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10 anos editorial Benefícios da interação com animais Gláucia Viola, editora “Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais nas suas faculdades mentais (...) os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento.” Charles Darwin A té poucos anos atrás, a opção por ter um animal de estimação era tratada apenas como uma forma de agradar às crianças ou ganhar uma companhia para quem se sentia solitário. No en- tanto, a relação entre os homens e os bichos, especialmente cachorros e gatos, mas não só eles, vem ganhando novos contornos ao longo da história e, hoje, esse convívio é considerado um dos melhores recursos terapêuticos para inúmeros problemas que prejudicam a qualidade de vida das pessoas, principalmente para quem vive em grandes centros urbanos. A forte ligação com os animais pode ser expli- cada pelo fato de que em um mundo que abusa da rapidez das informações e da competitividade exagerada, a insegurança e a descrença no ser humano sustentam a prática de cultuar objetos de satisfação. Com isso, a união com um animal de estimação pode se inserir nessa lógica. A partir dessa realidade, as terapias com animais ganham cada vez mais espaço e oferecem inúmeras al- ternativas para várias patologias. A zooterapia, ciência que estuda as formas terapêuticas do contato com os animais, oferece muitas possibilidades de aplicação. Trata-se de uma terapia com a presença de animais que promove estímulos ao toque no paciente com o objetivo de despertar sua sensibilidade tátil ou, até mesmo, reações psicológicas e emocionais. Esta edição da Psique Ciência&Vida aborda a questão com profundidade. Os tratamentos zooterapêuticos podem ser utilizados em crianças, idosos e pessoas que apresentam ALGUM� TIPO�DE�DElCIÐNCIA��/� CONTATO� COM�ANIMAIS� INCENTIVA� TAMBÏM�A� INTERA¥ÎO� SOCIAL�� 0OR� EXEMPLO�� CRIAN¥AS�COM�TRAUMAS�E�HISTØRICO�DE�ABUSO��QUE�POR�ESSA�RAZÎO�APRESENTAM�DIlCULDADES�DE�FORMA¥ÎO� DE�VÓNCULOS��PODEM��POR�MEIO�DOS�CÎES��CONQUISTAR�CONlAN¥A�E�FACILITAR�A�CRIA¥ÎO�E�FORTALECI- mento desses vínculos. A zooterapia pode ser um auxílio importante no tratamento de Alzheimer, AIDS, paralisia cerebral, demências, derrame, afasia, ansiedade, depressão, síndrome do pânico, fobia social e outros transtornos. (É�ALGUNS�TIPOS�DE�TERAPIA�COM�ANIMAIS�QUE�SÎO�INDICADOS�PARA�DEl- ciências motoras e mentais, paraplegia, sequelas de traumatismo cra- niano, autismo, distúrbios da fala e Síndrome de Down. Melhoram a ELASTICIDADE��A�mEXIBILIDADE��A�COORDENA¥ÎO�MOTORA��A�CAPACIDADE�DE� concentração, a acuidade visual, tátil, auditiva e olfativa, o domínio respiratório, o aumento da percepção do corpo e estimula sensações e percepções que incrementam o afeto e inserem o indivíduo na sociedade. O fato é que é impossível resistir a um afago de um bichinho dócil e cari- nhoso. Melhor ainda saber que isso traz muito mais benefícios que pensamos. Boa leitura! Gláucia Viola psique@escala.com.br www.facebook.com/RevistaPsiqueCienciaeVida CAPA AMIGOS PARA SEMPRE 0ESQUISAS�CIENTÓlCAS�REVELAM� OS�INÞMEROS�BENEFÓCIOS�FÓSICOS� E�PSICOLØGICOS�DA�INTERA¥ÎO� ENTRE�OS�HOMENS�E�OS�SEUS� ANIMAIS�DE�ESTIMA¥ÎO SUMÉRIO 2210 anos DOSSIÊ: FOBIAS ESTRANHAS 3EGUNDO�A�/-3�� ����DA�POPULA¥ÎO�SOFREM� COM�ALGUMA�FOBIA��E�MUITAS� SÎO�INCOMUNS�CAUSANDO� AINDA�MAIS�ANGÞSTIA�AO� PORTADOR�INCOMPREENDIDO MATÉRIAS ENTREVISTA /�PSICØLOGO�Breno Rosostolato Ï�ESPECIALISTA�EM�NOMOFOBIA�� TRANSTORNO�QUE�LEVA�PESSOAS� AO�USO�INCONTROLÉVEL�DO�CELULAR SEÇÕES 05 %-�#!-0/ 14 ).�&/#/� 16 350%26)3§/� 18 03)#/0/3)4)6! 20 03)#/0%$!'/')! 32 #/!#().' 34 ,)62/3 50 #)"%203)#/,/')!� 52 .%52/#)º.#)! 54 2%#523/3�(5-!./3 56 3%85!,)$!$%� 64 $)6§�,)4%2£2)/ 66 #).%-! 70 PERFIL 72 54),)$!$%�0·",)#!� 80 %-�#/.4!4/ 82 03)15)!42)!�&/2%.3% A importância do conjunto !S�ABORDAGENS�DAS� TERAPIAS DE GRUPO SE MOSTRAM�ElCAZES�NO� TRATAMENTO�DE�DIVERSAS� SÓNDROMES�E�COMPULSÜES Perigos do TEI 1UANDO�A�PESSOA�ENCONTRA� DIlCULDADES�EM�CONTER� COMPORTAMENTOS�IMPULSIVOS�� AGRESSIVOS�E�EXPLOSÜES�DE� RAIVA�Ï�SINAL�DO�TRANSTORNO� EXPLOSIVO�INTERMITENTE 58 08 74 IM AG EM D A CA PA : S HU TT ER ST OC K www.portalcienc iaevida.com.br psique ciência&v ida 35 F o b ias e s tra n h as As fobias se ap resentam com o uma das prin cipais manifestações dentro do esp ectro de ansied ade patológica e algumas pod em parecer be m estranhas ao s olhos comun s, mas devem se r levadas a sér io e tratadas co m o auxílio da psicoterapia e, às vezes, com intervenção p siquiátrica d o s s i ê F o b ias e s tra n h as MEDOS INCOM UNS E PERIGOSOS PA RA A SAÚDE SH UT TE RS TO CK 14/06/2016 22:15:18 35 www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5 em campo TREINAMENTO O treinamento de memória com componentes imprevisíveis pode ser MAIS�El�CAZ�NO�APRIMORAMENTO�DA� memória episódica do que treinar com elementos previsíveis, de acordo com novas descobertas de pesquisadores da UT Dallas, publicadas na revista Frontiers in Psychology. As memórias episódicas são aquelas ASSOCIADAS�A�EVENTOS�AUTOBIOGRÉl�COS�� como uma festa de aniversário do passado ou a primeira viagem a um parque de diversões. Esse tipo de memória é fundamental para a nossa capacidade de recontar histórias com precisão. O teste foi feito em 46 adultos com idade entre 60 e 86 anos em três fases diferentes: antes do treinamento de memória, imediatamente após o treinamento e um mês e meio após completar o treinamento. Os participantes foram separados em dois grupos – treinamento previsível ou treinamento imprevisível – e não diferiram em termos de educação ou habilidades cognitivas. (Fonte: ScienceDaily.com) MEMÓRIA DO CORPO Pesquisadores no Japão descobriram que movimentos repetitivos em lentos ESTÉGIOS�DE�APRENDIZAGEM�PODEM�ALTERAR� uma área do cérebro responsável pelo movimento e ajudar as pessoas a manter essas habilidades motoras. Estudos anteriores demonstraram que A�APRENDIZAGEM�DE�HABILIDADES�MOTORAS� REORGANIZA�CIRCUITOS�NEURAIS�NO�CØRTEX� motor primário (M1), uma área do cérebro responsável pelo movimento. Outros estudos também mostraram que o M1 desempenha um papel crucial na memória motora. (Fonte: ScienceDaily.com) por Jussara Goyano IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K CÉREBRO E COGNIÇÃO ESTUDO REVELA COMO MEMÓRIAS DE LONGO PRAZO SÃO APAGADAS .OSSAS�MEMØRIAS�SÎO�MANTIDAS�POR�SINALIZA¥ÎO�QUÓMICA�ENTRE�CÏLULAS�CERE BRAIS��E�ESTAS��POR�SUA�VEZ��DEPENDEM�DE�RECEPTORES�ESPECIALIZADOS�CHAMADOS� !-0!��1UANTO�MAIS�DELES�EXISTIREM�NA�SUPERF ÓCIE�ONDE�AS�CÏLULAS�CEREBRAIS�SE� conectam, mais consistente é a memória. Uma equipe de cientistas liderada por pesquisadores da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, descobriu, RECENTEMENTE�� QUE� O� PROCESSO� ATIVO� DE� LIMPEZA� DA�MEMØRIA� ACONTECE� EXATA MENTE�QUANDO�AS�CÏLULAS�DO�CÏREBRO�REMOVEM�RECEPTORES�!-0!�DAS�CONEXÜES� CEREBRAIS��!O�LONGO�DO�TEMPO��SE�A�MEMØRIA�NÎO�Ï�UTILIZADA��OS�!-0!�PODEM� DIMINUIR�DE�NÞMERO��FAZENDO�COM�QUE�ESTA�SEJA�APAGADA��GRADUALMENTE� /�ESTUDO�EM�RATOS�REVELOU�O�PROCESSO��APONTANDO�NOVAS�FORMAS�DE�COMBA TER�A�PERDA�DE�MEMØRIA�ASSOCIADA�A�CONDI¥ÜES�COMO�!LZHEIMER�E�OUTROS�TIPOS� de demência. Também a longa duração de memórias indesejadas (como nos CASOS�DE�TRANSTORNOS�DE�ESTRESSE�PØS TRAUMÉTICO��POR�EXEMPLO �PODERÉ�SER�DES vendada a partir da nova descoberta. !O�BLOQUEAR�A�REMO¥ÎO�DOS�RECEPTORES�!-0!�COM�UMA�DROGA�QUE�OS�MAN TÏM�NA�SUPERF ÓCIE�DA�CÏLULA�O�ESQUECIMENTO�NATURAL�DE�MEMØRIAS�PAROU��SEGUNdo a pesquisa. Drogas que atuam nesse bloqueio já estão sendo investigadas como alternativas terapêuticas. Os cientistas não descartam, porém, o caráter adaptativo do esquecimento, AUXILIANDO��INCLUSIVE��NA�APRENDIZAGEM� PARA SABER MAIS: P. V. Migues, L. Liu, G. E. B. Archbold, E. O. Einarsson, J. Wong, K. Bonasia, S. H. +O��9��4��7ANG��/��(ARDT��"LOCKING�SYNAPTIC�REMOVAL�OF�GLU!� CONTAINING�!-0!� RECEPTORS�PREVENTS�THE�NATURAL�FORGETTING�OF�LONG TERM�MEMORIES��Journal of Neu- roscience.�������V������N������P���������$/)����������*.%52/3#)����� ������� 6 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br HOMEM E SOCIEDADE CÉREBRO DÁ PRIORIDADE PARA INFORMAÇÃO GERADA POR AÇÕES COTIDIANAS LIGADAS A UM CONTEXTO SOCIAL .OSSO�CÏREBRO�PRESTA��AUTOMATICAMENTE��GRANDE�ATEN¥ÎO�AOS�ATOS�COTI DIANOS�LIGADOS�A�UM�CONTEXTO�SOCIAL��0ESQUISADORES�DE�"OCHUM�VERIl�CARAM� este fato com a ajuda da hipnose. O cérebro humano é mais sensível para a informação social, segundo CONCLUSÎO�DE�PESQUISADORES�DE�"OCHUM��!LEMANHA��/U�SEJA��A�ATEN¥ÎO�HU MANA�SE�INTENSIl�CA�NOS�ATOS�COTIDIANOS�ENVOLVIDOS�EM�UM�CONTEXTO�SOCIAL� 0ARA�CHEGAR�A�ESSA�DESCOBERTA��OS�CIENTISTAS�UTILIZARAM�HIPNOSE��EM�PAR TICIPANTES�DE�UM�ESTUDO��ANALISANDO��SEPARADAMENTE��A�ATEN¥ÎO�INVONLUNTÉ ria ( ) e voluntária (top-down �DESSAS�PESSOAS�EM�DETERMINADAS�SITU A¥ÜES��(IPNOTIZADAS��ELAS�ASSISTIRAM�A�UM�VÓDEO��ONDE�AS�PESSOAS�COLOCAM� moedas em tigelas de cores diferentes. Os pesquisadores esperavam que o processamento de informação social – neste caso, as atividades cotidianas DE�OUTRAS�PESSOAS�n�SERIA�PRIORIZADO�SOB�HIPNOSE��PORQUE�O�CÏREBRO�PROCESSA� automaticamente a informação no processo de atenção involuntária. 