Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AVALIAÇÃO DO ENSINO PÚBLICO DE 1º GRAU NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Antônio G. da Silva, Ana Maria P. do Nascimento e Maria Goretti Alves Série Documental: Avaliação, n.4, mar./1995 SÉRIE DOCUMENTAL: AVALIAÇÃO ISSN - 0104-6551 n.l — Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica: Objetivos, Diretrizes, Produtos e Resultados n.2 — Planejamento Amostrai da Segunda Aferição do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (1993-1994) n.3 — Avaliação do Rendimento Escolar dos Alunos de 4ª e 8ª Séries do 1o Grau da Rede Estadual do Ensino do Município de Fortaleza — O Rendimento em Matemática na Escola Pública e as Expectativas dos Docentes em Relação aos Cursos de Capacitação — Avaliação e Perspectivas da Área de Ensino de Matemática no Brasil AVALIAÇÃO DO ENSINO PUBLICO DE 1 GRAU NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Antônio G. da Silva, Ana Maria P. do Nascimento e Maria Goretti Alves O INEP, através da Coordenadoria de Avaliação (COAV), tem concentrado suas atividades na ar- ticulação e desenvolvimento do SAEB. Para tan- to, tem contado com apoio da Secretaria de Educação Fundamental (SEF), Secretaria do De- senvolvimento, Inovação e Avaliação Educacio- nal e participação direta de todas as secretarias estaduais de educação, além de diversas secreta- rias municipais e especialistas das universidades brasileiras. Os trabalhos apresentados nesta Sé- rie Documental são decorrentes, fundamental- mente, de atividades relacionadas ao SAEB. En- tretanto não esgotam todas as análises possíveis a partir da base de dados disponível, em rede nacional, a todos os interessados. O presente texto foi encaminhado ao INEP em 1994. DIRETOR INTERINO Tancredo Maia Filho COORDENADORA DE PESQUISA, Substituta Maria de Lourdes Bittencourt COORDENADOR DE ADMINISTRAÇÃO Luís Carlos Veloso COORDENADOR DE AVALIAÇÃO E GERENTE DO SAEB Orlando Pilati COORDENADOR DE ESTUDOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS Tancredo Maia Filho GERENTE DO PROGRAMA EDITORIAL Arsênio Canísio Becker SUBGERENTE DE DISSEMINAÇÃO E CIRCULAÇÃO Sueli Macêdo Silveira GERENTE DO CENTRO DE INFORMAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS EM EDUCAÇÃO Gaetano Lo Mônaco RESPONSÁVEL EDITORIAL Cleusa Maria Alves CAPA Carla Vianna Prates NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA Maria Ângela T. Costa e Silva REVISÃO Cleusa Maria Alves José Adelmo Guimarães EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Mírian Santos Vieira APOIO GRÁFICO Maria das Graças José de Araújo Maria Madalena Argentino Mirna Amariles Beraldo Tiragem: 450 exemplares INEP - Gerência do Programa Editorial ou SAEB Campus da UnB, Acesso Sul - Asa Norte 70910-900 - Brasília /DF Fone: (061) 347-8970 Fax: (061) 273-3233 MODEM/BBS (061) 347-1005 (e-mailOrlando @inep.br) Uma das funções institucionais do INEP consiste em prover e estimular a disseminação e discussão de conhecimentos e informações sobre educação, visando a seu desenvolvimento e domínio público, através de sua produção editorial. Com o objetivo de contribuir para a democratização de parte desses conhecimentos, de modo mais ágil e dinâmico, o INEP criou recentemente as Séries Documentais, com o mesmo desenho de capa: elas formam um novo canal de comunicações, diversificado quanto a público, temática e referenciação; abrangendo vários campos, elas podem alcançar, com tiragens monitoradas, segmentos de público com maior presteza e focalização; cada série poderá captar material em diferentes fontes (pesquisas em andamento ou concluídas, estudos de caso, papers de pequena circulação, comunicações feitas em eventos técnico- científicos, textos estrangeiros de difícil acesso, etc). São as seguintes as séries: 1. Antecipações tem o objetivo de apresentar textos produzidos por pesquisadores nacionais, cuja circulação está em fase inicial nos meios acadêmicos e técnicos. 2. Avaliação tem o objetivo de apresentar textos e estudos produzidos pela Gerência de Avaliação. 3. Estudo de Políticas Públicas tem o objetivo de apresentar textos e documentos relevantes para subsidiar a formulação de políticas da Educação. 4. Eventos tem o objetivo de publicar textos e conferências apresentados em eventos, quando não se publicam seus anais. 5. Inovações tem o objetivo de apresentar textos produzidos pelo Centro de Referências sobre Inovações e Experimentos Educacionais (CRIE). 6. Rela: de Pesquisa tem o objetivo de apresentar relatos de pesquisas financiadas pelo INEP. 7. Traduções tem o objetivo de apresentar traduções de textos básicos sobre Educação produzidos no exterior. SUMÁRIO Apresentação ........................................................................................................... 9 Introdução ............................................................................................................... 9 Sistema de Avaliação da Educação Básica ............................................................. 10 Gestão Escolar......................................................................................................... 10 Diretor Capacitação e Formação ......................................................................... 11 Professor .................................................................................................... 14 Condições de Trabalho ............................................................................ 15 Prática Docente .......................................................................................... 15 Rendimento Escolar ................................................................................................ 17 Rendimento Escolar em Português .......................................................... 17 Rendimento Escolar em Matemática ........................................................ 20 Rendimento Escolar em Ciências .............................................................. 22 Conclusões do Rendimento Escolar .......................................................... 