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O padrão de beleza imposto pela mídia e os impactos sobre a juventude brasileira

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Sozinha, redução da maioridade não soluciona
De acordo com especialistas, investimentos em políticas públicas primárias são fundamentais para resolver a questão dos menores infratores
Foi encaminhada neste mês, pelo governador Geraldo Alckmin, a proposta de aumentar o tempo máximo de internação de 3 para 8 anos para os menores que cometem crimes. A proposta foi feita após o assassinato do estudante da Faculdade Casper Líbero, Victor Hugo Deppman, o que movimentou a opinião pública a respeito da redução da maioridade penal. Em pesquisa recente realizada pelo Ibope, 93% dos paulistanos manifestaram-se a favor da diminuição.
Para Ariel de Castro Alves, especialista em Políticas de Segurança Pública, que já foi membro do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e faz parte do Movimento Nacional de Direitos Humanos, é preocupante que legislações sejam impulsionadas pela emoção e pela revolta. “Cabe ao Congresso Nacional criar uma Comissão Especial formada por especialistas na área da infância e juventude para realizar essa revisão sobre o tempo de internação. Entendo, pessoalmente, ser uma discussão pertinente, mas deve ser multidisciplinar”, diz o especialista. Entretanto, ele faz a ressalva de que os 8 anos propostos podem ser considerados inconstitucionais, pois a Constituição Federal prevê a “brevidade” da medida de internação.
Já para Thales Cezar de Oliveira, promotor de justiça e professor universitário, a proposta definitivamente não é uma boa opção: “É feita por pessoas que não conhecem a Fundação Casa a fundo”. Ele argumenta que hoje há cerca de 9 mil adolescentes internados na fundação com medidas de até 3 anos, que ficam de 6 meses a um ano e meio no local. Com a pena máxima de 8 anos, o tempo de permanência na Fundação aumentaria para três anos, o que em 5 anos geraria uma população de 27 mil adolescentes internados. “Isso vai transformá-la num novo sistema prisional”, diz.
Diferentes opiniões
Thales posiciona-se a favor da redução da maioridade penal para os 16 anos. Ele acredita que esta não é a solução para o problema da violência, mas defende que é uma ação emergencial necessária para que se possa desenvolver uma reestruturação da sociedade através do investimento em políticas públicas primárias. De acordo com ele, é com 16 anos que os menores começam a cometer crimes mais graves como estupros, latrocínios e homicídios. Ele percebe, em seus atendimentos no Fórum, que eswwses menores têm consciência do ato que praticaram e da proteção que o ECA lhes dá. “A primeira coisa que eles falam é aquela frase célebre: Sou de menor”, comenta.
Essa posição é corroborada pelo também promotor Cláudio da Silva Leiria, que comentou a aprovação da população pela redução: “O principal motivo pelo qual a sociedade apoia a redução da maioridade penal é porque está cansada de ser vítima de ilícitos praticados por adolescentes, os quais se escudam na debilidade e frouxidão da legislação menorista”. Cláudio também destacou a mudança dos jovens de 16 a 18 anos nas últimas décadas, o que justificaria a alteração da lei: “O jovem de hoje tem acesso à informação, a direitos e a contatos sociais como nunca se viu na história da humanidade. Não se pode mais sustentar, portanto, que não tenha condições de responder penalmente por seus atos”, comentou o promotor, acrescentando que as condições de vida não podem servir como desculpa para esses jovens. “É certo que o meio influencia, mas não podemos ter a visão determinista de que será o meio, sempre e de forma absoluta, que moldará o caráter e a vontade do indivíduo”, afirma.
No sentido oposto, Ariel acredita que a redução da maioridade penal só geraria o aumento da violência. Ele aponta que a reincidência no Sistema Prisional Brasileiro, conforme dados oficiais do Ministério da Justiça, é de 60% e que no sistema de internação de adolescentes ela é estimada em 30%. Além disso, na Fundação Casa de São Paulo, os índices são, atualmente, 13,5%.
Análise de dados da Fundação Casa
Ariel deixa claro que o índice de reincidência da Fundação Casa não leva em conta os jovens que completam 18 e vão para as cadeias pela pratica de novos crimes, o que é um dos argumentos do promotor Thales para questionar estes dados, acrescentando que também não são computados na estatística os adolescentes que não reincidem porque morrem durante o cumprimento das medidas de meio aberto.
