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13 Trauma no Idoso

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Cons ideraçõe s 
rauma  no 
Objetivos do capitul 
Ao  final  deste  capítulo,  o  leitor  estará  apto  a: 
•  Discutir  a epidemiologia  do  trauma  no  idoso. 
s  Discutir  as  alterações  anatômicas  e  fisiológicas  do  envelhecimento  como 
fatores  predisponentes  e  fisiopatológicos  do  trauma  no  idoso. 
•  Explicar  a  interação  de  doenças  preexistentes  com  lesões  traumáticas  no 
idoso,  que  produzem  diferenças  na  fisiopatologia  e  nas  manifestações  do 
trauma. 
•  Explicar  os  efeitos  produzidos  por  algumas  classes  de  medicamentos  na 
fisiopatologia  e nas manifestações  do  trauma  no  doente  idoso. 
•  Comparar e confrontar  as técnicas de avaliação e considerações usadas para 
o  idoso  com  aquelas  usadas  em  populações  mais  jovens. 
8  Demonstrar  modificações  nas  técnicas  utilizadas  para  a  imobilização  da 
coluna  vertebral,  com  a  finalidade  de  torná­la  segura,  efetiva  e  o  mais 
confortável  possível  no  idoso. 
•  Comparar  e confrontar  o tratamento  do doente  idoso  com aquele do  doente 
jovem  traumatizado. 
•  Avaliar  a  cena  e  doentes  idosos  traumatizados  quanlo  a  sinais  e  sintomas 
de  abuso  e  negligência. 
•  Agir  como  modelo­padrão  de  atendimento  às  necessidades  específicas  do 
doente  idoso  traumatizado. 
■ 
344  A T E N D I M E N T O P R É - H O S P I T A L A R AO T R A U M A T I Z A D O 
Numa  tarde ensolarada,  você e sua  equipe  encontram­se  sentados  do  lado de fora  de sua base. 
quando  são surpreendidos  por  um  estrondo. Ao olhar na  direção  do  ruído, você vê, rua  abaixo. 
um veículo  colidido  frontalmente  com uma  árvore. O capitão determina  que você e seu  parceiro 
se desloquem  até o local. Ao chegarem, verificam  que sua  doente,  a motorista  e única  ocupante 
do  veículo  é uma  senhora  de  cerca  de  75  anos,  que  se  apresenta  irresponsiva  e  com  respiração 
agônica. Tem lacerações  com sangramento  ativo na  região  frontal  e no antebraço  esquerdo  e usa 
um  bracelete  que  tem  informações,  dando  conta  de  que  usa  anticoagulantes. 
A colisão foi o exento primário ou decorreu de complicações de alguma doença? Como a informação do uso de 
anticoagulantes interfere no seu nível de suspeita acerca de lesão cerebral traumática e de hemoiragia intra-abdo-
minal? Como a idade da doente, seu histórico médico pregresso e os medicamentos que utiliza interferem na avalia-
ção das lesões, na medida em que tornam a fisiopatologia e as manifestações clínicas diferentes daquelas que ocor-
rem em doentes jovens? De queforma você modificará sua conduta na abordagem desta doente? 
Os  idosos  (ou  a chamada  "terceira  idade")  repre­sentam o grupo etário que mais cresce nos Esta­
dos Unidos.  Os geriatras  (especialistas  que  estudam 
e cuidam de doentes idosos)  costumam  dividir o  ter­
mo idoso em  três  categorias  específicas: 
•  Meia­idade: 50 a 64  anos 
•  Idade  tarclia: 65 a 79  anos 
•  Idade  avançada:  80  anos ou  mais 
Mais de 34 milhões  de cidadãos americanos  (12% 
da  população  dos  Estados  Unidos)  têm  65  anos  ou 
mais, faixa etária que se elevou durante os últimos 100 
anos. Concomitantemente,  as taxas de  fertilidade  caí­
ram, significando  que haverá menos pessoas com ida­
de inferior a 65 anos, para sustentar os custos de saúde 
e de subsistência daqueles com mais de 65 anos. Até o 
ano  2050, cerca de 25% de americanos  necessitará  de 
cuidados  médicos  públicos,  e  a  populaçào  acima  de 
85 anos aumentará  de 4 milhões para  19 milhões. 
O  atendimento  pré­hospitalar  do  idoso  apresenta 
desafios,  suplantados  apenas  pela  atenção  destinada 
às  crianças. As manifestações  súbitas  de  doença  e o 
trauma  apresentam  dimensão  diferente  do  cuidado 
pré­hospitalar  do  idoso  em  comparaeão  com  o  aten­
dimento  dedicado  aos doentes  mais jovens. 
Comparados  ao  restante  da  população,  os  idosos 
são  mais  suscetíveis  a  doenças  graves  e  ao  trauma. 
Em  razão  disso,  o  socorrista  deve  atentar  para  uma 
gama  maior  de  complicações,  durante  a avaliação  e 
atendimento  iniciais  desse  doente.  Como  o  idoso  se 
utiliza de serviços de atendimento  pré­hospitalar  atra­
vés dos serviços de emergência  (por exemplo, 192 ou 
193),  a maneira  de  tratar  é diferente  da  dos  doentes 
mais jovens. Em se  tratando  de vítima  idosa, a avali­
ação do doente na cena do  incidente pode levar mais 
tempo do que no doente jovem, na medida  em que o 
idoso  apresenta  uma  grande  variedade  de  incapaci­
dades. Além disso, déficits  auditivos e visuais,  altera­
ções  de  conduta  devido  à  senilidade  e  as  modifica­
ções  fisiológicas  próprias  da  idade  são  fatores  que 
dificultam  sua  avaliação. 
Em  conseqüência  dos avanços na  ciência  médica  e 
da  adoção  de  estilos  de  vida mais  saudáveis,  ocorreu 
um  aumento  da  população  acima  de 65 anos nas últi­
mas décadas. Embora o trauma encontre sua maior  fre­
qüência em pessoas jovens e as emergências geriátricas 
serem em geral clínicas, é crescente o número de idosos 
traumatizados.  Atualmente  o  trauma  é a quinta  causa 
de morte  na  população  idosa,  correspondendo  a 25% 
de todas as mortes por  trauma nos Estados Unidos. 
Recentes  progressos  não  apenas  aumentam  a  ex­
pectativa de vida, mas também melhoram sua qualida­
de,  ampliando  o  tipo  de  atividades  físicas  praticadas 
nas  idades mais  avançadas. Na medida  em  que  a po­
pulação  vive mais  e com boa  saúde,  atividades  como 
dirigir, viajar  e se  exercitar  aumentam  a possibilidade 
do trauma geriátrico. Muitos dos idosos que poderiam 
estar  aposentados  continuam  trabalhando,  a  despeito 
de algum problema  de saúde ou do avanço da  idade. 
Decorrente de recentes mudanças de ordem  social 
o  número  de  idosos que  vive só  e de  forma  indepen­
dente, ou mesmo em comunidades de aposentados ou 
em pensões com cuidados mínimos de enfermagem,  é 
maior que aquele morando em asilos ou em ambientes 
mais controlados ou limitados. Esse cenário sugere um 
provável aumento da incidência  do trauma  doméstico 
simples, como, por exemplo, as quedas. Tem­se ainda 
observado,  ao  longo  dos  últimos  anos,  um  aumento 
do número  de idosos, vítimas de crimes, que  ocorrem 
CAPÍTULO 13 C o n s i d e r a ç õ e s  E s p e c i a i s  do Trauma no Idoso 3 4 5 
tanto em casa quanto nas ruas. Os idosos são  identifi­
cados  como  "alvos  fáceis"  e podem  apresentar  lesões 
significativas, decorrentes do impacto que sofrem  quan­
do caem ou são derrubados, mesmo que, aparentemen­
te,  a violência  empregada  tenha  sido  limitada,  como 
no roubo  de uma  bolsa. 
Pelo exposto, fica  evidente que os idosos, além de 
comporem  uma  fatia  crescente da população,  consti­
tuem  uma  parcela  de  risco,  razão pela  qual  o  socor­
rista  deve  entender  as  necessidades  específicas  do 
doente  idoso  traumatizado.  Neste  particular,  os  so­
corristas  devem  atentar  para  as  alterações  fisiológi­
cas  próprias  do  envelhecimento  e para  as  alterações 
provocadas por problemas médicos concomitantes  na 
resposta  do  doente  idoso  ao  trauma  e seu  tratamen­
to.  As considerações  especiais  esboçadas  neste  capí­
tulo devem ser  incluídas  na avaliação  e no  tratamen­
to de qualquer  doente  traumatizado  com  65 anos  ou 
mais, daquele que aparenta  ser idoso  ou  é um  adulto 
de meia­idade que  tenha algum dos problemas médi­
cos  importantes mais  associados  com  o  idoso. 
Anatomia e Fisiologia do 
Envelhecimento 
O  processo  de  envelhecimento  determina  alterações 
na estrutura  física,  na composição  corporal  e no  fun­
cionamento orgânico. as quais podem determinar di­
ficuldades no atendimento pré­hospitalar. O envelhe­
cimentoinfluencia  diretamente  o aumento  das  taxas 
de  morbimortalidade. 
O  envelhecimento  ou  senilização.  que  é um  pro­
cesso  biológico  nalural,  algumas  vezes  chamado  de 
processo  de  reversão  biológica.  começa  durante  os 
primeiros  anos  que sucedem  o início  da vida  adulta. 
Neste ponto da vida, os órgãos e sistemas alcançam a 
maturação  e funcionam  a pleno. A partir  de  então. o 
corpo  vai perdendo, gradativamente, sua  capacidade 
de manter a homeostase  (o estado de constância  rela­
tiva de equilíbrio  interno), com declínio da viabilida­
de por  anos  até a morte. 
O  processo  fundamental  de  envelhecimento 
ocorre  no  nível  celular,  refletindo­se  em  alterações 
anatômicas  e  funcionais.  A idade  avançada,  geral­
mente,  é  caracterizada  por  fragilidade,  processo 
mental  mais  lento,  alterações  de  funções  psicoló­
gicas, diminuição  de  energia,  surgimento  de  doen­
ças  crônicas  e degenerativas  e diminuição  da  acui­
dade sensorial. Habilidades  funcionais  encontram­
se diminuídas,  e surgem  os conhecidos sinais e sin­
tomas  superficiais  da  velhice,  quais  sejam:  pele 
enrugada,  mudança  da  tonalidade  e da  quantidade 
dos  pêlos,  osteoartrite,  lentidão  do  tempo  de  rea­
ção  e dos  reflexos  (Figura  13­1). 
|  Massa cerebral 
l  Percepção de profundidade 
I  Discriminaçao 
de cores 
l  Reação pupilar 
■  Capacidade 
*  respiratória vital 
|  Função renal 
Perda de 5 a 7 
centímetros da estatura 
Degeneração das 
articulações 
jÁgua  total do corpo 
Audição diminuída 
|  Olfato e paladar 
l  Produção de saliva 
|  Atividade esofágica 
l Débito e freqüència cardíacos 
l  Secreções gástricas 
I  Número de 
*  células corporais 
j .  Elasticidade da pele 
e adelgaçamento da epiderme 
15%­30%da 
gordura corporal 
Figura  13­1  Aherações determinadas  pelo  envelhecimento. 
