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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Física Primeira Prova (Diurno) Disciplina: Física III-A - 2017/2 Data: 11/09/2017 Seção 1: Múltipla Escolha (5 × 0,9 = 4,5 pontos) 1. Sobre as linhas de um campo eletrostático não nulo, considere as afirmativas abaixo: (I) Duas linhas de um campo eletrostático nunca podem se cruzar, caso contrário o campo ficaria indefinido nos pontos de cruzamento. (II) O potencial eletrostático aumenta ao longo de uma linha de campo no sentido de sua orientação. (III) Linhas de campo eletrostático nunca podem ser fechadas, caso contrário o campo não teria caráter conservativo. São VERDADEIRAS as afirmativas: (a) I e III (b) I (c) II (d) III (e) I e II (f) II e III (g) I, II e III (h) Nenhuma delas. 2. Um cilindro circular infinito, isolante, de raio R pos- sui uma distribuição volumétrica de carga uniforme. Que tipo de dependência com a distância s ao eixo do cilindro podemos esperar para a intensidade do campo elétrico, E (s), nas regiões do espaço definidas por s < R e s > R, respectivamente? (a) E (s < R) ∼ s; E (s > R) ∼ 1 s ; (b) E (s < R) = 0; E (s > R) ∼ 1 s2 ; (c) E (s < R) = 0; E (s > R) ∼ 1 s ; (d) E (s < R) ∼ s; E (s > R) ∼ 1 s2 ; (e) E (s < R) ∼ s2; E (s > R) ∼ 1 s2 ; (f) E (s < R) ∼ s2; E (s > R) ∼ 1 s ; 3. Um dipolo elétrico é formado por duas partículas de mesma massa e cargas +q e −q (q > 0), unidas por um bastão rígido, fino, isolante e de massa desprezí- vel. Ele encontra-se inicialmente em repouso em uma região de campo eletrostático externo não-uniforme, como mostrado na figura abaixo. Seu eixo está ini- cialmente paralelo ao eixo OY do sistema de coor- denadas e as linhas orientadas representam as linhas do campo elétrico externo. Assinale a alternativa que melhor descreve o movimento subsequente do centro de massa (CM) do dipolo e o movimento de rotação do dipolo em torno de um eixo paralelo a OZ e que passa pelo CM. (a) O CM se deslocará no sentido +yˆ e as cargas irão girar em sentido horário. (b) O CM se deslocará no sentido +yˆ e as cargas irão girar em sentido anti-horário. (c) O CM se deslocará no sentido −xˆ e as cargas irão girar em sentido horário. (d) O CM se deslocará no sentido −xˆ e as cargas irão girar em sentido anti-horário. (e) O CM permanecerá em repouso e as cargas irão girar em sentido horário. (f) O CM permanecerá em repouso e as cargas irão girar em sentido anti-horário. 4. O potencial eletrostático numa região do espaço é dado por V (r) = V0 exp (−r 2/a2), onde V0 e a são constantes e r é a distância até a origem de um sis- tema de coordenadas. Sendo rˆ o unitário da direção radial, o campo elétrico nessa região do espaço é dado por: (a) ( 2r a2 ) V (r) rˆ (b) ( r2 a2 ) V (r) rˆ (c) − ( 2r a2 ) V (r) rˆ (d) − ( r2 a2 ) V (r) rˆ (e) ( 2a r2 ) V (r) rˆ (f) − ( 2a r2 ) V (r) rˆ 5. Sobre capacitores e dielétricos, considere as afirmati- vas abaixo: (I) Numa associação em série de capacitores, a dife- rença de potencial em cada capacitor da associação é a mesma diferença de potencial atuando no capacitor equivalente. (II) Numa associação em paralelo de capacitores, a carga do capacitor equivalente é a soma das cargas em cada um dos capacitores da associação. Gabarito Pág. 1 (III) Um material dielétrico é inserido em um capacitor de placas planas e paralelas de forma a ocupar todo o volume entre as placas. Se o capacitor for mantido isolado durante a inserção, a energia potencial elétrica armazenada nele será maior do que antes da inserção. São VERDADEIRAS as afirmativas: (a) II (b) I (c) III (d) I e II (e) I e III (f) II e III (g) I, II e III (h) Nenhuma delas. Gabarito Pág. 1 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Instituto de F´ısica F´ısica III – 2017/2 – Primeira Prova: 11/09/2017 (Diurno) Formula´rio ~F e = q ~E , ~E = k0 q r2 rˆ ( k0 = 1 4πǫ0 ) , ∮ S ~E ·d ~A = QSint ǫ0 , ~E = − ~∇V , V = k0 q r , U = k0 qq′ r , C = Q/V, U = 1 2 QV, uE = 1 2 ǫ0E 2, ∫ x dx x+ a = x− a ln |x+ a| + const, ln ( 1 + x 1− x ) = 2x+ 2 3 x3 + ... ( se |x| < 1 ) Sec¸a˜o 2: Questo˜es Discursivas (2,5 + 3,0 = 5,5 pontos) 1. (2,5 pontos) Uma barra fina e isolante de comprimento 2a e´ posicionada sobre o eixo OX de um sistema de coordenadas com seu centro sobre a origem, como mostrado na figura abaixo. Ela possui uma densidade linear de carga na˜o-uniforme dada por λ(x′) = λ0 x ′/a (−a ≤ x′ ≤ a), onde λ0 e´ uma constante positiva. Considere que o potencial ele´trico e´ nulo no infinito. (a) Determine o potencial ele´trico em um ponto P sobre o eixo OX , a uma distaˆncia x > a da origem. (1,5 pontos) (b) Obtenha uma expressa˜o assinto´tica para o resultado do item (a) no limite x ≫ a. Interprete o resultado. (1,0 ponto) 2. (3,0 pontos) Uma part´ıcula de carga Q e´ colocada no centro de um condutor em formato de casca esfe´rica, de raios interno a e externo b (b > a), carregado com carga total −Q. A situac¸a˜o e´ mostrada na figura abaixo. Sabe-se ainda que o sistema esta´ em equil´ıbrio eletrosta´tico. (a) Utilizando a lei de Gauss, determine o campo ele´trico (mo´dulo, direc¸a˜o e sentido) nas regio˜es do espac¸o definidas por r < a, a < r < b e r > b, onde r e´ a distaˆncia ao centro da casca. Esboce o gra´fico de sua intensidade como func¸a˜o de r. (1,5 pontos) (b) Determine a densidade superficial de carga nas su- perfcies interna e externa da casca condutora. (0,7 ponto) (c) Num ponto P distando 2b do centro do condutor e´ colocada e fixada uma part´ıcula de carga Q. Apo´s reestabelecido o equil´ıbrio eletrosta´tico no condutor, a forc¸a ele´trica sobre essa nova carga sera´ atrativa, re- pulsiva ou nula? Justifique sua resposta. (0,8 ponto) 1 Gabarito Sec¸a˜o 2: Questo˜es Discursivas (2,5 + 3,0 = 5,5 pontos) 1. Resoluc¸a˜o: (a) Considere um elemento de comprimento infinitesimal dx′, localizado em uma coordenada x′ com relac¸a˜o ao ponto O. Este elemento esta´ a uma distncia x − x′ do ponto P , como mostrado na figura abaixo. Ele possui uma carga dq = λ(x′)dx′ = λ0(x ′/a)dx′. Dessa forma, como ele pode ser tratado como uma carga puntiforme, sua contribuic¸a˜o para o potencial ele´trico em P e´ dada por: dV = 1 4πǫ0 dq x− x′ = 1 4πǫ0a λ0x ′dx′ x− x′ . Assim, o potencial ele´trico total no ponto P sera´: V (x) = ∫ dV = ∫ +a −a 1 4πǫ0a λ0x ′dx′ x− x′ = λ0 4πǫ0a ∫ +a −a x′dx′ x− x′ . A integral acima pode ser resolvida usando a integral fornecida no formula´rio, resultando em: V (x) = λ0 4πǫ0a [ x ln ( x+ a x− a ) − 2a ] . � (b) Utilizando a expansa˜o fornecida para o logaritmo, temos que, para x≫ a: ln ( x+ a x− a ) = ln ( 1 + a/x 1− a/x ) ≈ 2 a x + 2 3 (a x )3 . Substituindo na expressa˜o do potencial, obtemos: V (x) ≈ λ0 6πǫ0 (a x )2 . Vemos enta˜o que o potencial cai com 1/x2 nesse limite, correspondendo ao de um dipolo ele´trico. Isto ocorre porque a carga total da barra e´ nula, Q = ∫ dq = ∫ +a −a λ(x′)dx′ = 0, de forma que a contribuic¸a˜o de monopolo esta´ ausente. A barra claramente apresenta uma contribuio de dipolo ele´trico, uma vez que ela possui uma concentrac¸a˜o de cargas negativas em x′ < 0 e positivas em x′ > 0. � 2. Resoluc¸a˜o: (a) No interior de um condutor em equil´ıbrio eletrosta´tico, o campo ele´trico deve ser nulo, caso contra´rio haveria movimento efetivo de