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Traunia C r a n i e n c e f á l i c o Objetivos do capítulo Ao final deste capítulo, o leitor estará apto a: Relacionar a biomecânica do trauma com a lesão cerebral traumática (LCT). Incorporar o reconhecimento das manifestações fisiopatológicas e dados significativos do histórico de LCT para a avaliação da vítima de trauma e compreensão do que aconteceu na cena. Formular um plano de intervenção na cena, tanto para os transportes de curta duração como para os de longa duração, das vítimas de LCT. Comparar e contrastar a fisiopatologia, o tratamento e as potenciais conseqüências da LCT primária e da lesão cerebral secundária. Identificar os critérios para decisão de condutas para o doente com LCT em relação ao modo de transporte, nível de condutas no pré-hospitalar e os recursos necessários do hospital de destino para o tratamento adequado do doente com LCT. 210 ATEND IMENTO PRE HOSP I T A LAR AO TRAUMAT I ZADO Ceaárío Você e seu companheiro são enviados para o local de uma construção onde um operário do sexo masculino de 30 anos perdeu o equilíbrio e caiu de aproximadamente 8 metros em um piso de concreto. Testemunhas relatam que ele ficou inconsciente por aproximadamente 10 minutos. mas agora está acordado. A cena é segura. O exame primário revela que o doente mantém vias aéreas e respira normalmente. Um ferimento lacerante de 8 cm no couro cabeludo do lado direito está sangrando continuamente, mas é rapidamente controlado com pressão direta e cura- tivo compressivo. Sua freqüência cardíaca é de 116 batimentos por minuto e sua pele é quente, rosada e apresenta boa perfusão. Abre os olhos espontaneamente e obedece a comandos; no entanto, não se recorda dos eventos que levaram à sua queda. Mostra-se um pouco confuso ao tentar responder algumas perguntas (escore na Escala de Coma de Glasgow 14). Você fornece oxigênio com máscara unidirecional. Durante a imobilização da coluna, ele passa a falar pala- vras incompreensíveis e agora só abre os olhos e retira os membros aos estímulos dolorosos (Escore na Escala de Coma de Glasgow 9). Que outras condutas vocé tomaria para este doente com base no rebaixamento do nível de consciência? Que tipo de lesão é mais compatível com esses sinais e sintomas? Quais as prioridades no tratamento nesta situação? Que medi- das você precisa tomar para evitar o aumento da pressão intracraniana e manter a perfusão cerebral durante um transporte prolongado? Aproximadamente 1,6 milhão de atendimentos por trauma craniano acontecem a cada ano nos hos- pitais de emergência. Destes, cerca de 500.000 apre- sentam lesão cerebral traumática (LCT). Enquanto 80% desses doentes são classificados como portado- res de lesões leves, cerca de 50.000 doentes com LCT são declarados mortos ao chegarem nos serviços de emergência. A LCT contribui significativamente para a morte de cerca de 50% de todas as vítimas de trau- ma. As lesões cerebrais moderadas a graves ocorrem em cerca de 100.000 vítimas de trauma anualmente. As taxas de mortalidade das lesões moderadas e gra- ves são de 10% e 30%, respectivamente. Daqueles que sobrevivem a estas lesões, enlre 50% e 90% apresen- tam algum grau de déficit neurológico permanente. Colisões automobilísticas continuam sendo a prin- cipal causa de LCT em pessoas com idade inferior a 65 anos, e as quedas são a principal causa destas le- sões no idoso. A cabeça é a região do corpo mais fre- qüentemente lesada em doentes com trauma multis- sistêmico. A incidência de lesão cerebral por ferimen- tos de arma de fogo tem aumentado nos últimos anos nas áreas urbanas e mais de 60% dessas vítimas mor- rem em decorrência dessa lesão. Dos doentes vítimas de trauma, aqueles com LCT são os que impõem maior desafio para o tratamento. Podem estar agressivos, e a tentativa de intubação pode ser muito difícil devido ao enrijecimento dos músculos da mandíbula (trismo) e vômitos. A into- xicação por drogas, álcool ou a presença de choque devido a outros traumas podem dificultar a avaliação neurológica. Às vezes, lesões intracranianas graves poclem estar presentes com evidência mínima de trau- ma externo. O atendimento e o cuidado pré-hospita- lar adequado, dirigido para a manutenção das fun- ções vitais, podem diminuir a taxa de mortalidade decorrente de LCT e também se traduzir em dimi- nuição do déficit neurológico permanenle. Anatomia O conhecimento da anatomia do crãnio e do encéfa- lo é essencial para a compreensão da fisiopatologia da LCT. O couro cabeluclo é a camada mais externa que recobre a cabeça e proporciona uma proteção ao crânio e ao encéfalo. O couro cabeludo é composto por várias camadas, incluinclo a pele, o tecido con- juntivo e o periósteo do crânio. Os processos de en- velhecimento e de calvície podem tornar o couro ca- beludo mais fino resultando em diminuição da pro- teção. O couro cabeludo e os tecidos moles que reco- brem a face são intensamente vascularizados, e feri- mentos aparentemente pequenos podem produzir grandes hemorragias. A hemorragia não controlada de uma laceração complexa do couro cabeludo pode CAPÍTULO 8 Trauma C r an i e n c e f á l i c o 2 1 1 levar ao choque hipovolêmico. Apesar de lesões do couro cabeludo produzirem sangramento contínuo, a hemorragia muitas vezes pode ser controlada com pressão manual direta ou curativo compressivo. O crãnio é composto por vários ossos que se fun- dem em uma única estrutura durante o desenvolvi- mento da criança. Várias pequenas aberturas (fora- mes) através da base do crânio permitem a passagem de vasos sangüíneos e nervos cranianos. Uma aber- lura maior denominada forame magno está localiza- da na porção posterior da base do crânio e serve de passagem do tronco cerebral para a medula espinhal (Figura 8-1). Na infância, muitas vezes duas fonta- nelas podem ser identificadas entre as eslruturas ós- seas. O bebê não possui proteção óssea sobre esta porção do cérebro até a fusão dos ossos, o que ocorre em geral até os 2 anos. Apesar de a maior parte dos ossos que formam o crânio serem espessos e fortes, as regiões temporais e etmoidais são especialmente finas sendo mais susce- tíveis a fraturas. O crânio fornece proteção ao encéfa- lo, mas a superfície interna da base do crânio é rugo- sa e irregular. Quando submetido a trauma contuso, o encéfalo pode deslizar sobre essas irregularidades produzindo contusões ou lacerações cerebrais. Três membranas distintas, denominadas menin- ges, recobrem o encéfalo (Figura 8-2). A membrana mais externa, chamada dura-máter, é composta por um tecido fibroso resistente e reveste a abóbada cra- niana (o crânio). As artérias meníngeas médias estão localizadas entre o crânio lateral (ossos lemporais) e a dura-máter no espaço epidural. Normalmente a dura-máter está aderida à superfície interna da abó- bada craniana; porém um impacto nesta região de ossos íinos pode produzir fratura do crânio que afeta a artéria, fazendo com que o sangue se acumule neste espaço potencial. Esta lesão é conhecida como hema- Loma epidural. A pia-máter é uma membrana fina que está aderida ao córtex cerebral. Entre a dura-máter e a pia-máter existe a membrana aracnóide, que tem a aparência de uma teia de aranha. Abaixo desta membrana intermediária das meninges situa-se o espaço subaracnoideo, que é preenchido pelo lí- quido cefalorraquidiano (LCR). O LCR, produzi- do no sistema ventricular do cérebro, circunda o encéfalo e a medula espinhal e funciona como um amortecedor dos impactos sobre o encéfalo. O trau- ma fechado do crânio que lesa algumas veias situ- adas entre o encéfalo e os seios sagitais pode levar a hemaloma subdural (coleção de sangue entre a dura-máter e a aracnóide) ou a hemorragia suba- racnoidea (sangramento para espaçoonde circula o LCR). Canal óptico Processo clinóide anterior Fossa hipofisária Forame oval Forame lácero Meato acústico interno Canal do hipoglosso Osso frontal Placa cribiforme Osso esfenóide Osso temporal Osso parietal \ / / ~- Forame magno - Osso occipital Figura 8-1 Vista interna da base do crânio. 