3 4 6 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMATIZADO 
Influência de Problemas Médicos Crônicos 
À medida  que  envelhecem,  os  indivíduos  não  só  ex­
perimentam  alterações  fisiológicas  normais  do  enve­
lhecimento,  mas  também  estão  sujeitos  a  mais  pro­
blemas médicos. Embora alguns deles possam  alcan­
çar  uma  idade  avançada  sem  qualquer  problema  sé­
rio  de  saúde,  estatisticamente,  uma  pessoa  mais  vc­
lha  tem maior  probabilidade  de  ter uma  ou mais do­
enças, de  significativa  repercussão. O próprio  cuida­
do médico  pode  controlar  estas  condições,  evitando 
ou  minimizando  sua  exacerbação  na  forma  de  qua­
dros agudos repetidos que, com freqüência,  se expres­
sam  por  episódios que  ameaçam  a vida. Alguns  indi­
víduos  mais velhos  alcançam  a  idade  avançada  com 
problemas  médicos  mínimos,  ao  passo  que  outros 
poclem viver  com doenças  crônicas e são  dependen­
tes  de  recursos médicos  modernos.  Este último  gru­
po está mais propenso a uma rápida deterioração  face 
a  uma  situação  de  emergência. 
Repetidos  episódios  agudos  ou mesmo  a  ocorrên­
cia  de  um  episódio  significativo  podem  determinar 
subseqüentes  alterações  funcionais  crônicas. Um  do­
ente que  lenha tido um infarto agudo do miocárdio  no 
passado  apresenta  dano  miocârdico  permanente.  A 
capacidade cardíaca  reduzida resultante continua  pelo 
resto de sua vida afetando  o coração e também  outros 
órgãos em razão do subseqüente declínio  circulatório. 
Com o avanço da idade ocorrem problemas médi­
cos adicionais. Nenhum  deles é verdadeiramente  iso­
lado,  pois  os  efeitos  corporais  são  cumulaüvos.  A 
repercussão  sistêmica  das  alterações  promovidas  é 
normalmente  maior,  comparada  à soma  de cada  efei­
to  individual.  Como  esta  condição  é  progressiva  e 
reduz  a qualidade  das  funções  vitais do  corpo,  a  ca­
pacidade  do  indivíduo  de  resistir  à doença,  ao  trau­
Tabela 13-2 Número de Doenças 
Preexistentes (DPs) e Resultado 
Tabela 13-1 Percentual de Doentes 
com Doença Preexistente (DP) 
Idade (anos) 
15-24 
25-34 
35-44 
45-54 
55-64 
65-74 
>75 
DP(%) 
2,8 
8 
17 
30,8 
44,1 
50 
64,9 
(Adaptado de Milzman D. P., Boulanger B.  R., Rodriguez A.  et al, 
Preexisting disease in trauma patients: a predictoroffate independent 
ofage and injury severity score, J Trauma 32:236,1992.) 
Número 
deDPs 
o 
í 
2 
3 ou mais 
Sobreviventes Mortos 
6.341 
197 
67 
DltOS 
211 
56 
36 
22 
Taxa de 
Mortalidade 
(%) 
3,2 
6,1 
15,5 
24,7 
(Adaptado de Milzman D. P., Boulanger B.  R., Rodriguez A.  et al, 
Preexisting disease in trauma patients.- a predictor of fate independent 
ofage and injury severity score, J Trauma 32:236,1992.) 
ma grave, ou até mesmo ao trauma menos complexo, 
diminui  muito. 
Independentemente  da  idade  do  doente,  se é pe­
diátrico,  de  meia­idade  ou  idoso,  as  prioridades  no 
atendhnento, as intervenções necessárias e a apresen­
tação  das  situações,  em  geral  resultantes  de  trauma 
grave  e que  colocam em  risco a vida, são as mesmas. 
Os  idosos  traumatizados  morrem  pelas  mesmas  ra­
zões que traumatizados de outras  faixas  etárias. Con­
tudo,  freqüentemente,  por conta das condições pree­
xistentes,  os  doentes  idosos  podem morrer  em  con­
seqüência  de  lesões  traumáticas menos graves e mais 
precocemente  que  doentes  jovens.  Estatísticas  de­
monstram  a iníluência de condições preexistentes  na 
sobrevida de idosos traumatizados  (Tabela  13­1) e que 
a taxa de mortalidade  cresce com o número de doen­
ças  concomitantes  (Tabela  13­2).  Certas  condições 
estão  associadas  à taxa  de mortalidade  mais alta,  em 
decorrência  da maneira  corao  interferem  na  capaci­
dade do idoso de responder  ao  trauma  (Tabela  13­3). 
Sistema Respiratório 
A  função  ventilatória  no  icloso  está  diminuída,  em 
parte  pela  incapacidade  de  expansão  e conlração  da 
caixa  torácica  e em  parte  pelo  enrijecimento  da  via 
aérea.  O enrijecimento  aumentado  da  parede  toráci­
ca  está  associado  com  a  redução  na  capacidade  de 
sua expansão e enrijecimento  das conexões cartilagi­
nosas  das costelas.  Como  resultado  destas  modifica­
ções  a caixa  torácica  fica menos  flexível.  A diminui­
ção  da  eficiência  do  sistema  respiratório  exige  do 
doente  idoso  mais  esforço  na  execuçào  das  ativida­
des diárias. A área de superfície  alveolar diminui  com 
a  idade. Após  os  30  anos  de  idade,  estima­se  que  a 
cada década, a área de superfície  alveolar diminui 4%. 
Por  exemplo, um  indivíduo  de 70 anos  teria  uma  re­
dução cle 1.6% da sua área de superfície alveolar. Qual­
CAPÍTULO  13  Con s i d e r a ç õ e s  E spec i a i s  do  T rauma  no  Idos  347 
quer  alteração  da já  reduzida  área  de superfície  alve­
olar diminui a captação de oxigênio. Além disso, com 
o  envelhecimenio  corporal,  a  capacidade  de  satura­
ção da hemoglobina pelo oxigênio diminui  levando a 
saturações  de oxigênio  basais menores que o  normal 
e a uma  menor  reserva  disponível. 
A diminuição  do  reflexo  e da  força  para  tossir  e a 
redução  do  tônus  do  esfíncter  esofágico  inferior  re­
sultam  em aumento do risco de aspiração. A redução 
no  número  de  cílios  (processos  pilosos  que  varrem 
partículas  estranhas  e muco  dos  brônquios)  predis­
põe  o  idoso  a  problemas  causados  por  inalação  de 
partículas. 
Outro  íator  que  afeta  o  sistema  respiratório  é  a 
modificação  da curvatura  da coluna  vertebral. Modi­
ficações  da  curvatura  acompanhadas  de  corcova  ân­
tero­poslerior  (como  a  enconlrada  em  doente  com 
osteoporose),  freqüentemente,  conduzem  à  dificul­
dade ventilatória  adicional  (Figura  13­2). Alterações 
que  alingem  o diafragma  lambémpodem  contribuir 
para problemas ventilatórios. O enrijecimento  da cai­
xa  torácica  determina  que  o  idoso  utilize mais  ativi­
dade  diafragmática  para  respirar.  Esta  dependência 
aumentada  do  diafragma  torna  o idoso  especialmen­
te  sensível  a  alterações  da  pressão  intra­abdominal. 
Assim, a posição supina ou o enchimento  demasiado 
do  estômago  após  uma  lauta  refeição  podem  provo­
car  insuficiência  ventilatória.  A  obesidade  também 
exerce um papel restritivo sobre o diafragma,  especial­
mente  se a distribuição  da gordura  for  central. 
Ouvidos, Nariz e Garganta 
Deterioração  dos  dentes,  doença  periodontal  (gen­
givite)  e  trauma  dentário  resultam  na  utilização  de 
vários  tipos  de  próteses  dentárias.  A fragilidade  de 
coroas, pontes  fixas  ou móveis  e dentaduras  consti­
tuem  problema  especial  de  potenciais  corpos  estra­
nhos  que podem ser aspirados e prc  rocar obstruçáo 
da  via  aérea. 
Alterações do contorno da face. conferindo aspecto 
característico  enrugado  e  retraído  dos  Lábícs.  resul­
tam  de  reabsorção  da  mandíbula.  em  pane  causada 
pela ausência  de clentes. Estas alterações podem difí­
cultar  a vedação  criada  no  uso da máscara  assodada 
a  balão  dotado  de  válvula  unidirecional  e  visualira­
ção  da  via  aérea  durante  intubação  endotraqueal. 
nariz e as orelhas são mais alongados que nos jovens. 
devido  ao  crescimento  contínuo  das cartilagens  (Fi­
gura  13­3). 
Sistema Cardiovascular 
As doenças clo sistema  cardiovascular  são a principal 
causa de morte nos idosos. Doenças  cardiovasculares 
são  responsáveis  por  mais  de  3.000  mortes  por 
100.000  indivíduos  com  idade  superior  aos 65  anos. 
A diminuição  da  elasticidade  arterial  relacionada 
com  a idade  leva  ao aumento  da  resistência  vascular 
periiérica. O funcionamento  adequado do miocárdio 
e  dos  vasos  sangüíneos  depende  de  suas  proprieda­
des  elásticas,  contráteis  e distensíveis.  Fais  proprie­
dades  decrescem  com  o  envelhecimento,  reduzindo 
a  eficiência  do  sistema  cardiovascular  em  movimen­
tar  fluidos  pelo  corpo. Dos  20 aos 80 anos,  o  débito 
cardíaco  diminui, aproximadamente,  em 50%. Cerca 
de  10% dos  iclosos com  idade  superior  a 75 anos  te­
rão  algum  grau  de  insuficiência  cardíaca  congestiva 
manifesta  (assintomátíca). 
Alerosclerose é uma condição de estreitamento  nas 
artérias, na qual há o espessamento  da camada  inter­
na  cla  parede  cla  artéria  com  depósito  crescente  de 
Tabela 13-3 Doenças Preexistentes (DPs): Prevalência e Mortalidade 
DPs Número de doentes Presença de DPs (%) Total  (%) Taxa de MortalidarJe  (%) 
Hipertensão 
Pneumopatia 
Cardiopatia 
Diabetes 
Obesidade 
Câncer 
Distúrbio  neurológico 
Nefropatia 
Hepatopatia 
597 
286 
223 
198 
167 
80 
45 
40 
41 
47,9 
23 
17,9 
15,9 
13,4 
6,4 
3,6 
3,2 
3,3 
7,7 
3,7 
2,9 
2,5 
2,1 
1 
0,6 
0,5 
0,5 
10,2 
8,4 
18,4 
12,1 
4,8 
20 
13,3 
37,5 
12,2 
(Adaptado de Milzman D. P., Boulanger B. R., Rodriguez A. et al, Preexisting disease in trauma patients: a predictor of fate independentof 
age and injury severity score, J Trauma 32:236,1992.) 
