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Gestão Integrada de Treinamento e Competências A Evolução do Treinamento e Desenvolvimento Profa. Ms. Dália Denner UnP - Universidade PotiguarA Evolução do Treinamento e Desenvolvimento2 A Evolução do Treinamento e Desenvolvimento • Descrever o modelo de treinamento e desenvolvimento e suas origens. • Discutir aspectos precursores ao modelo de T&D no Brasil Tópicos da Unidade • Treinamento, desenvolvimento e educação de pessoas • Treinamento, desenvolvimento e educação: qual a diferença? • Evolução de T&D nas organizações do Brasil Treinamento, Desenvolvimento e Educação de Pessoas As atividades de treinamento têm suas origens no início do processo de industrialização, no final do século XIX, quando se passou do trabalho artesanal para o de produção de massa. De acordo com Marcondes (2008), nas antigas oficinas de produção, fabricavam-se quantidades menores e de acordo com a solicitação de clientes. O treinamento, nesta ocasião, era dado por meio da relação do mestre de ofício com seus aprendizes, que procuravam repetir o trabalho de alguém mais experiente. No início do século XX, com a divulgação dos estudos de Taylor sobre a racionalização do trabalho, padronização de tarefas, a redução de tempo e de movimentação de componentes e produtos na linha de produção, a necessidade de treinar quantidade cada vez maior de trabalhadores cresceu consideravelmente. Deste modo surgiram os programas de treinamento com o objetivo de adaptar as pessoas às necessidades dos processos produtivos e administrativos. Para Marcondes (2008:262) depois da Segunda Guerra Mundial, principalmente a partir da década de 1960, ocorreram mudanças que afetaram o mundo dos negócios, dentre elas o reconhecimento do mundo como um sistema que opera em interdependência com o ambiente de incerteza, o que impeliu ao surgimento das teorias de planejamento estratégico. Objetivos da Unidade UnP - Universidade PotiguarA Evolução do Treinamento e Desenvolvimento3 O crescimento do setor de serviços também é uma mudança a ser destacada. Essas transformações passaram a exigir dos trabalhadores mais autonomia, criatividade e iniciativa, especialmente daqueles em posições de liderança, tanto nas linhas de produção como na relação com clientes. Como consequência, as ações de desenvolvimento foram agregadas àquelas de treinamento de pessoas, com o objetivo de se obter um desempenho superior para enfrentar a competição, bem mais acirrada, tanto no mercado interno como internacional. Essas novas práticas fizeram surgir os departamentos de treinamento e desenvolvimento nas organizações. Para muitos autores, como, por exemplo, Chiavenato (2008), T&D é um processo contínuo constituído por quatro etapas, conforme a Figura 01. Figura 01. As quatro etapas do processo de treinamento Fonte: Adaptado pela autora de Chiavenato, 2008:368 UnP - Universidade PotiguarA Evolução do Treinamento e Desenvolvimento4 Para Meister (1999 apud LEITE et al, 2009:73) ao se focar a educação, na perspectiva das organizações em relação ao seu próprio desenvolvimento, podem ser observadas mudanças nas relações empresa/ trabalhador. Existe um novo “contrato psicológico” pelo qual os empregadores oferecem aprendizagem no lugar da antiga estabilidade no emprego. A qualificação e os conhecimentos adquiridos, ao mesmo tempo em que permitem maior produtividade e alinhamento com a missão da empresa, promovem empregabilidade do colaborador. Dutra e Comini (2010) abordam que no Brasil, a postura das pessoas em relação ao seu desenvolvimento vem sofrendo alterações ao longo dos últimos 20 anos. Na década de 90 as pessoas passaram a se preocupar mais com sua autonomia e liberdade e com o seu desenvolvimento, demonstrando disposição para investir neste processo, com ou sem a ajuda da organização. No final da década de 90, as pessoas trocavam remuneração por desenvolvimento. Na primeira década de 2000 as pessoas se movimentaram nas empresas e no mercado de trabalho em busca de condições concretas de desenvolvimento. Ainda, desde a década de 90 as organizações se veem pressionadas a uma postura de maior abertura, de serem mais participativas na relação com as pessoas. Treinamento, Desenvolvimento e Educação: Qual a Diferença? Para Leite et al (2009:73) o treinamento, entendido como instrumento de desenvolvimento e formação de pessoal, sempre será um recurso usado pela empresa visando