Esse não é o único dado que chama a atenção entre os números da Fundação Casa. A descentralização dos internos é outra medida tomada nos últimos anos, concentrando os jovens nas unidades do Interior e do Litoral. Para Roberto Silva, ex-interno da Febem e professor da Faculdade de Educação da USP, essa medida pode trazer problemas ao levar adolescentes para longe de suas famílias e busca melhorar os índices de violência na capital. “Isso influencia no preço dos seguros dos carros, na arquitetura das casas, na indústria da segurança, causa um impacto econômico. São Paulo é uma das cidades mais caras do país e boa parte desse sobrepreço é por causa da sensação de violência”.
Roberto também destacou o papel da imprensa na formação dessa imagem violenta por explorar casos isolados e não demonstrar o panorama geral desses jovens. “A grande mídia deveria divulgar também que a taxa de homicídios e latrocínios é insignificante e que o trabalho através de medidas socioeducativas vem sendo efetivo e está diminuindo a reincidência”, afirmou o pedagogo.
Ressocialização dos menores infratores
Ariel acredita que se o Estatuto da Criança e do Adolescente fosse cumprido, sequer haveria adolescentes infratores. Além disso, ele lembra que os adolescentes são responsabilizados, não com penas, mas com medidas sócio-educativas. “Eles não ficam impunes, vão cumprir penalidades que visam mais a ressocialização e a reeducação do que a punição. Ao invés de mudar a lei, temos que cumpri-la!”, conta.
Thales discorda da eficiência da legislação dizendo que o ECA tem punições condizentes, quando se fala de furto, por exemplo, mas não em casos como os de homicídio ou estupro, para estes crimes, o promotor afirma: “Não têm penas condizentes com o mal causado para a sociedade. Mata-se uma pessoa com a consciência de que se vai passar 6 meses numa Fundação Casa.”
Para o promotor Cláudio, medidas do governo para garantir os direitos desses jovens seriam eficientes na redução da criminalidade, mas apenas a longo prazo. “Não ignoro que uma parcela da delinquência juvenil seja causada por falta de políticas públicas na área da infância e da juventude. Só que a sociedade não pode esperar décadas até que sejam implementadas as políticas que o pais necessita”, afirma o promotor, que completa: “Nesse intervalo – de muitas décadas – a sociedade pacata e ordeira precisa de proteção contra os menores delinquentes.” Thales concorda que a melhor prevenção é através do investimento do Poder Público nas áreas de educação, saúde e moradia, e acrescenta o investimento na profissionalização destes jovens”.
Texto bônus: Tráfico de drogas é o crime mais cometido pelos menores infratores.
No último ano dobrou o número de adolescentes cumprindo medida socioeducativa no país – em novembro do ano passado havia 96 mil menores nessa condição e neste ano já são 192 mil. O tráfico de drogas é o crime mais frequente entre os jovens; há quase 60 mil guias ativas expedidas pelas Varas de Infância e Juventude do país por este ato infracional. Já o crime de estupro cometido pelos menores aumentou de 1.811, em novembro de 2015, para 3.763, em novembro deste ano. Os dados foram extraídos do Cadastro Nacional de Adolescentes em Conflito com a Lei (CNACL) do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que contém informações dos adolescentes que cumprem medida socioeducativa desde março de 2014.
 
Cerca de 90% dos jovens que cumprem medida socioeducativa são do sexo masculino e a liberdade assistida é a medida mais aplicada aos menores, atingindo atualmente 83.603 adolescentes. A medida consiste no acompanhamento, auxílio e orientação doadolescente em conflito com a lei por equipes multidisciplinares, por período mínimo de seis meses, com o objetivo de oferecer atendimento nas diversas áreas de políticas públicas e a inserção no mercado de trabalho. A segunda medida mais aplicada é a prestação de serviços à comunidade, abarcando 81.700 jovens atualmente, que devem realizar tarefas gratuitas e de interesse comunitário durante período máximo de seis meses e oito horas semanais.