23 Considerações Finais .............................................................................................. 23 AVALIAÇÃO DO ENSINO PUBLICO DE 1º GRAU NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE* Antônio G. da Silva Ana Maria P. do Nascimento Maria Goretti Alves USFP/SEC/RN Apresentação Este trabalho é o resumo dos resultados de um estudo de avaliação do ensino de 1º grau das escolas públicas do Estado do Rio Grande do Norte. Realizado em 1990, o estudo que ora re- sumimos abrangeu amostra significativa de escolas das redes estadual e municipal Procurou diagnosticar entraves e proble- mas relacionados à direção das escolas, ao professor e ao rendimento dos alunos. A finalidade desta síntese, portanto, é le- var até à escola a informação precisa e segura sobre os principais problemas vi- venciados, atualmente, pelo ensino pú- blico de 1o grau. Esperamos, com isto, subsidiar diretores, professores e a comunidade escolar, no enfrentamento e na solução desses pro- blemas que a todos nós afligem. Introdução O sistema educacional brasileiro, em particular o ensino público de 1º grau, Síntese extraída do relatório Avaliação do Ensino Público de V Grau do RN, publicado em 1993, pela Unidade Setorial de Finanças e Planejamento da Secretaria de Educação e Cultura do Rio Grande do Norte (USFP/SEC/RN). vem, ao longo dos anos, sofrendo uma série de críticas, que desperta nos órgãos competentes a necessidade de uma re- visão na estrutura vigente. E preciso lembrar que o ensino de 1º grau é um dever constitucional, e o Es- tado é obrigado a garanti-lo para todo brasileiro, independente de idade. A meta mais ambiciosa para esse ensino é, então, a sua universalização efetiva, o que implica articular, com competência,acesso, permanência e qualidade a curto, médio e longo prazo. Portanto, a univer- salização ocorrerá efetivamente se for orientada por um processo de planeja- mento com ritmo e metas adequadas às realizações regionais, onde cada etapa deverá prever e criar condições para a sua efetivação. Frente ao índice alarmante de fracasso escolar, consubstanciado pelas altas ta- xas de evasão e repetência que perpas- sam o ensino de 1º grau, principalmente nas suas séries iniciais, é comum justifi- cá-lo unicamente por fatores de ordem econômica e que, portanto, extrapolam a responsabilidade do sistema educacional como um todo. Estudos recentes, no entanto, têm de- monstrado que fatores intra-escolares também têm tido igual peso no agrava- mento desse quadro, na medida em que o próprio processo de ensino-aprendiza- gem vem operando como mecanismo desmotivador e seletivo para a grande maioria dos alunos, sobretudo na rede pública. Melhorar a qualidade de ensino torna-se, a partir daí, uma tarefa urgente. Multide- terminada na sua gênese histórica e rela- tiva, na sua dinâmica, à melhoría da qua- lidade, é a questão maior a ser resolvida, no ensino de 1º grau. Que os alunos a- prendam, que diminua a repetência e au- mente a permanência na escola. Que o sistema educacional como um todo e a escola em particular cumpram competen- temente a função social a que se desti- nam. Que a passagem pela escola resulte na aquisição de conhecimentos e habili- dades significativos para a participação na sociedade. No sentido de subsidiar as secretarias estaduais de educação no redireciona- mento de seu processo de planejamento e gestão educacionais é que, em 1990, foi realizada, no Rio Grande do Norte a pesquisa SAEB, cuja proposta de traba- lho e resultados alcançados passa-se a descrever. Sistema de Avaliação da Educação Básica O SAEB, coordenado em nível nacional pelo INEP, visa avaliar as várias instân- cias do sistema educacional. Para um melhor desempenho da avalia- ção, foi realizada uma aplicação piloto em dois estados, Paraná e Rio Grande do Norte, com a finalidade básica de testar os instrumentos para a posterior pesquisa em nível nacional, que se deu em 1990. A pesquisa abrangeu 37 municípios em todo o Estado do Rio Grande do Norte, numa amostra representativa, que ouviu 185 escolas, considerando-se localização urbana e rural, dependência administra- tiva estadual e municipal, área Capital e Interior, e tamanho da escola segundo o número de salas de aula. — Dos 635 professores pesquisados, pre tendeu-se diagnosticar quais as condições de trabalho e a com- petência pedagógica. — Dos 128 diretores entrevistados, o es tudo objetivou avaliar em que medida a gestão escolar tornou-se mais eficiente e democrática. Foram testados 4.315 alunos de 1ª, 3a, 5a e 7ª séries, nas disciplinas Português, Mate- mática, Ciências e Redação. As provas constaram de conteúdos mínimos exigidos por disciplina, e visavam medir se as polí- ticas adotadas estão possibilitando o aces- so (escolarização) das crianças e a qualida- de do ensino ministrado. A coordenação da pesquisa em nível do Estado do Rio Grande do Norte ficou sob a responsabilidade da Unidade Seto- rial de Finanças e Planejamento/Secreta- ria de Educação e Cultura (USFP/SEC), com representantes da Sub-Coordenado- ria do 1º Grau e dos Núcleos Regionais de Educação. Gestão Escolar No quadro das preocupações com a uni- versalização do ensino e a preservação de sua qualidade que orientam a pesqui- sa do SAEB em seu todo, o item "Gestão Escolar" toma como ponto de partida a seguinte questão: — Em que medida a gestão educacional tornou-se mais eficiente e democrática? Para respondê-la, foram entrevistados 128 diretores e estudados os aspectos que caracterizam a escola na sua forma de organização, funcionamento, autonomia e participação, assim como a formação, experiência e percepção do seu diretor. Diretor Capacitação e Formação As estatísticas mostram que o nível esco- lar mais elevado para a maioria dos dire- tores corresponde, em 32,2% dos casos, ao 2º grau-magistério. Essa qualificação, mais coerente para a situação do docente de lº grau, está longe de representar um ideal para dirigentes escolares, cujo exer- cício de funções reclama níveis de com- petência elevados, mais compatíveis com um nível de escolarização superior, numa licenciatura plena de Pedagogia. Neste nível, contudo, só