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Lei Processual Penal no espaço

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18/04/2018 Lei Processual Penal no espaço
https://evanderoliveira.jusbrasil.com.br/artigos/152053334/lei-processual-penal-no-espaco 1/7
jusbrasil.com.br
18 de Abril de 2018
Lei Processual Penal no espaço
1. Introdução
A aplicação da lei processual penal no espaço passa pelo estudo do Código de
Processo Penal e da legislação extravagante que cuida dos conceitos empregados
pelo legislador naquele diploma, como a noção de território nacional, e demais
regras, princípios e conceitos propagados pela doutrina que estuda a teoria geral
dos processos.
O processo, enquanto cuida de regras e princípios para aplicação do Direito ao caso
concreto, é manifestação plena da Jurisdição e, ao mesmo tempo, configura limites
para atividade soberana estatal, trazendo em seu bojo uma série de garantias de
caráter constitucional. Sendo assim, enquanto manifestação plena de soberania,
caberia ao legislador definir quando, onde e para quais casos são aplicáveis a
legislação brasileira em seu aspecto material ou formal.
A relevância da aplicação da lei processual no espaço é, portanto, afirmação da
própria soberania do Estado, que determinará como serão processados e julgados
os feitos perante os juízos criminais brasileiros. Em sede penal, trata-se de garantia
fundamental dos jurisdicionados, já que estes se encontram em especial condição
de sujeição quando réus em demanda penal.
2. O princípio da territorialidade no
ordenamento jurídico brasileiro
Tamanha é a importância do tema que este abre o Código de Processo Penal.
Prescreve o art. 1º deste diploma:
PUBLICARPESQUISAR   
18/04/2018 Lei Processual Penal no espaço
https://evanderoliveira.jusbrasil.com.br/artigos/152053334/lei-processual-penal-no-espaco 2/7
O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código,
ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros
de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade
(Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100);
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122,
no 17);
V - os processos por crimes de imprensa. Vide ADPF nº 130
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos
nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de
modo diverso.
Como se percebe, o legislador adotou o princípio da territorialidade como regra em
nosso ordenamento jurídico, ou seja, ressalvadas as exceções trazidas pelos incisos
deste artigo, sempre que houver uma demanda penal tramitando nos órgãos
judiciários brasileiros, aplicar-se-á o Código de Processo Penal. Sem embargo, é
possível que sejam realizados atos processuais estrangeiros no Brasil por meio de
carta rogatória ou, ainda, que regras da legislação processual estrangeira sejam
aplicados a feito em trâmite no Brasil como ferramenta de integração da lei.
Este princípio consagra, ainda, a singularidade do processo penal em território
brasileiro. Nenhuma sanção penal poderá ser aplicada sem a observância de suas
regras e princípios, a não ser que o legislador o faça por meio de outro instrumento
legal. Não se admite a edição de normas com idêntica finalidade por outros entes
federativos que não a União.
Os atos processuais penais deverão, portanto, ser praticados segundo a lei
brasileira, o que não significa que a infração foi necessariamente cometida no País.
Em verdade, a jurisdição brasileira será aplicável, mormente, quando o crime
houver sido cometido no Brasil, justamente por ser expressão de sua soberania. O
Código Penal, em seu art. 6º, adota a teoria da ubiquidade para determinar onde
foi cometido o crime, qual seja, este é considerado cometido no local da atividade
ou do resultado, e determina aquele diploma o território nacional para fins penais.
Assim, via de regra, cometido o crime dentro do território nacional, será a
autoridade brasileira a responsável por instruir o feito tendente à aplicação de
punição ao responsável, o que não obsta a incidência excepcional da
18/04/2018 Lei Processual Penal no espaço
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extraterritorialidade. O crime poderá ter somente seu resultado no Brasil e, ainda
assim, ser julgado segundo as leis penais e processuais brasileiras, pois neste caso é
o CP que exclui a jurisdição estrangeira.
Percebe-se, outrossim, que existe um diálogo entre as diversas fontes do direito
material e processual penal. Neste sentido, Nucci limita a aplicação do Código
Penal ao âmbito internacional. Afirma o autor que
“o Código Penal destina-se, exclusivamente, ao denominado direito penal
internacional, ou seja, à aplicação da lei penal no espaço, quando um crime
tiver início no Brasil e terminar no exterior ou vice-versa (…). Para delitos
cometidos no território nacional, continua valendo o disposto no art. 70 da lei
processual. Em suma, conflito é somente aparente, mas não real”.
Além do território nacional em sentido estrito, exposto acima, o Código Penal
regulou o cometimento de infrações a bordo de aeronaves e embarcações. O § 1º do
artigo supra inclui em território brasileiro aquelas de natureza pública ou a serviço
do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, ou aquelas que estejam em
alto-mar ou no espaço aéreo correspondente. Em oposição, as embarcações
estrangeiras de natureza pública são consideradas território do País de origem e as
privadas o são se estiverem em território neutro. É considerado território
brasileiro em sentido amplo e, sendo assim, devem ser processadas e julgadas
pelas autoridades nacionais.
