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Presidente da República Federativa do Brasil João Figueiredo Ministro da Educacão e Cultura Esther de Figueiredo Ferraz Secretário-Geral do MEC Sérgio Mário Pasquali Anais do Seminário Publicações Periódicas da Área da Educação Brasília(DF) 24 a 26 de agosto de 1983 INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS Diretora-Geral Lena Castello Branco Ferreira Costa Diretora de Estudos e Pesquisas Nancy Ribeiro de Araújo e Silva Diretor de Planejamento e Administração Floriano Freitas Filho Diretor de Documentação e Informação Paulo de Tarso Carletti Coordenadora de Editoração e Divulgação Vera Maria Arantes S471a Seminário Publicações Periódicas da Área da Educação (1983: Brasília) Anais do Seminário Publicações Periódicas da Área da Educação, 24 a 26 agosto de 1983. - Brasília: INEP, 1984. 97p. 1. Educação. 2. Periódicos. 3. Política de informação. 4. Seminário I. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. II. Título. CDU 37:05(063) MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANAIS DO SEMINÁRIO PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS DA ÁREA DA EDUCAÇÃO BRASÍLIA (DF) - 24 a 26 de agosto de 1983 BRASÍLIA 1984 EQUIPE TÉCNICA Editora-Assistente Silvia Maria Galliac Saavedra Assistente de Produção Elisabeth Ramos Barros Revisão Catarina de Carvalho Guerra Elisabeth Ramos Barros Luzitano Garcia C. Filho Capa e Diagramação Ana Maria Boaventura Comissão Organizadora do Seminário Francisco Salatiel de Alencar Barbosa (Coordenador) Ana Pais Ruas da Costa Campos Lídia Alvarenga Néri Vera Maria Arantes SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ABERTURA Pronunciamento da Profa. Lena Castello Branco Ferreira Costa, Diretora-Geral do INEP A COMUNICAÇÃO CIENTIFICA Expansão da Informação Científica João Salvador Furtado Comunicação Científica: o Periódico Gilda Maria Braga POLÍTICA EDITORIAL Política Editorial Roberto Amaral Vieira Aspectos da Política Editorial Lólio Lourenço de Oliveira PROCESSO EDITORIAL O Processo Editorial: a Experiência de Dados Charles Pessanha O Processo Editorial - um Depoimento Lia Rosemberg Normalização de Periódicos Científicos Jeannette Marguerite Kremer Sistema Internacional de Dados de Publicações Seriadas (ISDS) Isaura M. Sardinha Di Martino PROJETO GRÁFICO Projeto Gráfico e Produção Gráfica: Relações de Interdependência Newton Diniz de Andrade FINANCIAMENTO E CUSTOS Alguns Aspectos do Programa Setorial de Publicações em Ciência e Tecnologia . . 71 Roberval Cruz CONCLUSÃO Subsídios e Sugestões para um Programa de Estímulo e Apoio a Periódicos da Área da Educação 79 ENCERRAMENTO Pronunciamento da Profa. Lena Castello Branco Ferreira Costa, Diretora-Geral do INEP 87 Pronunciamento do Prof. Paulo de Tarso Carletti, Diretor de Documentação e Informação do INEP 88 ANEXO Participantes do Seminário 91 APRESENTAÇÃO No momento em que eram consolidadas as atividades da Diretoria de Documentação e Informação, através da Coordenadoria do Sistema de Informações Bibliográficas em Educação, Cultura e Desporto (COSIBE) e da Coordenadoria de Editoração e Divulga- ção (COED), pareceu oportuno ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educa- cionais (INEP) promover o Seminário sobre "Publicações Periódicas da Área da Edu- cação", realizado em Brasília nas dependências da Fundação Centro de Formação do Servidor Público (FUNCEP), de 24 a 26 de agosto de 1983. Assim, o INEP ampliava o leque de problemas que vêm merecendo especial atenção do Programa de Estudos e Seminários, incentivando o intercâmbio entre cerca de 50 editores, bibliotecários, educadores e pesquisadores da Educação, interessados na temá- tica da comunicação e divulgação de estudos e pesquisas educacionais através de publi- cações periódicas. Na verdade, é o INEP detentor de longa tradição editorial, cujos frutos mais significati- vos são a quadragenária Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos e a Bibliografia Brasileira de Educação, seguidas do bem-sucedido e recém-criado Em Aberto, dedicado à discussão de questões emergentes nas áreas de atuação do MEC. Além disso, na quali- dade de cabeça do Sistema de Informações Bibliográficas em Educação, Cultura e Desporto (SIBE) do MEC, entra o INEP em constante contato com pesquisadores e usuários do Centro de Informações Bibliográficas (CIBEC), chegando a captar não pou- cas questões suscitadas a respeito dos periódicos da área da Educação, como por exem- plo: falta de regularidade nas edições e carência de normalização. Tais problemas difi- cultam a inclusão de muitas informações no Banco Central de Referências do SIBE e o seu rápido acesso. Ao mesmo tempo que propiciava um clima de intercâmbio de experiências, o Seminá- rio suscitou debates e questionamentos sobre os seguintes tópicos: Comunicação Cien- tífica, Política Editorial, Processo Editorial, Projeto Gráfico e Financiamento e Custos. Os presentes Anais apresentam os textos das comunicações e valiosos subsídios para um Programa de Estímulo e Apoio aos Periódicos Brasileiros da Ares da Educação. Es- tes subsídios, elaborados por um Grupo de Trabalho representativo dos 25 periódicos participantes do Seminário, expressam sua síntese maior, pois — aprofundando as li- nhas de ação do Programa Integrado de Educação (CNPq, INEP, CAPES, FINEP) - sugerem medidas de financiamento a fim de que os periódicos tenham condições mi- nimas de apresentação e regularidade, e possam transformar-se em canais de comunica- ção da comunidade educacional brasileira. Não se trata, portanto, de mais um relatório de atividades dando conta de uma rotinei- ra reunião burocrática, mas sim dos sinais da presença viva e atuante do INEP junto à realidade editorial da área da Educação, de cujas dificuldades e perspectivas quis tor- nar-se co-partícipe e solidário. Francisco Salatiel de Alencar Barbosa Coordenador do Seminário ABERTURA Pronunciamento da Profa. Lena Castello Branco Ferreira Costa, Diretora-Geral do INEP É com satisfação que compareço à abertura do Seminário sobre Publicações Periódicas da Área da Educação para trazer as minhas boas-vindas e as do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) aos participantes que, atendendo a convite que lhes foi dirigido, aqui comparecem para trabalharmos em conjunto. Como é do conhecimento de todos, o INEP mantém antiga tradição nos setores de publicação e de documentação, coerentemente com as finalidades da própria Institui- ção, órgão de pesquisa que é, desde as suas origens, no já distante ano de 1937. Ao longo de mais de quatro décadas de existência o Instituto Nacional de Estudos Pe- dagógicos, em 1972 rebatizado com o nome de Instituto Nacional de Estudos e Pesqui- sas Educacionais — mantida todavia a mesma sigla, INEP — preocupou-se em assegurar apoio às suas atividades, bem como aos trabalhos de pesquisa educacional em desenvol- vimento no país. A quase inexistência, então, de bibliotecas e mesmo de bibliografia especializada em Educação em língua portuguesa fizeram com que as atividades de documentação e de editoração do INEP fossem pioneiras nessas áreas. A Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, que ora entra no seu 409 ano de existên- cia, a Bibliografia Brasileira de Educacão, as séries INEP, o Em Aberto, os Informa- tivos, Anais e publicações outras evidenciam a continuidade desse esforço, bem como a capacidade de atualização do INEP, atento que está aos progressos da divulgação científica, tanto no Brasil como no mundo. De outra parte, os estudos relativos ao Thesaurus Brasileiro de Educacão, visando à de- finição da linguagem básica em Educação — instrumento imprescindível à automatiza- ção que sepretende alcançar no setor de informações bibliográficas — iniciados sob o patrocínio da UNESCO, prosseguem com interesse e competência, em trabalho in- terinstitucional que, sob a direção do INEP, conta com a participação, dentre outros, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de di- versos organismos do Ministério da Educação e Cultura. Atuando em duas vertentes — a da Pesquisa e a da Documentação e Informação — o INEP realiza a aproximação imprescindível entre investigação e conhecimento cientí- fico, buscando, ao mesmo tempo, divulgar os resultados a que chegaram as pesquisas educacionais. No desenvolvimento de qualquer ciência, no exercício da comunicação, essencial em nosso país, o que se observa, todavia, ao lado da intermitência das publicações especia- lizadas, é a tendência manifesta por muitos pesquisadores no sentido de esgotarem a investigação no próprio ato da pesquisa. Como diz Cláudio Moura Castro, há pesquisadores que não sabem escrever ou que não confiam nos resultados a que chegaram seus trabalhos, e limitam-se à redação de ver- sões preliminares, sempre para uso interno. Acentua-se assim a tendência à entropia, que parece perseguir as chamadas comunidades científicas. Desde quando foi inventada a escrita, pôde o homem realmente sobrepor-se aos de- mais espécimens do reino animal, pois que ja não lhe era necessário repetir em escala individual todas as experiências de sua espécie. Representando a culminância de longo processo que se iniciou com os primeiros sinais cuneiformes e heroglíficos, a escrita nada mais é do que o aprisionamento de idéias a símbolos, remontando à recolha de mitos, lendas e sagas, e renovando-se na atuali- dade pelo registro do passado e do presente, em microfichas, fitas e disquetes que colo- cam, ao alcance de todos, acervos os mais valiosos e os mais distantes no tempo e no espaço. Utilizando-se quase sempre de material perecível — do barro ao papiro, do pergami- nho ao papel e à fita — contam-nos autores antigos que a escrita, ao surgir, suscitou dúvidas e resistências quanto às possibilidades