2 1 2 ATENDIMENTO PRÉHOSPITALAR AO TRAUMATIZADO Vasos do espaço subaracnóide Crânio Uma membrana funcional Perióstio Dura-máter Membrana aracnóide Espaço epidural Espaço subdural Espaço subaracnóide Pia-máter (aderida diretamente à superfície do encéfalo, não sendo removível) Figura 8-2 Meninges. Coberturas Meníngeas do Encéfalo. O encéfalo ocupa cerca de 80% do espaço intra- craniano e se divide em três segmentos principais - o cérebro, o cerebelo e o tronco cerebral. O cérebro é constituído de dois hemisférios - o direito e o esquer- do - que podem ser subdivididos em vãrios lobos. O cérebro é responsável pelas funçòes sensitivas, moto- ras e inlelectuais superiores, como a inteligência e a memõria. O cerebelo está localizado na fossa posteri- or do crânio, entre o tronco cerebral e o cérebro e coordena o movimento (Quadro 8-1). O tronco cerebral contém a medula, área que controla muitas funções vitais, incluindo a respi- ração e a freqüência cardíaca. Muito do sistema reticular ativador (SRA), região do cérebro respon- sável pelo nível de consciência, também é encon- trado no tronco cerebral. Um trauma fechado pode lesar o SRA, levando à perda temporária da consci- ência. Isto ocorre em doente que sofre concussão cerebral. A tenda do cerebelo, uma porção da dura- máter, situa-se entre o cérebro e o cerebelo e pos- sui uma abertura, a incisura da tenda, no nível do mesencéfalo. Os doze nervos cranianos se originam no cérebro e no tronco cerebral (Figura 8-3). O nervo oculomo- tor, III nervo craniano, controla a constrição da pupi- la e propicia uma ferramenta importante na avalia- ção do doente com suspeita de trauma de crânio. Fisiologia O encéfalo tem a capacidade de auto-regular o fluxo de sangue que recebe quando se encontram estresses fisiológicos. O fluxo sangüíneo cerebral (FSC) per- manece praticamente constante, com discretas alte- rações na pressão sangüínea; no entanto, começa a diminuir quando a pressão arterial média (PAM) cai abaixo de 60 mm Hg. A PAM pode ser calculacla como se segue: PAM = Pressão diastólica + 1/3 Pressão de pulso A pressão de pulso é calculada pela diferença en- tre a pressão sistólica e a pressão diastólica. Por exem- plo, a PAM cle doente com pressão arterial de 120 x 80 mm Hg pode ser calculada da seguinte forma: PAM = 80 + 1/3(120-80) PAM = 93 mm Hg Outro parâmetro fisiológico importante é a pres- são de perfusão cerebral (PPC), que é calculada pela diferença entre a PAM e a pressão intracraniana (PIC). PPC = PAM-PIC CAPÍTULO 8 Trauma C r an i e n c e f á l i c o 2 1 3 Quadro 81 0 Encéfalo Sulco central Anterior Lobo frontal Lobo parietal Lobo occipita: Posterior Sulco lateral Lobo temporal Tronco cerebral Cerebelo Ponte Medula oblonga ou Bulbo CÉREBRO 0 cérebro é dividido em hemisfério direito e esquerdo. 0 hemisfério dominante é aquele que contém o centro da linguagem. Este é o hemisfério esquerdo em todos os indiví- duos destros e em cerca de 85% dos indivíduos canhotos. 0 cérebro é composto porvários lobos: Frontal. Contém os centros da emoção, função motora e expressões da fala no lado dominante. Parietal. Responsável pela função sensitiva e orientação espacial. Temporal. Regula algumas funções da memória; contém a área para recepção e integração da fala em todos os indivíduos destros e na maioria dos canhotos. Occipital. Contém o centro da visão. TRONCO CEREBRAL Mesencéfalo e ponte. Contém o sistema reticular ativador, que é responsável pelo nível de consciência. Medula. Contém o centro de controle cardiorrespiratório. CEREBELO Controla a coordenação e o equilíbrio. A pressão arterial média normal varia de 85 a 95 mm Hg, a pressão inlracraniana é considerada normal abai- xo dos 20 mm Hg. Portanto, a pressão de perfusão cere- bral (PPC) está normalmente entre 70 e 80 mm Hg. A pressão parcial de dióxido de carbono no san- gue arterial (PaCO,) também tem efeitos sobre o FSC. A elevação da PaCO-,, além do seu valor normal que é de 35 a 45 mm Hg, produz dilatação das arteríolas cerebrais (aumentando o FSC), ao passo que a dimi- nuição da PaCO-, produz vasoconstrição cerebral (di- minuindo o FSC). Fisiopatologia A LCT pode ser dividida em duas categorias: 1. Lesão cerébrál prímária (trauma direto no encéfa- lo associado com lcsões vasculares) representado por danos graves às células nervosas (neurõnios) como resullado direto de uma agressão inicial, in- dependente do mecanismo de lesão. Se os danos forem extensos, esses neurônios podem morrer. Acredita-se que os neurônios sejam incapazes de se regenerar. Dependendo da localização, função e número de neurônios lesados, pode ocorrer le- são neurológica permanente se o doente sobrevi- ver ao trauma. 2. Lesão cerebral secundáría refere-se a uma exten- são da magnitude da lesão cerebral primária devi- do a fatores que resultam em déficit neurológico permanente mais extenso. A identificação e o tra- tamento rápido destas condições ajudam a mini- mizar a extensão dos danos neurológicos. As cau- sas da lesão cerebral secundária podem ser dividi- das em sistêmicas e intracranianas. 2 1 4 ATENDIMENTO PRÉHOSPITALAR AO TRAUMATIZADO Nervo óptico (II) Nervo oculomotor (III) Nervo troclear (IV) Nervo trigêmio (V) Nervo abducente (VI) Nervo facial (VII) — Nervo vestibulococlear (VIII) Nervo glossofaríngeo (IX) Nervo vago (X) Bulbo olfatório (entrada dos nervos olfatórios [I]) Cérebro Trato olfatório Quiasma óptico Glândula pituitária Ponte Nervo hipoglosso (XII) Nervo acessório (XI) Medula oblonga Cerebelo Figura 8-3 Porção inferior do encéfalo mostrando a origem dos nervos cranianos. a. Fatores sistèmicos que podem levar à lesão ce- rebral secundária freqüentemente podem ser identificados e tratados no ambiente pré-hos- pitalar. Estes fatores incluem hipóxia, hiper- capnia, hipocapnia, anemia, hipotensão, hiper- glicemia e hipoglicemia. b. Com exceção das convulsões, as causas intra- cranianas de lesão cerebral secundária podem apenas ser suspeitadas, mas não identificadas no local da ocorrência. Exemplos de lesões in- tracranianas que são diagnosticadas no ambi- ente hospitalar são o edema cerebral e os he- matomas intracranianos, ambos podem provo- car aumento da PIC (denominada hipcrtensão ln.tr acr anianá). Causas Sistêmicas HlPÓXlA, HlPOCAPNIA E HlPERCAPNIA Em doente com trauma multissistêmico, a hipóxia pode ser decorrente de várias causas, incluindo a obs- trução da via aérea, aspiração de sangue ou conteúdo gástrico, contusões pulmonares e pneumotórax. Di- ferente do músculo-esquelético que mantém suas fun- ções em ambiente anaeróbio, os neurônios do siste- ma nervoso central dependem de oferta constante de oxigênio. A confusão mental_éjreqüentemente o si~ nal mais precoce de que a oferta de oxigènio para o cérebro está prejudicada. O tecido cerebral isquêmico pode evoluir para morte tecidual mesmo com pequenos períodos de hipóxia, complicando a lesão primária. Lesão cere- bral irreversível ("morte cerebral") pode ocorrer em apenas 4 a 6 minutos de anóxia cerebral. Tanto a hipocapnia (diminuiçâo da PaC02) como a hipercapnia (aumento da PaC02) podem piorar uma lesão encefálica. Quando ocorre constrição dos vasoscerebrais, como resultado de uma hipocapnia signifi- cante, o FSC está compromelido, levando à diminui- ção da oferta de oxigênio para o cérebro. A hipercap- nia pode ser conseqüência de hipoventilação devido à intoxicação por álcool ou drogas ou de um dos muitos padrões anormais de ventilação observados nos doentes com aumento de PIC. A hipercapnia pro- voca vasodilatação cerebral e pode aumentar a PIC ainda mais. ANEMIA E HIPOTENSÃO Doentes com lesão cerebral grave também podem apresentar hemorragia externa e interna decorren- tes de lesões associadas. Se houver perda sangüí- nea significante, a anemia resultante pode prejudi- car gravemente a oferta sistêmica de oxigênio, le- vando a danos irreversíveis do tecido cerebral is- quêmico. Após trauma craniano grave, o encéfalo com fre- qüência perde a capacidade de auto-regular seu FSC que freqüentemente cai para 50% do normal dentro CAPITULO 8 T r a uma C r a n i e n c e f á l i c o 215 de poucas horas. Como já mencionado, os dois fato- res determinantes da perfusão