É possível, ainda, que o Brasil avoque a competência de crimes cometidos no
exterior. A extraterritorialidade da lei penal pode ser incondicionada (absoluta),
casos em que o mero cometimento da infração no estrangeiro, sem o
preenchimento de requisito algum, permitem que o réu seja processado e julgado
validamente no Brasil, ainda que absolvido ou condenado no exterior, ou que o
faça mediante o cumprimento de requisitos específicos, sendo esta a
extraterritorialidade condicionada (relativa).
Em todo o caso, percebe-se que a regra processual, em termos espaciais, é a
seguinte: o crime deve ser processado e julgado por autoridades brasileiras,
aplicando-se o CPP, quando o crime for cometido em território nacional (em
sentido amplo ou estrito) ou, ainda que cometido no exterior, o Brasil avoque
competência para tal como expressão de sua soberania. Neste sentido, é de salutar
importância o local de consumação do crime, pois dentre os juízes brasileiros, o
Código de Processo Penal definirá aquele que é competente para processar e julgar
o feito, tendo por regra como juízo competente aquele em que o crime se
consumou (artigo 70, CPP). Prevalece, em tais casos, a teoria do resultado, pois
entendeu o legislador que a Justiça e a Polícia do local da consumação teriam
melhores condições para instruir o feito.
Fixada a competência brasileira, por haver sido o crime cometido no território
brasileiro (em sentido lato) ou por, ainda que cometido no estrangeiro, o Estado
brasileiro avoque esta competência (extraterritorialidade), resta saber qual o foro
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ou seção judiciária competentes para processar e julgar a infração cometidas a
bordo das aeronaves e embarcações, já que não estão no território nacional em
sentido estrito.
O Código de Processo Penal resolve a questão nos artigos 89 e 90, que afirmam
que os crimes cometidos a bordo de embarcações serão processadose julgados
“pela justiça do primeiro porto brasileiro em que tocar a embarcação, após o
crime, ou, quando se afastar do País, pela do último em que houver tocado” (CPP,
art. 89); e, no caso de aeronaves, “pela justiça da comarca em cujo território se
verificar o pouso após o crime, ou pela da comarca de onde houver partido a
aeronave” (CPP, art. 90). Nota-se, em ambos os casos, que a competência será do
foro ou seção judiciária de chegada, se o crime foi cometido na volta para o País ou
em viagens nacionais, ou pelo porto ou aeroporto de saída, se cometido na saída do
Brasil.
3. Exceções ao princípio da territorialidade
Feitas estas ponderações, cabe analisar cada inciso do artigo de abertura do Código
de Processo Penal. O inciso I ressalva a aplicação do processo penal pátrio se
houver tratados, convenções e regras de direito internacional que sejam a isso
opostas. A subscrição do documento pelo Estado brasileiro integra os esforços
internacionais para conter determinados crimes especialmente nocivos à
comunidade internacional. Mesmo que o ato seja praticado no Brasil, haverá de ser
respeitada o regramento processual internacional a que o País haja anuído.
A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, ratificada pelo Brasil por meio
do Decreto 56.435/65, traz uma série de imunidades penais aos integrantes da
carreira diplomática que cometem delitos penais enquanto em serviço de seu país
de origem. Ainda que a legislação processual penal brasileira lhes seja mais
benéfica, esta é inaplicável por força do tratado.
O inciso II, por sua vez, exclui a aplicação do Código de Processo Penal nos casos
de jurisdição política, quando a conduta criminosa será processada e julgada
perante o Poder Legislativo. Neste caso, é o regimento interno da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal que disciplinarão a forma de processar e julgar tais
condutas. Note-se que o Código de Processo Penal, editado sob a égide de
Constituição anterior, deve ser interpretado à luz do atual regime constitucional,
instituídas pelo artigo 52, incisos I e II da Carta Política.
Quanto ao inciso III, o Código de Processo Penal Militar (Decreto-Lei
1.002/1969)é que determinará o devido processo legal aplicável aos crimes sujeitos
à sua jurisdição. As normas processuais penais comuns podem, no entanto, serem
aplicadas supletivamente à legislação especial (artigo 3º, alínea a, do Código Penal
Militar).
Já a disposição trazida no inciso IV não foi recepcionada pela Constituição Federal
de 1988. Tal disposição se amoldava à Constituição de 1937, que previa a existência
de tribunais de exceção. Contudo, tendo em vista que a criação de tribunais de
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exceção é vedada pelo atual ordenamento jurídico por ofender o princípio do juiz
natural (artigo 5º, XXXVII e LIII), a prescrição do inciso IV fica prejudicada.
Não obstante, verifica-se que já foram criados tribunais de exceção no Brasil, como
o Tribunal de Segurança Nacional para o processamento de crimes políticos. Em
apertada síntese, Nucci afirma que este Tribunal era previsto pela Constituição de
1937 e que os crimes outrora julgados por ele, mormente políticos, devem ser
julgados pela Justiça Federal.