e virtualidades que lhe eram inerentes, desde que ensejavam a perpetuidade dos fatos e das idéias. Os homens não mais serão sábios, dizia-se, porquanto o que devem reter na memória será transferido à matéria e eles já não se inclinarão a reter, com esforço, ou a evocar, com unção, os fastos dos seus maiores. A despeito desses temores, todavia, a escrita fez disseminar e multiplicar pensamentos, propagar crenças, aproximar os povos. Foi e tem sido instrumento a serviço da beleza, da filosofia, da religião e da ciência. Hoje, quando novas tecnologias permitem-nos entrever novas culturas, na expressão de Papert, mais do que nunca faz-se mister conhecer o que se pensa e o que se realiza nas searas da Educação. A revolução científica que marcou assinaladamente o advento do homem moderno es- teve condicionada, em seu desenvolvimento, à troca de experiências e de informações, possibilitada pela descoberta da imprensa e pelo surgimento das linguagens próprias de cada ciência. De outra parte, desenvolveram-se princípios e normas que passaram a balizar a produção científica a partir de tecnologias específicas. Relativamente à Educação, muitos de seus problemas de cientificidade ainda não foram superados, como de resto também não o foram para as demais ciências do homem. Mesmo na era da Cibernética e da Telemática, a linguagem da Educação permanece imprecisa, dificultando a comunicação entre os estudiosos. Faz-se mister que pesqui- sadores, educadores e cientistas sociais, voltados para a Educação, atentem para tais limitações e procurem eliminá-las, a partir, exatamente, da divulgação e do intercâm- bio de seus estudos e de suas experiências e vivências. Aqui estamos. Senhoras e Senhores, prezados colegas e participantes deste Seminário, objetivando novas posturas mentais, que nos permitam o delineamento de atividades benéficas à comunicação e ao intercâmbio das informações entre educadores e pesqui- sadores educacionais. Seja por meio de publicações, lato sensu, seja por meio de infor- mações bibliográficas, stricto sensu, o que se deseja é que o estudioso da Educação te- nha ao seu alcance a possibilidade de valer-se do recurso de boas bibliotecas, bons pe- riódicos e boas publicações. Com esta finalidade, aqui nos reunimos e agradeço a presença de todos. Desejo um fe- liz trabalho e que bons resultados sejam colhidos deste Seminário. A COMUNICAÇÃO CIENTIFICA Expansão da Informação Científica* João Salvador Furtado Instituto de Botânica NATUREZA DO PROBLEMA Uma das exigências, em ciência, é a de que seus realizadores — os cientistas — divul- guem, de maneira ampla e irrestrita, os produtos de seu trabalho. Para isso, os parti- cipantes do ambiente científico passaram a valorizar dois tipos particulares de ativi- dades: a apresentação de resultados de pesquisa, em congressos e outras reuniões afins, e a publicação de textos que se convencionou denominar artigo científico. Essencialmente, o artigo científico — também chamado de "publicação científica" — transformou-se no indicador mais valorizado e, como tal, utilizado no sistema de as- censão do cientista para efeito de promoção, reconhecimento e conquista de poder em seu meio. O artigo científico foi usado como base para a elaboração de "índices de citações", através dos quais passaram a ser definidos os diferentes níveis de produtividade cien- tífica, em bases internacionais e nacionais. Igualmente, o artigo científico passou a re- presentar a chave de acesso aos restritos círculos da "frente internacional de pesquisa". Pelas razões mencionadas, e por muitas outras que passaram a fazer parte da "cultura" e da "sociologia" da ciência, o ato de publicar artigos científicos é, simultaneamente, reivindicado pelos habitantes da "República da Ciência" e exigido, pelos pares, como prova de efetiva atividade em pesquisa científica. Os problemas que envolvem a produção, publicação e disseminação do artigo científi- co, em seus aspectos de forma e conteúdo, são complexos e numerosos. As discussões a respeito limitam-se, em geral, à maior ou menor dificuldade para sustentação das pu- blicações — aqui entendidas como os veículos impressos que contêm os artigos cientí- ficos. Este aspecto é, na realidade, a ponta de um enorme iceberg, representado por di- ferentes processos de formulação de idéias, inovação de conhecimentos, codificação de informações, transferência e recepção. A predisposição para a compreensão dos problemas representa importante passo para o aperfeiçoamento da capacidade de comunicação da ciência. Superá-los, constitui rele- vante esforço para colocar a ciência em sua posição de dignificante acervo da herança cultural. * Pontos de vista do autor e não, necessariamente, da instituição à qual pertence. Entretanto, o exame de numerosas publicações, anais de congressos e outros textos afins leva a indagações e a dúvidas. Quantos artigos são realmente científicos? Quantas "comunicações", relatadas em reuniões, transformam-se em artigos científicos? Afinal, qual deve ser a configuração do artigo científico? Essencialmente, a publicação científica deve retratar produtos da ciência cuja torna e conteúdo permitam que as técnicas, utilizadas pelos autores, possam ser repetidas por todos os interessados e os procedimentos intelectuais — que levaram à formação dos conceitos —, avaliados. Daí, a informação científica terá, na expressão mais inequívo- ca que se possa imaginar, que exibir duas características fundamentais: a) constituir informação primária, isto é, algo revelado pela primeira vez e pelo autor ou autores do fato; e b) incluir novidade, ou seja, alguma coisa que ainda não tenha sido desco- berta por outros. Se os conceitos podemser colocados com alguma facilidade, textualmente, a percep- ção da abrangência é algo mais complexo e que merece exame mais atento. Talvez o fato mais significativo é o de que terá que haver, enfaticamente, relação entre três aspectos: a) a descoberta científica deve basear-se no emprego da metodologia cientí- fica; b) a informação deve ser inovadora; e c) o conceito de conhecimento científico tem que ser reconhecido. Por isso, tentativas de aperfeiçoamento das publicações científicas terão que levar em conta, de maneira essencial, a revisão dos artigos científicos quanto ao conteúdo. Nesse momento, sera preciso trazer à tona o corpo principal do iceberg. Parte dessa proposta constitui o tema principal a ser apresentado em seguida. INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C & T) Conceitualmente, a informação representa a formação de juízos a respeito de dados, isolados ou agrupados, depois de tratados e analisados. Essencialmente, a informação, em C&T, assume duas características, quanto à codificação: é verbal ou fisicamente traduzida. Tanto em C, como em T, a entrada é feita através de informações verbal- mente codificadas, em textos e discussões. As saídas revelam diferenças. A informação científica principal é representada por novas informações verbalmente codificadas, ao passo que, em tecnologia, a informação principal é fisicamente codificada em sistemas, processos ou produtos, sendo a informação verbal um produto colateral. As diferenças em codificação são acompanhadas por outras, quanto ao universo da in- formação codificada. Aquela verbalmente traduzida circula através de discussões em reuniões; de atividades de capacitação de recursos humanos (tanto nas salas de aula, como por meio de manuais e outros textos); e de difusão. Na última condição encon- tram-se os inúmeros tipos de boletins, publicações periódicas, textos referenciais e ou- tras modalidades de material impresso, duplicado e distribuído. Na categoria de infor- mações fisicamente codificadas são incluídos os equipamentos, os produtos, laborató- rios, protótipos, plantas-piloto. Por razões da proposta original de discussão, o assunto sera limitado às informações científicas verbalmente codificadas pelo artigo científico. Porém, serão feitas consi- derações a respeito de determinados aspectos da informação tecnológica, para com- parações. A ciência constitui um sistema hierárquico de conhecimentos acerca do homem e do universo que o cerca. Baseia-se na observação, experimentação e lógica, com três fun- ções básicas: a geração de cultura; a natureza educacional, por meio da qual o homem aprende a pensar melhor; e a função operacional, destinada a resolução de problemas. Por isso, os produtos da ciência poderão ser conhecimentos abstratos, verdades aplicá- veis, métodos de aplicação ou de obtenção de resultados práticos. A tecnologia constitui um conjunto de habilidades humanas para geração de bens e ser- viços. A partir do emprego de conhecimentos científicos, foi possível racionalizar os sistemas de produção. Os serviços técnico-científicos representam outros tipos de habilidades, cujas funções estão voltadas para a produção e difusão de ciência e tecnologia. A publicação — isto é, o ato de editorar e publicar os resultados da ciência - faz parte do conjunto de ser- viços técnico-científicos. NATUREZA DA INFORMAÇÃO CIENTIFICA A origem do pensamento inovador é diferentemente interpretada. Para uns (Rocha e Silva) depende de atitude descompromissada, informal e que admite "as coisas mais malucas, para poder abrir caminho ou alguma brecha por onde prosseguir". Para ou- tros (Motoyama) requer a interdependência a fatos já conhecidos, como fruto da in- teração entre o sujeito (ou instrumentos mentais, como teorias, métodos, linguagens) e o objeto, isto é, a natureza, mediada por substrato técnico ou instrumentos de tra- balho. De qualquer forma, o conhecimento ou saber científico distingue-se dos demais tipos, a saber: o popular, o filosófico e o religioso. Em sua essência, o conhecimento cientí- fico (Lakatos & Marconi) e