ao atendimento das necessidades e à conciliação dos interesses do indivíduo e organização. Alguns autores diferenciam desenvolvimento e educação de treinamento. Para Marcondes (2008:262) entende-se por treinamento o aprimoramento do desempenho do colaborador para que possa aumentar a produtividade dos recursos – físicos, financeiros, informações, sistemas etc. - colocados à disposição dele para realizar o seu trabalho. É a preparação para levar uma pessoa a ser capaz de fazer algo que nunca fez antes, mas sem a assistência de quem a ensinou. UnP - Universidade PotiguarA Evolução do Treinamento e Desenvolvimento5 Por outro lado, por desenvolvimento entende-se a capacitação do colaborador para alavancar novas posições que envolvam a obtenção de resultados cada vez mais abrangentes. Isso pressupõe a existência de uma carreira com a explicitação das demandas de cargos futuros. Em síntese pode-se dizer que o treinamento tem como fim a aquisição e o aperfeiçoamento de conhecimentos e habilidades para desempenhar determinadas tarefas em curto prazo, enquanto o desenvolvimento tem como finalidade o aperfeiçoamento do potencial das pessoas para um desempenho superior no futuro. As ações de Treinamento e Desenvolvimento, consideradas como um conjunto de métodos, procedimentos e recursos, proporcionam benefícios às pessoas, pois: • focam as aptidões dos colaboradores; • ajudam a aumentar a autoestima e melhorar o clima organizacional pelo crescimento profissional; • facilitam a definição de prioridades para a capacitação das pessoas; • promovem a melhoria das condições psicossociais do trabalho. Para Leite et al (2009) adotar o treinamento como uma prática institucionalizada pode conduzir as organizações ao processo de evolução da concepção de treinamento para a de desenvolvimento de pessoas. Essa evolução envolve o crescimento como pessoa, como profissional e prepara o colaborador para atividades que vão além das que ele poderá desempenhar inicialmente. Neste contexto, treinar as pessoas cede espaço para desenvolvê-las e capacitá-las de forma que assumam riscos, acompanhem os processos, tornem-se autônomas no que realizam, utilizem o poder pessoal, desenvolvam a habilidade de trabalhar com flexibilidade e criatividade. A função educacional, de acordo com Leite et al (2009), poderá ser mais bem exercida quando lideres, educadores e facilitadores puderem experimentar continuamente a aprendizagem conjunta, num processo educacional nascido com o propósito de gerar liberdade e responsabilidade para aprender a aprender, fazer crescer e desenvolver. UnP - Universidade PotiguarA Evolução do Treinamento e Desenvolvimento6 O desafio consiste em administrar, a um só tempo, a concepção do treinamento, a educação, bem como o desenvolvimento das competências dos membros da organização, de modo a assegurar-lhes o direito de manterem-se no eixo das suas motivações para aprender. Mudando o foco para a organização, para Bennis (1999 apud LEITE et al, 2009) o desenvolvimento organizacional, além de abranger uma resposta à mudança, constitui-se em uma complexa estratégia educacional que tem por finalidade mudar as crenças, as atitudes, os valores e a estrutura de organizações, de forma que possam se adaptar aos novos mercados, tecnologias e desafios e ao próprioritmo da mudança. Cabe lembrar que o processo de desenvolvimento organizacional envolve a visão da organização, a formulação e a implementação de gestão de pessoas, bem como o feedback continuo e a avaliação dos resultados, com vistas a orientar e empreender as ações organizacionais de natureza estratégica, tática e operacional. Evolução de T&D nas Organizações do Brasil De acordo com Oliveira (2006) pode-se dizer que não existiu ensino profissional representativo no mundo até a Revolução Industrial. Como uma das formas de ensino profissionalizante, o T&D, por sua vez, só despontou com o aparecimento da grande empresa industrial, em meados do século XIX, nos Estados Unidos. A primeira “escola de fábrica” conhecida foi a de Hoe&Co, fabricante de máquinas impressoras, criada em 1872, para formar operadores das máquinas que a empresa fabricava. O primeiro departamento de Educação e Treinamento norte-americano foi criado em 1917, pela estatal Emergency Fleet Corp. e, quase no mesmo período foi formado o Comitê Especial de Educação e Treinamento do Departamento de Guerra dos Estados Unidos com o propósito de desenvolver