348  A T E N D I M E N T O P R E - H O S P I T A L A R AO T R A U M A T I Z A D O 
Figura  13­2  A curvatura  da  coluna  vertebral  pode  levar  a  uma  corcova  ãntero­
posterior,  que  pode  ser  causa  de  dificuldades  respiratórias.  A  redução  da  área  da 
superfície alveolar pode também reduzir a quantidade de oxigênio trocada nos pulmões. 
\VO 
Figura  13­3  Alterações no contorno  da  face. 
gordura  dentro da artéria. Estes depósitos,  chamados 
de placa, se projetam  por cima da superfície  da cama­
da  interna  e  diminuem  o  diâmetro  da  luz  do  vaso. 
Um  resultado  deste  estreitamento  é  a  hipertensão, 
situação  que  acomete  1  em  6  adultos  dos  Estacios 
Unidos.  A  calcificação  da  parede  arterial  reduz  sua 
capacidade de mudar de  tamanho  em resposta  a estí­
mulos  endócrinos  e  do  sistema  nervoso  central.  A 
circulação  diminuída  pode  ter  efeitos  adversos  em 
qualquer  um  dos  órgãos  vitais  e  é causa  comum  de 
doença  cardíaca. 
Com a idade, o coração apresenta  aumento  de  te­
cido  fibroso  e de  tamanho  (hipertrofia  miocárdica). 
A atrofia  das células  do  sistema  de  condução  resulta 
na  incidência  aumentada  de arritmias  cardíacas.  Em 
particular,  os  reflexos  normais  no  coração  que  res­
pondem  à hipotensão  diminuem  com  a idade,  resul­
tando na  incapacidade  do  icloso de aumentar  sua  fre­
qüência  cardíaca  adequadamente.  Doentes  portado­
res de marcapasso  permanente  têm  freqüência  cardí­
aca  e  débito  cardíaco  constantes,  que  nem  sempre 
respondem  à  demanda  aumentada  de  consumo  de 
oxigènio  no  miocárdio,  que  acompanha  o  estresse 
provocado  pelo  trauma. 
No idoso  traumatizado, esta  diminuição  da  circu­
lação contribui  para a hipóxia  celular,  resultando  em 
arritmias cardíacas, insuficiência  cardíaca aguda e até 
mesmo morte  súbita. A capacidade do corpo de com­
pensar  perdas  sangüíneas,  ou  outras  causas  de  cho­
que,  é  significativamente  diminuída  no  idoso,  devi­
do  à  diminuição  da  resposta  inotrópica  (contração 
cardíaca)  às  catecolaminas. 
A circulação  reduzida  e as respostas de defesa  cir­
culatórias  reduzidas,  associadas  à  insuficiência  car­
díaca crescente, representam um grande problema  no 
tratamento  do choque no idoso. A ressuscitação  com 
íluidos deve ser cuicladosamente vigiada, face à redu­
zida  complacência  do  sistema  cardiovascular  e  ven­
trículo direito  "enrijecido"  freqüente. Deve­se  tomar 
cuidado  no  tratamento  da  hipotensào  e  do  choque, 
para  não  causar  sobrecarga  de volume  na  ressuscita­
ção  agressiva  com  fluidos. 
CAPÍTULO  13  C o n s i d e r a ç õ e s  E spe c i a i s  do  T rauma  no  Idoso  3 4 9 
Sistema Nervoso 
Ocorre redução do peso cerebral e do número de neu­
rônios ou células nervosas com o envelhecimento. Em 
torno dos 20 anos, o cérebro  atinge seu peso máximo 
(1,4 kg). Aos 80 anos, o peso cerebral sofre  redução de 
cerca de  100 g. Também cai a velocidade de  condução 
dos  impulsos  nervosos ao  longo de certos nervos. Es­
tes decréscimos  resultam  apenas  em  efeitos  discretos 
no comportamento e raciocínio. Os reflexos estão mais 
lentos, mas  não  em  grau  significante.  Funções  com­
pensatórias  podem  estar prejudicadas,  especialmente 
nos  doentes  portadores  de  doença  de  Parkinson,  au­
mentando  a incidência  de  quedas. O sistema  nervoso 
periférico  também é afetado  pela condução mais  lenta 
dos  impulsos  nervosos,  resultando  em  tremores  de 
extremidades  e marcha  instável. 
Conhecimentos gerais e vocabulário aumentam ou 
ficam mantidos, ao passo que habilidades que  exijam 
raciocínio e destreza (habilidade psicomotora)  podem 
diminuir.  Funções  intelectuais  que  envolvem  com­
preensão  verbal,  raciocínio  matemático,  fluência  de 
idéias, avaliação  de experiências  e conhecimento  ge­
ral  tendem  a aumentar  depois  de 60 anos  nos  idosos 
que  mantêm  ativiclades  de  aprendizagem.  São  exce­
ções  aqueles  que  desenvolvem  demência  senil  e  ou­
tras doenças, como mal de Alzheimer. 
O  envelhecimento  biológico  normal  do  cérebro 
não  é  indicador  de  doença  cerebral.  Entretanto,  as 
reduções  estruturais  do  córtex  cerebral  podem  estar 
relacionadas  com  disfunções  mentais. À medida  que 
ocorrem  alterações  estruturais  no  cérebro,  podem 
ocorrer comprometimento  da memória, mudanças na 
personalidade  e  outros  déficits  funcionais.  Em  tais 
situações,  há  necessidadede  utilização  de  alguma 
forma  de serviço de atenção à saúde mental. Aproxi­
madamente  10% a 15% dos idosos necessitam  de ser­
viços  profissionais  de  saúde  mental.  Entretanto,  ao 
avaliar  um  doente  idoso  traumatizado,  qualquer  al­
teração  da  atividade  mental  deve  ser  considerada 
como decorrente  de  insullo  traumático  agudo,  como 
choque,  hipóxia  ou  lesão  cerebral. 
Alterações Sensoriais 
VISÃO  E AUDIÇÃO 
De modo  geral,  cerca  de  28% dos  idosos  têm  dimi­
nuição  da  audição  e  quase  13% têm  diminuição  da 
visão. Os homens são mais propensos a ter  dificulda­
des quanto  à audição, ao passo que ambos sexos  têm 
índices  semelhantes  quanto  à perda  visual. 
A perda  de visão é um desafio  em qualquer  idade, 
podendo  ser mais problemática  para  os  idosos. A in­
capacidade de ler  instruções  (por exemplo, a bula cle 
uma medicação) pode levar a efeitos desastrosos. Além 
disso,  os  idosos  apresentam  diminuições  da  acuida­
de visual, da  capacidade  de diferenciar  cores e da vi­
são  noturna. 
As  células  do  cristalino  perdem  a  capacidade  de 
restauração  da  sua  estrutura  molecular  original.  Um 
dos  agentes  destrutivos  ao  longo  de  anos  de  exposi­
ção  é a radiação  ultravioleta.  Eventualmenie.  Q cris­
talino perde a capacidade  de aumentar  sua  espessura 
e  curvatura  e  o  resultado  é a  quase  universal  "vista 
cansada"  (presbiopia)  acima  dos 40 anos e que  e :•.:_. 
o uso  de óculos para  a  leitura. 
Como resultado cias alterações nas várias  estrutu­
ras  do  olho, o  idoso  tem mais  dificuldade  de  enxer­
gar  em  ambientes  com  pouca  iluminação.  A produ­
ção diminuída  de  lágrima  leva a olho seco e prurido. 
ardência  e  a  incapacidade  de  manter  o  olho  aberto 
por  longos períodos  de  tempo. 
Com avanço  da idade, o cristalino  torna­se  opaco 
e  impenetrável  à  luz.  Este  processo  gradual  resulta 
no que  é chamado catarala  ou  cristalino  leitoso,  que 
bloqueia  e  distorce  a  luz  que  entra  no  olho,  produ­
zindo  visão  turva.  Cerca  de  95% das  pessoas  idosas 
desenvolvem  algum  grau  de catarata. Esta  deteriora­
ção  aumenta  o  risco  de  colisões  automobilísticas, 
particularmente  ao dirigir  à noite. 
A  perda  gradaliva  da  audição  (presbiacusia)  é 
também  característica  clo envelhecimento.  É devi­
da  à  perda  de  condução  de  som  para  dentro  do 
ouvido  interno,  podendo  ser  auxiliada  com  o  uso 
de  aparelhos  que  amplificam  o  som.  Esta  perda 
auditiva  é mais pronunciada  quando  a  pessoa  ten­
ta a discriminação  de sons  complexos,  como  quan­
do  muitas  pessoas  falam  ao  mesmo  tempo  ou  na 
presença  de  ruído  de  amplitude  alta,  como  o  emi­
tido  por  sirenes. 
PERCEPÇÃO  DOLOROSA 
Em  função  do processo  de envelhecimento  e da pre­
sença de doenças, como o diabetes, o idoso pode  não 
ter  percepçào  dolorosa  normal,  colocando­o  em  ris­
co  aumentado  de  lesões por  exposição  excessiva  ao 
calor ou ao frio. Muitos idosos são portadores de con­
dições como artrite, que  resultam  em dor  crônica. O 
convívio  diário  com  a  dor  pode  tornar  o  indivíduo 
mais tolerante à dor e ele não poderá  identificar  áreas 
de  lesão. Durante  a avaliação  dos doentes  idosos, es­
pecialmente  dos  que  se  queixam  de  dor  por  todo  o 
corpo ou daqueles que aparentam ser mais  tolerantes 
à dor,  o socorrista  deve  localizar  as áreas onde a  dor 
aumentou  ou  onde  a  área  dolorosa  aumentou.  De­
vem  também ser  registradas mudanças  de caracterís­
tica da dor ou fatores de exacerbação, a partir do even­
to  traumático. 
3 5 0 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMATIZADO 
Sistema Musculoesqueiético 
A desmineralização  óssea ocorre com a idade. A perda 
óssea  (osteoporose)  difere  em  ambos  os  sexos.  Nos 
adultos  jovens,  a massa  óssea  é maior  nas  mulheres 
que  nos  homens.  Entretanto,  a  perda  óssea  é  muito 
mais rápida em mulheres e se acelera após a menopau­
sa. Em função  dessa  incidência  maior de  osteoporose, 
mulheres mais velhas  têm maior probabilidade de  fra­
turas,  em particular,  do colo do  fêmur  (quadril). 
