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Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Centro Tecnológico Departamento de Engenharia Civil Disciplina: ECV 5143 – Fotogrametria e Fotointerpretação Professor: Carlos Loch Análise do acesso a nova área terminal do Aeroporto Internacional de Florianópolis Alberto Zambissa Teca Paca Bruno Kohler Guilherme da Silva Jorge Pedro Vinicius Assis da Silva Vinícius Pierri dos Santos Florianópolis, 02 de dezembro de 2015. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 2 2. RODOVIA DE ACESSO AO NOVO TERMINAL DO AEROPORTO INTERNACIONAL HERCÍLIO LUZ ....................................................................................... 4 2.1 Localização do obra ..................................................................................................... 4 2.2 Justificativa da Obra .................................................................................................... 4 2.3 Dados técnicos da obra ................................................................................................ 4 2.4 Séries históricas ........................................................................................................... 5 3. ASPECTOS AMBIENTAIS .............................................................................................. 8 3.1 IBAMA ........................................................................................................................ 9 3.2 ICMbio ....................................................................................................................... 10 3.3 FATMA ..................................................................................................................... 11 3.4 Reserva Extrativista Do Pirajubaé – RESEX............................................................. 12 4. ASPECTOS SOCIAIS ...................................................................................................... 13 5. ASPECTOS LEGAIS ....................................................................................................... 14 6. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 20 2 1. INTRODUÇÃO O processo de urbanização das cidades é umas das mais agressivas formas de relacionamento entre o homem e o meio ambiente. As cidades do período pré-revolução industrial possuíam menor densidade populacional e exigiam menos recursos ambientais. Porém, com a mecanização de processos e a industrialização, o processo de crescimento das cidades se acelerou, com a necessidade de mão-de-obra para a produção das fábricas. No Brasil, atualmente, 84.35% da população vive em situação urbana. A tendência histórica de concentração populacional no Sudeste foi revertida entre as 1970 e 2000, onde as metrópoles de Campo Grande, Cuiabá, Goiânia e Brasília registraram as maiores taxas de aumento populacional. Este fenômeno requer atenção para que as tragédias urbanas nacionais – desmatamento, déficit de moradias, congestionamento de vias, enchentes, violência, poluição e esgotamento dos recursos hídricos – não se repitam. A capital do estado de Santa Catarina possui, em um pequeno espaço, uma enorme variedade de ambientes naturais que compõem os seus vários ecossistemas. Originalmente, as suas encostas eram cobertas por mata densa, e suas planícies por vegetação de restingas, manguezais e florestas. A partir do século XVIII, com a colonização, iniciou-se uma rápida degradação desses ecossistemas em consequência das práticas agrícolas que levaram ao desmatamento quase integral da Ilha. Com o declínio desse ciclo agrícola, começou um processo de recuperação da vegetação originária, embora sem a riqueza da biodiversidade que foi comprometida. Com o crescimento urbano, desencadeado a partir do início deste século, os ecossistemas passaram a sofrer novos impactos provocados pela ocupação desordenada do espaço natural, O processo de crescimento e urbanização de Florianópolis foi impulsionado pelo desenvolvimento urbano-turístico da Ilha, iniciado na década de 70. As antigas estruturas, características do período colonial, ainda estão presentes na cidade, que mantém o antigo desenho da ilha rural. A capital de Santa Catarina tem hoje cerca de 59% de seu território definidos como áreas de preservação, mas o aumento demográfico sem planejamento coloca em risco o espaço natural, comprometendo a faixa litorânea, as dunas, as lagoas, mangues e as encostas cobertas pelas matas