etc. 3.2.1 Natureza jurídica da tarifa Não tem a tarifa natureza jurídica de tributo, não incidindo sobre ela os princípios constitucionais tributários. Assim não é criada nem majorada por lei e sua exigência não ocorre apenas no inicio do exercício financeiro seguinte. Dessa forma, apresenta natureza jurídica de preço público e não tributo. O valor inicial da tarifa tem que corresponder ao da proposta vencedora da licitação que precedeu a celebração do ajuste, não ficando assim nem a critério do concessionário, nem do Poder Público.Assim, por exemplo, se o dono de uma concessionária, em sua proposta de licitação, determina que o valor da tarifa será de R$ 10,00, se for o vencedor deverá cobrar esse valor quando do início de vigência de seu contrato. Atenção: O valor inicial da tarifa tem que ser idêntico ao que foi responsável pelo licitante vencer a licitação e ser contratado. No entanto, durante a execução do contrato pode haver variações. O Poder Público, contudo não é livre para autorizar o aumento da tarifa, porque nos contratos que celebra com terceiroseste aumento só se justifica para manter a margem de lucro do contratado, o equilíbrio da equação econômico financeira. (art 9º da Lei n.º 8987/95) 4. Formas de extinção dos contratos Atenção: Dentre as formas de extinção merecem destaque em vista das questões já realizadas pela OAB, a Encampação e a Caducidade. Direito Administrativo CELSO SPITZCOVSKY - 26 - 4.1. Encampação Forma de extinção das concessões antes do término do prazo inicialmente previsto, por razões de interesse público (art. 37 da Lei nº8987/95). Aqui, tendo em vista que o concessionário não concorreu para o término do contrato, terá direito a indenização. A lei exige para que se possa promover a encampação o preenchimento dos seguintes requisitos: lei específica autorizando e indenização do Concessionário 4.2. Caducidade Forma de extinção das concessões, antes do término do prazo inicialmente previsto, por descumprimento de obrigações contratuais pelo concessionário (arts. 38 e 39 da Lei 8987/95). Atenção: Como a Administração está impondo uma penalidade ao concessionário, deve se conferir a ele o contraditório e a ampla defesa dentro de um processo administrativo aberto para essa finalidade. 5. Parcerias público privadas As Parcerias Público Privadas encontram-se disciplinadas pela lei 11.079 de 2004. Atenção: A OAB costuma perguntar apenas acerca de sua criação e das modalidades previstas em lei. 5.1. Criação das PPP’s Sua criação resultou da necessidade do poder publico atrair novamente a iniciativa privada para a execução de obras e serviços de grande porte, em vista da falta de verbas públicas. Verificou-se que apenas a cobrança de tarifas prevista na lei 8987/95 não era mais atrativo suficiente para que a iniciativa privada se interessasse em contratar com a Administração. Atenção: A Lei 11079/04 estabeleceu que as PPP’s são espécies de concessão, aplicando-se à elas , em caráter subsidiário as regras da lei 8987/95. 5.2. Espécies de PPP’s 5.2.1. Patrocinada A modalidade patrocinada foi definida no § 1.º do artigo 2.º da Lei 11079/04 da seguinte forma: é concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a lei 8987/95, quando envolver adicionalmente a tarifa cobrada dos usuários e contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado. Assim, o parceiro privado além de continuar com a possibilidade de cobrança de tarifa dos usuários será remunerado pelo parceiro público. Em outras palavras, o diferencial da modalidade patrocinada encontra-se na possibilidade do parceiro privado, ser remunerado pela administração além de continuar a cobrar tarifa dos usuários. - 27 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani 5.2.2. Administrativa A modalidade administrativa foi definida no parágrafo 2.º do artigo 2.º da Lei 11.079/04 da seguinte forma: é o contrato de prestação de serviços de que a Administração Pública seja usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de bens. Como se vê, é bastante nebulosa a caracterização da parceria na modalidade administrativa. Pode-se dizer que na parceria administrativa o particular se remunera exclusivamente por “tarifas” de um serviço público do qual a Administração é a usuária direta ou indireta. 