Pessoas mais  velhas  às vezes  têm  estatura  menor 
do  que  quando  adultos jovens,  causada  por  desidra­
tação  dos discos  intervertebrais. À medida  que  hou­
ver  aplainamenteo  dos  discos, ocorre  perda  de até  5 
cm na estatura  entre  20 e 70 anos. A cifose  (curvalu­
ra  da  coluna  vertebral)  na  região  torácica,  geralmen­
te  causada  pela  osteoporose  (Figura  13­4),  também 
pode  contribuir  para  a perda  de  estatura. 
À medida  que  os ossos  se  tornam  mais porosos  e 
frágeis,  ocorre  erosão anleriormente,  podendo  se de­
senvolver  fraturas  por  compressão.  Como  a  coluna 
torácica  se  torna mais  encurvada,  a cabeça  e os  om­
bros  parecem  se  projetar  para  diante  (Figura  13­5). 
Na presença  de doença  pulmonar  obstrutiva  crônica 
(DPOC), particularmente  enfisema,  a cifose  pode ser 
mais  pronunciada,  devido  à hipertrofia  da  muscula­
tura  acessória  da  respiração. 
A osteoartrite, uma forma de artrite, na qual articu­
lações soírem  mudanças  degenerativas,  caracteriza­se 
pela  rigidez,  deformidade,  edema  articular  e dor. Ge­
ralmente a osteoartrite promove alterações nas mãos e 
nos pés, em  particular  nas  articulações  interfalangea­
nas proximais  e distais, e nos quadris  e coluna  verte­
bral  (Figura  13­6). A tendência aumentada  em  dobrar 
as pernas faz com que os braços pareçam mais longos, 
mesmo  que  nenhuma  alteração  no  seu  comprimento 
tenha  ocorrido  de  fato  (ver Figura  13­5). 
Com  o  envelhecímento  clos  músculos  ocorre 
perda  da  massa  muscular,  calculada  em  30%,  entre 
os 30  e 80 anos. Déficits  relacionados  com  o sistema 
musculoesquelético  (por exemplo, incapacidade para 
dobrar  o quadril  ou joelho  com  as mudanças  do  ter­
reno)  predispõem  o idoso a quedas. A fadiga  muscu­
lar  do  idoso  pode  causar muitos  problemas  que  afe­
tam  o  movimento,  com  queda  sendo  um  dos  mais 
freqüentes.  São comuns as mudanças na postura  nor­
mal do corpo, e mudanças  na coluna vertebral  fazem 
com  que  a curvatura  se  torne  mais  acentuada  com  o 
envelhecimento.  Algum  grau  de  osteoporose  é  ine­
rente  no  envelhecimento.  Em  razão  da  reabsorção 
óssea  progressiva,  os  ossos  ficam  menos  ílexíveis  e 
mais frágeis, quebrando mais facilmente. O  enfraque­
cimento  de  força  óssea  associada  à  redução  cia  força 
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Figura  13­4  Cifose, geralmente  causada  por  osteoporose. 
Figura  13­5  A lendência  em dobrar as pernas  faz com que 
os braços pareçam ser mais longos. 
CAPÍTULO 13 C o n s i d e r a ç õ e s E s p e c i a i s do T r a u m a no Idoso 3 5 1 
muscular  causados por exercício menos ativo predis­
põem a íraturas múltiplas, mesmo quando a força  for 
leve ou moderada. Com o processo artrítico que ocorre 
no  envelhecimento  a  amplitude  de  movimentação 
arücular  se  torna mais  limitada. 
A coluna  vertebral muda  por  inteiro  com a  idade 
pelos efeitos  da osteoporose e da calcificação  (osteó­
fise) dos ligamentos de suporte. Esta calciíicação causa 
redução  da  amplitude  de movimentos  e  estreitamen­
to do canal medular. O estreitamento  do canal medu­
lar  e  doença  osteofítica  progressiva  colocam  estes 
doentes  em alto risco para  lesões medulares,  mesmo 
nos  traumas  menos  complexos.  O  estreitamento  do 
canal  medular,  chamado estenose medular,  aumenta, 
na coluna cervical, a probabilidade de compressão  da 
medula  espinhal,  mesmo  na  ausência  de  fralura  ós­
sea real da  coluna  vertebral. A coluna  tóraco­lombar 
também degenera progressivamente, e as forças  com­binadas da osteoporose e alterações da postura  levam 
a um aumento  das quedas. O socorrista  deve  ter  alto 
nível de suspeita para  lesões raquimedulares  durante 
a avaliação  do doente, pois mais de 50% das  fraturas 
por  compressão  verlebral  são  assintomáticas. 
Pele 
Com o envelhecimento  da pele, perdem­se  glândulas 
sudoríparas  e  sebáceas.  Perda  das  glãndulas  sudorí­
paras reduz a capacidade de regulação da  temperatu­
ra  pelo  corpo.  A perda  de  glândulas  sebáceas,  que 
produzem  oleosidade,  torna  a pele mais seca e desca­
mativa. A queda  na  produção  da melanina  (pigmen­
to  que  dá  cor  à pele  e aos  pêlos)  causa  a  palidez  do 
envelhecimenlo.  A pele  torna­se  mais  delgada  e  as­
sume um aspecto  translúcido, devido  a alterações  no 
tecido conjuntivo.  O adelgaçamento  e o  ressecamen­
to  da  pele  também  a  tornam  menos  resistente  a mi­
crorganismos,  resultando  em  elevação  da  taxa  de  in­
fecção  secundária  a pequenos  traumas. Com a perda 
da  elasticidade,  a  pele  estica  e depois  forma  rugas  e 
Figura  13­6  Osteoartrite. 
dobras,  especialmente  nas  áreas  de  uso  contínuo, 
como aquelas sobre os músculos  faciais. Perda de  te­
cido  adiposo  pode  predispor  o  idoso  à  hipotermia. 
Esta  perda  de  tecido  adiposo  também  leva  a  menos 
espessura  das proeminências  ósseas.  como  a  cabeça, 
os  ombros,  a  coluna,  as nádegas,  os quadris  e  calca­
nhares.  Imobilização prolongada, sem  acolchoamen­
to adicional,  pode  resultar  em necrose  tecidual  e ul­
ceração,  bem  como  aumento  da  dor  e  desconforto 
durante  o tratamento  e o  transporte. 
Sistema Renal 
Alterações  comuns  ao  envelhecimento  incluem  re­
dução  dos níveis de  filtração  pelos  rins  e redução  da 
capacidade  de  excreção.  Estas  alterações  devem  ser 
consideradas  quando  se administram  drogas  depura­
das  pelos  rins. A perda  crônica  da  função  renal.  que 
habitualmente  é encontrada  no  idoso, contribui  para 
a delerioração  da saúcle geral do doente e sua  capaci­
dade  de  resistir  ao  trauma. 
Sistema  Imunológico 
Com o envelhecimento, o sistcma imune diminui sua 
habilidacie de funcionar.  Como resultado, ocorre a re­
dução  das  respostas  celulares  e humorais.  Associada 
a  quaisquer  outros  problemas  nutricionais  preexis­
tentes comuns no idoso,  isto leva ao aumento da sus­
cetibilidade  a  infecções.  A sepse  é  causa  comum  de 
morte  tardia  após  trauma  grave  ou mesmo  insignifi­
cante  nos  idosos. 
Avaliação 
A avaliação  pré­hospitalar  do  idoso  traumatizado  é 
baseada  no  mesmo  método  utilizado  para  todos  os 
traumatizados. Assim como em todos os doentes  trau­
matizados, a primeira  consideração relaciona­se  com 
o mecanismo  de  trauma.  Nesta  seção  são  discutidas 
algumas  considerações  específicas  da  avaliação  do 
doente  traumatizado  idoso. 
Mecanismo  de Trauma 
QUEDAS 
As quedas constituem a principal  causa de morte e de 
invalidez  por  trauma  daqueles  com  idade  superior  a 
75 anos. Aproximadamente  um  terço de pessoas com 
mais de 65 anos que vivem em comunidades cai a cacla 
ano,  número que aumenta  para 50%, em torno dos 80 
anos. Homens e mulheres caem com a mesma  freqüên­
cia, entretanto, as mulheres têm duas vezes mais chance 
de  ter lesão mais grave, face ao enfraquecimento  mais 
pronunciado  dos ossos  (osteoporose). 
3 5 2 ATENDIMENTO P R É - H O S P I T A L A R AO TRAUMATIZADO 
A maior  parte  das  quedas  acontece  como  resul­
tado  da natureza  inerente  do  envelhecimento,  com 
mudanças  de  postura  e  da  marcha.  Alterações  na 
acuidade visual, devido a cataratas, glaucoma  e per­
da  de  visão  noturna,  contribuem  para  a  perda  de 
orientações  visuais  usadas  pelos  idosos  para  mo­
ver­se  com  segurança.  Doenças  dos  sistemas  ner­
vosos  central  e  periférico  e  a  instabilidade  vascu­
lar por doença  cardiovascular podem precipitar  ain­
da  mais  quedas.  Porém,  as  variáveis  mais  impor­
tantes,  que  contribuem  para  as  quedas  no  idoso, 
são  as  barreiras  físicas  no  seu  ambiente,  como  pi­
sos  escorregadios,  degraus,  calçados  inadequados 
e  pouca  iluminação. 
As fraturas  dos ossos longos são  responsáveis  pela 
maior parte das lesões, com fraturas  do quadril, deter­
minando  as maiores  taxas de mortalidade  e morbida­
de.  A taxa  de mortalidade  por  fraturas  de  quadril  al­
cança  20% no primeiro  ano após o evento  traumático 
e se eleva para  33% no segundo ano após o trauma. A 
mortalidade  é  freqüentemente  secundária  à  embolia 
pulmonar  e aos efeitos  de mobilidade  diminuída. 
TRAUMA  POR  VEÍCULOS AUTOMOTORES 
Colisões envolvendo veículos automotores são a prin­
cipal  causa de morte na população geriátrica  entre os 
65  e  os  74  anos.  Um  doente  idoso  tem  cinco  vezes 
mais  chance  de sofrer  lesão  fatal  por  incidente  auto­
mobilístico do que um condutor mais jovem,  embora 
raramente  se  encontre  excesso  de  velocidade  como 
fator  causador  no grupo  etário  mais velho. 
Estas  altas  taxas  de  mortalidade  são  atribuídas  a 
certas mudanças fisiológicas. Em particular, a mudan­
ça sutil na memória e dejulgamento, combinadas com 
a  diminuição  da  acuidade  visual  e  auditiva,  podem 
resultar  em  tempo  de  reação  alterado. 
Em  colisões  automobilísticas,  a  intoxicação  por 
álcool  é  raramente  envolvida  em  comparação  com 
pessoas mais jovens. Somente 6% dos idosos com le­
sões  fatais  estão  alcoolizados,  comparados  com 23% 
nos demais  grupos  etários. 
