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CONCURSO DE CRIMES Concurso de Crimes Conceito: é a expressão utilizada para designar as hipóteses em que o agente, mediante uma, duas ou mais condutas, comete duas ou mais infrações penais Isso se dá porque as diversas espécies de concurso de crimes – material, formal e crime continuado – implicam sistemas distintos de imposição da sanção penal (sistemas do cúmulo material ou da exasperação de pena). IMPORTANTE: no concurso de crimes há mais de um crime, no concurso aparente de normas, o agente pratica um só crime, o qual não se sabe ao certo sua tipificação. Ex.: Masturbador do ônibus de São Paulo: Estupro, ato obceno, importunamento ofensivo ao pudor? 1- Espécies de concurso de Crimes As modalidades de concurso de crimes previstas no Código Penal são: a) concurso material (art. 69); b) concurso formal (art. 70); c) crime continuado (art. 71). Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. 1.1-Concurso material IMPORTANTE: Nesses casos, as penas são somadas. O concurso material é também chamado de concurso real ou cúmulo material. Obs.: Só se pode cogitar de soma de penas na sentença se ambos os delitos estiverem sendo apurados na mesma ação penal. Para tanto, é necessária a existência de alguma forma de conexão entre eles, pois só assim se justifica a apuração no mesmo feito. Ex.: O agente mata o marido para estuprar a esposa, há conexão entre os dois crimes. IMPORTANTES: se os delitos não são conexos, cada qual deve ser apurado em um processo distinto e receber pena isoladamente (uma sentença para cada crime). A soma só acontecerá posteriormente, no juízo das execuções criminais. Ex.: um criminoso que pratica o crime de estupro e em outro dia um crime ambiental. 1.1.1- Espécies de Concurso Material O concurso material homogêneo: quando os crimes cometidos forem idênticos, da mesma espécie (dois roubos, dois estupros etc.). a) Requisitos: é preciso que sejam diversas as circunstâncias de tempo, local ou modo de execução, pois, caso contrário, a hipótese seria de crime continuado. b) Exemplo: dois roubos são cometidos em datas distantes um do outro, ou em cidades diferentes, ou, ainda, se foram cometidos por modos de execução distintos; Concurso material heterogêneo: quando os crimes praticados não forem idênticos (um furto e um estelionato; um estupro e um aborto etc.). Nestes casos, em que os delitos não são da mesma espécie, é fácil a distinção em relação ao crime continuado. 1.1.2- Soma das penas A soma das penas propriamente dita só é possível quando os crimes cometidos forem apenados com a mesma espécie de sanção. Ex. 1: se o réu for condenado por furto e estelionato (ambos apenados com reclusão) a 1 ano por cada um dos crimes, a pena final será de 2 anos de reclusão. O mesmo raciocínio se aplica se os delitos forem todos apenados com detenção. Obs.: . Sistemas de Aplicação de Pena: Cúmulo Material. Obs.: Mesmo que o agente seja sentenciado a 45 anos de prisão na execução penal só deve cumprir 30. Ex. 2: se as penas privativas de liberdade previstas forem distintas, não haverá soma (no sentido aritmético). Em tais casos, estabelece a parte final do art. 69 que o juiz fixará as duas penas, sem somá -las, e o réu cumprirá primeiro a pena de reclusão e depois a de detenção. Obs.: . Sistemas de Aplicação de Pena: Cúmulo Material. 1.2- Concurso Formal Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior. 1.2.1-Especies Concurso Formal Concurso formal homogêneo: Se os delitos forem idênticos, o dispositivo determina que o juiz aplique uma só pena, aumentada de 1/6 até 1/2 (sistema da exasperação da pena). Ex.: agindo com imprudência, o agente provoca um acidente no qual morrem duas pessoas. Nesse caso, o juiz aplica a pena de um homicídio culposo, no patamar de 1 ano (supondo-se que tenha optado pela pena mínima) e, na sequência, aumenta-a de 1/6, chegando ao montante final de 1 ano e 2 meses de detenção. Concurso formal heterogêneo: Se os delitos, não forem idênticos, temos o, em que a lei determina que seja aplicada a pena do crime mais grave, aumentada também de 1/6 até 1/2. Ex.: alguém, agindo com imprudência, provoca a morte de uma pessoa e lesões corporais na outra. Note-se que, aplicando -se a pena do crime mais grave (homicídio culposo), aumentada de 1/6. • Concurso formal perfeito (próprio): O agente produziu dois ou mais resultados criminosos, mas não tinha o desígnio de praticá-los de forma autônoma. Ex.1: João atira para matar Maria, acertando-a. Ocorre que, por culpa, atinge também Pedro, causando-lhe lesões corporais. João não tinha o desígnio de ferir Pedro. IMPORTANTE: Aplica-se o sistema de exasperação da pena, aplica-se a pena do mais gravoso dos delitos • Concurso formal imperfeito (impróprio): Quando o agente, com uma única conduta, pratica dois ou mais crimes dolosos, tendo o desígnio de praticar cada um deles (desígnios autônomos). Ex.2: motorista causa acidente e mata 3 pessoas. Não havia o desígnio autônomo de praticar os diversos homicídios. IMPORTANTE: Aplica-se o sistema de pena cúmulo material, soma-se as penas dos delitos. 