cerebral são a PAM e a PIC. A diminuição da PAM, como ocorre no choque hipovolêmico, pode resultar em diminuição da ofer- ta de oxigênio cerebral, mesmo que a PIC esteja nor- mal. A hipotensão pode ser o resultado direto de le- são encefálica grave e quase sempre ocorre pouco antes da morte. Portanto, quando é identificada hi- potensão em doente com LCT grave, devem ser con- sideradas outras causas não relacionadas com a lesão encefálica, inclusive hemorragia interna ou externa significante e choque neurogênico. HlPOGLICEMIA E HlPERGLICEMIA Tanto a elevação (hiperglicemia) como a diminuição (hipoglicemia) das taxas de glicose no sangue podem ser prejudiciais para o tecido cerebral isquêmico. Os neurônios são incapazes de armazenar glicose e ne- cessitam de suprimento constante para realizar o metabolismo celular. Na ausência de glicose, os neu- rônios isquêmicos podem sofrer lesões definitivas. Níveis elevados de glicose sangüínea em doentes com lesão cerebral traumática têm sido também associa- dos com resukado neurológico ruim. Causas Intracranianas CONVULSÕES Um doente com LCT aguda corre risco de apresentar convulsões por múmeras razões. Hipóxia decorrente de problemas tanto na via aérea como na ventilação pode induzir convulsões generalizadas, assim como a hipoglicemia e as alterações eletrolíticas. O tecido cerebral isquêmico ou lesado pode ser foco irritável e produzir convulsões do tipo grande mal ou estado epiléptico. Convulsões, por sua vez, podem agravar a hipóxia preexistente clecorrente cle dano à função res- piratória. Além disso, atividade cerebral maciça asso- ciada a convulsões generalizadas esgotam rapidamen- te os níveis de oxigênio e glicose, piorando ainda mais a isquemia cerebral. EDEMA CEREBRAL E HEMATOMAS INTRACRANIANOS O edema cerebral freqüentemente ocorre no local da lesão cerebral primária. Fluido intracelular pode se acumular no interior dos neurônios lesados, e a lesão pode levar à liberação de substâncias inflamatórias que permitem que o fluido extravase através das mem- branas capilares, aumentando o fluido intersticial no tecido cerebral. À medida que o edema se desenvol- ve, um ciclo perigoso pode se estabelecer porque o edema prejudica ainda mais o fornecimento de oxi- gênio, comprometendo o tecido isquêmico adjacen- te, resultando em mais edema. Hematomas intracranianos. descritos mais adiante em detalhe, são potencialmente grande ameaça à vida porque ocupam espaço precioso dentro do crânio. O tecido cerebral adjacente pode ser comprimido, agra- vando a isquemia cerebral ou levar ã herniação. Tanto o edema cerebral como o hematoma intracraniano podem resultar em perigosos aumentos da PIC. Além de alteração do nível de consciència. estes problemas podem produzir alterações na função pu- pilar. O edema cerebral ou um hematoma intracrani- ano podem forçar uma porção do lobo temporal (un- cus) do cérebro através da tenda do cerebelo em um processo denominado henüação uncal. Uma pupila dilatada e lentamente reativa é sinal típico de com- pressão do terceiro nervo craniano que cruza a inci- sura tentorial, ao passo que uma pupila dilatada e não reativa sugere herniação uncal do mesmo lado da pupila anormal (Figura 8-4). Após o fechamento das fontanelas, a abóbada cra- niana, na ausência de fraturas de crânio, torna-se uma caixa rígida com apenas uma abertura significante em sua base. Assim, tanto o edema cerebral quanto o hematoma intracraniano podem comprimir o tronco cerebral inferiormente através do forame magno em "»■; ■ '"-.": ' i ' * ' . '/■■ Figura 8-4 Suspei tar de lesão encefãlica sempre que o doente apresentar pupilas de tamanhos diferentes. Cerebelo Forame magno Figura 8-5 O crânio é uma cslrutura óssea grande que aloja o encéfalo. Este não lem como sair do crãnio se ele se expandc devido a edema ou se houver hemorragia intracraniana que o comprime. 216 ATEND IMENTO PRE HOSP I T A LAR AO TRAUMAT I ZADO um processo denominado herniação central. Assim como a herniação uncal, esta ocorrência desastrosa resulta em morte cerebral (Figura 8-5). Hipertensão Intracraniana O aumento da PIC (hipertensão intracraniana) pre- judica significativamente a perfusão cerebral. A dou- trina de Monro-Kellie afirma que o crânio, essencial- mente uma caixa rígida com uma única abertura gran- de no forame magno, contém três elementos - o en- céfalo, o LCR e o sangue (Figura 8-6). Se o volume de um desses componentes aumentar, como ocorre no edema cerebral, o volume dos outros dois deve diminuir porque o volume do conteúdo intracrania- no é fixo. Ocorre diminuição do FSC e o LCR é força- do para a porção inferior do crãnio ao longo da me- dula espinhal. A hipóxia resultante do tecido encefá- lico produz mais edema cerebral, e o ciclo se repete. À medida que a hipóxia do tecido cerebral se ins- tala, são ativaclos reflexos num esforço para manter a oferta de oxigênio para o encéfalo. Para superar o aumento da PIC, o sistema nervoso autònomo é ati- vado para aumentar a pressão sangüínea sistêmica, e em conseqüência a PAM, para manter uma PPC nor- mal. A pressão sistólica pode alcançar valores até 250 mm Hg. Entretanto, assim que os barorreceptores na artéria carótida e no arco aórtico detectam esse au- mento importante na pressão sangüínea, são env - das mensagens ao tronco cerebral para a ativação c: sistema nervoso parassimpático. O sinal é transmit:- do então ao longo do décimo nervo craniano, o nc:- vo vago, para diminuir a freqüência cardíaca. Ofen meno de Cushing se refere a esta combinação ominosi de aumento significativo da pressão sangüínea arte- rial e conseqüente bradicardia que pode ocorrer COH aumento imporlante da PIC. O fluxo de oxigênio para o cérebro é mais adver- samenie afetado quando uma diminuição da PAY ocorre em doente que também apresenta aumento da PIC. Se a PPC se aproxima do zero, o mesmo ocorre com o FSC e a oferta de oxigênio. A menos que esta situação fatal seja rapidamente corrigida, ocorrerão danos permanentes ao encéfalo e conseqüente morte encefálica. A hipertensão intracraniana freqüentemente pro- duz padrão ventilatório anormal ou apnéia que pio- ram ainda mais a hipóxia e alteram significativamen- te os níveis de dióxido de carbono no sangue. A ven- tilação de Cheyne-Stokes é o ciclo repetitivo de respi- rações lentas e superficiais que evoluem para rápidas e profundas e voltam a ser lentas e superficiais. Bre- ves períodos de apnéia poclem ocorrer entre os ci- = Volume arterial Encéfalo LCR Estado normal - PIC normal Volume Volume venoso arterial Encéfalo Massa LCR Estado compensado - PIC normal Volume arterial Encéfalo Massa LCR Estado descompensado - PIC elevadaFigura 8-6 Doutrina de Monro-Kellie: Mecanismo de compensação intracraniana para uma massa em expansão. O volume do espaço intracraniano se maniém constante. Se houver adição de massa, como um hematoma, o resultado será a expulsão de u m volume igual de líquido cefalorraquidiano (LCR) e de sangue venoso fazendo com que a pressão intracraniana (PIC) se mantenha normal. No entanto, quando este mecanismo de compensação se esgotar, ocorrerá aumenlo exponencial da PIC mesmo para um pequeno aumento no volume do hematoma.