Peclestres  idosos  representam  mais  de  20%  das 
vítimas fatais. Em razão da marcha mais lenta, o tem­
po dado  pelos semáforos  pode  ser  curto  demais  para 
que  o idoso  possa  atravessar  o cruzamento  em  segu­
rança.  Isto  pode  explicar  a  observação  de  que  mais 
de  45%  das  mortes  de  pedestres  idosos  acontecem 
perto  de uma  faixa  para  pedestres. 
AGRESSÃO  E ABUSO  DOMÉSTICO 
O  idoso  é  altamente  vulnerável  ao  crime.  Estima­se 
que  agressões  violentas  sejam  responsáveis  por  mais 
de  10% das  admissões  de  idosos  traumatizados.  A 
necessidade de cuidado contínuo por debilitação pode 
predispor  uma  pessoa  idosa  ao  abuso  por  parte  de 
quem  cuida. 
QUEIMADURAS 
Os  idosos  representam  20% das  internações  em  uni­
dades de queimados  com  a estimativa  de  1.500  mor­
tes  ao  ano  relacionadas  com  queimaduras  por  fogo. 
Nos idosos, mortes por queimaduras  decorrem, mais 
freqüentemente,  de  lesões  de  tamanho  e  gravidade 
menores,  comparadas  com as em  outras  faixas  etári­
as.  A  taxa  de  morte  é  sete  vezes  maior  do  que  em 
vítimas  de queimaduras  mais  jovens. 
Em  razão  da  diminuição  da  acuidade  visual  e  da 
audição  os idosos podem  retardar  o  reconhecimento 
de  incêndios  domésticos. A percepção  diminuída  da 
dor  pode  resultar  em queimaduras mais  graves. 
A presença  de  condições  médicas  preexistentes, 
como  doença  cardiovascular  e  diabetes,  resulta  em 
pouca  tolerância  ao  tratamento  de  queimadura  por 
reanimação.  Colapso  vascular  e  infecção  são  causas 
mais comuns  de  morte  por  queimadura. 
LESÃO  CEREBRAL  TRAUMÁTICA 
O cérebro  sofre  redução de  10% de sua massa aos  70 
anos. A dura­máter  encontra­se  mais aderida  ao  crâ­
nio,  resultando  em  alguma  redução  do volume  cere­
bral. Uma conseqüência  disso é a freqüência  baixa de 
hematoma  epidural e a maior  incidência de  hemorra­
gia subdural.  Em função  da atrofia  cerebral, uma  he­
morragia  subdural  de monta  pode  existir  com  acha­
dos  clínicos  mínimos. A combinação  de  trauma  cra­
niencefálico  e choque  hipovolêmico  resulta  em  taxa 
de mortalidade  mais  alta. 
Via Aérea 
A avaliação do doente  idosocomeça com o exame da 
via  aérea. Alterações  da  atividade  mental  podem  es­
tar  associadas  com  obstrução  da  via  aérea  pela  lín­
gua.  A cavidade  oral  deve  ser  examinada  buscando­
se corpos estranhos, como dentaduras que foram des­
locadas. 
Respiração 
Doentes idosos com freqüência  respiratória abaixo de 
10  rpm  ou  acima  de  30  rpm  terão  volume  minuto 
inadequado,  necessitando  de ventilação  com  pressão 
positiva.  Para  a maioria  dos adultos, uma  freqüência 
ventilatória  entre  12 e 20 rpm  é normal  e confirma  a 
presença  de  volume  minuto  adequado.  Entretanto, 
num  doente  idoso,  a capacidade  e  função  pulmona­
res reduzidas podem resultar em volume minuto  ina­
dequado, mesmo com freqüências  entre  12 e 20  rpm. 
CAPÍTULO 13 C o n s í d e r a ç õ e s E s p e c i a i s do T r a u m a no Idoso 3 5 3 
Na  presença  de  freqüência  respiratória  anormal,  a 
ausculta  pulmonar  imediata  é  obrigatória. 
Circulação 
O  tempo  de enchimento  capilar  retardado  é comum 
no  doente  idoso  em  razão  da  circulação  menos  efi­
ciente;  portanto  não  é bom  indicador  de  alterações 
circulatórias  agudas  nestes  doentes.  Algum  grau  de 
redução da sensibilidade distal, motricidade e da cir­
culação  nas  exlremidades  é achado  comum  normal 
nos  idosos. 
Alguns  achados  só  podem  ser  interpretados  cor­
retamenle,  conhecendo­se  o estado prévio ou  "basal" 
do  doente.  Margens  esperadas  de  sinais  vitais  nor­
mais e outros achados, em geral consideradas  padrão 
(normais), não são normais em  todo doente  e os des­
vios são muito mais comuns no doente  idoso. Embo­
ra  as margens  geralmente  assumidas  como  normais 
sejam  amplas  para  incluir  a  maioria  das  diferenças 
individuais  de  adultos,  um  indivíduo  de  qualquer 
idade  pode  ultrapassar  estas  normas;  portanto  nos 
idosos  esperam­se  tais variações. Medicamentos  po­
dem  contribuir  para  estas  variações.  Por  exemplo, 
num adulto  hígido, pressão sistólica de 120 mm Hg é 
considerada  normal. Já  num  doente  hipertenso  crô­
nico,  que  normalmente  tem  pressão  sistólica  de  150 
mm Hg, a pressão de  120 mm Hg torna­se uma preo­
cupação, sugerindo hemorragia oculta  (ou outro me­
canismo)  de  tal  intensidade  a provocar  descompen­
sação. Da mesma  forma,  a  freqüência  cardíaca  não  é 
bom  indicador  de  trauma  no  idoso  em  função  dos 
efeitos  de  medicamentos  e  da  inadequada  resposta 
do coração às catecolaminas  circulantes  (epinefrina). 
Informações  quantitativas  ou  sinais  clínicos  não  de­
vem  ser usados  de  forma  isolada  de  outros  achados. 
Entretanto,  a  falha  no  reconhecimento  que  ocorreu 
tal mudança  ou que seja grave achado  patológico  em 
determinado  doente  pode  produzir  resultado  desas­
troso para  o doente. 
Incapacidade (avaliação  neurológica) 
O socorrista  deve analisar  todos  os achados  em  con­
junto  e,  ao mesmo  tempo,  ter  um  alto  nível  de  sus­
peita no idoso. Grandes diferenças  na atividade men­
tal,  memória  e orientação  (para  o passado  e  presen­
te)  podem  existir  no  idoso. Lesão  cerebral  traumáti­
ca significante  deve ser identificada,  levando em conta 
o status  normal  prévio  do  indivíduo.  A menos  que 
alguém  na  cena  possa  descrever  este  estado,  deve­se 
presumir  que  o doente  tem  dano  neurológico,  hipó­
xia, ou  ambos. Saber distinguir  entre um  estado  crô­
nico  do  doente  e alterações  agudas  é  fator  essencial 
para não subestimar  ou sobrestimar o estado atual  do 
doente  como índice fundamental  na avaliação de sua 
condição  global.  Entretanto. a  inconsciência  consti­
tui  sinal de gravidade  em  todos os casos. 
O socorrista deve selecionar cuidadosamente as per­
guntas  para  determinar  a orientação de tempo  e lugar 
do  doente  idoso. Indivíduos  que  trabalham  5 dias por 
semana  e têm  os  fins  de semana  li\Tes geralmente  sa­
bem  em  que  dia  da  semana  se  encontram. Caso  não 
consigam fazê­lo, pode­se presumir que tenham algum 
nível de desorientação. Para aqueles que nào mais pos­
suem uma jornada de trabalho tradicional e que  freqúen­
temente  estão  cercados  por  pessoas  desocupadis.  : 
distinguir  os  dias  da  semana  ou  mesmo  os  ::.:­­­  _: 
ano pode não indicar desorientação, mas apenas a pou­
ca importância do "calendário" na estrutura de suas vi­
das.  Da mesma forma, as pessoas que não dirigeir.  ED_ ­
prestam menos atenção às estradas, aos limites da cida­
de,  aos locais e aos mapas. Embora nonnalmente orien­
tadas, podem não ser capazes de identificar o local onde 
se  encontram  atualmente.  Confusão  ou  incapacidade 
de  lembrar  de  fatos  e pormenores  de  longa  data  pode 
ser mais  indicadora  de quanto  tempo  atrás os  eventos 
aconteceram, em vez de quão esquecido é o  indivíduo. 
As repetidas narrações, com riqueza de detalhes, de even­
tos de  longa  data, aparentando dar mais  importância  a 
fatos  longínquos  que  aos  fatos  recentes,  com  freqüên­
cia, apenas representam nostalgia prolongada pelos anos 
e pelos  fatos. Tais compensações  sociais e psicológicas 
não devem ser consideradas sinais de senilidade ou  de 
capacidade mental  diminuída. 
Exposição/Ambiente 
Os idosos são mais suscetíveis a mudanças  ambientais. 
Têm capacidade reduzida de responder a súbitas altera­
çõcs,  produzem  menos  calor,  capacidade  reduzida  de 
livrar o corpo de calor excessivo. Problemas de  termor­
regulação  estão  relacionados  com  desequilíbrio  eletro­
lítico (por exemplo, depleção de potássio, hipotiroidis­
mo  e diabetes mellitus). Outros  fatores  incluem  dimi­
nuição  do metabolismo  basal,  capacidade  reduzida  de 
arrepiar, arteriosclerose e efeitos de drogas e do álcool. 
A hipertermia  é  influenciada  por  acidentes  vasculares 
cerebrais,  diuréticos,  anti­histamínicos  e  drogas  anti­
parkinsonianas. A hipotermia é influenciada  pela dimi­
nuição do metabolismo, obesidade, vasoconstrição  pe­
riférica menos  eficiente  e nutrição  deficiente. 
Exame Secundário (Histórico e Exame 
Físico Direcionado) 
Após  tratamento  de  condições  urgentes  que  amea­
çam  a  vida,  na  avaliação  da  doença  aguda  é  impor­
tante  considerar  os seguintes  fatores.  Pode­se  gastar 
mais  tempo  que  o  usual  na  coleta  de  informações  e 
elaboração  de um  histórico. 
354  ATENDIMENTO  PRÉ­HOSPITALAR  AO  TRAUMATIZADO 
• O corpo pode nâo responder da mesmaforma que em 
doentes maisjovens.  Achados típicos de doença gra­
ve,  como  febre,  dor  ou  sensibilidade,  podem  de­
morar  mais para  se desenvolver  e  tornam  a  tarefa 
da  avaliação  do  doente  mais  difícil  e mais  longa. 
Além  disso  muitos  medicamentos  modificarão  a 
resposta  corpórea.  Com  freqüência,  o  socorrista 
dependerá  exclusivamente  do histórico do doente. 