5SANDO� ELETROENCEFALOGRAl�A� �%%' �� A� EQUIPE� DE� PESQUISA� GRAVOU� UM� sinal que indica de que forma as ações intencionais são processadas. Eles COMPARARAM�ESSE�SINAL�ESPECÓl�CO��TANTO�NO�ESTADO�HIPNØTICO�QUANTO�NO�ES TADO�NÎO�HIPNØTICO��/�RESULTADO��O�SINAL�ESPECÓl�CO�FOI�n�COMO�ESPERADO�n� MAIS�FORTE�QUANDO�OS�PARTICIPANTES�FORAM�HIPNOTIZADOS��3E�OS�PROCESSOS�DE� ATEN¥ÎO�VOLUNTÉRIA�SÎO�DE SATIVADOS� ATRAVÏS� DA� HIP nose, o cérebro, portanto, PRIORIZA� O� PROCESSAMENTO� de informação social. O projeto demonstra, ALÏM� DA� RELEVÊNCIA� DA� IN formação social para o cérebro humano, até que PONTO�A�HIPNOSE�Ï�UMA�OP ção viável para a análise de processos cognitivos. PARA SABER MAIS: Eleonore Neufeld, Elliot #�� "ROWN�� 3IE )N� ,EE 'RIMM��!LBERT� .EWEN��-ARTIN� "RàNE�� )NTENTIONAL� ACTION� PROCESSING� RESULTS� FROM� AUTOMATIC� BOTTOM UP� ATTENTION�� AN� %%' INVESTIGATION� INTO� THE� SOCIAL� RELEVANCE� HYPOTHESIS� USING� HYPNOSIS�� Consciousness and Cognition, n. 42, p. 101, 2016. 42: 101 DOI: 10.1016/j. concog.2016.03.002 IM AG EN S: S HU TT ER ST O CK / AR Q UI VO P ES SO AL Jussara Goyano é jornalista. Estuda Psicologia, Medicina Comportamental e Neurociências, com foco em ������È�I�G9�H��¢���G�����������G�I�:�U�I�GI��I�����IG G� pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. ATIVIDADE FÍSICA COMO RETARDAR O ENVELHECIMENTO DA MASSA CINZENTA USANDO AS ESCADAS 5M�ESTUDO� RECENTEMENTE�PUBLICADO�NA� RE vista Neurobiology of Aging��COORDENADO�POR�PES quisador do Concordia University’s Montreal-based Perform Centre, mostra que quanto mais lances de escada uma pessoa sobe, e quanto mais anos de escola uma pessoa completa, “mais jovem” PARECERÉ�O�SEU�CÏREBRO�EM�UM�EXAME�DE�NEU roimagem. A aparência cerebral chega a seguir a proporção, em redução de idade, de 0,95 ano para cada ano de educação, e 0,58 ano no caso dos lances de escada. /S�CIENTISTAS�UTILIZARAM�RESSONÊNCIA�MAGNÏ TICA��-2) �PARA�EXAMINAR�DE�FORMA�NÎO�INVASIVA� OS�CÏREBROS�DE�����ADULTOS�SAUDÉVEIS��QUE�VARIA vam em idade de 19 a 79 anos. %LES�MEDIRAM�O�VOLUME�DA�MASSA�CINZENTA� ENCONTRADA�NOS�CÏREBROS�DOS�PARTICIPANTES�POR que o seu declínio, causado pelo encolhimento NEURAL�E�PERDA�NEURONAL��Ï�UMA�PARTE�MUITO�VI SÓVEL� DO�PROCESSO�DE� ENVELHECIMENTO� CRONOLØ gico. Em seguida, eles compararam o volume do cérebro com o número de lances de escada subidos e os anos de escolaridade completos, relatados pelos participantes. Os resultados foram claros: subir escadas e ESTUDAR��CADA�VEZ�MAIS��AO�LONGO�DA�VIDA��SØ�NOS� favorece. (Fonte: ScienceDaily.com) em campo IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7 NOVAS RELAÇÕES DE TRABALHO REVISTA SOCIOLOGIA - EDIÇÃO 64 giro escala A ESCOLA E O GÊNERO REVISTA FILOSOFIA - EDIÇÃO 118 As sociedades capitalistas passaram por profundas transformações no traba- lho e na produção. O crescimento de po- líticas neoliberais, o desmantelamento da União Soviética, a quebra de monopólios estatais, reestruturações produtivas e au- mento do setor de serviços contribuíram para o surgimento de várias teses. Para tais teses, o marxismo seria uma teoria es- PECÓl�CA�DA�INDÞSTRIA�E�QUE�NÎO�DARIA�MAIS� conta de explicar à sociedade, ao ver que a centralidade do trabalho tipicamente fabril teria sido substituída pela produção IMATERIAL��!S�ÞLTIMAS�TRANSFORMA¥ÜES�NAS� QUALIl�CA¥ÜES� PROl�SSIONAIS�� PRODU¥ÎO� E� trabalho representariam uma radical mu- dança na lógica de produção. Um novo tipo de trabalho teria aparecido: aquele em que a sua produção é centrada em sis- temas tecnológicos e que apresenta como componente central o conhecimento. As teses apontadas anteriormente es- tão vinculadas à crise dos três eixos fun- damentais que aparecem na teoria de Karl Marx: trabalho, valor e classes. De tal ma- neira, o tripé conceitual que se determina A�PARTIR�DA�HISTORICIDADE�TEVE�NAS�ÞLTIMAS� décadas a contestação da sua validade. Os dois primeiros pontos, do trabalho e do valor, são enfraquecidos a partir de uma concepção de vinculação do trabalho apenas à atividade manual, tendo em vista QUE�SERIA�O�ÞNICO�CAPAZ�DE�MODIl�CAR�A�NA TUREZA�FÓSICA�DA�MATÏRIA��E�DE�CONSEQUEN TEMENTE�PRODUZIR�VALOR��3EGUIDO�A�ISSO��A� INEl�CÉCIA�DA�TEORIA�MARXISTA�QUANTO�A�SUA� teoria de classes se daria ao passo que a mesma se ligaria apenas à classe operá- ria. De tal maneira, para muitos autores contemporâneos, o valor seria caracte- rístico apenas da sociedade industrial, SENDO�PRODUZIDO�EFETIVAMENTE�PELA�CLASSE� operária a partir do trabalho manual. No entanto, não é bem assim que as coisas acontecem. Entenda melhor em matéria na edição 64 da revista Sociologia. A edição 118 da revista &ILOSOl�A TRAZ� UMA� ENTREVISTA� COM�#ELSO�+RAE MER�� DOUTOR� E� PROFESSOR� EM� &ILOSOl�A�� que aborda questões que envolvem a escola e a diversidade de gênero. O que as instituições de ensino, em geral, fa- ZEM�Ï�FALAR�DE�GÐNERO�POR�MEIO�DE�UMA� construção histórica, mas, ao mesmo tempo, a sociedade deseja ir além da- quilo que já está dado, movimentando- SE� PARA� ENFRENTAR� NOVOS� DESAl�OS� QUE� já foram colocados. A escola, segundo Kraemer, é um lugar que foi constru- ído a partir da heteronormatividade e que exerce uma regulação, mas ao confrontar-se com uma demanda que VEM�DA�SOCIEDADE�ELA�Ï�DESAl�ADA�A�UMA� revisão de posturas. E nesse momento de revisão e de debate, se apresentam pelo menos dois lados, alguns que de- fendem uma “ideologia de gênero”, e outros, uma diversidade de gênero que visa à aceitação e ao acolhimento do outro pelo olhar dos direitos humanos. Segundo Kraemer, algumas ini- ciativas no espaço escolar já foram tomadas, outras estão em curso, no- vos discursos são construídos, mas é preciso ter em mente a necessidade do combate à intolerância por meio de uma vivência ética no espaço escolar. Entretanto, o caminho nãoé fácil. A escola fala de gênero o tempo todo. %LA�DIVIDE�E�ORGANIZA�OS�PROFESSORES�E� as professoras em dois gêneros e nunca um professor pode passar-se por pro- fessora, por exemplo, e isso é falar de gênero. Um menino não pode se pas- sar por menina, aos meninos espera-se uma conduta de meninos e essa con- duta não pode ser subvertida em forma DE�MENINA��!� ESCOLA� ORGANIZA� TODO� O� ESPA¥O��O�BANHEIRO��A�ORGANIZA¥ÎO�DAS� l�LAS��DO�ESPA¥O�INTERNO��DA�LINGUAGEM�� da vestimenta, do corte do cabelo, tudo por gênero. Por isso, é preciso criar no- vos paradigmas. RENATO JANINE RIBEIRO Propriedade social: o impulso anarquista na obra de Karl Marx CELSO KRAEMER O ambiente escolar e o discurso de gênero para além do espaço heteronormativo ENCAR TE DO PR OFESS ORReflex ão e práti ca 107 Com c urador ia de C arolin a Deso ti Fern andes e Tiago Brent am Pe rencin i Carol ina De soti Fe rnand es�Ï��GRAD UADA�EM �&ILOSOl� A� PELA�05# #AMPIN AS��0ESQU ISA�A�INm� UÐNCIA�A FRICANA�N A� FORMA¥Î O�DA�IDEN TIDADE�C ULTURAL�B RASILEIRA ��¡�EDITO RA�� REDATORA �E�PRODU TORA�CULT URAL�� Tiago Brent am Pe rencin i Ï�LICENC IADO�E�B ACHAREL� EM� &ILOSOl�A ��-ESTRE �EM�%NS INO�DE�& ILOSOl�A� PELA�5N ESP�E� PROFESSO R�DE�&ILO SOl�A�#O NTEMPO RÊNEA�NA �&ACULDA DE� *OÎO�0AU LO�))�DE�- ARÓLIA� Epistemo logia patr iarcal Por que lim itar a Filos ofia tradic ional some nte pelo pe nsamento e por parâm etros masc ulinos, que prevalecer am ao long o do temp o? Filosofia f eminina Judith But ler e o que stionamen to acerca d a identidad e de gêner o XERCIC IO_118. indd 35 4/18/16 12:26 A M REFLEXÃO E PRÁTICA: A marginalidade da mulher na Filosofia Os necessários debates para um paradigma ético dos meios de comunicação IRONIA AMBIVALENTE O método irônico no itinerário fi losófi co de KIERKEGAARD CINEMA E ESTÉTICA A sétima arte no imaginário e o fomento ao espírito lúdico EDIÇÃO 118 - PREÇO R$ 9,80 ANO IX No 118 – www.portalcienciaevida.com.br ETICA NA MIDIA´ ´ RICARDO DELLO BUONO VÊ A SOCIOLOGIA COMO FERRAMENTA DE LIBERTAÇÃO em sala de aula: apresente o Anarquismo, suas vertentes e seus personagens www.portalcienciaevida.com.br Game of Thrones Artigo analisa arquétipos políticos de uma das séries mais populares da televisão Estudo de caso A agricultura familiar e a qualidade de vida do trabalhador rural Mundo laboral Mudanças nas DPOm�HVSBªFT� do trabalho não alteraram radicalmente a lógica da exploração Friedrich Engels Resenha de Anti-Dühring, um dos trabalhos mais importantes do pensador Como a esquerda nacional encarou essa ideologia, confundindo-a com puro populismo TRABALHISMO Uma reflexão sobre o 8 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br BRENO ROSOSTOLATO www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 9 O psicólogo Breno Rosostolato é especialista no diagnóstico e tratamento da nomofobia, transtorno que leva pessoas ao uso exagerado de aparelhos de telefone celular, podendo desencadear quadros de ansiedade e depressão E N T R E V I S T A A utilização da internet nos chamados DISPOSITIVOS�MØVEIS��INTENSIlCADA�PELA� facilidade e praticidade na obtenção e propagação de informações e conhecimento, compartilhamento de dados, REALIZA¥ÎO�DE�OPERA¥ÜES�lNANCEIRAS��COMPRA�DE� produtos, serviços e outras tarefas, é cada vez mais crescente na vida cotidiana. Os celulares, smartphones e computadores, objetos comuns na sociedade contemporânea, tornaram-se “necessários”. Entretanto, seu uso indiscriminado fez surgir um novo transtorno no universo psicológico e já considerado um dos grandes males do mundo moderno: a nomofobia, ou seja, a fobia ou o medo de permanecer isolado e desconectado