(De McSwain N. E. Jr., PaturasJ. L: The basic EMT: compréhensive prehospital patient care, 2 ed, St Louis, 2001, Mosby.) CAPÍTULO 8 T r auma C r a n i e n c e f á l i c o 2 1 7 clos. A hiperventílação central neurogênica se refere a consistentes respirações rápidas e profundas e a ven- tilação atáxica se caracteriza por esforço respiratório irregular com ausência de padrão discernível. A fun- ção respiratória espontânea cessa quando ocorre her- niação e morte encefálica. Caracteristicamente, posturas motoras anormais acompanham o aumento da PIC. Na postura de de- corticação o doente apresenta flexão das extremida- des superiores e extensão com rigidez das extremida- des inferiores. Achado mais ominoso é a postura de descerebração na qual ocorre extensão de todas as extremidades, podendo ocorrer também arqueamen- to da coluna. Após a herniação, as extremidades tor- nam-se ílácidas e sem atividade motora. Avaliação ^ ^ Uma rápida avaliação da biomecânica do trauma com- binado com um rápido e eficiente exame primário ajudará a identificar problemas com potencial risco de vida em doente com suspeita de LCT. Biomecânica Como em todas as vítimas de trauma, a avaliação deve incluir considerações sobre o mecanismo da lesão. Devido ao fato de muitos doentes com LCT grave apresentarem alteração do nível de consciência (NC), dados importantes sobre a biomecânica devem ser obtidos por meio da observaçào da cena ou do relato de testemunhas. O pára-brisa do veículo ocupado pela vítima pode apresentar aspecto de "teia de aranha", sugerindo impacto da cabeça da vítima contra ele, ou um objeto sujo de sangue que foi usado como arma em um assalto pode estar presente na cena. Estas in- formações importantes devem ser transmitidas à equi- pe do hospital de destino, pois elas podem ser essen- ciais para o diagnóstico e o tratamento adequados da vítima. Vias Aéreas A permeabilidade das vias aéreas deve ser examina- da. Em doentes inconscientes, a língua pode obstruir completamente a via aérea. Ruídos ventilatórios in- dicam obstrução parcial que pode ser provocada pela língua ou por um corpo estranho. Vômito, sangra- mento e edema decorrente de trauma facial compro- metem a via aérea de um doente com LCT. Respiração A avaliaçào da função respiratória deve incluir a ob- servação da freqüência venlilatória, profundidade e eficiência da respiração. Como já mencionado, alguns padrões respiratórios anormais podem resultar de trauma craniano grave. Em vítimas de trauma mul- tissistêmico, lesões torácicas podem comprometer tanto a ventilação quanto a oxigenação. Fraturas da coluna cervical ocorrem em cerca de 2% a 5% dos cloentes com LCT e podem interferir significativamen- te na ventilação. A oximetria de pulso e a monitora- ção da curva de CO,, se disponível, devem ser utili- zadas durante o transporte, pois podem fornecer in- formações valiosas para direcionar posterior avalia- ção e tratamento do doente. Circulação O socorrista deve, se possível, observar e quantifi- car a presença de sangramento externo evidente. Na ausência de perda sangüínea externa significante. a presença de pulso rápido e fraco em vítima de trau- ma fechado sugere hemorragia, com risco para a vida. para o espaço pleural, peritõneo, retroperitôneo, ou em tecidos moles adjacentes a fraturas de ossos lon- gos. Em criança que ainda apresente as fontanelas abertas, pode ocorrer perda sangüínea para o interi- or do crânio suficiente para produzir choque hipo- volêmico. Um pulso lento e forte pode resultar de hipertensão intracraniana e indica uma herniação iminente (fenômeno de Cushing). Em doente com lesões de risco para a vida, o transporte não deve ser retardado para realizar aferição da pressão arterial, mas esta deve ser realizada durante o transporte as- sim que possível. Incapacidade Avaliação Neurológica Durante o exame primário e após ter iniciado as me- clidas apropriadas para tratar as alterações identifica- das nas vias aéreas, na respiração e na circulação. deve ser calculacla a linha basal do escore da Escala de Coma de Glasgow para avaliação mais precisa do ní- vel de consciência do doente (Tabela 8-1). Como des- crito no Capítulo 3, o escore da Escala de Coma de Glasgow é calculado usando-se a melhor resposta do doenle quanto a aberlura ocular, resposta verbal e resposta motora. Se o doente não apresentar abertura ocular espontãnea, deve ser usado um comando ver- bal (por exemplo: "Abra seus olhos!"). Se não res- ponder ao comando verbal, deve ser aplicado um es- tímulo doloroso como exercer pressão no leito un- gueal com uma caneta ou apertando a dobra da re- gião axilar anterior. A resposta verbal do doente pode ser avaliada usando questões como "O que aconteceu com você?". Se plenamente orientado, o doente irá for- necer uma resposta coerente. Ao contrário, a res- posta verbal pocle ser considerada como confusa, inapropriada, ininteligível ou ausente. Se o doente 218 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMATIZADO [ j?>t I.? T T T ^ ^ ^ C ■I^^^^B ABERTURA OGULAR Abertura ocular espontânea Abertura ocular à voz Abertura ocular à dor Sem abertura ocular MELHORRESPOSTAVERBAL Resposta apropriada (orientado) Respostas confusas Resposta inapropriada Sons ininteligíveis Sem resposta verbal MELHORRESPOSTAMOTORA Obedece comando Localiza estímulo doloroso Retirada à dor Flexão anormal ao estímulo doloroso (decortícação) Responde com extensão anormal a estímulos dolorosos (descerebração) Sem resposta motora Observe que o escore mais baixo possível é 3 e o mais alto possível é 15. 4 3 2 1 5 4 3 2 1 6 5 4 3 2 1 estiver intubado, o escore é calculado apenas pela aberLura ocular e resposLa motora e a letra "T" é acrescentada ao valor desLe escore, para relatar a impossibilidade de avaliar a resposta verbal, como, por exemplo, "8T". O último componente da Escala de Coma de Glasgow é a resposLa molora. Um comando simples e claro deve ser daclo ao doenLe, tal como "Levante dois dedos!" ou "Faça um sinal de positivo!". O doente que aperta o dedo do socorrista pode apenas estar demonsLrando um reflexo em vez de respon- der propositadamente ao comando. Deve ser empre- gado um estímulo doloroso se o doente não respon- deu ao comando e a melhor resposta motora deve ser registrada. Devemos considerar que um doenLe está localizando o estímulo doloroso quando ele ten- ta reLirar o estímulo. OuLras resposLas possíveis ao estímulo doloroso incluem retirada ao estímulo, íle- xão anormal (decorticação) ou extensão anormal (descerebração) clas exLremidades superiores, ou ausência de função motora. Se no exame primário for identificado nível de consciência rebaixado, as pupilas devem ser exami- nadas rapidamente quanto à simetria e resposta ac estímulo luminoso. Diferença maior que 1 mm no tamanho das pupilas é considerado anormal. Peque- na porcentagem da população apresenta anisocoria. pupilas de tamanhos diferentes, que pode ser tantc de causa congênila como adquirida por trauma ocu- lar. No enLanto, quando a anisocoria esLá presente, as duas pupilas serão igualmente reativas. Exposição/Ambiente Doentes que sofrem LCT freqüenLementeapresenlam outras lesões, portanto todo o corpo da vítima deve ser examinado em busca de lesões graves com risco para a vida. Exame Secundário (Hisíórico e Exame Físico Direcionado) Assim que as lesões com risco de vida tenham sido identificadas e tratadas, um exame secundário com- pleto deve ser realizado se as condições da vítima e o tempo permitirem. A cabeça e a face do doente de- vem ser palpadas cuidadosamente à procura de feri- mentos, depressões ou crepitações. A saída de fluido claro pelo nariz ou pelo ouvido pode ser LCR. Quan- do colocado em chumaço de gaze ou tecido o LCR, pode se separar do sangue, produzindo "halo" ama- relado característico. O tamanho e a resposta pupilar devem ser reavaliados neste momento. Devido à in- cidência de fraturas da coluna cervical em doentes com LCT, o pescoço deve ser examinado para identi- ficar dor e deformidades ósseas. Em doente cooperativo, deve ser realizado um exame neurológico mais detalhado, avaliando a fun- ção motora e sensitiva em todos os membros. Défi- cits neurológicos, como hemiparesia (diminuição da força muscular) ou hemiplegia (paralisia), podem estar presentes em apenas um lado do corpo. Estes "sinais de laieralizaçào" são indicadores de LCT, ao passo que déficits neurológicos bilaterais, como pa- raplegia, são mais consisLenLes com lesão medular. Histórico O socorrisLa deve obLer informações AMPLA do doen- te, dos familiares ou de LesLemunhas. Doenças como diabetes mellitus ou distúrbios convulsivos e intoxi- cações por drogas ou álcool podem imitar uma LCT. Qualquer evidência do uso ou overdose de droga deve ser relatado. O doente pode ter um histórico de Lrau- ma craniano prévio e pode queixar-se de dor de cabe- ça recorrente ou persistenLe, disLúrbios visuais, náu- seas e vômiios ou dificuldade de fala. CAPÍTULO 8 T rauma C r a n i e n c e f á l i c o 2 1 9 Exames Seriados Cerca de 3% dos doentes com trauma de crânio leve (escore na Escala