se enquadram 29,9% dos diretores das escolas, fenômeno esse que reduz, drasticamente, a profissionali- zação da gestão escolar. — Como se organizam e funcionam nos- sas escolas? No que diz respeito à organização e fun- cionamento da escola, destacamos as ati- vidades vinculadas ao planejamento, as- sim como as principais preocupações e atividades prioritariamente desenvolvi- das pelos diretores. Quanto ao planejamento, é bastante clara a elaboração de um plano de trabalho pa- ra 1990, ano-base para a pesquisa, em 82,5% das escolas envolvidas. No entanto, se por um lado os diretores da capital so- bressaem com um percentual de 94,3% de elaboração do plano nas suas escolas, por outro, é na zona rural onde se registra o maior contingente, de 53,8%, dos diretores que informaram sobre a não elaboração desse plano. Sensíveis diferenças são também encon- tradas entre os diretores, quanto ao nú- mero de horas/ano dedicadas ao planeja- mento do trabalho para o ano letivo. Na capital, a média de 58,6% horas ano indica um tempo significativamente maior que o tempo destinado ao planejamento do interior, cuja média é de 33,25% horas /ano. Esse tempo é, do mesmo modo, maior nas escolas da zona urbana (estadual e municipal) e nas escolas da rede estadual (rural e urbana). — Mas, dentro desse tempo destinado ao planejamento, qual o tratamento dis- pensado pelos diretores aos aspectos ad- ministrativos, organizacionais e pedagó- gicos? A pesquisa mostra que as horas dedica- das ao planejamento nos aspectos admi- nistrativos, organizacionais e pedagógi- cos da escola são distribuídas de forma mais ou menos equilibrada. Isoladamen- te, os aspectos pedagógicos apresentam a maior média, com 39,5% horas /ano. Somando-se, porém, as médias de 32,5% horas/ ano para os aspectos administrati- vos e de 23,8% hora/ano para os aspec- tos organizacionais, confirma-se a evi- dência de que a maior parte do tempo destinado ao planejamento da escola está concentrada nas atividades-meio. Pro- vavelmente, na execução desse plano, a direção da escola deve também ficar às voltas com as tarefas administrativas, restando então perguntar Quem respon- de pelas atividades pedagógicas da esco- la? Mais precisamente, quais as preocu- pações que orientam o trabalho da escola? Tomando como parâmetro uma escola de um a três, a pesquisa revela que a principal preocupação que orienta a ati- vidade dos diretores é adequar o trabalho da escola às expectativas da população, com média de 1,5. Em segundo lugar, a escola preocupa-se com o cumprimento das orientações dos órgãos superiores, com média de 1,5. O terceiro lugar, por ordem de importância, foi para a apropriação produtiva dos conheci- mentos pelos alunos, com média de 1,3. As questões que envolvem o processo de ensino e as necessidades efetivas dos alunos não foram objeto de preocupação do grupo de diretores pesquisados. Deli- neia-se, desse modo, um quadro em que a função precípua da escola, que é a so- cialização do conhecimento, é colocada num terceiro plano de prioridades. — Mas, qual a opinião dos diretores so- bre a realização do plano de trabalho da escola? Para mais da metade dos diretores, o plano da escola é satisfatoriamente exe- cutado, na medidaem que o percentual de realização situa-se entre 60 e 80%, tanto em relação aos aspectos adminis- trativos quanto aos pedagógicos. Para confirmar esse dado, observa-se que há considerável número de diretores que indicam a realização de 80% ou mais das atividades programadas para o ano letivo de 1990. Autonomia e Participação na Escola: Uto- pia ou Realidade? Os níveis de autonomia e participação da escola determinam o grau de sua efi- ciência e de suas vivências democráticas. De acordo com os diretores pesquisados, ao lado da preocupação com a qualidade do ensino, põe-se o empenho em ouvir as opiniões e sugestões de professores, funcionários e alunos sobre assuntos administrativos e pedagógicos. Por esta razão, os professores sentem-se à vonta- de para discutir com a direção as ques- tões relativas ao trabalho da escola. De- senvolver a co-responsabilidade na busca da solução de problemas, em suma, é objetivo prioritário da escola. No entanto, a escola mostra-se ineficien- te e improdutiva quanto às organizações escolares. De fato, em 73,6% das escolas sequer existem conselhos de classe; em 78,4% inexistem conselhos de pais; 72% desconhecem conselhos de alunos e 71,2% das escolas não contam com asso- ciações de pais e mestres. Segundo os diretores, a maioria dos pais ou responsáveis pelos alunos compare- cem à escola, mas não por preocupação com as tarefas escolares. Ao contrário, o percentual de pais que não se preocupam supera o de pais que se preocupam constantemente. Teremos o percentual de 52,1%, indicador da falta de interesse da família pelas obrigações escolares de seus filhos. Do ponto de vista de grupos de pessoas que participam das atividades de defi- nição de objetivos curriculares, métodos de ensino, avaliação da escola, avaliação dos alunos e utilização dos recursos fi- nanceiros, constata-se que a maioria das decisões é tomada pela direção da esco- la, com participação do pessoal técnico e da equipe de professores. A autonomia financeira, por seu turno, es- tá ausente do poder de decisão da escola. A pesquisa constata que não há participa- ção comunitária no planejamento, no orça- mento e na gestão de recursos — tudo de- pende das verbas destinadas pelo Estado ou pelos municípios. A quase totalidade dos recursos financeiros de que dispõem as escolas são repasses dos órgãos gover- namentais. A utilização desses recursos se dá, também quase que totalmente, com despesas básicas (materiais de limpeza, de consumo, didáticos, etc). Pouco ou nada desses recursos é destinado à inovação es- colar. Evidentemente, reconhecem 70% dos diretores, os recursos financeiras re- passados à escola são insatisfatórios. Funções do Diretor, Papel da Escola e Fracasso Escolar — Qual a principal função da direção de uma escola? Garantir o funcionamento eficiente da or- ganização escolar, opinou a maioria dos diretores. Para alguns, também, sua