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Cons ideraçõe s rauma no Objetivos do capitul Ao final deste capítulo, o leitor estará apto a: Discutir a epidemiologia do trauma no idoso. s Discutir as alterações anatômicas e fisiológicas do envelhecimento como fatores predisponentes e fisiopatológicos do trauma no idoso. Explicar a interação de doenças preexistentes com lesões traumáticas no idoso, que produzem diferenças na fisiopatologia e nas manifestações do trauma. Explicar os efeitos produzidos por algumas classes de medicamentos na fisiopatologia e nas manifestações do trauma no doente idoso. Comparar e confrontar as técnicas de avaliação e considerações usadas para o idoso com aquelas usadas em populações mais jovens. 8 Demonstrar modificações nas técnicas utilizadas para a imobilização da coluna vertebral, com a finalidade de tornála segura, efetiva e o mais confortável possível no idoso. Comparar e confrontar o tratamento do doente idoso com aquele do doente jovem traumatizado. Avaliar a cena e doentes idosos traumatizados quanlo a sinais e sintomas de abuso e negligência. Agir como modelopadrão de atendimento às necessidades específicas do doente idoso traumatizado. ■ 344 A T E N D I M E N T O P R É - H O S P I T A L A R AO T R A U M A T I Z A D O Numa tarde ensolarada, você e sua equipe encontramse sentados do lado de fora de sua base. quando são surpreendidos por um estrondo. Ao olhar na direção do ruído, você vê, rua abaixo. um veículo colidido frontalmente com uma árvore. O capitão determina que você e seu parceiro se desloquem até o local. Ao chegarem, verificam que sua doente, a motorista e única ocupante do veículo é uma senhora de cerca de 75 anos, que se apresenta irresponsiva e com respiração agônica. Tem lacerações com sangramento ativo na região frontal e no antebraço esquerdo e usa um bracelete que tem informações, dando conta de que usa anticoagulantes. A colisão foi o exento primário ou decorreu de complicações de alguma doença? Como a informação do uso de anticoagulantes interfere no seu nível de suspeita acerca de lesão cerebral traumática e de hemoiragia intra-abdo- minal? Como a idade da doente, seu histórico médico pregresso e os medicamentos que utiliza interferem na avalia- ção das lesões, na medida em que tornam a fisiopatologia e as manifestações clínicas diferentes daquelas que ocor- rem em doentes jovens? De queforma você modificará sua conduta na abordagem desta doente? Os idosos (ou a chamada "terceira idade") representam o grupo etário que mais cresce nos Esta dos Unidos. Os geriatras (especialistas que estudam e cuidam de doentes idosos) costumam dividir o ter mo idoso em três categorias específicas: Meiaidade: 50 a 64 anos Idade tarclia: 65 a 79 anos Idade avançada: 80 anos ou mais Mais de 34 milhões de cidadãos americanos (12% da população dos Estados Unidos) têm 65 anos ou mais, faixa etária que se elevou durante os últimos 100 anos. Concomitantemente, as taxas de fertilidade caí ram, significando que haverá menos pessoas com ida de inferior a 65 anos, para sustentar os custos de saúde e de subsistência daqueles com mais de 65 anos. Até o ano 2050, cerca de 25% de americanos necessitará de cuidados médicos públicos, e a populaçào acima de 85 anos aumentará de 4 milhões para 19 milhões. O atendimento préhospitalar do idoso apresenta desafios, suplantados apenas pela atenção destinada às crianças. As manifestações súbitas de doença e o trauma apresentam dimensão diferente do cuidado préhospitalar do idoso em comparaeão com o aten dimento dedicado aos doentes mais jovens. Comparados ao restante da população, os idosos são mais suscetíveis a doenças graves e ao trauma. Em razão disso, o socorrista deve atentar para uma gama maior de complicações, durante a avaliação e atendimento iniciais desse doente. Como o idoso se utiliza de serviços de atendimento préhospitalar atra vés dos serviços de emergência (por exemplo, 192 ou 193), a maneira de tratar é diferente da dos doentes mais jovens. Em se tratando de vítima idosa, a avali ação do doente na cena do incidente pode levar mais tempo do que no doente jovem, na medida em que o idoso apresenta uma grande variedade de incapaci dades. Além disso, déficits auditivos e visuais, altera ções de conduta devido à senilidade e as modifica ções fisiológicas próprias da idade são fatores que dificultam sua avaliação. Em conseqüência dos avanços na ciência médica e da adoção de estilos de vida mais saudáveis, ocorreu um aumento da população acima de 65 anos nas últi mas décadas. Embora o trauma encontre sua maior fre qüência em pessoas jovens e as emergências geriátricas serem em geral clínicas, é crescente o número de idosos traumatizados. Atualmente o trauma é a quinta causa de morte na população idosa, correspondendo a 25% de todas as mortes por trauma nos Estados Unidos. Recentes progressos não apenas aumentam a ex pectativa de vida, mas também melhoram sua qualida de, ampliando o tipo de atividades físicas praticadas nas idades mais avançadas. Na medida em que a po pulação vive mais e com boa saúde, atividades como dirigir, viajar e se exercitar aumentam a possibilidade do trauma geriátrico. Muitos dos idosos que poderiam estar aposentados continuam trabalhando, a despeito de algum problema de saúde ou do avanço da idade. Decorrente de recentes mudanças de ordem social o número de idosos que vive só e de forma indepen dente, ou mesmo em comunidades de aposentados ou em pensões com cuidados mínimos de enfermagem, é maior que aquele morando em asilos ou em ambientes mais controlados ou limitados. Esse cenário sugere um provável aumento da incidência do trauma doméstico simples, como, por exemplo, as quedas. Temse ainda observado, ao longo dos últimos anos, um aumento do número de idosos, vítimas de crimes, que ocorrem CAPÍTULO 13 C o n s i d e r a ç õ e s E s p e c i a i s do Trauma no Idoso 3 4 5 tanto em casa quanto nas ruas. Os idosos são identifi cados como "alvos fáceis" e podem apresentar lesões significativas, decorrentes do impacto que sofrem quan do caem ou são derrubados, mesmo que, aparentemen te, a violência empregada tenha sido limitada, como no roubo de uma bolsa. Pelo exposto, fica evidente que os idosos, além de comporem uma fatia crescente da população, consti tuem uma parcela de risco, razão pela qual o socor rista deve entender as necessidades específicas do doente idoso traumatizado. Neste particular, os so corristas devem atentar para as alterações fisiológi cas próprias do envelhecimento e para as alterações provocadas por problemas médicos concomitantes na resposta do doente idoso ao trauma e seu tratamen to. As considerações especiais esboçadas neste capí tulo devem ser incluídas na avaliação e no tratamen to de qualquer doente traumatizado com 65 anos ou mais, daquele que aparenta ser idoso ou é um adulto de meiaidade que tenha algum dos problemas médi cos importantes mais associados com o idoso. Anatomia e Fisiologia do Envelhecimento O processo de envelhecimento determina alterações na estrutura física, na composição corporal e no fun cionamento orgânico. as quais podem determinar di ficuldades no atendimento préhospitalar. O envelhe cimentoinfluencia diretamente o aumento das taxas de morbimortalidade. O envelhecimento ou senilização. que é um pro cesso biológico nalural, algumas vezes chamado de processo de reversão biológica. começa durante os primeiros anos que sucedem o início da vida adulta. Neste ponto da vida, os órgãos e sistemas alcançam a maturação e funcionam a pleno. A partir de então. o corpo vai perdendo, gradativamente, sua capacidade de manter a homeostase (o estado de constância rela tiva de equilíbrio interno), com declínio da viabilida de por anos até a morte. O processo fundamental de envelhecimento ocorre no nível celular, refletindose em alterações anatômicas e funcionais. A idade avançada, geral mente, é caracterizada por fragilidade, processo mental mais lento, alterações de funções psicoló gicas, diminuição de energia, surgimento de doen ças crônicas e degenerativas e diminuição da acui dade sensorial. Habilidades funcionais encontram se diminuídas, e surgem os conhecidos sinais e sin tomas superficiais da velhice, quais sejam: pele enrugada, mudança da tonalidade e da quantidade dos pêlos, osteoartrite, lentidão do tempo de rea ção e dos reflexos (Figura 131). | Massa cerebral l Percepção de profundidade I Discriminaçao de cores l Reação pupilar ■ Capacidade * respiratória vital | Função renal Perda de 5 a 7 centímetros da estatura Degeneração das articulações jÁgua total do corpo Audição diminuída | Olfato e paladar l Produção de saliva | Atividade esofágica l Débito e freqüència cardíacos l Secreções gástricas I Número de * células corporais j . Elasticidade da pele e adelgaçamento da epiderme 15%30%da gordura corporal Figura 131 Aherações determinadas pelo envelhecimento. 