de Coma de Glasgow = 14-15) poclem sofrer inesperada deterioração do seu nível de consciência. Durante o transporte, o exame pri- mário e a avaliação do escore na Escala de Coma de Glasgow devem ser repetidas em intervalos fre- qüentes. Doentes com trauma craniano grave po- dem deteriorar rapidamente, por isso variações no escore da Escala cle Coma de Glasgow ou nos si- nais vitais devem ser relatadas para a equipe do hospital de destino e documentadas na ficha do doente. Respostas ao tratamento realizado também devem ser registradas. Condíções Específicas de Trauma Craniano Concussão Cerebral A concussão cerebrai pode ser considerada como uma "sacudida" no cérebro. O diagnóstico cle concussão é feito quando o doente que soíreu trauma apresenta alterações na função neurológica, mais comumente perda de consciência, não sendo identiíicada nenhu- ma lesão intracraniana ao realizar tomografia com- putadorizada. Outros achados neurológicos incluem déficits cle memória, amnésia retrógrada (incapaci- dade de lembrar os eventos antes do trauma) e amné- sia anterógrada (dificuldade de lembrar de detalhes após ter recobrado a consciência). Este curto período de perda de memória freqüentemente provoca ansie- dade e faz com que o doente faça perguntas repetiti- vas. Fortes dores de cabeça, tonturas, náuseas e vô- milos acompanham a concussão. Embora muitos des- ses achados tenham duração de algumas horas a pou- cos dias, alguns doentes podem apresentar síndrome pós-concussiva com dores de cabeça, tontura e difi- culdade de concentração por semanas e até meses após concussão mais grave. Fraturas de Crânio As fraturas de crânio podem resultar tanto de trauma fechado como de trauma penetrante. Fraturas linea- res correspondem a cerca de 80% das fraturas de crâ- nio; entretanto um lorte impacto pode produzir uma fratura com afundamento de crânio na qual fragmen- tos ósseos são dirigidos para ou penetram no tecido cerebral subjacenle (Figura 8-7). Embora fraturas li- neares simples possam ser diagnosticadas somente por meio de estudo radiológico, fraturas com afundamen- to poclem ser palpadas durante cuidadoso exame físi- co. Fratura de crânio fechada e sem afundamento por si só é de pouco significado clínico. mas a sua pre- sença aumenta muito o risco de hematoma intracra- niano. Fraturas expostas de crânio podem resultar de impacto particularmente forte ou ferimento por arma de fogo e servem como porta de entrada para bactéri- as, predispondo o doente a meningite. Se a dura-má- ter estiver lesacla, o tecido cerebral ou LCR podem extravasar pela fratura exposta do crânio. Deve-se suspeitar cle fraturas de base do crânio se houver drenagem de LCR pelo nariz ou ouvidos. Eo^uimose periorbitaL muitas vezes referida como "olhos de guaxinin", e o sinal de Battle, em que se observa p_quirn_ose. na região retroauricular sobre o maslúide, freqüentemente estão presentes quando ocorrem fraturas da base do crãnio, embora estes sinais demorem algumas horas após a lesão para se tornar aparentes. Figura 8-7 Uma fratura com afundamento de crânio pode deslocar fragmentos ósseos para dentro do tecido encefálico. 2 2 0 ATENDIMENTO PRÉHOSP ITALAR AO TRAUMATIZADO Hematoma Intracraniano Os hematomas intracranianos são divididos em três tipos - epidural, subdural e intracerebral. Por apre- sentarem sinais e sintomas que se sobrepõem, o diag- nóstico preciso no ambiente pré-hospitalar é quase impossível, embora o socorrista possa suspeitar de hematoma epidural baseado nas características clíni- cas apresentadas. Mesmo assim, um diagnóstico de- finitivo apenas pode ser feito após a realização de to- mografia computadorizada no hospital de destino. Como esses hematomas ocupam espaço dentro do crânio que é rígido, podem produzir rápido aumento da PIC, especialmente se forem volumosos. HEMATOMA EPIDURAL Os hematomas epidurais são responsáveis por cerca de 2% das LCTs que requerem hospitalização e têm taxa de mortalidade de cerca de 20%. Estes hematomas freqüen- temente resultam de impactos de baixa velocidade no osso temporal, como um golpe por um soco ou uma bola de beisebol. A fratura desse osso pouco espesso lesa a artéria meníngea média, resultando em sangra- mento arterial que se acumula entre o crãnio e a dura- máter (Figura 8-8). A história clássica de hematoma epidural é de um doente que apresentou um período Dura-máter Hematoma epidural comprimindo o cérebro Figura 8-8 A, Hematoma epidural. B, Tomografia computac anâ neurosurgicál emergencies, Filadélfia, 1998, W. B. Saunders. curto de perda de consciência, recobrou a consciência e posteriormente evoluiu com rápido rebaixamento dc nível de consciência. Durante o período de consciência. chamado intervalo lúcido, o doente pode estar orienta- do ou letárgico e queixar-se de dor de cabeça. À medida que piora o nível de consciência do doen- te, o exame pode revelar uma pupila dilatada com reflexo lento ou não reativa do mesmo lado do im- pacto (lado ipsilateral). Corao os nervos motores cru- zam-se na medula espinhal, ocorre hemiparesia ou hemiplegia do lado oposto ao do impacto (Iado con- tralateral). Se o hematoma for identificado precoce- mente e o doente receber pronto tratamento neuroci- rúrgico, o prognóstico é excelente, pois o doente em geral nào tem lesão cerebral grave subjacente. HEMATOMA SUBDURAL Hematomas subdurais são responsáveis por cerca de 30% dos traumas de crânio graves. Além de serem mais comuns que os hematomas epidurais, eles tam- bém diferem quanto à etiologia, localização e prog- nóstico. Ao contrário do sangramenlo arterial que produz o hematoma epidural, o hematoma subdura. geralmente resulta de sangramento venoso, pela le- são das veias ponte que ocupam o espaço subdural. irizada (TC) de hematoma epidural. (B de Cruz J.: NeurologicCAPÍTULO 8 T r auma C r a n i e n c e f á l i c o 221 Dura-máter Hematoma subdural Figura 8-9 A, Hematoma subdural. B, Tomografia computadorizada (TC) de hematoma subdural. and neurosurgical emergencies, Filadélfia, 1998, W. B. Saunders.) de Cruz J.: \'cuwlogic durante um impacto violento na cabeça. Neste caso, o sangue irá se acumular no espaço subdural, entre a dura-máter e aracnóide (Figura 8-9). Déficits neuro- lógicos focais podem aparecer imediatamente após o trauma, ou os sinais podem demorar dias ou até me- ses para se apresentar. Os hematomas subdurais são classificados em três tipos dependendo do tempo de manifestação das alterações neurológicas: 1. No hematoma subdurál agudo, os déficits neuroló- gicos podem ser identificados dentro de 72 horas após o trauma e, em geral, antes disso. O doente normalmente apresenta um histórico de trauma provocado por um mecanismo de alta velocidade, como um acidente automobilístico ou uma agres- são com objeto rígido. Como uma lesão cerebral significante está freqüentemente associada com esta condição, a taxa de mortalidade varia de 50% a 60%, mesmo quando o diagnóstico e a drena- gem cirúrgica são realizados com rapidez. 2. HemaLoma subdurais subagudos se desenvolvem mais gradualmente com o aparecimento dos si- nais e sintomas ocorrendo no período de 3 a 21 dias. Devido ao acúmulo de sangue mais lento e uma lesão cerebral menos extensa, os hematomas subdurais subagudos apresentam taxa de mortali- dade em torno de 25%. 