prin- cipal função é garantir a adequação do tra- balho pedagógico à realidade dos alunos. Contraditoriamente, a maioria afirma ter como principal preocupação, quando da definição dos objetivos escolares, uma definição dos conhecimentos relevantes a serem aprendidos pelos alunos, consi- derando-se as suas necessidades concre- tas e os compromissos da escola com a sociedade. No entanto, indicam os diretores que o principal objetivo (efetivamente) desen- volvido pela escola em 1990 foi no senti- do de oferecer educação de acordo com a legislação vigente. — Quais as causas do fracasso escolar? — indagou a pesquisa. A miséria na qual se encontra a maioria da população brasileira e a estrutura e funcionamento do sistema educacional brasileiro — afirmaram os diretores. Em contrapartida, pensam, os menos respon- sáveis neste caso são a organização inter- na da escola e a prática dos professores. A forma mais indicada para solucionar o problema do fracasso dos alunos, se- gundo os diretores pesquisados, está na mudança das condições de vida da po- pulação. Admitem, no entanto, que a reorientação da atuação dos professores e a reorganização da escola e das turmas podem contribuir para melhorar a pro- dutividade. Segundo os diretores, os aspectos que en- volvem desempenho da direção e do cor- po técnico/administrativo, assim como o funcionamento e relacionamento interno da escola, são os mais importantes para se avaliar o desempenho da escola. Com relação aos aspectos relacionados com a aprendizagem, o índice de evasão, a aprovação, a repetência do aluno e o re- lacionamento da escola com os pais e a comunidade onde está localizada não têm importância na avaliação de desempenho da escola. Essas constatações vêm confirmar a ten- dência de uma gestão escolar onde a fun- ção administrativa se sobrepõe à função pedagógica, que deve ser exercida, tam- bem, pelo diretor da escola. Em outras pa- lavras. significa dizer que a especificidade da escola — entendida como o espaço pri- vilegiado para a transmissão e produção do conhecimento — é colocada em segun- do plano pela maioria dos diretores entre- vistados. Na prática administrativa do co- tidiano da escola, o esforço para oferecer ensino de boa qualidade e contribuir para melhorar o nível de rendimento dos alu- nos e diminuir o índice de evasão não constitui prioridade do diretor, pois, para ele, o aspecto administrativo da escola é o início, meio e fim de sua função. Professor No conjunto das criticas que vêm sendo feitas à escola pública, uma das mais acirradas refere-se à baixa qualidade do ensino. Situação essa que constitui, atual- mente, um grande desafio para os profes- sores que, ano após ano, vêm convivendo com altos índices de reprovação e evasão nas primeiras séries do lº grau. A situação do professor no Rio Grande do Norte não difere da dos demais estados do país. Embora existam algumas diferen- ças regionais e estaduais, visíveis são a desvalorização e o descrédito que per- meiam a categoria. Compreendemos que as soluções para essas questões implicam mudanças estruturais de natureza social, econômica e política. Como entendemos, também, que alternativas para reduzir o fracasso escolar implicam a adoção de es- tratégias pedagógicas e administrativas mais eficientes, entre elas o investimento nos recursos humanos. Para tratar da valorização do magistério, o estudo consultou 635 professores e procurou responder à seguinte questão: — Quais são as condições de trabalho e a competência pedagógica do professor? Nesse sentido, o estudo procurou abran- ger vários aspectos relacionados ao pro- fessor, tais como: cursos de capacitação no magistério, tempo de trabalho no magistério, participação em associações de classe (sindicato), comunidade civil e a comunidade onde está localizada a es- cola. Como também: condições de traba- lho do professor, a prática docente, per- cepção do professor sobre sua função docente e o fracasso escolar. Quanto à participação em cursos ou trei- namento, detectou-se, no estudo, que os professores selecionam temas relaciona- dos à educação e a importância que atri- buem a esse conhecimento para o desen- volvimento do seu trabalho. O tempo de trabalho no magistério e, mais precisamente, a atuação como pro- fessor são variáveis importantes para a caracterização adequada do professor do ensino público de 1° grau no Rio Grande do Norte. Ainda que o número de anos de trabalho do professor no magistério seja um dado relevante, observamos não ser o mais importante para um bom de- sempenho das suas funções, pois cada professor pertence a um determinado grupo social, tem uma história de vida, uma compreensão de mundo e da socie- dade. Na sua trajetória de vida e de tra- balho no magistério, a práticapode re- velar a dimensão política a ela atribuída, seja pela clareza e coerência entre o fa- zer pedagógico e suas representações so- ciais, seja pelas contradições que per- meiam o "pensar" e o "agir" do profes- sor, no cotidiano da escola. Procurou-se conhecer a forma de partici- pação dos professores em organização da sociedade civil, particularmente o sindica- to, ou associações da comunidade onde está localizada a escola. Dos professores estudados, cerca de 59% não participam do seu sindicato — Sindicato dos Traba- lhadores de Educação do Estado do Rio Grande do Norte (SINTE/ RN) — e 47,9% não sabem da aplicação do Estatuto do Magistério Público de 1º e 2º Graus, de 02/08/80, depois de 12 anos de implan- tação, fato que deveria ser uma bandeira de luta da classe. No entanto, uma grande parte dos professores se mantém alheia a esse quadro. Quanto ao envolvimento do professor na comunidade onde a escola está inserida, 71,6% declararam que não participam. Percebemos, nessa análise, que há uma la- cuna entre o fazer pedagógico e o fazer político. O sindicato deveria oferecer ao professor uma formação mais ampla e participativa junto à sociedade e não ape- nas sindicai E preciso aprofundar a dis- cussão, para situar a categoria de traba- lhadores a que pertence o professor e que tipo de educação interessa para a classe