materiais didáticos na formação de pessoal para cerca de cem profissões do sistema militar. UnP - Universidade PotiguarA Evolução do Treinamento e Desenvolvimento7 No Brasil, o primeiro impulso para um sistema de ensino profissionalizante ocorreu em 1909, com a criação, pelo presidente Nilo Peçanha, das escolas de aprendizagem de ofício. Essa iniciativa teve a intenção de dar assistência a filhos da população carente, que conforme se acreditava na época, impossibilitados de estudar ou trabalhar, acabariam na marginalidade. Conforme Oliveira (2006:32), as décadas de 1920 e 1930 foram ricas em fatos que demonstram a avidez por progresso social, econômico e político. Nesta época, observa-se a criação da primeira universidade, no Rio de Janeiro, em 1920; a primeira transmissão de rádio (1922); a Semana de Arte Moderna (1922); a criação do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) em 1928; a criação dos Ministérios de Educação (1930) e do Trabalho (1931); a fundação do Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT), em 1931; a criação da Universidade de São Paulo (USP) em 1934, dentre outros. Em 1943 foi aprovada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o ensino profissional recebeu um novo impulso com a Reforma Capanema, que criou o Senai, em 1942 e o Senac, em 1946. O Senai adotou o sistema dual suíço, que colocava o estudante parte do ano letivo na escola e parte em estágio prático na empresa contratante. Em 1949 chegou ao Brasil o método de supervisão Training Within Industry (TWI). Era um programa organizado em módulos, dentre os quais se destacavam “Ensino correto de um trabalho”; “Relações humanas no trabalho” e “Treinamento em segurança no trabalho”. Destinava-se ao treinamento de novos supervisores, obtendo grande popularidade no Brasil, estendendo-se até meados de 1960. Para cumprir as atividades de T&D, as empresas desenvolveram um conceito padrão, ou seja, uma estrutura mínima organizacional que incluía, dois encarregados de treinamento (técnico e administrativo), um técnico de recursos audiovisuais, uma secretária. Todos se reportavam ao chefe/supervisor de T&D, que por sua vez se subordinava ao Gerente de Relações Industriais. Glossário ON THE JOB “No dia a dia do trabalho”. Este tipo de treinamento utiliza a rotina, as tarefas práticas de um indivíduo no seu local de trabalho, sem retirá-lo para a sala de aula. É como um estágio prático supervisionado diretamente. É o treinamento ministrado na própria função. UnP - Universidade PotiguarA Evolução do Treinamento e Desenvolvimento8 Como regra geral, os treinamentos para áreas de vendas e de segurança no trabalho não pertenciam à área e T&D e os treinamentos práticos de operários nas áreas de produção aconteciam geralmente on-the-job, após cursos sobre teoria em sala, ministrados por professores do Senai. Raramente eram contratados consultores; o mais frequente era encaminhar os colabradores para cursos externos. De acordo com Oliveira (2006:35) há anos trava-se no Brasil um debate entre duas concepções de ensino profissional: a “do mercado” e a “humanista”, ou, colocado de outra forma, entre uma educação de resultados, que enfatiza o ensino de competências para a empregabilidade, e outra, que busca a formação de pessoas socialmente autônomas e politicamente conscientes, alem de bons trabalhadores. Conforme o autor, este debate se acirrou a partir dos anos 80 e 90, com evidente vantagem para a ideologia de mercado. As áreas de T&D defrontaram-se nos anos 70 com a necessidade de fazer uma escolha pendendo para a “formação de competências”. Entre 1960 e 1990 as empresas brasileiras usaram incentivos fiscais para custear expressiva parcela de seus treinamentos. Houve três sucessivos planos de incentivo: • Os acordos de isenção com o Senai, até 1963/4. Estes acordos foram uma iniciativa do próprio Senai. A entidade não conseguia atender mais que 5% da formação profissional industrial necessária. Para contornar o problema o Senai aceitou fazer acordos pelos quais uma parcela das contribuições obrigatórias devidas á entidade seria aplicada pela empresa diretamente em seus programas de treinamento. • O Programa Intensivo de Preparação de Mão de Obra (PIPMO), até meados de 1970 Criado em 1963, pelo Ministério do Trabalho, para acelerar a formação de obra qualificada no país. O programa credenciava entidades formadoras para ocupações profissionais de emprego imediato