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QUESTÃO SOCIAL E POLÍTICAS PÚBLICAS: REVENDO O COMPROMISSO DA PSICOLOGIA Prof. Paulo Nascimento O surgimento da biopolítica na Modernidade Na modernidade, os Estados passam a assumir a tarefa de gerenciar a vida biológica das populações. Na prática, esse governo da vida biológica das populações tem a ver com o controle da natalidade/mortalidade, o gerenciamento das pestes e das demais enfermidades, as campanhas de vacinação, etc. Foucault chamou essas ações de “biopolítica”, e chamou de “biopoder” a esse exercício estatal. Características do Estado liberal Surgido pós-Revolução Francesa, propõe o conceito de soberania popular, democracia representativa e supremacia da Lei. Estrategicamente, é voltado para os interesses das oligarquias locais, tendo nas populações um mero elemento estatístico (ausências de políticas universais). Sua função precípua era a garantia da ordem e da segurança sociais. Ele é, portanto, o “paraíso dos profissionais liberais”. O Estado de bem estar-social (Welfare State) Surge no início do século XX como fruto das crises no âmbito econômico e das relações internacionais. Tem forte conotação tutelar. O Estado fortalece suas intervenções no âmbito econômico e em diversos aspectos da vida social, com ênfase na ideia do “progresso” do mundo urbano. As profissões humanísticas, como a Psicologia, ocupavam nesse contexto as atividades-meio (escola, indústria, exército, etc.). O Estado democrático de direito Perde suas conotações tutelares para ser partícipe, regulador e mediador dos processos sociopolíticos. O Estado e a sociedade são desafiados à luta pela conquista diuturna da própria democracia e pela implementação dos direitos, pela universalização efetiva de serviços essenciais, pela geração e distribuição de renda, pela garantia de acesso aos bens básicos e à democratização das oportunidades. O Estado Democrático de Direito é onde se articulam a iniciativa pública e a sociedade civil. A importância da Constituição Federal de 1988 Nela são garantidos, ou ao menos previstos em lei, os direitos civis, sociais, políticos, econômicos e culturais do cidadão brasileiro. No seu artigo 6º, a Carta Magna menciona o direito à saúde, educação, trabalho, alimentação, proteção à infância e à maternidade, assistência aos desamparados, entre outros. A Constituição Cidadã é, portanto, o grande marco legal para a proposição de várias políticas públicas, e para a consolidação de uma sociedade de direitos no Brasil. Um conceito de política pública Conjunto de decisões e de ações públicas resultante de um processo ou conjunto de processos juridicamente regulados e democraticamente construídos pelo Estado, em articulação com a sociedade civil, voltado, mediante a alocação imperativa e adequada de meios, para a busca explícita e razoável de realização de direitos, redistribuição de bens e oportunidades, objetivando vida digna para os cidadãos, como sujeitos e destinatários, e aprimoramento da comunidade e da coesão social. Destrinchando o conceito Processo juridicamente regulado. Democraticamente construído pelo Estado em articulação com a sociedade civil. Realização de direitos. Redistribuição de bens e oportunidades. Objetivando vida digna para os cidadãos. Aprimoramento da comunidade e coesão social. Outro conceito de políticas públicas As políticas públicas podem ser definidas como programas e ações do governo voltadas à resolução de diversos problemas enfrentados pela população, visando à garantia dos seus direitos fundamentais (PIRES, 2008). A implantação das políticas públicas Avaliação de problemas e demandas sociais Escolha das melhores estratégias de resolução do problema/demanda Planejamento das ações Alocução dos recursos, observando-se os parâmetros legais Implantação da política pública (fase executória) Monitoramento das fases executórias e acompanhamento da gestão Avaliação dos resultados finalísticos Correção de rumos ou confirmação das estratégias empregadas Relações entre Psicologia e políticas públicas Abre-se espaço para o profissional da Psicologia atue em atividades-fim, neste caso, em todo processo de implantação e execução das PP. O profissional da Psicologia é desafiado a atuar em regime transdisciplinar, superando o isolamento histórico da profissão. Abre-se um leque muito variado de novos espaços de atuação para os profissionais da Psicologia, ampliando o acesso da população a esses serviços. DIAGRAMA DE POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO DOS(AS) PSICÓLOGOS(AS) NAS POLÍTICAS PÚBLICAS Criação e relevância do CREPOP O CREPOP – Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas, do Conselho Federal de Psicologia (CFP) – crepop.pol.org.br/novo Compete ao CREPOP “um esforço de identificar as práticas dos psicólogos no interior das políticas públicas, práticas estas que estão dispersas, desorganizadas ou são eventuais e convocar os seus protagonistas, ou seja, aqueles psicólogos que são pioneiros ou que estão respondendo por essa prática, no sentido de que eles se organizem para produzir referências sobre essa atuação, para que depois possam ser documentadas e possam ser colocadas à disposição daqueles que as necessitam”. O desafio de superar a atuação clássica “Os profissionais da Psicologia ficam perdidos na Assistência Social, sem saber o que fazer, e muitos deles acabam desistindo até de concursos nos quais foram aprovados” (Simone Sampaio, assistente social). Os documentos legais não demarcam precisamente os modos de atuação profissional dos psicólogos nas políticas públicas. É preciso reinventar essa inserção.
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