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1 Realidade Étnica do Estado de Goiás REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL SUMÁRIO 1. Formação econômica de Goiás: a mineração no século XVIII, a agrope- cuária nos séculos XIX e XX, a estrada de ferro e a modernização da eco- nomia goiana, as transformações econômicas com a construção de Goiâ- nia e Brasília, industrialização, infraestrutura e planejamento..........4/5/7/9 2. Modernização da agricultura e urbanização do território goiano..............11 3. População goiana: povoamento, movimentos migratórios e densidade demográfica...........................................................................................3/14 4. Economia goiana: industrialização e infraestrutura de transportes e comu- nicação......................................................................................................14 5. As regiões goianas e as desigualdades regionais......................................16 6. Aspectos físicos do território goiano: vegetação, hidrografia, clima e rele- vo.................................................................................................................3 7. Aspectos da história política de Goiás: a independência em Goiás, o coro- nelismo na República Velha, as oligarquias, a Revolução de 1930, a ad- ministração política de 1930 até os dias atuais.........................................16 8. Aspectos da História Social de Goiás: o povoamento branco, os grupos indígenas, a escravidão e cultura negra, os movimentos sociais no campo e a cultura popular.....................................................................................21 9. Atualidades econômicas, políticas e sociais do Brasil, especialmente do Estado de Goiás.........................................................................................22 2 Realidade Étnica do Estado de Goiás 3 Realidade Étnica do Estado de Goiás REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECO- NÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS. 1. ASPECTOS GERAIS O Estado de Goiás, situado a Leste da Região Cen- tro-Oeste, possui uma área de 340.103.467 km², corres- pondendo 3,99% da área do território nacional e 21,17% da área da Região Centro-Oeste, sendo assim o segundo maior estado da região. Tem como Capital a cidade de Goiânia. De acordo com o censo 2010, realizado pelo IBGE, a população do Estado está assim distribuída: Total: 6.003.788 habitantes Homens: 2.981.542 Mulheres: 3.022.503 Urbana: 5.421.069 Rural: 582.976 Densidade demográfica: 17,65 hab/km² Fonte: IBGE 2012 O Estado encontra-se subdividido em 246 municí- pios, 18 microrregiões e 5 mesorregiões. Tem como limites geográficos: ao Norte: o Estado do Tocantins; a Leste: o Estado da Bahia; a Leste e Sudeste: o Estado de Minas Gerais; ao Sul com os Estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul; a Sudoeste: o Estado de Mato Grosso do Sul; a Oeste: o Estado de Mato Grosso. Dentro do polígono geográfico do seu território en- contra-se o Distrito Federal. Goiás Principal estado da região Centro-Oeste, com uma superfície de 340.103.467 km², o estado de Goiás limita- se ao norte com o estado de Tocantins; a leste com a Ba- hia e Minas Gerais; ao sul com Mato Grosso do Sul e Minas Gerais; e a oeste com Mato Grosso. Sua capital é Goiânia. Em seu território encontra-se encravado o Dis- trito Federal. 2. ASPECTOS FÍSICOS Geologia e relevo. A maior parte do território goiano se caracteriza pelo relevo suave das chapadas e chapadões, entre 200 e 1.200 m de altitude. Consistem de grandes superfícies aplainadas, talhadas em rochas cristalinas e sedimenta- res. Cinco unidades compõem o quadro morfológico goiano: o alto planalto cristalino; o planalto cristalino do rio Araguaia-Tocantins; o planalto sedimentar do São Francisco; o planalto sedimentar do Paraná; e a planície aluvial do médio Araguaia. O alto planalto cristalino situa-se na porção leste de Goiás. Com mais de mil metros de altitude em alguns pontos, forma o divisor de águas entre as bacias do Para- naíba e do Tocantins. É a mais elevada unidade de relevo de toda a região Centro-Oeste. O planalto cristalino do Araguaia-Tocantins ocupa o norte do estado. Tem altitu- des mais reduzidas, em geral de 300 a 600 m. O planalto sedimentar do São Francisco, representada pela serra Ge- ral de Goiás (no passado dito “Espigão Mestre”), vasto chapadão arenítico, caracteriza a região nordeste do es- tado, na região limítrofe com a Bahia. O planalto sedi- mentar do Paraná, extremo sudoeste do estado, é consti- tuído por camadas sedimentares e basálticas ligeiramente inclinadas, de que resulta um relevo de grandes planuras escalonadas. A planície aluvial do médio Araguaia, na região limítrofe de Goiás e Mato Grosso, tem o caráter de ampla planície de inundação, sujeita a deposição pe- riódica de aluviões. Clima Dois tipos climáticos caracterizam o estado de Goiás: o tropical, com verões chuvosos e invernos secos; e o tropical de altitude. O primeiro domina a maior parte do estado. As temperaturas médias anuais variam entre 23ºC, ao norte, e 20ºC, ao sul. Os totais pluviométricos oscilam entre 1.800 mm, a oeste, e 1.500 mm, a leste, com forte contraste entre os meses de inverno, secos, e os de verão, chuvosos. O clima tropical de altitude aparece apenas na região do alto planalto cristalino (área de Anápolis, Goiânia e Distrito Federal), onde, por efeito da maior altitude, se registram temperaturas em geral mais baixas, embora o regime pluvial conserve a mesma oposição entre as esta- ções chuvosa de verão e seca de inverno. Hidrografia A rede hidrográfica divide-se em duas bacias: uma delas é formada pelos rios que drenam para o rio Paraná; a outra, pelos que escoam para o Tocantins ou para seu afluente, o Araguaia. O divisor de águas entre as duas bacias passa pelo centro do estado e o atravessa de leste a oeste. O limite oriental de Goiás segue o divisor de águas entre as bacias dos rios Tocantins e São Francisco e o divisor de águas entre as bacias do Tocantins e do Pa- ranaíba. Todos os rios apresentam regime tropical, com cheias no semestre de verão, estação chuvosa. Flora e fauna A maior parte do território de Goiás é recoberta por vegetação característica do cerrado. As matas, embora pouco desenvolvidas espacialmente, têm grande impor- tância econômica para o estado, de vez que constituem as áreas preferidas para a agricultura, em virtude da mai- or fertilidade do solo, em comparação com os solos do cerrado. A principal mancha florestal do estado se encontra no centro-norte, na região chamada do Mato Grosso de Goi- ás, situada a oeste de Anápolis e Goiânia. Essa área flo- restal é de grande relevância econômica porque apresen- ta solos férteis, derivados de rochas efusivas. Entre as espécies vegetais predominantes estão o jatobá, a pal- meira guariroba, que fornece um palmito amargo muito 4 Realidade Étnica do Estado de Goiás apreciado no estado, o óleo vermelho, ou copaíba, o ja- carandá e a canela. Outras manchas florestais ocorrem nos vales dos rios Paranaíba, ao sul; Tocantins, a leste; e Araguaia, a oeste. Boa parte dessas matas, especialmente no vale do rio Araguaia, assume uma forma de transição entre o cerra- do e a floresta denominada cerradão. Ocorrem aí espé- cies arbóreas freqüentes na área do Mato Grossode Goi- ás e outras, como o angico, a aroeira e a sucupira- vermelha. Nas áreas dominadas pelo cerrado ocorrem as espécies típicas: lixeira, lobeira, pau-terra, pequi, pau-de- colher-de-vaqueiro, pau-de-santo, barbatimão, quineira- branca e mangabeira. A fauna de Goiás tem diversas espécies ameaçadas de extinção, quer pela ação predatória dos caçadores, quer pelas queimadas e pelo envenenamento do solo com agrotóxicos. Estão entre elas o lobo-guará, o cachorro- do-mato-vinagre, o tamanduá-bandeira, o veado- campeiro, o tatu-canastra, a ariranha e o cervo. Outras espécies são a paca, a anta, o tatu-peludo, o tatu-galinha, o tamanduá-mirim, a lontra, o cachorro-do-mato, a rapo- sa-do-campo, a capivara, a onça, a suçuarana, a onça- pintada, o bugio, a jaguatirica e diversos tipos de serpen- tes, como a sucuri e a jibóia. Também entre as aves há espécies em extinção, como o tucano-rei, o urubu-rei e a arara-canindé. Há ainda várias espécies de tucanos e araras, além de perdizes, emas, codornas, patos- selvagens, pombas-de-bando, pombas-trocazes, jaós, mutuns e seriemas. População A região Centro-Oeste caracteriza-se pela baixa con- centração demográfica. No entanto, a partir da implanta- ção de Brasília e da descoberta dos cerrados como nova fronteira econômica, em etapas diferentes, dirigiram-se para Goiás grandes fluxos de migrantes, sobretudo das cidades muito populosas ou das regiões mais pobres do país, em busca de ocupação ou de novas opções de vida. A ocupação de mão-de-obra na montagem da infra- estrutura do estado – rodovias e hidrelétricas – e na ins- talação de novas indústrias permitiu que essa ocupação se desse de maneira mais organizada, sem formar os bol- sões de miséria e de populações marginais típicos das grandes capitais brasileiras. Com o desmembramento que deu origem ao estado de Tocantins, em 1988, a po- pulação de Goiás reduziu-se, mas manteve suas taxas de crescimento e de densidade demográfica. Verifica-se maior concentração populacional na região central do es- tado, a oeste do Distrito Federal. A palavra Goiás, originada do tupi, que designa a no- ção de “pessoas iguais, da mesma raça, parentes”, bem se aplica à solidariedade e ao espírito comunitário do po- vo goiano, comprovados pelas obras sociais abundantes em praticamente todas as cidades do estado, destinadas a socorrer a população carente. 