3 4 6 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMATIZADO Influência de Problemas Médicos Crônicos À medida que envelhecem, os indivíduos não só ex perimentam alterações fisiológicas normais do enve lhecimento, mas também estão sujeitos a mais pro blemas médicos. Embora alguns deles possam alcan çar uma idade avançada sem qualquer problema sé rio de saúde, estatisticamente, uma pessoa mais vc lha tem maior probabilidade de ter uma ou mais do enças, de significativa repercussão. O próprio cuida do médico pode controlar estas condições, evitando ou minimizando sua exacerbação na forma de qua dros agudos repetidos que, com freqüência, se expres sam por episódios que ameaçam a vida. Alguns indi víduos mais velhos alcançam a idade avançada com problemas médicos mínimos, ao passo que outros poclem viver com doenças crônicas e são dependen tes de recursos médicos modernos. Este último gru po está mais propenso a uma rápida deterioração face a uma situação de emergência. Repetidos episódios agudos ou mesmo a ocorrên cia de um episódio significativo podem determinar subseqüentes alterações funcionais crônicas. Um do ente que lenha tido um infarto agudo do miocárdio no passado apresenta dano miocârdico permanente. A capacidade cardíaca reduzida resultante continua pelo resto de sua vida afetando o coração e também outros órgãos em razão do subseqüente declínio circulatório. Com o avanço da idade ocorrem problemas médi cos adicionais. Nenhum deles é verdadeiramente iso lado, pois os efeitos corporais são cumulaüvos. A repercussão sistêmica das alterações promovidas é normalmente maior, comparada à soma de cada efei to individual. Como esta condição é progressiva e reduz a qualidade das funções vitais do corpo, a ca pacidade do indivíduo de resistir à doença, ao trau Tabela 13-2 Número de Doenças Preexistentes (DPs) e Resultado Tabela 13-1 Percentual de Doentes com Doença Preexistente (DP) Idade (anos) 15-24 25-34 35-44 45-54 55-64 65-74 >75 DP(%) 2,8 8 17 30,8 44,1 50 64,9 (Adaptado de Milzman D. P., Boulanger B. R., Rodriguez A. et al, Preexisting disease in trauma patients: a predictoroffate independent ofage and injury severity score, J Trauma 32:236,1992.) Número deDPs o í 2 3 ou mais Sobreviventes Mortos 6.341 197 67 DltOS 211 56 36 22 Taxa de Mortalidade (%) 3,2 6,1 15,5 24,7 (Adaptado de Milzman D. P., Boulanger B. R., Rodriguez A. et al, Preexisting disease in trauma patients.- a predictor of fate independent ofage and injury severity score, J Trauma 32:236,1992.) ma grave, ou até mesmo ao trauma menos complexo, diminui muito. Independentemente da idade do doente, se é pe diátrico, de meiaidade ou idoso, as prioridades no atendhnento, as intervenções necessárias e a apresen tação das situações, em geral resultantes de trauma grave e que colocam em risco a vida, são as mesmas. Os idosos traumatizados morrem pelas mesmas ra zões que traumatizados de outras faixas etárias. Con tudo, freqüentemente, por conta das condições pree xistentes, os doentes idosos podem morrer em con seqüência de lesões traumáticas menos graves e mais precocemente que doentes jovens. Estatísticas de monstram a iníluência de condições preexistentes na sobrevida de idosos traumatizados (Tabela 131) e que a taxa de mortalidade cresce com o número de doen ças concomitantes (Tabela 132). Certas condições estão associadas à taxa de mortalidade mais alta, em decorrência da maneira corao interferem na capaci dade do idoso de responder ao trauma (Tabela 133). Sistema Respiratório A função ventilatória no icloso está diminuída, em parte pela incapacidade de expansão e conlração da caixa torácica e em parte pelo enrijecimento da via aérea. O enrijecimento aumentado da parede toráci ca está associado com a redução na capacidade de sua expansão e enrijecimento das conexões cartilagi nosas das costelas. Como resultado destas modifica ções a caixa torácica fica menos flexível. A diminui ção da eficiência do sistema respiratório exige do doente idoso mais esforço na execuçào das ativida des diárias. A área de superfície alveolar diminui com a idade. Após os 30 anos de idade, estimase que a cada década, a área de superfície alveolar diminui 4%. Por exemplo, um indivíduo de 70 anos teria uma re dução cle 1.6% da sua área de superfície alveolar. Qual CAPÍTULO 13 Con s i d e r a ç õ e s E spec i a i s do T rauma no Idos 347 quer alteração da já reduzida área de superfície alve olar diminui a captação de oxigênio. Além disso, com o envelhecimenio corporal, a capacidade de satura ção da hemoglobina pelo oxigênio diminui levando a saturações de oxigênio basais menores que o normal e a uma menor reserva disponível. A diminuição do reflexo e da força para tossir e a redução do tônus do esfíncter esofágico inferior re sultam em aumento do risco de aspiração. A redução no número de cílios (processos pilosos que varrem partículas estranhas e muco dos brônquios) predis põe o idoso a problemas causados por inalação de partículas. Outro íator que afeta o sistema respiratório é a modificação da curvatura da coluna vertebral. Modi ficações da curvatura acompanhadas de corcova ân teroposlerior (como a enconlrada em doente com osteoporose), freqüentemente, conduzem à dificul dade ventilatória adicional (Figura 132). Alterações que alingem o diafragma lambémpodem contribuir para problemas ventilatórios. O enrijecimento da cai xa torácica determina que o idoso utilize mais ativi dade diafragmática para respirar. Esta dependência aumentada do diafragma torna o idoso especialmen te sensível a alterações da pressão intraabdominal. Assim, a posição supina ou o enchimento demasiado do estômago após uma lauta refeição podem provo car insuficiência ventilatória. A obesidade também exerce um papel restritivo sobre o diafragma, especial mente se a distribuição da gordura for central. Ouvidos, Nariz e Garganta Deterioração dos dentes, doença periodontal (gen givite) e trauma dentário resultam na utilização de vários tipos de próteses dentárias. A fragilidade de coroas, pontes fixas ou móveis e dentaduras consti tuem problema especial de potenciais corpos estra nhos que podem ser aspirados e prc rocar obstruçáo da via aérea. Alterações do contorno da face. conferindo aspecto característico enrugado e retraído dos Lábícs. resul tam de reabsorção da mandíbula. em pane causada pela ausência de clentes. Estas alterações podem difí cultar a vedação criada no uso da máscara assodada a balão dotado de válvula unidirecional e visualira ção da via aérea durante intubação endotraqueal. nariz e as orelhas são mais alongados que nos jovens. devido ao crescimento contínuo das cartilagens (Fi gura 133). Sistema Cardiovascular As doenças clo sistema cardiovascular são a principal causa de morte nos idosos. Doenças cardiovasculares são responsáveis por mais de 3.000 mortes por 100.000 indivíduos com idade superior aos 65 anos. A diminuição da elasticidade arterial relacionada com a idade leva ao aumento da resistência vascular periiérica. O funcionamento adequado do miocárdio e dos vasos sangüíneos depende de suas proprieda des elásticas, contráteis e distensíveis. Fais proprie dades decrescem com o envelhecimento, reduzindo a eficiência do sistema cardiovascular em movimen tar fluidos pelo corpo. Dos 20 aos 80 anos, o débito cardíaco diminui, aproximadamente, em 50%. Cerca de 10% dos iclosos com idade superior a 75 anos te rão algum grau de insuficiência cardíaca congestiva manifesta (assintomátíca). Alerosclerose é uma condição de estreitamento nas artérias, na qual há o espessamento da camada inter na cla parede cla artéria com depósito crescente de Tabela 13-3 Doenças Preexistentes (DPs): Prevalência e Mortalidade DPs Número de doentes Presença de DPs (%) Total (%) Taxa de MortalidarJe (%) Hipertensão Pneumopatia Cardiopatia Diabetes Obesidade Câncer Distúrbio neurológico Nefropatia Hepatopatia 597 286 223 198 167 80 45 40 41 47,9 23 17,9 15,9 13,4 6,4 3,6 3,2 3,3 7,7 3,7 2,9 2,5 2,1 1 0,6 0,5 0,5 10,2 8,4 18,4 12,1 4,8 20 13,3 37,5 12,2 (Adaptado de Milzman D. P., Boulanger B. R., Rodriguez A. et al, Preexisting disease in trauma patients: a predictor of fate independentof age and injury severity score, J Trauma 32:236,1992.) 