do mundo virtual. Os sintomas da abstinência do uso de aparelhos tecnológicos no convívio social são tão graves que, em alguns casos, podem ser comparados à abstinência de drogas. Para o professor e psicólo- go da Faculdade Santa Marcelina (FASM), Breno Rosostolato, é necessário e urgente discutir com profundidade o problema da dependência desses aparelhos, uma vez que seu uso faz parte de um fenômeno social cada vez mais comum e rotineiro na relação das pessoas com a informatização. Breno Rosostolato é psicólogo, psicoterapeuta clínico especialista em sexualidade humana e educador sexual, pós-graduado em Arteterapia e Hipnose Clínica. Professor da Faculdade Santa Marcelina dos cursos de Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia no campus Itaquera. Articulista sobre artigos ligados à Psicologia, sexualidade, compor- tamento e tendências dos sites Mix Brasil (portal UOL), Be Style (portal R7), portais Terra e IG e ainda nos sites Pau pra Qualquer Obra, Top Vitrine e Nosso Clubinho (conteúdo infantil). De acordo com o psicólogo, embora o uso da tecnologia seja importante e essencial na contem- poraneidade, fundamental é entender o cerne da questão, que pode estar associada ao prazer. Lucas Vasques é jornalista e escreve nesta publicação. O PRAZER POR TRÁS DA COMPULSÃO É PREPONDERANTE 10 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br Quando a vida virtual passa a ser mais interessante e proporciona mais satisfação à pessoa do que a vida real, esse é um sinal de que ela está substituindo uma pela outra e, com isso, obtendo prejuízos sociais e emocionais o uso do celular passa a ser regra para a pessoa a ponto dela mudar a rotina ou que o lazer dela seja, necessariamente, o uso do celular e acessar as redes sociais. 1UANDO�O�SIMPLES�FATO�DE�l�CAR�SEM�BATE ria a deixa nervosa e irritada ou não con- SEGUIR�l�CAR�SEM�SE�CONECTAR�PODEMOS�AÓ� ter alguns indícios de que a pessoa está perdendo o controle do uso do aparelho. A LITERATURA SOBRE O TEMA COLOCA QUE OS CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO SE BASEIAM EM TRÊS TRAÇOS: EXCLUSIVIDADE, POR SER A TECNOLOGIA A ÚNICA FONTE DE PRAZER; TOLERÂNCIA, POIS A PESSOA PASSA A GASTAR CADA VEZ MAIS TEMPO COM A TECNOLOGIA; E ABSTINÊNCIA, PORQUE A PESSOA APRESENTA SINTOMAS DESAGRA- VÁVEIS QUANDO SE VÊ SEM O APARELHO. VOCÊ CONCORDA COM ESSA TESE? ROSOSTOLATO: A esses aspectos, que eu concordo, acrescento o fator narcisista, no qual o celular é hipervalorizado e si- nal de status. Os recursos que ele ofere- ce, fotos e vídeos de alta resolução, pos- sibilitam à pessoa dar vazão à vaidade. (OJE�� PODEMOS� l�LMAR� QUALQUER� COISA� E� quando quisermos, o que facilita a inva- são ao outro. Tudo pode ser registrado, editado e ainda ser postado nas redes so- ciais. A busca pela “virilização” da foto ou do vídeo é um fator que resulta em muito prazer ao autor. EM QUE MEDIDA A PRESENÇA DOS SITES DE BUSCA EM CELULARES E A POSSIBILIDADE DE SEMPRE SE ENCONTRAR RESPOSTA PARA TUDO SÃO FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A NOMOFOBIA? ROSOSTOLATO: Com o surgimento da in- ternet falou-se muito em globalização, que nada mais é do que o acesso rápido, fácil e imediato com qualquer pessoa, em qualquer lugar. Um mundo conectado. IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K É CORRETO AFIRMAR QUE A NOMOFO- BIA É UM FENÔMENO NOVO, QUE ESTÁ LIGADO A TRANSTORNOS COMO ANSIE- DADE E DEPRESSÃO? BRENO ROSOSTOLATO: Pode ser conse- quência de uma ansiedade, assim como pode desencadear uma depressão, mas o uso abusivo do celular, e intrinseca- mente a essa discussão, o acesso à inter- net, também está relacionado a outros fatores sociais. QUAIS AS PRINCIPAIS CAUSAS E CONSEQUÊN- CIAS PSICOLÓGICASDA NOMOFOBIA? ROSOSTOLATO: A vaidade de postar e ter sua vida exposta na internet, nas redes sociais, também é um fator que deve ser CONSIDERADO��Al�NAL��O�PRAZER�POR�TRÉS�DA� compulsão é um fator preponderante. Fazer parte de um grupo, ser aceito e popular, ao mesmo tempo que desperta a sensação de pertencimento, minimiza o sentimento de solidão. O PROBLEMA INFLUI DIRETAMENTE NA QUALIDADE DE VIDA DA PESSOA, POIS ELA NÃO ENCONTRA OUTRAS FONTES DE PRA- ZER E PASSA A SE DESINTERESSAR POR ATI- VIDADES SOCIAIS, AFETIVAS E DE LAZER QUE ANTES GOSTAVA. COMO IDENTIFICAR A NOMOFOBIA, UMA VEZ QUE A SOCIEDADE ACEITA O USO ABUSIVO DAS TECNOLOGIAS? ROSOSTOLATO: Quando a vida virtual passa a ser mais interessante e propor- ciona mais satisfação à pessoa do que a vida real, esse é um sinal de que ela está substituindo uma pela outra e, com isso, obtendo prejuízos sociais e emocionais. A sociedade vive atrelada às tecnologias, até porque a sociedade é o retrato de vários segmentos como a mídia, o mer- cado, a política etc., mas a pessoa deve ter o discernimento dos próprios atos e reconhecer seus limites. A PROPÓSITO, EXISTEM CRITÉRIOS PSICOLÓ- GICOS QUE DEFINEM O QUE É O USO NOR- MAL DO CELULAR E QUANDO ESSA UTILI- ZAÇÃO SE TRANSFORMA EM NOMOFOBIA, COMO NÚMERO DE HORAS, POR EXEMPLO? ROSOSTOLATO: A partir do momento que .���G��� G�������G��G���������9��G���� �����I�G��9�\�����G����G�����I���� ��G �9�G��G�9��G�����G���� ����� �����9�����GI������������G���������G�������������� ������ Ô� www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 11 A sociedade vive atrelada às tecnologias, até porque a sociedade é o retrato de vários segmentos como a mídia, o mercado, a política etc., mas a pessoa deve ter o discernimento dos próprios atos e reconhecer seus limites E��PORTANTO��MAIS�DIlCULDADE�PARA�DOSAR�O� uso do smartphone. OS AVANÇOS CONSTANTES DOS RECURSOS TECNOLÓGICOS IMPÕEM A AQUISIÇÃO DE APARELHOS CADA VEZ MAIS SOFISTICADOS, O QUE, DE CERTA FORMA, CONFERE STATUS ECONÔMICO E SOCIAL. O FATO ESTÁ RELA- CIONADO À BUSCA PELA REAFIRMAÇÃO DA IDENTIDADE DOS ADOLESCENTES NESSA FASE DA VIDA? ROSOSTOLATO: Os adolescentes são fruto de uma sociedade imediatista, que defen- de a ideia de padrões de beleza e status. Uma sociedade que enaltece a populari- dade dos iguais e segrega, aniquilando as diferenças. A ORIGEM DO USO INDISCRIMINADO DO CELULAR POR ADOLESCENTES PODE ESTAR RELACIONADA À INSEGURANÇA DOS PAIS, QUE PRECISAM ESTAR SEMPRE RECEBENDO NOTÍCIAS DOS FILHOS? ROSOSTOLATO: Isso também, mas existe OUTRA�REmEXÎO�QUE�GOSTARIA�DE�FAZER��-UI- tos pais usam o celular como uma ma- neira de distrair a criança. Um presente que ocupe o tempo e retire dos pais a responsabilidade de cuidar e participar DA�VIDA�DOS�lLHOS��)NFELIZMENTE��JÉ�VI�PAIS� As informações passaram a circular com a mesma velocidade das conexões entre as pessoas e o Google passou a ser o prin- cipal site de busca dessas informações. O acesso imediato, a facilidade e a praticida- de de ter essas informações e esse conhe- cimento fazem com que muitas pessoas tenham o Google como referência para a busca desse conhecimento. O problema é restringir-se ao Google e esquecer que existem outras fontes de busca de novos saberes. Esse é um fator que pode ter con- tribuído também para a nomofobia. EXISTE UM PERFIL PREDETERMINADO DO NOMOFÓBICO OU TODOS ESTÃO SUJEITOS, INCLUINDO AS PESSOAS ADAPTADAS, QUE TRABALHAM, ESTUDAM E SÃO CASADAS? ROSOSTOLATO: Em um estudo feito pela Universidade de Granada, na Espanha, um levantamento com mil pessoas cons- tatou que 77% dos indivíduos com ida- de entre 18 e 24 anos estavam sofrendo nomofobia, enquanto que na faixa etária de 25 a 34 anos a incidência foi de 68%. Além disso, a pesquisa constatou que 41% dos entrevistados estavam carregan- DO�COM�ELES�DOIS�CELULARES�PARA�NÎO�lCAR� desconectado. Observou-se uma inci- dência mais elevada em mulheres (70%) do quem em homens (61%). No Brasil, o comportamento compulsivo aumentou SIGNIlCATIVAMENTE� ENTRE� ADOLESCENTES� E� jovens entre 13 e 25 anos. Segundo dados de 2013 do IBGE (Instituto Brasileiro de 'EOGRAlA�E�%STATÓSTICA ������DA�POPULA- ção brasileira acima de 10 anos possuíam telefone móvel. HÁ UMA RAZÃO PSICOLÓGICA QUE EXPLI- QUE A MAIOR INCIDÊNCIA DO PROBLEMA EM HOMENS OU EM MULHERES? ROSOSTOLATO: Não. A dependência de celular e internet é bastante equiparada entre homens e mulheres. As questões emocionais relacionadas à nomofobia não diferenciam homens e mulheres. OS JOVENS SÃO MAIS PROPENSOS A ESSE TIPO DE DEPENDÊNCIA? ROSOSTOLATO: No Brasil, o comportamento COMPULSIVO� AUMENTOU� SIGNIlCATIVAMENTE� entre adolescentes e jovens entre 13 e 25 anos, idade na qual a opinião dos outros é MUITO�INmUENTE��/�MAIS�AGRAVANTE�SÎO�DOIS� aspectos. Primeiro é que os comportamen- tos e hábitos que aprendem levarão para a vida adulta. Uma pesquisa do órgão regu- lador de telecomunicações do Reino Uni- do, a Ofcom, sugere que 15% leem menos livros por causa do tempo que gastam co- nectados. O segundo fator é que os jovens têm menos controle sobre seus impulsos ��IG�GI�����GhÔ�� ����G����������� P���G� ��G������G���G��G������I����G��G������� ���� G��G������G���G�� IG������HG����G�IG�������G��������G G������Ô�����I���I�G� 12 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br presentearem crianças de sete anos com celulares. O que está por trás disso? COMO VOCÊ DISSE, HOJE, CRIANÇAS DE SEIS OU SETE ANOS JÁ USAM MUITO O WHATSA- PP E OUTROS RECURSOS DO CELULAR, COM CASOS DE VERDADEIROS VÍCIOS EM APLICA- TIVOS DE JOGOS. NESSAS SITUAÇÕES, QUAL A FRONTEIRA QUE SEPARA A “NORMALIDA- DE” DA INDUÇÃO À NOMOFOBIA? ROSOSTOLATO: Uma situação bem emble- mática. Quando essa criança está diante de amigos e de brinquedos e a possibi- lidade de interação com os outros, mas PREFERE�l�CAR�AO�CELULAR�DENTRO�DE�CASA�E� nega constantemente o convite dos ami- gos, isso já é um sinal evidente de que algo está errado. TAMBÉM HÁ RELATOS DO USO EXAGERA- DO DO CELULAR NOS RELACIONAMENTOS. MUITAS PESSOAS ENCERRAM NAMOROS POR MEIO DE MENSAGENS. ISSO SERIA PATOLO- GIA OU PROBLEMAS DE VALORES? ROSOSTOLATO: O ghosting é um termo que designa um comportamento que muitas pessoas vêm adotando para terminar um relacionamento, sem o ônus de encarar o l�M��&ICAM�COM�O�BÙNUS�DE�UM�l�NAL�SEM� MAIORES�CONSTRANGIMENTOS�E�JUSTIl�CATIVAS�� É como se “tivessem saído para comprar cigarro na esquina” e não voltaram mais e, assim, dá um ghosted. Fantasmando aqui e acolá. Curioso que, no inglês, tudo pode virar verbo. Aqui o sujeito conjuga o verbo “fantasmar”. A pessoa vai desa- parecendo aos poucos, não apenas da vida real, como também da vida virtual. O efeito Gasparzinho, o fantasminha, no caso nada camarada. Terminar é dar um desfecho. É fechar uma porta ou, às vezes, não precisar fechar. Deixá-la aberta para uma amizade, e por que não? Terminar com aquele que você viveu durante um tempo é conversar tête-à-tête e, por res- peito aos dois, falar e ouvir. E conversar é sempre estar diante do verso do outro. Portanto, esteja preparado para aprender com o que o outro tem a dizer. O USO DO CELULAR PARA O TRABALHO TAMBÉM É EXACERBADO EM MUITOS CA- SOS. HOJE, PODEMOS RESPONDER E-MAILS POR MEIO DO APARELHO, USAR WHATSAPP PARA FALAR COM CLIENTES, E ISSO POR 24 HORAS. COMO OBSERVA ESSA IMPOSIÇÃO DA SOCIEDADE POR RESPOSTAS RÁPIDAS? ROSOSTOLATO: A ansiedade é a doença da sociedade contemporânea. Tudo é imediato, assim como a necessidade de respostas. As pessoas são escravas deum sistema consumista e materialista. Elegem-se os iguais e os monstros. Não somos cordiais, pelo contrário, somos selvagens e violentos. Inveja-se o sucesso alheio e, ao invés de lutar para conquis- tar o que o outro também conseguiu, prefere-se retirar dele. Relações efêmeras e fantasiosas. Não é à toa que a vida vir- tual é enaltecida. A realidade está cada vez mais difícil de encarar. A PSICOLOGIA CONSIDERA FATORES DE RIS- CO PARA O DESENVOLVIMENTO DA DEPEN- DÊNCIA, COMO A OCORRÊNCIA DE EVENTOS TRAUMÁTICOS? ROSOSTOLATO: O uso exagerado do ce- lular pode denunciar a incapacidade da pessoa em lidar com a solidão e ver o ce- lular como uma companhia, bem como pode ser motivado por fatores emocio- nais ou traumas. EM UMA SOCIEDADE EMINENTEMENTE TEC- NOLÓGICA, COMO A NOSSA, O APARELHO CELULAR É UM SINÔNIMO DE STATUS E IN- CLUSÃO SOCIAL. É POSSÍVEL AFIRMAR QUE A NOMOFOBIA REPRESENTA UMA DISTORÇÃO NA MANEIRA DE ENCARAR ESSES ASPECTOS? ROSOSTOLATO: Eu acho que sim. O celu- lar não é inclusão social. Inclusão social são as pessoas terem acesso às tecno- LOGIAS��E�AÓ�ME�REl�RO�NÎO�SØ�Ì� INTERNET�� SHU TT ER ST OC K Os recursos que o celular oferece possibilitam à pessoa dar vazão à vaidade. (OJE��PODEMOS�l�LMAR� qualquer coisa e quando quisermos, o que facilita a invasão ao outro. Tudo pode ser registrado, editado e postado nas redes sociais ��� �������������`��Ô�������G ��� ������I�����IGh��� �� ����� /�� ���� �IG�����<@Ú� ��� ������ ������������������������hÔ�� �� �����������G��G��I���I�G �� www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 13 mas a hospitais bem equipados e que possam assegurar um serviço moderno, ágil e acolhedor. Escolas que possam re- ceber alunos e ofereçam boas condições à educação, materiais adequados e uma alimentação digna e que sustente crian- ças e adolescentes. Inclusão é disponi- bilizar espaços públicos para que todos possam transitar e se divertir. Opções de parques e áreas de lazer. O celular deveria ser um instrumento a mais para facilitar a comunicação entre as pessoas e não símbolo de status. AS PESSOAS QUE SOFREM DE NOMOFOBIA SE SENTEM REJEITADAS QUANDO NINGUÉM LHES TELEFONA OU QUANDO PERCEBEM QUE SEUS AMIGOS RECEBEM MAIS LIGA- ÇÕES DO QUE ELAS? ROSOSTOLATO: E eis que, quando elege- MOS� O� OUTRO� COMO� ESPELHO�� E� lXAMOS� ESSA�IDEIA��lCAMOS�REFÏNS�DA�INVEJA��)NVE- jar não é cobiçar. Cobiçar é querer algu- ma coisa do outro, e o desejo impulsiona a busca. Pode ser negativo ou positivo. Já a inveja é sempre negativa, porque se baseia na tristeza que sentimos pela FELICIDADE� ALHEIA�� ¡� SENTIR SE� AmITO� PELA� prosperidade de outrem, tristeza por saber que o outro tem. Outro aspecto a ser considerado nos dias de urgência e Quando uma criança está diante de amigos e de brinquedos e a possibilidade de interação com os outros, MAS�PREFERE�lCAR�AO� celular dentro de casa e nega constantemente o convite dos amigos, é um sinal evidente de que algo está errado imediatismos é não conseguir lidar com frustrações e a rejeição. Busca-se o outro para preencher os vazios emocionais e aguentar a sensação de abandono. EM QUE MEDIDA O PROBLEMA ESTÁ LIGA- DO A TRANSTORNOS NO CONTROLE DOS IM- PULSOS, FAZENDO COM QUE A PESSOA SEJA ACOMETIDA POR UMA APREENSÃO NEGATI- VA EM RELAÇÃO AOS EVENTOS FUTUROS? ROSOSTOLATO: O século XXI é marcado por uma sociedade, eminentemente, an- siosa. Exigida e cobrada constantemente, a pessoa precisa ter respostas para tudo, ser, fazer, ter, conseguir, ser reconhecida. Essas preocupações, associadas ao medo da violência, são ingredientes cruciais para tal comportamento. ESSE QUADRO PODE CAUSAR SINTOMAS PSÍ- QUICOS E FÍSICOS DESAGRADÁVEIS. QUAIS SÃO ESSES SINTOMAS? ROSOSTOLATO: Ansiedade, perda de con- tato com pessoas próximas, sentir-se mais feliz na vida virtual que na realidade, preocupar-se com as curtidas e comparti- lhamentos de uma foto e deixar de apro- veitar os momentos da vida para postar uma SELlE são alguns dos sinais da perda de limite. O uso abusivo do celular pode, inclusive, desencadear depressão. É CORRETO DIZER QUE, EM GERAL, AS PESSOAS NOMOFÓBICAS NÃO ACEITAM QUE SOFREM DO PROBLEMA E ATRIBUEM SUA ANGÚSTIA A VÁRIAS CAUSAS, COLO- CANDO A CULPA NO TRABALHO OU NA NECESSIDADE DE SE COMUNICAR COM A FAMÍLIA OU AMIGOS, NO CASO DE ALGU- MA EMERGÊNCIA? ROSOSTOLATO: De maneira geral, o indi- víduo que sofre com essa dependência não possui uma percepção mais ampla DA�DIlCULDADE�SOFRIDA�E��POR�ISSO��ATRIBUI� o problema a outros setores da vida. Esse Ï�O�PRIMEIRO�PASSO�PARA�A�ElCÉCIA�DO�TRA- tamento, o reconhecimento do problema e as questões relacionadas a ele. QUAIS SÃO AS FORMAS DE TRATAMENTO E TERAPIA PARA QUEM SOFRE DO PROBLEMA? ROSOSTOLATO: A psicoterapia é bas- tante ef icaz. A proposta é fazer com que a pessoa substitua a prática com- pulsiva por escolhas e comportamen- tos mais adequados, modif icando, assim, os valores do sujeito e aguçan- do o juízo crítico. Resgatar o conta- to com o outro e as relações sociais. Restituir as identif icações e referên- cias, uma maneira de reconstruir o afeto do sujeito, dando-lhe condições de se libertar dessa dependência. O ghosting�\�����������������������G����I������G�������������������������G����G���G�G�������G�� ������GI���G�����9�������Ï���� ���������G�����G�I���� 14 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br in foco por Michele Muller Por uma PSIQUIATRIA mais AMPLA quiátrico. Ao reduzir os problemas a uma determinada combinação genética e a uma química desajustada no cérebro, tira-se do paciente qualquer motivação de alterar as condições do meio e de re- condicionar o próprio cérebro para lidar com alguns problemas – o que vem se mostrando possível até em casos de de- sordens mentais mais severas. Não se trata de um manifesto contra medicação, que em alguns casos é neces- SÉRIA�E�El�CAZ��MAS�UMA�FORMA�DE�ABRIR�AS� possibilidades para se lidar com os sinto- mas. “Seus programas não apresentam equilíbrio entre histórias de pessoas que estão resignadas a viver com o que elas mesmas consideram doença e aquelas que encontram outras formas (além ou alternativas ao medicamento) de conviver com experiências difíceis ou até de superá -las”, escreveu a equipe à emissora inglesa. Exemplos de sucesso são ignorados PELA� GRANDE� MÓDIA�� (OJE�� PROl�SSIONAIS� de Nova York e vários países europeus que representam a abordagem chamada Open Dialogue colecionam histórias de sucesso na recuperação dos mais severos casos de psicoses. Estudos dos últimos 30 anos de acompanhamento de casos de esquizofrenia na Finlândia apontam a impressionante incidência de 74% de re- torno à vida produtiva entre os pacientes tratados com surtos psicóticos por meio desse método. Na Inglaterra, onde as- sim como no Brasil e Estados Unidos os PROFISSIONAIS DA SAÚDE MENTAL JUNTAM-SE EM MANIFESTO CONTRA O TRATAMENTO DE PROBLEMAS MENTAIS COMO MANIFESTAÇÕES EXCLUSIVAMENTE BIOLÓGICAS UMA DAS CONSEQUÊNCIAS DESSA VISÃO REDUCIONISTA DOS PROBLEMAS MENTAIS ESTÁ NO PAPEL QUE REPRESENTAM OS FÁRMACOS, QUE DESSA FORMA SE TRANSFORMAM NOS PROTAGONISTAS DE QUALQUER EPISÓDIO PSIQUIÁTRICO D urante duas semanas os ingle- ses puderam acompanhar uma série de episódios sobre saúde mental, reunidos no programa In The Mind, da emissora BBC. A inten- ção, além de promover mais conheci- mento dos principais diagnósticos, era derrubar o estigma que um problema mental podetrazer. Para isso, pautaram- se na ideia de