Buscar

Resumo do Livro de Edilson Mougenot Bonfim

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

PROCESSO PENAL
Capítulo I - Fundamentos do Processo Penal
O Estado e o Poder
A noção de Estado está sempre ligada à noção de poder. Há quem entenda que o Estado é um poder institucionalizado, mas a Constituição Federal brasileira defende a corrente que entende que o Estado é titular de um poder que deriva da sociedade e, portanto, deve ser exercido para o bem da coletividade.
Para o exercício do poder estatal, é necessário que haja limites que são dados por regras de direito. A pretexto de trabalhar pelo bem comum, o Estado, portanto, não poderá afrontar a liberdade individual, a propriedade ou a dignidade humana.
Divisão dos poderes
A fim de que este poder estatal funcionasse de modo mais equilibrado surgiu, com base na doutrina de Montesquieu, a ideia de que o Estado, uno e soberano, deveria ser diluído em três (funções) poderes, cada um com atribuições específicas preponderantes.
Desta forma, o Poder Legislativo é responsável pela elaboração de normas jurídicas, o Executivo, cumprimento dessas normas, enquanto o Judiciário se encarrega da jurisdição.
Normas Jurídicas
A doutrina classifica as normas jurídicas em duas espécies, as de direito material e as de direito formal. As primeiras disciplinam atos diretamente relacionados à vida e às relações na sociedade, enquanto as segundas também são conhecidas como normas de segundo grau por refletirem na vida das pessoas de forma mediata, pois determinam como as normas de direito material serão aplicadas.
Direito Processual Penal
Enquanto processo é o meio pelo qual o Estado exerce seu poder jurisdicional, o direito processual é o conjunto de regras e princípios que informam e compõem esse processo. Pode ser visto sob dois aspectos:
Instrumento que determina como será exercido o poder do Estado de averiguar a verdade e impor uma sanção;
Garantia para o réu e para a sociedade de que a sanção só será imposta após a oportunidade de defesa.
Fontes do processo penal
Fontes materiais, de produção ou substanciais
Em sentido subjetivo: entidade que cria o Direito. No Brasil, a única fonte é a União (CF, art. 22, I), porém sua competência é privativa, mas não exclusiva, podendo lei estadual, através de lei complementar, excepcionalmente, versar sobre processo penal (CF, art. 22, parágrafo único);
Em sentido objetivo: abrange elementos históricos e racionais que determinam a elaboração e o conteúdo de uma norma jurídica (inclui a moral, os bons costumes e a necessidade diante de um fato histórico).
Fontes formais 
Fontes formais imediatas: a principal é o Código de Processo Penal, classificado como fonte primária, porém, temos como fontes secundárias as leis extravagantes ao lado de tratados, convenções e regras de direito internacional (CF, art. 5º, § 2º).
Fontes formais mediatas: costumes, analogia, princípios gerais de direito, bem como doutrina, jurisprudência e direito comparado.
Súmulas vinculantes: o STF poderá, de ofício, ou provocado, por decisão de dois terços de seus membros, após reiteradas decisões de matéria constitucional, aprovar súmulas que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terão efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder a sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
A medida cabível contra o seu descumprimento é a reclamação perante o STF. Apesar de ter cumprimento obrigatório, existe hipótese conhecida na doutrina como distinguishing em que o juiz, analisando o caso concreto, entenda que o processo não se encaixa nos precedentes que deram origem a súmula.
O que vem a ser normas de “superdireito”?
Alguns doutrinadores utilizam a expressão “fonte formal” não para designar o dispositivo legal por meio do qual se revela uma norma jurídica, mas sim para referir-se àquele conjunto de normas que disciplinam a maneira pela qual outras normas jurídicas são criadas, que são as normas de superdireito. Elas determinam os sujeitos competentes para a produção das normas jurídicas e o modo pelo qual esses sujeitos podem exercer tais competências.
Capítulo II – Jurisdição
Podemos dizer que exercer a jurisdição é administrar a justiça. Na moderna doutrina, usam-se três acepções para o termo:
Jurisdição como poder: pois é o poder do Estado de aplicar o Direito a um caso concreto. Ressalte-se, porém, que há exceção ao monopólio estatal da administração da justiça no art. 57 da Lei n. 6.001/73 (Estatuto do Índio), que admite que grupos tribais apliquem sanções disciplinares e penas a seus membros, desde que estas não se revistam de caráter cruel, infamante, ou provoquem a morte do índio.
Jurisdição como atividade: por ser um conjunto de atos próprios ao órgão que exerce a jurisdição, atividade jurisdicional.
Jurisdição como função: vez que tem como escopo fornecer solução aos conflitos sociais.
Órgãos que exercem a jurisdição
Função precípua do Judiciário e excepcionalmente conferida a outros órgãos, como, por exemplo, o processo de impeachment do Presidente da República, de competência do Senado Federal.
Características da jurisdição
Substitutividade: a vontade do Estado, no processo, substitui a das partes.
Definitividade: uma vez proferida a decisão e transitada em julgado, seus atos adquirem imutabilidade. Observe-se, porém, que tal atributo é mitigado no processo penal, pois enquanto a sentença absolutória é imutável, a condenatória pode ser revisada quando surgirem fatos novos (revisão criminal).