na indústria e em outros setores da economia. Os resultados práticos não foram tão expressivos como se esperava. UnP - Universidade PotiguarA Evolução do Treinamento e Desenvolvimento9 • Os benefícios fiscais concedidos pela Lei 6295, entre os anos de 1976 a 1990 Promulgada em 1975 permitia a dedução em dobro, até 5% do lucro tributável das despesas da empresa com projetos de formação profissional previamente aprovados pelo Ministério do Trabalho. A lei interessava às empresas, que pagavam menos Imposto de Renda; aos treinadores que viram suas atividades serem valorizadas; e, às consultorias, cujo mercado crescia. Essa lei foi extinta pelo presidente Collor. O modelo de T&D que se estabeleceu nas décadas de 60 e 70 começou a minguar em meados da década de 80, devido às dificuldades da economia brasileira mediante a recessão mundial de 1980-2, que eliminou milhões de empregos no mundo e no Brasil além do advento da microinformática, que também contribuiu com a eliminação de empregos em escritórios e fábricas. Com isso, também as funções administrativas e técnicas de RH foram expulsas do organograma para o mercado externo. Em poucos anos a área de recursos humanos passou a contar com numero mínimo de profissionais para cuidar de grande variedade de processos de gestão de pessoas. Deste modo, os serviços de consultoria e treinamento passaram a funcionar fora da empresa, passando a ser contratados quando necessários. Os gestores de linha passaram a atuar, em relação às suas equipes de trabalho, como gestores de pessoal, surgindo assim novos “personagens” na estrutura organizacional: o consultor interno de RH. Para Oliveira (2006), o T&D deixou de existir nas empresas na forma e nas funções vigentes entre 1960 e 1995. É certo, entretanto, que algumas das atividades típicas de então ainda são necessárias e persistem, e ainda, é verdade também que em muitas empresas o modelo anterior de T&D se mantém por comodismo ou falta de percepção de que outros tempos chegaram. Sabia Mais Para saber mais sobre treinamento on the job, assista ao vídeo O que é treinamento on the job, no link: http://www.youtube.com/watch?v=kapWWAZj7CA O Executivo Técnico de Negócios, Vilson H. Zimmermann, explica, neste videocast, de que forma os profissionais devem ser preparados para acompanharem o desenvolvimento das empresas diante de um cenário favorável. Nesse processo, ele destaca o treinamento e o desenvolvimento como apoio para o crescimento das organizações, além do uso da tecnologia como auxílio para a sustentabilidade do negócio. O vídeo pode ser acessado através do link http://www.youtube.com/ watch?v=blpw8WI3cNs “O retrato do treinamento no Brasil”, traz a pesquisa realizada anualmente pela Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD). A pesquisa de 2010-2011, pode Sr acessada na Revista T&D - Inteligência Coletiva, nr 166 de 2010, através do link http://www.rtd.com.br/Revista/Re- vista166/ UnP - Universidade PotiguarA Evolução do Treinamento e Desenvolvimento10 CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 3ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 2008. DUTRA, Joel de Souza; COMINI, Graziela Maria. Competência como base para a gestão estratégica de pessoas. In: EBOLI, Marisa et al (Org). Educação corporativa: evolução e implantação de projetos. São Paulo: Atlas, 2010. DRUCKER, Peter. Desafios gerenciais para o século 21. São Paulo:Pioneira, 1999. LEITE, Nildes Pitombo et al. Treinamento, desenvolvimento e educação de pessoas: um desafio na estratégia organizacional. In: Gestão de pessoas: perspectivas estratégicas. ALBU- QUERQUE, Lindolfo Galvão de; LEITE, Nildes Pitombo (org). São Paulo:Atlas, 2009 MARCONDES, Reynaldo Cavalheiro. Desenvolvendo pessoas: do treinamento e desen- volvimento à universidade corporativa. In: HANASHIRO, Darcy Mitiko Mori, TEIXEIRA, Maria Luisa Mendes e ZACCARELLI, Laura Menegon (org). Gestão do fator humano: uma visão baseada nos stakeholders. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008. OLIVEIRA, Marco A. Evolução do T&D nas organizações do Brasil: lições do passado e tendências para o futuro. In: BOOG, Gustavo G.; BOOG, Magdalena T (Coord). Manual de treinamento e desenvolvimento: gestão e estratégias. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. Bibliografia UnP - Universidade PotiguarA Evolução do Treinamento e Desenvolvimento11
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