real, racional, objetivo, transcendente aos fatos, analítico, claro, preciso, comunicável, verificável, dependente de investigação metódica, sistemá- tico, acumulativo, falível, geral, explicativo, preditivo, aberto e útil. A obtenção do conhecimento científico depende do uso adequado da metodologia científica, como estrutura mental para a busca das informações. Fundamentalmente, a metodologia baseia-se na própria concepção de método, enquanto conjunto de ativi- dades sistematizadas, racionais, que, com maior segurança e economia, permite que os objetivos sejam atingidos. Implica a concepção das idéias quanto à delimitação do pro- blema, colocação do assunto, identificação de conhecimento e instrumentos, novas idéias (determinadas por hipóteses, teorias ou técnicas); a busca de soluções; o trata- mento das conseqüências dos resultados encontrados; a comprovação da solução ou a reformulação dos conhecimentos existentes; a proposição de uma teoria unificadora dos conhecimentos; e a doutrinação do leitor para a aceitação da teoria. Das funções essenciais, na metodologia científica, a formulação de hipóteses é a ação mais importante, senão a mais difícil. Provavelmente, as dificuldades para a realização da busca do conhecimento científico tornam-se tanto mais agudas quanto menos cla- ras forem as hipóteses criadas na tentativa de propor as relações entre fatos e fenô- menos. Uma vez comprometida a base de reflexão indagativa, que serve para.estimu- lar a busca do conhecimento científico, fica também fácil prever que o produto da atividade científica — isto é, a informação incluída no artigo científico — poderá ser prejudicada. LIMITES À EXPANSÃO DA INFORMAÇÃO CIENTIFICA Da mesma maneira que ocorre com outros tipos de informação, o conhecimento cien- tífico está sujeito a fatores que afetam a codificação, pelos autores; a ampliação, sob a responsabilidade da qualidade do texto; a transmissão, representada pela penetração do veículo e circulação; e a recepção, dada pela aceitação e uso da informação pelos leitores. Em cada um dos diferentes níveis, surgem fatores que restringem a expansão da infor- mação e, censeqüentemente, do conhecimento científico. São limitações provocadas por componentes internos ou externos ao ambiente do próprio autor, mas que refle- tem relações de causa e efeito. Entre os fatores internos, ganham destaque três aspectos. A linguagem, em si, constitui uma barreira, em virtude da ultra-especialização, da proliferação de ultraparticularida- des das investigações científicas, do hermetismo dos termos e das construções semânti- cas empregadas para a elaboração dos textos e da própria estruturação das informações. A preparação do cientista para a elaboração de textos é outro tipo de fator limitante, próprio da estrutura científica. No geral, não há maiores esforços no sentido de ser-lhe oferecido treinamento para a seleção, geração e uso de informações. Não há certeza inequívoca de que os fundamentos da metodologia científica sejam transmitidos, co- mo instrumentos,para o aperfeiçoamento da prática da pesquisa científica e suas conse- qüências na elaboração de informações que codifiquem, adequadamente, o produto da ciência. Adicionalmente, o cientista,enquanto autor, não identifica outros usuários pa- ra a informação por ele produzida, que não sejam colegas do mesmo campo, linha ou temática, no geral ultra-especializada. O terceiro componente interno do ambiente científico a afetar a expansão da infor- mação, refere-se à sociologia do cientista e ao sistema meritocrático institucionaliza- do. Tudo resulta na compulsiva necessidade do cientista participar de eventos, apre- sentar trabalhos, publicar e difundir, como parte de um processo que vai além da exi- gência determinada pela natureza da ciência,da obrigação de desvendar os conheci- mentos. Os currículos devem ser elaborados. 0 sistema tende a inflacionar a situação, com sérios danos, na medida em que as avaliações são, eminentemente, quantitativas. Dos fatores externos, ganham destaque os resultantes da desinformação e despreparo de parte da sociedade como um todo, em relação à ciência e seu papel, como bem cul- tural, social e econômico. Mais especificamente, a sociedade revela ambientes nos quais as barreiras à expansão da informação científica ganham maiores dimensões. Trata-se da competência profissional dos segmentos dominantes, em geral pouco afeitos à ciên- cia, da cultura do setor produtivo, que pouco ou quase nada da' de valor ao feito cien- tífico; das dissonâncias que acabam sendo criadas pela configuração da imagem feita a respeito do cientista como elemento desengajado da realidade sócio-econômica; e da falta de espaço ou de suficiente conteúdo para informações científicas, nos veículos da mídia popular. As causas são complexas, mas algumas deverão merecer a atenção dos interessados em ampliar a comunicação científica. Uma delas diz respeito aos próprios juízos, elabora- dos por cientistas, que podem ser imperfeitos, imprecisos, incompletos ou, simples- mente, mal elaborados. Como parte do processo, surge a insuficiência do siste- ma de filtragem, criado pela própria comunidade científica e que deveria funcionar antes da produção do texto contendo as informações científicas. 0 problema da filtragem merece considerações adicionais, pelo amplo envolvimento de segmentos não necessariamente ligados ao científico. De fato, o sistema de filtros de qualidade poderia eliminar os fatores restritivos da expansão da informação, na medi- da em que: existisse suficiente massa crítica, para atuar como exigência de qualidade; e condição de crítica, opiniões, pareceres e outros tipos de manifestações, a respeito das informações elaboradas, notadamente no nível da editoração. Surgem, portanto, conseqüências cujo controle se torna muito difícil, as quais dificul- tam ou mesmo impedem a passagem do conhecimento científico entre áreas afins. A situação assume maior complexidade, quando se pretende a utilização da informa- ção científica pelo ambiente tecnológico. Predomina a situação de grande "reserva- tório", no qual as informações vão sendo acumuladas. Mecanismos de "pescaria" fa- zem com que determinados conhecimentos atinjam interesses aplicativos e, por meio de decisões político-econômicas, cheguem a aplicações como bens e serviços. Sociolo- gicamente, os autores de ciência não convivem com ambiente tecnológico e setor pro- dutivo. Em linguagem e aspirações, a comunicação é deficitária. O "reservatório" de informações vem crescendo, a taxas anuais da ordem de 4%. Os registros não estão limitados a dados exclusivamente científicos, mas cobrem grande espectro de assuntos que se relacionam ao que se convencionou denominar por ciência e tecnologia. Os números são assustadores. De apenas dois periódicos científicos em 1965, constata- mos a existência de mais de 100 mil na década de 70, com tendência a atingir a casa do milhão no ano 2000. No Brasil, levantamento feito sem grande rigor quanto à classifi- cação de conteúdo indica a existência de quase 3 000 títulos. Em 568 bases de dados examinadas, foram detectadas mais de 70 milhões de registros. Entre 1960 e 1970, foram somados mais de 10 milhões de itens bibliográficos, em apenas 2 400 títulos de periódicos. Mas isso representa pouco em relação ao que é efetivamente impresso, uma vez que nu- merosos veículos não são indexados nem incluídos nos sistemas automatizados para armazenamento da informação técnico-científica. A este fato deve ser agregado outro, representado pela própria limitação da comunica- ção efetiva do cientista. Do saber total, apenas 1% é transmitido; 0,25% passa por fi l- tros de segurança política, econômica e militar; 0,02% circula pelos jornais; e somente 0,01% é efetivamente assimilado pela sociedade. 0 mais revelador é que aproximada- mente 80% da informação que chega aos níveis decisórios dos poderes político admi- nistrativos, nos quais os destinos econômicos da ciência são definidos, deriva da im- prensa comum. A situação brasileira não escapa da realidade do subdesenvolvimento, no que diz res- peito aos problemas que afetam a produção e disseminação da informação científica, através de veículos especializados. A estes, devem ser acrescidos os constrangimentos comuns à informação científica que são verificados em plano universal. Quando exa- minada a produção científica nacional, frente ao panorama internacional, as figuras não são alentadoras. MUDANÇAS Um fato é irretorquível, em nível mundial: é mais fácil redescobrir alguma coisa ja' re- latada na literatura, do que ser capaz de acessar as informações disponíveis a respeito de determinado assunto. São necessárias mudanças, sob vários pontos de vista. Uma diz respeito a valores, consolidados em séculos de desempenho compartimentado. Outras correspondem à aquisição de tecnologias mais efetivas para a busca de informações disponíveis. Isto implica a preparação de profissionais habilitados para a busca, segundo procedimen- tos apropriados às inúmeras fontes, já integradas em redes computadorizadas e que ope- ram "em linha", via satélite e ao alcance do telefone ou do telex. No Brasil, o Sistema Interdata já está em condições de contribuir com a nova tecnologia, embora ainda haja carência de recursos humanos capazes de efetivar o elo entre o usuário e a fonte de informação. Há outros passos que não dependem, substancialmente, de tecnologias, nem de compe- tências profissionais externas ao ambiente onde a ciência deva ser concebida e gerada. Alguns passos irão, certamente, contribuir para a melhoria da situação. O autor da in- formação deverá meditar sobre o fato de que o produto de seu trabalho, uma vez co- dificado, teia que ingressar em sistemas de informação, cuja latitude é muitíssimo mais ampla do que