reforçar o caráter bioge- nético dos distúrbios. Mas ao abordá-los como doenças, cujo tratamento reside invariavelmente nos produtos farmaco- lógicos, acabaram criando um risco de fortalecer justamente a imagem que in- tencionaram combater. Várias pesquisas realizadas em di- versos países europeus apontam que o foco nas raízes biogenéticas é uma for- ma inapropriada de reduzir a rejeição às pessoas que convivem com distúrbios mentais como depressão, ansiedade, esquizofrenia e bipolaridade. A partir DESSA�PERSPECTIVA��QUE�JUSTIl�CA�A�NECES sidade de abordar a questão de uma for- ma mais ampla, sem ignorar o papel dos fatores psicossociais na saúde mental, um grupo formado por dezenas de au- toridades da Psicologia do Reino Unido redigiu uma carta aberta à emissora in- glesa, alegando que a cobertura, apesar de bem-intencionada, pode ter causado mais transtornos que soluções. Segundo o documento, os programas ignoraram completamente os debates ACERCA� DA� INm�UÐNCIA� DO� MEIO� NO� APA recimento dos sintomas, alegando que são necessariamente e unicamente ma- NIFESTA¥ÜES� BIOLØGICAS�� !l�NAL�� SEGUNDO� os autores da carta protesto, apesar dos avanços da Neurociência, ainda hoje não existem marcadores biológicos para os distúrbios citados – motivo pelo qual há sempre tanta controvérsia com relação aos diagnósticos psiquiátricos. Uma das consequências dessa visão reducionista dos problemas mentais está no papel que representam os fármacos, que dessa forma se transformam nos protagonistas de qualquer episódio psi- www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 15 IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K/ AR QU IV O PE SS OA L trauma, o paciente encontra novas pers- pectivas e sente que, aos poucos, ganha mais controle sobre sua própria mente. Controle que somente é possível de se ter quando o problema é analisado sob o ângulo psicossocial, já que a visão uni- camente biológica, além de pouco con- SISTENTE�CIENTIlCAMENTE��TRAZ�AINDA�MAIS� vulnerabilidade e a triste sensação de to- tal falta de poder. Muito se estuda o fator genético na manifestação da esquizofrenia, por en- quanto com poucos resultados relevantes ou práticos. Um dos maiores investigado- res dos fatores psicossociais ou biológi- cos por trás dos surtos psicóticos, Brian Koehler, supervisor do programa de pós- doutorado de Psicoterapia e Psicanálise da Universidade de Nova York, defende que geralmente as diferenças biológicas encontradas em diagnosticados com es- quizofrenia são resultado de circunstân- cias demasiadamente estressantes, apesar de existirem variações genéticas que favo- recem o aparecimento dos sintomas. No topo disso está o preconceito que a visão do problema mental como doen- ça cria. Uma meta-análise realizada em 2011 por pesquisadores do Centro de Saúde Mental Pública da Áustria, a partir de 33 estudos que tiveram como objetivo investigar as atribuições dos problemas mentais entre o público leigo, concluiu que “a ênfase no modelo de causa bio- genética é uma forma inapropriada de se reduzir o estigma da doença mental”. Assim como as causas podem surgir das diversas esferas que contribuem para a formação desse grande mistério subje- tivo que é a mente humana, todas elas devem ser valorizadas e consideradas na busca pela recuperação da saúde. antipsicóticos são o principal – se não o único – meio de tratar esses pacientes, o mesmo índice está em 9% (segundo da- dos divulgados pelo jornal Independent). O tratamento oferecido pelo Open Dialogue não exclui o fármaco, mas o desloca para segundo plano, sendo inclusive dispensado em muitos casos. Tem como princípio o atendimento in- tensivo, sendo o primeiro encontro pre- ferivelmente dentro de 24 horas depois da crise, sempre em casa ou em um lo- cal da escolha do paciente. Bem diferen- te do atendimento psiquiátrico padrão no Brasil, em que se consegue (por mo- tivos de agenda médica, limitações do PLANO�E�DO�353�OU�lNANCEIRAS �AGENDAR� uma única consulta mensal com o mé- dico, que vai analisar sobretudo o efeito da medicação. A base da abordagem está, como o próprio nome sugere, no diálogo – que necessariamente deve envolver a família ou as pessoas mais próprias do paciente. !�PARTIR�DA�REmEXÎO��QUE�GERALMENTE�RE- monta a momentos de estremo estresse e Michele Muller é jornalista com especialização em Neurociência Cognitiva e autora do blog http://neurocienciasesaude.blogspot.com.br 16 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br O QUANDO e o PORQUÊ da supervisão supervisão Por Ricardo Wainer UM QUESTIONAMENTO COMUM ENTRE OS ALUNOS DA ÁREA DA SAÚDE MENTAL E DOS PRÓPRIOS PSICOTERAPEUTAS É COM QUE FREQUÊNCIA HÁ A NECESSIDADE DE SUBMETER SEUS ATENDIMENTOS À SUPERVISÃO CLÍNICA TIVOS� DO� PACIENTE� A� lM� DE� DETERMINAR� hipóteses diagnósticas representativas; O� USO� ABRANGENTE� DE� FORMAS� DE� CONCEI- TUALIZA¥ÎO� DE� CASO�� O� DESENVOLVIMENTO� DE� HABILIDADES� TÏCNICAS� PARA� LIDAR� COM� PROBLEMÉTICAS�ESPECÓlCAS�DOS�CLIENTES��E�� AINDA��O�APRIMORAMENTO� �DA�CAPACIDADE� DE�METACOGNI¥ÎO�DO�TERAPEUTA�PARA�DAR- SE�CONTA�DE�SEUS�SENTIMENTOS��EMO¥ÜES�� VISIONADOS � QUANTO� COMO� PROlSSIONAL� RECÏM FORMADO� OU� EM� CURSOS� DE� PØS- -graduação lato sensu. !TRAVÏS� DA� PRÉTICA� SUPERVISIONADA�� DIVERSOS�NÓVEIS�DE�HABILIDADES�PSICOTERÉ- PICAS� SÎO� DESENVOLVIDOS� E� APRIMORADOS�� COMO� A� DE� FORMAR�� CONSOLIDAR� E� MANE- jar a aliança terapêutica; a capacidade DE� OBTEN¥ÎO� DOS� DADOS� MAIS� SIGNIlCA- E MBORA� A� RESPOSTA� POSSA� TER� VA- RIA¥ÜES�DE�ACORDO�COM�A�ORIEN- TA¥ÎO� TEØRICA� ADOTADA�� ALGUMAS� CONCEP¥ÜES� TÐM� SE� MOSTRADO� COMPARTILHADAS� POR� QUASE� TODAS� ELAS1. $ENTRE� ESTAS� ESTÉ� O� PAPEL� CENTRAL� E� IN- SUBSTITUÓVEL� DA� SUPERVISÎO� NA� FORMA¥ÎO� DE� QUALQUER� PSICOTERAPEUTA�� TANTO� EN- QUANTO� ESTUDANTE� �NOS� ESTÉGIOS� SUPER- WWW�PORTALCIENCIAEVIDA�COM�BR psique ciência&vida 17 SH UT TE RS TO CK / AC ER VO P ES SO AL AS PRÁTICAS PSICOTERÁPICA E DE SUPERVISÃO CLÍNICA SÃO PROCESSOS 15%�%8)'%-�(!"),)$!$%3�#/'.)4)6!3�� AFETIVO-EMOCIONAIS E COMPORTAMENTAIS NÃO NECESSARIAMENTE ENCONTRADAS NA MAIORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS COTIDIANAS Ricardo Wainer é doutor em Psicologia, especialista em Terapia do Esquema, com treinamento avançado pelo New York Schema Institute, e supervisor credenciado pela International Society of Schema Therapy. Pesquisador em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e em Ciências Cognitivas. Professor titular da Faculdade de Psicologia da PUC–RS. Diretor da Wainer Psicologia Cognitiva. Referências 1 SUDAK, D. M. et al. Teaching and Supervising Cognitive Behavioral Therapy. Nova York: Wiley, 2015. 2 SIEGEL, D. J. Mindsight: the New Science of Personal Transformation. Nova York: Bantam Books, 2010. QUE� ERROS� E� ACERTOS� SEJAM� VISTOS� COMO� GESTOS� HUMANOS� E�� POR� ISSO�� PERFEITOS� ATÏ�O� LIMITE�DO�PRØPRIO� SER�HUMANO��/� INDIVÓDUO� SØ� COME¥A� A� ACERTAR� QUANDO� DESCOBRE�QUE�POSSUI��ALÏM�DA�RAZÎO��SEN TIMENTOS� E� NECESSIDADES� EMOCIONAIS� E� QUE��CADA�SER��POR�SUA�VEZ��TEM�UMA�VISÎO� INDIVIDUAL�DO�MUNDO�E�DAS�COISAS��6ISÎO� ESTA�QUE�QUANDO� TOLERADA�� COMPREENDI DA�� LEVA� Ì� UNIÎO� DE� CONHECIMENTOS� EM� BENEFÓCIO�DE�TODA�A�SOCIEDADE� !�PRÉTICA�PSICOTERÉPICA�E�DE�SUPERVI SÎO�CLÓNICA�SÎO�PROCESSOS�QUE�EXIGEM�HA BILIDADES� COGNITIVAS�� AFETIVO EMOCIONAIS� E� COMPORTAMENTAIS� NÎO� NECESSARIAMEN TE� ENCONTRADAS� NA� MAIORIA� DAS� RELA¥ÜES� HUMANAS� COTIDIANAS�� 0ARTINDO SE� DESSA�PREMISSA��Ï�DE�SE� IMAGINAR�QUE�O�PSICO TERAPEUTA� E� O� SUPERVISOR� DEVAM� BUSCAR� FORMA¥ÎO� PROl�SSIONAL� E� PESSOAL� QUE� OS� LEVEM�A�ATINGIR�NÓVEIS�ELEVADOS�NESSAS�HA BILIDADES�SUBJACENTES�AO�TRABALHO�CLÓNICO2. 4ANTO� A� PRÉTICA� DAS� DIVERSAS� MO dalidades de psicoterapias quanto o TRABALHO�DE�SUPERVISÎO�CLÓNICA�EXIGEM� QUE�OS� PROl�SSIONAIS� ENVOLVIDOS� CONSI GAM� SE� COLOCAR� NA� POSI¥ÎO� DO� OUTRO�� 3OMENTE�ASSIM�Ï�POSSÓVEL�QUE�SE�OBTE NHA�UMA�REAL�E�PROFUNDA�COMPREENSÎO� DAS�VIVÐNCIAS�E�DOS�SIGNIl�CADOS��%IS�AÓ� O� PORQUÐ� PRINCIPAL� DA� SUPERVISÎO� EM� Psicologia e Psiquiatria. TRATÏGIAS� DE� ENFRENTAMENTO� COMUMENTE� ACIONADAS�NA�RELA¥ÎO�COM�ALGUMAS�CON DI¥ÜES�PSICOPATOLØGICAS�DOS�PACIENTES� ¡� TÉCITA� A� EXIGÐNCIA�DE� CERTA�PERIO dicidade de supervisão para todo aque- LE� QUE� TEM� NA� SUA� PRØPRIA� CAPACIDADE� DE� ENTRAR� EM� CONEXÎO� EMOCIONAL� COM� O� OUTRO�� 0ORTANTO�� TODO� PSICOTERAPEUTA� deve buscar supervisão ao longo de sua CARREIRA�� POIS� ATRAVÏS� DESTA� IDENTIl�CARÉ� POSSÓVEIS� ARMADILHAS� PARA� O� AVAN¥O� DO� TRATAMENTO� ADVINDAS� DAS� CREN¥AS� E� AU TOMATISMOS� DE� SUA� PERSONALIDADE�� )SSO� EXPLICA�� INCLUSIVE�� POR� QUE� PRATICAMEN TE� NENHUM� TERAPEUTA� PODE� ATENDER� El� CIENTEMENTE�TODOS�OS�TIPOS�DE�PACIENTES�� #OM� ALTA� PROBABILIDADE� HAVERÉ� AQUELE� PACIENTE�QUE�ATIVA�OS�ESQUEMAS�MENTAIS� MAIS�PRIMITIVOS�E�DESADAPTATIVOS�DO�TE RAPEUTA��CAUSANDO�REA¥ÜES�NEGATIVAS�IN DISFAR¥ÉVEIS�NA�RELA¥ÎO�TERAPÐUTICA� 6Ð SE�ASSIM�QUE�A�SUPERVISÎO�CLÓNICA�� ALÏM�DOS�CONHECIMENTOS�QUE�TRAZ�E�DOS� OUTROS�QUE�LAPIDA��TAMBÏM�BUSCA�ESTIMU LAR�AS�HABILIDADES�TERAPÐUTICAS�DE�EMPATIA� E� DE� HUMILDADE� DO� TERAPEUTA�� FAZENDO� COM�QUE�ESTE�FA¥A�UM�EXERCÓCIO�CONSTANTE� �E�POR�VEZES�DOLOROSO �DE�AUTOCRÓTICA� #OMPREENDER�A�SI�MESMO�E�AOS�QUE� CONOSCO� CONVIVEM�ACEITANDO� SUAS� FALAS� Ï�DAR�UM�PASSO�Ì�FRENTE�PARA�QUE�AS�RE