cargas. Dessa forma, temos: ~E(r) = ~0, a < r < b Podemos agora desenhar uma superf´ıcie gaussiana esfe´rica S1 inteiramente contida na parte macic¸a do condutor, como mostrado na figura abaixo. Utilizandoa informac¸ao acima, vemos que o fluxo de campo ele´trico atrave´s de S1 deve ser nulo. Portanto, pela lei de Gauss, uma carga −Q deve se distribuir pela superf´ıcie interna do condutor para compensar a carga +Q no interior da cavidade, uma vez que na˜o deve haver acu´mulo de cargas no interior de sua parte macic¸a. Ale´m disso, como o condutor tem simetria esfe´rica e a part´ıcula carregada esta´ no centro da cavidade, essa carga se distribuira´ uniformemente sobre a superf´ıcie interna do condutor. Por fim, como a carga total do condutor vale −Q, conclu´ımos que a carga total sobre a sua superf´ıcie externa e´ nula. Novamente, usando a simetria do problema, vemos que na˜o havera´ acu´mulo de carga em nenhum ponto sobre essa superf´ıcie. Vemos enta˜o que a distribuic¸a˜o de cargas no sistema apresenta simetria esfe´rica, de forma que o campo ele´trico tera´ a forma ~E = E(r)rˆ, onde r e´ a distaˆncia ao centro da casca condutora e rˆ e´ o unita´rio da 1 direc¸a˜o radial. Para explorar essa simetria, podemos desenhar outra superf´ıcie gaussiana esfe´rica S2 de raio arbitra´rio r, como mostrado na figura abaixo (para r > b). O fluxo de campo ele´trico atrave´s dessa superf´ıcie sera´ dado por: ΦS2E = ∮ S2 ~E.d ~A = ∮ S2 ~E.nˆdA = ∮ S2 E(r)rˆ.rˆdA = ∮ S2 E(r)dA = E(r) ∮ S2 dA = E(r)4πr2, onde usamos que o vetor normal e´ dado por rˆ e que a intensidade do campo ele´trico e´ constante sobre todos os pontos de S2, de modo que ela pode ser retirada da integral. Por outro lado, a carga total no interior de S2 dependera´ do valor de r, de acordo com as treˆs regio˜es de interesse. Para r > b, temos QS2int = 0, uma vez a soma das cargas da part´ıcula e das superf´ıcies interna e externa do condutor e´ nula. Portanto, a lei de Gauss da´: ΦS2E = QS2int ǫ0 → ~E = ~0, r > b Para a < r < b, temos tambe´m que QS2int = 0, de forma que E(r) = 0, em acordo com a nossa discussa˜o inicial. Por fim, para r < a, a superf´ıcie gaussiana englobara´ apenas a part´ıcula no interior da cavidade, de forma que QS2int = Q. Portanto, aplicando a lei de Gauss: ΦS2E = QS2int ǫ0 E(r)4πr2 = Q ǫ0 ~E = 1 4πǫ0 Q r2 rˆ, r < a O gra´fico da intensidade de ~E como func¸a˜o da distaˆncia r s`a origem e´ mostrado abaixo. Note que ha´ uma descontinuidade em r = a por causa da distribuic¸a˜o de cargas na superf´ıcie interna da casca. � (b) Como vimos acima, uma carga −Q se distribuira´ uniformemente sobre a superf´ıcie interna do condutor e na˜o havera´ nenhum acu´mulo de carga na superf´ıcie externa. Assim, as densidades superficiais de carga sera˜o: σsup−int = − Q 4πa2 e σsup−ext = 0 � 2 (c) Note que a nova part´ıcula e´ colocada na regia˜o exterior a` casca condutora. Dessa forma, ela induzira´ uma polarizac¸a˜o na superf´ıcie externa da casca, que continuara´ tendo carga nula mas possuira´ agora uma densidade superficial de carga na˜o-uniforme. Por outro lado, pode-se mostrar que a distribuic¸a˜o de cargas na superf´ıcie interna permanecera´ inalterada, continuando uniforme. Em raza˜o da polarizac¸a˜o na superf´ıcie externa, teremos cargas de sinal oposto ao da nova part´ıcula acumuladas em uma regia˜o da esfera mais pro´xima dela e cargas de mesmo sinal acumuladas em uma regia˜o mais afastada. Portanto, como a forc¸a que elementos de carga exercem sobre a part´ıcula diminui de intensidade com a distaˆncia, vemos que a forc¸a resultante que a nova part´ıcula sentira´ tera´ cara´ter atrativo. � 3