Inércia: o pronunciamento do Estado, exercendo a jurisdição, depende de provocação do interessado.
Indivisibilidade: a jurisdição é una, a sua repartição em competência é apenas para fins organizacionais.
Princípios relativos à jurisdição
Princípio do Juiz Natural: estabelece que ninguém será sentenciado senão pela autoridade competente, representando a garantia de um órgão julgador técnico e isento, com competência estabelecida na própria Constituição e nas leis de organização judiciária de cada Estado, determina que não haverá tribunal de exceção; seu conceito deriva e existe em função de dois grandes princípios, o da legalidade e o da igualdade.
Princípio da Investidura: somente poderão exercer função jurisdicional as pessoas e os órgãos legalmente investidos nessa função;
Princípio da inércia ou princípio da demanda: o processo somente se instaura mediante o exercício do direito de ação;
Princípio da improrrogabilidade da jurisdição e princípio da aderência: o juiz só poderá exercer parcela da jurisdição que lhe foi atribuída por lei, sendo defeso às partes optarem por juiz diverso do legalmente estabelecido;
Princípio da indeclinabilidade: impõe ao juiz o exercício do poder que lhe foi conferido, não podendo o magistrado subtrair-se dele;
Princípio da indelegabilidade: o magistrado não pode delegar a função que lhe foi atribuída, devendo exercê-la pessoalmente;
 “nulla poena sine iudicio”: ninguém poderá ser apenado sem o devido processo legal.
Divisões
A jurisdição é una, porém costuma ser admitida a sua divisão para fins didáticos da seguinte forma:
Quanto à graduação: divide-se em instâncias;
Quanto à matéria: pode ser penal ou cível;
Quanto à função: ordinária ou especial;
Quanto ao objeto: poderá ser contenciosa ou voluntária.
Capítulo III – A relação jurídica processual penal
O processo possui uma faceta formal, podendo ser visto como conjunto ordenado de atos voltados a uma finalidade específica e também tem seu aspecto relacional (dinâmico), pois as partes efetivamente atuam no processo, assumindo, por vezes, posições jurídicas diversas.
Características da relação jurídica processual
Trilateralidade: juiz, autor e réu;
Autonomia: o processo tem autonomia em relação ao seu objeto;
Caráter público da relação jurídica processual: uma vez que ela se desenvolve sob a direção e intervenção do Estado;
Progressividade: avança rumo à decisão final;
Complexidade: ora a parte é titular de direitos e poderes, ora de ônus e obrigações.Pressupostos processuais
Pressupostos da existência
Existência de órgão investido de jurisdição penal;
Pedido (objeto do processo);
Partes.
Pressupostos de validade
Quanto ao juiz
Competência; 
Imparcialidade.
Quanto às partes
Capacidade de ser parte;
Capacidade processual;
Capacidade postulatória.
Quanto ao objeto
Originalidade – inexistência de atos impeditivos;
Inexistência de irregularidade procedimental que enseje prejuízo às partes.
Sistemas processuais
Possuem as mesmas características, que aparecem em maior ou menor grau. São eles:
Inquisitivo;
Acusatório.
Há duas correntes acerca da classificação do sistema processual brasileiro:
Misto 
1ª fase: inquisitiva – inquérito policial – por não haver contraditório;
2ª fase: acusatória – instauração da relação processual – passam a vigorar as garantias constitucionais das partes, principalmente as que beneficiam o acusado;
Acusatório
Há parte da doutrina que defende que o nosso sistema é apenas acusatório, pois inquérito policial não é processo.
Capítulo IV – Os princípios do processo penal
Princípios são normas que, por sua generalidade e abrangência, irradiam-se por todo o ordenamento jurídico, informando e norteando a aplicação e a interpretação das demais normas de direito, aos mesmo tempos que conferem unidade ao sistema normativo e, em alguns casos, diante da inexistência de regras, resolvem diretamente os conflitos.
Principais princípios do processo penal
Princípio do devido processo legal (fundamento legal: art. 5º, LIV, da CF): constitui o conjunto de garantias suficientes para possibilitar às partes o exercício pleno de seus direitos, poderes e faculdade processuais. A doutrina tem identificado dois distintos aspectos ínsitos a ele:
Em sentido material ou consubstancial: representa uma garantia ao particular contra qualquer atividade estatal que, sendo arbitrária, desproporcional ou não razoável, constitua violação a qualquer direito fundamental;
Formal ou sem sentido processual: representa obrigação de, na busca da satisfação da pretensão punitiva, obedecer a procedimento previamente fixado pelo legislador, vedada a suspensão de qualquer fase ou ato processual ou desrespeito à ordem do processo.
Princípio do contraditório (fundamento legal: art. 5º, LV, da CF): significa que cada ato praticado durante o processo deve ser resultante da participação ativa das partes. Espécies de contraditório:
Real: se afetiva no mesmo tempo da produção probatória como na inquirição de testemunhas, por exemplo;
Diferido: ocorre após a produção probatória.