• É preciso ter paciência adicional, em razão dos défi-
cits auditivos e visuais dos doentes. Empatia  e com­
paixão sào essenciais. A inteligência do doente não 
deve ser subestimada, meramente  por  dificuldade 
ou ausência de comunicação. Se o doenle tem com­
panheiros ou parentes próximos, estes podem par­
ticipar  fornecendo  informações  ou  ficar  por  perto 
para  validar  as  informações. 
•  A avalíação dos doentes idosos requer qucstionamen-
to diferenciado. Durante  a avaliação  inicial,  devem 
ser  formuladas  questões,  alternando  informações 
específicas  com  informações  gerais, pois  o  doente 
idoso  tende a responder  "sim" a todas as questões. 
Fazer perguntas aberlas é ferramenta  útil na avalia­
ção da maior parte  dos doentes. Entretanto  com o 
idoso pode ser de ajuda  oferecer­lhe  detalhes espe­
cíficos para que escolha ao tratar  de um  problema. 
Por  exemplo,  em vez  de dizer  "Descreva  a dor  no 
seu quadril", pergunte:  "A dor no seu quadrilé se­
melhante  a um  corte,  a  uma  fincada  ou  um  aper­
to"?; ou  "Que nota você dá para sua dor, numa es­
cala de 1 a  10 em que  10 é a dor mais  intensa?". 
• Pode ser necessário o envolvimento de uma terceira 
pessoa. Com a permissão do  doente, pode  ser ne­
cessário  o  envolvimento  do  cuidador  ou  do  côn­
juge, a fim de obter mais informações  válidas. Al­
guns  doentes  idosos podem  ser  relutantes  em  dar 
informações,  sem  que  seja  assistido  por  um  pa­
rente  ou  pessoa  de  sua  confiança.  Entretanto,  o 
doente idoso pode não querer nenhuma outra pes­
soa  presente  por  muitas  razões,  uma  das  quais 
pode ser problema  relacionado  com  abuso. O do­
ente idoso pode temer castigo por contar a alguém 
e  na  presença  de  quem  o  tenha  agredido  porque 
tem  várias  marcas  de  contusões.  Alguns  proble­
mas  que  podem  envergonhar  o  doente  idoso  fa­
zem  com  que  ele  não  queira  familiares  ou  outras 
pessoas por  perto, para  que  não  fiquem  sabendo. 
• Atençào deve ser dada aos déficits sensoriais (audi-
ção, visão, olfato, paladai; tato e equilíbrio). Dada a 
presença  habitual  destes déficits, manter  o conta­
to visual e falar mais  lentamente  que  o habitual e 
com volume  satisfatório  são  importantes  na  cole­
ta de  informações. 
• Alterações de compreensão ou distúrbios neurológi-
cos são problcinas significativos para muitos doen-
0 socorrista  não deve abordar doentes  idosos como se  fos­
sem crianças  pequenas. Um erro comum por parte dos pro­
fissionais  da  saúde, tanto  nos ambientes  de  atendimento 
pré­hospitalar  como  nos  departamentos  de emergência, é 
tratar  os  idosos dessa  maneira. Freqüentemente,  parentes 
bem­intencionados sãotão agressivos ao relataros eventos 
no lugar de seu ente querido idoso, que passam a ser os que 
respondem  às perguntas.  Em tal  situação, o fato  de a im­
pressão clínica e o histórico virem de alguém que não o doen­  l; 
te,  podendo  ser  incorretos,  pode  facilmente  deixar  de  ser 
percebido. Além do risco  aumentado  de obtenção  de  infor­
mação incompleta ou inexata  por meio da  impressão tradu­  Í 
zida porterceiro, subestima as capacidades do doente como 
adulto maduro. 
A interação adulta com o doente é essencial para a obten­
ção de boa  informação,  estabelecendo  uma  relação  entre o 
socorrista e o doente e preservando a dignidade à qual o do­
entetem direito. Embora informações adicionais de parentes, 
de cuidadores em asilos, ou de outros possam ser importan­
tes, não devem substituir  as  informações primárias forneci­
das pelo doente. 
tes idosos.  Estas  condições  variam  da  confusão 
mental  à  demência  senil  do  tipo  associado  à do­
ença de Alzheimer. Estes doentes não somente  tèm 
dificuldade  de  comunicação  e compreensão,  mas 
também podem ser  incapazes de compreender  ou 
ajudar  na  avaliação.  Podem  estar  inquietos  e  às 
vezes agressivos. 
• Finneza, confiança e questionamento claro e sim-
ples (e repetido) podem ser úteís.  Um  familiar  ou 
amigo podem  ser de  ajuda. 
• Preste atenção aos déficits de audição e visão, às di-
ficuldades dc compreensão e de mobilização.  Deve­
se  estabelecer  contato  visual  com  o  doente  que 
pode  ter  déficit  auditivo  e depender  da  leitura  de 
seus  lábios  e  observação  de  outros  movimentos 
faciais.  Barulho,  distração  e  interrupções  devem 
ser minimizados. Deve­se observar fluência da fala, 
um  movimento  involuntário,  disfunções  de  ner­
vos  cranianos  ou  dificuldades  respiratórias.  O 
doente  movimenta­se  com  facilidade,  é  instável, 
ou  apresenta  desequilíbrio? 
• Dê um aperto de mão no doente para avalíar aforça 
da mão, o turgor de pele e a temperatura corpórea. 
Procure  dirigir­se  ao  doente  pelo  nome  ou  sobre­
nome, a nào ser que o doente dê outras  instruções. 
Frases como:  "Agora, você  ficará  bem"  devem  ser 
evitadas.  Devem  ser  usadas  perguntas  abertas, 
como:  "Descreva  a  dor  em  seu  abdome,  é...?",  e 
perguntas  como: "Onde dói?" devem ser evitadas. 
CAPÍTULO 13 Considerações  Especiais  do Trauma no Idoso 355 
Doentes  idosos  apresentam  um grande  número  de queixas. 
Ao avaliar  um doente geriátrico,  mesmo durante  um evento 
traumático, saber destas queixas pode ser útil. A lista  a se­
guir contém algumas dessas queixas: 
•  Alcoolismo* 
•  Constipaçãoou diarréia 
•  Demência* 
•  Depressão* 
•  Tontura, vertigem, ou síncope 
•  Disfagia 
•  Dispnéia 
•  Quedas 
•  Fadiga e fraqueza 
•  Dordecabeça 
•  Perda auditiva* 
•  Incontinência ou incapacidade para evacuar* 
•  Rigidez musculoesquelética* 
•  Nutrição deficiente; perda de apetite 
•  Disfunções sexuais 
•  Distúrbios do sono* 
•  Distúrbios  visuais 
*As  reclamações mais freqüentes. 
• Atente para problemas comportamentais ou mani-
festações que não se ajustam à cena. Repare na apa­
rência.  As vestes  e apresentação  do  doente  estão 
adequadas  ao  local  e como  foi  encontrado?  A fa­
cilidade de levantar ou sentar deve ser  observada. 
• Alente para o estado nutricional do doente. O doen­
te parece bem nulrido, está desidratado, magro ou 
emaciado?  Doentes  idosos  têm a resposta  cla sede 
diminuída.  Os  rins  têm  problema  ao  enfrentar  o 
desafio  de uma  lesão  traumática.  Sua  capacidade 
de  concentrar  urina  estã  diminuída,  levando  à 
desidratação, mesmo antes do trauma. Débito uri­
nário  não  é boa medida  de perfusão  no  idoso. Os 
idosos  também  têm  decréscimo  da  gordura  cor­
poral  (15% a 30%)  e de água  corpórea. 
• Doentes idosos têm redução de peso dos músculos 
esqueléticos, alargamento e enfraquecimento dos os-
sos, degeneração das articulações e osteoporose. Têm 
maior  probabilidade  de  fraturas  com  traumas  le­
ves e risco acentuadamente  maior de  fraturas  das 
vértebras,  do  quadril  e das  costelas. 
• Doentes idosos têm degeneração de células do mús-
culo cardíaco e menos células no sistema de condu-
ção (marcapasso cardíaco). O  idoso  é propenso  a 
arritmias,  como  resullado  da  perda  de  elasticida­
de do coração e das principais artérias. O uso muito 
difundido  de betabloqueadores e bloqueadores dos 
canais de  cálcio e diuréticos  complica  ainda  mais 
este problema. Freqüentemente, após a lesão trau­
0 conhecimento de drogas utilizadas por um  doente pode cons­
tituir  informação fundamental  para o cuidado  pré­hospitalar. 
Por exemplo, o uso de betabloqueador, como propranolol, pode 
explicar a bradicardia do doente. Nesta situação. pode não ocor­
rertaquicardia crescente como sinal precoce do desenvolvimento 
de choque. A inibição dos mecanismos simpáticos  de defesa 
pela droga pode mascararo real nível de deterioração circula­
tória do doente. Tais doentes podem desestabilizar­se  rapida­
mente, aparentemente sem sinais  indicadores. 
Outro medicamento de uso comum no idosoé a warfarina. 
que é anticoagulante  ou "droga  que afina o sangue". Na vi­
gência  de seu  uso, qualquer  sangramento  portrauma  será 
mais abundante e de difícil controle. É importante saber que 
hemorragia  interna  pode progredir  rapidamente  levando ao 
choquee à morte. 
mática,  os  iclosos  apresentam  diminuição  do  dé­
bito cardíaco com hipóxia e não têm lesão pulmo­
nar.  Ataque  cardíaco  e  diminuições  do  volume  e 
da freqüência  cardíacos  bem como da reserva  car­
díaca,  todos  levam a morbidade  e mortalidade  do 
doente  traumático  idoso.  Um  doente  idoso  com 
pressão sistólica  de  120 mm Hg deve ser  conside­
rado  como  estando  em choque  hipovolêmico,  até 
prova  em  contrário. 
• A capacidade vital de um doente idoso está diminuí-
da em 50%. Modificações  cifóticas  (ãntero­poste­
riores)  resultam  em  alteraçãoda  relação  ventila­
ção­perfusão  no  repouso. A hipóxia  no  idoso  tem 
mais  probabilidade  de  ser  conseqüência  de  cho­
que  quando  comparada  com  a  que  acontece  em 
doentes  mais jovens.  A capacidade  de  excursões 
lorácicas  também  está  diminuída  nos  idosos. Vb­
lume  corrente  e volume  minuto  diminuídos  são 
típicos.  Trocas  de  oxigênio  capilar  e  dióxido  de 
carbono  diminuídas  são  significativas.  A hipoxe­
mia  tende  a ser  progressiva. 