remanescentes. Dentro do contexto de urbanização de Florianópolis, o Aeroporto Internacional Hercílio Luz destaca-se por ser um polo de atração populacional, influenciando o crescimento das áreas 3 subjacentes a sua localização. Com um movimento de 3.872.877 passageiros no ano de 20141 o aeroporto está em processo de ampliação do terminal de passageiros e construção de uma nova pista de pouso. Para compatibilizar a nova demanda de tráfego na região, estava prevista a entrega em março de 2015 das obras que integram o acesso ao novo terminal aéreo, todavia após a rescisão do contrato com a Espaço Aberto, empresa inicialmente contratada, o Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) redividiu a obra em lotes para acelerar os processos licitatórios. O objetivo deste trabalho é analisar através de fotografias aéreas, séries históricas, registro fotográfico in loco e projetos da rodovia as características técnicas do projeto além de todos os aspectos sociais, ambientais e legais que envolvem toda a obra. 1 http://www.infraero.gov.br/images/stories/Estatistica/anuario/anuario_2014.pdf 4 2. RODOVIA DE ACESSO AO NOVO TERMINAL DO AEROPORTO INTERNACIONAL HERCÍLIO LUZ 2.1 Localização do obra Figura 1 Localização da rodovia de acesso ao aeroporto 2.2 Justificativa da Obra A construção do novo terminal de passageiros do aeroporto Hercílio luz só é viabilizado com a construção de um novo acesso, já que o atual não apresenta suporte para o tráfego gerado pela movimentação do terminal. Além do aeroporto, a nova rodovia terá conexão com a SC- 405. Esta é o principal acesso ao sul da ilha de Florianópolis, com tráfego superior a 35 mil veículos por dia no período normal, gerando filas, lentidão e engarrafamentos em períodos de alta temporada. 2.3 Dados técnicos da obra O projeto prevê a duplicação da rodovia Dolmício Freitasnpara o lado direito a partir do trevo da seta, com a implantação de nova ponte sobre o Rio Tavares, bem como a ampliação em 30 metros da ponte existente. Para a intersecção do bairro Carianos foi projetado um viaduto que permitirá o acesso livre entre o Centro e o Sul da ilha, evitando o cruzamento com veículos que saem dos jogos no Estádio da Ressacada. 5 A partir deste ponto a rodovia contorna o Loteamento Santos Dumont de onde segue junto ao limite do aeroporto Hercílio Luz. Para o cruzamento com acesso ao bairro Tapera onde ocorre a divisão dos fluxos entre a área do Campeche e o novo terminal com o Ribeirão da ilha foi projetada uma grande rótula, e deste local segue em pista simples ao novo aeroporto Foi prevista também a implantação de acesso ao novo terminal de cargas no lado direito da via, e a fazenda experimenta da UFSC ao lado esquerdo. Para garantir a mobilidade urbana o projeto prevê ainda a implantação de pista de caminhada e ciclovia ao longo de todo o complexo, o que garante a segurança deste tipo de trafegoentre a região central e o sul da ilha, bem como ao novo terminal do aeroporto. Figura 2 Seção transversal dos trechos da rodovia 2.4 Séries históricas A partir de séries históricas fotográficas, é possível o monitoramento físico-espacial do processo de evolução das áreas de estudo. Nesse contexto, as imagens aéreas da cidade de Florianópolis tornam-se imprescindíveis a este trabalho. 6 Até a década de 1920, a área, conhecida hoje como bairro Carianos, era habitada apenas por pequenos núcleos familiares que viviam basicamente do que produziam na terra, principalmente engenho de Farinha, e da pesca. Devido ao local ser completamente marginalizado por mangues e possuir uma terra plana (que facilitava inclusive o plantio dos nativos) o local foi escolhido, através de um decreto nacional, para a instalação de uma das bases navais do Sistema de Defesa Aérea do Litoral do Brasil. Essa foi a primeira mudança considerável para aquele lugar, não impactando apenas na a vida dos nativos. A partir da construção da base naval, em 1923, o local deixou de ser uma área isolada do restante da cidade. Foi construída uma via de acesso a base naval (hoje conhecida como Av. Diomício Freitas) entretanto até a década de 1940, ainda o local era pouco habitado e frequentado pelos moradores de Florianópolis. Em 1946 chega a luz naquela zona urbana pouco habitada, que até então era totalmente composta por chão batido e o transporte era feito apenas a pé ou de bicicleta. Entretanto, na década de 1950 as coisas começaram a mudar. Nesta década teve-se a ideia da construção do aeroporto e, como a