3. Os hematomas subdurais crônicos podem apresen- tar manifestações neurológicas meses após um trauma craniano aparentemente de pouca impor- tância. Esta condição geralmente ocorre em do- entes alcoólatras crônicos que estão propensos a quedas freqüentes e têm taxa de mortalidade em torno de 50%. Além das alterações do nível de consciência, acha- dos neurológicos específicos podem variar dependen- do da localização do hematoma; no entanto, o doen- te, ou seus familiares, pode relatar queixas de dor de cabeça, distúrbios visuais, alteração da personalida- de, dificuldades de fala (disartria) e hemiparesia ou hemiplegia. HEMATOMA INTRACEREBRAL Lesão de vasos sangüíneos intracerebrais pode pro- duzir hematoma intracerebral ou contusão cerebral. São de ocorrência bastante comum, acontecendo em cerca de 20% a 30% das lesões cerebrais graves. Em- bora essas lesões sejam resultado de um trauma fe- chado, elas podem também ser decorrentes de trau- ma penetrante como ferimento no cérebro por arma de fogo. No trauma fechado, as contusões cerebrais podem ser numerosas. Um hematoma geralmente ocorre no local do impacto quando o cérebro colide com a superfície interna do crânio (lesão de "gol- pe"), e uma segunda lesão pode ocorrer no local oposto ao ponto de impacto quando houver cisa- lhamento entre o cérebro e a caixa craniana (lesão de "contragolpe"). Estes hematomas podem aumen- tar após o trauma e desencadear convulsões e au- 2 2 2 ATENDIMENTO PRÉ HOSP ITALAR AO TRAUMATIZADO menlos importantes da PIC. Os achados neurológi- cos específicos dependem da localização e da ex- tensão do hematoma. Tratamento O tratamento adequado de um doente com LCT começa com intervenções que obedecem uma se- qüência priorizando o tratamento de lesões que comprometam a vida identificadas no exame pri- mário. Uma vez tratadas as alterações, o doente deve ser rapidamente imobilizado e transportado para o hospital mais próximo com recursos para atender casos com LCT. Vias Aéreas Doentes com rebaixamento do nível de consciência podem ser incapazes de proteger sua via aérea. Um estudo retrospectivo tem documentado diminuição da taxa de mortalidade em doentes com LCT que foram submetidos a intubação traqueal no atendimento pré- hospitalar. Assim todos os doentes com LCT grave (es- core da Escala de Coma de Glasgow 8 ou menos) são candidatos a intubação traqueal, embora isto possa ser desafiador quando se trata de doentes agressivos, quan- do cerram os músculos da mandíbula (trismo), na pre- sença de vômitos, e devido à necessidade de manter a coluna cervical do doente alinhada e imobilizada. O uso de agentes bloqueadores neuromusculares (cura- rizantes) como parte do protocolo da seqüência de in- tubação rápida pode facilitar o procedimento de intu- bação. Com base em estudos com animais, uma dose intravenosa de liclocaína (1 mg/kg) pode evitar o au- mento da PIC durante a intubação. A intubação naso- traqueal às cegas pode ser uma técnica alternativa, mas a presença de trauma na região medial da face é con- tra-indicação relativa para realização deste procedimen- to. O equipamento de aspiração deve estar próximo e pronto para uso. Se não houver sucesso na tentativa de intubação, deve-se evitar laringoscopias prolonga- das, principalmente se o tempo de transporte for cur- to. O uso de cânula orofaríngea e ventilação com más- cara facial, associada a balão dotado de válvula unidi- recional ou ventilação transtraqueal percutânea, são alternativas possíveis. Respiração Todos os doentes com suspeita de LCT devem rece- ber oxigênio suplementar. O uso de oximetria de pulso é de extrema importância, pois a hipóxia pode piorar o quadro neurológico. A concentração de oxigênio pode ser titulada quando se usa a oximetria de pulso; no entanto, a saturação de oxigênio (SaO,) deve ser mantida em 95% ou mais. Se a oximetria de pulsc não está disponível, o oxigênio deve ser fornec:. por máscara facial unidirecional para os doentes que apresentam respiração espontânea. Para os doentó intubados, deve ser manticla a concentração cle ox:- gênio de 100% (FiO, de 1,0) com uso de máscara facial associada a balão dotado de válvula unidirecic - nal. Se persistir a hipóxia mesmo com a oferta ât oxigênio, o socorrista deve tentar identificar e tratar todas as prováveis etiologias, incluindo aspiração ( pneumotórax hipertensivo. Uso de válvulas de pres- são expiratória final positiva (PEEP) pode ser consi- derado para melhorar a oxigenação, no entanto, ni- veis de PEEP maiores clo que 15 cm H20 podem pro- duzir aumento da PIC. Como a hipocapnia e a hipercapnia podem agra- var a lesão cerebral, pode ser considerada a monito- ração da concentração de CO, (ITCO, ou capnogra- fia), com valores aceitáveis da ITCO, variando de 30 a 35 mm Hg. Se a capnografia não esliver disponível. o socorrista deve manter taxas normais de ventüação quando o doente com LCT estiver sob ventilação as- sistida - 10 respirações por minuto (RPM) para adul- tos, 20 RPM para crianças e 25 RPM para bebês. Hi- perventilação muito agressiva produz vasoconstrição cerebral que, por sua vez, leva à diminuição da oferta de oxigênio para o cérebro. Tem sido demonstrado que hiperventilação pwjilática de rotina piora o qua- dro neurológico e não deve ser utilizada. Circulação Tanto a anemia quanto a hipotensão são causas im- portanles de lesão cerebral secundária, portanto de- vem-se prevenir e tratar estas condições. O controle da hemorragia é essencial. Pressão direta sobre o lo- cal ou curativos compressivos devem ser aplicados em qualquer hemorragia externa. Ferimentos com- plexos no couro cabeludo podem produzir sangra- mento externo signiíicativo. Alguns chumaços de gaze colocados sobre o local e fixados com banda- gem elástica tornam-se um curativo compressivo efetivo para controlar o sangramento; no entanto, esta compressão não deve ser aplicada em fraturas abertas ou com afundamento de crânio a menos que haja hemorragia significante, porque a compressão pode agravar a lesão cerebral e levar a aumento da PIC. Uma discreta pressão direta sobre o ferimenlo também pode limitar o tamanho de hematomas ex- tracranianos (couro cabeludo). Manejo delicado e imobilização em prancha longa, mantendo alinha- mento anatômico, podeminimizar a perda sangüí- nea intersticial no local da fratura. Como a hipotensão piora ainda mais a isque- mia cerebral, devem-se adotar medidas-padrão para CAPÍTULO 8 T rauma C r a n i e n c e f á l i c o 2 2 3 Transporte combater o quadro de choque. Em doentes com lesão cerebral traumática, a combinação de hipó- xia e hipotensão está associada com taxa de morta- lidade de cerca de 75%. Na presença de choque e suspeila de sangramento interno importante, o transporte rápido para um centro de trauma tem prioridade com relação à lesão cerebral. O choque hipovolêmico e o neurogênico devem ser tratados por reanimação com soluções cristalóides isotôni- cas; no entanto o transporte não deve ser retarda- do para que se estabeleça um acesso venoso. Em- bora a avaliação do volume sangüíneo seja muito difícil no ambiente pré-hospitalar, o socorrista deve fazer com que o doente retorne ao estado de volu- me circulatório normal (euvolemia). Para preser- var a perfusão cerebral, devem-se utilizar recursos para manter pressão sangüínea sistólica de pelo menos 90 a 100 mm Hg; entretanto a reposição vo- lêmica excessiva pode levar a sangramento interno descontrolado, aumento do edema cerebral e da PIC. Para doentes adultos com LCT e sinais vitais normais, sem suspeita de outras lesões, devem-se administrar fluidos intravenosos em velocidade não maior que 125 mL/h, e ajuste se surgirem sinais de choque. Se houver indicação, de acordo com as le- sões apresentadas pelo doente como suspeita de uma grave fratura de bacia, pode-se aplicar o PASG calça pneumática antichoque). Incapacidade Estado Neurológico Intervenções neurocirúrgicas para inserir dispo- >itivos para monitoração da PIC ou drenagem de hematomas intracranianos não são realizadas no .uendimento pré-hospitalar. Como tem sido enfa- tizado, o tratamento pré-hospitalar da lesão cere- bral traumática consiste primariamente em medi- das que visam reverter e prevenir fatores que cau- sem uma lesão cerebral secundária. Convulsões prolongadas ou de grande mal e múltiplas podem ser tratadas com a administração de benzodiaze- pínico intravenoso, como diazepam, lorazepam ou midazolam. Estas drogas devem ser tituladas com cautela, pois podem provocar hipotensão e depres- são respiratória. Devido a incidência significativa de fraturas da co- .una cervical, doentes com suspeila de lesào cerebral traumãtica devem ter a coluna imobilizada. Deve ha- ver muita cautela ao aplicar o colar cervical em víti- ma com LCT. Algumas evidências sugerem que man- ter o colar cervical firmemente ajustado pode impe- dir o retorno venoso da região cefálica, assim levan- do a aumento da PIC. A colocação do colar cervical não é obrigatória clesde