trabalhadora. Condições de Trabalho Para analisar as condições intra-escola- res, os professores selecionaram uma lis- ta de problemas que dificultam seus tra- balhos, envolvendo o aluno, o currículo, a gestão administrativa, a prática peda- gógica, os equipamentos da escola e a família dos alunos. Em termos gerais, os problemas que mais se destacaram como existentes foram: o de- sinteresse e a falta de esforço dos alunos e dos pais; dificuldades econômicas ou cultu- rais das famílias dos alunos; falta de mate- riais didáticos adequados; falta de equipa- mentos em sala de aula; alunos indiscipli- nados, que faltam muito, e sem base para acompanhar o curso. E no tocante à escola e à família que se registram os mais altos percentuais nos problemas que dificultam ou afetam muito o trabalho do professor. As dificuldades econômicas ou culturais das famílias dos alunos representam um grande entrave para o bom desempenho do professor, uma vez que o compareci- mento dos pais à escola é inexpressivo. Em termos gerais, o estudo apresentou a fi- gura do professor como aquele que aparece com os mais altos percentuais de partici- pação em todas as atividades da escola, ex- ceto quando se trata da utilização de recur- sos financeiros, cuja maior representação es- tatística foi para a direção da escola. Os alu- nos também estão muito ausentes ou a- lheios a componentes importantes que defi- nem e podem influir no tipo de ensino que lhes é oferecido. Mas, a menor participação mesmo, na vida da escola, fica para os pais dos alunos, para os membros e os represen- tantes de entidades da comunidade. No conjunto das lutas pela democrati- zação, a participação na gestão da escola é uma questão que vai muito além da escolha dos seus dirigentes. Faz-se ne- cessário o envolvimento de toda a co- munidade escolar nesse processo: alu- nos, pais, professores. Prática Docente Referente ao planejamento de ensino, mais da metade dos professores, repre- sentando 57,5%, responderam que não houve orientação da Secretaria de Edu- cação e Cultura ou do Órgão Municipal de Educação, enquanto 34,8% confirma- ram ter recebido, desses órgãos, orien- tações e sugestões para elaboração de seu plano. Independentemente de ter recebido ou não orientação desses órgãos, 40,4% dos professores responderam ter elaborado seu plano para o ano letivo (1990) junto com toda a equipe da escola; 29,3% junto com colegas da área ou disciplina e 11,4% com especialistas e/ou diretor da escola. Como podemos observar, existem práticas de um trabalho coletivo de planejamento de ensino, mas ainda há professores que preferem trabalhar sozinhos. Com a moldura de um planejamento de ensino, que inclui discussão, troca de ex- periência e um nível de detalhamento até certo ponto mais próximo da dinâmica e do cotidiano vivido na escola, cabe inda- gar qual a principal preocupação dos pro- fessores quando elaboram seu plano de ensino. Os professores expressaram que a prin- cipal preocupação ao elaborar seu plano de ensino foi estabelecer relação entre os conteúdos, as experiências do aluno e a realidade da sociedade. No entanto, fica constatada, no estudo, uma certa contra- dição nas opiniões emitidas pelos pro- fessores referentes a toda essa situação, envolvendo alunos, escola, prática do- cente, fracasso, etc. Quando se trata de analisar os fatores intra-escolares asso- ciados à aprendizagem, o padrão expli- cativo de culpar os alunos é, entre os professores, uma atitude muito recorren- te. Um número considerável de profes- sores mostrou-se preocupado com os problemas educacionais, e está aberto a buscar esforços que venham mudar esse quadro. O estudo mostra-se contraditório no mo- mento em que os professores assumem que os conteúdos devem ser passados aos alunos, visando à compreensão da sociedade e a uma posterior transfor- mação. Entretanto, os professores conti- nuam utilizando os recursos didáticos tradicionais, tais como: o livro didático, a exposição oral da matéria e os exercí- cios passados no quadro, mesmo tendo o conhecimento de outras fontes de re- cursos didáticos. A maior parte vem tra- balhando tradicionalmente. Ficou evidenciada, no estudo, uma valo- rização por parte dos professores de as- pectos inerentes à competência pedagó- gica, tais como: a afetividade, hábitos de higiene e obediência, ficando demonstra- da a distância entre o que se espera da escola e o que de fato está acontecendo. Os professores expressaram que a princi- pal preocupação, ao elaborar seu plano de ensino, foi estabelecer relação entre os conteúdos, as experiências do aluno e a realidade da sociedade. Essa opinião divi- de-se entre achar que a função do profes- sor é a de ampliar os conhecimentos dos alunos, contribuindo para a sua capacida- de de transformação da sociedade, e a educação dos alunos de acordo com a le- gislação vigente. Se, por um lado, obser- vamos que quase a metade dos professo- res atribui a si uma função avançada, que aponta para a compreensão adequada do papel social da escola, por outro lado, identificamos que há, ainda, grande con- tingente de professores que compreendem sua função nos termos da legislação vi- gente, tão a gosto da Lei nº 5.692/71. Ficam evidenciadas as diversas opiniões que os professores têm referentes à função da escola, prática docente, fracasso esco- lar, etc. A maioria dos professores (totali- zando 55%) coloca o fracasso escolar co- mo reflexo dos problemas econômico-cul- turais, diante dos quais dificilmente a es- cola pode fazer algo mais efetivo. Aos professores pesquisados foi solicitada opinião sobre a aprendizagem de seus alunos, tomando por base o ano de 1990 (quando foi realizada a coleta dos dados). — 62,9% dos professores consideraram sa- tisfatórios os resultados da aprendizagem dos alunos e 23,6% opinaram em contrá- rio, isto é, resultados não satisfatórios. Como podemos observar, no estudo, não há uma opinião linear referente aos pro- blemas educacionais. Existem opiniões di- versas, que acabam comprometendo o bom funcionamento do processo educa- cional. Fica bastante evidenciado, na opinião dos professores, que