348 A T E N D I M E N T O P R E - H O S P I T A L A R AO T R A U M A T I Z A D O Figura 132 A curvatura da coluna vertebral pode levar a uma corcova ãntero posterior, que pode ser causa de dificuldades respiratórias. A redução da área da superfície alveolar pode também reduzir a quantidade de oxigênio trocada nos pulmões. \VO Figura 133 Alterações no contorno da face. gordura dentro da artéria. Estes depósitos, chamados de placa, se projetam por cima da superfície da cama da interna e diminuem o diâmetro da luz do vaso. Um resultado deste estreitamento é a hipertensão, situação que acomete 1 em 6 adultos dos Estacios Unidos. A calcificação da parede arterial reduz sua capacidade de mudar de tamanho em resposta a estí mulos endócrinos e do sistema nervoso central. A circulação diminuída pode ter efeitos adversos em qualquer um dos órgãos vitais e é causa comum de doença cardíaca. Com a idade, o coração apresenta aumento de te cido fibroso e de tamanho (hipertrofia miocárdica). A atrofia das células do sistema de condução resulta na incidência aumentada de arritmias cardíacas. Em particular, os reflexos normais no coração que res pondem à hipotensão diminuem com a idade, resul tando na incapacidade do icloso de aumentar sua fre qüência cardíaca adequadamente. Doentes portado res de marcapasso permanente têm freqüência cardí aca e débito cardíaco constantes, que nem sempre respondem à demanda aumentada de consumo de oxigènio no miocárdio, que acompanha o estresse provocado pelo trauma. No idoso traumatizado, esta diminuição da circu lação contribui para a hipóxia celular, resultando em arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca aguda e até mesmo morte súbita. A capacidade do corpo de com pensar perdas sangüíneas, ou outras causas de cho que, é significativamente diminuída no idoso, devi do à diminuição da resposta inotrópica (contração cardíaca) às catecolaminas. A circulação reduzida e as respostas de defesa cir culatórias reduzidas, associadas à insuficiência car díaca crescente, representam um grande problema no tratamento do choque no idoso. A ressuscitação com íluidos deve ser cuicladosamente vigiada, face à redu zida complacência do sistema cardiovascular e ven trículo direito "enrijecido" freqüente. Devese tomar cuidado no tratamento da hipotensào e do choque, para não causar sobrecarga de volume na ressuscita ção agressiva com fluidos. CAPÍTULO 13 C o n s i d e r a ç õ e s E spe c i a i s do T rauma no Idoso 3 4 9 Sistema Nervoso Ocorre redução do peso cerebral e do número de neu rônios ou células nervosas com o envelhecimento. Em torno dos 20 anos, o cérebro atinge seu peso máximo (1,4 kg). Aos 80 anos, o peso cerebral sofre redução de cerca de 100 g. Também cai a velocidade de condução dos impulsos nervosos ao longo de certos nervos. Es tes decréscimos resultam apenas em efeitos discretos no comportamento e raciocínio. Os reflexos estão mais lentos, mas não em grau significante. Funções com pensatórias podem estar prejudicadas, especialmente nos doentes portadores de doença de Parkinson, au mentando a incidência de quedas. O sistema nervoso periférico também é afetado pela condução mais lenta dos impulsos nervosos, resultando em tremores de extremidades e marcha instável. Conhecimentos gerais e vocabulário aumentam ou ficam mantidos, ao passo que habilidades que exijam raciocínio e destreza (habilidade psicomotora) podem diminuir. Funções intelectuais que envolvem com preensão verbal, raciocínio matemático, fluência de idéias, avaliação de experiências e conhecimento ge ral tendem a aumentar depois de 60 anos nos idosos que mantêm ativiclades de aprendizagem. São exce ções aqueles que desenvolvem demência senil e ou tras doenças, como mal de Alzheimer. O envelhecimento biológico normal do cérebro não é indicador de doença cerebral. Entretanto, as reduções estruturais do córtex cerebral podem estar relacionadas com disfunções mentais. À medida que ocorrem alterações estruturais no cérebro, podem ocorrer comprometimento da memória, mudanças na personalidade e outros déficits funcionais. Em tais situações, há necessidadede utilização de alguma forma de serviço de atenção à saúde mental. Aproxi madamente 10% a 15% dos idosos necessitam de ser viços profissionais de saúde mental. Entretanto, ao avaliar um doente idoso traumatizado, qualquer al teração da atividade mental deve ser considerada como decorrente de insullo traumático agudo, como choque, hipóxia ou lesão cerebral. Alterações Sensoriais VISÃO E AUDIÇÃO De modo geral, cerca de 28% dos idosos têm dimi nuição da audição e quase 13% têm diminuição da visão. Os homens são mais propensos a ter dificulda des quanto à audição, ao passo que ambos sexos têm índices semelhantes quanto à perda visual. A perda de visão é um desafio em qualquer idade, podendo ser mais problemática para os idosos. A in capacidade de ler instruções (por exemplo, a bula cle uma medicação) pode levar a efeitos desastrosos. Além disso, os idosos apresentam diminuições da acuida de visual, da capacidade de diferenciar cores e da vi são noturna. As células do cristalino perdem a capacidade de restauração da sua estrutura molecular original. Um dos agentes destrutivos ao longo de anos de exposi ção é a radiação ultravioleta. Eventualmenie. Q cris talino perde a capacidade de aumentar sua espessura e curvatura e o resultado é a quase universal "vista cansada" (presbiopia) acima dos 40 anos e que e :.:_. o uso de óculos para a leitura. Como resultado cias alterações nas várias estrutu ras do olho, o idoso tem mais dificuldade de enxer gar em ambientes com pouca iluminação. A produ ção diminuída de lágrima leva a olho seco e prurido. ardência e a incapacidade de manter o olho aberto por longos períodos de tempo. Com avanço da idade, o cristalino tornase opaco e impenetrável à luz. Este processo gradual resulta no que é chamado catarala ou cristalino leitoso, que bloqueia e distorce a luz que entra no olho, produ zindo visão turva. Cerca de 95% das pessoas idosas desenvolvem algum grau de catarata. Esta deteriora ção aumenta o risco de colisões automobilísticas, particularmente ao dirigir à noite. A perda gradaliva da audição (presbiacusia) é também característica clo envelhecimento. É devi da à perda de condução de som para dentro do ouvido interno, podendo ser auxiliada com o uso de aparelhos que amplificam o som. Esta perda auditiva é mais pronunciada quando a pessoa ten ta a discriminação de sons complexos, como quan do muitas pessoas falam ao mesmo tempo ou na presença de ruído de amplitude alta, como o emi tido por sirenes. PERCEPÇÃO DOLOROSA Em função do processo de envelhecimento e da pre sença de doenças, como o diabetes, o idoso pode não ter percepçào dolorosa normal, colocandoo em ris co aumentado de lesões por exposição excessiva ao calor ou ao frio. Muitos idosos são portadores de con dições como artrite, que resultam em dor crônica. O convívio diário com a dor pode tornar o indivíduo mais tolerante à dor e ele não poderá identificar áreas de lesão. Durante a avaliação dos doentes idosos, es pecialmente dos que se queixam de dor por todo o corpo ou daqueles que aparentam ser mais tolerantes à dor, o socorrista deve localizar as áreas onde a dor aumentou ou onde a área dolorosa aumentou. De vem também ser registradas mudanças de caracterís tica da dor ou fatores de exacerbação, a partir do even to traumático. 