O cadastro mostra que há 249.959 guias ativas atualmente – um número maior do que o de adolescentes que cumprem medida socioeducativa, já que um mesmo adolescente pode responder por mais de uma guia emitida pelo juiz. As medidas socioeducativas, previstas no artigo 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), são aplicadas pelos juízes das varas de Infância e Juventude aos menores de 12 a 18 anos, e têm caráter predominantemente educativo e não punitivo.
Cadastro – O Cadastro Nacional de Adolescentes em Conflito com a Lei (CNACL) foi instituído com o objetivo de permitir aos magistrados brasileiros o acompanhamento efetivo dos adolescentes que cometeram atos infracionais. Desde 2014, o preenchimento do CNACL passou a ser obrigatório para a extração das guias de internação provisória de adolescentes, execução de medidas socioeducativas, guias unificadoras e de internação-sanção, por exigência da Resolução CNJ n. 165. O cadastro é alimentado pelas próprias Varas de Infância e Juventude e por isso podem conter desatualizações temporárias.
Aperfeiçoamento do sistema – A Corregedoria Nacional de Justiça publicou em outubro portaria que institui grupo de trabalho na área da infância e da juventude, para levantar reclamações e demandas relativas à utilização dos cadastros da área da infância e juventude, como o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), o Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (CNCA) e o Cadastro Nacional de Adolescentes em Conflito com a Lei (CNACL). Caberá também a esse grupo organizar workshops em todas as regiões do país, propor melhorias nos sistemas de informações, colher informações sobre boas práticas na área da infância e juventude e sugerir estudos para o aperfeiçoamento da legislação sobre a matéria.
O grupo, presidido pela juíza auxiliar da Corregedoria Nacional Sandra Aparecida Torres, é composto por oito magistrados de vários estados e de diferentes áreas de atuação.
Luiza Fariello
Agência CNJ de Notícias
Minorias sociais - A busca por mais representatividade
Representatividade das minorias 
Com uma população estimada de 203,3 milhões habitantes no Brasil em 2014, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Domicílio (PNAD), 98,419 milhões são homens (48,4% do total) e 102,6 milhões mulheres (51,6%). Desse total, 53,6% se autodeclararam negras ou pardas.
Apesar de serem a grande maioria populacional no país, mulheres e negros - junto com povos indígenas, deficientes, homossexuais, travestis e transgêneros, entre outros - são considerados minorias na sociedade quando analisamos os direitos conquistados e a representatividade.
Segundo a professora e coordenadora do Núcleo de Estudo de Gênero e Diversidade Sexual do campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a psicóloga Viviane Mendonça, minorias sociais são definidas como grupos marginalizados dentro de uma sociedade devido aos aspectos econômicos, sociais, culturais, físicos ou religiosos, de gênero ou orientação sexual.
"Não são minorias porque são poucos, mas porque possuem poucos direitos garantidos, pouca representatividade nas instâncias de poder e pouca visibilidade no cenário social", conta. "São sujeitos que em uma sociedade possuem pouca ou nenhuma voz ativa para intervirem nas instâncias decisórias de poder", completa.
Para a educadora e atriz Vanessa Soares, coordenadora do grupo Saramuná - que pesquisa e difunde a cultura afro-brasileira -, as minorias são resultado do processo histórico brasileiro. "São pessoas que não estão nas publicidades, nos cargos políticos, nas novelas ou nos grandes escritórios", exemplifica.
Um estudo sobre perfil social, racial e de gênero, divulgado em maio de 2016 pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIC) e o Instituto Ethos, mostra que apenas 4,7% dos cargos de alto escalão das 500 maiores empresas do Brasil são ocupados por negros e 13,6% por mulheres. Ou seja, eles representam apenas 18,3% em cargos de mais importância.
O estudo demonstra ainda que entre as empresas que buscam promover ações afirmativas de inclusão das minorias sociais, 43,1% têm políticas voltadas para pessoas com deficiência; 28,2% para mulheres; e somente 8% para negros.
A ausência dessas minorias é destaque também nos meios de comunicação. A agência brasileira Heads, com auxílio da ONU Mulheres, realizou uma pesquisa que mostrou o perfil majoritário explorado pela publicidade veiculada na televisão no país.
Segundo o monitoramento feito pela agência, entre os dias 25 a 31 de janeiro deste ano, mais de 90% dos protagonistas das campanhas publicitárias brasileiras eram brancos. Eles contabilizaram mais de 2,3 mil inserções de 30 segundos exibidas em intervalos comerciais de duas emissoras, TV Globo e Megapix.