Princípio da ampla defesa (fundamento legal: art. 5º, LV, da CF): consubstancia no direito das partes de oferecer argumentos em seu favor e demonstrá-los no limite em que seja isso possível.
Princípio do estado de inocência, da “presunção” de inocência ou da não culpabilidade (fundamento legal: art. 5º, LVII, da CF): este princípio reconhece um estado transitório de não culpabilidade, na medida em que referido status processual permanece enquanto não houver trânsito em julgado de uma sentença condenatória.
Princípio do “favor rei” (“in dúbio pro reo” ou “favor libertatis”): havendo dúvida quanto a culpa do acusado ou ocorrência do fato criminoso, deverá ele ser absolvido.
Em antítese a esse princípio, existe o princípio do in dúbio pro societate em que, na dúvida, a decisão deve se dar em favor da sociedade. Porém, em nosso sistema, tal antítese só será utilizada em situações bem específicas, como quando do oferecimento da denúncia e nos processos do júri, no encerramento da primeira fase.
Princípio da verdade real: a produção de prova deve conduzir ao descobrimento dos fatos conforme a realidade. Ressalte-se que o dever de produção de provas não é apenas das partes, podendo o juiz determinar a produção de provas que reputar relevantes (CPP, art. 156, I).
Princípio da vedação das provas ilícitas (fundamento legal: art. 5º, LVI, da CF): por ele, o juízo não pode adotar, como elemento de convencimento, provas obtidas por meios considerados ilícitos, porém a doutrina e a jurisprudência têm excetuado a sua utilização em favor do réu.
Princípio da igualdade das partes ou da paridade processual (fundamentação legal: art. 5º, caput, da CF): às partes devem ser asseguradas as mesmas oportunidades de alegação e de prova, cabendo-lhes iguais direitos, ônus, obrigações e faculdades.
Princípio da publicidade (fundamento legal: arts. 5º, LX, e 93, X, da CF e art. 792 do CPP): os atos processuais serão públicos. Pressupõe-se que existe:
Publicidade imediata: as partes estão presentes e têm contato direto com os atos processuais;
Publicidade mediata: resultante da divulgação dos atos pelos meios de comunicação.
A regra no direito brasileiro é a publicidade absoluta, porém, quando presente interesse social, necessidade de defesa da intimidade, ou puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem (CPP, art. 792, § 1º), poderá ser determinada publicidade restrita.
Princípio da persuasão racional ou do livre convencimento motivado (fundamentação legal: art. 155 do CPP): o juiz é livre de preconceitos legais no aferimento das provas, mas não pode abstrair-se ou alhear-se ao seu conteúdo.
Princípio da motivação dos atos judiciais (fundamento legal: art. 93, IX, da CF): o juiz é livre para formar seu convencimento, mas deve motivar as decisões que proferir, expondo os elementos de prova que as fundamentam. Tal obrigatoriedade representa uma garantia contra arbitrariedade do poder estatal, e possibilita a interposição de recursos por permitir ao recorrente atacar os fundamentos da decisão recorrida.
Observe-se que o despacho de recebimento da denúncia não necessita de fundamentação por não conter carga decisória, vez que apenas analisa a ocorrência de uma ação penal, sendo que em processos de competência originária dos tribunais é exigida.
Princípio da economia processual (fundamentação legal: art. 563, do CPP e art. 65 da Lei n. 9.099/95): consubstancia-se no aproveitamento dos atos judiciais praticados, ainda que tenham sido conduzidos de maneira diversa daquela prescrita em lei. O objetivo é evitar repetição desnecessária dos atos.
Princípio do duplo grau de jurisdição: segundo ele, as decisões podem ser revistas por órgãos jurisdicionais de grau superior, por meio de interposição de recursos. Porém, tal princípio não é absoluto, pois há na Constituição Federal casos de competência originária no Supremo Tribunal Federal.
Princípio da vedação do “bis in idem” (fundamentação legal: art. 8º, 4, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, recepcionada pelo art. 5º, § 2
º, da CF): por ele, não poderá o Estado deduzir uma pretensão punitiva tendo por objeto o mesmo fato contra o mesmo acusado, se este foi considerado inocente em decisão da qual não caiba mais recurso. Ressalte-se que não ocorre afronta a este princípio quando, pelo mesmo fato, o acusado responde nas esferas penal, cível e administrativa, vez que são autônomas.
Princípio da proporcionalidade: em caso de conflito de princípios, funciona como método hermenêutico para dizer qual deles e de qual forma prevalece sobre o outro princípio antagônico. Modalidades:
Proibição de excesso: o Estado, quando agir, seja como acusador ou julgador, não poderá praticar excessos nas restrições dos direitos fundamentais;
Proibição da infraproteção ou da proteção deficiente: uma vez que o Estado se compromete, pela via constitucional, a tutelar bens e valores fundamentais, deve fazê-lo da melhor medida possível, não podendo dar proteção insuficiente.
Princípio da oficialidade (fundamento legal: arts. 129, I, e 144, § 4º, da CF e art. 4º do CPP): no processo penal, a instauração da ação e a apuração dos fatos são deveres do Estado. Ressalte-se, porém, que tal princípio não é absoluto, vez que algumas ações dependem da representação do ofendido e outras raras são substituídas pela atuação do particular, nas ações penais privadas.