base naval usava apenas hidroaviões, apenas nessa década foi construído uma pista de pouso. Em 1955, o aeroporto já continha uma pista de pouso de concreto (1500x45 metros), uma torre de controle de madeira e um pátio gramado para estacionamento de aeronaves. Figura 3 Levantamento aerofotogramétrico de 1955 Na década de 1960, é construído o primeiro terminal de passageiros do aeroporto e uma nova pista de pouso. Nesta obra, de grande magnitude para a época, foi necessária uma grande 7 quantidade de pessoas para trabalhar. Esses trabalhadores e as pessoas que trabalhavam na base aeronaval começaram a trazer suas famílias para viverem próximas aos seus empregos e assim começou a construção de loteamentos urbanísticos próximas ao aeroporto e a base aeronaval. Em 1976 o aeroporto passa para a jurisdição da INFRAERO (empresa pública federal brasileira de administração indireta vinculada à Secretaria de Aviação Civil). E em 1983, é inaugurado um estádio de futebol, que hoje é chamado de Aderbal Ramos da Silva. Atualmente o aeroporto chegou ao fluxo de 3.872.637 de passageiros no ano possuindo a capacidade atual para 4.100.000 passageiros por ano. Além desse contingente de pessoas há também o estádio de futebol com capacidade atual para 17.800 pessoas por jogo. Figura 4 Levantamento aerofotogramétrico de 1977 8 3. ASPECTOS AMBIENTAIS Em todo o processo de liberação de licenças ambientais para a instalação e execução da obra, três órgãos públicos de proteção ambiental foram intensamente envolvidos 9 3.1 IBAMA É o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis criado em 22 de fevereiro de 1989 pela Lei n. 7.735 para substituir quatro órgãos governamentais relacionados ao meio ambiente (o IBAMA pode ser considerado a fusão dos quatro): a SEMA, Secretaria do Meio Ambiente, a SUDHEVEA, Superintendência da Borracha, a SUDEPE, Superintendência da Pesca e o IBDF, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. Antes da criação do IBAMA as questões relacionadas ao tema meio ambiente eram tratadas por diversas entidades diferentes de forma bastante fragmentária e muitas vezes contraditória. Mesmo assim, foi o trabalho dos órgãos anteriores que possibilitou o surgimento do IBAMA, com destaque para o trabalho da SEMA que também teve grande influência na criação da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei n. 6.938/81) ainda em vigor. O IBAMA está vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e, segundo sua lei de criação, tem como atribuições: “exercer o poder de polícia ambiental”; “executar ações das políticas nacionais de meio ambiente, referentes às atribuições federais, relativas ao licenciamento ambiental, ao controle da qualidade ambiental, à autorização de uso dos recursos naturais e à fiscalização, monitoramento e controle ambiental...”; e “executar as ações supletivas de competência da União, de conformidade com a legislação ambiental vigente”. O trabalho mais conhecido do IBAMA é o de fiscalização. Desde sua criação o Instituto age em todos os estados para garantir que sejam preservados nossos patrimônios naturais e cumpridas as leis. Até a década de 90 a fiscalização pelo IBAMA era realizada de acordo com denúncias e tinha seu foco na repressão às atividades ilegais e atendimento de emergências como desmatamentos e incêndios. Atualmente, o IBAMA além de agir nessas áreas, ainda conta com os serviços realizados pela SISBIO, SISDOC, SICAF e ProFFA: • SISBIO (Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade), controla as atividades de coleta e transporte (dentro do Brasil ou de exportação e importação) de material biológico, manutenção temporária de espécimes em cativeiro e captura ou marcação de animais silvestres in situ e realização de pesquisas em unidade de conservação federal ou em cavernas; • SISDOC, ainda não está em funcionamento, mas será um sistema através do qual poderão ser acompanhados os processos relacionados ao IBAMA; • SICAF (Sistema de Cadastro, Arrecadação e Fiscalização), pelo qual podem ser emitidas ou autenticadas as certidões negativas de débitos para pessoas físicas ou jurídicas cadastradas no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras. 10 • ProFFA (Programa Nacional de Formação em Fiscalização Ambiental), que tem como objetivo aprimorar e qualificar o quadro de servidores envolvidos com fiscalização ambiental. O IBAMA é composto ainda pelas “Diretorias de Planejamento, Administração e Logística” (DIPLAN); “Diretoria de Qualidade Ambiental” (DIQUA); pela “Diretoria de Licenciamento” (DILIC); “Diretoria de Proteção Ambiental” (DIPRO) e “Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas” (DBFLO). 