LA¥ÜES�HUMANAS�SE�TORNEM�TÎO�ESTREITAS� COGNI¥ÜES�E�COMPORTAMENTOS�NA�RELA¥ÎO� COM�OS�PACIENTES��O�QUE�TENDE�A�FUNCIONAR� COMO�FERRAMENTA�CRUCIAL�NO�TRATAMENTO� $ESDE� O� INÓCIO� DAS� TERAPIAS� COGNITI VO COMPORTAMENTAIS� �4##S �� MUITO� SE� TEM� ESTUDADO� E� APROFUNDADO� SOBRE� O� APRIMORAMENTO�DO�TREINAMENTO�DE�TERA PEUTAS� COGNITIVOS� E�� CONSEQUENTEMENTE�� DOS�MELHORES� FORMATOS� DE� SUPERVISÎO� A� SEREM�OFERECIDOS�EXIGIDOS1. Dentre algu- MAS� DAS� MAIS� IMPORTANTES� CONCEP¥ÜES� DAÓ� ADVINDAS�� PONTUAM SE� A� NECESSIDA DE�DE� SUPERVISÎO� INTENSIVA� EM� TODOS�OS� PRIMEIROS� ATENDIMENTOS� DO� ALUNO�PRO l�SSIONAL�� A� IMPORTÊNCIA� DE� SUPERVISÜES� INDIVIDUAIS� �MESMO�QUE�CONJUGADA�COM� SUPERVISÜES�EM�GRUPO ��A�EXIGÐNCIA�DE�SU PERVISÎO�EM�INTERVALOS�REGULARES�QUANDO� DO�ATENDIMENTO�DE�CASOS�DE�POPULA¥ÜES� ESPECÓl�CAS�COMPLEXAS��COMO�TRANSTORNOS� DE�PERSONALIDADE�BORDERLINE�E�NARCISISTA�� TRANSTORNOS�ALIMENTARES�SEVEROS��QUADROS� ADICTOS�REFRATÉRIOS�E�OUTROS�CASOS�CRONI l�CADOS�OU�ESTAGNADOS��/UTRO�PONTO�EM� especial a ser destacado é a necessidade de o terapeuta conhecer seus próprios ESQUEMAS� MENTAIS�� BEM� COMO� SUAS� ES 18 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br psicopositiva por Lilian Graziano MAIS DO QUE UMA FORÇA PESSOAL, A AUTENTICIDADE É UMA CONDIÇÃO FUNDAMENTAL PARA A FELICIDADE GENUÍNA. MAS NEM SEMPRE É FÁCIL SER AUTÊNTICO A lata de azeite e os impeditivos da VIDA AUTÊNTICA (parte 1) Talvez a má intenção dispense mais explicações. Contudo, ela guarda em si um aspecto muito interessante: de to- das as quatro razões que impedem que uma pessoa seja autêntica, essa, parado- xalmente, é a única que ainda possui um pouco de autenticidade. Parece estranho? Vejamos a situação hipotética de um in- divíduo mau caráter, cujos valores dizem respeito a maximizar vantagens pesso- ais em detrimento dos direitos alheios. Se essa pessoa roubar, por exemplo, ela pessoas a serem elas mesmas; nas suas me- lhores versões. A carência de autenticida- de parece crescer na exata proporção dos discursos politicamente corretos. Como SE�ESSES�ÞLTIMOS�FOSSEM�SUl�CIENTES�PARA�A� conquista de um mundo melhor. O fato é que depois de muitos anos NESTA�PROl�SSÎO��CONCLUÓ�QUE�SÎO�QUATRO�AS� razões que impedem que um indivíduo leve uma vida autêntica: má intenção, desconhecimento, falta de coragem e o “moedor de carne”. Q uem me conhece sabe. Poucas coisas me irritam mais do que pessoas, cujas vidas não corres- pondem ao seus discursos. Tal- vez essa tenha sido a principal força motriz que me levou a trabalhar com desenvolvi- MENTO�HUMANO��!l�NAL�DE�CONTAS��VALORES�E� sentimentos nobres de nada adiantam sem atitude. Nesse sentido, tanto em consultó- rio quanto nos cursos que ministro, meu OBJETIVO�Ï�O�DE�PROVOCAR�A�REm�EXÎO�CAPAZ� de gerar a ação. Uma ação que ajude as www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 19 Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área. graziano@psicologiapositiva.com.br SH UT ER ST OC K / A CE RV O PE SS OA L estará sendo completamente coerente com seus valores. Sua única falta de au- tenticidade será com relação àquilo que ela diz serem seus valores, ou seja, em relação ao seu muito provável discurso sobre direitos e cidadania que ela mante- ria justamente para ludibriar os demais e conseguir atingir seus objetivos escusos. O mal intencionado tem o mérito do au- toconhecimento. Seu único pecado, en- tão, do ponto de vista da autenticidade, é seu discurso enganoso. A segunda razão que impede uma vida autêntica é o desconhecimento. O imperdoável desconhecimento de si mes- mo que, ao impedir que o sujeito tenha consciência acerca de suas próprias ver- dades, remete-o a viver verdades alheias. Aqui o indivíduo pode ou não trair seu discurso, contudo a suposta traição seria menos alarmante do que a traição de seu próprio eu. Sócrates dizia que o homem desconhecido de si mesmo é um bárbaro. Nesse sentido, o ritmo da vida cotidiana, POR� NÎO� PERMITIR� A� AUTORREm�EXÎO�� ESTARIA� NOS�LEVANDO�Ì�BARBÉRIE��)SSO�SIGNIl�CA�QUE� a autenticidade é impossível sem o auto- conhecimento. Talvez por essa razão esse último seja a pedra angular de todo traba- lho psicoterapêutico. Por outro lado, por mais que seja apaixonada por esse tipo de trabalho, descordo de alguns colegas que Al�RMAM� QUE� TODO� INDIVÓDUO� DEVERIA� SE� submeter à psicoterapia. O autoconhecimento pode ser solitá- rio. Contudo, ele depende de um timimg QUE�PERMITA�A�AUTORREm�EXÎO��!LÏM�DISSO�� poderíamos também ter um sistema edu- cacional que, por meio do exercício da autoconsciência, levasse as pessoas a uma vida autêntica. Mas isso seria um luxo que o atual modelo de educação para o “ter” NÎO� NOS� PERMITIRIA�� !l�NAL�� IMPORTANTE� mesmo é passar no vestibular e frequen- tar uma faculdade boa o bastante para nos A AUTENTICIDADE É IMPOSSÍVEL SEM O AUTOCONHECIMENTO. TALVEZ POR ESSA RAZÃO ESSE ÚLTIMO SEJA A PEDRA ANGULAR DE TODO TRABALHO PSICOTERAPÊUTICO garantir o trabalho em uma empresa que nos renda um bom dinheiro. Mas existe um outro tipo de pesso- as que, também vítimas do desconheci- mento, acabam por levar uma existência INAUTÐNTICA�� 3ÎO� AQUELES� QUE� l�ZERAM� O� caminho em direção ao seu eu interior, acessaram seus valores e suas verdades, contudo não sabem exatamente como colocá-los em prática. Isso acontece, por exemplo, em relação à Psicologia Positiva. Nesses mais de 10 anos que venho minis- trando cursos sobre o tema nunca encon- trei alguém que não se apaixonasse por ele. .O�ENTANTO��RAROS�SÎO�AQUELES�QUE�MODIl�caram seu cotidiano com os ensinamentos aos quais tiveram acesso nesses cursos ou em suas leituras. Por esse motivo, creio que a Psicologia Positiva precise hoje, mais do que da divulgação, de demonstração. É por isso que criamos, no nosso Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, um curso de formação em Psicologia Positiva baseado em design thinking e totalmente voltado para a aplicação prática dos concei- tos estudados nessa área. Porque mudar o mundo está ao alcance de cada um de nós. Sobre a falta de coragem e o “moedor de carne” discutiremos no próximo mês, na parte 2 deste texto. É lá que você vai entender o que a “lata de azeite” tem a ver com isso tudo. Aguarde! Ou acesse www.escala.com.br JÁ NAS BANCAS! Conheça essa fabulosa trajetória e seja testemunha dos fatos que fizeram dos templários verdadeiros mitos do cristianismo. A HISTÓRIA DOS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS 20 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br psicopedagogia por Maria Irene Maluf DESLIG@R ou DESLIG@R-SE? A PRESENÇA DAS NOVAS TECNOLOGIAS NA VIDA DAS FAMÍLIAS É IRREVERSÍVEL, PORÉM O CONTROLE DA SUA UTILIZAÇÃO DEVE SER CUIDADOSO, COMO O DE TODAS AS DEMAIS ATIVIDADES N a era televisiva, quando os pais decidiam encerrar o dia dos f i- lhos frente à tevê, ou mesmo quando queriam que se dedicas- sem a outras atividades, bastava desligar o aparelho. Era um botão a ser acionado e pronto. Havia choros, resmungos, mas o caso estava encerrado. (OJE�� TEMOS� UMA� INlNIDADE� DE� OP¥ÜES� TECNOLØGICAS�AO�DISPOR�DAS�CRIAN¥AS�E�JOVENS� e não basta desligar o computador, pois há o tablet, o celular, os jogos eletrônicos... e quem não aderir ao uso dessas tantas possi- bilidades que nos plugam instantaneamente com o mundo praticamente torna-se um ser fora de seu tempo, isolado do meio social. %��AlNAL��AS�CRIAN¥AS�DE�HOJE�NASCEM�hPLU- gadas”, como se diz popularmente, e os pais www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 21 Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É editora da revista Psicopedagogia da ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br SH UT TE RS TO CK / A RQ UI VO P ES SO AL l�CAM�SEM�SABER�COMO�AGIR� FRENTE�AOS� inevitáveis confrontos que surgem. !DULTOS�E�CRIAN¥AS�USAM�DA�TECNOLO gia e da internet para praticamente tudo: ESTUDO�� TRABALHO�� LAZER���� )NFORMA¥ÜES�DE� toda ordem são transmitidas e não se pode negar que ocorre um ganho real, POIS�HÉ�TROCAS�SIGNIl�CATIVAS��IMPORTANTES�� DIVERSIl�CADAS��DE�CUNHO�INFORMATIVO�ATU alizado que advém da internet, dos jogos eletrônicos, que constituem por si mes- mos um rico ferramental no desenvolvi- mento de várias habilidades mentais. Criou-se, a partir da segunda metade do século XX, um modo de comunica- ¥ÎO� E� ENTRETENIMENTO� QUE� ENVOLVE� DES de os muito jovens até os adultos, que se não substituiu os livros, de alguma forma tomou boa parte do lugar desses. %NTRETANTO�� COMPLICA¥ÜES� TRAZIDAS� ÌS� JÉ� COMPLEXAS�QUESTÜES�CONTEMPORÊNEAS�RE ferentes à disciplina se ampliaram à me- dida que o uso dessas máquinas se alas- trou e se tornou de uso tão comum que realmente é difícil saber o limite entre o QUE�Ï�OU�NÎO�SAUDÉVEL�PARA�AS�CRIAN¥AS�� %� PARA� OS� ADULTOS� TAMBÏM�� QUE�� Al�NAL�� são os responsáveis pelo exemplo. Somos a princípio muito protetores COM�NOSSOS�l�LHOS�NO�DIA�A�DIA��MAS�FACIL MENTE�PERMITIMOS�QUE�l�QUEM�EXPOSTOS� Ì�ESTIMULA¥ÎO��VIOLÐNCIA�ENCOBERTA�SOB�A� forma de veículos tecnológicos. Como? 0ARA� COME¥AR�� O� ESTÓMULO� VISUAL� E� auditivo, continuado, intenso, extrema- mente envolvente, gera no cérebro uma CONDI¥ÎO�PRAZEROSA��POIS�INSTIGA�O�SISTE ma límbico a liberar dopamina, gerando bem-estar, levando ao comportamento DE� REPETI¥ÎO� DO� COMPORTAMENTO�� POR� vezes exagerado e