3. FORMAÇÃO ECONÔMICA DE GOIÁS: A MINERAÇÃO NO SÉCULO XVIII, A AGROPE- CUÁRIA NOS SÉCULOS XIX E XX, A ESTRADA DE FERRO E A MODERNIZAÇÃO DA ECONO- MIA GOIANA, AS TRANSFORMAÇÕES ECO- NÔMICAS COM A CONSTRUÇÃO DE GOIÂNIA E BRASÍLIA, INDUSTRIALIZAÇÃO, INFRAES- TRUTURA E PLANEJAMENTO. 3.1. FORMAÇÃO ECONÔMICA DE GOIÁS: A MINERAÇÃO NO SÉCULO XVIII, A AGROPE- CUÁRIA NOS SÉCULOS XIX E XX, O Brasil constitui-se, no período colonial, em colônia de exploração, ou seja, sua organização econômica visa- va abastecer o mercado da metrópole e seus interesses. Desde cedo nossa economia se baseou no tripé: Lati- fúndio, monocultura e escravidão negra. A economia então se caracterizava por ciclos econô- micos: primeiro o do pau-brasil, seguindo-se o do açúcar e depois o do ouro. Imperava o pacto colonial – espécie de acordo implícito entre metrópole e colônia – que ti- nha, como regra, que a colônia produziria o que a metró- pole necessitava e nunca concorreria com a metrópole, isso facilitava o processo de acumulação de capital e tor- nava a economia brasileira complementar. A base política fundamentou-se na centralização ad- ministrativa, primeiro com as Capitanias Hereditárias e depois com a implantação do Governo Geral, que acabou por consolidar o pacto colonial, já que não promovia a autonomia da colônia. Durante os séculos XVI e XVII, as regiões interiora- nas do país permaneceram quase no esquecimento. O li- toral produzia o açúcar devido ao seu clima e solo propí- cios e facilitava o transporte da mercadoria. O açúcar ti- nha mercado consumidor garantido e tornou-se nosso principal produto de exportação. O declínio do açúcar se deu depois da invasão holan- desa, quando os holandeses começaram a produzir nas Antilhas e nosso produto perder mercado, mas para Por- tugal a descoberta do ouro veio substituir em bom tempo o produto perdido. A conquista do interior se deu através das bandeiras – expedições organizadas por particulares que desbrava- vam o interior a procura de ouro, negros fugitivos e ín- dios para escravizar. A fase de conquista do território de Goiás ocorreu no contexto do ciclo do ouro onde se desenvolveram ban- deiras para verificar as reais possibilidades econômicas da região. A época do ouro em Goiás foi intensa e breve. Após 50 anos do seu início, verificou-se a decadência rápida e completa da mineração. Por outro lado, só se explorou o ouro de aluvião e a técnica empregada foi rudimentar. Com o descobrimento do ouro no Brasil (século XVII), os territórios das minas deveriam dedicar-se ex- clusivamente à produção de ouro, sem desviar esforços na produção de outros bens, que poderiam importar. Isto explica o pouco desenvolvimento da lavoura e da pecuá- 5 Realidade Étnica do Estado de Goiás ria em Goiás nesta época. Goiás foi o segundo produtor de ouro no Brasil, mas bastante inferior a Minas Gerais. A maior concentração aurífera deu-se em torno das ser- ras dos Pirineus e Dourada. Em Goiás o ouro era explorado superficialmente, sem nenhuma especialização. Viver aqui neste período era muito arriscado em razão dos altos preços dos produ- tos, todos importados, inclusive o escravo. Duas formas principais de imposto eram cobradas: a capitação e o quinto (imposto equivalente a 20% da produção). Havia duas casas de fundição na Capitania de Goiás, uma em Vila Boa e outra em São Félix (as casas de fun- dição foram criadas para evitar o contrabando, já que fundiam o ouro em barra, tirando os impostos. Só ouro em barra poderia circular na colônia). Goiás foi "descoberto" pelos paulistas que desceram os rios procurando novos veios e era um terreno perten- cente à capitania de São Paulo, até 1749, quando tornou- se capitania independente, sendo dirigida pelo então go- vernador e capitão geral, Conde dos Arcos. A sociedade que se estrutura nas minas é caracteriza- da pelo relaxamento dos costumes e pelos fugitivos por dívidas ou por passado criminal que ali se refugiam. Os casamentos são raros, predominam as ligações livres. O grande número de escravos e a falta de mulheres brancas conduzem à uma natural miscigenação com as negras. Assim os brancos representam uma minoria no contexto populacional. É proibido o casamento entre brancos e in- dígenas, impedindo assim uma maior miscigenação. A distinção fundamental era de homens livres e es- cravos. No início da colonização, os escravos predomi- navam em número, com a decadência da mineração, os escravos diminuíram bastante, mas ainda assim a popu- lação continuava composta por negros e mulatos na sua maioria. Ao tempo da descoberta, eram numerosas as tribos de índios em Goiás, cobrindo todo o seu território. As mais importantes eram: Caiapós, Xavante, Goiá, Crixá, Cara- já, Acroa, Xerente, etc. Durante o período da mineração, as relações entre ín- dios e mineiros foram exclusivamente guerreiras e de mútuo extermínio, onde os índios permaneciam à mar- gem da sociedade sob todos os aspectos. Atualmente a população indígena está reduzida ape- nas a alguns grupos remanescentes, que vivem na misé- ria, sofrendo alterações profundas na sua cultura, modo de produção, além de perderem quase totalmente as suas terras. A inexistência de uma agricultura capaz de acompa- nhar o rápido crescimento populacional da região e o di- fícil transporte de suprimentos de outras regiões do país, levaram a um extraordinário aumento dos preços dos gê- nerosalimentícios e a surtos periódicos de fome. A decadência da mineração em Goiás se deu devido a um conjunto de fatores: as técnicas utilizadas eram rudimentares; havia uma carência de mão-de-obra escrava; a administração local era ineficiente; os interesses escusos do governo central; o esgotamento das minas de superfície. Ao se evidenciar a decadência do ouro, várias medi- das administrativas foram tomadas, mas sem alcançar nenhum objetivo, nem resultado satisfatório. A economia do ouro afetou a sociedade goiana, so- bretudo na forma de ruralização e regressão a uma eco- nomia de subsistência. Algumas consequências da deca- dência da mineração: diminuição da importação e comércio exteri- or; diminuição dos impostos e da mão-de-obra empregada; redução do comércio interno; economia em regressão; ruralização progressiva; estagnação de cidades e vilas. O desenvolvimento da agricultura torna-se necessá- rio, não só para abastecer o mercado interno, mas tam- bém como veículo de intensificação do comércio exter- no. Da instalação da corte portuguesa no Rio de Janeiro à independência (1808-1822), a política geral delineia-se rumo à integração e valorização dos domínios portugue- ses: objetiva-se desenvolver as capitanias do Centro- Oeste através da programação do aproveitamento técnico das vias fluviais, das técnicas agropastoris e da pacifica- ção do indígena como mão-de-obra. Novo surto territorial se processa, determinado por algumas novas descobertas agrícolas, progresso da pecu- ária e pela necessidade de conter o indígena. Fracassam as sucessivas tentativas de incremento da atividade mer- cantil, seja pela carência de capital, seja pelas dificulda- des geográficas ou pela natureza dos produtos, que não atraem comerciantes mais interessados. No Período monárquico busca-se uma solução para os problemas financeiros e a pacificação social. A pecuá- ria passa a representar o sustentáculo econômico da pro- víncia, motivando novas migrações para o centro-oeste: baianos, maranhenses, piauienses, mineiros e paulistas. Desenvolve-se a indústria de couros. A província terá um lento progresso, que não chega a representar dinamiza- ção em sentido global. Os fatores responsáveis pelo desenvolvimento da pe- cuária em Goiás foram: a província contava com terras devolutas e pasta- gens nativas; a atividade absorvia pouca força de trabalho; o dispêndio do capital fixo era pequeno, pois a ex- pansão do rebanho se fazia de através do processo natu- ral de reprodução; o gado era uma mercadoria capaz de transportar-se a si mesma. 6 Realidade Étnica do Estado de Goiás 3.2. A CONSTRUÇÃO DA ESTRADA DE FER- RO DE GOIÁS E SUA IMPORTÂNCIA As primeiras manifestações contundentes em favor de dotar o Estado de Goiás de um meio de transporte fer- roviário, à altura das necessidades locais, aconteceram, na verdade, em 1890. O Decreto n. 862 de 16/10/1890 concretizou o primeiro Plano Ferroviário com as rotas a serem construídas. Em 1896, o Triângulo Mineiro recebeu os trilhos da Estrada de Ferro Mogiana, ficando acertado que a cidade de Araguari seria a sede do que anos depois viria a ser a “Goiás”, facilitando-se a integração econômica entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Assim, a Cia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação foi uma das componentes da malha ferroviária estendida na regi- ão do Triângulo Mineiro, ainda nos últimos anos do sé- culo passado (1896). Dentro de outro processo e após di- vergências políticas, foi determinado, pelo Decreto n. 5.394, de 18/10/1904, que o ponto inicial daquela que viria a ser, então, a Estrada de Ferro Goiás, seria na cida- de de Araguari e, o seu terminal, na capital de Goiás. Para Goiás, a presença da Estrada de Ferro em seu solo é também o resultado de um grande esforço feito por alguns representantes da classe política e intelectual da região. Todavia, é preciso assinalar que a ferrovia cor- tava o cerrado goiano em função dos interesses do siste- ma capitalista de produção, ou seja, ela nasceu de fora para dentro do estado. Nesse sentido, os principais apoi- adores políticos locais foram os Srs. Henrique Silva, Leopoldo de Bulhões e o Marechal Urbano Coelho de Gouvea. A formação da