o fracasso escolar é gerado por fatores econômicos, políticos e culturais e que a escola nada pode fazer para interferir nesse quadro. Qual é o papel da escola, senão o de pas- sar informações aosalunos, para que os mesmos venham a entender a sua realida- de, e fora e dentro da escola atuem como cidadãos conscientizados em prol de uma sociedade mais justa? Se o professor en- tende e reforça que a escola deve cami- nhar dissociada da sociedade, ele próprio está negando sua existência como cidadão. Rendimento Escolar Pretende-se, nesta síntese, analisar a si- tuação do ensino do 1º grau no Rio Gran- de do Norte, a partir dos resultados obti- dos nas provas aplicadas aos alunos das 1º e 3º séries, das disciplinas Português e Matemática (para as séries do 1º Grau Menor) e Português, Matemática, Ciências e Redação (para as séries 5ª e 7º do 1º Grau Maior), nas escolas públicas esta- duais e municipais. Os estudos do rendimento escolar, via de regra, referem-se ao desempenho do aluno em provas que visam verificar co- mo se concretiza a aprendizagem dos conhecimentos básicos, trabalhados pe- los professores em seus programas de ensino. E preciso deixar bem claro que o desem- penho dos alunos é um indicador dos mais significativos da função da insti- tuição social da escola pública. A pesquisa de rendimento abrangeu 4.315 alunos testados no Rio Grande do Norte, sendo 1.624 da capital e 2.691 do interior. Rendimento Escolar em Português 1ª série — A prova de Português para a 1ª série é composta de conteúdos míni- mos de conhecimentos correspondentes a essa série de estudos. Todas as ques- tões expressam o essencial do programa. O aspecto mais crítico, entre todos, foi o da questão relacionada à numeração de frases para formar uma estória, com um índice de acertos baixíssimo. Foram apontadas, também, como gran- des problemas na alfabetização, com rendimentos baixíssimos, as questões re- ferentes a: — Emprego das letras maiúsculas; — Emprego da pontuação; — Ordenação de sílabas para formar pa- lavras; — Formação de frases com figuras apre- sentadas; — Emprego do gênero, número e grau. Depois de detectados tais problemas, podemos concluir que é preciso que o processo de alfabetização não se consti- tua numa aprendizagem mecânica de leitura, mas se transforme num processo de alfabetização com maior exploração do domínio cognitivo, com a introdução e o uso cada vez mais consciente da ló- gica e do raciocínio. Os resultados dessa pesquisa, revelando índices tão baixos de acertos, indicam que o processo de alfabetização não incorpo- rou, adequadamente, os sistemas de re- presentação, impedindo que a criança ex- plore seu imaginário e sua experiência. 3ª série — Alunos da 3ª série do lº grau, após a passagem pelo processo de alfa- betização (1a série) e de fixação e apli- cação da leitura e escrita (2a série), caso tenham superado sem maiores obstáculos as dificuldades de aprendizagem re- lativas à leitura e à escrita, já demons- tram maior domínio do conhecimento e uso do vocabulário. Tudo isso em con- sonância com os próprios níveis de de- senvolvimento cognitivo da criança na faixa etária dos 9/10 anos. No entanto, a questão que teve um índice de acerto muito baixo foi exatamente numa área das mais importantes para os alunos da 3ª série, relativa à compreen- são da leitura. Enumeramos outras dificuldades apre- sentadas pelos alunos da 3a série: — Identificação de figuras; — Emprego gramatical e concordância; — Emprego do tempo verbal; — Uso da pontuação; — Estrutura de um bilhete; — Numeração de frases. Das maiores dificuldades encontradas, constata-se que a grande maioria dos alunos da 3ª série (84%) não está apta a identificar os elementos essenciais dos conteúdos da série correspondente. Podemos concluir, com base nesses re- sultados, que, numa prova que tratava basicamente de questões essenciais do curriculum mínimo da 3ª série, os alunos não estão preparados para cursar a série estudada, por falta de domínio dos con- teúdos das série anteriores. 5ª série — O teste elaborado para ava- liação do desempenho em Português dos alunos da 5a série consta de questões objetivas. Quanto ao conteúdo, situou-se dentro dos pré-requisitos mínimos desenvolvidos pelos professores na 5a série. A grande maioria das questões está cen- trada em torno de um texto gerador es- colhido de Carlos Drummond de Andra- de — Caso de Canário — numa lingua- gem no nível e a gosto das crianças. O aspecto mais crítico refere-se ao pro- cesso de assimilação da leitura e de mo- do geral, à compreensão do texto. Esta problemática reveste-se de alto significa- do, uma vez que está presente em todas as disciplinas do currículo e que todas elas, basicamente, dependem da compreensão da leitura. Seguem-se mais duas áreas críticas ine- rentes a esta série: dificuldades relacio- nadas à ortografia e à problemática da compreensão da leitura, relativa ao sig- nificado de palavras. Como complementação dos conhecimentos relativos aos conteúdos da 5ª série, a prova de Português constou também de uma redação, dentro de uma temática bastante apreciada pelos alunos: Uma surpresa que me deixou muito feliz. No conjunto, as estatísticas revelam pro- blemas cruciais de expressão escrita que, em última análise, se prendem a um pro- cesso de alfabetização deficiente. O desempenho dos alunos da 5ª série, em Redação, não preenche, rigorosamente, nenhum requisito, quer nos aspectos formais, na organização dos períodos ou na estrutura sintática das frases. O quadro de rendimento baixíssimo nas provas de Português e Redação apresenta- se como um agravante bastante abran- gente, uma vez que, não tendo os alunos o hábito de ler, torna-se impossível o enri- quecimento do vocabulário e a interpreta- ção de textos, dificultando o domínio da compreensão que permeia todas as disci- plinas estudadas pelos alunos. Necessária e urgente se faz a tomada de medidas que conduzam os alunos a ad- quirirem o domínio de compreensão e interpretação mais elevados, superando os aspectos mecanicistas da aprendiza- gem da leitura e da escrita, assegurando uma aprendizagem que