a comunidade que habita a ultra-especialização. Como tal, a informação científica terá que atingir as organizações, de maneira estruturada e com objetivo de atender as necessidades de grupos atuantes em ciência e tecnologia. Tais organizações, de acordo com as tendências atuais, inclinam-se a validar sua presença mediante a arti- culação interdisciplinar e transetorial. Isso tudo leva-nos à conclusão de que a informação científica, para que possa ser útil à sociedade, inclusive como bem cultural, passará a depender da existência de compe- tências profissionais mais diversificadas do que a que segue determinados capítulos e subcapítulos para redigir os resultados de protocolos experimentais. Hoje, a informação científica faz parte do desenho de sistemas, com tendência a am- pliar o impacto de sua significação, na medida em que os autores tiverem em mente uma indagação fundamental: informação para quem e para quê? Somente assim pode- rão ser gerados textos que contribuam para os parâmetros de essência, versatilidade, oportunidade, aceitação, conteúdo e indicadores de qualidade dos recursos informa- tivos, à disposição da sociedade. Progressivamente, aumentam os desejos de utilização da informação científica como indicador de produtividade; como fator multiplicativo, pelos reflexos que condiciona em diversos ambientes; e como instrumento para definição de políticas específicas. O artigo científico é, portanto, a ponta de um enorme iceberg. O entendimento do pró- prio significado da ciência e o que deverá ser a natureza do conhecimento científico representa importante mudança, para concepção de melhores idéias e, subseqüente- mente, produção de textos com melhor conteúdo informativo. A adoção da metodologia científica, como estruturação mental e instrumento para ordenação do raciocínio, faz com que as informaçõestenham lógica e coerência, prin- cipalmente ao identificar o problema, justificar o procedimento intelectual e justifi- car a teorização e doutrinação, próprias da ciência. No conjunto, o artigo científico não deveria ser retrato estático da realidade para o novo estágio do conhecimento, seja este observacional ou experimental. A produção do texto requer, portanto, procedimentos de duas ordens. Uma que está diretamente relacionada à atividade reflexiva e indagativa que levou o autor a verifi- car verdades ou falsidades, e a outra que corresponde a processos organizacionais e mecânicos para a elaboração dos textos. RESPONSABILIDADES Essencialmente, é necessário melhorar o sistema de filtros de qualidade. Para isso, mui- tos são responsáveis, tanto em níveis pessoais, como de instituições. Cientistas devem preservar os valores que, por séculos, têm garantido a sustentação des- sa comunidade, ao contrário da desagregação observada em outras subculturas. Mas, terão que avaliar as expectativas e as conseqüências de uso das informações por eles geradas. Associações profissionais, especialmente as de caráter científico e tecnológico, terão que intensificar os controles de qualidade, para a melhoria das publicações e das comu- nicações em congressos, reuniões, cursos e outros tipos de codificação da ciência. As instituições terão que suprir meios e serviços técnicos para a geração, produção e difusão do conhecimento científico e das habilidades tecnológicas. Editores terão que alargar os horizontes do conceito de publicação científica, dedican- do maiores atenções ao conteúdo, antes que à forma e somente a esta, em última aná- lise. Papel especial é destinado a editores mais experientes, que consigam estimular a comunicação interdisciplinar e, sempre que possível, a que permeia diferentes setores ou segmentos do ambiente tecnológico e produtivo. Agências governamentais terão que aperfeiçoar seu papel de indutoras do desenvolvi- mento, examinando o processo da publicação científica como fase tão importante — senão mais necessária — quanto o apoio à realização de projetos científicos. As transformações completar-se-ão com maior velocidade, na medida em que autores, isto é, cientistas, instituições e governo assumirem, com maior compreensão, o entendi- mento dos limites da ciência e adotarem a postura que de todos se espera. Quando isso acontecer, o artigo científico será melhor espelho da ciência. Comunicação Científica: o Periódico Gilda Maria Braga Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) Parte do tempo dos cientistas — 30% a 50% — é gasto em comunicação. As modalida- des de comunicação informal e formal são variadas, e podem ocorrer via conversa frente a frente, conversa telefônica, troca de correspondência e toda uma gama de material im- presso — desde livros até artigos de periódicos, passando por relatórios de congressos e de pesquisas, coletâneas, etc. Ziman1 é enfático ao afirmar que atribui-se demasiada importância à comunicação informal. Na verdade, o bate-papo, a conversa telefônica, a troca de pré-publicações (pre-prints) constituem, via de regra, informação preliminar, ainda não estabelecida co- mo conhecimento científico "confiável". A comunicação informal é quase sempre oral, dirigida a um pequeno grupo de colegas e representa uma pesquisa ainda não terminada. A medida que tais comunicações vão se repetindo, as idéias tomam for- ma, os manuscritos vão melhorando até o trabalho atingir o ponto de ser formaliza- do através da publicação em algum periódico. O tempo médio entre o início de uma pesquisa e sua publicação como artigo oscila entre vinte e quatro a trinta meses, depen- dendo da área de assunto. O grande progresso da ciência nos últimos três séculos deve-se, em grande parte, ao fa- to do ciclo da descoberta científica só completar-se quando seus resultados são publi- cados — isto é, comunicados. A comunicação científica envolve atos de escrever, registrar, publicar, disseminar, ad- quirir, armazenar, organizar, controlar, identificar, ler e assimilar, formando um fluxo de transferência de informações do cientista-produtor paraocientista-consumidor. Essa transferência é feita, essencialmente, por cientistas-autores, editores, periódicos, biblio- tecas, centros de informação, serviços de indexação/resumos, cientistas-usuários. Essa formidável indústria da informação gasta, apenas nos Estados Unidos, cerca de 15 bi- lhões de dólares anualmente. O periódico — principal veículo da comunicação científica — nasceu em 1665, na França (Journal des Sçavans) e na Inglaterra (Philosophical Transactions) para satis- fazer as necessidades de uma elite que já não se contentava com a comunicação feita através dos colégios invisíveis ou dos livros. Daquela data em diante, o número de pe- riódicos vem crescendo cerca de 5% ao ano, dobrando aproximadamente a cada quin- ze anos. 1 Z IMAN, J. M. Information, communication, knowledge. Nature, 224:318-24, 1969. Estima-se atualmente em cerca de 60 mil o número de periódicos científicos publica- dos mundialmente. Os termos "implosão", "explosão", "poluição" da informação podem ser constantemente vistos na literatura especializada. Goffman2 demonstrou que tal crescimento é uma decorrência do aumento do número de autores e não de um aumento de produtividade dos autores, em geral. Apesar desse crescimento, King3 demonstrou que apenas 6% dos cientistas americanos publicaram algum artigo em 1977 — desses, 62% estavam ligados à universidade e possivelmente pressionados pela política de "publicar ou perecer". Price4 confirma os resultados de King, e estima que apenas 10% dos autores produzem mais de 50% de todos os artigos. A produtivi- dade dos cientistas segue o princípio das distribuições hiperbólicas, onde poucos pro- duzem muito e muitos produzem pouco, apesar da média indicar que, em geral, um cientista escreve, durante sua vida, três e meio artigos. O recorde de produtividade foi provavelmente atingido pelo entomologista Theodore Dru Alison Cockerell (1866- 1948) cuja bibliografia inclui 3 904 documentos produzidos em sessenta e sete anos, ou seja, cerca de dois documentos por semana. O volume de literatura escrita é um indicador a mais da importância do periódico, e os editores desempenham um papel fundamental no processo de comunicação. Os edito- res de periódicos constituem o foco central para reunir resultados de pesquisa, revê-los e editá-los (avaliá-los), prepará-los para distribuição; cabe-lhes ainda estabelecer uma clientela para tal informação e ainda reproduzir e distribuir a informação para a clien- tela estabelecida. Tais tarefas envolvem, nos Estados Unidos, cerca de 5 000 periódicos científicos, 500 mil artigos e 2 milhões de cópias desses artigos — em média, 6 500 as- sinaturas por periódico. É também parcialmente responsabilidade do editor assegurar que o periódico cumpra suas três funções básicas: disseminação, arquivo, e a função de carrear prestígio e reconhecimento aos autores. Tais funções só podem ser desempe- nhadas plenamente se houver rigorosa avaliação dos originais submetidos à publicação — e ha' grande número de ocorrências que demonstram graves falhas do sistema edito- rial, que vem permitindo a divulgação de artigos de qualidade duvidosa, contendo in- formações incorretas, resultados falseados, metodologia imprecisa, etc. Cabe ao editor e ao corpo de avaliadores fazer com que o periódico atue como verdadeiro filtro de qualidade, garantindo o equilíbrio do sistema de comunicação científica, ainda que tal sistema sofra o impacto de recentes inovações tecnológicas, como a teleconferên- cia e o periódico eletrônico. O processo de comunicação científica depende do sistema sócio-político-econômico- cultural no qual está inserido. Tal processo já está caracterizado nos países desenvolvi-dos. Nos países em desenvolvimento há ainda muito a identificar, delimitar, definir. Essas tarefas são de complexidade tamanha que exigem a colaboração de todos os que participam e atuam no processo de gerar, transmitir e usar o conhecimento científico. Referências Bibliográficas BRAGA, G. M. Electronic publications in developing countries: preparing for the fu- ture. ASIS Proceedings, 19:356, 1982. 