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FACULDADE DE INTEGRAÇÃO DO SERTÃO Disciplina: Direito Penal I - 4º Período: 2014.1 Professor: Magno Antonio Leite Tema da Aula: Delito como Ação Típica e Ilícita. DIREITO PENAL 1. Conceito de tipo: O Direito Penal é, por excelência, um Direito tipológico O tipo é a descrição abstrata de um fato real que a lei proíbe (tipo incriminador). Desse modo, o tipo legal vem a ser o modelo, o esquema conceitual da ação ou da omissão vedada, dolosa ou culposa. “É a expressão concreta dos específicos bens jurídicos amparados pela lei penal”. 1 O tipo como tipo de injusto compreende os elementos que fundamentam a ilicitude. (tipo de injusto = ação típica e ilícita). Por seu turno, a tipicidade é a subsunção ou adequação do fato ao modelo previsto no tipo legal. É um atributo da ação, que a considera, típica (juízo de tipicidade positivo) ou atípica (juízo de tipicidade negativo). Daí ser a ação típica um substantivo, isto é, a ação já qualificada ou predicada como típica (subsumida ao tipo legal). A tipicidade é a base do injusto penal. Com lastro no princípio da reserva legal (art. 5º, XXXIX, CF; art. 1º, CP), o tipo legal de delito engendra uma série de funções: a) seletiva; b) de garantia e de determinação; c) fundamento da ilicitude; d) função indiciária da ilicitude; e) criação do mandamento proibitivo; f) delimitação do “iter criminis” 2. Tipicidade e ilicitude: No que toca à relação entre tipicidade e ilicitude quatro teorias são identificadas: a) Teoria do tipo independente ou avalorado – a tipicidade tem função descritiva, objetiva e valorativamente neutra, absolutamente separada da ilicitude, nada indicando a seu respeito; b) Teoria indiciária – a tipicidade é a ratio cognoscendi da ilicitude, isto é, a tipicidade da ação constitui um indício (ou presunção) de sua ilicitude (salvo a presença de uma causa justificante). A tipicidade é o principal indício ou fator cognoscível da ilicitude; 1 PRADO, L. R. c) Teoria da identidade – a tipicidade é a ratio essendi da ilicitude. A tipicidade conduz necessariamente à ilicitude, já que formam um todo unitário. A tipicidade é “antijuridicidade material tipificada”.2. E o delito é conceituado como ação “tipicamente antijurídica e culpável” 3; d) Teoria dos elementos negativos do tipo – a tipicidade e a ilicitude encontram-se superpostas, de modo que verificada a primeira, verifica-se a segunda. As causas de justificação integram o tipo de injusto, como elementos negativos – excludentes da tipicidade e, logo, da ilicitude, em razão de se identificar tipicidade e ilicitude. Atenção: é necessário aqui distinguir entre as noções de ilicitude e injusto. A primeira é uma relação de oposição da conduta do autor com a norma jurídica. É um predicado de determinadas formas de ação / omissão. O injusto, por sua vez, é a própria ação valorada como ilícita. Tem cunho substancial. Tão somente o injusto é mensurável, em qualidade e quantidade (v.g. homicídio / lesão corporal). 3. Causas de justificação: Toda ação compreendida em um tipo de injusto (doloso ou culposo) será ilícita se não concorre uma causa de justificação. Infere-se, pois, que a presença de uma causa justificante faz da ação típica uma ação lícita ou permitida. Assim, da mesma forma que o fundamento do injusto radica no desvalor da ação e no resultado, a sua exclusão subordina-se a um juízo de valor sobre a ação e o resultado das causas justificantes. Isso vale dizer: elementos objetivos e elementos subjetivos. Exemplo: no estado de necessidade podemos elencar: a) elementos objetivos: perigo atual / direito próprio ou alheio; b) elemento subjetivo: conhecimento e vontade de salvamento. As fontes das causas de justificação são: A lei (estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito), a necessidade (estado de necessidade e legítima defesa), e a falta de interesse (consentimento do ofendido). O Código Penal enumera, de modo expresso, ainda que não taxativo, as principais causas de justificação, sob a rubrica exclusão de ilicitude. (art. 23, CP). No parágrafo único, trata do excesso punível: “o agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo”. Pelo excesso (intensivo ou extensivo) responde o agente, a título de dolo ou de culpa, em qualquer das causas de exclusão do injusto. 2 SAUER, G. 3 MEZGER, E. Atenção: As chamadas justificantes putativas (legítima defesa putativa; estado de necessidade putativo etc.) enquadram-se na categoria do erro (art. 20, §1º e art. 21, CP). Os efeitos das excludentes de antijuridicidade alcançam a esfera extrapenal, dado o caráter unívoco da ilicitude. (v.g., art. 65, CPP; art. 929 e art. 930, CC). Estado de Necessidade: Atua em estado de necessidade o agente que, para salvar de perigo atual e inevitável, não provocado voluntariamente, direito próprio ou de terceiro, obriga-se a lesar outro alheio. (art. 24, CP). Não pode alegá-lo quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. É a situação na qual se encontra uma pessoa que não pode razoavelmente salvar um bem, interesse ou direito, senão pela prática de um ato, que fora das circunstâncias em que se encontrava, seria delituoso. Requisitos objetivos: a) Perigo atual e inevitável – é o perigo concreto, presente, imediato, com real probabilidade de dano; b) Direito próprio ou alheio cujo sacrifício não era razoável exigir-se - o direito que se pretende salvar pode ser próprio ou de outrem, por motivo de ordem pessoal ou solidariedade humana; c) Não provocado pela vontade do agente – se o agente causar a situação de perigo com dolo não poderá alegar estado de necessidade; d) Inexistência do dever de enfrentar o perigo – o dever de enfrentar o perigo é obrigação exclusivamente legal. Requisito subjetivo: ciência da situação fática, vontade ou ânimo de salvar o bem ou direito em perigo. O agente deve atuar com o fim, com vontade de salvamento.
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