3.2 ICMbio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade é uma autarquia, isto é, um órgão da Administração Pública com o poder de auto-administração, nos limites estabelecidos em lei que a cria. O ICMBio foi criado pela Lei 11.516, de 28 de agosto de 2007, sendo vinculado ao Ministério do Meio Ambiente como parte do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). A principal missão institucional do ICMBIO é proteger o patrimônio natural e promover o desenvolvimento socioambiental através da administração das Unidades de Conservação (Ucs) federais. Nesta atribuição se incluem as competências para apresentar e editar normas e padrões de gestão; propor a criação, regularização fundiária e gestão de UCs; e apoiar a implementação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Além disso, é responsável pelo fomento e execução programas de pesquisa, proteção e conservação da biodiversidade em todo o país. Ele deve contribuir para a geração e disseminação de informações, conhecimentos e tecnologia relativos à gestão de Unidades de Conservação, da conservação da biodiversidade e do uso dos recursos faunísticos, pesqueiros e florestais. O instituto também é responsável pela conservação do patrimônio espeleológico nacional, as cavernas brasileiras. Cabe a ele ainda exercer o poder de polícia ambientalpara a proteção das UCs federais. O Instituto fiscaliza e aplica penalidades administrativas ambientais ou compensatórias aos responsáveis pelo não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. Aliás, também lhe cabe contribuir para a recuperação destas áreas degradadas. Por fim, o Instituto Chico Mendes deve monitora o uso público e a exploração econômica dos recursos naturais nas Unidades de Conservação onde estes usos são permitidos, 11 executando as políticas de uso sustentável dos recursos naturais renováveis e de apoio ao extrativismo e às populações tradicionais. Criado através de medida provisória durante a gestão de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente, o Instituto recebeu este nome em homenagem ao seringueiro Chico Mendes, assassinado em 1988 como retaliação pelo seu trabalho em prol da defesa dos povos tradicionais e preservação do meio ambiente. 3.3 FATMA É o órgão ambiental da esfera estadual do Governo de Santa Catarina. Atua com uma sede administrativa, localizada em Florianópolis, e 16 coordenadorias regionais, e um Posto Avançado de controle Ambiental (PACAM), no Estado. Criada em 1975, a Fatma tem como missão maior garantir a preservação dos recursos naturais do estado. Isto é buscado através: • Da gestão de oito Unidades de Conservação Estaduais, onde a natureza original é preservada e pesquisada; • Da Fiscalização, que busca evitar que recursos naturais como florestas, animais selvagens, rios e todo tipo de mananciais de água, dunas, areia e argila, entre outros, sejam degradados ou explorados irracionalmente até a extinção; • Do Licenciamento Ambiental, que garante a conformidade de obras - como rodovias, usinas hidrelétricas, redes de transmissão de energia, gasodutos e oleodutos, estações de tratamento de água, esgoto e efluentes industriais, condomínios, loteamentos e empreendimentos turístico imobiliários - com as legislações ambientais federal, estadual e municipal; • Do Programa de Prevenção e Atendimento a Acidentes com Cargas Perigosas, que em conjunto com a Defesa Civil de Santa Catarina fiscaliza o transporte de produtos tóxicos pelo estado, atende com equipe técnica especializada os acidentes com este tipo de carga, evitando danos maiores ao meio ambiente e às comunidades envolvidas, e ainda habilita os motoristas destes veículos a agir com segurança no transporte e nos acidentes; • Do Geoprocessamento, que realizando o levantamento e processamento de informações sobre o território catarinense (tipos de rocha, solos, relevo, recursos hídricos e cobertura vegetal) obtidas através de imagens de satélite, permite conhecer suas características e monitorar o meio ambiente. Isso inclui o acompanhamento de invasões de áreas de preservação, desmatamentos e derramamentos de óleo no mar; 12 • De Estudos e Pesquisas Ambientais, em que biólogos, geólogos, geógrafos e outros especialistas desenvolvem pesquisas sobre as condições originais e atuais da flora