Tratamento 
Vias Aéreas 
A presença de dentaduras, frcqüentes  em idosos, pode 
afetar  o  tralamento  clas  vias  aéreas.  Geralmente,  as 
dentaduras  devem ser manlidas  no  local  para  garan­
tirem  uma  melhor  vedação  ao  redor  da  boca  com  a 
máscara.  Contudo, próteses  dentárias  parciais  (pon­
tes)  devem  ser  removidas,  pois  durante  uma  emer­
gência podem  ser deslocadas e causar obstrução  total 
ou parcial  das vias aéreas. 
3 5 6 ATENDIMENTO P R É - H O S P I T A L A R AO TRAUMATIZADO 
A colocação  de dispositivos  para manter  a via aé­
rea pérvia, como canula nasofaríngea, pode ser com-
plicada  por  sangramento  significativo,  se  o  doente 
estiver  tomando anticoagulanles,  como warfarina  ou 
aspirina. 
Respiração 
A  população  idosa  tem  alta  prevalência  de  doença 
pulmonar  obstrutiva  crônica  (DPOC).  Na  presença 
de DPOC, o  estímulo  ventilatório  de  alguns  doentes 
não depende  do nível  de dióxido de carbono  no  san­
gue,  mas de níveis  sanguíneos  de oxigênio  diminuí­
dos.  Todavia, nunca se deve deixar de oferecer  oxigê­
nio  a  um  doente  que  necessite  dele.  A saturação  de 
oxigênio no sangue (SaOJ deve, geralmente, ser man­
tida acima  de 95%. 
Os idosos apresentam enrijecimento aumentado da 
caixa  torácica. Além disso, a redução de força da mus­
culatura da parede torácica  e o enrijecimento  da carti­
lagem  a  tornam menos  flexível.  Essas  e outras  altera­
ções  são  responsáveis  por  redução  dos  volumes  pul­
monares. O doente pode necessitar de suporte ventila­
tório,  por  meio  de  ventilação  assistida  com  máscara 
associada  a balâo dotado  de válvula  unidirecional. 
Circulação 
A hemorragia nos idosos é controlada de maneira  um 
pouco diferente  do que em outros doentes. Os  idosos 
têm pouca reserva cardiovascular. Os sinais vitais não 
são  um  indicador  bom  de  choque  no  idoso,  porque 
normalmente  o  doente  que  é  hipertenso  pode  estar 
em  choque  com  pressão  sistólica  de  110 mm Hg. A 
reanimação com  fluidos deve ser orientada pelo grau 
de suspeita  de grave sangramento,  baseado no meca­
nismo de trauma  e nas manifestações  que em geral se 
associam  ao  choque. 
A  utilização  da  calça  pneumática  antichoque 
(PASG) pode precipitar  insuficiência  cardíaca  conges­
tiva  e  prejudicar  a  ventilação.  A  decisão  de  colocar 
PASG  num  idoso  vítima  de  trauma  requer  vigilãncia 
aumentada  em busca  de complicações  associadas. 
Imobilização 
A proteção  da coluna  cervical, especialmente  em do­
entes  traumatizados  com  lesões multissistêmicas,  é o 
padrão cle atendimento esperado. Nos idosos, este pa­
drão  deve ser aplicado  não  somente  em situações  de 
trauma, mas também durante problemas  clínicos nos 
quais a manutenção  de vias aéreas pérvias é priorida­
de. A artrite degenerativa da coluna cervical pode oca­
sionar lesões raquimedulares por mobilização do pes­
coço, mesmo que  o doente  não  tenha  sofrido  trauma 
na  coluna. Outra  consideração  na  inadequada  mobi­
lização  da  coluna  cervical  é a possibilidade  de  oclu­
são de artérias que  irrigam o cérebro, que pode ocasi­
onar inconsciência e alé mesmo  acidente  vascular 
cerebral  (AVC). 
Ao  colocar  um  colar  cervical  num  doente  idoso 
com  cifose  grave,  o  socorrista  deve  assegurar  que  o 
colar não comprima as vias aéreas ou as artérias caró­
tidas.  Meios  menos  tradicionais  de  imobilização, 
como  uma  toalha  enrolada  e  coxins  para  a  cabeça, 
podem  ser  cogitados,  se  os  colares  cervicais  padrão 
forem  inapropriados. 
Pode  ser  necessário  colocar  acolchoamento  de­
baixo  da  cabeça  e entre  os  ombros  ao  imobilizar  o 
doente  idoso  em  posição  supina.  Em  vista  da  falta 
de  tecido  adiposo  existente  no  doente  idoso  mais 
frágil,  acolchoamento  e  coxins  adicionais  são  ne­
cessários  ao  ser  imobilizado  numa  prancha  longa. 
O  socorrista  deve procurar  pontos  de pressão  onde 
o  doente  está  apoiado  na  prancha  e  acolchoá­los 
adequadamente.  Ao  aplicar  tirantes  de  contenção 
para  imobilização  do  doente  idoso,  é possível  que 
ele não  possa  ser  capaz  de  estender  completamen­
te  suas  pernas,  em  vista  cla  redução  da  amplitude 
de  movimentos  do  quadril  e  dos  joelhos.  Assim, 
pode  ser  necessário  acolchoamento  em  baixo  das 
pernas, para maior  conforto  e segurança  do  doente 
durante  o  transporte. 
Controle da Temperatura 
Durante  o  tratamento  e o transporte, o cloente  idoso 
deve ser observado atentamente  quanto à hipotermia 
e hipertermia.  Embora  seja  adequada  a exposição  do 
doente para  facilitar  exame minucioso, os idosos são 
especialmente  propensos  à perda  de calor. Os  efeitos 
de várias medicações podem significar  que um  doen­
te seja mais propenso à hipertermia; portanto, clevem 
ser  considerados  alguns  meios  de  resfriar  o  doente, 
quando ele não puder ser removido rapidamenle  para 
um  ambiente  controlado.  Retirada  de  ferragens  por 
tempo  prolongado,  em  dias  de  temperaturas  extre­
mas,  também  pode  colocar  o doente  idoso  em  risco, 
e deve  ser  resolvida  rapidamente. 
Considerações Legais 
Várias  distinções  legais  podem  se  tornar  problemas 
ao  tratar  idosos. Na maior  parte dos Estados Unidos. 
cônjuges, irmãos, filhos, cônjuges de filhos e pais não 
têm  respaldo  legal  na  tomada  de  decisões  médicas 
para  um  adulto.  Pessoas  com  procurações  ou  tutela 
de  idosos  concedida  por  tribunal  podem  ter  autori­
dade  sobre  suas  questões  financeiras,  mas não  terão. 
necessariamente,  controle  sobre  as decisões  médicas 
pessoais  daquela  pessoa.  Mesmo  aqueles  que  detêm 
CAPÍTULO 13 C o n s i d e r a ç õ e s E s p e c i a i s do T r a u m a no Idoso 3 5 7 
custódia  legal  concedida  por  tribunal  ou  tutores  po­
dem  ter, ou  não, poder  de  tomada  de decisões médi­
cas,  dependendo  de  leis  locais e da  responsabilidade 
específica  de seu cargo. O socorrista deve apenas con­
siderar que existam  tais poderes, se existirem  especi­
ficação  da  tutela  de uma  pessoa e procuração  perma­
nente  com  documentação  clara  do  poder  por  parte 
de  terceiros. 
No meio de uma cena do trauma, o socorrista pode 
ter dificuldade  de fazer  disünções  legais precisas. Em 
vista da ambulãncia  ter sido deslocada,  de ter ocorri­
do  "um  chamado  de socorro",  o socorrista  deve  agir 
como  se houvesse  "consentimento  implícito" em  ca­
sos de doentes inconscientes ou com nível de consci­
ência  diminuído. 
Se  for  necessário  mais  esclarecimento  ou  se  al­
guém  tentar  obter  atenclimento  pré­hospitalar,  o 
problema  deve ser  colocado  para  o policial  respon­
sável  presente  à cena.  Em geral,  a  lei  disponibiliza 
um  protocolo  para  o  policial  tomar  rapidamente 
uma decisão na cena, permitindo  que  esclarecimen­
tos  sejam  realizados  mais  tarde,  no  hospital,  se 
houver  tempo.  Tais  eventos  devem  ser  documen­
tados  de  maneira  precisa  e  detalhada  no  boletim 
de  atendimento. 
Abuso e Negligência ao Idoso 
Abuso é definido  como  qualquer  ação de  tirar  vanta­
gem  de  pessoa  idosa,  de  sua  propriedade  ou  de  seu 
estado  emocional  que  seja  praticado  por membro  da 
família  (qualquer parente); por pessoas associadas quetenham  conlalo  diário  com  o  idoso;  por  qualquer 
pessoa da qual o idoso  dependa  para  suas  necessida­
des  diárias  de  alimentação,  vestuário  e moradia,  ou 
mesmo  por  um  profissional  da  saúde. 
Registros e queixas de abuso, negligência  e outros 
problemas associados estão aumentando entre os ido­
sos.  A exata extensão do abuso no idoso não é conhe­
cida  por  várias  razões: 
•  Abuso  ao  idoso  tem  sido  em grande parte  oculta­
do  da  sociedade. 
•  Abuso e negligência no idoso têm várias definições. 
•  fdosos  estão  receosos ou com medo para  relatar o 
problema  às  instãncias  legais  cabíveis, ou  às pes­
soas de agências de direitos humanos  e bem­estar 
social. Uma  típica vítima de abuso  no  idoso  pode 
ser um  pai que se sente envergonhado  ou  culpado 
de ter criado  um filho  que pratica abuso. A vítima 
de abuso também pode se sentir traumatizada pela 
situação ou com medo de sofrer  represálias  contí­
nuas por  parte  de quem  abusa. 
•  Algumas jurisdições  carecem  de mecanismos  for­
mais para  registro  dessas situações. Algumas áre­
as  nem mesmo  têm  dispositivos  estatutários  exi­
gindo  o  registro  de abuso  no  idoso. 
Os sinais cle abuso físico  e emocional. como  estu­
pro,  espancamento,  privação  nutricional.  passam. 
muitas  vezes, despercebidos  ou,  talvez. não sào  pre­
cisamente identificados. Em particular. mulheres mais 
idosas mais provavelmente  não  relatam às  instâncias 
legais cabíveis, incidentes  de abuso sexual.  7 
cias  sensoriais,  senilidade  e outras  formas  de  altera­
ção do  nível de consciência  (por  exemplo,  depressão 
induzida por medicamentos) podem impossibilitar ou 
dificultar  ao extremo o relato de maus­tratos pelo do­
ente  idoso. 