2 GOFFMAN, W. & WARREN, K. S. The ecology of medical literatures. American Journal of Medical Sciences, 263:267-73, 1972. 3 KING, D. et ali i . Scientific journals in the United States. Stoudsburg, Hutchinson Rossa, 1981. 319p. 4 PRICE, D. Little science, big science. New York, Columbia University Press, 1965. 118p. BRAGA, G. M. Informação, ciência, política científica: o pensamento de Derek de Solla Price. Ciência da Informação, 3(2): 155-77, 1974. CHERNIN, E. A worm's eye view of biomedical journals. Federation Proceedings, 34(21:124-30,1975. GARVEY, W. D. Communication: the essence of science. Oxford, Pergamon Press, 1979. 332p. POLÍTICA EDITORIAL Política Editorial Roberto Amaral Vieira Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA) A função de uma política é traçar linhas gerais, iluminar o caminho a ser percorrido, aprofundado, por programas de trabalho que farão sua compatibilidade à ação con- creta. 0 que seria uma política editorial? A política editorial é um instrumento que estabelece os marcos, os objetivos e os ins- trumentos de uma editora, seu conteúdo, e sua forma. A política editorial indica o que editar, como editar, para quem editar. No universo de leitores estabelece seu segmento preferencial e a mensagem que lhe é dirigida — vale dizer, seu programa editorial; a decisão sobre o que editar envolve a decisão de como editar, para que haja perfeita adequação entre a mensagem a ser transmitida (conteúdo editorial) e o público desti- natário. A mensagem, além do conteúdo, é também forma, e esta guarda adequação óbvia, seja com o que é transmitido (ou se pretende transmitir), seja com o perfil de seu leitor. Vale dizer, a política editorial é também uma política de produção gráfica, e é também uma política de custos gráficos. 0 processo, portanto, não é só editorial, ou gráfico, ou de produção. O processo é uno. Mesmo a comercialização, digamos, a política de comercialização, é especificidade da política editorial, comercializa-se se- gundo a ótica editorial: por óbvio que o que é editado predetermina o que é vendido, para quem é vendido e, por fim, como deve ser oferecido à venda, isto é, como é (se- ria) vendido. Uma política editorial, portanto, deve responder a questões como: — o que editar — como editar — para quem editar Como o público é uma soma de segmentos especializados, a fixação do conteúdo ou conteúdos, preferencial ou preferenciais, é uma decisão de ordem política. Por exem- plo: qual o papel editorial de uma instituição governamental? No campo da atividade editorial. Estado e empresa privada podem desempenhar papéis indistintos? Qual o conceito de lucro, editorial, financeiro ou econômico que deve presidir a atividade editorial? Qual o papel de uma editora pública ou privada em um país subdesenvolvido — o Brasil, por exemplo, falido ou pré-falido, com altos níveis de analfabetismo e semi- alfabetização, com baixo, baixíssimo índice de leitura, carente de tecnologia, prisio- neiro de uma dívida externa irresponsável e desumana? Qual deve ser a preocupação temática de uma editora brasileira? Que relações ela deve estabelecer com a cultura nacional? "Somos editores brasileiros ou editores de língua portuguesa? Nesse caso, não seria de nosso ofício pensar em uma política editorial que contemplasse os paí- ses africanos e asiáticos de língua portuguesa? POLlTlCA EDITORIAL O conceito de política editorial, objeto das presentes considerações, encara a produ- ção editorial dentro do complexo gráfíco-editorial, nele compreendidas todas as fa- ses de produção de um livro ou revista, desde a criação puramente intelectual do tex- to à sua entrega ao mercado como produto final. Entendendo o processo em sua globalidade e unicidade, isto é, como gráfico-editorial, anulada portanto a visão particularista que enfatiza ora o aspecto editorial, ora o gra- fico, podemos afirmar a inconveniência de qualquer planejamento que não considere o produto final: livro ou revista. Em outras palavras, a seleção e análise dos originais, e a partir daí o projeto editorial, devem levar em conta, ao lado de outros fatores, o objeto da publicação, o público a que se destina, o conteúdo da informação, etc. Assim, sugerimos como imprescindível a fixação de uma doutrina ou política editorial. Diante da sua inexistência — quer da parte do Governo, quer dos editores em sua maio- ria — muitas distorções são cometidas diariamente em prejuízo não só da indústria editorial, como especialmente da cultura do país. Ponto fundamental é a conceitua- ção do livro e a definição de seu papel em um país subdesenvolvido, o Brasil, por exemplo. Qual sua missão básica? Instruir? Transmitir informação? Entreter? Partindo, por uma simples questão de método, do pressuposto de que seu escopo é transmitir informações, reformulemos a pergunta: qual a política que deve presidir sua apresentação gráfica? Acabamento em brochura (rústica), relativamente barato mas também de menor duração, pois no século da tecnologia supõe-se curta a vida útil da informação? Edições com tiragens elevadas, destinadas ao grande público? Li- vros de melhor acabamento e maior durabilidade ainda que sujeitos a custos elevados? Admitamos, tomando como princípio a realidade brasileira, uma política que conside- ra o livro como instrumento basilar do desenvolvimento cultural e, por força deste conceito, objetive sua disseminação. Tal disseminação estaria obstaculizada pelo baixo nível de renda da população consumidora, tornando impraticável a compra de livros e periódicos/produção e venda em níveis industriais. Na impossibilidade de aumentar a demanda, restaria sugerir meios visando à redução dos custos, ou seja, o barateamen- to do preço de capa do livro, via nacionalização da produção, adequando-o ao limitado poder aquisitivo do pequeno segmento de população compradora. CUSTO GRÁFICO 0 preço de venda de um livro resulta da equação custo gráfico-editorial versus tiragem. Por custo gráfico entende-se o dispêndio com a produção industrial (grafica, papel, re- visão, ilustrações, artes-finais, clicheria ou fotolitos etc); no custo editorial são com- putadas despesas como: preparação de originais, marcação e diagramação. Os direitos autorais e o copyright raramente interferem na fixação do preço de capa. Sobre o eus- to gráfico-editorial é projetada uma porcentagem mais ou menos aleatória (em regra 10%), destinada ao custeio de despesas de administração, armazenagem, fundo de co- mércio, riscos, capital de giro, etc, chamada taxa de administração. O custo global resulta do custo gráfico-editorial somado a essa taxa; quando dividido pelo total da ti- ragem, oferece o custo unitário. O preço de venda é obtido pela multiplicação do cus- to unitário por um índice teoricamente calculado com base em fatores de ordem eco- nômica e em estimativas de mercado. O multiplicador mínimo (abaixo do qual o re- sultado da vendagem dificilmente cobrirá as despesas) é uma variável entre 4 é 5; a queda do preço unitário, freqüente nas segundas e seguintes tiragens, fornece às editoras a posssibilidade de utilização de índices mais elevados, 6 ou 7. Nas casas editoras que tra- balham com algum planejamento, os livros a serem lançados tém usualmente o preço de venda fixado com base no índice 5; o editor que assim procede investe na primei- ra edição contando obter melhor margem de lucro nas tiragens subseqüentes. Ofuncio- namento, a contento, de tal política implica a necessidade de a primeira tiragem re- cuperar os investimentos, assegurada a existência de novas impressões, o que não é seguro. A reimpressão, de um modo geral, aproveita a primeição edição (a regra quan- do a primeira edição é tipográfica é fotografar a primeira tiragem e imprimir a segunda em offset) proporcionando um custo unitário mais baixo. O editor, assim, poderá lan- çar mão de um índice mais alto, sem contudo majorar o preço de venda. O custo vai caindo progressivamente à proporção que novas tiragens são lançadas. Infelizmente, não estamos em face de regra vigente na indústria editorial brasileira. A característica entre nós são pequenas tiragens, grande demora na comercialização e poucas reedições. O notável intervalo entre as reedições ou novas tiragens, quando es- tas ocorrem, torna impossível ou desaconselhável, como é o caso do livro técnico-cien- tífico e, às vezes, do didático, a reimpressão, impondo uma segunda edição revista, re- fundida, ampliada e, vale dizer, bastante onerada, impondo novos investimentos. Temos, assim, que o editor, ao decidir-se pelo lançamento de um livro, deverá estar seguro do lucro ou, pelo menos, da recuperação dos investimentos, já na primeira edi- ção. A margem de risco, todavia, persiste em nível elevado; mesmo para essa vendagem da primeira edição — um ano tratando-se de livro didático, dois para livro de texto co- mum — não dispõe o editor de modelos científicos que lhe assegurem a antecipação da resposta do mercado consumidor. Desconhece também fórmulas que — com as exceções de praxe — estabeleçam, diante de um original, a distinção entre o encalhe certo e o best seller. DECOMPOSIÇÃO DO PREÇO DE VENDA Como sabemos, encerrado o processo industrial de fabricação do livro, inicia-se um ou- tro, o mais penoso: a comercialização, comumente por intermédio da rede "nacional de distribuidores". Os distribuidores, firmas comerciais independentes do editor, rece- bem as publicações em cotas prefixadas, nem sempre em conta-firme, pagamento num prazo mínimo de 120 dias (ou 90 dias fora o mês), com desconto médio de 50% sobre o preço de capa. Tratando-se de obras didáticas do 19 e 29 graus, o usual é a entrega do livro, ao distribuidor, em consignação reduzida para 40% a percentagem do vendedor. Correm por conta do editor as despesas com embalagem e geralmente são debitadas ao distribuidor as de transporte. Seguem-se as demais despesas, todas elas consideráveis, a começar pelos direitos auto- rais. A norma brasileira estabelece o pagamento de 10% sobre o preço de capa, na me- dida da vendagem. Para realizar uma comercialização razoável, os editores são obrigados a manter um es- quema de vendedores pracistas e inspetores de vendas, cuja missão principal é estimu- lar as compras pelas livrarias e agentes, nos estados. Os vendedores, e principalmente os inspetores, embora atuem mais fixamente no eixo Rio-São Paulo, precisam de, pe- lo menos uma vez por ano, visitar todas as capitais. 