penetre, simul- taneamente, na leitura da realidade do texto e na leitura da realidade da vida. 7ª série — O maior número de questões da prova de Português proposta aos alu- nos da 7ª série é inspirado no texto ge- rador BRINQUEDOS INCENDIÁRIOS, da autora Cecília Meireles. As questões exploram a compreensão da leitura e a interpretação do texto. As questões que tiveram um índice de acertos mais baixo continuam sendo as relacionadas à compreensão do texto e ao significado das palavras, questões es- sas que apresentam deficiência por parte dos alunos nas séries examinadas pelo SAEB. Ficou demonstrado no estudo que até as questões gramaticais mais corriqueiras, referentes a esse nível de ensino, conti- nuam sendo ignoradas pelos alunos, com índices de acerto inferiores ao esperado. Como complementação dos conhecimen- tos em língua portuguesa na 7a série, foi solicitada dos alunos uma redação dentro de uma temática livre, a partir do sugestivo título "Uma lembrança que guardo até hoje". Quando se analisam os resultados obtidos pelos alunos da 7ª série, referentes ao pro- cesso do domínio da comunicação, consta- ta-se que inúmeras barreiras impedem es- ta comunicação. Os erros gramaticais apresentados na prova de Português man- tiveram-se na redação de forma significati- va. O mau uso da pontuação e os erros ortográficos impedem a construção de um texto com harmonia entre princípio, meio e fim, predominando textos sem sentido, confusos, incoerentes. Podemos concluir que, na 7ª série, é pre- ciso equilibrar o ensino da língua com o recurso simultâneo da leitura e da escrita. Desenvolver o hábito de escrever e interpretar por escrito, disciplinando a capacidade do raciocínio,visando a ní- veis mais equilibrados de comunicação entre os alunos, através do emprego cor- reto da gramática adequada à expressão do pensamento. Rendimento Escolar em Matemática Passamos a analisar o rendimento escolar do 1º grau no Rio Grande do Norte, a partir dos resultados obtidos na prova de Matemática aplicada aos alunos das 1ª, 3ª, 5ª e 7ª séries. 1ª série — De uma maneira geral as maio- res dificuldades da prova de Matemática envolvem as operações simples de adição, subtração e multiplicação. Se, no conjunto, os alunos conseguiram realizar somas e subtrações simples com um grau relativo de dificuldades, estas tornaram-se mais evidentes quando se tratou de aplicar as técnicas operativas a situações-problema. Tal dificuldade pode ser atribuída tanto à falta do completo domínio da capacidade da leitura, inibindo seriamente a concen- tração dos alunos, como à ausência de uma metodologia do ensino da Matemáti- ca, onde a construção do conhecimento aconteça a partir de situações problemati- zadoras. Necessário se faz, urgentemente, uma revisão no processo de alfabetização dos alunos, onde esses sejam orientados a associar os conteúdos didáticos à sua realidade de vida, a partir da exploração do cognitivo, valorizando o raciocínio da criança e não a aprendizagem mecânica. 3ª série — No conjunto, o rendimento es- colar na 3ª série acusa uma sensível que- da em relação à 1a série. Estranhou-se, portanto, a falta de familiaridade dos alunos com questão bastante simples, como é o caso do emprego das técnicas operatórias da adição e da subtração. A situação mais problemática na prova foi a da questão relacionada ao sistema métrico. A quase totalidade dos alunos demonstrou grandes dificuldades em res- ponder à questão citada. 91% delas não têm a mínima idéia de quantos metros tem 1 km. O desconhecimento do signifi- cado preciso de noções como "quilôme- tro", "metro", "metade", "meio", "dúzia" e "meia dúzia" revela a falta de compreen- são da linguagem matemática, de manei- ra significativa. São questões, portanto, li- gadas a um processo de alfabetização que não prioriza a metodologia direcio- nada a levar o aluno a compreender, a pensar e raciocinar. Demonstraram total falta de raciocínio para solucionar as si- tuações-problema, deixando de realizar as operações mais fundamentais. Outra questão que aponta grande difi- culdade por parte dos alunos é relativa à identificação dos números ordinais. Fica constatado que não surte efeito os alunos aprenderem mecanicamente as operações-tarefa. Diante de um quadro tão crítico apresentado no estudo da 3a série, faz-se necessário que os professo- res efetuem uma revisão no ensino da Matemática, incorporando a esse ensino os conhecimentos dos números utilizados na vida cotidiana dos alunos; quando esse processo for introduzido, levando os alunos a aprenderem a Matemática de forma contextualizada, dificilmente deixarão de utilizar os mecanismos intelectuais necessários à solução dos problemas. 5ª série — Todas as questões trabalhadas na prova de Matemática foram conside- radas essenciais, tanto para o cumpri- mento das exigências curriculares quanto em função das necessidades de co- nhecimento dos alunos. Apesar de as questões exigirem o conteú- do mínimo para a 5ª série, 90% das ques- tões se apresentaram como efetivamente difíceis para todos os alunos. É crítico o rendimento dos alunos em re- lação à teoria dos conjuntos. Há pouco domínio da compreensão e habilidade para realizar cálculos básicos envolven- do as operações fundamentais. Os alunos demonstraram total inabilida- de em lidar com operações envolvendo os números naturais múltiplos e diviso- res, assim como os números racionais absolutos, quer na forma fracionária, quer na forma decimal. Com esses resultados, tem-se a impres- são de que a aprendizagem não obedece a um processo integrado e que cada as- sunto não tem nexo com todo o conheci- mento matemático. Os índices expressam um rendimento extremamente crítico relativo a quase to- dos os conteúdos do programa. Os alu- nos da capital e do campo não estão aprendendo o essencial da Matemática previsto para esse nível de ensino. Podemos concluir que o ensino da Mate- mática na 5ª série também necessita pas- sar por uma revisão; percebemos que es- ses resultados críticos são decorrentes de um processo de ensino inadequado, não valorizando a realidade e experiência do aluno. 