Princípio da obrigatoriedade (ou legalidade): tem caráter bifronte,dirige-se à autoridade policial, que é obrigada a instaurar inquérito policial quando souber da existência de crime de ação penal pública, sempre que tiver os elementos mínimos necessários.
Princípio da boa-fé processual: é a busca do processo justo.
Princípio da identidade física do juiz: o magistrado que preside a instrução obrigatoriamente prolatará a sentença.
Princípios de aplicação específica aos Juizados Especiais e Criminais
Princípio da oralidade;
Princípio da informalidade;
Princípio da economia processual;
Princípio da celeridade.
Capítulo V – Da aplicação da Lei Processual Penal
O conteúdo da norma jurídica só poderá ser aplicado quando for compreendido pelo intérprete.
Métodos de Interpretação da Lei
Interpretar a lei significa explicar, aclarar o sentido de uma determinada palavra, texto ou lei no sentindo amplo. Ex.: artigo, inciso, alínea. A atividade interpretativa, portanto, precede a aplicação legal.
A interpretação, objeto da ciência hermenêutica, consiste em extrair o conteúdo e o sentido de uma norma, de modo que possa ser aplicada ao caso concreto.
O objetivo da interpretação é a construção de um sentido (uma ideia, uma unidade dotada de sentido) a partir do texto interpretado, com o interprete estará apto a compreendê-lo.
Se o texto é claro e de fácil compreensão, o trabalho interpretativo será de fato menos penoso, entretanto ainda assim se fará presente. Portanto, não é tecnicamente correto sustentar o antigo brocardo in claris cessat interpretaria (na clareza cessa a interpretação), uma vez que sempre existe a atividade interpretativa para a aplicação jurídica. Ex.: Art. 121, CP.
Somente quando compreendido pelo intérprete o conteúdo da norma jurídica é que se poderá proceder à sua aplicação, que, por sua vez, realiza-se pelo confronto da norma aos fatos que se apresentam, para que se possa determinar quais efeitos jurídicos esses fatos produzirão.
Contexto da Interpretação
As normas jurídicas se enquadram em um tríplice contexto que demarca a atividade interpretativa:
Linguístico: observando a linguagem legislativa, percebe-se ser uma subclasse vulgar (leiga), ostentando, contudo, peculiaridades semânticas. Ambas têm em comum, por outro lado, as mesmas indeterminações, vale dizer, tanto a linguagem leiga quanto o vocabulário legal contêm indeterminações que possibilitam variadas compreensões de seus significados pelo intérprete;
Sistêmico: a norma jurídica integra um sistema, daí que não pode ser contraditória ou incoerente com o conjunto sistêmico em que está inserida;
Funcional: advém das relações de interdependência que o sistema jurídico mantém com a sociedade. Dessa forma, o direito pertence e dialoga com os mais diversos fatores sociais, culturais, econômicos, políticos etc. Por conseguinte, a atividade do interprete consiste em perquirir de onde proveio a norma a ser interpretada, quando, como, para que finalidade etc., e quais são as circunstâncias histórico-sociais que ensejam a sua aplicação.
Finalidades da Interpretação
Sobre o escopo (finalidade) da interpretação, predominam duas teorias:
Teoria subjetivista ou da vontade – para os defensores dessa teoria, o interprete deverá sempre buscar o conteúdo da vontade do legislador. Busca-se a mens legislatoris (a mente do legislador), ou seja, visa-se reconstruir a intenção do legislador ao conferir ao dispositivo legal interpretado determinada relação, em detrimento das outras possíveis.
Teoria objetivista – segundo essa teoria, a atividade interpretativa tem por finalidade o descobrimento de um sentido que seja inerente à própria lei. Funda-se na ideia de que, com o passar do tempo, a lei adquire vida própria, desvinculando-se da vontade original do legislador, ou seja, interessa o que a lei estabeleceu.
Métodos de Interpretação
O que se costuma chamar de métodos de interpretação são, em verdades, critérios ou modos de argumentação, identificados originariamente por Savigny, largamente adotados pelas doutrinas positivistas tradicionais e utilizados ainda na atualidade para sistematizar a atividade do interprete na descoberta do sentido ínsito no texto da lei.
Como vê o STF a questão? Reconhece nosso Supremo Tribunal que o ordenamento normativo "nada mais é senão sua própria interpretação" (Min. Celso de Mello), e que, qualquer que seja o método hermenêutica utilizado, o que se busca é a definição do sentido, esclarecendo o alcance de determinado preceito inscrito no ordenamento jurídico positivo do Estado. Tal atividade interpretativa, seja da Constituição, seja dos textos legais, não se configura em usurpação das atribuições normativas dos demais Poderes da República. Evidentemente, tudo dependerá da eleição do método utilizado, dos argumentos expendidos na fundamentação do ato judicial.