No campo político a representatividade das minorias sociais também é mínima. "Poucos representantes destas minorias estão no parlamento brasileiro e também no sorocabano, por exemplo, e poucos são aqueles que defendem uma mudança radical na sociedade para que os direitos de grupos minoritários sejam conquistados", afirma Viviane.
Ela lembra que nas eleições de 2014, das 513 vagas disponíveis para deputados federais, 51 foram ocupadas por mulheres, ou seja, apenas 9,9%. Já no Senado, foram escolhidas cinco mulheres entre as 27 vagas disponíveis. Com isso, a Casa passou a ter 11 senadoras de um total de 81 vagas, o que representa 13,6%.
Nas eleições de 2014 foi a primeira vez que os candidatos tiveram que informar sua cor de pele no registro eleitoral. Com isso, entre os deputados federais eleitos, 81 declararam ser pardos e 22 negros, o que representa 20,1% da Câmara Federal. Os demais afirmaram serem brancos.
Já a proporção de autodeclarados negros entre os 27 eleitos para o Senado foi parecida com a da Câmara: 18,5% - cinco parlamentares.
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FONTE: PNDA 2014 (IBGE) e TSE (Tribunal Superior Eleitoral)
Música e dança afro-brasileira como transformadoras sociais
O grupo sorocabano Saramuná nasceu com o objetivo de pesquisar, difundir e dar visibilidade às manifestações afro-brasileiras, na forma da dramaturgia, música e encenação. "Discutimos política, representatividade, o feminismo, oportunidade, política pública, tudo dentro de um ‘fazer cultural'", conta Vanessa Soares, coordenadora do grupo.
A atriz explica que trabalhou em vários grupos culturais após terminar a faculdade, mas sentia a necessidade de falar da sua história e de ter representatividade no meio teatral. "Eu só era quem passava no fundo do palco.
Não só eu, mas muitos amigos negros também e isso começou a incomodar, a doer muito", diz.
Assim nasceu o Saramuná. Além de promover espetáculos infantojuvenis, roda de danças e ritmos brasileiros de matriz africana, o grupo participa e realiza debates e encontros sobre questões raciais. "A cultura brasileira é calcada na matriz africana, que é a etnia que mais sofre preconceito", afirma.
Ela explica que quando estão em um trabalho diretamente com crianças, o lema é tentar mostrar de forma lúdica que há beleza em ser negro, mostrando que não há razão para o preconceito racial.
A educadora diz ainda que grande parte do grupo é formado por mulheres, mas que foi um movimento natural. "A mulher não tem voz, não tem espaço. Na cena artística, muitas vezes o pensamento que guia um trabalho é muito machista", assegura.
"Como coordenadora do grupo, consigo notar a diferença dessas mulheres de quando elas entram no projeto, no qual vivemos um processo intenso, e depois de um tempo. 
Há uma diferença de postura e no viver", exalta.
Participação de minorias no cenário político brasileiroObstáculos e soluções para a construção de um sistema representativo mais plural e democrático.
1. Introdução
Um dos princípios basilares do Estado Democrático de Direito é a soberania de sua população, que é titular do poder constituinte, sendo o seu exercício realizado por algumas pessoas previamente escolhidas pela maioria, numa relação análoga a mandante e mandatário. A Carta Magna brasileira preconiza no parágrafo único de seu primeiro artigo: “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Percebe-se, pois, que a democracia brasileira – assim como todas as demais democracias contemporâneas – conjuga elementos de participação direta e de representatividade. No entanto, tendo em vista a grande diversidade étnica, cultural e social que marca a nação brasileira, tal representatividade é, muitas vezes, objeto de críticas e descrédito, tendo em vista que muitos grupos sociais minoritários são alijados do processo de tomada de decisões.
Nesse contexto, o presente trabalho tem por objetivo tentar elucidar e analisar de que maneira a participação política efetiva de grupos minoritários, assim como sua representação nos postos de governo, contribue para a redução da situação de vulnerabilidade social desses grupos. Além disso, a discussão presente neste material procura apontar políticas públicas e reformas no sistema eleitoral que, quando implementadas, possam incrementar, facilitar e garantir às minorias nacionais participação mais contundente no processo político, para que, assim, a consolidação de seus direitos aconteça de forma mais coerente, eficaz e célere.