0 regime de trabalho varia por em- presa, sendo comum a existência de vínculo empregatício, remuneração mediante sa- lário reduzido e percepção de comissões sobre as vendas, numa percentagem dificil- mente inferior a 5%. Ficamos com o dispêndio de 5% na impossibilidade de estimar diversas despesas como viagens e outras. Ao fornecer o pedido, o editor é obrigado a emitir uma duplicata e resgatá-la em banco com o desconto mínimo de 10% ao mês. Não dispomos de estimativas de custos indire- tos, como encalhe, faturas não honradas, devolução, perdas, juros de mora e outras. Computados apenas os elementos conhecidos, temos, portanto, o preço de capa de- composto como se segue: Com o fator multiplicador 5, é evidente que a participação do custo gráfico no preço de venda varia em função do índice multiplicador utilizado. Por exemplo: no multi- plicador 4 a participação é de 25%; no multiplicador 5 a participação é de 20% e assim progressivamente, caindo o peso do custo grafico à medida que aumenta o índice mul- tiplicador. Assim, o preço de venda aparece onerado em 95%, dando ao editor o saldo de 5% por livro vendido e pago. Para os efeitos desses cálculos, não foi considerada a amortização dos investimentos, a saber, o custo do dinheiro a partir do início do dispêndio, o início e o fim do ressarci- mento, cálculo factível apenas na análise de casos concretos. Os números encontrados não representam saldo líquido, pois cumpre ainda ao editor custear, entre outras, as seguintes despesas: distribuição promocional de exemplares, propaganda, embalagens, armazenagem, custo do capital de giro, reinvestimentos, etc. Soma-se à lenta e nem sempre certa recuperação do capital imobilizado o longo proces- so de despesas iniciado imediatamente após a aprovação dos originais. O PROCESSO EDITORIAL O processo editorial começa, geralmente, com a chegada à editora dos originais, quase sempre oferecidos pelo autor. Quando preparados a pedido e por encomenda do edi- tor, presume-se que atendam a uma política editorial prefixada e estejam incluídos em determinado programa; estima-se a existência de despesas anteriores como remunera- ção do responsável coordenador da coleção, estudos de mercado e fixação de padrões gráficos e, até mesmo, contrato de elaboração do livro, muitas vezes envolvendo ante- cipação de direitos autorais. Seja em um caso, seja em outro, recebidos os originais, o editor dá partida ao processo editorial, acionando os leitores, consultores ou exper- tos ligados à empresa, aos quais cabe falar da qualidade do texto. Não desconhecendo, mas simplesmente deixando de computar, por difícil estimativa, as despesas adminis- trativas anteriores, registremos como inicial o pagamento da leitura ou do parecer. Fa- vorável, procede-se à editoração propriamente dita. Após nunca menos de 30 dias nas mãos dos consultores, os originais são liberados para publicação; abre-se o processo de revisão do texto, marcação, diagramação, programação gráfica; suponhamos, num asso- mo de otimismo, que o preparo dos manuscritos demande apenas 30 dias: temos, já aí, 60 dias aos quais devemos acrescentar os necessários ao processo gráfico. Geral- mente, limite internacional, um livro comum leva pelos menos 120 dias para ser composto e impresso (casos há em que o prazo requerido se aproxima de um ano ou mais), portanto, 180 dias entre o recebimento dos originais e sua publicação, se o pro- cesso não sofrer interrupção alguma, tratando-se, relembre-se, de original ja previsto pelo programa de editora. Recebida a tiragem, processa-se a distribuição aos agentes e livreiros de todo o país; até finalizar as operações de faturamento de um terço da tiragem, a editora leva mais ou menos 30 dias; concluído o faturamento (em geral 90 dias fora o mês), restam pelo menos 120 dias para o início da arrecadação, na hipótese de venda em conta-firme. Nas consignações, o faturamento, em geral, só se efetiva a partir da venda, pelo distri- buidor. Vê-se, assim, que entre o recebimento dos originais — quando o editor começa a gastar — e o pagamento da primeira fatura — quando o editor começa a ser reembol- sado — são decorridos pelo menos 330 dias, no caso de originais brasileiros. Tratando- -se, porém, de tradução, o processo se completa em 550 dias. Explica-se: decidida a edição — de acordo com o eventual parecer dos consultores — cumpre ao editor as negociações, quase sempre lentas, com o editor do título original, visando à aquisição dos direitos à publicação em português (copyright). Assinado o contrato, tem início a tradução para qual é necessário, dependendo do texto e da capacidade do tradutor profissional, cerca de três a seis meses; concluída, é necessariamente submetida à re- visão de um especialista. Só após o último crivo — ou seja, gastos pelos menos 150 dias — é entregue aodepartamento editorial para a execução dos trabalhos já descritos ante- riormente, e que exigem, como vimos, mais 330 dias. O problema relativo às traduções, todavia, não se resume na dilação do processo edi- torial ou na simples antecipação do pagamento do copyright. Diversos óbices dificultam a criação de um pensamento técnico-científico brasileiro. Talvez se possa dizer que são poucos os estudos e as pesquisas de cientistas e técnicos nacionais editados; ainda mais raro é atingirem o público a que se destinam. E mesmo quando isso se registra, irrelevantes casos isolados, a má circulação da obra, as peque- nas tiragens, os custos e preços altos concorrem para reduzir a distribuição e, portanto, os benefícios dela decorrentes. O livro só cumpre o papel de veículo de cultura quan- do, editado, circula. Nas atuais circunstâncias, o livro brasileiro é uma aventura imprevisível: escrito, difi- cilmente é editado, pois não tem venda garantida; editado e vendido, é consumido por público restrito, fazendo da cultura um privilégio. Em um mundo intercomunicante, as traduções desempenham um papel salutar. Mas ha' que distinguir a tradução indispensável da acidental. Cumpre verificar as reais pos- sibilidades culturais de nossos técnicos e cientistas para identificar aquelas traduções das quais podemos prescindir, e a seguir determinar, exatamente, na área técnico-cien- tífica, as fronteiras entre o que devemos importar e o que devemos fazer, inclusive porque toda cultura, para ter raízes sólidas, deve-se conformar ao terreno que lhe é próprio, assumindo suas peculiaridades e satisfazendo suas necessidades. O apelo às traduções, todavia, é ainda uma forma encontrada pelos editores para camu- flar suas deficiências. Uma programação nacional exige uma série de atividades para as quais grande número de editores não se sente habilitado. De saída, há de ser criado um plano editorial, um programa de edições, importando a escolha de uma temática, de títulos, de autores, etc. Decidida a temática, há que descobrir o original já elaborado, ou o escritor capaz de elabora-lo. Há que acompanhar sua elaboração. A tradução dis- pensa tudo isso: o editor estrangeiro ja' se incumbiu de tudo e, mais ainda, testou a obra no mercado americano ou europeu. E entre nós também na área editorial vigora um axioma simplista: se vendeu nos Estados Unidos venderá aqui também. Ao inverso, se não vendeu aqui a culpa não foi do editor que escolheu errado, mas do mercado que não reagiu... E o editor brasileiro recebe a tradução já cozinhada: todos os problemas editoriais foram previamente solucionados; cumpre-lhe, apenas, proceder à tradução. Tratando-se de obras infantis, as vantagens são ainda maiores, pois o editor brasileiro ja' recebe o fotolito com as ilustrações cabendo-lhe tão-só inserir o texto em português. Quanto mais esteja subordinada a um programa de traduções (ha' editores que se dizem especializados em best sellers), mais fácil será a administração, produção e editoração. Não estão, porém, esgotados os problemas relativos às traduções; estes invadem a área de custos, onerando sensivelmente o preço de venda de nossos livros e periódicos. Um dos mais sérios, por exemplo, é o referente à aquisição de direitos autorais no exterior. A grande maioria das editoras brasileiras — exceção feita às especializadas em obras jurídicas ou didáticas (em especial as destinadas aos cursos fundamental, de 19 e 29 graus) tem nas traduções cerca de 50% de seu movimento editorial. São várias as questões levantadas a propósito, a primeira das quais é relativa ao custo dos direitos autorais. Muitas vezes a simples transcrição de determinado artigo ou a tradução de um estudo torna-se inviável diante dos direitos cobrados; originariamente caros e pagos em dólar, são, quase sempre, inacessíveis ao editor médio brasileiro. As publicações especializadas, particularmente as culturais, estão entre as que mais padecem com isso. Suas tiragens, pequenas em geral, não proporcionam recursos suficientes para a publicação, em português e no