pernicioso. Por isso a DIl�CULDADE�EM�PARAR��EM�DESLIGAR�O�JOGO�� pois sempre há uma nova etapa a vencer. Casos dramáticos de comportamento aditivo já foram descritos até em crian- ¥AS�PRÏ ESCOLARESå Perdemos muito em conhecimen- TO� COM� O� EXCESSO� DE� INFORMA¥ÎO� QUE� nos chega pela internet. O tempo de LEITURA�� DE� ASSIMILA¥ÎO�� DE� PESQUISA�� se reduz consideravelmente frente ao inesgotável torrencial de dados que é POSSÓVEL�OBTER�EM�MINUTOSå� A questão toda é o cuidado, o limite que se deve colocar no uso dos eletrô- NICOS�E�DA�INTERNET��!l�NAL��NINGUÏM�SØ� trabalha, faz esportes ou estuda o dia INTEIROå� !S� ATIVIDADES� DIÉRIAS� DEVEM� ser múltiplas, permitindo contato com DIVERSAS� SITUA¥ÜES�� EXPERIÐNCIAS� E� PES soas. As trocas presenciais são compro- vadamente indispensáveis para a saúde mental, para o equilíbrio emocional e permitem um crescimento mais sadio. Intercalar atividades, dosar os ho- rários, colocar sempre as atividades QUE�EXIGEM�SUA�ATEN¥ÎO��ESFOR¥O�MEN tal (como tarefas escolares) antes do lazer vão impedir que cenas de birra por deixar um jogo, em troca de fazer LI¥ÜES��ACONTE¥AM� $E� FORMA� ALGUMA� UMA� CRIAN¥A� sai à rua sozinha em um bairro des- conhecido, não é? Então, como pode NAVEGAR�SEM�A�PRESEN¥A�DE�UM�ADULTO� por sites que podem levar a conteúdos inesperados ou a contatos indesejados? Antes dos dez anos é contraindicado QUE�CRIAN¥AS�NAVEGUEM�SEM�UM�ADULTO� POR� PERTO� E�� QUANTO�MENOR� A� CRIAN¥A�� MAIOR�A�VIGILÊNCIA��A�ORIENTA¥ÎO�QUE�A� família deve oferecer. Um horário gra- dual deve ser estabelecido de acordo com a idade e a possibilidade de um responsável estar presente e atento en- quanto o pequeno navega pela internet ou quando está jogando, pois todos os momentos podem ser importantes AS TROCAS PRESENCIAIS SÃO COMPROVADAMENTE INDISPENSÁVEIS PARA A SAÚDE MENTAL, PARA O EQUILÍBRIO EMOCIONAL E PERMITEM UM CRESCIMENTO MAIS SADIO PARA� UMA� INTERVEN¥ÎO� ADULTA� SOBRE� O� tempo utilizado e o conteúdo visto. !SSIM�� TAMBÏM�� CELULARES� SOl�STI cados de acesso à internet devem ser deixados para mais tarde. A princípio AS� CRIAN¥AS� A�PARTIR� DOS� SEIS� ANOS�PO dem receber (se necessário) um celu- lar que lhes permita falar apenas com seus pais e familiares, mas com ele re- ceber algumas regras de uso: guardar o aparelho nas horas de estudo (para EVITAR� A� DISPERSÎO �� NAS� REFEI¥ÜES� COM� a família (e os pais devem fazer o mes- mo) e após o jantar o aparelho deve ser DESLIGADO� DEl�NITIVAMENTE�� UMA� NOITE� de sono é muito importante para um CÏREBRO�EM�FORMA¥ÎO� É bom que se diga também que jogos eletrônicos bem utilizados, sem dúvida, estimulam positivamente o cé- rebro infantil, aumentam a massa cin- zenta, desenvolvem habilidades especí- l�CAS�E�LEVAM�Ì�UMA��PARTICIPA¥ÎO�SOCIAL� de outra ordem , à qual não se pode NEGAR�A�IMPORTÊNCIA�� Dizer não pode não ser simpático nem agradável, mas, como em todas as DEMAIS� ÉREAS� DA� EDUCA¥ÎO�� Ï� INDISPEN SÉVEL�PARA�IMPOR�LIMITES�SEGUROS��!l�NAL�� frente à necessidade de uma boa noite de SONO��SEM�TODA�ESSA�ESTIMULA¥ÎO�CEREBRAL� dispensável, e com tantos bons livros in- FANTIS�PARA�SEREM�LIDOS�POR�PAIS�E�l�LHOS�� jogos de tabuleiro a serem experimenta- dos, conversas e trocas a serem feitas... SEMPRE�Ï�BOM�PENSAR�EM�MODIl�CAR�A�RO tina e deslig@r-se�DA�TECNOLOGIAå� 22 psique ciência&vida COMPORTAMENTO Uma quebra de PARA DIGMA COMPORTAMENTO www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 23 Marcos Fernandes é psicanalista e médico veterináriohomeopata, mestre em saúde pública pela USP e autor do livro Cara de um, Focinho do outro (Editora Butterfly). www.psicaveth.com.br. E-mail: meduardo@usp.br Estudos comprovam os benefícios da interação entre o homem e os animais, como diminuição do estresse, equilíbrio da frequência cardíaca, da pressão arterial e até do colesterol, além de ajudar no tratamento de problemas psíquicos Por Marcos Fernandes SH UT TE RS TO CK 24 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br COMPORTAMENTO A insegurança e a descrença no ser humano sustentam o crescente culto em cultivar objetos de satisfação. A união com um animal de estimação poderia se inserir nessa lógica, que permitiria buscar a superação do sentimento de separação da natureza a descrença no próprio ser humano sustentam o crescente culto em cul- tivar objetos de satisfação. A união com um animal de estimação pode- ria se inserir nessa lógica, que per- mitiria buscar a superação do sen- timento de separação da natureza (Fromm, 1974). A zooterapia é a ciência que estu- da as possibilidades terapêuticas do contato com os animais. É transdis- ciplinar e com muitas possibilidades de aplicação. Ela consiste em uma terapia com a presença de animais, e busca promover no paciente estímu- lo ao toque para despertar sua sensi- bilidade tátil ou, até mesmo, reações psicológicas e emocionais. Os tratamentos zooterapêuticos podem ser utilizados em crianças, Em nenhum momento da história da humani-dade a relação entre os homens e os animais foi tão intensa e impor- tante quanto nesse exato momento. Nunca houve tanta ligação, seja fí- sica ou afetiva, e nem tamanho en- volvimento emocional e apego dos humanos para com os animais, es- pecialmente cães e gatos. Esse contato data de cerca de 11 mil anos para os cães e 9.500 anos para os felinos. Pesquisas mostram que o convívio com os animais é considerado um dos melhores re- cursos terapêuticos. Especialmen- te para as pessoas que vivem em grandes centros urbanos, o animal representa contato com a natureza (Fromm, 1974). Segundo Fromm, o ser humano atual, como em qualquer outra épo- ca vivida, busca a união para reduzir essa separação. Tal busca é interpes- soal, porém, contemporaneamente, em um mundo que se caracteriza pela velocidade das informações e pela competitividade (relações pes- soais ou trabalho), a insegurança e HIPÓCRATES INAUGURA A MEDICINA BASEADA NA OBSERVAÇÃO CLÍNICA PARA SABER MAIS OMédico grego, Hipócrates (456-370 a.C.) foi considerado o pai da Medicina e, por isso mesmo, o mais célebre médico da Antiguidade, além de pio- neiro da observação clínica. Filho de Heráclides e Fenareta, era descendente de Asclépio, deus grego da Medicina, por parte de pai, e de Hércules, por parte de mãe. Especula-se que integrou uma sociedade secreta chamada Asclepíades, ��������� ����I�\���9����������G�����PH������ ������I��G��:� �����������G��I��� Medicina na escola do Templo de Esculápio. Por volta de 300 a.C. começaram a ���������������\ �I��9������IG�G��I����I� ���I��������hÔ��#���I�P��IG:�-Ô�� 53 tratados com os ensinamentos provavelmente pertencentes a Hipócrates. A coleção é uma das primeiras obras que se referem à Medicina como ciência �G���G��������������G�:�.�G�G�� ����� ���G�9�G���I��Gh�������G���G�:�-�����GHG¢ �����G�IG������ G�(� �I��G�I�����G������GhÔ���P��IG��� ����G��� ��G����G�G� ciência baseada na observação clínica. Considera que todo corpo traz em si os elementos para a sua recuperação. Mas o conhecimento do corpo só é possível a partir do conhecimento do homem como um todo. Estudos mostram que o convívio com os animais é considerado um excelente recurso terapêutico, principalmente para quem vive em grandes centros urbanos www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 25 As pessoas que têm animal de estimação fazem menos visitas médicas, permanecem menos tempo no hospital e possuem maior facilidade de adaptação a uma nova rotina de recuperação depois de uma doença idosos e pessoas que apresentam ou não algum tipo de deficiência. Como nas terapias convencionais, na zooterapia, os resultados depen- dem de uma série de fatores que en- volve a tríade animal co-terapeuta x paciente x profissional (Becker, 2003; Dotti, 2005). Na zooterapia, quando são utili- zados cães, a terapia assistida é de- nominada de cinoterapia, enquanto a por equinos é a equoterapia ou hipoterapia. Há também a terapia assistida por golfinhos ou botos, co- nhecida como bototerapia. Não se trata de uma terapêutica recente. Hipócrates (456-370 a.C.) recomendava a equitação para re- generar a saúde e conservar o corpo humano. Além disso, afirmava que a prática de equitação ao ar livre me- lhorava a qualidade do tônus muscu- lar. Na Grécia antiga, nos chamados “templos de cura”, os cães já eram utilizados para essa finalidade, sen- do que a mais importante divindade de cura entre os gregos, conhecida como Asclépio, costumava se ma- nifestar por meio de “cães sagrados” (Sheldrake, 1999). No final do século XIX, na Bél- gica, médicos perceberam que pa- cientes com algum tipo de deficiên- cia mental passavam a se socializar melhor em virtude do convívio com animais. Na Inglaterra, nos anos 30, pesquisadores descobriram um fato curioso: em asilos, os idosos que estavam acompanhados de seus animais eram mais sociáveis e inde- pendentes. Nos Estados Unidos, em 1940, utilizou-se pela primeira vez a terapia animal para aqueles que con- valesciam de ferimentos ou proble- mas emocionais causados durante a Segunda Guerra Mundial. Pioneirismo No Brasil, na década de 1950, a médica psiquiatra Nise da Silveira foi uma pioneira na IMAG EN S: S HU TT ER ST OC K pesquisa das relações emocionais entre pacientes e animais, que os denominava como co-terapeutas. Percebeu essa possibilidade de tra- tamento ao observar um paciente que