7ª série — Os assuntos abordados na prova de Matemática foram considera- dos como essenciais em 70% dos casos, sendo os restantes tidos como comple- mentares a um bom conhecimento da Matemática nessa série de ensino. As questões que apresentaram mais difi- culdades foram as que exploravam cál- culo numérico e valor numérico. Os alu- nos demonstraram pouca habilidade para cálculos, sobretudo os que envolvem números inteiros negativos. Assim como as questões sobre cálculo algébrico e fa- toração, constatou-se, também, a ausên- cia da compreensão do conceito de po- tenciação e da regra prática de cada caso de produto notável ou de fatoração a ser desenvolvido. Os alunos também não estão familiariza- dos com o sistema de equações de 1º grau e com as inequações do 1º grau, onde surgiram dificuldades generaliza- das. Estas dificuldades se estenderam para as outras questões que trataram de conhecimentos de geometria elementar. A escola tem grande responsabilidade na baixa produtividade de seus alunos, pela sua ineficiência em proporcionar uma aprendizagem real. Uma retrospec- tíva da situação catastrófica do ensino da Matemática, ao longo do 1° grau da escola pública, mostra que o fracasso do rendimento escolar dos alunos expressa o descrédito da própria escola pública em sua função social. Rendimento Escolar em Ciências 5ª série — Os conteúdos explorados na prova de Ciências constituem, efetiva- mente, a essência dos conhecimentos exi- giveis nesse nível de ensino. As questões foram distribuídas em quatro grandes te- mas: o solo, a água, o ar e a ecologia. No primeiro tema — O solo: característi- cas gerais e suas relações com os seres vi- vos —, foram analisados os aspectos liga- dos aos tipos de solo, à preservação, aos processos de drenagem e à contaminação. No segundo tema — A água: caracterís- ticas gerais, suas relações com o meio e com os seres vivos —, procuram-se di- mensionar os conhecimentos dos alunos relativos aos estados físicos da água, sua importância, contaminação e princípio dos vasos comunicantes. No tema relativo ao ar, foram analisadas: suas características e suas relações com o ambiente físico e com seres vivos. Sobre ecologia, exploram-se conhecimen- tos relativos aos recursos naturais reno- váveis, preservação, necessidade de luz para os vegetais, a cadeia alimentar, a poluição (poluentes da água) e o equilí- brio da natureza. O baixo rendimento dos alunos da 5ª sé- rie, na prova de Ciências, apresenta-se com um agravante a mais no sistema de ensino, por tratar de questões, desconhe- cidas pelos alunos, que estão relaciona- das diretamente à sua existência. Parti- mos do principio de valorizar e explorar a capacidade cognitiva dos alunos, pois só a partir da compreensão e da leitura do mundo da criança é que chegaremos a resultados satisfatórios. Os professores de Ciências precisam en- fatizar as questões pertinentes à realida- de do aluno, visando a uma melhoria no ensino-aprendizagem a partir do con- texto em que o aluno está inserido, reco- nhecendo sua realidade local e relacio- nando-a com o todo. 7ª série — Os conteúdos trabalhados na prova de Ciências abrangem o conjunto dos sistemas que respondem pela sobre- vivência física do ser humano,contidos no curriculum mínimo da 7ª série. As questões mais críticas da prova de Ciências referem-se à origem dos ali- mentos, como também às questões rela- cionadas aos elementos integrantes do sistema da visão. Os juizes que validaram o instrumento observaram na prova duas grandes ten- dências: 50% das questões foram consi- deradas fáceis e 50% consideradas de di- ficuldade "média", não tendo caracteri- zado nenhuma questão como "difícil" de ser respondida pelos alunos. No entanto, todas as questões contaram com baixos índices de acerto, constituindo-se, por- tanto, em pontos críticos dos conteúdos de Ciências, na 7ª série. No conjunto, o desempenho dos alunos da 7ª série, com relação à prova de Ciências, pode ser considerado fraco, merecendo por parte dos professores uma avaliação ativa em relação aos con- teúdos, às metodologias adotadas e ao processo de ensino-aprendizagem. Conclusões do Rendimento Escolar A pesquisa sobre o rendimento escolar pôs em evidência a situação critica do desempenho dos alunos e das instituições escolares da rede pública de ensino do Rio Grande do Norte. Os índices expressam um rendimento ex- tremamente crítico. Relativamente a qua- se todos os conteúdos do programa das disciplinas Português, Matemática e Ciências os alunos da 1ª, 3ª, 5ª e 7ª séries do lº grau, da capital e do interior, da ci- dade e do campo, do estado e do muni- cípio, não estão aprendendo o essencial previsto para esse nível de ensino. A pesquisa, no seu conjunto, mostra que o ensino no Estado do Rio Grande do Norte atravessa momentos críticos, refletidos no baixo desempenho de seus alunos. Necessária se faz uma mudança urgente na forma do atendimento da rede escolar pública. Essa mudança supõe novas diretrizes político-educacionais a serem assumidas pelos agentes da educação, para as necessidades de aprendizagem de nossas crianças. Exige, também e simultaneamente, refor- mulações nas propostas curriculares e uma revisão das teorias pedagógicas vi- gentes, pois o fracasso dos alunos está diretamente associado às maneiras de atuação da escola. E preciso que o pro- cesso de ensino-aprendizagem não cons- titua uma aprendizagem mecânica, e sim, com uma maior exploração do domínio cognitivo com a introdução e o uso, cada vez mais consciente, da lógica e do raciocínio, em que o aluno associe os conteúdos didáticos à sua realidade de vida. Considerações Finais O estudo aqui apresentado pôs em evi- dência a situação crítica em que se en- contra o ensino público do lº grau. In- tenrionamos, a partir dessas informa- ções, somar esforços e mudar esse qua- dro, uma vez que só teremos uma socie- dade justa e igualitária com a valoriza- ção da educação. Entendemos que para atingirmos esse objetivo a figura do professor é funda- mental, aliado aos pais, aos alunos e à comunidade, buscando o real papel de cada contribuinte neste processo.
Compartilhar