Companhia Estrada de Ferro Goiás, em 3 de março de 1906, tinha caráter privado e era apoiada pelo Governo Federal, pelo Decreto n. 5.949, do então Presidente da República, Ro- drigues Alves. A Estrada de Ferro surgiu como uma al- ternativa para romper o estrangulamento da economia goiana quanto à sua demanda por um meio de transporte que viesse atender as necessidades de escoamento de sua produção. Em 28 de março de 1906, a Estrada recebeu esse nome – Estrada de Ferro Goiás – através do Decreto Federal n. 5.949, pois até então ela se denominava Estra- da de Ferro Alto Tocantins, autorizada para construir e explorar o trecho de Catalão a Palmas, objetivando ligar, então, a capital de Goiás a Cubatão, e estas à Rede Fer- roviária do país. Os trabalhados de construção da Estrada de Ferro Goiás, em solo goiano, tiveram início em 27 de maio de 1911, dois anos após o começo da implantação do trecho localizado na cidade de Araguari, no marco zero da fer- rovia. Já em 1912, as obras avançaram 80 quilômetros, chegando, dessa cidade mineira, muito próximas à cida- de goiana de Goiandira. Em função de problemas de ca- ráter financeiro e administrativo, a Companhia Estrada de Ferro Goiás, por meio do Decreto n.13.936 de 05/01/1930, obteve concessão para explorar os serviços ferroviários no Triângulo Mineiro e em Goiás, passando sua administração à União, a qual levou adiante todas as obras de construção. Assim, a Linha Araguari – Ronca- dor, com 234 km de extensão, formou a nova Estrada de Ferro Goiás. Até 1952, a “Goiás”, percorria com os seus trilhos, aproximadamente, 480 km, chegando ao seu ponto mais distante em Goiânia. No total, 30 estações serviam à Es- trada, onde se destacavam as de Araguari, Amanhece, Ararapira, Anhanguera, Goiandira (ponto de ligação com a Rede Mineira), Ipameri, Roncador, Pires do Rio, Enge- nheiro Balduíno, Vianópolis, Leopoldo de Bulhões, Aná- polis e Goiânia. Ao discorrer a respeito das alterações no comércio regional, provocadas pela chegada dos trilhos da estrada em território goiano, fica evidenciado o seu importante papel econômico. As cidades de Goiás, servidas pelos trilhos, substituíram Araguari no domínio da economia local, tornando-se significativos centros comerciais do estado e controlando, assim, o comércio regional. Ara- guari, que passara a dominar o comércio do estado a par- tir de 1896, é alcançada pelos trilhos da Mogiana, mas depois de 1915 perdeu grande parte deste domínio para as cidades do sudeste goiano. Atualmente, o território goiano é servido por 685 km de trilhos, pertencentes à Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), subsidiária da VALE e sucessora da antiga Estra- da de Ferro Goiás e da Rede Ferroviária Federal. Essa concessionária ferroviária percorre com seus trilhos a re- gião sudeste do estado, passando por Catalão, Ipameri, Leopoldo de Bulhões, chegando até Anápolis, Senador Canedo e indo até a Capital Federal. A Centro-Atlântica promove o escoamento de boa parte da produção eco- nômica goiana, embora tenha sua capacidade de trans- porte limitada. A Ferrovia Centro-Atlântica, em seus 7.080 km de linhas, abrange os estados de Sergipe, Ba- hia, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e o Distrito Federal. A FCA interliga-se as principais fer- rovias brasileiras e os importantes portos marítimos de Salvador (BA), Aratu (BA) e Angra dos Reis (RJ), além de Pirapora (MG) e Juazeiro (BA), no Rio São Francis- co. A frota atual compõe-se, aproximadamente, de 12.000 vagões e 500 locomotivas.Os principais produtos transportados pela FCA são álcool, derivados de petróleo, calcário, produtos siderúr- gicos, soja, farelo de soja, concreto, bauxita, ferro gusa, clinquer, fosfato, cal e produtos petroquímicos. A FCA tornou-se uma concessionária do transporte ferroviário de cargas em setembro de 1996, a partir do processo de desestatização da Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Em Goiás o transporte rodoviário é o responsável pe- lo volume mais expressivo de cargas, contando com uma malha de 89.000 km onde, aproximadamente 11.400 km são pavimentados. Em face desse total de vias, os trilhos representam menos de 1%, o que demonstra a pouca ex- pressão que as ferrovias têm em Goiás, embora seja re- conhecida a sua importância para o crescimento e o es- coamento da produção da economia local. Por se tratar de um meio de transporte com um custo de operação in- ferior ao transporte rodoviário, a ferrovia proporciona um significativo ganho comercial para os produtos de Goiás, tornando-os mais competitivos tanto no mercado interno como no externo. 7 Realidade Étnica do Estado de Goiás Quanto ao histórico da Ferrovia Norte-Sul, desde 1985, no Governo do Presidente José Sarney, a ideia bá- sica era construir uma ferrovia ligando os Estados do Maranhão, Tocantins e Goiás; o seu traçado inicial pre- via a construção de 1.550 km. Entre inícios e paralisa- ções da obra, já se passaram mais de 16 anos. Todo esse quadro de incerteza provocou um prejuízo ao processo de desenvolvimento das regiões envolvidas, pois a faci- lidade de escoamento de suas produções, especialmente a do agronegócio, a um custo menor irá resultar em sig- nificativos ganhos de competitividade, tornando esses produtos atrativos no mercado doméstico e no mercado internacional. Com a Lei n. 11.297 de 09/05/2006, a Pre- sidência da República incorporou o trecho Açailândia – Belém (norte do Maranhão e o Estado do Pará) e poste- riormente os trechos Anápolis – Estrela D´Oeste (Estado de São Paulo) e Figueirópolis – Ilhéus (leste do Tocan- tins e Estado da Bahia). A Ferrovia Norte-Sul foi projetada para promover a integração nacional, minimizando custos de transporte de longa distância e interligando as regiões Norte e Nordes- te às Sul e Sudeste, através das suas conexões com 5.000 km de ferrovias privadas. A integração ferroviária das regiões brasileiras é o grande agente uniformizador do crescimento autossustentável do país na medida em que possibilitará a ocupação econômica e social do cerrado brasileiro com uma área de, aproximadamente, 1,8 mi- lhões de quilômetros, correspondendo a 21,84% da área territorial do país, onde vivem 16% da população brasi- leira, ao oferecer uma logística adequada à concretização do potencial de desenvolvimento dessa região, fortale- cendo a infraestrutura de transporte necessária ao escoa- mento da sua produção agropecuária e agroindustrial do cerrado setentrional brasileiro. Inúmeros benefícios sociais estão surgindo com a Ferrovia Norte-Sul. A articulação de diferentes ramos de negócios proporcionada por sua implantação contribuirá para o aumento da renda interna e para o aproveitamento e melhor distribuição da riqueza nacional, a geração de divisas e abertura de novas frentes de trabalho, permitin- do a diminuição de desequilíbrios econômicos entre re- giões e pessoas, resultando na melhoria significativa da qualidade de vida da população da região. A Ferrovia Norte-Sul é uma Concessão outorgada à VALEC-Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., em- presa controlada pela União e supervisionada pelo Mi- nistério dos Transportes. O primeiro trecho da Norte-Sul já está concluído e em operação comercial. Esses 226 km de linha ferroviária, ligando as cidades maranhenses de Açailândia, Imperatriz e Estreito, se conectam com a Es- trada de Ferro A Ferrovia Norte-Sul é uma Concessão outorgada à VALEC-Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., em- presa controlada pela União e supervisionada pelo Mi- nistério dos Transportes. O primeiro trecho da Norte-Sul já está concluído e em operação comercial. Esses 226 km de linha ferroviária, ligando as cidades maranhenses de Açailândia, Imperatriz e Estreito, se conectam com a Es- trada de Ferro Carajás, permitindo assim o acesso ao Porto de Itaqui na Ponta da Madeira em São Luiz. O sub- trecho seguinte entre Estreito (MA), Guaraí e Palmas, no Estado do Tocantins, com 570 km de extensão também está concluído e concedido à VALE. O subtrecho entre Palmas e Anápolis perfazendo 750 km, passando por Gurupi (TO), Porangatu, Uruaçu, Jara- guá e Ouro Verde de Goiás, no Estado de Goiás, deverá ser concluído em abril de 2012. As obras já foram inicia- das na Extensão Sul da Ferrovia Norte-Sul, entre Ouro Verde de Goiás e Estrela D´Oeste, com 600 km de exten- são, e na Ferrovia de Integração Oeste – Leste, entre Ilhéus e Correntina, perfazendo 700 km de extensão. Em Goiás a Ferrovia Norte-Sul terá 540 km de exten- são. Com os trilhos dessa estrada, será possível trazer pa- ra o estado os mesmos benefícios socioeconômicos já gerados no Maranhão, como, por exemplo, a criação de emprego, diretos e indiretos, a promoção do desenvol- vimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das populações locais, além de integrar as diversas regi- ões goianas ao seu processo de desenvolvimento regio- nal. Podemos concluir este breve histórico indicando que o nascimento da Estrada de Ferro Goiás serviu aos inte- resses e desejos dos goianos que tiveram, nessa ferrovia, um dos alicerces para os seus processos de crescimento. Os trilhos colaboram para o aumento significativo da produção econômica das regiões, expandindo suas rela- ções comerciais, por meio de um forte incremento nas importações e exportações. Contudo, esta Estrada nas- ceu de fora para dentro, inteiramente identificada com o sistema capitalista de produção, fruto, então, da divisão internacional do trabalho. Agora, passados quase 100 anos da chegada dos tri- lhos em Goiás, a Ferrovia Centro-Atlântica, em operação no território goiano e a Ferrovia Norte-Sul, em fase de construção, continuam sendo alternativas viáveis de transportes eficientes e de baixos custos de operação, quando comparados com o rodoviário. Portanto, na me- dida em que colaboram para a maior competitividade do agronegócio local, as ferrovias tornam-se imprescindí- veis, sendo de expressivo significado para as melhorias nas relações comerciais, internas e externas, e para a so- lidez da economia goiana como um todo. Compete aos goianos, principalmente através das sociedades de clas- ses e de seus representantes políticos, lutarem para o for- talecimento desse modelo de transporte, pois, assim, es- tarão dando passos firmes na direção do desenvolvimen- to econômico e social da região do planalto central. 