se responsabilizara por cuida- dos a uma cadela abandonada. Esse paciente obteve melhora do quadro diante da responsabilidade de tratar do animal como ponto de referência afetiva em sua vida. A partir daí, ela passou a observar e a documentar as melhoras visíveis quando os pacien- tes psiquiátricos estavam em conta- to direto com os animais, inclusive se responsabilizando diretamente pelos seus cuidados básicos, como alimentação e higiene. Já na Alema- nha, o Instituto Bethel, originaria- mente um hospital para epiléticos, utiliza pássaros, gatos, cães, cavalos e outros animais domésticos como parte importante no tratamento de pacientes com alterações psicológi- cas e emocionais. Estudos diversos focalizam perspectivas diferentes sobre o pa- pel dos animais no desenvolvimento do comportamento e da persona- lidade humana. As formas de rela- cionamento entre humano e animal podem ser divididas nos seguintes grupos: Atividade assistida por ani- mais – envolve visitação, recreação Nos anos 30, na Inglaterra, especialistas descobriram que, em asilos, os idosos que estavam acompanhados de seus animais eram mais sociáveis e independentes 26 psique ciência&vida COMPORTAMENTO No relacionamento com o animal de estimação há uma diminuição do nível de cortisol, que é o hormônio liberado quando o corpo está numa condição de estresse físico e mental, que, em excesso, tem a sua ação no sistema imunológico e distração por meio do contato dos animais com as pessoas. O propósito é estimular um início de relaciona- mento e sem um objetivo claro. Tera- pia assistida por animais – é dirigida e desenhada para promover a saúde física, social, emocional ou funções cognitivas. É uma terapia documen- tada e com resultados avaliados. Te- rapia facilitada por cães –é a terapia realizada exclusivamente com cães. Educação assistida por animais – é a terapia realizada com animais dentro do contexto educacional. A terapia funciona por meio do contato direto com o animal. Quan- to mais a pessoa sentir empatia por animais, mais será beneficiada pela zooterapia. Entre os benefícios da Até mesmo como estímulo contra o sedentarismo a presença do animal é importante, pois são companheiros também nas atividades físicas IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K/ AR QU IV O PE SS OA L DO A UT OR NISE DA SILVEIRA REVOLUCIONA A PSIQUIATRIA BRASILEIRA PARA SABER MAIS O )���� G�-������G�<D;@¢<DDD������G��� G��G�IG G����������� �����H����� comportamento humano e o tratamento de patologias psicológicas. Dis- cípula de Jung, a médica e psiquiatra revolucionou a forma do tratamento dos doentes mentais, usando técnicas artísticas – pintura e desenho, por exemplo –, como terapia. Pioneira na pesquisa das relações emocionais entre pacientes e animais, defendia o fim de tratamentos tradicionais, como o eletrochoque, o uso de drogas e o confinamento clínico. Nascida em Maceió, Alagoas, Nise in- ���������G�!GI�� G �� ��(� �I��G� ��-G��G ��9����<D=<9���� ��G�b��IG�������� de sua turma, bem como uma das primeiras médicas do Brasil. Já no Rio de Janeiro, ficou presa por mais de um ano, denunciada por manter livros consi- derados subversivos. No presídio, conviveu com o escritor Graciliano Ramos, que narrou essa amizade em Memórias do Cárcere. Por discordar dos trata- ���������G �I���G��9�������G������ G��G�G�G�-�hÔ�� ��.��G��G�*I��GI���G�9����� se resumia a tarefas de limpeza e manutenção do hospital. Lá, revolucionou o tratamento clínico dos pacientes ao criar ateliês de pintura e modelagem. Em <D@=���� ��9���� ��9���(����� ��$�I���I�������G�G�GH���G�������GI����:� 9���� <D@A9�G��G�G� G��+G�����G�9����I������ ����GH����GhÔ���G�G��GI���������������� de hospitais psiquiátricos. interação entre humanos e animais destacam-se redução no tempo de recuperação das doenças e maior sobrevida dos pacientes acometi- dos de cardiopatia isquêmica, uma vez que nesses casos houve dimi- nuição da ansiedade e da depressão. Até mesmo como estímulo contra o sedentarismo a presença do animal é importante. Já está comprovado cientifica- mente que a companhia de um ani- mal de estimação diminui nosso es- tresse, equilibra a frequência cardí- aca, a pressão arterial e até o coles- terol. As pessoas que têm animal de estimação fazem menos visitas mé- dicas, permanecem menos tempo no hospital e possuem maior facilidade de adaptação a uma nova rotina de recuperação depois de uma doença (Becher, 2003). Esses benefícios ocorrem em função da liberação de hormônios e neurotransmissores responsáveis, especialmente, pelo bem-estar. No relacionamento com o animal de estimação há uma diminuição do nível de cortisol, que é o hormônio liberado quando o corpo está numa condição de estresse físico e mental, que, em excesso, tem a sua ação no sistema imunológico. Crianças O contato com animais estimula a interação social, por exem- plo, para as crianças. Os cães são www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 27 amigos especiais, membros da fa- mília. Crianças com traumas e his- tórico de abuso e, portanto, que têm dificuldade de formação de vínculos podem, através dos cães, conquistar confiança e facilitar a formação dos mesmos. Os animais ajudam muito a criança a lidar com o luto, pois, normalmente, é na infância que nos deparamos com essa situação pri- meiramente, na medida em que a criança vivencia a morte do passari- nho, gatinho e mesmo dos seus cães. A presença dos animais em casa facilita o processo de aprendizagem, tais como leitura, memorização e concentração, pois crianças, comu- mente, são vistas lendo em voz alta para os seus cães, pois elas se sentem mais à vontade. Afinal, eles não as repreendem nem as corrigem. Os animais ajudam na melhora das capacidades motora, cognitiva e sensorial. Podem ser de grande aju- da na psicoterapia, pois eles fazem a ponte com o terapeuta e este pode alcançar o paciente de forma mais fácil e rápida. Proporcionam im- portante melhora na capacidade de comunicação de autistas. Crianças e adolescentes com ansiedade têm seus sintomas amenizados na pre- sença dos animais. Eles facilitam, também, o processo de aprendiza- gem através da expressão de senti- mentos e motivação. Outra constatação importan- te no acompanhamento de animais que visitam seus tutores internados em hospitais é o desejo que estes demonstram em melhorar, a fim de cuidarem dos mesmos. Além disso, os animais podem atuar como su- porte emocional, assumindo o papel de cúmplices, que ouvem confidên- cias e não as revelam. A terapia funciona com o conta- to direto com os animais, e quanto mais a pessoa sentir empatia por eles mais será beneficiada pela zootera- pia, que pode ser um auxílio no tra- mentais, paralisia cerebral, paraple- gia, sequelas de traumatismo cra- niano, autismo, distúrbios da fala, síndrome de Down, entre outras. Ela melhora a elasticidade e a f lexibili- dade, a coordenação motora, a acui- dade visual, tátil, auditiva e olfativa, o domínio respiratório, o aumento da percepção do próprio corpo, me- lhora a capacidade de concentração e ainda estimula sensações e percep- ções que incrementam o afeto e in- serem o indivíduo na sociedade. O movimento tridimensional do cavalo se assemelha ao realiza- do pelo ser humano. Nesse sentido, pacientes com algum tipo de defici- ência motora que montam esses ani- mais acabam por receber estímulos de forma repetida no sistema nervo- so central, desencadeando respostas positivas. Dentre os benefícios po- demos destacar a melhora no desen- volvimento motor, maior adequação do tônus muscular, melhora na co- ordenação motora e no controle da Os animais ajudam na melhora das capacidades motora, cognitiva e sensorial. Pode ser de grande ajuda na psicoterapia, pois eles fazem a ponte com o terapeuta e este pode alcançar o paciente de forma mais fácil e rápida Crianças que viveram situações traumáticas e, em consequência, I��� �I�� G �� de formação de vínculos podem, por meio dos cães, conquistar I��G�hG tamento de muitas doenças, dentre elas: Alzheimer, Aids, paralisia ce- rebral, demências, derrame, afasia, ansiedade, depressão, síndrome do pânico, fobia social. A hipoterapia ou equoterapia é indicada para deficiências motoras e 28 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br COMPORTAMENTO Uma constatação importante no acompanhamento de animais que visitam seus tutores internados em hospitais é o desejo que estes demonstram em melhorar. Além disso, os animais podem atuar como suporte emocional, assumindo o papel de cúmplices cabeça e do tronco, proporcionando maior equilíbrio. Aplicada no Brasil aproximadamente há quinze anos, é indicada, principalmente, para crianças com síndrome de Down, paralisia cerebral e dislexia. Asinoterapia Há, também, a asinoterapia – te-rapia com burros –, pois trata- -se de um animal de temperamento dócil e muito inteligente. Está indi- cado, principalmente, em síndrome de Down, autismo, traumas cra- nioencefálicos, acidente vascular cerebral, amputações, desordens emocionais, distrofias muscula- res, dificuldades de atenção, fala e aprendizagem, paralisia cerebral, distúrbios visuais e auditivos, atraso no desenvolvimento neuropsicomo- tor, paralisias e hemiplegias. Um estudo realizado por Beck e Katcher (2003), com 92 pessoas in- fartadas, apontou que 53 delas pos- suíam animais de estimação.