Para tanto, no início da fundamentação teórica caracterizar-se-á os tipos de democracia que vigoraram e que vigoram atualmente; em seguida, um panorama do pluralismo étnico-cultural brasileiro será discutido, sucedido por uma abordagem terminológica sobre minorias e grupos vulneráveis. Após essa parte notadamente teórica, serão colocados dados referentes a participação desses grupos no Congresso Nacional brasileiro, o que levará a uma análise sobre as consequências para esses grupos de uma representação ínfima e incipiente. Ao final, serão apontadas propostas de reformas para alterar essa realidade.
2. Arcabouço histórico do sistema democrático
A democracia (do grego, demokratio; demos, povo, kratia, governo) é, em tese, o governo exercido pelos cidadãos. A ideia de democracia tem sua gênese ainda na Grécia Antiga, tendo Aristóteles como criador e mártir. Originariamente, em sua obra Política, Aristoteles utiliza o termo “politeia” para se referir ao que hoje conhecemos como democracia. Segundo ele, a politeia é o “governo de muitos em favor de todos”. Por isso, no ambiente político grego antigo, a democracia era, formalmente, direta, onde “todos” deliberavam sobre os temas importantes para a pólis. Todavia, é sabido que grupos destituídos de poder ou privilégio, como mulheres, escravos, estrangeiros, eram excluídos do “governo de todos”.
Com a evolução social e o dinamismo das relações estruturais e conjunturais das sociedades, o sistema democrático direto sucumbiu, abrindo espaço para o surgimento dos regimes representativos. Ou seja, a partir do momento que a população não foi mais capaz de deliberar sobre os assuntos da pólis, o “todo” passou a escolher “alguns” para que deliberassem por eles. Nas democracias contemporâneas, porém, alguns institutos de participação direta foram mantidos – justamente com o objetivo de manter exercício do poder mais próximo do universo de cidadãos. O que se vê hoje, portanto, nos diversos países do mundo, é uma democracia semidireta, isto é, um regime de caráter misto, em que o povo não se governa diretamente, mas possuem prerrogativas legais e constitucionais de intervir, algumas vezes, na elaboração de leis e na tomada de decisões. Os institutos que revestem o governo semidireto são: referendum (que abarca o plebiscito), veto popular e a iniciativa popular. A conceituação destes institutos não é essencial para o debate que será posto adiante.
3. Representatividade e participação democrática em uma sociedade pluralista: obstáculos e desafios
Por mais que os Estados tenham consolidado suas democracias – fortalecendo sistemas eleitorais, prezando pela legalidade e moralidade do exercício dos mandatos, rompendo com governos ditatoriais – percebe-se que, analogamente às mulheres e escravos da Grécia Antiga, alguns grupos sociais minoritários e em situação de vulnerabilidade social não participam de forma contundente dos processos de tomada de decisões, seja pela ausência de representação própria – através de candidatos ou partidos políticos – seja em razão do descrédito dos governantes para com os direitos desses grupos, em razão de serem minoritários e destituídos de poder. É mais interessante para os governantes atenderem aos interesses de grupos majoritários quantitativamente, pois, assim, garantirão um considerável montante de votos.
Tal cenário é preocupante e coloca não só o sistema representativo brasileiro em situação delicada, uma vez que é algo recorrente nas democracias ao redor do mundo. Esse contexto leva o regime democrático a ser constantemente alvo de críticas e questionamentos sobre sua legitimidade. Esse é um grande dilema que paira sobretudo nas democracias recentes da América Latina e de países emergentes.
Em um países plurais, como o Brasil, originado a partir da miscigenação de várias etnias, com discrepâncias econômicas concretas entre suas regiões, é comum a existência de diversos grupos minoritários e vulneráveis. “O pluralismo é um dos aspectos que caracterizam o modelo de sociedade democrática brasileira. A diversidade faz parte do meio social em que vivemos e é um elemento essencial para o desenvolvimento da comunidade. Partindo desse raciocínio, pode-se observar a importância da proteção das minorias e grupos vulneráveis” (GUERRA, 2013, p. 226).