3 5 0 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMATIZADO Sistema Musculoesqueiético A desmineralização óssea ocorre com a idade. A perda óssea (osteoporose) difere em ambos os sexos. Nos adultos jovens, a massa óssea é maior nas mulheres que nos homens. Entretanto, a perda óssea é muito mais rápida em mulheres e se acelera após a menopau sa. Em função dessa incidência maior de osteoporose, mulheres mais velhas têm maior probabilidade de fra turas, em particular, do colo do fêmur (quadril). Pessoas mais velhas às vezes têm estatura menor do que quando adultos jovens, causada por desidra tação dos discos intervertebrais. À medida que hou ver aplainamenteo dos discos, ocorre perda de até 5 cm na estatura entre 20 e 70 anos. A cifose (curvalu ra da coluna vertebral) na região torácica, geralmen te causada pela osteoporose (Figura 134), também pode contribuir para a perda de estatura. À medida que os ossos se tornam mais porosos e frágeis, ocorre erosão anleriormente, podendo se de senvolver fraturas por compressão. Como a coluna torácica se torna mais encurvada, a cabeça e os om bros parecem se projetar para diante (Figura 135). Na presença de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), particularmente enfisema, a cifose pode ser mais pronunciada, devido à hipertrofia da muscula tura acessória da respiração. A osteoartrite, uma forma de artrite, na qual articu lações soírem mudanças degenerativas, caracterizase pela rigidez, deformidade, edema articular e dor. Ge ralmente a osteoartrite promove alterações nas mãos e nos pés, em particular nas articulações interfalangea nas proximais e distais, e nos quadris e coluna verte bral (Figura 136). A tendência aumentada em dobrar as pernas faz com que os braços pareçam mais longos, mesmo que nenhuma alteração no seu comprimento tenha ocorrido de fato (ver Figura 135). Com o envelhecímento clos músculos ocorre perda da massa muscular, calculada em 30%, entre os 30 e 80 anos. Déficits relacionados com o sistema musculoesquelético (por exemplo, incapacidade para dobrar o quadril ou joelho com as mudanças do ter reno) predispõem o idoso a quedas. A fadiga muscu lar do idoso pode causar muitos problemas que afe tam o movimento, com queda sendo um dos mais freqüentes. São comuns as mudanças na postura nor mal do corpo, e mudanças na coluna vertebral fazem com que a curvatura se torne mais acentuada com o envelhecimento. Algum grau de osteoporose é ine rente no envelhecimento. Em razão da reabsorção óssea progressiva, os ossos ficam menos ílexíveis e mais frágeis, quebrando mais facilmente. O enfraque cimento de força óssea associada à redução cia força / f ' .. ■■'' * ^ *■ sMmm Figura 134 Cifose, geralmente causada por osteoporose. Figura 135 A lendência em dobrar as pernas faz com que os braços pareçam ser mais longos. CAPÍTULO 13 C o n s i d e r a ç õ e s E s p e c i a i s do T r a u m a no Idoso 3 5 1 muscular causados por exercício menos ativo predis põem a íraturas múltiplas, mesmo quando a força for leve ou moderada. Com o processo artrítico que ocorre no envelhecimento a amplitude de movimentação arücular se torna mais limitada. A coluna vertebral muda por inteiro com a idade pelos efeitos da osteoporose e da calcificação (osteó fise) dos ligamentos de suporte. Esta calciíicação causa redução da amplitude de movimentos e estreitamen to do canal medular. O estreitamento do canal medu lar e doença osteofítica progressiva colocam estes doentes em alto risco para lesões medulares, mesmo nos traumas menos complexos. O estreitamento do canal medular, chamado estenose medular, aumenta, na coluna cervical, a probabilidade de compressão da medula espinhal, mesmo na ausência de fralura ós sea real da coluna vertebral. A coluna tóracolombar também degenera progressivamente, e as forças combinadas da osteoporose e alterações da postura levam a um aumento das quedas. O socorrista deve ter alto nível de suspeita para lesões raquimedulares durante a avaliação do doente, pois mais de 50% das fraturas por compressão verlebral são assintomáticas. Pele Com o envelhecimento da pele, perdemse glândulas sudoríparas e sebáceas. Perda das glãndulas sudorí paras reduz a capacidade de regulação da temperatu ra pelo corpo. A perda de glândulas sebáceas, que produzem oleosidade, torna a pele mais seca e desca mativa. A queda na produção da melanina (pigmen to que dá cor à pele e aos pêlos) causa a palidez do envelhecimenlo. A pele tornase mais delgada e as sume um aspecto translúcido, devido a alterações no tecido conjuntivo. O adelgaçamento e o ressecamen to da pele também a tornam menos resistente a mi crorganismos, resultando em elevação da taxa de in fecção secundária a pequenos traumas. Com a perda da elasticidade, a pele estica e depois forma rugas e Figura 136 Osteoartrite. dobras, especialmente nas áreas de uso contínuo, como aquelas sobre os músculos faciais. Perda de te cido adiposo pode predispor o idoso à hipotermia. Esta perda de tecido adiposo também leva a menos espessura das proeminências ósseas. como a cabeça, os ombros, a coluna, as nádegas, os quadris e calca nhares. Imobilização prolongada, sem acolchoamen to adicional, pode resultar em necrose tecidual e ul ceração, bem como aumento da dor e desconforto durante o tratamento e o transporte. Sistema Renal Alterações comuns ao envelhecimento incluem re dução dos níveis de filtração pelos rins e redução da capacidade de excreção. Estas alterações devem ser consideradas quando se administram drogas depura das pelos rins. A perda crônica da função renal. que habitualmente é encontrada no idoso, contribui para a delerioração da saúcle geral do doente e sua capaci dade de resistir ao trauma. Sistema Imunológico Com o envelhecimento, o sistcma imune diminui sua habilidacie de funcionar. Como resultado, ocorre a re dução das respostas celulares e humorais. Associada a quaisquer outros problemas nutricionais preexis tentes comuns no idoso, isto leva ao aumento da sus cetibilidade a infecções. A sepse é causa comum de morte tardia após trauma grave ou mesmo insignifi cante nos idosos. Avaliação A avaliação préhospitalar do idoso traumatizado é baseada no mesmo método utilizado para todos os traumatizados. Assim como em todos os doentes trau matizados, a primeira consideração relacionase com o mecanismo de trauma. Nesta seção são discutidas algumas considerações específicas da avaliação do doente traumatizado idoso. Mecanismo de Trauma QUEDAS As quedas constituem a principal causa de morte e de invalidez por trauma daqueles com idade superior a 75 anos. Aproximadamente um terço de pessoas com mais de 65 anos que vivem em comunidades cai a cacla ano, número que aumenta para 50%, em torno dos 80 anos. Homens e mulheres caem com a mesma freqüên cia, entretanto, as mulheres têm duas vezes mais chance de ter lesão mais grave, face ao enfraquecimento mais pronunciado dos ossos (osteoporose). 3 5 2 ATENDIMENTO P R É - H O S P I T A L A R AO TRAUMATIZADO A maior parte das quedas acontece como resul tado da natureza inerente do envelhecimento, com mudanças de postura e da marcha. Alterações na acuidade visual, devido a cataratas, glaucoma e per da de visão noturna, contribuem para a perda de orientações visuais usadas pelos idosos para mo verse com segurança. Doenças dos sistemas ner vosos central e periférico e a instabilidade vascu lar por doença cardiovascular podem precipitar ain da mais quedas. Porém, as variáveis mais impor tantes, que contribuem para as quedas no idoso, são as barreiras físicas no seu ambiente, como pi sos escorregadios, degraus, calçados inadequados e pouca iluminação. As fraturas dos ossos longos são responsáveis pela maior parte das lesões, com fraturas do quadril, deter minando as maiores taxas de mortalidade e morbida de. A taxa de mortalidade por fraturas de quadril al cança 20% no primeiro ano após o evento traumático e se eleva para 33% no segundo ano após o trauma. A mortalidade é freqüentemente secundária à embolia pulmonar e aos efeitos de mobilidade diminuída. TRAUMA POR VEÍCULOS AUTOMOTORES Colisões envolvendo veículos automotores são a prin cipal causa de morte na população geriátrica entre os 65 e os 74 anos. Um doente idoso tem cinco vezes mais chance de sofrer lesão fatal por incidente auto mobilístico do que um condutor mais jovem, embora raramente se encontre excesso de velocidade como fator causador no grupo etário mais velho. Estas altas taxas de mortalidade são atribuídas a certas mudanças fisiológicas. Em particular, a mudan ça sutil na memória e dejulgamento, combinadas com a diminuição da acuidade visual e auditiva, podem resultar em tempo de reação alterado. Em colisões automobilísticas, a intoxicação por álcool é raramente envolvida em comparação com pessoas mais jovens. Somente 6% dos idosos com le sões fatais estão alcoolizados, comparados com 23% nos demais grupos etários. Peclestres idosos representam mais de 20% das vítimas fatais. Em razão da marcha mais lenta, o tem po dado pelos semáforos pode ser curto demais para que o idoso possa atravessar o cruzamento em segu rança. Isto pode explicar a observação de que mais de 45% das mortes de pedestres idosos acontecem perto de uma faixa para pedestres. AGRESSÃO E ABUSO DOMÉSTICO O idoso é altamente vulnerável ao crime. Estimase que agressões violentas sejam responsáveis por mais de 10% das admissões de idosos traumatizados. A necessidade de cuidado contínuo por debilitação pode predispor uma pessoa idosa ao abuso por parte de quem