Buscar

Contemporaneidade da Alegoria da Caverna de Platao

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

Contemporaneidade da Alegoria da Caverna de Platão
Pode-se afirmar que “saída da caverna” vincula-se parcialmente ao mundo sensível. Porque a saída da caverna é na verdade, uma transição do mundo sensível (mundo das sombras) para o mundo inteligível (mundo das ideias). Pois, em quaisquer situações da vida, mudar de uma condição a outra não é um processo drástico. Ou seja, o indivíduo, até por força do hábito (o famoso condicionamento), ficará entre os "dois mundos" por um bom tempo. Inclusive, sob o risco de uma recaída, como o próprio Platão aponta. Essa clássica passagem da obra de Platão ganhou uma expressão das mais fiéis com a trilogia Matrix, os filmes das Irmãs Wachowski que estão repletos de referências filosóficas, teológicas e mitológicas. 
“O principal deles é o filósofo grego Platão. Um diálogo escrito por ele há quase 2 400 anos narra o mito da caverna, uma história semelhante à de Matrix em uma versão, evidentemente, muito mais low-tech” (SUPERINTERESSANTE, 2003).
No filme, uma grande máquina chamada Matrix controla tudo em um mundo pós-apocalíptico em que não há energia elétrica para mantê-la em funcionamento. Para isso, essa inteligência artificial utilizava os seres humanos como bateria, com os corpos adormecidos e as mentes inebriadas por uma grande simulação que lhe dava a sensação de uma vida real. E essa simulação é como a Caverna de Platão. Ainda como na alegoria, as pessoas que eram despertadas da simulação tomavam consciência da real (e dura) vida fora da Matrix e, muitas, preferiam retornar ao adormecimento, abrindo mão de sua autonomia e alteridade. Mas outras conseguiam se adaptar e perceber o tamanho do horror que era permanecer numa existência totalmente subtraída de vida real (WACHOWSKY, 1999).
Na prática, pode-se perceber a alegoria de Platão na sociedade de consumo. Há que se detalhar aqui esse conceito ampliado por Zygmunt Bauman. 
“Se ‘comprar’ significa esquadrinhar as possibilidades, examinar, tocar, sentir, manusear os bens à mostra, comparando seus custos com o conteúdo da carteira ou com o crédito restante nos cartões de crédito, pondo alguns itens no carrinho e outros de volta às prateleiras — então vamos às compras tanto nas lojas quanto fora delas; vamos às compras na rua e em casa, no trabalho e no lazer, acordados e em sonhos. O que quer que façamos e qualquer que seja o nome que atribuamos à nossa atividade, é como ir às compras, uma atividade feita nos padrões de ir às compras” (BAUMAN, Kindle Locations 1363-1367).
A grande máquina do consumo necessita dos seres humanos para funcionar. Por isso, cria simulacros de vida por meio de uma engenhosa rede de conteúdos e dinâmicas: campanhas publicitárias milionárias, especialmente com recursos como story tellings, utilizando influenciadores (pessoas famosas de referência no cinema, esportes ou redes sociais); guerrilha digital e redes sociais que, por si só, são um grande play ground cognitivo, como o Facebook. É um consumo constante de conteúdo aparentemente gratuito, mas que tem cifras milionárias por traz.
Entretanto, é nesse grande e aparente parque de diversões que está o perigo: os dados obtidos ilicitamente do Facebook pela empresa de inteligência Cambridge Analytics permitiu o desenvolvimento de ações de marketing digital que culminaram com a eleição de Donald Trump à presidência e com o resultado do referendo pré-Brexit, que levou o Reino Unido a se separar da União Europeia (ESTADÃO, 2018).
O presidente da França, Emmanuel Macron, tem um projeto de lei que dá a juízes poder de retirar fake news do ar durante o período eleitoral (FOLHAPRESS, 2018).  O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump nomeou como conselheiro e estrategista Steve Bannon, ex-diretor da publicação conservadora Breitbart News e presidente de sua campanha.  
“Indica que entrará na Casa Branca quem dirigiu um veículo de mídia próximo à chamada alt right, a nova direita radical que agita ideologias até agora proscritas na ágora norte-americana, como o antissemitismo e o suprematismo branco” (BASSETS, 2016).
Não há como negar hoje o poder – e o descontrole – da mídia sobre a vida do ser humano. Na época de Platão, que fazia crítica ao doxa, o discurso vazio, o problema já existia. Tanto que, após seu falecimento, seus discípulos deram continuidade ao seu legado.
“[...] Nova Academia, ou Academia Helenista, adotou o ceticismo, questionando os conceitos absolutos de verdade e mentira, baseando-se nos diálogos platônicos aporéticos, aqueles que terminam sem conclusão” (MATTAR, 2012, p. 44).
 