que se mantenha imobiliza- feão adequada da coluna cervical. Para que se alcance o melhor resultado possível. do- entes com LCT moderada e grave devem ser trans- portados diretamenle ao serviço hospitalar (centro de trauma) com recursos de tomografia computadoriza- da e equipe de neurocirurgia disponível no plantão. Se estes serviços não estiverem disponíveis. deve-se considerar o uso de transporte aeromédico da cena até um centro de trauma adequado. Freqüência cardíaca, pressão arterial, SaCO, e Esca- la de Coma de Glasgow do doente devem ser reavalia- dos e anotados em prontuário a cada 5 ou 10 minutos durante o transporte. Vãlvulas de PEEP podem ser uti- lizadas se houver persistência de hipóxia, desde que seu uso seja cauteloso, pois níveis de PEEP maiores que 15 cm H,0 podem aumentar a PIC. Deve-se preservar o calor do corpo do doente durante o transporte. Existem controvérsias a respeito da melhor posi- ção de um doente com LCT. Em geral, os doentes com LCT devem ser transportados em posição supina pela presença de outras lesões. Embora a elevação da cabe- ceira da maca ou da prancha longa (posição de Tren- delenburg reversa) possa diminuir a PIC, a pressão de perfusão cerebral pode também ser prejuclicada, espe- cialmente se a cabeça for elevada em mais de 30°. O hospital de destino deve ser comunicado, o mais rápido possível, para que os recursos necessários já es- tejam disponibilizados no momento da chegada do doente. A comunicação por rádio deve incluir infor- mações sobre o mecanismo de trauma, o escore na Es- cala de Coma de Glasgow inicial, sinais vitais, outras iesões de gravidade e a resposta ao tratamento inicial. Transporte Prolongado ou Retardado Quando houver demora para o transporte ou o tem- po de transporte até o hospital adequado for pro- longado, o socorrista pode considerar opções adi- cionais de condula. Para doentes com escore na Es- cala de Coma de Glasgow anormal, os níveis de gli- cose no sangue devem ser verificados. Se o doente estiver com hipoglicemia pode-se administrar solu- ção de glicose a 50% até que os níveis de glicose retornem ao normal. O tratamento adequado da hipertensão intracra- niana no ambiente pré-hospitalar é um grande de- safio, pois não é possível a monitoração da PIC na cena a menos que se trate de uma transferência in- ter-hospitalar e lenha sido colocado monitor de PIC ou rcalizacla ventriculostomia no hospital de ori- gem. Embora rebaixamento do escore na Escala de Coma de Glasgow possa bem representar aumenlo da PIC, também pode ser o resultaclo de piora da perfusão cerebral em decorrência de choque hipo- 224 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMATIZADO volêmico. Sinais de alerta de possível aumento da PIC e de herniação incluem: Perda cle 2 pontos ou mais na Escala de Coma de Glasgow Pupilas não reativas ou lentas Desenvolvimento de hemiplegia ou hemiparesia Fenômeno de Cushing A decisão de intervir e tratar o aumento da PIC deve estar baseada em protocolos, ou por meio de consulta e aulorização do médico no hospital de des- tino. As opções de tratamento temporário possíveis incluem sedação, paralisia química, terapia osmótica (uso de agentes osmoticamente ativos que podem auxiliar no tratamento da hipertensão intracraniana) e hiperventilação controlada. Pequenas doses de se- dativos benzodiazepínicos devem ser tituladas cui- dadosamente por causa dos efeitos colaterais, como hipotensão e depressão respiratória. O uso de agente bloc[ueador neuromuscular de ação prolongada, como o vecurônio, deve ser considerado se o doente estiver intubado. Se o colar cervical estiver muito apertado. pode ser afrouxado um pouco ou removido, desde que se mantenha a imobilizaçãp_da_cabeça e do pes- coço com uso cle otttros dispositivos, A terapia osmótica com manitol (0,25 a 1 g/kg) pode ser administrada por via endovenosa. No en- tanto, o aumento da diurese pode Ievar à hipovole- mia que pode piorar ainda mais a perfusão cerebral. Furosemida pode ser administrada, em doses de 0,3 a 0,5 mg/kg, associada ao manitol para casos de hi- pertensão intracraniana grave. Se for usado agente osmótico, o doente deve ser mantido em estado volê- mico normal. Discreta hiperventilação terapêutica controlada pode ser utilizada quando houver sinais óbvios de herniação. Se a capnografia estiver disponível, pode- Morte Encefálica e Doação de Órgãos 0 diagnóstico de "morte encefálica" é feito quando nãc existir nenhuma esperança de recuperação da função ce- rebral. Para que um doente seja considerado com "morte encefálica" deve-se obedecer quatro critérios: escore na Escala de Coma de Glasgow de 3, pupilas não reativas. ausência de atividade ventilatória espontânea e ausência de reflexos de tronco cerebral, como o reflexo córneo ou óculo-cefálico. Alguns testes adicionais que podem ser utilizados para determinar a morte encefálica incluem ausência de atividade no eletroencefalograma (EEG), au- sência de evidência de fluxo sangüíneo cerebral (FSC) após estudo adequado, e PIC que exceda a PAMpor mais de 1 hora. Para documentar a morte encefálica, estes achados devem ser identificados em ausência de hipotermia e in- toxicação por drogas ou álcool. Vítimas de lesão cerebral traumática que evoluem para morte encefálica são fonte importante de órgãos para trans- plantes. Em 1999, LCT foi a causa de morte encefálica em mais de 40% dos indivíduos dos quais foram obtidos órgãos, com a maioria dos órgãos provindos de doentes entre 18 e 49 anos. Apesar da presença de lesão encefálica fatal, coração, pulmões, fígado, rins, pâncreas e córneas podem beneficiar pessoas com doenças crônicas. se manter hiperventilação com ITC02 de 25 a 30 mm Hg. Do contrário o socorrista deve manter uma fre- qüência ventilatória de 20 RPM para adultos, 30 RPM para crianças e 35 por RPM para bebês. Esteróides não têm demonstrado melhoras no quadro de doen- tes com lesão cerebral traumática e não devem ser utilizados. A híperventilação profílática não tem papel nas LCTs, e a hiperventilação terapéutíca, se utílizada. deve ser interrompida se desaparecerem os sinais de hi- pertensão intracraniana. CAPÍTULO 8 Trauma Craniencefálico 225 TRATAMENTO DA SUSPEITA DE LESÃO CEREBRAL TRAUMÁTICA Suspeita de LCT i Sim *— + Realize intubação endotraqueal1 -Escore de Glasgow < 8 Não \ »- Aplique oxigênio Mantenha Sao2 > 95% I ^ Ventilação assistida Mantenha ETco2 30-35 mm Hg 2 \ Controle da hemorragia externa Iniciar transporte3 \ Reanimação volêmica Mantenha euvolemia I Trate as convulsões4 \ Verifique nível de glicose do sangue Sinais de aumento da PIC?5 — \ Não Notas: 1 Ver algoritmo do Tratamento das Vias Aéreas. 2Se ITC02 não estiver disponível, ventile com as seguintes freqüências: adultos 10/min, crianças 20/min, bebês 25'min. 3lnstalações ideais devem ter cobertura neurocirúrgica eTC em funcionamento. 4Use benzodiazepina titulada intravenosa. 5Sinais de possível aumento da PIC: diminuição de 2 pontos ou mais do escore de Glasgow, pupila lenta ou não reativa. desenvolvimento de hemiplegia ou hemiparesia, ou fenômeno de Cushing. 6Pequenas doses de benzodiazepina titulada intravenosa. 7Considere agente bloqueador neuromuscular de longa duração (vecurônio). 8Considere manitol (0,25 a 1 g/kg). 