cuida. QUEIMADURAS Os idosos representam 20% das internações em uni dades de queimados com a estimativa de 1.500 mor tes ao ano relacionadas com queimaduras por fogo. Nos idosos, mortes por queimaduras decorrem, mais freqüentemente, de lesões de tamanho e gravidade menores, comparadas com as em outras faixas etári as. A taxa de morte é sete vezes maior do que em vítimas de queimaduras mais jovens. Em razão da diminuição da acuidade visual e da audição os idosos podem retardar o reconhecimento de incêndios domésticos. A percepção diminuída da dor pode resultar em queimaduras mais graves. A presença de condições médicas preexistentes, como doença cardiovascular e diabetes, resulta em pouca tolerância ao tratamento de queimadura por reanimação. Colapso vascular e infecção são causas mais comuns de morte por queimadura. LESÃO CEREBRAL TRAUMÁTICA O cérebro sofre redução de 10% de sua massa aos 70 anos. A duramáter encontrase mais aderida ao crâ nio, resultando em alguma redução do volume cere bral. Uma conseqüência disso é a freqüência baixa de hematoma epidural e a maior incidência de hemorra gia subdural. Em função da atrofia cerebral, uma he morragia subdural de monta pode existir com acha dos clínicos mínimos. A combinação de trauma cra niencefálico e choque hipovolêmico resulta em taxa de mortalidade mais alta. Via Aérea A avaliação do doente idosocomeça com o exame da via aérea. Alterações da atividade mental podem es tar associadas com obstrução da via aérea pela lín gua. A cavidade oral deve ser examinada buscando se corpos estranhos, como dentaduras que foram des locadas. Respiração Doentes idosos com freqüência respiratória abaixo de 10 rpm ou acima de 30 rpm terão volume minuto inadequado, necessitando de ventilação com pressão positiva. Para a maioria dos adultos, uma freqüência ventilatória entre 12 e 20 rpm é normal e confirma a presença de volume minuto adequado. Entretanto, num doente idoso, a capacidade e função pulmona res reduzidas podem resultar em volume minuto ina dequado, mesmo com freqüências entre 12 e 20 rpm. CAPÍTULO 13 C o n s í d e r a ç õ e s E s p e c i a i s do T r a u m a no Idoso 3 5 3 Na presença de freqüência respiratória anormal, a ausculta pulmonar imediata é obrigatória. Circulação O tempo de enchimento capilar retardado é comum no doente idoso em razão da circulação menos efi ciente; portanto não é bom indicador de alterações circulatórias agudas nestes doentes. Algum grau de redução da sensibilidade distal, motricidade e da cir culação nas exlremidades é achado comum normal nos idosos. Alguns achados só podem ser interpretados cor retamenle, conhecendose o estado prévio ou "basal" do doente. Margens esperadas de sinais vitais nor mais e outros achados, em geral consideradas padrão (normais), não são normais em todo doente e os des vios são muito mais comuns no doente idoso. Embo ra as margens geralmente assumidas como normais sejam amplas para incluir a maioria das diferenças individuais de adultos, um indivíduo de qualquer idade pode ultrapassar estas normas; portanto nos idosos esperamse tais variações. Medicamentos po dem contribuir para estas variações. Por exemplo, num adulto hígido, pressão sistólica de 120 mm Hg é considerada normal. Já num doente hipertenso crô nico, que normalmente tem pressão sistólica de 150 mm Hg, a pressão de 120 mm Hg tornase uma preo cupação, sugerindo hemorragia oculta (ou outro me canismo) de tal intensidade a provocar descompen sação. Da mesma forma, a freqüência cardíaca não é bom indicador de trauma no idoso em função dos efeitos de medicamentos e da inadequada resposta do coração às catecolaminas circulantes (epinefrina). Informações quantitativas ou sinais clínicos não de vem ser usados de forma isolada de outros achados. Entretanto, a falha no reconhecimento que ocorreu tal mudança ou que seja grave achado patológico em determinado doente pode produzir resultado desas troso para o doente. Incapacidade (avaliação neurológica) O socorrista deve analisar todos os achados em con junto e, ao mesmo tempo, ter um alto nível de sus peita no idoso. Grandes diferenças na atividade men tal, memória e orientação (para o passado e presen te) podem existir no idoso. Lesão cerebral traumáti ca significante deve ser identificada, levando em conta o status normal prévio do indivíduo. A menos que alguém na cena possa descrever este estado, devese presumir que o doente tem dano neurológico, hipó xia, ou ambos. Saber distinguir entre um estado crô nico do doente e alterações agudas é fator essencial para não subestimar ou sobrestimar o estado atual do doente como índice fundamental na avaliação de sua condição global. Entretanto. a inconsciência consti tui sinal de gravidade em todos os casos. O socorrista deve selecionar cuidadosamente as per guntas para determinar a orientação de tempo e lugar do doente idoso. Indivíduos que trabalham 5 dias por semana e têm os fins de semana li\Tes geralmente sa bem em que dia da semana se encontram. Caso não consigam fazêlo, podese presumir que tenham algum nível de desorientação. Para aqueles que nào mais pos suem uma jornada de trabalho tradicional e que freqúen temente estão cercados por pessoas desocupadis. : distinguir os dias da semana ou mesmo os ::.: _: ano pode não indicar desorientação, mas apenas a pou ca importância do "calendário" na estrutura de suas vi das. Da mesma forma, as pessoas que não dirigeir. ED_ prestam menos atenção às estradas, aos limites da cida de, aos locais e aos mapas. Embora nonnalmente orien tadas, podem não ser capazes de identificar o local onde se encontram atualmente. Confusão ou incapacidade de lembrar de fatos e pormenores de longa data pode ser mais indicadora de quanto tempo atrás os eventos aconteceram, em vez de quão esquecido é o indivíduo. As repetidas narrações, com riqueza de detalhes, de even tos de longa data, aparentando dar mais importância a fatos longínquos que aos fatos recentes, com freqüên cia, apenas representam nostalgia prolongada pelos anos e pelos fatos. Tais compensações sociais e psicológicas não devem ser consideradas sinais de senilidade ou de capacidade mental diminuída. Exposição/Ambiente Os idosos são mais suscetíveis a mudanças ambientais. Têm capacidade reduzida de responder a súbitas altera çõcs, produzem menos calor, capacidade reduzida de livrar o corpo de calor excessivo. Problemas de termor regulação estão relacionados com desequilíbrio eletro lítico (por exemplo, depleção de potássio, hipotiroidis mo e diabetes mellitus). Outros fatores incluem dimi nuição do metabolismo basal, capacidade reduzida de arrepiar, arteriosclerose e efeitos de drogas e do álcool. A hipertermia é influenciada por acidentes vasculares cerebrais, diuréticos, antihistamínicos e drogas anti parkinsonianas. A hipotermia é influenciada pela dimi nuição do metabolismo, obesidade, vasoconstrição pe riférica menos eficiente e nutrição deficiente. Exame Secundário (Histórico e Exame Físico Direcionado) Após tratamento de condições urgentes que amea çam a vida, na avaliação da doença aguda é impor tante considerar os seguintes fatores. Podese gastar mais tempo que o usual na coleta de informações e elaboração de um histórico. 354 ATENDIMENTO PRÉHOSPITALAR AO TRAUMATIZADO O corpo pode nâo responder da mesmaforma que em doentes maisjovens. Achados típicos de doença gra ve, como febre, dor ou sensibilidade, podem de morar mais para se desenvolver e tornam a tarefa da avaliação do doente mais difícil e mais longa. Além disso muitos medicamentos modificarão a resposta corpórea. Com freqüência, o socorrista dependerá exclusivamente do histórico do doente. É preciso ter paciência adicional, em razão dos défi- cits auditivos e visuais dos doentes. Empatia e com paixão sào essenciais. A inteligência do doente não deve ser subestimada, meramente por dificuldade ou ausência de comunicação. Se o doenle tem com panheiros ou parentes próximos, estes podem par ticipar fornecendo informações ou ficar por perto para validar as informações. A avalíação dos doentes idosos requer qucstionamen- to diferenciado. Durante a avaliação inicial, devem ser formuladas questões, alternando informações específicas com informações gerais, pois o doente idoso tende a responder "sim" a todas as questões. Fazer perguntas aberlas é ferramenta útil na avalia ção da maior parte dos doentes. Entretanto com o idoso pode ser de ajuda oferecerlhe detalhes espe cíficos para que escolha ao tratar de um problema. Por exemplo, em vez de dizer "Descreva a dor no seu quadril", pergunte: "A dor no seu quadrilé se melhante a um corte, a uma fincada ou um aper to"?; ou "Que nota você dá para sua dor, numa es cala de 1 a 10 em que 10 é a dor mais intensa?". Pode ser necessário o envolvimento de uma terceira pessoa. Com a permissão do doente, pode ser ne cessário o envolvimento do cuidador ou do côn juge, a fim de obter mais informações válidas. Al guns doentes idosos podem ser relutantes em dar informações, sem que seja assistido por um pa rente ou pessoa de sua confiança. Entretanto, o doente idoso pode não querer nenhuma outra pes soa presente por muitas razões, uma das quais pode ser problema relacionado com abuso. O do ente idoso pode temer castigo por contar a alguém e na presença de quem o tenha agredido porque tem várias marcas de contusões. Alguns proble mas que podem envergonhar o doente idoso fa zem com que ele não queira familiares ou outras pessoas por perto, para que não fiquem sabendo. Atençào deve ser dada aos déficits sensoriais (audi- ção, visão, olfato, paladai; tato e equilíbrio). Dada a presença habitual destes déficits, manter o conta to visual e falar mais lentamente que o habitual e com volume satisfatório são importantes na cole ta de informações. Alterações de compreensão ou distúrbios neurológi- cos são problcinas significativos para muitos doen- 0 socorrista não deve abordar doentes idosos como se fos sem crianças pequenas. Um erro comum por parte dos pro fissionais da saúde, tanto nos ambientes de atendimento préhospitalar como nos departamentos de emergência, é tratar os idosos dessa maneira. Freqüentemente, parentes bemintencionados sãotão agressivos ao relataros eventos no lugar de seu ente querido idoso, que passam a ser os que respondem às perguntas. Em tal situação, o fato de a im pressão clínica e o histórico virem de alguém que não o doen l; te, podendo ser incorretos, pode facilmente deixar de ser percebido. Além do risco aumentado de obtenção de infor mação incompleta ou inexata por meio da impressão tradu Í zida porterceiro, subestima as capacidades do doente como adulto maduro. A interação adulta com o doente é essencial para a obten ção de boa informação, estabelecendo uma relação entre o socorrista e o doente e preservando a dignidade à qual o do entetem direito. Embora informações adicionais de parentes, de cuidadores em asilos, ou de outros possam ser importan tes, não devem substituir as informações primárias forneci das pelo doente. tes idosos. Estas condições variam da confusão mental à demência senil do tipo associado à do ença de Alzheimer. Estes doentes não somente tèm dificuldade de comunicação e compreensão, mas também podem ser incapazes de compreender ou ajudar na avaliação. Podem estar inquietos e às vezes agressivos. Finneza, confiança e questionamento claro e sim- ples (e repetido) podem ser úteís. Um familiar ou amigo podem ser de ajuda. Preste atenção aos déficits de audição e visão, às di- ficuldades dc compreensão e de mobilização. Deve se estabelecer contato visual com o doente que pode ter déficit auditivo e depender da leitura de seus lábios e observação de outros movimentos faciais. Barulho, distração e interrupções devem ser minimizados. Devese observar fluência da fala, um movimento involuntário, disfunções de ner vos cranianos ou dificuldades respiratórias. O doente movimentase com facilidade, é instável, ou apresenta desequilíbrio? Dê um aperto de mão no doente para avalíar aforça da mão, o turgor de pele e a temperatura corpórea. Procure dirigirse ao doente pelo nome ou sobre nome, a nào ser que o doente dê outras instruções. Frases como: "Agora, você ficará bem" devem ser evitadas. Devem ser usadas perguntas abertas, como: "Descreva a dor em seu abdome, é...?", e perguntas como: "Onde dói?" devem ser evitadas. CAPÍTULO 13 Considerações Especiais do Trauma no Idoso 355 Doentes idosos apresentam um grande número de queixas. Ao avaliar um doente geriátrico, mesmo durante um evento traumático, saber destas queixas pode ser útil. A lista a se guir contém algumas dessas queixas: Alcoolismo* Constipaçãoou diarréia Demência* Depressão* Tontura, vertigem, ou síncope Disfagia Dispnéia Quedas Fadiga e fraqueza Dordecabeça Perda auditiva* Incontinência ou incapacidade para evacuar* Rigidez musculoesquelética* Nutrição deficiente; perda de apetite Disfunções sexuais Distúrbios do sono* Distúrbios visuais *As reclamações mais freqüentes. Atente para problemas comportamentais ou mani- festações que não se ajustam à cena. Repare na apa rência. As vestes e apresentação do doente estão adequadas ao local e como foi encontrado? A fa cilidade de levantar ou sentar deve ser observada. Alente para o estado nutricional do doente. O doen te parece bem nulrido, está desidratado, magro ou emaciado? Doentes idosos têm a resposta cla sede diminuída. Os rins têm problema ao enfrentar o desafio de uma lesão traumática. Sua capacidade de concentrar urina estã diminuída, levando à desidratação, mesmo antes do trauma. Débito uri nário não é boa medida de perfusão no idoso. Os idosos também têm decréscimo da gordura cor poral (15% a 30%) e de água corpórea. Doentes idosos têm redução de peso dos músculos esqueléticos, alargamento e enfraquecimento dos os- sos, degeneração das articulações e osteoporose. Têm maior probabilidade de fraturas com traumas le ves e risco acentuadamente maior de fraturas das vértebras, do quadril e das costelas. Doentes idosos têm degeneração de células do mús- culo cardíaco e menos células no sistema de condu- ção (marcapasso cardíaco). O idoso é propenso a arritmias, como resullado da perda de elasticida de do coração e das principais artérias. O uso muito difundido de betabloqueadores e bloqueadores dos canais de cálcio e diuréticos complica ainda mais este problema. Freqüentemente, após a lesão trau 0 conhecimento de drogas utilizadas por um doente pode cons tituir informação fundamental para o cuidado préhospitalar. Por exemplo, o uso de betabloqueador, como propranolol, pode explicar a bradicardia do doente. Nesta situação. pode não ocor rertaquicardia crescente como sinal precoce do desenvolvimento de choque. A inibição dos mecanismos simpáticos de defesa pela droga pode mascararo real nível de deterioração circula tória do doente. Tais doentes podem desestabilizarse rapida mente, aparentemente sem sinais indicadores. Outro medicamento de uso comum no idosoé a warfarina. que é anticoagulante ou "droga que afina o sangue". Na vi gência de seu uso, qualquer sangramento portrauma será mais abundante e de difícil controle. É importante saber que hemorragia interna pode progredir rapidamente levando ao choquee à morte. mática, os iclosos apresentam diminuição do dé bito cardíaco com hipóxia e não têm lesão pulmo nar. Ataque cardíaco e diminuições do volume e da freqüência cardíacos bem como da reserva car díaca, todos levam a morbidade e mortalidade do doente traumático idoso. Um doente idoso com pressão sistólica de 120 mm Hg deve ser conside rado como estando em choque hipovolêmico, até prova em contrário. A capacidade vital de um doente idoso está diminuí- da em 50%. Modificações cifóticas (ãnteroposte riores) resultam em alteraçãoda relação ventila çãoperfusão no repouso. A hipóxia no idoso tem mais probabilidade de ser conseqüência de cho que quando comparada com a que acontece em doentes mais jovens. A capacidade de excursões lorácicas também está diminuída nos idosos. Vb lume corrente e volume minuto diminuídos são típicos. Trocas de oxigênio capilar e dióxido de carbono diminuídas são significativas. A hipoxe mia tende a ser progressiva. Tratamento Vias Aéreas A presença de dentaduras, frcqüentes em idosos, pode afetar o tralamento clas vias aéreas. Geralmente, as dentaduras devem ser manlidas no local para garan tirem uma melhor vedação ao redor da boca com a máscara. Contudo, próteses dentárias parciais (pon tes) devem ser removidas, pois durante uma emer gência podem ser deslocadas e causar obstrução total ou parcial das vias aéreas. 