Os métodos de interpretação classicamente reconhecidos:
Gramatical ou literal: é geralmente utilizado apenas como ponto de partida do processo interpretativo. Consiste em apurar, com relação aos termos (palavras) e frases que compõem dispositivo legal interpretado, seus significados mais comuns e de acepção mais larga, partindo de seu uso linguístico geral. A aplicabilidade desse método baseia-se na constatação de que a linguagem comum, apesar de técnica, não se encontra totalmente desvinculada da linguagem comum.
Lógico: parte da premissa de que os termos legais devem ser entendidos conforme a necessária relação de conexão que guardam com os demais, dentro de um contexto legal. O sentido de cada termo é dado não só pelos seus significados isolados, mas também pelas funções que desempenham em relação aos termos a ele associados, ou seja, o sentido dos termos varia de acordo com o contexto em que se encontram. Esse método pressupõe a racionalidade interna do sistema, a exigir compatibilidade lógica entre seus elementos.
Sistemático: tal preceito deve ser tomado em um sentido que esteja em concordância com as demais disposições, conferindo compatibilidade ao âmbito de regulação ao qual pertence, isto é, em harmonia com as normas jurídicas de temática mais proximamente relacionadas, e em última análise, ao ordenamento jurídico como um todo.
Teleológico: teologia tem origem no vocábulo grego e significa finalidade. O método teleológico de interpretação, portanto, implica buscar, a partir do texto da lei, um sentido tal que aplicados aos casos concretos, resulte no atingimento dos fins a que se destina a lei interpretada.
Histórico: método hermenêutico que busca o sentido do texto legal a partir da investigação das circunstâncias históricas nas quais determinado preceito legal foi concebido e positivado, permitindo atualização de conceitos que sofreram alteração.
Método comparado ou quinto método: para enfatizar uma comparação no espaço, na qual, para revelar o sentido das normas internas, socorre-se o interprete, igualmente, da exploração de ordenamentos circundantes, estrangeiros, promovendo assim uma interpretação sincrônica (referente ao espaço), mas que diacrônica (temporal). Comparado na evolução histórica de outros países ou institutos.
Progressivo ou evolutivo: A atividade interpretativa deve ter por princípio a preservação da norma jurídica. Assim, dispositivos que, por razões históricas, passem a conter referências a conceitos que tenham significado diverso daquele original devem ser interpretados com razoabilidade, de modo a adaptar-se o sentido original às circunstâncias atuais. Em outras palavras, significa expressões que foram atualizadas. Ex.: Tribunal de apelação agora é Tribunal de 2º grau.
Interpretação conforme a Constituição: toda a legislação infraconstitucional, para ter validade, deve estar em harmonia com as normas e princípios estabelecidos na Lei Maior. Dessa forma, naquelas ocasiões em que se reconhecer em um mesmo preceito legal a possibilidade de existirem duas ou mais interpretações diferentes, deverá o intérprete fazer prevalecer aquela que não viole o texto constitucional ou que com ele melhor se harmonize, procurando assim conferirharmonia ao conjunto de normas do ordenamento.
A interpretação quanto ao resultado
Conforme o resultado visado ou alcançado por meio da atividade hermenêutica, a interpretação classifica-se em:
Restritiva: obtida quando o sentido da norma, originalmente amplo ou genérico, é limitado pelo intérprete. A literalidade do enunciado normativo é mitigada, assim, aplicando-se os critérios interpretativos, sistemático e teleológico, em favor da compatibilização interna do sistema. De modo geral, interpretam-se restritivamente: I) dispositivos normativos que estabeleçam exceções a regras gerais e II) dispositivos normativos que estabeleçam restrições a direitos e garantias do réu. 
Extensiva: modo interpretativo por meio do qual o alcance do preceito legal é ampliado, alargando o sentido do dispositivo. Por meio dessa forma de interpretação, atribui-se um sentido à norma que não estava explícito no texto legal. A norma, assim, passa a incidir sobre situações que aparentemente não seriam por ela alcançadas. Consta de previsão legal expressa (art. 3º do Código de Processo Penal). 
Especificadora: é a interpretação que resulta em total coincidência entre a literalidade do preceito legal e a vontade da lei. A atividade do intérprete limita-se à aplicação da letra da norma.
Integração da Lei Processual Penal
Há lacuna na lei sempre que inexista uma norma aplicável ao fato concreto, ocasião em que a aplicação da lei se dará pela atividade da integração. Para este fim, determina o art. 3º do CPP que a lei processual admitirá a aplicação analógica e o suplemento dos princípios gerais de direito.
Analogia
Conceito: processo de integração da norma jurídica escrita por meio do qual, diante do silêncio da lei sobre determinada situação, utiliza-se outro preceito legal que rege situação semelhante. Semelhanças em situações diferentes.
Considerações
Os critérios para determinar aplicável analogicamente determinada norma jurídica são:
• analogia entre o caso previsto e o não previsto: semelhança essencial sobre os casos, as diferenças devem ser de menor importância;
• igualdade de valor jurídico: não deve ser tratado de forma idêntica aquilo que o legislador visou diferenciar;
• igualdade de razão: fatos semelhantes merecem igual tratamento.