9ITC02 25-30 mm Hg; se não estiver disponível, ventile nestas freqüências: adultos 20/min, crianças 30/min, bebês 35/min. *■ Sim { Opções: Retire colar cervical Sedação6 Paralisia7 Terapia osmótica8 Hiperventilação controlada discretas Continue o transporte -« 226 ATEND IMENTO PRÉ HOSP I TALAR AO TRAUMAT IZADO Resumo Trauma craniencefálico é motivo comum para admis- são em serviços de emergência. Grande parte destes doentes tem LCT. Nestes, em 10% das vezes a gravi- dade da lesão primária é incompatível com reanima- ção. Para o restante dos doentes com LCT, um trata- mento agressivo para manter a perfusão cerebral e a prevenção da lesão cerebral secundária pode fazer a diferença quanto à morbidade e mortalidade por LCT. Dois dos objetivos mais importantes no tratamento precoce de LCT são o tratamento da ventilação e a manutenção da pressão da perfusão cerebral, que podem ser cuidados ambos até certo grau no ambiente pré-hospitalar a caminho do tratamento definitivo. Portanto o papel do socorrista é significativo no tra- lamento do doente com LCT. A gravidade da LCT pode não ser imediatamente aparente; portanto o socorrista deve manter alto ín- dice de suspeita baseado no mecanismo do trauma e precisa realizar avaliações neurológicas seriadas do doente, inclusive escores da Escala de Coma de Glas- gow e resposta pupilar. Não raramente LCT é conco- mitante com trauma multissistêmico, assim o socor- rista precisa cuidar de todos os problemas de acordo com a prioridade adequada. São prioridades no cui- dado ao doente não somente as vias aéreas, respira- ção e circulação, mas estas são especialmente impor- tantes no tratamento de LCT para prevenir lesão ce- rebral secundária. O socorrista atinge os objetivos no tralamento pre- hospitalar imediato do doente com LCT a curto pra- zo controlando hemorragia devida a outras lesões. mantendo pressão sistólica de pelo menos 90 a 1(X mm Hg, oferecendo oxigenação para manter Sa02 de pelo menos 95% e oferecendo ventilação bem con- trolada para manter ITC02 de 30 a 35 mm Hg. Quan- do o transporte para um hospital apropriado é pro- longado, o socorrista procura alcançar estes objeti- vos mais agressivamente usando sedação, paralisia química, terapia osmótica e hiperventilação contro- lada. O socorrista não tem somente papel importante no tratamento pré-hospitalar do doenle com LCT, ele tem iníluência no tratamento pré-hospitalar ao sele- cionar o hospilal apropriado para onde transportar o doente. Pelo menos tão importante para o tratamen- to do doente e decisões quanto ao transporte é a ne- cessidade de o socorrista desempenhar um papel de destaque na prevenção de LCT por meio de esforços junto ao doente e de educação pública. CAPITULO 8 T r a uma C r a n i e n c e f á l i c o 227 H H H H H H H M H O rebaixamento rápido do escore na Escala de Coma de Glasgow neste doente é muito preo- cupante, portanto você deve transportar rapi- damente o doente para um hospital com servi- ço de neurocirurgia, logo após completar a imobilização da coluna. Como este doente apre- sentou um intervalo lúcido devemos suspeitar de hematoma epidural. O exame dos olhos poderá revelar pupila dilatada e com reflexo len- tificado do lado direito, e perda da força ou pa- ralisia pode se desenvolver do lado esquerdo do corpo. Uma tomografia computadorizada no hospital de destino pode confirmar o diag- nóstico. A caminho do hospital, você deve reavaliar as vias aéreas e a respiração e monitorar com oximetria de pulso. Se a saturação de 0 7 esti- ver menor que 95%, é preciso fornecer oxigê- nio suplemeniar e assistência ventilatória com máscara facial associada a balão dotado de vál- vula unidirecional. Além disso, de acordo com o mecanismo de trauma, você deve suspeitar de pneumotórax. Se o escore na Escala de Coma de Glasgow continuar piorando, você deve pen- sar em intubação traqueal para este doente pre- ferencialmente usando a técnica de seqüência rápida. Você deve reavaliar o ferimento do cou- ro cabeludo para certificar-se de que o sangra- mento esteja controlado adequadamente e pro- videnciar dois acessos venosos calibrosos. Você deve medir os sinais vitais do doente. A discre- ta taquicardia pode ser indicadora de choque compensado por hemorragia intra-abdominal possivelmente por lesão de baço ou fígado ou sangramento retroperitoneal por fratura pélvi- ca. Você deve realizar um exame secundário completo para excluir outras lesões e determi- nar a glicemia do doente. Durante o transporte você deve reavaliar freqüentemente a abertura das vias aéreas, medir os sinais vitais, verificar o escore na Escala de Coma de Glasgow e a resposta pupilar. O hospital de destino deve ser comunicado das condições do doente e alerta- do se ocorrer alguma alteração importante. Se o transporte para o hospital adequado for prolongado e a condição neurológica do doen- te continuar se agravando, você deve tomar outras medidas. Após a intubação traqueal, deve administrar via IV, cautelosamente, seda- ção com benzodiazepínicos titulados. Consi- derar o uso de dose de manitol assim como hi- perventilação controlada. Quando associado com uma intervenção neurocirúrgica apropri- ada, o atendimento pré-hospitalar adequado pode melhorar o prognóstico de doentes com lesão cerebral de moderada a grave. 2 2 8 ATENDIMENTO PRÉHOSPITALAR AO TRAUMATIZADO fií' A As respostasencontram-se na página 424. 1. Qual dos seguintes fatores teria o efeito mais ad- verso em doente com lesão cerebral traumática (LCT) moderada a grave? a. Pressão arterial média (PAM) menor de 60 mm Hg- b. PaCO, entre 35 e 45 mm Hg. c. Pa0 2 acima de 98 mm Hg. d. Pressão sistólica acima de 120 mm Hg. 2. Um doente que se esquiva de estímulos dolorosos, abre os olhos aos comandos verbais e não conse- gue falar devido a intubação traqueal tem um es- core na Escala de Coma de Glasgow de? a. 8. b. 8T. c. 7. d. 7T. 3. Um forte soco na região temporal do crânio está mais comumente associado com qual das seguin- tes lesões? a. Hematoma subdural crônico. b. Fratura de base de crânio. c. Fratura de Lefort III. d. Hematoma epidural. 4. Qual das seguintes situações é a causa mais fre- qüente de LCT no idoso? a. Acidentes automobilísticos. b. Quedas. c. Acidente Vascular Cerebral. d. Assaltos. 5. A presença de líquido cefalorraquidiano no san- gue pode ser identificado absorvendo o sangue em pedaço de gaze de 10 cm x 10 cm e observando o seguinte: a. Faixas horizontais manchadas de rosa. b. Formação imediata de coágulo. c. Estrias pretas e brilhantes. d. Um halo amarelado. 6. Qual das seguintes é uma manifestação do fenô- meno de Cushing? a. Bradicardia. b. Hipotensão. c. Hipoglicemia. d. Hipercapnia. 7. Seu doente é um homem de 23 anos que era o motorista de um veículo pequeno e sofreu uma colisão com outro veículo com forte impacto la- teral. O doente está imobilizado, e você já está a caminho do hospital. O doente está confuso, per- guntando repetidamente as mesmas coisas e se tornando cada vez mais agitado. Tentou vãrias vezes retirar o colar cervical que lhe foi colocado relatando que está muito apertado apesar de você ter lhe explicado a sua necessidade. Qual das se- guintes atitudes você deve tomar a seguir? a. Afrouxar o colar cervical (desde que mantenha a imobilização da coluna) para melhorar o re- torno venoso. b. Restringir as mãos do doente com ataduras ade- quadas. c. Sedar o doente com benzodiazepínicos. d. Explicar ao doente que é desta maneira que o colar deve ficar. 8. O seu doente é uma mulher de 70 anos que diri- gia um veículo que colidiu de frente com um poste batendo a cabeça. Ela tem um grande hematoma na região frontal; está inconsciente, com pele fria, pálida e úmida; e tem freqüência ventilatória de 30 RPM, freqüência cardíaca de 124 batimentos por minuto, e pressão arterial de 88 x 52 mmHg. Que suspeitas podemos levantar? a. Fratura de base de crânio. b. Lesão de coluna cervical. c. Choque hipovolêmico. d. Herniacão de tronco cerebral. CAPÍTULO 8 T r a u m a C r a n i e n c e f á l i c o 2 2 9 REFERÊNCIAS American College of Surgeons: Head trauma. In Committee on Trauma, American College of Surgeons: Advanced trau- ma life support, Chicago, 2002, Author. Brain Trauma Foundation: Guidelines for préhospital manage- ment oftraumatic braín injury, New York, 2000, Brain Trau- ma Foundation. Chestnut RM, Prough DS: Critical care of severe head injury, New Horízons 3:365, 1995. Cooper KR, Boswell PA, Choi SC: Safe use of PEEP in patients with severe brain injury, J Neurosurg 63:552, 1985. Davies G, Deakin C, Wilson A: The effect of a rigid collar on intracranial pressure, Injury 27:647, 1996. Feldman Z, Kanter MJ, Robertson CS et al: Effect of head ele- vation on intracranial pressure, cerebral perfusion pressu- re and cerebral blood flow in head-injured patients, / Neu- rosurg 76:207, 1992 KolbJC, Summer RL, Galli RL: Cervical collar-induced chan- ges in in t racranial pressure , Amer J Emerg Med 17: 135,1999. 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