e fauna catarinense, tornando-as de conhecimento público através de publicações técnicas distribuídas a cientistas da área, instituições ambientais de todo país, bibliotecas, prefeituras, escolas e ONG's (Organizações Não-Governamentais); • Da pesquisa da Balneabilidade, um monitoramento da qualidade das águas do mar para o banho humano que a FATMA realiza desde 1976 em todo litoral catarinense, semanalmente durante a temporada de Verão e mensalmente durante o resto do ano. Seguindo critérios da Resolução Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), os técnicos avaliam os pontos que estão poluídos e, portanto, impróprios para o banho, e a Fatma disponibiliza boletins com os resultados à imprensa, prefeituras do litoral, população e turistas. 3.4 Reserva Extrativista Do Pirajubaé – RESEX Localizada na baía sul da ilha de Florianópolis foi criado em 1992 com objetivo de realizar-se a coleta do berbigão (moluscos) e a pesca artesanal. Nas Unidades de Conservação federais do grupo Uso Sustentável que possuem populações tradicionais em seu interior, como as Reservas Extrativistas, Florestas Nacionais e Reservas de Desenvolvimento Sustentável, é permitido o uso sustentável dos recursos naturais pelas comunidades (possui uma aréa de 1.444ha bioma: marinho costeiro).Tratam-se de atividades que se constituem em fontes alternativas de renda, trabalhadas dentro de preceitos sustentáveis e envolvendo a gestão participativa dessas populações. 13 4. ASPECTOS SOCIAIS A ocupação ilegal às margens do Rio Tavares iniciou-se entre os anos de 1977 e 1994, como é possível notar ao comparar as fotos da série histórica da região (figura 5). Toda a área habitada é considerada Área de Preservação Permanente, segundo o Zoneamento da Secretaria Municipal de Urbanismo e Serviços Públicos. Próximo a ocupação ilegal há a demarcação de uma Zona Especial de Interesse Social, segundo o plano diretor, que se trata de uma zona urbana dedicada a moradores de baixa renda, sob condição de cuidados com o uso do solo, e parcelamentos. Esta área já contava com as ocupações precárias ao ser demarcada como ZEIS para regularizar o assentamento. (figura 6) Figura 6 Demarcação de Zeis As ocupações à beira do Rio apresentam situação precária em suas estruturas. Sem nenhum tratamento sanitário ou regularização de obra, os moradores estão sujeitos à problemas de saúde Figura 5 Comparação da série histórica 14 e situações de risco do ponto de vista estrutural. Em dias de maré alta algumas casas chegam a ser invadida pela água do rio. (figura 7) Figura 7 Ocupação próxima a ponte sobre o Rio Tavares 5. ASPECTOS LEGAIS O estudo e planejamento prévio de obras de engenharia, principalmente nas grandes construções, garantem que as diversas características apresentadas no local de implantação da obra sejam analisadas e que a melhor solução técnica seja escolhida, levando em consideração estes fatores prévios. Este tipo de concepção de projeto evita as revisões de alterações, já que os principais problemas são evitados antes da sua ocorrência. 15 No caso em estudo um impasse legal surgiu entre os moradores do Loteamento Recreio Santos Dumont e o Poder Público. O loteamento está localizado ao sul da Ilha de Santa Catarina, no bairro Carianos, próximo ao Estádio Aderbal Ramos da Silva, como mostra a figura 8. Criado em 1959, pela construtora Santa Helena, o loteamento conta com escritura pública no registro de imóveis de todos os lotes desde 1974. Figura 8 Localização do Loteamento Santos Dumont - Ortofoto 2012 Através de consulta de zoneamento da área na Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos de Florianópolis pode-se notar que o plano diretor de Florianópolis reconhece a localidade como ARM (área residencial mista) e ARP (área residencial predominante), marcadas em laranja e amarelo, respectivamente, na figura 9. 