Hipóteses de integração analógica
São hipóteses de integração analógica:
Autointegração: quando o outro preceito esta inserido em lei processual penal;
Heterointegração: quando o outro preceito faz parte de outro ramo jurídico.
Admissibilidade de utilização
De notar que, diante da necessidade de eficácia da persecução penal, admite-se a analogia in bonam partem e in malam partem, desde não lese direito processual básico, cerceamento da acusação ou defesa.
Interpretação Analógica
Não há confundir a aplicação analógica, prevista no art. 32 do Código de Processo Penal, com a interpretação analógica.
A analogia consiste na aplicação de uma norma a um caso nela não previsto. Não é, portanto, método de interpretação, mas sim de integração. No plano lógico, a integração sucede-se à interpretação. 
A interpretação analógica é método hermenêutica, interpretativo, que se aplica àqueles dispositivos legais que trazem um rol de fórmulas casuísticas (rol exemplificativo). Dos casos citados no texto legal, é possível inferir por meio do raciocínio indutivo uma regra genérica, que permitirá identificar outros casos aos quais a norma será, também, aplicável. Trata-se, portanto, de método interpretativo destinado a identificar casos implicitamente previstos no preceito normativo. Por exemplo, o art. 2º da Lei n.12.037/2009 prevê, nos incisos I a V, um rol de documentos que servem para atestar a identificação civil das pessoas, eximindo-as, portanto, da identificação criminal (art. 1º do mesmo Diploma Legal). O inciso VI do art. 2º dispõe, no entanto, que a identificação civil poderá ser atestada por: VI - outro documento público que permita a identificação do indiciado". O referido inciso, a bem da verdade, é claro exemplo da interpretação analógica em normas processuais penais, à medida que disciplina ser possível a identificação civil com quaisquer outros documentos públicos, desde que guardem semelhança com o rol disciplinado nos incisos I a V do mesmo dispositivo.
Capítulo VI – Eficácia da Lei Processual Penal 
Eficácia é a aptidão de determinada norma jurídica para produzir efeitos jurídicos que, entretanto, será limitada por alguns fatores. As principais limitações à eficácia das normas jurídicas processuais penais são de ordem temporal e espacial.
Eficácia da norma processual no espaço: o princípio da territorialidade
No direito material existe a possibilidade concreta da lei nacional ser aplicada no estrangeiro, como, por exemplo, nos crimes cometidos contra a vida ou liberdade do Presidente da República (CP, art. 7º, a) ou contra o patrimônio ou a fé pública da Administração Pública (CP, art, 7º, I, b e c), bem como nos casos de crime de genocídio (CP, art. 7º, I, d). Porém, a aplicação de norma processual de um Estado em outro poderia representar, de certa forma, afronta à Soberania.
Desta forma, o Código de Processo Penal preceitua, no art. 1º, que “o processo penal rege-se-á, em todo território brasileiro, por este Código”, sendo certo que conduz os processos que tramitam no Brasil e os atos processuais que aqui devam ser praticados, como as cartas rogatórias a cumprir no país e a homologação de sentença estrangeira. As raríssimas exceções a este regra são atinentes a processos de natureza penal conduzidos por autoridades de Estado diverso, como nos tribunais estatuídos em tempo de guerra.
Eficácia da lei processual penal no tempo: o princípio da aplicação imediata
A lei processual penal, salvo quando ela mesma prever, será aplicada de maneira imediata. Assim, no surgimento de novas regras, em processos que estejam em andamento, os novos atos serão regidos de acordo com a nova legislação, enquanto os atos já praticados não são afetados.
Cessação da vigência da lei processual
A vigência da norma processual penal se dá até sua revogação, que pode ser tácita, pelo advento de norma processual que diga respeito à mesma matéria ou se mostre incompatível com a norma anterior, ou pela expressa determinação de sua revogação por lei nova, que pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação). Excepcionalmente, em casos de leis temporárias, ocorre a autorrevogação, por ter decorrido o prazo de sua vigência, ou no caso de leis excepcionais, quando finda a anormalidade que justificou a sua edição.
Imunidade processuais penais
Durante o exercício de determinadas funções, algumas pessoas ficam excluídas do âmbito de vigência de algumas normas processuais. Citaremos alguns exemplos:
O Presidente da República não pode ser preso por crimes comuns (não relacionados à função), enquanto estiver no exercício da função, salvo por sentença condenatória com transito em julgado (CF, art. 86, § 3º), bem como não poderá ser responsabilizado, na vigência de seu mandato, por atos estranhos ao exercício de suas funções (CF, 86, § 4º).
Aos parlamentares federais (deputados e senadores – que possuem garantia de foro por prerrogativa de função – CF, art. 53, § 1º) após a expedição do diploma, bem como após o termino do manto, garante-se inviolabilidade civil e penal por suas opiniões, palavras e votos (CF, art. 53, caput) e imunidade processual. Com efeito, não serão obrigados a dar testemunho sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato ou sobre as pessoas que lhes confiaram ou delas receberam informações (CF, art. 53, § 6º).