3 5 6 ATENDIMENTO P R É - H O S P I T A L A R AO TRAUMATIZADO A colocação de dispositivos para manter a via aé rea pérvia, como canula nasofaríngea, pode ser com- plicada por sangramento significativo, se o doente estiver tomando anticoagulanles, como warfarina ou aspirina. Respiração A população idosa tem alta prevalência de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Na presença de DPOC, o estímulo ventilatório de alguns doentes não depende do nível de dióxido de carbono no san gue, mas de níveis sanguíneos de oxigênio diminuí dos. Todavia, nunca se deve deixar de oferecer oxigê nio a um doente que necessite dele. A saturação de oxigênio no sangue (SaOJ deve, geralmente, ser man tida acima de 95%. Os idosos apresentam enrijecimento aumentado da caixa torácica. Além disso, a redução de força da mus culatura da parede torácica e o enrijecimento da carti lagem a tornam menos flexível. Essas e outras altera ções são responsáveis por redução dos volumes pul monares. O doente pode necessitar de suporte ventila tório, por meio de ventilação assistida com máscara associada a balâo dotado de válvula unidirecional. Circulação A hemorragia nos idosos é controlada de maneira um pouco diferente do que em outros doentes. Os idosos têm pouca reserva cardiovascular. Os sinais vitais não são um indicador bom de choque no idoso, porque normalmente o doente que é hipertenso pode estar em choque com pressão sistólica de 110 mm Hg. A reanimação com fluidos deve ser orientada pelo grau de suspeita de grave sangramento, baseado no meca nismo de trauma e nas manifestações que em geral se associam ao choque. A utilização da calça pneumática antichoque (PASG) pode precipitar insuficiência cardíaca conges tiva e prejudicar a ventilação. A decisão de colocar PASG num idoso vítima de trauma requer vigilãncia aumentada em busca de complicações associadas. Imobilização A proteção da coluna cervical, especialmente em do entes traumatizados com lesões multissistêmicas, é o padrão cle atendimento esperado. Nos idosos, este pa drão deve ser aplicado não somente em situações de trauma, mas também durante problemas clínicos nos quais a manutenção de vias aéreas pérvias é priorida de. A artrite degenerativa da coluna cervical pode oca sionar lesões raquimedulares por mobilização do pes coço, mesmo que o doente não tenha sofrido trauma na coluna. Outra consideração na inadequada mobi lização da coluna cervical é a possibilidade de oclu são de artérias que irrigam o cérebro, que pode ocasi onar inconsciência e alé mesmo acidente vascular cerebral (AVC). Ao colocar um colar cervical num doente idoso com cifose grave, o socorrista deve assegurar que o colar não comprima as vias aéreas ou as artérias caró tidas. Meios menos tradicionais de imobilização, como uma toalha enrolada e coxins para a cabeça, podem ser cogitados, se os colares cervicais padrão forem inapropriados. Pode ser necessário colocar acolchoamento de baixo da cabeça e entre os ombros ao imobilizar o doente idoso em posição supina. Em vista da falta de tecido adiposo existente no doente idoso mais frágil, acolchoamento e coxins adicionais são ne cessários ao ser imobilizado numa prancha longa. O socorrista deve procurar pontos de pressão onde o doente está apoiado na prancha e acolchoálos adequadamente. Ao aplicar tirantes de contenção para imobilização do doente idoso, é possível que ele não possa ser capaz de estender completamen te suas pernas, em vista cla redução da amplitude de movimentos do quadril e dos joelhos. Assim, pode ser necessário acolchoamento em baixo das pernas, para maior conforto e segurança do doente durante o transporte. Controle da Temperatura Durante o tratamento e o transporte, o cloente idoso deve ser observado atentamente quanto à hipotermia e hipertermia. Embora seja adequada a exposição do doente para facilitar exame minucioso, os idosos são especialmente propensos à perda de calor. Os efeitos de várias medicações podem significar que um doen te seja mais propenso à hipertermia; portanto, clevem ser considerados alguns meios de resfriar o doente, quando ele não puder ser removido rapidamenle para um ambiente controlado. Retirada de ferragens por tempo prolongado, em dias de temperaturas extre mas, também pode colocar o doente idoso em risco, e deve ser resolvida rapidamente. Considerações Legais Várias distinções legais podem se tornar problemas ao tratar idosos. Na maior parte dos Estados Unidos. cônjuges, irmãos, filhos, cônjuges de filhos e pais não têm respaldo legal na tomada de decisões médicas para um adulto. Pessoas com procurações ou tutela de idosos concedida por tribunal podem ter autori dade sobre suas questões financeiras, mas não terão. necessariamente, controle sobre as decisões médicas pessoais daquela pessoa. Mesmo aqueles que detêm CAPÍTULO 13 C o n s i d e r a ç õ e s E s p e c i a i s do T r a u m a no Idoso 3 5 7 custódia legal concedida por tribunal ou tutores po dem ter, ou não, poder de tomada de decisões médi cas, dependendo de leis locais e da responsabilidade específica de seu cargo. O socorrista deve apenas con siderar que existam tais poderes, se existirem especi ficação da tutela de uma pessoa e procuração perma nente com documentação clara do poder por parte de terceiros. No meio de uma cena do trauma, o socorrista pode ter dificuldade de fazer disünções legais precisas. Em vista da ambulãncia ter sido deslocada, de ter ocorri do "um chamado de socorro", o socorrista deve agir como se houvesse "consentimento implícito" em ca sos de doentes inconscientes ou com nível de consci ência diminuído. Se for necessário mais esclarecimento ou se al guém tentar obter atenclimento préhospitalar, o problema deve ser colocado para o policial respon sável presente à cena. Em geral, a lei disponibiliza um protocolo para o policial tomar rapidamente uma decisão na cena, permitindo que esclarecimen tos sejam realizados mais tarde, no hospital, se houver tempo. Tais eventos devem ser documen tados de maneira precisa e detalhada no boletim de atendimento. Abuso e Negligência ao Idoso Abuso é definido como qualquer ação de tirar vanta gem de pessoa idosa, de sua propriedade ou de seu estado emocional que seja praticado por membro da família (qualquer parente); por pessoas associadas quetenham conlalo diário com o idoso; por qualquer pessoa da qual o idoso dependa para suas necessida des diárias de alimentação, vestuário e moradia, ou mesmo por um profissional da saúde. Registros e queixas de abuso, negligência e outros problemas associados estão aumentando entre os ido sos. A exata extensão do abuso no idoso não é conhe cida por várias razões: Abuso ao idoso tem sido em grande parte oculta do da sociedade. Abuso e negligência no idoso têm várias definições. fdosos estão receosos ou com medo para relatar o problema às instãncias legais cabíveis, ou às pes soas de agências de direitos humanos e bemestar social. Uma típica vítima de abuso no idoso pode ser um pai que se sente envergonhado ou culpado de ter criado um filho que pratica abuso. A vítima de abuso também pode se sentir traumatizada pela situação ou com medo de sofrer represálias contí nuas por parte de quem abusa. Algumas jurisdições carecem de mecanismos for mais para registro dessas situações. Algumas áre as nem mesmo têm dispositivos estatutários exi gindo o registro de abuso no idoso. Os sinais cle abuso físico e emocional. como estu pro, espancamento, privação nutricional. passam. muitas vezes, despercebidos ou, talvez. não sào pre cisamente identificados. Em particular. mulheres mais idosas mais provavelmente não relatam às instâncias legais cabíveis, incidentes de abuso sexual. 7 cias sensoriais, senilidade e outras formas de altera ção do nível de consciência (por exemplo, depressão induzida por medicamentos) podem impossibilitar ou dificultar ao extremo o relato de maustratos pelo do ente idoso. Perfil do Doente que Sofre Abuso O idoso que tem maior probabilidade de sofrer abuso se enquadra no seguinte perfil: Idade superior a 65 anos, espeeialmente mulhe res acima de 75 anos Frágil Múltiplas condições médicas Demenciado Alteração do ciclo sono/vigília, sonãmbulo, ou grita durante a noite Incontinências fecal, urinária, ou ambas Depende de outros para atividades da vida cliária, incapaz de vida independente Perfil do Abusador Como muitos idosos vivem em ambiente familiar, em particular mulheres acima dos 75 anos, esse ambien te pode fornecer pistas. O abusador é, freqüentemen te, o cõnjuge do doente ou a nora de meiaidade, que cuida de crianças e pais dependentes, enquanto tal vez tenha emprego de tempo integral ou parcial. A maior parte dos que praticam abuso são desprepara dos para os cuidados específicos de que os iclosos necessitam e têm pouco tempo livre, em função da constante demanda familiar. O abuso não se restringe ao domicílio. Outros ambientes, como instituições que abrigam idosos (asi los, para convalescentes e de cuidados integrais) são locais onde os idosos podem sofrer danos físicos, químicos ou farmacológicos. Pessoas que prestam assistência nessas instituições podem considerar os idosos como representando problemas no tratamen to ou categorizáIos como doentes obstinados ou in desejáveis. O perlil habitual do indivíduo que pratica abuso inclui os seguintes sinais: 358 A T E N D I M E N T O P R É - H O S P I T A L A R AO T R A U M A T I Z A D O Existência de um conflito domiciliar Cansaço aceniuado Desemprego Dificuldades financeiras Abuso de drogas Histórico de ter sofrido abuso Categorias de Abuso Abuso pode ser categorizado de três formas: 1. Abusojísico. Abuso físico inclui agressão, negli gência, má nutrição, descuido com as condições diárias de sobrevivência, descuido com a higie ne pessoal. Os sinais de abuso ou negligência fí sicos podem ser óbvios, como uma marca de agressão deixada por um objeto, como atiçador de lareira, ou sutil, como a má nutrição. Os si nais de abuso no idoso são semelhantes aos si nais de abuso na criança (Figura 137). 