5.5.3. Requisitos A lei 11.079/2004 estabelece alguns requisitos para a celebração de parcerias púbico privadas entre os quais destacam-se os seguintes: - valor mínimo de vinte milhões de reais e; - prazo mínimo de 5 anos e máximo de 35. Atenção: A modalidade de PPP patrocinada além de permitir cobrança de tarifa ainda autoriza a contraprestação pecuniária do Poder Público. - 29 - Coordenadores: Marcelo T. Cometti Fernando F. Castellani CAPÍTULO VI – LICITAÇÃO 1. Definição É um procedimento administrativo através do qual o Poder Público seleciona a proposta mais vantajosa para o interesse público nos termos previstos no edital. Portanto, como regra geral, sempre que aquele for contratar serviços, terá que abrir licitação. Em outras palavras, não pode contratar com quem quiser, mas apenas com quem apresente a proposta melhor que os demais. Ressalte-se que isto vale tanto para a administração direta como para a administração indireta. Esta obrigação do Poder Público em contratar apenas por licitação reflete o princípio da impessoalidade, pois a contratação só poderá ser feita com a melhor proposta, respeitados os termos previstos no edital. 2. Competência É competência privativa da União legislar acerca de normas gerais de licitações e contratos administrativos, conforme previsão contida no artigo 22, inciso XXVII da CF. A principal legislação sobre este tema é a lei 8666/93 com sua atualizações posteriores. Atenção: A competência atribuída à União para legislar sobre normas gerais, não impede que Estados e Municípios legislem editando normas especificas. 3. Fases da licitação São fases da licitação o edital, a habilitação, a classificação, a homologação e a adjudicação todas elas com objeto próprio apresentando-se em uma ordem cronológica que não pode ser alterada. 3.1. Edital É a lei interna das licitações, pois nele devem estar previstas todas as regras que uma vez publicadas devem ser seguidas tanto pela administração quanto pelos licitantes. Daí falar-se em princípio da vinculação ao edital. Assim, o edital deverá descrever com detalhes o objeto que será licitado, os documentos que devem ser trazidos para a fase de habilitação, o critério de julgamento das propostas, entre outros. 3.2. Habilitação É a fase em que o poder público procura apurar as condições pessoais de cada licitante, em vista de uma futura contratação. Atenção: Não adianta o licitante fazer uma proposta melhor que a dos outros e não apresentar a melhor condição de cumpri-la. Assim são exigidos documentos na área jurídica, técnica, fiscal e financeira (artigo 195, § 3. º da CF). Na área jurídica exige-se dos licitantes a apresentação de CIC, RG, CGC, contrato social, a fim de se verificar se terão ou não de celebrar contrato com a administração pública. Direito Administrativo CELSO SPITZCOVSKY - 30 - No campo técnico exige-se do licitante comprovante de capacitação anterior de execução de obra ou serviço idêntico ou similar, como, por exemplo, atestados de desempenho anterior, equipe técnica, equipamentos, etc. Na parte fiscal serão exigidos documentos que comprovem não estar ele em débito com a Seguridade Social. No campo financeiro exigem-se balanços, certidões negativas de falência, entre outros documentos que atestem boa condição financeira para suportar a execução do futuro contrato. Se todas as propostas forem inabilitadas a comissão de licitações poderá abrir prazo para que os vícios sejam eliminados. 3.3. Classificação É a fase em que o Poder Público analisa as propostas comerciais dos habilitados na fase anterior. Sendo que é subdividida em dois momentos diferentes. No primeiro, temos a desclassificação. Ou seja, a eliminação de dois tipos de propostas, quais sejam: as inexeqüíveis e as exeqüíveis em desconformidade com o edital. Nesse contexto, o legislador estabelece duas hipóteses em que as propostas comerciais apresentadas deverão ser imediatamente desclassificadas pelo poder público. 3.3.1. Propostas em desacordo com o edital Essa hipótese está prevista no artigo 48, I da Lei 8666/93 e diz respeito às propostas que não atendam às exigências do edital, porque por melhor que possam ser, sua aceitação não pode ser admitida se o licitante lançou mão de subterfúgios não autorizados no ato de convocação. Caso isso fosse possível, o princípio da isonomia estaria
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