3.3. MODERNIZAÇÃO DA ECONOMIA GOIA- NA Ao longo do tempo, Goiás passou por transformações significativas no que se refere a sua estrutura social e econômica. Contudo, em nenhum momento de sua histó- ria, desde o inicio da mineração no século XVIII, as mu- danças foram tão intensas quanto nas três últimas déca- das do século passado e neste começo de milênio. Neste período o estado se tornou urbano e alcançou os primei- ros lugares nos índices de urbanização do país. E em 8 Realidade Étnica do Estado de Goiás consequência disso surgiram diversos problemas sociais e ambientais. Segundo Arrais (2006): Na genealogia do território goiano a década de 1970 aparece em destaque nas abordagens econômi- cas e geográficas. Esse fato justifica-se, em certa medida, pela observação dos resultados do censo demográfico que apontou uma inversão no padrão de localização e, por consequência, distribuição das densidades demográficas e técnicas no território goiano. Tudo issose deu no decorrer da modernização agrí- cola gerada pela chegada das inovações da Revolução Verde em nosso país por volta da década de 1960, atin- gindo o nosso estado no início da de 1970, que mudou o modelo de apropriação do espaço e, consequentemente, a dinâmica econômica e territorial de Goiás. Desde então, o estado tem recebido ainda mais imi- grantes vindos de diversas unidades da federação brasi- leira, de outras regiões ou do próprio Centro-Oeste, as- sim como tem se intensificado as migrações internas no sentido rural-urbano. Com isso tem se tornado claras as mudanças do padrão populacional estadual, de majorita- riamente rural – sertanejo, caipira, etc. – a majoritaria- mente urbano, “moderno”, interligado à dinâmica eco- nômica do capitalismo globalizado – verticalizado. A chegada da soja, por volta de 1975, em Rio Verde, seguida pela chegada da cana-de-açúcar, em Santa Hele- na, cerca de dez anos mais tarde e o aumento da pecuária intensiva na região sudoeste do estado neste mesmo pe- ríodo, marcaram a virada na economia goiana. Assim, Goiás se confirmou entre os estados potenciais de gran- des produtores agrícolas do país, alcançando, em 2005, o posto de 3º maior produtor nacional de soja, o de 1º de sorgo, o de 1º de tomate, o 3º lugar de algodão herbáceo (em caroço), o 5º de milho e o 6º de cana-de-açúcar. Na pecuária os números não são diferentes, pois o es- tado possui hoje o 2º maior rebanho de gado leiteiro, é o 2º maior produtor de leite, tem o 4º maior rebanho bovi- no, o 6º avícola e o 8º suíno. Contudo, todo esse aparente progresso não traz só benefícios, pois de acordo com Matos (2006, p. 71), “muito embora a modernização tenha atingido direta ou indiretamente todo o país, esta se processou de forma es- pacialmente concentrada e socialmente seletiva”, o que a torna conservadora e excludente (GRAZIANO DA SIL- VA, 1982). E isto gerou problemas sociais graves tanto de âmbito rural quanto urbano. Como exemplo disso, temos os processos de “metro- polização” e “periferização” desenvolvidos na capital goiana, que hoje já conta com mais de 1,2 milhões de habitantes, chegando a mais de 1,6 milhões se incluirmos na contagem a população total de sua região metropoli- tana4. E em consonância com o que tem ocorrido em ní- vel nacional, as cidades que compõem a Região Metro- politana de Goiânia têm crescido em ritmo mais acelera- do que a própria capital nas últimas duas décadas. Neste processo Goiânia se tornou uma cidade desigual e segre- dada, marcada pela diferenciação espacial entre o centro e a periferia (GOMES, 2007). Isso ocorre devido ao intenso processo de valorização do solo na cidade, que segundo Carlos (1999) se dá por que: “O espaço urbano aparece como movimento histori- camente determinado num processo social. O modo de produção do espaço contém um modo de apropriação, que hoje está associado à propriedade privada da terra”. Esse processo tem forçado, dia após dia, a população de baixa renda a se direcionar para as áreas mais afastadas das porções centrais de Goiânia ou mesmo para suas vi- zinhas, como Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Trindade. Ao se entrar no mérito do complexo processo de des- territorialização e reterritorialização decorrentes do de- senvolvimento da Região do Entorno de Brasília, os pro- blemas se tornam ainda mais latentes. Neste espaço já se encontram algumas das áreas mais violentas do país, com desafios sociais e urbanos alarmantes, como os ob- servados no bairro-cidade de Samambaia. Para Arrais (2006) a atração/repulsão de grandes contingentes popu- lacionais gerada por Brasília é o principal fator de expli- cação do inchaço urbano da região de seu entorno. Estas e outras consequências do processo de moder- nização agrícola de Goiás e de sua urbanização, ampla- mente induzida pelo primeiro processo, ocorrem, segun- do Oliveira (2001), porque: o progresso nos moldes ocidentais remete à ideia de crescimento econômico, sendo me- dido pelo acúmulo de riquezas materiais produzidas ou apropriadas. Assim, um povo desenvolvido seria aquele que acumularia maior riqueza. Não há vinculação direta com o bem-estar social e ambiental, muito embora se espere que esses objetivos sejam também atingidos através da riqueza eco- nômica. Diante de tudo isso, podemos dizer com base em Freitas (2007) que: devemos compreender o processo de urba- nização menos como causa do que conse- quência da modernização econômica do território. Essa urbanização deriva portan- to das novas necessidades de uso do territó- rio no sentido de favorecer a circulação de mercadorias e, por conseguinte, a realiza- ção da mais-valia social nesse processo de circulação. Toda a estrutura desenvolvida a partir do processo de urbanização tem co- mo objetivo primordial à organização do território para absorver os processos en- gendrados pela nova dinâmica econômica. Sendo assim, podemos relacionar o que Morais (2006) chamou de “captura do território goiano pelo ca- pital”, com o processo de urbanização de nosso estado. Isso porque, conforme Goiás foi se consolidando nas re- lações de mercado, o seu papel na atual divisão nacional e internacional do trabalho – o de produtor e exportador 9 Realidade Étnica do Estado de Goiás de gêneros agropecuários, industrializados, semiindustri- alizados e mesmo não-industrializados – foi também dando forma ao seu processo de urbanização. As cidades cresciam devido ao, cada vez mais intenso, êxodo rural, condicionado pela modernização do campo. O abandono forçado ou “espontâneo” do espaço agrário goiano, somado ao aumento da migração inter- regional em direção a nosso estado, teve papel importan- te na consolidação da RMG e da Região do Entorno de Brasília. Todos esses fatores condicionaram o desenvol- vimento urbano de Goiás como um processo desigual e concentrador tanto de renda, quanto de pessoas. O que se expressa com clareza na produção do espaço da metró- pole Goiânia, que possui num raio aproximado de 40 km áreas com o absurdo valor de R$ 5 mil o metro quadrado – em bairros como o Bueno, o Marista e o Jardim Goiás – e outras com o módico valor de aproximadamente R$ 3 mil para um lote de cerca de 350 m². Foi tudo isso que gerou a necessidade da adoção de políticas de desenvolvimento urbano regional em nosso estado, o que deveria cumprir o papel de reduzir as desi- gualdades históricas construídas sob a égide do binômio neoliberalismo/globalização, na atual dinâmica capitalis- ta mundial. Referências: CHAVEIRO, Egmar Felício. Goiânia, uma metrópole em traves- sia. 2001. Tese. (Doutorado em Geografia Humana) – Departamento de Geografia, USP, São Paulo, 2001. A práxis simbólica do Goiás profundo. Goiânia: Mimeógrafo, 2007. ___.Símbolos das paisagens do cerrado goiano. In: ALMEIDA, Maria Geralda (Org.). Tantos cerrados. Goiânia: Ed. Vieria, 2005. P. 47-62. __ . A captura do território goiano e a sua múltipla dimensão so- cioespacial. Goiânia: Gráfica e Editora Modelo, 2005. ESTEVAM, Luís. Tempo da transformação: estrutura e dinâmica econômica de Goiás. Goiânia: Ed.da UCG, 2004 3.4. AS TRANSFORMAÇÕES ECONÔMICAS COM A CONSTRUÇÃO DE GOIÂNIA E BRASÍ- LIA, INDUSTRIALIZAÇÃO, INFRAESTRUTURA E PLANEJAMENTO. A construção de Goiânia Na realidade, a ideia de mudar a capital de Goiás não era um desejo só de Pedro Ludovico Teixeira - fundador de Goiânia. Em 1830, o segundo governador de Goiaz no Império, Marechal de campo Miguel Lino de Morais já manifestava, pela primeira vez, esse desejo. 