O inciso V também se encontra prejudicado em face da procedência da ADPF 130-
7, em que o Supremo Tribunal Federal declarou a não recepção da Lei de Imprensa
pela Constituição de 1988. O cometimento de crime, ainda que relacionado à
atividade jornalística, seguirá o rito procedimental comum. Sendo assim, as
disposições processuais penais porventura expostas naquele diploma não podem
ser aplicadas, devendo ser aplicadas as normas do Código de Processo Penal em
sua inteireza.
Por fim, o parágrafo único excepciona os casos em que a legislação especial
prescreve procedimento diverso. No magistério de Nucci, "quando a legislação
especial regular procedimento diverso do previsto no CCP, pelo princípio da
especialidade, aplica-se aquela e somente em caráter subsidiário este último.
Ilustrando: Lei de Drogas (Lei 11.343/2006), Lei de Abuso de Autoridade (Lei
4.898/65), etc.”.
4. Análise do caso concreto
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PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. APLICAÇÃO DA LEI BRASILEIRA.
COMPETÊNCIA JURISDICIONAL. CRIME INICIADO EM TERRITÓRIO
NACIONAL. SEQÜESTRO OCORRIDO EM TERRA. IMPOSSIBILIDADE DE
REEXAME PROBATÓRIO. CONDUÇÃO DA VÍTIMA PARA TERRITÓRIO
ESTRANGEIRO EM AERONAVE. PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE.
LUGAR DO CRIME - TEORIA DA UBIQÜIDADE. IRRELEVÂNCIA QUANTO
AO EVENTUAL PROCESSAMENTO CRIMINAL PELA JUSTIÇA PARAGUAIA.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. ORDEM DENEGADA.
1. Aplica-se a lei brasileira ao caso, tendo em vista o princípio da
territorialidade e a teoria da ubiqüidade consagrados na lei penal.
2. Consta da sentença condenatória que o início da prática delitiva ocorreu nas
dependências do aeroporto de Tupã/SP, cuja tese contrária exigiria exame
profundo do acervo fático-probatório, incabível em sede de habeas corpus,
sendo assegurado ao acusado o reexame das provas quando do julgamento de
recurso de apelação eventualmente interposto, instrumento processual
adequado para tal fim.
3. Afasta-se a competência da Justiça Federal, pela não-ocorrência de
quaisquer das hipóteses previstas no art. 109 da Constituição Federal,
mormente pela não-configuração de crime cometido a bordo de aeronave.
4. Não existe qualquer óbice legal para a eventual duplicidade de julgamento
pelas autoridades judiciárias brasileira e paraguaia, tendo em vista a regra
constante do art. 8º do Código Penal.
5. Ordem denegada.[1]
No julgamento do Habeas Corpus 41.892/SP, a Quinta Turma do E. Superior
Tribunal de Justiça analisou caso de sequestro ocorrido no aeroporto de Tupã –
Estado de São Paulo, com posterior traslado da vítima, por meio de aeronave, para
o Paraguai, onde ela foi morta.
Conforme se verifica no voto do Ministro Relator, considerou-se que o “iter
criminis” teve início no território nacional, nas dependências do aeroporto de
Tupã, uma vez que foi nesse local em que o ofendido perdeu sua liberdade. Dessa
forma, considerando a teoria da ubiquidade, adotada pelo direito penal pátrio,
definiu-se como lugar do crime, para efeitos penais, a cidade em que foi verificada,
a princípio, a ação delitiva.
Nesse ínterim, o Tribunal identificou a competência da Justiça local para julgar o
caso, bem como a aplicação da lei brasileira, tendo em vista o princípio da
territorialidade e a teoria da ubiquidade.
5. Conclusão
18/04/2018 Lei Processual Penal no espaço
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Conforme explicado no presente trabalho, em regra, a lei processual penal será
aplicada a todas as infrações penais cometidas no território nacional. Trata-se do
princípio “lex fori” ou “locus regit actum”, que se justifica pela soberania nacional,
bem como pela ausência de sentido em aplicar legislação alienígena a fatos
criminosos cometidos em território brasileiro.
Embora a regra constante do “caput” do art. 1º do CPP seja a territorialidade, não
se pode deixar lembrar das exceções à aplicação da lei brasileira, presentes nos
incisos do mesmo dispositivo, nas quais devem incidir normas incorporadas ao
direito estrangeiro – em razão de tratados internacionais, por exemplo – ou regras
nacionais que preveem regulamentação específica para determinadas situações –
como na apuração dos crimes militares.
6. Referência bibliográ�cas:
AVENA, Norberto. Processo Penal Esquematizado. 6. Ed. Rio de Janeiro: Forense;
São Paulo: Método, 2014.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de Processo PenalInterpretado. São Paulo:
Atlas, 2005.
NORONHA, Magalhães. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2005.
NUCCI, Guilherme. Código de Processo Penal Comentado. São Paulo: RT, 2012.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. Vol. 1. São Paulo:
Saraiva, 2006.
[1] (HC 41892/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA,
julgado em 02/06/2005, DJ 22/08/2005, p. 319)
Disponível em: http://evanderoliveira.jusbrasil.com.br/artigos/152053334/lei-processual-penal-no-espaco

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