A prática do doxa na imprensa
Sempre foi muito comum no meio jornalístico notícias falsas se sagrarem como verdadeiras e as verdadeiras serem desmentidas. Isso porque a imprensa, que é a chamada de quarto poder, abusa dessa tamanha responsabilidade que lhe foi dada. 
Antes do surgimento da Internet e, mais adiante, das redes sociais, as fake news, eram disseminadas com muita frequência, com o agravante de nem todas serem desmentidas. Isso porque se tinha um cenário em que as informações seguiam num via só: dos veículos de comunicação para público. A opinião do público era disseminada de forma restrita: nos círculos sociais ou laborais desse indivíduo que se propunha a opinar. Se ele tivesse sorte de ser alguém influente, conseguiria transmitir sua opinião para um bom número de pessoas. 
Hoje, com as redes sociais, a probabilidade de uma fake news ser descoberta é grande e costuma ser um processo rápido – alguns indivíduos, no passado, levaram anos; outros, a vida inteira para se defenderem de uma notícia maliciosa ou equivocada. Alguns nunca recuperaram sua reputação, como o caso que virou um case de vergonha para a classe jornalística: uma escola pré-escolar de São Paulo foi acusada de abuso sexual a crianças. Muito tempo depois, ficou provado que não era verdade. Mas que pai ou mãe quis arriscar a integridade de seu filho ou filha com essas pessoas depois disso? E quem ficou com os danos emocionais, financeiros e sociais? (AQUINO; BAYER, 2014)
Esse seria um exemplo completo e complexo de doxa na fala de Platão, porque se opõe a episteme do ponto de vista ético. A episteme, no caso acima, seria o cuidado no levantamento de dados e da verdade. 
“Portanto, na República o termo episteme, que antes suportava a possibilidade de ser a habilidade para algo, agora adquire o conteúdo de saber pleno de certeza, um saber evidente que está ligado diretamente com a realidade da Ideia. Com isso, episteme, na República, configura-se como conhecimento verdadeiro diametralmente afastado de doxa, que se configura como simples opinião” (FRANKLIN, 2004). 
As fake news devem se tornar um problema ainda maior antes de tudo melhorar  (ITO, 2017). O fundamental é ter paciência e construir um modus operandi nas redes robusto e calcado na episteme. Tudo isso para evitar uma possível tragédia de reputação – para si e para os outros. Há hoje um segmento do mercado de comunicação que são as agências especializadas em checagem de informações, cuja característica mais importante é a agilidade (MIRANDA, 2018). E nessa busca por soluções, numa era em que é impossível ler e investigar tudo, é preciso eleger frentes onde se deve investir mais tempo e esforço, como já preconizava Paretto com o princípio 80/20 (PORTAL EDUCAÇÃO, [  ]): grupos  de família no Whats App representam um grande “hub” informacional para fake news. (AGÊNCIA BRASIL, 2018).
Diante de um cenário tão crítico e decisivo, há que se recorrer ao dito popular: ainda há esperança no fim do túnel. Basta ficar atento às oportunidades de fazer valer a episteme em detrimento do doxa.
 
REFERÊNCIAS
 AGÊNCIA BRASIL.  Grupos de família no Whatsapp são os que mais disseminam fake News. Jornal, online, 2018 . Disponível em: <https://moneytimes.com.br/grupos-de-familia-no-whatsapp-sao-os-que-mais-disseminam-fake-news/>.  Acesso em: 22. abr. 2018. 
AQUINO, Bel; BAYER, Diego. Da série “Julgamentos Históricos”: Escola Base, a condenação que não veio pelo judiciário. In: revista Carta Capital, online,2014. Disponível em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2014/12/10/da-serie-julgamentos-historicos-escola-base-a-condenacao-que-nao-veio-pelo-judiciario/>.  Acesso em: 18. abr. 2018.
BASSETS, MARC. Trump nomeia um líder republicano e um agitador midiático para a Casa Branca. El País, online, 2016. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2016/11/13/internacional/1479072547_209279.html >. Acesso: 08. abr. 2018.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Zahar. Kindle Edition. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 2001.
ESTADÃO Conteúdo. Escândalo de uso ilícito de dados coloca Facebook na mira de órgãos reguladores. Época Negócios, online, 2018. Disponível em: < https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2018/03/epoca-negocios-escandalo-de-uso-ilicito-de-dados-coloca-facebook-na-mira-de-orgaos-reguladores.html >. Acesso: 08. abr. 2018.
FOLHAPRESS. França: PL prevê que juiz possa tirar fake news do ar durante as eleições. Valor Econômico, online, 2018. Disponível em: <http://www.valor.com.br/internacional/5368937/franca-pl-preve-que-juiz-possa-tirar-fake-news-do-ar-durante-eleicoes >. Acesso: 08. abr. 2018.
FRANKLIN, Karen. Os conceitos de Doxa e Episteme como determinação ética em Platão. In: Educar em Revista, no.23, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602004000100023>. Acesso em: 18. abr. 2018. 
ITO, Carol. Fake news e a guerra política em 2018. Revista Trip, online, 2017. Disponível em: <https://revistatrip.uol.com.br/trip/noticias-falsas-como-as-fake-news-e-os-robos-vao-afetar-as-eleicoes-de-2018>.  Acesso em: 22. abr. 2018.
MIRANDA, Bernardo. Agências que confirmam informações são ferramentas contra o fake news. Jornal O Tempo, online, 2018. Disponível em: <http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/ag%C3%AAncias-que-confirmam-informa%C3%A7%C3%B5es-s%C3%A3o-ferramentas-contra-o-fake-news-1.1565209>.  Acesso em: 21. abr. 2018.
PORTAL EDUCAÇÃO. O Princípio de Pareto. Site, online[  ]. Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/administracao/o-principio-de-pareto/26313>.  Acesso em: 22. abr. 2018.
MATTAR, João. Filosofia. São Paulo: Pearson, 2012.
SUPERINTERESSANTE. Bem-vindo à Matrix. Revista, online, 2003  Disponível em: <https://super.abril.com.br/historia/bem-vindo-a-matrix/>. Acesso: 08. abr. 2018.
WACHOWSKI, Lana e Lily (como Irmãos Wachowski). The Matrix. DVD. Estados Unidos/Austrália: Warner, 1999.
_____. Matrix reloaded. DVD. Estados Unidos/Austrália: Warner, 2003.
_____. Matrix revolutions. DVD. Estados Unidos/Austrália: Warner, 2003.

Outros materiais