33 anos depois, o 16º governador do Estado, José Vieira Couto Magalhães, volta a falar na necessidade dessa mudança em seu livro Primeira Viagem ao Araguaia. "Decaímos desde que a indústria do ouro desapareceu, a situação da cidade de Goiás era excelentequando a Província era au- rífera. Hoje, porém, que está demonstrado que a criação de gado e a agricultura valem mais do que tantas minas de ouro que existam pela Província, continuar a Capital aqui é condenar-nos à morte por inanição, assim como morreu a indústria que indicou a escolha deste lugar. Uma população de cinco mil almas, colocada em lugar desfavorável, não pode nada mais produzir para a sua nutrição". Depois dele, a ideia foi sustentada por legisladores goianos. A constituição do Estado de 1891, inclusive sua reforma de 1898, e a de 1918 previam taxativamente a transferência da sede do governo, havendo disposto esta última, em seu artigo 5º: "A cidade de Goiás continuará a ser a capital do Estado, enquanto outra coisa não liberar o Congresso". Mas, a concretização da mudança da capi- tal de Goiás só veio acontecer mesmo com o então Inter- ventor destinado a vir para Goiás, Pedro Ludovico Tei- xeira. Pedro tinha o objetivo de tirar o poder dos coro- néis e a mudança da capital era parte importante dessa estratégia política. A Construção de Goiânia em 1933, é considerada o marco da modernidade da Era Vargas. Fatores para a construção de Goiânia Integração do interior com o litoral (Marcha para o Oeste) Geografia plana, diferente de Vila Boa que tem relevo irregular Possibilidade de crescimento Estratégia política para enfraquecer o coronelis- mo, na época representado pelo Caiadismo. A mudança do centro administrativo da área de in- fluência dos Caiado. Pedro Ludovico Teixeira Nasceu na cidade de Goiás em 1891. Cursou medici- na na Universidade do Brasil. Engajou-se na revolução de 1930 em Rio Verde onde morava e exercia a profissão de médico. Com o movimento vitorioso, ele, que havia sido preso e estava sendo conduzido para a cidade de Goiás, formou a junta governativa com três membros. Logo em seguida, foi nomeado interventor federal pela primeira vez. Idealizou a construção de Goiânia e a mudança da Capital, cuja pedra fundamental foi lançada dia 24 de Outubro de 1933. A Capital foi transferida em Março de 1937. Pedro foi um dos fundadores do PSD em Goiás. Foi eleito Senador em 1968. Morreu, em Goiânia no dia 17 de Agosto de 1979, de ataque cardíaco. Projeto de Goiânia 10 Realidade Étnica do Estado de Goiás Obra do urbanista Atílio Correia Lima, o projeto de Goiânia consistia de uma organização geral do traçado da cidade, partindo de um núcleo central e se desenvol- vendo em torno dele, com um plano diretor, compreen- dendo sistema de logradouros públicos; zoneamento da cidade; esgoto, luz e força; sistema de parques, jardins ruas e avenidas; áreas para serviço de limpeza e regula- mento das construções. Atílio Correia Lima ainda rece- beu a incumbência de projetar os edifícios do Centro Cí- vico: Palácio do Governo, Secretaria Geral do Estado, Diretoria Geral da Segurança e Assistência Pública, Pa- lácio da Justiça, Palácio da Instrução e Quartel da Força Pública. A cidade que nasceu da prancheta de Atílio Correia Lima e transformou- se na metrópole de hoje, com mais de 1.200.000 habitantes, foi plantada nos campos do município de Campinas. Pedra fundamental A pedra fundamental de Goiânia foi lançada a 24 de outubro de 1933, com o comparecimento de diversas ca- ravanas chegadas do interior do Estado. Houve a missa solene, realizada pelo padre Agostinho Foster e celebra- da com acompanhamento do coro de Santa Clara, em pleno altiplano, no local onde deveria ser construída a Praça Cívica. Após a missa, foi dado início à roçagem do lugar. E foi naquele momento que num vibrante discurso, Pedro Ludovico enfatizou: "Prevejo que, dentro de cinco anos, grande porção desta área destinada à futura cidade estará coberta de luxuosas e alegres vivendas. A 20 de novembro de 1935, em meio a uma grande festa instalou-se o Município de Goiânia, onde Pedro Ludovico já residia e afirmava: " Para melhor e mais rá- pido adiantamento das obras de construção da nova me- trópole, transferi para cá a sede do Governo do Estado, trazendo comigo logo, a Secretaria-Geral que ficará tam- bém definitivamente". Nome e instalação "Petrônia". Este foi o nome escolhido através de con- curso em homenagem a Pedro Ludovico. Porém, pelo decreto de número 237, de 2 de agosto de 1935, que cri- ou o município e a comarca da nova Capital, ela recebeu o nome de Goiânia. História da Art. déco O Art. déco é o termo atual para definir o estilo for- malizado na Exposição Internacional de Artes Decorati- vas e Industriais Modernas realizada em Paris em 1925, a partir de quando se expande por cidades de todos os continentes urbanizados. O estilo Art déco, vertente decorativa do Modernis- mo, busca inspiração na arte mesopotâmica e egípcia de antes de Cristo, na arte cretense, etrusca e greco-romana, na arte dos índios americanos (maias, astecas e marajoa- ras), no gótico medieval. Posteriormente, expressões estéticas do século XX foram incorporadas ao estilo, como Cubismo, Construti- vismo, Futurismo, Neo-plasticismo, Streamline. A principal característica do estilo Art. déco é a ex- plícita geometrização dos volumes e dos temas decorati- vos, sejam figurativos ou abstratos. Etapas da Construção de Goiânia A mudança da capital não era apenas um problema na vida de Goiás. Era também a chave, o começo de solu- ção de todos os demais problemas. Mudando a sede do governo para um local que reunia todos os requisitos de cuja ausência absoluta se ressente a cidade de Goiás, te- remos andado meio caminho na direção da grandeza des- ta maravilhosa unidade central. “O governo não considerava a construção de uma nova capital um gasto, mas um investimento necessário para o desenvolvimento.” Nenhum obstáculo foi capaz de impedir a construção: nem a forte oposição política, nem a dificuldade de cons- truir uma cidade num lugar tão afastado, com pouco di- nheiro, e sem contar com uma infraestrutura industrial. A 24 de outubro – como homenagem à revolução – teve lugar o lançamento da primeira pedra. A partir deste momento, a construção progrediu rapidamente. A 7 de novembro de 1935, realizou-se a “mudança provisória”: o governador Pedro Ludovico deixou Goiás para fixar sua residência em Goiânia. Em Goiás, ficaram ainda a Câmara e o Judiciário. A mudança definitiva, ocorreu em 1937, quando os principais edifícios públicos já estavam concluídos. Cinco anos depois, em julho de 1942, foi re- alizado o “batismo cultural” de Goiânia, com grandes festas e a celebração de vários congressos de ordem na- cional. A cidade contava com mais de 15.000 habitantes, o dobro que a cidade de Goiás com seus 200 anos. Goiânia e Desenvolvimento de Goiás O problema do desenvolvimento é muito mais com- plexo e de muito mais lenta solução do que supunham os homens da Revolução de 30. Em 1942, com efeito, Goi- ânia, “chave do desenvolvimento geral de todo o Esta- do”, era uma cidade perfeitamente estabelecida, e o or- çamento estadual subia já a 26.000 contos (mais de cinco vezes o orçamento de 1930), mas o desenvolvimento do Estado estava longe de ser satisfatório. Para tomar um único índice: o censo de 1940 constatou que entre 563.262 pessoas de mais de 10 anos, só 148.937 sabiam ler e escrever. As comunicações, a saúde, a instrução, a carência de indústria, a baixa produtividade na agricultu- ra e na pecuária, a descapitalização da economia, a estru- tura da propriedade etc., etc., eram problemas ainda in- tactos, trabalho para várias gerações. A Revolução de 30, e sua obra principal em Goiás, a construção de Goiânia, podem considerar-se começo de uma nova etapa pelos rumos que marcaram mais que pelas realizações imedia- 11 Realidade Étnica do Estado de Goiás tas. A construção de Goiânia,uma das grandes obras do Brasil na época, devolveu aos goianos a confiança em si mesmos. Em vez de pensar-se na grandeza do passado, começou a pensar-se na grandeza do futuro. Ao mesmo tempo, a construção de Goiânia significava um primeiro grande impulso para a transformação da economia e da política econômica. O governo, até então preocupado quase unicamente em manter a ordem, promoveu, pela primeira vez em Goiás, uma obra de grande envergadu- ra, que mobilizou as energias latentes. A partir de 1940, Goiás passa a crescer em ritmo ace- lerado também em virtude do desbravamento do Mato Grosso Goiano, da campanha nacional de “Marcha para o Oeste” e da construção de Brasília. A população do Es- tado se multiplicou, estimulada pela forte imigração, ori- unda principalmente dos Estados do Maranhão, Bahia e Minas Gerais. A Construção de Goiânia, promoveu a abertura de novas estradas, tornando-se centro de ligação dentro do Estado e com outros Estados: favoreceu a imigração, e consequentemente o povoamento, acelerando a coloniza- ção do Mato Grosso goiano, zona de grande riqueza agrícola; criou o primeiro centro-urbano, que se não che- gou a constituir-se em centro industrial – como esperava os construtores. Por isso, a Revolução de 30 e a constru- ção de Goiânia, podem ser tomados como marco de uma nova etapa histórica para Goiás. 4. MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E URBANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO GOIANO. Introdução A partir da política de Estado de interiorização do de- senvolvimento com a implantação de uma infraestrutura de transporte nas primeiras décadas do século XX, das mudanças político-institucionais após 1930 e da constru- ção de Goiânia e Brasília, ocorreu a expansão da frontei- ra agrícola de Goiás. Sua integração ao circuito do mer- cado brasileiro apoiou-se no sistema ferroviário. Esses eventos estimularam o crescimento e a especialização da agropecuária em Goiás e o incremento da urbanização. Já a integração regional foi favorecida pela construção das rodovias que permitiram a circulação interna da pro- dução. Como resultado da política de modernização agrope- cuária, viabilizada pela política de integração do territó- rio nacional, a agricultura goiana passou por transforma- ções significativas, tendo como principal objetivo estrei- tar as relações entre o setor agrícola e o setor urbano- industrial. Entretanto, tal objetivo começou a ser alcan- çado no final da década de 1970 e início da década de 1980. Vários setores foram sendo absorvidos por esse processo, tais como as relações sociais de trabalho, o pa- drão tecnológico, a distribuição espacial da produção, as relações intersetoriais, com a formação do complexo agroindustrial e a inserção estatal. Modernização da agricultura goiana O Cerrado vai conhecer a modernização agrícola a partir da década de 1970. A região passa a ser um atrati- vo para a produção de soja, uma vez que se amplia a de- manda pelo produto nos mercados internacionais. Assim, esse período representa um marco histórico para a agri- cultura brasileira, através da aliança entre o Estado e a classe dominante rural, em que o Estado passa a interfe- rir diretamente nas suas formas de organizações e na po- lítica agrícola. Assim, o Estado fez investimentos em in- fraestruturas, pesquisas agronômicas e programas de crédito especiais. Todas as áreas do Cerrado foram con- sideradas aptas à produção agrícola, consequentemente, 50,6 milhões de hectares de terras foram incorporadas no processo produtivo, com as mais avançadas técnicas de cultivo (LABAIG, 1995). O projeto de colonização se tornou possível através da infraestrutura viária que permitiu a penetração de uma população rural migrante para o Centro-Oeste e a efetiva integração da região ao comércio nacional, promovendo a valorização das áreas ocupadas. As empresas coloniza- doras, representantes do setor privado, promoveram sig- nificativas transformações socioeconômicas e espaciais, a partir de uma política desenvolvimentista definida pelo poder público (ESTEVAM, 2004). A mudança da capital do país para o Planalto Central, com a construção de Brasília, a partir de 1956, no Go- verno de Juscelino Kubsticheck, o projeto de integração nacional promovido pela construção de rodovias, interli- gando Brasília a todas as capitais estaduais, entre 1968 e 1980, integraram a região de Goiás ao tráfego rodoviá- rio, criando condições para a expansão do sistema capita- lista. Esses fatores foram responsáveis pela expansão agrícola mais recente no Cerrado, resultando, a partir da década de 1970, na expansão da agricultura comercial. O governo federal e os estaduais elaboraram progra- mas e projetos de intervenção, de investimentos em in- fraestrutura e/ou financiamento através de crédito oficial à produção. A partir de 1975, com o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), os programas federais apresen- taram propostas mais objetivas e específicas de planeja- mento regional. Dessa maneira, a expansão da fronteira agrícola em Goiás dá-se a partir da incorporação de ex- tensas áreas de Cerrado ao processo produtivo. As políti- cas e os programas governamentais de ação direta sobre a região foram o Programa de Desenvolvimento dos Cer- rados (POLOCENTRO) e o Programa de Cooperação Nipo-brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados (PRODECER). Para a expansão da fronteira agrícola no Estado fo- ram necessários investimentos em pesquisas e atividades agropecuárias, que oferecessem informações sobre a via- bilidade técnica para a exploração dos solos do Cerrado, a partir da aplicação de várias técnicas de cultivo e crédi- tos rurais destinados à aquisição de tecnologias agrárias, tanto para investimentos em maquinários, desmatamen- tos, correção da acidez dos solos de Cerrado (adequação do pH voltada às práticas de cultivos), como para custeio na compra de insumos modernos. Essas políticas agríco- las genéricas induzidas pelo Estado, tanto em nível naci- 12 Realidade Étnica do Estado de Goiás onal como no próprio Estado de Goiás, criaram as condi- ções necessárias para a expansão da agricultura através da abertura e ocupação da região do Cerrado, “[...] pois tudo estava por ser feito, ainda era uma fronteira agrícola em implantação. [...].” (ARANTES ; BASTOS, 2004, p. 672). A fronteira agrícola abriu-se, definitivamente, para o Centro-Oeste, a partir da década de 1980. Com a implan- tação do POLOCENTRO, houve a drenagem de recursos para o aproveitamento intensivo de extensas faixas de terras, destinadas, anteriormente, à criação extensiva. O POLOCENTRO foi criado através do Decreto Federal nº 75.370, janeiro de 1975 com vigência até 1982. Conside- ra-se o programa de maior impacto sobre o crescimento da fronteira agropecuária do Centro-Oeste, abrangendo 70% das áreas territoriais dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e 30% das áreas de Goiás e Minas Gerais. Baseado na concepção de polos de crescimento foram selecionadas doze áreas de Cerrado que apresen- tavam certa infraestrutura e bom potencial agrícola. As áreas selecionadas receberam recursos para inves- timentos em melhoria da infraestrutura, totalizando 3.373 projetos aprovados, contabilizando um investi- mento de US$ 577 milhões. Foi oferecido um generoso sistema de crédito subsidiado para os proprietários que desejassem investir na agricultura. O programa oferecia linhas de crédito fundiário, de investimentos e de cus- teio. As taxas de juros eram fixadas em níveis reduzidos, sem correção monetária e oferecia, também, longos perí- odos de carência. Como nesse período a taxa inflacioná- ria do mercado financeiro era alta, o crédito foi compa- rado a uma doação para seus usuários. (ARANTES; BASTOS, 2004). Segundo Labaig (1995, p. 54, grifo do autor), “o PO- LOCENTRO foi a grande mãedo processo de desen- volvimento capitalista da agricultura” na região dos Cer- rados. Os potenciais beneficiários do programa foram os produtores rurais tradicionais (proprietários de médios a grandes estabelecimentos), pessoas físicas ou jurídicas e, ainda, as cooperativas, os órgãos públicos e os empresá- rios que se dedicaram à atividade agropecuária, assegu- rando a expansão da agricultura comercial no Cerrado. Entre os projetos aprovados, estão as fazendas com mais de 200ha (41,32alq) e, principalmente, as fazendas com mais de 1000ha (206,61alq). O programa fixou como meta que 60% da área explo- rada pelas fazendas fossem cultivadas com lavouras, sendo o restante destinado a pastagens plantadas. No iní- cio, o objetivo era incentivar a produção de alimentos. Mas, posteriormente, foram contempladas, também, as lavouras comerciais e o ‘brachiaria’ nas pastagens plan- tadas. Esse programa tornou-se referência na pesquisa e na geração de novas tecnologias através de alocação de re- cursos à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). As tecnologias e as pesquisas desenvolvi- das pela EMBRAPA estavam voltadas às necessidades dos médios e grandes produtores, às pessoas de certo ní- vel educacional e que gozassem de um espírito empreen- dedor. É sob esse perfil, e através do crédito subsidiado, que se dá a expansão do plantio de culturas de maior ren- tabilidade. O PRODECER foi sustentado de 1975 a 1979, depois desse período houve constantes cortes orçamentários. Em 1981, o crédito rural foi suspenso. Parte desses re- cursos foi destinada para investimentos de infraestrutura e como crédito em projetos agropecuários. O PRODE- CER expandiu-se para Goiás em 1985, oferecendo o cré- dito supervisionado. (PEREIRA, 2004). Foi através des- se programa que os agricultores experientes do Sul e Su- deste do país migraram para a região do Brasil Central. Os empréstimos fundiários foram concedidos para cobrir as despesas operacionais (aquisição de equipamentos, tecnologias e de subsistência da propriedade), sendo que o crédito era concedido a taxas de juros reais. Esse pro- grama teve sua maior concentração em Minas Gerais. Em Goiás ficou mais restrito ao entorno de Brasília, ge- rando um grande impacto na implantação de irrigação por “Pivô Central”. O programa Cooperativo Nipo-brasileiro para o Desenvolvimento do Cerrado (PRODECER) promove o assentamento de agricultores experientes do Sudeste e Sul do país na região do Cerrado. Para tanto, o programa é financiado com empréstimos da Agência Japonesa de Cooperação e Desen- volvimento Internacional (JICA), com con- trapartida do governo brasileiro. (WWF, 1995, p. 21). Tanto o PRODECER quanto o POLOCENTRO pro- moveram a expansão da atividade agrícola para além de suas áreas de abrangência, principalmente, nas áreas cir- cunvizinhas. A partir de 1980, houve uma certa conten- ção do crédito rural e eliminação gradativa do subsídio, em função das pressões do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Diante disso, o governo procurou adotar medidas internas que sustentassem as áreas incorporadas na produção agropecuária, como pre- ços mínimos diferenciados para cada região (diferencial de preços criado pelos custos de transporte) e demanda dos produtos cultivados com ajuda do PRODECER. Segundo o WWF (1995), com base nos programas governamentais, a agricultura comercial constitui uma atividade econômica artificialmente rentável, uma vez que é contemplada por incentivos creditícios. As formas de intervenção com resultado mais signifi- cativo no Cerrado foram a formação de pastagens plan- tadas e a lavoura comercial. As lavouras que se destacam na região são soja, milho, arroz, café, feijão e mandioca. A soja foi a cultura que mais se expandiu. A produção de soja era desprezível até a década de 1960, hoje ela repre- senta cerca de um quarto da produção nacional de grãos (WWF, 1995), com expressiva representação na produ- ção do município de Catalão. O Brasil, na década de 1970, passa a ser o