Outrossim, não poderão ser presos senão em flagrante delito, pela prática de crime inafiançável, casos em que, ainda assim, a casa legislativa respectiva poderá deliberar sobre a prisão (CF, art. 53 § 2º). Tal casa também poderá sustar o andamento da ação, determinando a sua suspensão enquanto durar o mandato, ocasião em que também ficará suspenso o prazo prescricional da pretensãopunitiva (CF, art. 53, § 5º).
A inviolabilidade e a imunidade conferidas aos deputados federais e senadores também se aplicam aos deputados estaduais (CF, art. 27, segunda parte). Já aos Vereadores só há garantia em relação à inviolabilidade por opiniões, palavras e votos no exercício do mandato na circunscrição do Município (CF, art. 29, VIII).
Capítulo VII – A persecução penal
A persecução penal é o caminho que percorre o Estado-Administração para satisfazer a pretensão punitiva, que nasce no exato instante da perpetração da infração penal. A persecutio criminis divide-se em três fases:
Investigação preliminar: apuração da infração penal cometida, com vistas a fornecer elementos suficientes para embasar futura ação penal;
Ação penal: momento em que o direito penal material se concretizará diante de cada caso; e
Execução penal: satisfação do direito de punir estatal.
A polícia: funções e tipos
Polícia é o órgão estatal incumbido de prevenir a ocorrência de infrações penais, apurar autoria e materialidade das já perpetradas, sem prejuízo de outras funções não atinentes à persecução penal. São funções da polícia:
Preventiva: com finalidade de evitar a ocorrência de crimes e contravenções penais;
Judiciária: consiste na apuração das infrações penais por meio do inquérito policial; e
Administrativa: consubstancia-se na prática de atos administrativos que não se relacionam à persecutio criminis.
Os órgãos policiais incumbidos de segurança pública, de acordo com o art. 144, caput, da CF, são: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis, Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
As Polícias Rodoviária e Ferroviária Federal têm função notadamente preventiva, exercendo patrulhamento nas rodovias e ferrovia federais. A Polícia Federal, por sua vez, exerce funções preventiva, judiciária e administrativa.
A função das Polícias Civis resume-se a investigações de ilícitos penais por meio do inquérito policial, exercendo função judiciária, portanto. Por outro lado, as Polícias Militares dos Estados têm função preventiva.
Apesar das funções conferidas às polícias, é certo que elas não podem pleitear, junto ao Poder Judiciário, a punição daqueles que cometem as infrações apuradas, ficando tal função a cargo do Ministério Público e excepcionalmente do próprio ofendido.
Capítulo VIII – Inquérito Policial
Inquérito policial é o procedimento administrativo, preparatório e inquisitivo, presidido pela autoridade policial, e constituído por um complexo de diligências realizadas pela polícia, no exercício da função judiciária, com vistas à apuração de uma infração penal e à identificação de seus autores.
Características:
Instrumentalidade: pois é procedimento preparatório para eventual ajuizamento de ação penal.
Obrigatoriedade ou oficiosidade: que deve ser analisada sob dois aspectos, inicialmente porque, uma vez que a autoridade policial tomar conhecimento da prática de um crime tem a obrigação de instaurar, de ofício, inquérito e, por outro lado, porque, uma vez instaurado, não poderá ser arquivado por iniciativa do delegado de polícia;
Caráter meramente informativo: reúne elementos para fundamentar a formação da convicção do órgão incumbido de instaurar a ação penal. Por não ter caráter punitivo, os vícios ocorridos durante o seu trâmite não são capazes de viciar ação penal ajuizada através dele;
Discricionariedade: a autoridade policial pode escolher as diligências a serem realizadas, porém algumas não podem ser determinadas de ofício, necessitando de autorização judicial, como a busca e apreensão e a interceptação telefônica.
Forma escrita:
Sigilo: será sigiloso somente se necessário à elucidação do fato ou para preservar interesse social. O sigilo pode ser externo, quando há proibição de publicidade em relação às pessoas do povo, e interno, quando o próprio investigado não puder tomar conhecimento das diligências realizadas. Interessante lembrar que, em que pese o fato de ser garantido ao advogado o direito de examinar inquéritos em repartições policiais, é certo que não poderá acompanhar diligências que possam ser prejudicadas por ele, como a interceptação telefônica, por exemplo;
Inquisitivo: não está sujeito aos contraditório ou ampla defesa, resguardados, contudo, seus direito e garantias individuais.
Notitia criminis
É o conhecimento, pela autoridade policial, da ocorrência de um fato possivelmente criminoso. A doutrina identifica quatro tipos:
Direta, espontânea ou de cognição imediata: ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do fato de forma direta, no exercício da sua atividade funcional;
Indireta, provocada ou de cognição mediata: caso em que o fato é relatado ao delegado por iniciativa de terceiros;
Coercitiva: casos de prisão em flagrante quando o autor se apresenta à autoridade policial;
“delatio criminis”: a autoridade agirá por ter sido noticiada por qualquer do povo para providências e solicitação de punição do responsável.
Formas pelas quais haverá instauração de inquérito policial:
De ofício;
Por meio de requisição;
Por meio de requerimento do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo;
Por força da delatio criminis;
Mediante prisão em flagrante.