Brasil, de original estrangeiro. Se o escopo das traduções é suprir deficiência da nossa bibliografia, tem-se por óbvio que sobre os temas versados inexiste texto nacional. A tradução encontra justificativa em nossas fraturas culturais e atraso tecnológico e científico. Em outras palavras, à ausência de uma doutrina própria, adotaremos a expressa no texto traduzido. Mas a tradução não deve ser vista como fim, porém como meio. Se não provoca ou estimula textos nacionais substitutivos, poderá ser lesiva aos interesses nacionais. Não se está propondo uma política chauvinista de rompimento com a cultura estrangeira, é evi- dente que a nossa será formada pelo acúmulo de experiência de toda a humanidade: não tem sentido estarmos aqui pesquisando o que já foi descoberto ou repetindo expe- riências, mas acumulando-as. O que sugerimos, como vital para nosso desenvolvimento, é a formação de uma bibliografia nacional, mesmo a partir dos textos importados. As traduções nunca devem ser literais, mas, sempre que possível, adaptadas ao entrecho nacional e precedidas de uma introdução técnica de autoridade do próprio país. Os elementos capazes de apontar os novos caminhos encontram-se na universidade brasileira. E um desses caminhos pode ser o estabelecimento de convênios editoriais com instituições universitárias. Em sua execução, elas contribuem com texto do seu corpo docente e a editora com assessoramento técnico-editorial, assim entendido todo o processo que engloba seleção, preparação de originais, diagramação, composição, impressão, acabamento e até distribuição. Os livros co-editados passam a destinar-se a um público nacional, graças a esquemas de distribuição que procuram evitar a concentração de edições nos estados de origem. As tiragens maiores reduzem os custos e, conseqüentemente, os preços. A obra poderá ser adquirida por maior número de leitores. Ademais, será permitida a difusão do pen- samento regional que perderá, a longo prazo, o cunho fechado e exótico, na medida em que participe de uma perspectiva integrada da cultura brasileira, no intercâmbio entre idéias e informações em nível nacional. Tal intercâmbio é o equivalente, em ter- mos de nação, à troca de idéias entre especialistas e também à difusão, sem a qual mor- re de asfixia toda a cultura. Há, porém, programas de co-edições nos quais inexiste qualquer preocupação criadora. São programas que se destinam exclusivamente ao barateamento do preço de capa, pa- ra os quais os editores são atraídos seja pela concorrência, seja pela possibilidade de, com a venda antecipada de exemplares, assegurar o retorno do capital investido. Nes- ses programas, a obra selecionada pelo editor é submetida à entidade co-editora a qual, aprovando-a, compromete-se a adquiri-la por determinado preço, mediante o compro- misso do editor de vendê-la por um preço de capa fixado em comum, sempre inferior aquele pelo qual a obra, sem a co-edição, seria vendida. Os preços são reduzidos numa média de 30 a 40%. Aparentemente um bom negócio, a expectativa das co-edições tem desestimulado a capacidade inventiva e criadora de nossos editores, os quais, em grande número, trocaram seus programas pelos programas das entidades co-editoras. Entendemos o livro como (relativamente) caro quando salientamos que seu custo não está ao alcance da bolsa popular, ou seja, deve ser considerado caro na medida em que é baixo o poder aquisitivo da população. Inalterada a pobreza de nossa sociedade, con- servando-se assim quase insignificante a parcela integrada no consumo cultural, o livro permanecera' inacessível ao chamado "grande público". A maioria da população ainda não contribui para o produto nacional bruto, abstendo-se de participação no "bolo" da riqueza do país limita-se ao consumo de subsistência. Seu orçamento,já esgotado pelos bens de primeira necessidade, não comporta a inclusão de livros e revistas. Ressalte-se, assim, que as grandes soluções para os problemas atuais do livro no Bra- sil não estão ao dispor da indústria editorial. A crise reflete os conflitos gerais da so- ciedade, notadamente pequena renda per capita e baixa escolaridade. Ao propiciar o aumento de uma e outra, promoveremos tanto a melhoria do poder aquisitivo quan- to o alargamento da faixa consumidora de livros, tornando viável a única medida de que dispõem os editores para garantir o "milagre" de livros e revistas mais baratos: o aumento de suas respectivas tiragens. Parece-nos dispensável demonstrar que tiragens destinadas a pequeno público são ne- cessariamente pequenas. Soluções ao Alcance do Editor As soluções para muitos dos problemas com que se debatem presentemente os edito- res brasileiros não estão, todavia, a depender exclusivamente da atividade governamen- tal. Se o grande desfecho, representado pela ampliação das tiragens, está à espera de medidas como o combate ao analfabetismo, o aumento da escolaridade e da renda per capita, resultando no alargamento do público ledor e na melhoria de seu poder aquisitivo, podem os editores, procurando a racionalização de suas funções, contri- buir para diminuir os custos e aperfeiçoar a qualidade do livro. Ao alcance dos editores está, por exemplo, a escolha do melhor original, do processo gráfico mais conveniente, do formato e do acabamento mais econômico. Conditio sine qua non, faz-se imperioso o ingresso das editoras na fase industrial de trabalho, aban- donando o amadorismo característico da grande maioria das empresas nacionais. Mu- tação que implicará forçosamente a profissionalização de todos os setores e, portanto, a montagem de equipes técnicas para seleção, revisão e normalização; copydesk quan- do necessário; marcação e revisão de texto, possibilitando a remessa dos originais à gráfica em sua feição definitiva; a escolha do processo de composição e impressão e do papel mais convenientes, formato e acabamento mais adequados; a elaboração de ilus- trações e capas (artes-finais) com rapidez e economia; estudos técnicos e de mercado visando à melhor gráfica; fornecimento de papel ao impressor, controlando o gasto e a qualidade do produto. No seu conjunto, referidas medidas, objeto de estudo parti- cular, implicam a queda do custo gráfico, redução do consumo e melhor aproveitamen- to do papel e execução mais rápida dos serviços. Em outras palavras: menor custo in- dustrial, queda do preço unitário e, finalmente, livro barato resultariam inúteis se a eles não se seguisse intensa comercialização. Infelizmente o grande obstáculo à implantação de planos tão óbvios e racionais reside na inadequação de editores, gráficos e livreiros à realidade brasileira. Nossa sociedade está saindo da fase patriarcal e tradicional para a modernizante, daí a situação crítica, vez que o país, sem haver ingressado de todo nesse novo período, mas dele já partici- pando, conserva características conflitantes tanto dos valores culturais quanto do sis- tema econômico tradicional e patriarcal, ao mesmo tempo que já adota métodos e valores impostos pela modernização geral da sociedade. Com relação aos gráficos e editores, o amadorismo remonta à sua própria história. Originariamente, nasceram artesãos, amantes do livro e da cultura antes de se cons- tituírem em homens de negócio. A edição era decidida ora porque o dono da edito- ra (quase sempre também gráfico) gostava do autor, ora porque simpatizava com o tema ou considerava a obra importante. É evidente que esses métodos não poderiam sobreviver à industrialização. Na gráfica tradicional observa-se como característica a debilidade da infra-estrutura administrativa, marcada pela carência de linha de produção, programação de custos, conhecimento de mercado, apuração de produtividade e pesquisa de novas técnicas, controle de qualidade, contabilidade industrial e de custos, assistência técnica, orga- nização e métodos. Ainda entre as chamadas empresas de porte médio a grande, é dado relevo à figura do dono, do gerente industrial, financeiro e de pessoal, do chefe das oficinas, do vendedor, do comprador, do "engenheiro de produção e manutenção". Nas empresas gráficas brasileiras médias não há programas internos que visem â me- lhoria da produtividade; para a promoção de simples operários a supervisores leva-se em conta tão-somente o tempo de serviço na casa e a experiência demonstrada: novos operários ou técnicos são contratados através de jornais; não há normas preestabele- cidas para os casos de promoção, que são estudados de per si. Não há estímulos ao aumento da produtividade. Só recentemente começou-se a fazer uso do sistema cre- ditício nacional; a partir de 1965 deixou-se de recorrer à agiotagem como fonte única de financiamento de suas necessidades de capital de giro, acicatados pela política de crédito antiinflacionária que tornou temerários os fornecimentos de confiança, substi- tuídos por duplicatas. Crítica à Editora Tradicional As inconveniências do funcionamento da editora tradicional começam com o proces- so de seleção do original. O editor faz-se simples intermediário entre a produção intelectual e o público a quem fornecerá o livro. De saída, sua atitude é passiva. Não interfere na escolha do tema, ou em sua elaboração; limita-se a preparar e publicar o original que lhe foi apresentado, às vezes, por mero acaso. O editor tradicional não descobriu as vantagens de encomen- dar originais, numa época em que muitos já atingiram, mesmo no Brasil, a sofisticação de influir, até na elaboração do texto. Recebidos os originais, surge a segunda deficiência: o processo de análise. É geralmen- te o dono de uma editora nesses moldes, isto é, o homem que tem em suas mãos to- das as funções de mando e de política, quem contrata a edição, decide a respeito da apresentação grafica e dos critérios de venda. Como nem sempre pode opinar