segundo produtor mundial de soja. Até 1972, o país foi importador de óleo de soja, após esse período passa a ser exportador, alterando os hábitos alimentares da população. A soja, a partir de 1960, ad- quire cada vez mais importância para a agricultura brasi- 13 Realidade Étnica do Estado de Goiás leira em seu processo de internacionalização. A soja em Goiás começa a ser produzida a partir de 1969. Contudo, sua expressão comercial ocorreu a partir de 1975, com a venda ‘in natura’ desse produto para o mer- cado do Sul e Sudeste do país. Essa cultura se adaptou perfeitamente aos Cerrados do Sudoeste e Sul de Goiás. O eixo Sul/Sudoeste do Estado representou o início da produção e se sustenta como o mais importante polo de cultivo. Atualmente, a ênfase da economia goiana é a produ- ção de grãos, principalmente, soja e milho e, a produção de leite e carne. O Estado de Goiás ocupa lugar de desta- que nessas atividades no contexto nacional. O Brasil dis- põe de 15 milhões de hectares de Cerrado agricultável, dos quais 5 milhões estão em Goiás. Segundo dados da SEPLAN-GO (2003), a produção goiana de grão tem crescido acima da média brasileira, que nas duas últimas safras foi de 2.570kg/ha, enquanto a produtividade do Estado foi de 3.072kg/ha, ou seja, 19,53% acima da média nacional. Goiás saltou do 6º lugar no ranking nacional em 1995 para o 4º em 2002, perdendo somente para Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Os produtos que mais se destacaram na agricultura foram soja, cana, milho e café. O Estado vem apresentando avanços importantes na atividade pecuária, opondo-se à realidade das grandes fazendas de criação extensiva de gado com baixa produ- tividade, que dominou o Estado até a década de 1980. A formação de pastagens plantadas e melhoradas permitiu o crescimento da bovinocultura na região. A pecuária goiana conquistou avanços importantes, posicionando o Estado entre os maiores produtores brasileiros. O reba- nho bovino representa 10,8% do rebanho nacional, le- vando o Estado a ocupar o 4º lugar no ranking nacional. O rebanho goiano permanece estável desde 1990. A perspectiva, quanto a esse setor, é o aumento de produti- vidade mediante a profissionalização e modernização tecnológica da atividade, sem o aumento da área de pas- tagens (SEPLAN-GO, 2003). A produção de leite no Estado, a criação de suínos e aves também se encontram em plena expansão no Estado desde 1998. O crescimento da suinocultura é atribuído à melhoria de investimentos realizados, à ampliação das instalações e ao aumento da produtividade. Todo esse aporte de crescimento decorre da instalação de empresas voltadas ao setor em Goiás, como Perdigão (aves e suí- nos), Nutrisa (aves), Laticínios (leite e derivados), entre outras. Diante do caráter da modernização agropecuária em Goiás e no Brasil, ressaltam-se as mudanças estruturais desse processo sobre a organização do trabalho. Geral- mente, quando se fala em modernização da agricultura, prevalece a tendência em reduzir esse processo apenas aos aspectos relacionados às modificações ocorridas na base técnica da produção, na substituição das técnicas agrícolas, tradicionalmente usadas por técnicas ‘moder- nas’ e/ou a partir do aumento dos índices de utilização das máquinas e dos vários insumos agropecuários. Dessa forma, torna-se importante a compreensão dos conceitos sobre a questão agrária e a questão agrícola para a análi- se do processo de modernização da agricultura brasileira e seus reflexos sobre as relações sociais de trabalho. Dessa maneira, pondera-se que os novos conheci- mentos técnico-científicos, destinados ao setor agrícola, refletiram na produtividade do trabalho e, também, nas relações sociais de trabalho. Os proprietáriosdas fazen- das foram substituindo, gradualmente, as relações de tra- balho como a parceria, o arrendamento (expulsando os agregados) e incorporando a utilização do trabalhador temporário (o boia-fria). A forma de pagamento se torna cada vez mais assalariada e a organização da produção segue os modelos empresariais. O meio urbano, o mer- cado consumidor e de insumos agrícolas, as inovações tecnológicas orientam as condições da produção agrope- cuária. Todavia, as políticas agrícolas e agrárias sustentaram as distorções relativas ao regime de propriedade, posse e uso da terra, através da manutenção da concentração fundiária e a consequente exclusão de trabalhadores dos meios de produção. Com a integração da agricultura ao setor urba- no/industrial ocorreu uma dinamização em todos os seto- res da economia, o que refletiu sobre a dinâmica popula- cional, através dos movimentos migratórios, contribuin- do para o crescimento da população do Estado. Considerações finais A ocupação de Goiás caracterizou uma disputa por espaço e poder entre São Vicente e Rio de Janeiro, de- pois com Minas Gerais e, posteriormente, entre as de- mais regiões. A incorporação de novas regiões ao eixo mercantil em curso revela um contexto ineficiente da au- tonomia político-administrativa dos Capitães-Generais de São Vicente e dos bandeirantes nos territórios ocupados e anexados ao sistema colonial em vigência nesse período. Através dessa incorporação/anexação territorial, os colo- nos da vertente paulista promoveram a ocupação de todo o Centro-Oeste. Os novos espaços representaram pers- pectivas sociais, culturais e econômicas. Verifica-se que a ocupação histórica de Goiás se deu pela expansão de grandes fazendas para a criação exten- siva de gado bovino, com baixo aproveitamento econô- mico das terras, que foram sendo esfaceladas pela cadeia vintenária. Recentemente, com a implantação de inovações na base técnica da agricultura, ocorreu novamente a concen- tração das terras, agora nas mãos de grupos empresariais que cultivam a terra para a produção de grãos, visando a exportação, em um processo crescente de exploração dos recursos naturais e humanos e, ainda, contribuindo para a expulsão do homem da terra e, assim, eliminando as condições de desenvolvimento socioeconômico e socio- cultural da agricultura familiar. A partir da implantação de novos padrões tecnológi- cos de produção no estado goiano, assegurou-se a inser- 14 Realidade Étnica do Estado de Goiás ção dos solos ácidos e topografia plana dos Cerrados no circuito da produção nacional e internacional de produtos agropecuários. A ‘abundância’ de terra tornava-a um meio de produção relativamente barato, mas a ‘constru- ção’ do solo, como ‘limpeza’ das propriedades, correção e fertilização para cultivos exigiam um investimento de capital considerável. Os financiamentos eram concedidos a investimentos agropecuários de maior porte, como as lavouras comerciais de arroz, milho e soja. Essa política não interferiu de modo homogêneo nas unidades de pro- dução no Estado de Goiás, assim, não houve as mudan- ças necessárias que viabilizassem a modernização das pequenas e médias propriedades. As mudanças na base técnica da agricultura assegu- ram o aumento da produtividade do trabalho e a substi- tuição gradual das relações de trabalho, como a parceria, o arrendamento pela utilização do trabalhador temporá- rio, promovendo o agravamento dos problemas sociais que essa região enfrenta através do aumento da concen- tração das propriedades rurais. Em razão dos aspectos apresentados, destaca-se o caráter conservador, exclu- dente e concentrador da modernização agrícola goiana, reproduzindo os aspectos gerais da política nacional. A tendência geral é a incorporação cada vez maior dos re- cursos técnico-científicos na agricultura. O meio urbano, o mercado consumidor e de insumos agrícolas, as inova- ções tecnológicas orientam as condições da produção agropecuária, sugerindo uma crescente transferência se- torial da renda agrícola para os setores urbanos. *********************************************** 5. POPULAÇÃO GOIANA: POVOAMENTO, MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS E DENSIDADE DEMOGRÁFICA. Durante o século XIX a população de Goiás aumen- tou continuamente, não só pelo crescimento vegetativo, como pelas migrações dos Estados vizinhos. Os índios diminuíram quantitativamente e a contribuição estrangei- ra foi inexistente. A pecuária tornou-se o setor mais di- nâmico da economia. a) Correntes Migratórias A maioria dos mineiros que aqui permaneceu, após o desaparecimento do ouro como empresa pré-capitalista, vai dedicar-se a uma agricultura de subsistência e criação de gado. A pecuária trouxe como consequência o desen- volvimento da população. Correntes migratórias chega- vam a Goiás oriundas do Pará, do Maranhão, da Bahia, de Minas, povoando os inóspitos sertões. No sudoeste novos centros urbanos surgiram, sob o impulso da pecuá- ria: Rio Verde, Jataí, Mineiros, Caiapônia, Quirinópolis. No norte a pecuária trouxe intensa mestiçagem com o índio, que foi aproveitado como mão-de-obra na criação de gado. Em menor escala, também ocorreu a mestiça- gem com o negro. Os habitantes desta região dedicaram- se não só a criação de gado, mas também a exploração do babaçu, de pequenos roçados, do comércio do sal (muito rendoso) e a faiscarão. Nasceram novas cidades e outras já existentes tomaram novos impulsos sob o fluxo da pecuária: Imperatriz, Palmas, São José do Duro, São Domingos, Carolina, Arraias. b) Cronologia do povoamento Pelo exposto, viu se que a economia mineradora deu início ao processo de colonização de Goiás. Coube à pe- cuária desenvolver e aumentar sua população. A partir dos anos 30 do século XIX foi a população aumentando, sob os auspícios da pecuária: 1849 – 79.000 habitantes; 1856 – 122.000 habitantes; 1861 – 133.000 habitantes; 1872 – 149.000 habitantes; 1890 – 227.000 habitantes; 1900 – 255.000 habitantes. c) População Indígena Necessário se faz mencionar os aborígines, que con- tribuíram sobremaneira para a formação do grupo goia- no, principalmente no Norte do Estado. Saint-Hilaire afirma que por ocasião de sua viagem, Goiás era a Província que mais índios possuía “... a po- pulação portuguesa derramada nesta capitania não fora nunca suficientemente intensa para aniquilá-los todos. Com muito custo conseguira-se reunir certo número em aldeias; os outros viviam inteiramente selvagens nas ma- tas e nos lugares mais desertos”. Infelizmente, nunca foi possível precisar o número exato dos silvícolas goianos, como de todo o Brasil. Com o passar dos anos a coloni- zação trouxe o desaparecimento parcial dos naturais e a extinção total de várias tribos. d) Imigração estrangeira Não podemos deixar de mostrar a problemática da imigração europeia. Após a liberação do negro, grupos locais, identificados com interesse agrário, lutaram pela vida do imigrante europeu. O governo Montandom (1886) adquiriu do Vice- Presidente da Província, José Antônio Caiado, uma fazenda destinada a iniciar este ti- po de colonização. Mas as terras eram muito ruins, e os imigrantes italianos não chegaram nem a vir para o terri- tório goiano. Em 1896, o governo republicano de Goiás tentou mais uma vez impulsionar a imigração. Também sem êxito. Somente nas primeiras décadas do século XX se iniciou a imigração europeia em Goiás, em moldes muito modestos. Em 1920, três núcleos coloniais mais importantes de- senvolveram-se em Goiás: um de italianos em Inhumas; outro também de italianos no município de Anápolis (Nova Veneza); o terceiro, de portugueses, na fazenda Capim Puba no atual município de Goiânia. Em 1924, organizou-se a colônia de Uvá. 300 famílias, num total de 299 pessoas, instalaram-se no referidonúcleo, as de- mais se dispersaram. Em Anápolis, no ano de 1929 for- mou-se um núcleo de 7 famílias japonesas. Nos anos se- guintes juntaram-se outras famílias; estes pequenos gru- pos prosperaram pelo seu trabalho sistemático e pelas semelhanças de clima e solo. Foram estas as primeiras levas de colonos europeus que vieram para Goiás. As condições socioeconômicas do Brasil não possibi- litaram uma ação administrativa satisfatória em Goiás, durante o século XIX. A política goiana, por outra parte, 15 Realidade Étnica do Estado de Goiás era dirigida por Presidentes impostos pelo poder central. Somente no fim do período em referência, começou a adquirir feições próprias. Coexistiu no aspecto cultural um verdadeiro vazio. 6. ECONOMIA GOIANA: INDUSTRIALIZA- ÇÃO E INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES E COMUNICAÇÃO. Atualmente, a composição da economia do estado de Goiás está baseada na produção agrícola, na pecuária, no comércio e nas indústrias de mineração, alimentícia, de confecções, mobiliária, metalúrgia e madeireira. Agrope- cuária é a atividade mais explorada no estado. Em 2008, a contribuição de Goiás para o Produto In- terno Bruto (PIB) brasileiro foi de 2,5% e, no âmbito re- gional, sua participação foi de 27,6%. A composição do PIB goiano é a seguinte: Agropecuária: 11% Indústria: 27% Serviços: 62 Agricultura e pecuária O setor agropecuário tem sido tradicionalmente a ba- se da economia goiana. Nas três últimas décadas do sé- culo XX, Goiás foi uma das regiões de fronteira agrícola mais expressivas do país. Em muitas culturas, como soja, milho, arroz, feijão, tornou-se, naquele período, um dos maiores produtores do país. A principal área agrícola e pastoril do estado é a região do Mato Grosso de Goiás, onde se pratica uma agricultura diversificada, com arroz, milho, soja, feijão, algodão e mandioca. Apesar de possuir o segundo rebanho do país, Goiás observa uma tradição de baixa produtividade, tanto em nível de fertilidade quanto de idade de abate dos animais, idade de primeira parição e produção leiteira. A bovino- cultura de corte representa um segmento de importância fundamental para a economia do estado, tanto como fon- te de divisas, pelos excedentes exportáveis, quanto pelo expressivo contingente de mão-de-obra ocupado nessa atividade. Nos pastos plantados em antigos terrenos flo- restais (invernadas) engordam-se bovinos, criados nas áreas de cerrado, e mantém-se um rebanho de gado lei- teiro. O vale do Paranaíba é a segunda região econômica de Goiás e maior produtora de arroz e abacaxi. Culti- vam-se também milho, soja, feijão e mandioca. É grande o rebanho de leite e corte. A soja é o principal produto agrícola do estado Introduzida em 1980, a cultura foi aperfeiçoada pela obtenção de sementes adaptadas ao cerrado e aplicação de calcário e outros elementos para combater a acidez do solo. Com o lançamento de novas variedades de grãos mais resistentes à armazenagem e às pragas, registrou-se forte aumento de produtividade. A cultura do milho é ge- ralmente associada à criação de suínos e ao plantio de feijão. A cana-de-açúcar e a mandioca têm caráter de la- vouras de subsistência e servem ao fabrico de farinha, aguardente e rapadura. O extrativismo vegetal inclui ba- baçu, casca de angico, pequi e exploração de madeira, principalmente mogno. Energia e mineração A produção e distribuição de energia elétrica no esta- do está a cargo das Centrais Elétricas de Goiás (Celg). As principais usinas hidrelétricas do estado são Cachoei- ra Dourada, São Domingos, ambas da Celg, Serra da Mesa e Corumbá I, ambas de Furnas. Parte da energia produzida por Furnas supere o Distrito Federal e a região Sudeste. No subsolo de todo o estado existem importantes ja- zidas de calcário, já medidas e em condições de abaste- cer todos os municípios goianos, seja qual for o ritmo de crescimento do mercado de corretivos do solo. Há ainda jazidas consideráveis de ardósia, amianto, níquel, cobre, pirocloro, rutilo e argila, além de quantidades menores de manganês, dolomita, estanho, talco e cromita. Encon- tram-se ainda ouro, cristal-de-rocha, pedras preciosas (esmeraldas) e pedras semipreciosas. O estado possui excelente infraestrutura para extração de minerais não ferrosos, principalmente ouro, gemas, fosfato e calcário, além de minérios estratégicos, como titânio e terras ra- ras. Indústria Para tirar partido de sua vocação agrícola e de seus recursos minerais, a indústria goiana concentrou suas atividades inicialmente em bens de consumo não durá- veis e, a partir da década de 1970, nos bens intermediá- rios e na indústria extrativa. Em meados da década de 1990, o desenvolvimento industrial goiano era ainda in- cipiente, vulnerável aos constantes impactos negativos da conjuntura econômica nacional. Tal fragilidade redu- zia significativamente o dinamismo do setor secundário, incapaz de beneficiar-se devidamente das vantagens pro- porcionadas pela agropecuária e pelas imensas reservas minerais. Observava-se, porém, uma tendência à diversi- ficação, principalmente em setores da siderurgia. Aumentaram consideravelmente os setores da indús- tria extrativa e da produção de minerais não-metálicos, bens de capital e bens de consumo duráveis. Um dos principais ramos industriais do estado, que, no entanto, não acompanhou a tendência ascendente dos outros seto- res nas três últimas décadas do século XX, foi o da pro- dução de alimentos -- fabricação de laticínios, benefici- amento de produtos agrícolas e abate de animais -- con- centrado nas cidades de Goiânia, Anápolis e Itumbiara. Setores novos dinamizaram-se nesse mesmo período, como as indústrias metalúrgica, química, têxtil, de bebi- das, de vestuário, de madeira, editorial e gráfica. Um elemento coadjuvante de grande importância ao cresci- mento econômico foi a implantação dos distritos indus- triais, nos municípios de Anápolis, Itumbiara, Catalão, São Simão, Aparecida de Goiânia, Mineiros, Luziânia, Ipameri, Goianira, Posse, Porangatu, Iporá e Santo An- tônio do Descoberto. Transporte e comunicações Na década de 1970, em consonância com as diretri- zes federais, o estado de Goiás iniciou a implantação dos primeiros corredores de exportação, conceito que definiu rotas de transporte destinadas a ligar as áreas produtivas 16 Realidade Étnica do Estado de Goiás a algum porto, com prioridade para os excedentes agríco- las. Posteriormente, essas diretrizes foram aplicadas ao abastecimento, visando a articular os sistemas de arma- zenagem e escoamento de uma determinada área geográ- fica, de forma a adequar os fluxos das fontes de produ- ção até os centros de consumo ou terminais de embar- que, com destino ao mercado externo ou a outras regiões do país. No estado de Goiás estabeleceu-se uma rede ro- doviária capaz de dar sustentação ao transporte das regi- ões produtoras de grãos e minerais para os pontos de captação de cargas ferroviárias de Goiânia, Anápolis, Brasília, Pires do Rio e Catalão. Tal como ocorreu no restante do país, o transporte ferroviário e fluvial em Goiás foi relegado a segundo plano, devido à opção pelo transporte rodoviário. Na área de influência do corredor de exportação goiano, os principais troncos utilizados para atingir os pontos de transbordo ferroviário, sobretudo para a soja e o farelo, são: a BR-153, principal eixo de escoamento do norte de Goiás e de Tocantins, interligado ao ponto de transbordo rodo-ferroviário de Anápolis; a GO-060, que liga Ara- garças a Goiânia, numa distância de 388km; a BR-020, que liga o nordeste de Goiás à região oeste da Bahia e a Brasília, onde está instalado outro ponto de transbordo; a BR-060, que liga Santa Rita do Araguaia/Rio Verde a Goiânia; a BR-452, que liga Rio Verde a Itumbiara,
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