16 Figura 9 Zoneamento do Bairro Carianos - Plano diretor 2014 Para a obra de acesso da nova área terminal do aeroporto internacional de Florianópolis foi previsto em projeto pela empresa Prosul o traçado da figura 10. Porém, em 2012 a curva da rodovia foi alterada para uma extensão retilínea que secciona o loteamento em dois. Esta mudança foi tomada em decisão conjunta do Departamento Estadual de Infraestrutura e do ICMbio. Este órgão ambiental, que administra a Reserva extrativista do Pirajubaé afirma que o Figura 10 Comparação dos traçados original e alterada da rodovia 17 novo desenho é necessário para a proteção da fauna e da flora da zona, que estariam em risco com a proximidadedo antigo traçado e da reserva. Em consulta com a associação de moradores do loteamento, AMOSAD, é afirmado que não ocorreu audiência pública para a alteração do trecho em questão, sendo essa obrigatória para a correta sequência de mudanças no projeto. Esta modificação causa um grande impacto no orçamento da obra. Se no traçado original elaborado pela Prosul haveria a desapropriação e indenização de 40 lotes, que em valores de mercado repassados pela AMOSAD chegariam em R$7 milhões, com a nova configuração o custo pode ser elevado para até R$80 milhões, uma vez que a quantidade de imóveis atingidos pela rodovia será de 191 lotes e ainda ocorre a adição de outros 289 lotes à área de preservação permanente da reserva extrativista. Como todos os terrenos do loteamento possuem escritura pública no cartório de registro de imóveis as indenizações aos proprietários deveriam ser um direito garantido e incontestável, porém a AMOSAD afirma que os moradores são contra a mudança imposta pelo poder público, pois temem não receber a indenização que lhes cabe, isto pois a Secretaria de Patrimônio da União divulgou o estudo de determinação da Linha Preamar de Florianópolis. A Linha do Preamar Médio do ano de 1831 foi o resultado da interpretação conjunta da Ordem Régia de 18 de novembro de 1818 com o artigo 4º das Instruções do Ministério da Fazenda de 14 de novembro de 1832. A Ordem Régia de 18 de novembro de 1818 determinou que: “tudo o que toca a água do mar e acresce sobre ela é da Coroa, na forma da Ordenação do Reino”; e que “da linha d`água para dentro sempre são reservadas 15 braças craveiras pela borda do mar para serviço público”. A faixa compreendida entre a linha preamar presumida de 1831 e as 15 braças (33 metros) são chamados terrenos de marinha e são de propriedade da União. Com o passar dos anos a definição da linha d’água inclui os rios e áreas que sofrem efeitos de maré. Os terrenos de marinha na área de interesse reconhecidos pelo SPU podem ser identificados na figura 11. 18 Figura 11 Terrenos de marinha levantados pela SPU O que se percebe na interpretação das imagens é que os lotes que necessitariam de desapropriação, e grande parte do loteamento, são considerados como terrenos de marinha pelo patrimônio da União. Ocorre assim um impasse já que o loteamento possui escritura pública. Como a lei que regula terrenos de marinha é mais antiga (1831), o poder público possui prerrogativa sobre o direito de propriedade destas terras. Essa argumentação é o fundamento para a mudança no traçado do acesso ao aeroporto, pois reduz o custo das indenizações. A associação de moradores pediu judicialmente a anulação do processo de demarcação dos terrenos de marinha em Florianópolis apontando uma série de vícios técnicos e formais. Além disso são apresentados à justiça provas de transmissão do domínio pleno de vários imóveis, e novas provas técnicas com identificação da formação pedológica por fotointerpretação e análise de solo, demostrando que o loteamento Santos Dumont não foi edificado sobre solo de mangue, portanto, não possui histórico de influência de marés. Enquanto esta disputa judicial ocorre, o Deinfra segue sem previsão para o lançamento da licitação deste trecho (Figura 12), prejudicando o prazo de entrega global da obra. 19 Figura 12 Área de conflito judicial da rodovia de acesso ao aeroporto 20 6. CONCLUSÃO Através dos aspectos apresentados anteriormente e tendo em vista todos os conhecimentos adquiridos ao curso da disciplina pode-se concluir que o uso da fotogrametria e fotointerpretação, principalmente as séries históricas fornecem dados de elevado grau de confiança para análise do ambiente em que obra está inserida. Percebemos durante as análises das imagens que o poder público dispõe de dados, porém estes não são utilizados para uma melhor concepção do projeto. Isso fica evidenciado aqui nas ocupações ilegais e nos aspectos ambientais. Devemos salientar ainda que, através da fotointerpretação pode-se reconhecer a expansão urbana da área e este conhecimento deveria ser utilizado pela prefeitura, por exemplo, para o melhorar o planejamento urbano. Por fim ressalta-se a falta de comunicação entre os diversos órgãos governamentais nas diversas etapas d governo e as inconsistências no no que tange as indenizações por desapropriação na área de estudo apresentada.
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