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A filosofia do direito na Modernidade

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A filosofia do direito na Modernidade 
Em termos históricos, não é simples estabelecer na linha do tempo um início preciso para o evento fundador de determinado segmento epistemológico. Talvez não seja exagero afirmar, por exemplo, que os primórdios do direito, como hoje se conhece, são anteriores ao pensamento clássico do século VI a.C. De fato, muito antes dos gregos dessa época já se tratava dos direitos dos indivíduos em sociedade. 
A maioria dos estudiosos do assunto parece concordar com a ideia de que o primeiro sistema de leis se deve a Hamurabi, que começou a governar a Babilônia em 1792 a.C. O chamado Código de Hamurabi consistia na compilação e declaração de normas de conduta já tradicionalmente aceitas. Note-se, a propósito, que a severa pena de Talião, sentença irrecorrível do “olho por olho”, figurava nesse código ao lado de questões cotidianas, menos contundentes. 
Já na época moderna observa-se um novo modelo de investigação do conhecimento, baseado especialmente no método científico de Galileu. Diferentemente da ciência antiga e contemplativa que pesquisava teses teóricas, o saber científico da Modernidade modifica as bases do conhecimento e das relações sociais. A nova concepção de homem valoriza a autonomia humana e o seu domínio sobre o mundo e a natureza. Além do cisma cristão, a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico (1473-1543) revolucionou as investigações científicas, pois, ao provar matematicamente que o sol era o centro do universo, e não a terra, as antigas teorias geocêntricas foram superadas.
Dando prosseguimento ao percurso histórico dos pensadores modernos influenciados por novos modelos sociais, políticos e econômicos, seria conveniente apontar alguns daqueles que mais se destacaram em seus respectivos campos de pesquisa filosóficos e jurídicos.
Hugo Grotius
Hugo Grotius (1583-1645), jurista e filósofo, foi um pensador voltado especialmente para a área jurídica, sendo por isso considerado o “pai do direito internacional moderno”. Em seus escritos, Grotius prioriza a Teoria do Direito Natural, de base racional e fundamentada, portanto, na racionalidade humana, de caráter universal e sem qualquer apelo à ordem divina; assim, mesmo que o ser humano tenha sido criado por Deus, o direito natural tem sua origem na própria natureza humana racional. 
Grotius, interessado pelo tema da guerra, escreveu O direito da guerra e da paz, enfatizando que a guerra seria um bom modo de punir os erros. Conforme Danilo Marcondes: 
“Essa obra, publicada em 1625, tornou-se um dos clássicos do direito internacional e teve grande influência na discussão sobre a situação do direito em tempos de guerra, quando parece haver exatamente uma ruptura com a ordem jurídica internacional. A existência do direito internacional nessas circunstâncias baseia-se, para Grotius, precisamente em sua versão do jusnaturalismo, em que a base do direito é a natureza humana racional em si mesma. O próprio pacto comunitário que funda o Estado deriva dessa natureza (2015, p. 45)”.
Thomas Hobbes
Thomas Hobbes (1588-1679) foi um pensador político adepto da linha materialista e empirista. Esse filósofo inglês elaborou uma clara distinção entre o estado de natureza, quando as relações humanas totalmente livres são marcadas por egoísmo e agressividade (“o homem é o lobo do homem”), e o estado social, que constitui um pacto racional voluntário, fundado em uma ordem jurídica capaz de “ordenar” a sociedade política. De acordo com Reale e Antiseri:
“A condição em que os homens se encontram naturalmente é uma condição de guerra de todos contra todos. Cada qual tende a se apropriar de tudo aquilo de que necessita para sua própria sobrevivência e conservação. E, como cada qual tem direito sobre tudo, não havendo limite imposto pela natureza, nasce então a inevitável predominância de uns sobre os outros (1990, p. 498)”.
Para Hobbes, as sociedades deveriam ser consolidadas por um contrato social que assegurasse a justiça pela lei positiva. “Com base nessa concepção, Hobbes nega a legitimação da common law, isto é, de um direito preexistente ao Estado e independente dele (seria quase uma espécie de direito natural) (BOBBIO, 2006, p. 35).
Montesquieu
O filósofo francês Charles Louis de Secondat, barão de la Brède Montesquieu, nasceu em Bordeaux. Apesar da origem aristocrática, tinha grande admiração pela Revolução Inglesa de 1688, em especial devido aos ideais de tolerância e liberdade desse movimento. Entusiasta da ciência política, Montesquieu sustentava que o grande problema das guerras religiosas estaria na intolerância quanto à diversidade das religiões. Sua obra mais famosa, L’Esprit des lois (O espírito das leis), foi escrita em 1748 e trata especialmente de política e história. Para Montesquieu, as leis não são a priori nem arbitrárias, pois têm origem na própria natureza das coisas. Crítico do absolutismo, esse pensador destacava a necessidade do homem de usufruir do “máximo de liberdade”, o que seria garantido pelos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, harmônicos e independentes entre si. Sobre esse tema, Danilo Marcondes complementa:
“Um de seus mais importantes legados foi a doutrina da independência dos três poderes — Executivo, Legislativo e Judiciário —, essencial para o equilíbrio de forças políticas em uma sociedade (livro V, capítulo 14). Esse princípio da autonomia dos poderes teve grande influência na formação do Estado moderno e foi adotado com frequência pelas novas nações que se estabeleceram nos séculos XVIII e XIX, como, por exemplo, Estados Unidos e Brasil (2015, p. 49)”.
Jean-Jacques Rousseau
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um dos principais pensadores de seu tempo, dedicado às pesquisas nas áreas da política, da moral e da educação. Considerando que o homem é, por natureza, bom, mas corrompido pela sociedade, Rousseau elabora uma crítica veemente das frequentes injustiças praticadas contra a maioria do povo por certas sociedades da época e complementa sua concepção de homem afirmando que a vontade particular do indivíduo se volta para interesses privados, enquanto a vontade geral se liga aos interesses comuns. A esse respeito, Reale e Antiseri ressaltam:
“Encarnada no Estado e pelo Estado, a vontade geral é tudo. É o primado da política sobre a moral, ou melhor, é a fundamentação da moral na política. A defesa do bem comum chega a tal ponto que leva ao esvaziamento do indivíduo e de sua individualidade, bem como a sua absorção pelo corpo social, sem deixar restos (1990, p. 772)”.

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