Perfil do Doente que Sofre Abuso 
O idoso que tem maior probabilidade de sofrer  abuso 
se enquadra  no  seguinte  perfil: 
•  Idade  superior  a  65  anos,  espeeialmente  mulhe­
res acima de 75  anos 
•  Frágil 
•  Múltiplas  condições  médicas 
•  Demenciado 
•  Alteração  do  ciclo  sono/vigília,  sonãmbulo,  ou 
grita  durante  a noite 
•  Incontinências  fecal,  urinária,  ou  ambas 
•  Depende de outros para atividades da vida cliária, 
incapaz  de vida  independente 
Perfil do Abusador 
Como muitos idosos vivem em ambiente  familiar,  em 
particular mulheres  acima dos 75 anos, esse  ambien­
te pode fornecer  pistas. O abusador  é,  freqüentemen­
te,  o cõnjuge  do doente ou a nora de meia­idade, que 
cuida  de  crianças  e pais  dependentes,  enquanto  tal­
vez  tenha  emprego  de  tempo  integral  ou  parcial. A 
maior  parte  dos que praticam  abuso  são  desprepara­
dos  para  os  cuidados  específicos  de  que  os  iclosos 
necessitam  e  têm  pouco  tempo  livre,  em  função  da 
constante  demanda  familiar. 
O  abuso  não  se  restringe  ao  domicílio.  Outros 
ambientes, como instituições que abrigam idosos (asi­
los,  para  convalescentes  e de cuidados  integrais)  são 
locais  onde  os  idosos  podem  sofrer  danos  físicos, 
químicos  ou  farmacológicos.  Pessoas  que  prestam 
assistência  nessas  instituições  podem  considerar  os 
idosos  como  representando  problemas  no  tratamen­
to ou  categorizá­Ios  como doentes obstinados ou  in­
desejáveis. O perlil habitual  do  indivíduo que  pratica 
abuso  inclui  os seguintes  sinais: 
358 A T E N D I M E N T O P R É - H O S P I T A L A R AO T R A U M A T I Z A D O 
•  Existência  de um  conflito  domiciliar 
•  Cansaço  aceniuado 
•  Desemprego 
•  Dificuldades  financeiras 
•  Abuso  de  drogas 
•  Histórico  de  ter sofrido  abuso 
Categorias de Abuso 
Abuso pode  ser categorizado  de  três  formas: 
1. Abusojísico.  Abuso  físico  inclui  agressão,  negli­
gência, má  nutrição, descuido  com  as  condições 
diárias  de  sobrevivência,  descuido  com  a  higie­
ne pessoal. Os sinais de  abuso  ou  negligência  fí­
sicos  podem  ser  óbvios,  como  uma  marca  de 
agressão  deixada  por  um  objeto,  como  atiçador 
de  lareira,  ou  sutil,  como  a  má  nutrição.  Os  si­
nais  de  abuso  no  idoso  são  semelhantes  aos  si­
nais  de  abuso  na  criança  (Figura  13­7). 
2. Abuso psicológico. Abuso  psicológico  pode  tomar 
a  forma  de  negligência,  abuso  verbal,  infantiliza­
ção,  ou  de privação  de  estimulação  sensorial. 
3. Abuso financeiro.  Abuso  financeiro  pode  incluir 
roubo  de valores ou  desfalque. 
Pontos Importantes 
Muitos  doenles  que  solrem  abuso  são  aterroriza­
dos  e induzidos  a fazer  falsos  testemunhos,  temen­
do  represãlias. No  caso  de abuso  a idoso  por  mem­
bros da  família,  o medo  de  ser  retirado  do  ambien­
te familiar  pode fazer  com que o idoso minta  quanto 
à  origem  do  abuso.  Em  outros  casos  de  abuso  no 
idoso,  a  privação  sensorial  ou  a  demência  podem 
impedir  um  relato  adequado.  O  socorrista  deve 
identificar  o abuso  e revelar  qualquer  patologia  re­
latada  pelo  idoso. 
A  identificação  de  uma  situação  de  abuso  pode 
reduzir  novos  traumas.  Relatanclo  situações,  onde 
exista  alto  grau  de  suspeita  de  abuso,  pode  viabili­
zar o encaminhamento  para agências de direitos  hu­
manos,  de  bem­estar  social  e  públicas  de  proteção 
ao  idoso. 
B 
Figura  13­7  Sinais  de  abuso  físico  em  idosos.  A. Escoriação  causada  por  um  soco. Esta  mulher 
concordou  em  ir ao hospital somente  por  ter sido aconselhada  pela polícia. Ao sair, mencionou  dor 
no pescoço. A radiografia  mostrou  fratura  do corpo de C6. B. Ferimento no couro cabeludo. O couro 
cabeludo é um local comum de abuso físico em idosos, que freqüentemente  causa choque hemorrágico. 
(De London  PS: A colour atlas of diagnosis after recent injury,  London,  1990, Wolfe.) 
CAPÍTULO 13 C o n s i d e r a ç õ e s E s p e c i a i s do T r a u m a no Idoso 3 5 9 
Resumo 
Pessoas idosas estão vivendo de forma mais saudável 
e são ativas por muito mais tempo. Como resultado, 
o trauma se tornou causa signilicativa de morbidade 
e mortalidade  entre  adultos  mais  velhos.  Modifica­
ções analômicas e fisiológicas associadas ao envelhe­
cimento,  à  doença  crônica  e às medicações  podem 
aumentar a probabilidade de certos  tipos de trauma, 
complicar lesões traumáticas e causar diminuição da 
capacidade  de compensação  do choque. No doente 
idoso  traumatizado, muitos fatores  podem mascarar 
sinais precoces de deterioração, aumentando a possi­
bilidade de súbita  descompensação  sem  sinais  indi­
cadores. Mesmo um simples trauma isolado, nos ido­
sos,  pode progredir para uma condição sistêmica agu­
da e produzir  condições  que potencialmente  amea­
çam a vida. O atendimento  adequado  e  imediato  é 
importante no tratamento do doente idoso vítima de 
trauma. 
No doente idoso, pode ter ocorrido lesão mais gra­
ve do  que aquela  que  se  suspeita  pela  apresentação 
inicial. As lesões e as condições encontradas terão efeito 
mais profundo  no idoso do que num doente mais jo­
vem. Com estas considerações o socorrista está avisa­
do,  atende o doente idoso antecipando­se às situações 
futuras, prestando, assim, atendimento melhor e mais 
seguro ao doente mais velho traumatizado. 
Ao tratar o trauma no  idoso, nem sempre é pos­
sível determinar,  de imediato, se o trauma  foi o 
evento primário ou se foi secundário a um evento 
clínico,  como  AVC,  infarto  do  miocárdio,  ou 
episódio cle síncope. Contudo, o socorrista  deve 
considerar,  sempre,  a possibilidade  de  que  um 
evento clínico precedeu o trauma. O fato de que 
esse doente está  recebendo  tratamento  com an­
ticoagulantes  e  tem  evidência  de  akerações  de 
coagulação deve alertá­lo  de que,  conseqüente­
mente, qualquer sangramento  decorrente  de le­
são cerebral  traumática  ou de lesão interna  será 
aumentado.  O  trauma  no  idoso  pode  serexa­
cerbado  pelos  efeitos  do  envelhecimento,  de 
doença e pelas medicações. Esses fatores podem, 
também,  distorcer  os achados normais  associa­
dos ao choque. Da mesma  forma, doenças pree­
xistentes  e alterações  íisiológicas causadas  pelo 
envelhecimento podem ser agravadas por  even­
to  traumático  nem  tão grave, criando  situação 
mais grave que  a mesma  lesão  no  doente  mais 
jovem. Você, socorrista,  deve abordar  o doente 
idoso  traumatizado  com  um  grau  de  suspeita 
para  lesões  cujos  sinais  e sintomas  podem  es­
tar mascarados pelos efeitos  do  envelhecimen­
to,  de  doenças  e de medicações  e para  a possi­
bilidade  de  lesões  mantidas  por  mecanismos 
menos  significativos  do  que  em  doentes  mais 
jovens.  Preocupação  especial  é  a  modihcação 
por  imobilização da  coluna  cervical, devido  ao 
aumento  da  curvatura  da  coluna.  Tratamento 
das  vias  aéreas  pode  ser  mais  desafiador,  em 
função  de  alterações  da  estrutura  facial,  que 
podem  dificultar  a  vedação  com  a  máscara. 
Além disso, por  uma  série de  razões, os  idosos 
são propensos  à  aspiração. 
3 6 0 ATENDIMENTO P R É - H O S P I T A L A R AO TRAUMATIZADO 
(uesimk Rerião 
As respostas  encontram­se  na  página  424. 
1.  Qual das seguintes é a conseqüência  anatômica  ou 
fisiológica  do  envelhecimento? 
a.  Risco  diminuído  de  aspiração. 
b.  Retenção  deficiente  de  material  recentemente 
aprendido. 
c.  Risco  aumentado  de  infecção  de  feridas. 
d.  Percepção  de  dor  aumentada. 
2.  Qual das seguintes descreve MELHOR o efeito  cli­
nicamente mais significativo  de osteoporose  e cal­
cificação da coluna vertebral do doente idoso  trau­
matizado  no  ambiente  pré­hospitalar? 
a.  Lesão  da  medula  espinhal  pode  ocorrer  com 
trauma  relativamente  leve  da  coluna  vertebral. 
b.  Reabsorção  do  osso  leva  à  hipercalcemia. 
c.  Curvatura  lombar anormal  leva a volume  intra­
torácico  diminuído. 
d. A escoliose  leva à compressão do coração e pul­
mões. 
3.  Qual das seguintes dificulta  a investigação de pos­
sível  abuso  ou  negligência  no  idoso? 
a.  Atribuir  sinais  e sintomas  a outra  causa. 
b.  Medo do doente de represália por parte de quem 
abusou. 
c.  O estado mental  alterado  do  doente. 
d. Todas as  anteriores. 
4.  As  tendências  epidemiológicas  e  demográficas 
atuais  indicam  quais  das  seguintes? 
a.  Proporção crescente de indivíduos  com mais de 
65 anos  na  população. 
b.  Incidência  crescente  de  trauma  nos  idosos. 
c.  Melhora  de qualidade  de vida  na população  de 
idosos. 
d.  Todas as  anteriores. 
5.  Quais  das  seguintes  é a variável  mais  importante 
que  contribui  para  quedas  nos  idosos? 
a.  Cataratas. 
b.  Doenças  do  sistema  nervoso  central. 
c.  Perigos  físicos  no  ambiente. 
d. Doenças  do  sistema  cardiovascular. 
6.  Quais  dos  seguintes  fatores  NÃO  está  associado 
com  risco  aumentado  de  abuso  ou  negligência  de 
doente  idoso? 
a.  O doente  tem  distúrbio  do  sono. 
b.  O doente  pode  realizar  atividades  da vida  diária. 
c.  Quem  cuida do  idoso  está  com  fadiga. 
d.  O doente  está  incontinente. 
CAPÍTULO 13 C o n s i d e r a ç õ e s E s p e c i a i s do T r a u m a no Idoso 3 6 1 
REFERÊNCIAS  LEITURAS  SUGERIDAS 
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