2. Abuso psicológico. Abuso psicológico pode tomar a forma de negligência, abuso verbal, infantiliza ção, ou de privação de estimulação sensorial. 3. Abuso financeiro. Abuso financeiro pode incluir roubo de valores ou desfalque. Pontos Importantes Muitos doenles que solrem abuso são aterroriza dos e induzidos a fazer falsos testemunhos, temen do represãlias. No caso de abuso a idoso por mem bros da família, o medo de ser retirado do ambien te familiar pode fazer com que o idoso minta quanto à origem do abuso. Em outros casos de abuso no idoso, a privação sensorial ou a demência podem impedir um relato adequado. O socorrista deve identificar o abuso e revelar qualquer patologia re latada pelo idoso. A identificação de uma situação de abuso pode reduzir novos traumas. Relatanclo situações, onde exista alto grau de suspeita de abuso, pode viabili zar o encaminhamento para agências de direitos hu manos, de bemestar social e públicas de proteção ao idoso. B Figura 137 Sinais de abuso físico em idosos. A. Escoriação causada por um soco. Esta mulher concordou em ir ao hospital somente por ter sido aconselhada pela polícia. Ao sair, mencionou dor no pescoço. A radiografia mostrou fratura do corpo de C6. B. Ferimento no couro cabeludo. O couro cabeludo é um local comum de abuso físico em idosos, que freqüentemente causa choque hemorrágico. (De London PS: A colour atlas of diagnosis after recent injury, London, 1990, Wolfe.) CAPÍTULO 13 C o n s i d e r a ç õ e s E s p e c i a i s do T r a u m a no Idoso 3 5 9 Resumo Pessoas idosas estão vivendo de forma mais saudável e são ativas por muito mais tempo. Como resultado, o trauma se tornou causa signilicativa de morbidade e mortalidade entre adultos mais velhos. Modifica ções analômicas e fisiológicas associadas ao envelhe cimento, à doença crônica e às medicações podem aumentar a probabilidade de certos tipos de trauma, complicar lesões traumáticas e causar diminuição da capacidade de compensação do choque. No doente idoso traumatizado, muitos fatores podem mascarar sinais precoces de deterioração, aumentando a possi bilidade de súbita descompensação sem sinais indi cadores. Mesmo um simples trauma isolado, nos ido sos, pode progredir para uma condição sistêmica agu da e produzir condições que potencialmente amea çam a vida. O atendimento adequado e imediato é importante no tratamento do doente idoso vítima de trauma. No doente idoso, pode ter ocorrido lesão mais gra ve do que aquela que se suspeita pela apresentação inicial. As lesões e as condições encontradas terão efeito mais profundo no idoso do que num doente mais jo vem. Com estas considerações o socorrista está avisa do, atende o doente idoso antecipandose às situações futuras, prestando, assim, atendimento melhor e mais seguro ao doente mais velho traumatizado. Ao tratar o trauma no idoso, nem sempre é pos sível determinar, de imediato, se o trauma foi o evento primário ou se foi secundário a um evento clínico, como AVC, infarto do miocárdio, ou episódio cle síncope. Contudo, o socorrista deve considerar, sempre, a possibilidade de que um evento clínico precedeu o trauma. O fato de que esse doente está recebendo tratamento com an ticoagulantes e tem evidência de akerações de coagulação deve alertálo de que, conseqüente mente, qualquer sangramento decorrente de le são cerebral traumática ou de lesão interna será aumentado. O trauma no idoso pode serexa cerbado pelos efeitos do envelhecimento, de doença e pelas medicações. Esses fatores podem, também, distorcer os achados normais associa dos ao choque. Da mesma forma, doenças pree xistentes e alterações íisiológicas causadas pelo envelhecimento podem ser agravadas por even to traumático nem tão grave, criando situação mais grave que a mesma lesão no doente mais jovem. Você, socorrista, deve abordar o doente idoso traumatizado com um grau de suspeita para lesões cujos sinais e sintomas podem es tar mascarados pelos efeitos do envelhecimen to, de doenças e de medicações e para a possi bilidade de lesões mantidas por mecanismos menos significativos do que em doentes mais jovens. Preocupação especial é a modihcação por imobilização da coluna cervical, devido ao aumento da curvatura da coluna. Tratamento das vias aéreas pode ser mais desafiador, em função de alterações da estrutura facial, que podem dificultar a vedação com a máscara. Além disso, por uma série de razões, os idosos são propensos à aspiração. 3 6 0 ATENDIMENTO P R É - H O S P I T A L A R AO TRAUMATIZADO (uesimk Rerião As respostas encontramse na página 424. 1. Qual das seguintes é a conseqüência anatômica ou fisiológica do envelhecimento? a. Risco diminuído de aspiração. b. Retenção deficiente de material recentemente aprendido. c. Risco aumentado de infecção de feridas. d. Percepção de dor aumentada. 2. Qual das seguintes descreve MELHOR o efeito cli nicamente mais significativo de osteoporose e cal cificação da coluna vertebral do doente idoso trau matizado no ambiente préhospitalar? a. Lesão da medula espinhal pode ocorrer com trauma relativamente leve da coluna vertebral. b. Reabsorção do osso leva à hipercalcemia. c. Curvatura lombar anormal leva a volume intra torácico diminuído. d. A escoliose leva à compressão do coração e pul mões. 3. Qual das seguintes dificulta a investigação de pos sível abuso ou negligência no idoso? a. Atribuir sinais e sintomas a outra causa. b. Medo do doente de represália por parte de quem abusou. c. O estado mental alterado do doente. d. Todas as anteriores. 4. As tendências epidemiológicas e demográficas atuais indicam quais das seguintes? a. Proporção crescente de indivíduos com mais de 65 anos na população. b. Incidência crescente de trauma nos idosos. c. Melhora de qualidade de vida na população de idosos. d. Todas as anteriores. 5. Quais das seguintes é a variável mais importante que contribui para quedas nos idosos? a. Cataratas. b. Doenças do sistema nervoso central. c. Perigos físicos no ambiente. d. Doenças do sistema cardiovascular. 6. Quais dos seguintes fatores NÃO está associado com risco aumentado de abuso ou negligência de doente idoso? a. O doente tem distúrbio do sono. b. O doente pode realizar atividades da vida diária. c. Quem cuida do idoso está com fadiga. d. O doente está incontinente. CAPÍTULO 13 C o n s i d e r a ç õ e s E s p e c i a i s do T r a u m a no Idoso 3 6 1 REFERÊNCIAS LEITURAS SUGERIDAS American College of Surgeons Committee on Trauma: Advan- ced trauma life support, Chicago, 2002, American College of Surgeons. American Geriairics Society Foundaüon for Heallh in Aging: 2000-2010 decade ofheálth in aging: the chàüenge: the aging of the U.S. population, April 20, 2000. Available at w\v\v. healhlinaging.org/the challenge.html. Koyanagi I, Iwasaki Y, Hilda K ei al: Acule cervical cord injury without fracture or dislocation of the spinal c o l umn j Neu- rosurg 93(1 suppl):15, 2000. Milzman DP, Boulanger BR, Rodriquiez A et al: Preexisting disease in trauma paüents: a predictor of fate independent of age and injury sevcrity score,J Trauma 32:236, 1992. Del.isa JA, Gans BM, editors: Rehabilitation medicine: princi- p\es and practices, ed 2. Philadelphia. 1993. J.B. Lippin cott. Ruskin AP: Current therapy in psychiatry, Philadelphia, 1984, W.B. Saunders. Schwab CW, Shapiro MB, Kauder DR: Geriatric trauma: pat terns, care and outcomes. In Mattox KL. Feliciano DV. Moore EE: Trauma, ed 4, New York, 1999. McGrawHill.
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