1.2.2- Sistemas de Aplicação de Pena e Concurso Material Benéfico. Na hipótese de concurso formal heterogêneo (delitos não idênticos, plica-se a pena do crime mais grave, aumentada 1/6 até 1/2 ), é possível que ocorra uma distorção na aplicação da pena. Ex.: um sujeito acometido de sífilis que estupra uma jovem de 12 anos de idade. -O agente praticou com uma ação os tipos estupro de vulnerável (art. 217 -A: 8 a 15 anos) em concurso formal com o de perigo de contágio de moléstia venérea (art. 130: 3 meses a 1 ano). -Caso o juiz fixe a pena mínima para os dois delitos: a)Somando as penas (cúmulo material): total de 8 anos e 3 meses b) Aplicando a regra do concurso formal (exasperação da pena): total de 9 anos e 4 meses (8 anos mais 1/6). Nesse caso, a regra do concurso formal, criada para beneficiar o acusado e evitar penas desproporcionais, estaria a prejudicá -lo. 1.2.2- Sistemas de Aplicação de Pena e Concurso Material Benéfico. Art. 70, Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código. do Código Penal. O dispositivo estabeleceu que a pena resultante da aplicação do concurso formal não pode ser superior àquela cabível no caso de soma das penas. Por isso, sempre que o montante da pena decorrente da aplicação do aumento de 1/6 até 1/2 (referente ao concurso formal) resultar em quantum superior à soma das penas, deverá ser desconsiderado tal índice e aplicada a pena resultante da soma. A essa hipótese, dá -se o nome de concurso material benéfico. Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. 1.3- Crime Continuado 1.3.1-Natureza jurídica do Crime Continuado • Existem três teorias a respeito: a) Teoria da unidade real: as hipóteses de crime continuado constituem, em verdade, crime único. b) Teoria da ficção jurídica: é constituído por uma pluralidade de crimes, mas, por ficção legal, é tratado como delito único no momento da aplicação da pena. Obs.: Adotada pelo CP ao mencionar que o sujeito “pratica dois ou mais crimes”, mas devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro apenas para a fixação da pena. a) Teoria mista: o crime continuado não constitui crime único nem concurso de crimes, e sim outra categoria (autônoma). 1.3.2- Requisitos O art. 71 do Código Penal expressamente exige os seguintes requisitos para o reconhecimento do crime continuado: a) Pluralidade de condutas: Tal como ocorre no concurso material, o crime continuado demanda a realização de duas ou mais ações ou omissões criminosas, opondo -se, portanto, ao instituto do concurso formal que exige conduta única. b) Que os crimes cometidos sejam da mesma espécie: São aqueles previstos no mesmo tipo penal, simples ou qualificados, tentados ou consumados. Ex.: pode haver crime continuado entre furto simples e furto qualificado, mas não entre furto e apropriação indébita, entre furto e roubo ou entre roubo e extorsão etc. Obs.: existe corrente que interpreta como “crimes da mesma espécie”, os que atinjem o mesmo bem jurídico. “continuidade delitiva. Furto e roubo. Inocorrência. Reconhecendo que o furto e o roubo não são crimes da mesma espécie, embora de igual natureza pela proteção ao patrimônio, descabe admitir - se a continuidade delitiva” (STJ, REsp 4.733/PR, 6ª Turma, 22.10.1990). 1.3.2- Requisitos c) Que os crimes tenham sido cometidos pelo mesmo modo de execução (conexão modal): Ex.: não se pode aplicar a regra do crime continuado entre dois roubos quando um deles tiver sido cometido mediante violência e o outro, mediante grave ameaça. d) Que os crimes tenham sido cometidos nas mesmas condições de tempo (conexão temporal): A jurisprudência vem admitindo o reconhecimento do crime continuado quando entre as infrações penais não houver decorrido período superior a 30 dias. “quanto ao fator tempo previsto no art. 71 do CP, a jurisprudência sedimentada no STF é no sentido de observar o limite de 30 dias que, uma vez extrapolado, afasta a possibilidade de se ter o segundo crime como continuação do primeiro” (STF, HC 69.896 -4, Rel. Min. Marco Aurélio,02.04.1993); 1.3.2- Requisitos e) Que os crimes tenham sido cometidos nas mesmas condições de local (conexão espacial): Admite-se a continuidade delitiva quando os crimes forem praticados no mesmo local, em locais próximos ou, ainda, em bairros distintos da mesma cidade e até em cidades contíguas (vizinhas). “o fato de serem diversas as cidades nas quais o agente perpetrou os crimes (São Paulo, Santo André e São Bernardo do Campo) não afasta a reclamada conexão espacial, pois elas são muito próximas umas das outras, e integram, como é notório, uma única região metropolitana” (STF, Rel. Min. Xavier de Albuquerque, RT 542/455). 1.3.3-Continuidade Delitiva e Reiteração Criminosa Quando não estiverem presentes os requisitos da continuidade delitiva pode ocorrer Reiteração Criminosa. “ Não se há de falar em continuidade delitiva, se as condições de tempo, lugar e modo de execução, são diferentes de um crime para o outro. 