sobre o conteúdo, resolve sobre sua aceitação levando em conta indicadores aleatórios como nome do autor, título e número de páginas. Raramente se apoia numa assessoria ou num grupo de leitores aptos a dar parecer quanto à qualidade dos originais. A conve- niência comercial, a capacidade de venda e outros fatores são sempre "apurados pelo olho clínico" do editor. A pesquisa de mercado não vai além da consulta ao balconis- ta sobre a eventual procura de livros com a mesma temática. Desconhece, também, operações importantíssimas como preparação do manuscrito (revisão, normalização e demais etapas). Os originais entregues pelo autor são consi- derados (ao mais das vezes por puro comodismo) como perfeitos, não lhe cabendo ave- riguar se há incongruências de estilo, cochilos de ortografia ou gramática ou mesmo ausência de índices analíticos. A correção das mais graves deficiências é normalmente transferida para o revisor tipográfico, a quem só deveria competir zelar pela fidelida- de da composição ao original. A correção, em fase tão avançada, importa em custos adicionais e retardo na produção. Entregue o livro à gráfica, composto, procede-se à revisão tipográfica. O processo é lento. Quando as provas chegam ao autor às vezes passou mais de um ano da elabora- ção do original. No intervalo, ele estudou mais, reformulou conceitos e se acha no di- reito de modificar vários trechos, quando não se trata de simples descoberta de enga- nos. Mas seus próprios erros permanecem, e por fim tanto o autor como o editor estão fazendo vista grossa a falhas menos significativas, interessado que está o primeiro em ver sua obra transformada em livro, e o último em livrar-se dos gastos e iniciar a venda. Ambos, porém, estão razoavelmente tranqüilos desde que, à ausência de crédito, o edi- tor transferiu ao gráfico o ônus do financiamento de seu programa editorial.Como vi- mos, um livro ordinário necessita de 60 (prazo mínimo) a 180 (prazo médio) dias em gráfica; desde a chegada dos originais, a gráfica começa a despender, mas somente fin- do o processo e efetuado o faturamento, a 90/120 dias da data, é que será reembolsa- da, vale dizer, 270/300 dias após o início de seus gastos. Assim se exaure qualquer capital de giro. Não será exagerado estimar em cerca de 30% a economia de custos gráficos resultan- te da montagem de um sistema editorial. Critérios de uma Editora Moderna A pedra basilar da editora moderna é uma política editorial definida, onde se estabele- ça não só o campo de suas atividades como o tratamento gráfico-editorial das publica- ções. Imaginemos a Editora X, que, por exemplo, restringe-se, em seu programa, à edi- ção de obras de Ciências Sociais, nelas incluídas a Cibernética, Informática, Comunica- ção, Documentação e Filologia. Optou pelo lançamento de obras básicas para a forma- ção da cultura brasileira, sem permitir que as perspectivas comerciais sobrelevassem o conteúdo da informação. Assim, a edição de um best se/ler será mero acaso, mas a do texto, fundamental exigência da qual não poderá arredar-se. Partindo daí, essa Editora fez outra opção quanto ao tratamento gráfico: sem prejuízo da resolução anterior por constantes pesquisas visando à melhoria do padrão gráfico-editorial dos livros e perió- dicos brasileiros, decidiu-se por edições mais baratas, de maior acesso ao público a que se destinam. Suas publicações primam, sem quebra da qualidade gráfica que osten- tam, por uso parcimonioso de cores, abandono do acabamento cartonado ou encader- nado pela brochura plastificada, formato americano, etc. Desta forma, jamais procura- rá fazer economia reduzindo ilustrações, diminuindo a composição especial ou ado- tando qualquer medida que, mesmo de leve, venha a influir ou prejudicar o texto ou sua comunicação. Conseqüência de sua política de constante aperfeiçoamento de novas técnicas ao lado de permanente esforço por custos mais baixos, obriga-se a Editora a manter-se em dia e adotar em sua produção as normas editoriais e de preparação de originais firmadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), mas, cumpre-lhe, igualmente, organizar e seguir seus próprios padrões. Por exemplo: os periódicos e livros editados são normalizados segundo os critérios adotados pela sua Divisão Editorial; todos os periódicos possuem ficha catalográfica e legenda bibliográfica, e os livros, a ficha. Ne- nhum livro técnico pode ser editado sem índice analítico e os periódicos têm unifor- mizadas suas seções. As orelhas e as quartas de capa são aproveitadas integralmente. A paginação obedece a um número de cadernos certos. Dependendo das características de cada editora, torna-se necessária a existência de um conselho editorial ou de leitores com a finalidade de vigiar sua política e exami- nar os originais candidatos à edição. Com ou sem conselho editorial, nenhuma editora poderá funcionar se não possuir, com autonomia profissional, um departamento incumbido, entre outras tarefas de: revisão de originais, normalização, marcação, elaboração de projeto gráfico, escolha da tipolo- gia e do processo de composição e impressão, execução ou aprovação de artes-finais de ilustrações, capas e anúncios, execução de orçamentos gráficos e apuração de custos, escolha de papel e controle de estocagem e revisão tipográfica. O livro deve ser entre- gue a um especialista, o técnico de editoração. Trata-se de um profissional necessaria- mente de nível universitário que alie aos conhecimentos de artes gráficas o domínio do vernáculo. É, ao mesmo tempo, técnico gráfico porque há de conhecer todos os processos gráficos, há de ser redator porque redigirá e "copidescará" textos, há de ser tradutor porque deverá conhecer, pelo menos, o espanhol, o inglês e o francês de for- ma a habilitar-se, tanto a analisar originais a serem traduzidos, como a traduzi-los. Quanto mais investir nos originais, menos a editora estará despendendo na fase gráfica; quanto mais os originais demorem na editoração, mais rápida e economicamente o li- vro sairá da gráfica. Respeitante à normalização dos originais, resultado da política editorial referida, pri- meira tarefa do departamento editorial, cumpre-nos algumas palavras de esclareci- mento. Toda editora que se preza deve possuir suas próprias normas visando à padroniza- ção do livro em função da criação de uma imagem empresarial, mas também em fun- ção do barateamento dos custos e redução do tempo necessário à produção de um li- vro. Assim, quando os originais forem entregues ao gráfico devem ir em sua feição definitiva, imunes a qualquer modificação. A boa editora deve ter como norma, tanto nos livros como nos periódicos, mas especialmente nos últimos, que os originais que lhe são entregues representem a última versão. Não aceita, portanto, alegações do autor que deseja fazer modificações na prova tipográfica. Recebidos os originais, são trabalhados pelos técnicos de editoração. É a fase em que todas as dúvidas devem ser levantadas: de conteúdo semântico e de ordem técnica; feitas as ilustrações, elabora- dos os textos de orelhas e quarta de capa, executada a arte-final de capa, a diagrama- ção do texto, etc. Apenas quando todo o material estiver pronto, serão os originais remetidos ao gráfico. Na elaboração e seleção de todos eles o único juiz é o editor. As revisões tipográficas são executadas pelos técnicos de editoração, cabendo a últi- ma prova, já prova de página, ao autor, cumprindo-lhe vigiar se há correspondência entre o texto dos originais e o da composição, sujeitando-se, naturalmente, às normas da editora escolhida. Por fim, e eis um ponto relativo à política, não são permitidas erratas: um livro não pode ter erro; se o tiver e ele for de monta a justificar a errata, não deve circular. Entre o trabalho de preparação dos originais e sua elaboração gráfica, há uma fase importantíssima, a do planejamento, quando são dimensionados todos os custos edi- toriais. O planejamento decidirá, por exemplo, pela maior ou menor mancha tipográfi- ca, pelo critério de aproveitamento das ilustrações, pelo formato BB ou AM, AA, etc; especificará os papéis e antecipará o respectivo consumo; determinará o acabamento, a saber, brochura, cartonagem, encadernação, capa sem prateação, plastificada ou en- vernizada; e escolherá os processos de composição, quente ou fria, e de impressão t i - pográfica, offset ou rotogravura, etc. Comercialização Os problemas com que se defrontam as editoras, oriundos das pequenas tiragens que oneram os custos gráfico-editoriais, poderiam ser minimizados se à editoração se se- guisse uma comercialização, ao menos racional. Não há exagero ao afirmarmos que as deficiências da comercialização, exigindo custos operacionais altos e de difícil retorno, são responsáveis, em boa dose, pelo chamado alto custo do livro brasileiro. O primeiro obstáculo resulta dos descontos sobre o preço de venda que o editor há de conceder. É evidente que, ao estipular o preço de venda, ele está ciente do mon- tante das altas comissões que é obrigado a distribuir. Sem dúvida, fixaria um preço menor se pudesse estimar descontos igualmente reduzidos. Até os anos 40, os editores trabalhavam, em regra, diretamente com os livreiros. Se obtinha descontos relativamente baixos, em média 30%, enfrentava como desvanta- gens: a) difícil reposição de estoques, em face das distâncias; b) custos elevados de transportes; e c) dificuldades na liquidação das faturas. Apesar dos descontos concedidos, deparavam-se com problemas cada vez maiores na arrecadação do seu faturamento, estimulados, por certo, pelas distâncias das pra- cas e pelo pequeno vulto da dívida que desaconselhava, por antieconômica, a cobran- ça direta. Reação contra os maus pagadores foi a instituição
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