Trancamento do inquérito policial
Consiste na extinção anormal em virtude de decisão proferida em habeas corpus, ou, excepcionalmente, por mandado de segurança, em casos de apuração de crime ambiental cometido por pessoa jurídica, por exemplo.
Diligências da autoridade policial
O art. 6º do CPP determina que, se adequadas ao caso concreto apresentado, deverá a autoridade policial realizar as seguintes diligências:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais. Ressalte-se, porém, que a Lei n. 5.790/73 abre exceção à regra de preservação de local do crime nos casos de acidente de trânsito a fim de que o tráfego de veículos seja liberado;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado. Observando-se que a falta da oitiva do indiciado no inquérito não nulifica a ação penal;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações. O reconhecimento de pessoas é disciplinado pela recomendações do art. 226 do CPP, enquanto a acareação consiste na contraposição de pessoas envolvidas com o fato e que tenham prestado depoimentos divergentes;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias, conforme disciplinado nos arts. 158 a 184;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes. Contudo, observe-se que a identificação datiloscópica é exceção, vez quem o art. 3º da Lei n. 12.037/2009 estabelece que o civilmente identificado só se submeterá a identificação criminal nas hipóteses por ele avençadas;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
Reprodução simulada dos fatos
É feita a critério da autoridade policial desde que a sua prática não contrarie a moralidade ou a ordem pública. Considerando que ninguém é obrigado a fazer prova contra si mesmo, temos como certo que, embora o indiciado seja obrigado a presenciar a simulação, não tem a obrigação de colaborar.
Outras atribuições da autoridade policial:
Estão previstas no art. 13 do CPP:
Fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos;
Realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
Cumprir os mandados de prisãoexpedidos pelas autoridades judiciárias;
Representar acerca da prisão preventiva.
Deve ainda:
- representar ao juiz acerca de prisão temporária (art. 2º da lei n. 7.960/89);
- proceder à restituição dos objetos apreendidos (art. 120, caput, do CPP);
- representar ao juiz competente no sentido de proceder ao exame de sanidade mental do indiciado, na fase de inquérito (art. 149, § 1º, do CPP);
- conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima do crime não exceda quatro anos (art. 322, caput, do CPP);
- lavrar o termo circunstanciado entre outras diligências previstas na legislação penal.
Indiciamento
Ato pelo qual o delegado, baseado em indícios suficientes e convergentes de autoria, atribui a alguém a prática de infração penal. O indiciado pode deixar esta situação durante o inquérito ou já na ação penal. É ato complexo da autoridade policial que se divide em três partes: o suspeito deve ser interrogado e o termo deve ser lido na frente de duas testemunhas, após será ordenada a sua identificação e, por fim, elaborada a folha de sua vida pregressa.
Encerramento do inquérito
Dá-se por esgotamento de prazo, ou quando se entenderem exauridas as possibilidades de diligências a serem realizadas. Com a conclusão do inquérito, a autoridade policial deverá elaborar minucioso relatório do que houver sido apurado.
Recebimento do inquérito pelo Ministério Público
Cinco providências podem ser adotadas pelo Ministério Público;
Oferecer denúncia;
Devolvê-lo à autoridade policial para a realização de novas diligências imprescindíveis ao oferecimento da denúncia;
Requerer o arquivamento da inquérito;
Requerer a permanência dos autos em cartório;
Requerer a remessa dos autos ao juízo competente.
Prazos
Tratando-se de investigado solto, o Código de Processo Penal dispõe que será de 30 dias o prazo para que o inquérito termine, no entanto, se estiver preso, este prazo é reduzido para 10 dias (prazo que se conta a partir do dia em que se executar a ordem de prisão). Contudo, a legislação extravagante prevê outros prazos em situações excepcionais.
Arquivamento
A legitimidade para requerer o arquivamento do inquérito policial é do Ministério Público. O pedido é dirigido ao juiz que, não concordando com os fundamentos do requerimento, remeterá os autos de inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, o qual, de acordo com o art. 28 do CPP, poderá oferecer denúncia, designar outro membro do Ministério público para oferecê-la ou insistirá no pedido de arquivamento, hipótese em que o magistrado será obrigado a atendê-lo.
Efeito do arquivamento: embora não faça coisa julgada, o arquivamento impede o ajuizamento de ação penal no que diz respeito aos fatos investigados enquanto não surgirem provas novas.
Valor probatório
A maior parte da doutrina nega a possibilidade de uma condenação lastreada apenas em provas obtidas durante a investigação, porém, elas podem ser usadas quando irrepetíveis.
Termo circunstanciado
Instaurado em casos de infrações de menor potencial ofensivo em razão do procedimento utilizado dos Juizados Especiais Criminais. A peça se assemelha a um boletim de ocorrência, mais minucioso em seu conteúdo, sendo que há razoavelmente detalhada dos fatos, indicação de autor, vítima e rol de testemunhas.
Investigação pelo Ministério Público
Parte da doutrina entende que o Ministério Público pode desempenhar função investigatória no âmbito criminal. Tal tese foi reforçada após o afastamento do Projeto de Emenda constitucional n. 37/2011, que limitava a apuração das infrações penais às polícias.

Outros materiais