2. Não se pode confundir reiteração criminosa com continuidade delitiva. Se o réu faz do crime um modo de auferir dinheiro, trata-se de contumácia criminosa e não de crime continuado. “ (TJDF; Rec. 2009.05.1.004355-7; Ac. 436.151; Segunda Turma Criminal; Rel. Des. João Timóteo de Oliveira; DJDFTE 16/08/2010; Pág. 426). 1.3.4- Crime continuado genérico ou específico a) Crime continuado genérico-simples (art. 71, caput): o juiz aplica o sistema da exasperação da pena ao crime mais grave. b) Crime continuado específico-qualificado (art. 71, parágrafo único): o juiz pode aumentar as penas até o triplo da pena prevista, também para o crime mais grave. Art. 71, parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código. Art. 70, Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código. Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. 1.3.4- Crime continuado genérico ou específico Exemplo Paulo comete dois crimes de homicídio (um simples [6 a 20] e um qualificado [12 a 30]) de acordo com os requisitos do crime continuado específico. a) Regra do parágrafo único do art. 71, 2ª parte: pode aumentar as penas até o triplo para o crime mais grave: 12 x 3= 36 anos. b) Regra do cúmulo material: 6 do simples + 12 do qualificado= 18 anos Obs.: neste caso aplica-se a regra do art. 70, Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código. Aplica-se o cúmulo material benéfico. Crime Continuado Qualificado Simples Pena do crime mais grave aumentada de 1/6 a 2/3 Pode ser triplicada a pena do crime mais grave Crimes de mesma espécie e mesmas circunstâncias de tempo, local e modo de execução. + Crimes dolosos praticados com violência ou grave ameaça contra vítimas diferentes. 1.3.5- Continuidade Delitiva e conflito de leis penais no tempo • Súmula n. 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a vigência é anterior à cessão da continuidade ou da permanência. Ex.: se alguém cometeu três crimes de estelionato em dias diversos e, ao praticar o último dos crimes, já havia uma nova lei tornando mais alta a pena do estelionato, a pena será aplicada com base na nova lei. Obs.: Não se trata de retroatividade de lei mais grave, mas sim de aplicação da nova lei a fato cometido já na sua vigência. 1.3.6- Continuidade Delitiva e Suspensão Condicional do Processo • Art. 89-9.099-95. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, [...] o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos [...] • Súmula 723. Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano. • Súmula n. 243 do Superior Tribunal de Justiça: “o benefício da suspensão condicional do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de 1 ano”. Se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano, não cabe suspensão condicional do processo, por violação ao patamar da pena mínima igual ou inferior a 1 ano de pena privativa de liberdade. Ex.: se alguém está sendo acusado por dois crimes de furto simples, em continuação delitiva, a pena mínima é de 1 ano e 2 meses (pena de 1 ano pelo furto simples acrescida de 1/6), não cabendo a suspensão condicional do processo.2- Sistemas de Aplicação de Pena Sistema do cúmulo material: somam-se as penal dos crimes (concurso material). Sistema da exasperação da pena: aplica-se a pena de um dos crimes, se de mesma espécie, ou do mais grave, se diferente, e aumenta de 1/6 a 2/3. Sistema do cúmulo material benéfico: aplica-se o sistema do cúmulo material, quando o da exasperação for mais prejudicial ao condenado. 3- Unificação de penas • Se na sentença não tiver sido possível aplicar o sistema da exasperação da pena decorrente do concurso formal ou do crime continuado por terem sido instauradas ações penais distintas para cada um dos fatos criminosos, será possível que, no juízo das execuções, seja feita a unificação. • No momento em que o juiz verificar a presença dos requisitos do concurso formal ou do crime continua do, decorrentes de condenações lançadas em sentenças diversas (por crimes distintos), não deverá somar as penas, deve desprezar uma delas, mantendo apenas a mais grave, e, em seguida, aplicar o índice de exasperação de que tratam os arts. 70 e 71 do Código Penal. 4- Prescrição dos crimes cometidos em continuação ou em concurso formal • Art. 119- CP, “no caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente”. • Súmula n. 497- STF, “quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula -se pela pena imposta na sentença, não se computando o aumento decorrente da continuação”. Ex.: quando um policial é acusado de receber propinas de diversos motoristas em momentos diversos, incorre em pena de 2 anos por cada um dos crimes de corrupção passiva (art. 317), porém, tendo em vista a continuidade delitiva, o juiz lhe aplica somente uma pena aumentada, por exemplo, em 1/3, totalizando 2 anos e 8 meses. a) Art. 109, IV: por ser superior a 2 anos, prescreve em 8. b) Súmula n. 497: a prescrição deve levar em conta a pena de 2 anos, prescreve em 4 anos (art. 109, V). Obs.:Em suma, o réu deve cumprir 2 anos e 8 meses de reclusão, mas a prescrição leva em conta a pena de cada um dos delitos (2 anos).
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