É preciso diferenciar terminologicamente minorias e grupos vulneráveis. As minorias são grupos numericamente inferiores quando comparados com outros grupos. Ou seja, são minoritários aqueles que ocupam posição de não dominância no país. Os grupos vulneráveis, por sua vez, não são, necessariamente, inferiores, como é o caso de mulheres, crianças e idosos. Todavia, também ocupam posições inferiores no país, sendo destituídos de poder e de visibilidade.
Conferir voz e visibilidade para esses grupos supracitados é um desafio essencial para a consolidação de uma democracia plural, eficiente e coerente. A partir do momento em que esses grupos passam a ser vistos atrevés de representação política e, com isso, passam a deliberar e firmar presença no debate de temas importantes, rompem-se as barreiras que impedem a projeção de suas vozes e de suas necessidades. Consequentemente, abre-se caminho para vencer o preconceito e a indiferença aos quais estão submetidos.
Segundo pesquisa realizada pelo Congresso Nacional, dos 81 senadores brasileiros, apenas oito são mulheres e dois se declaram negros ou pardos. Na Câmara, dos 513 deputados, 46 são do gênero feminino, 43 são afrodescendentes e somente um é assumidamente homossexual. O quadro mostra um desequilíbrio de representatividade, principalmente quando se leva em conta a presença destes grupos no eleitorado nacional. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por exemplo, as mulheres representam 51,3% do eleitorado. Todavia, nas últimas eleições para vereador, em 2012, dos 415 mil candidatos registrados, somente pouco mais de 130 mil eram mulheres, o equivalente a 31%.
Ainda nesse tom, dados divulgados pela União Inter-Parlamentar indicam que a taxa de participação de mulheres na política brasileira está bem abaixo da média mundial. Países de maioria muçulmana, nos quais a desigualdade de gênero é uma realidade gritante, estão em posição melhores que o Brasil. Superam o Brasil países como Jordânia, Síria, Somália, Líbia, Marrocos, Indonésia, Iraque, Paquistão, Afeganistão, Tunísia, Emirados Árabes e mesmoa Arábia Saudita.
4. Mecanismos e instrumentos para ampliar o acesso dos grupos e minorias ao processo de tomada de decisões
Atualmente, determina a Lei 9.504 de 1997 determina que, do total de candidatos registrados por um partido ou coligação, deve-se ter no mínimo 30% e no máximo 70% de candidatos do mesmo gênero sexual. Existe também a Lei 12.304 de 2009, que obriga os partidos a destinar 5% do Fundo Partidário à formação política das mulheres, assimo como 10% do tempo de propaganda partidária para promover e difundir a participação feminina.
Fazendo ressalvas às leis supracitadas, ainda é preciso fazer muito em termos legiferantes de modo a incentivar e permitir uma maior participação das minorias no processo político brasileiro. Muitas reformas eleitorais e políticas públicas podem ser implementadas para alterar o quadra descrito anteriormente.
Para tanto, interessantíssima a pesquisa realizada pelo Conselho da Europa que, através da Convenção-Modelo sobre a Proteção de Minorias Nacionais e do Relatório Expositivo, apontaram medidas adotadas por alguns países europeus para incentivar e abrir espaço para a participação de grupos minoritários no cenário político desses países. A premissa básica da Convenção-Modelo foi: “as partes devem criar as condições necessárias para a efetiva participação de pessoas pertencentes às minorias nacionais na vida cultural, social e econômica e nos negócios públicos, particularmente naqueles que as afetem”.
Portanto, serão expostas a seguir algumas dessas medidas que, se aplicadas no Brasil, poderão reformular o sistema eleitoral brasileiro e promover, de forma mais saliente e eficaz, a participação política das minorias. Importante dizer que o sistema eleitoral que hoje vigora no Brasil repele a representação de minorias, tendo em vista que o próprio financiamento de campanha privilegia partidos poderosos. Os partidos pequenos, representantes dessas minorias, não conseguem bancar uma campanha equivalente a dos outros e, por isso, não ganham tanta projeção. Ademais, o coeficiente eleitoral, que condiciona determinado candidato ao montante de votos do partido e sua presença no Congresso, impede que candidatos de grupos minoritários ganhem a eleição.
Para alterar essa realidade, algumas medidas salutares podem ser agrupadas em duas categorias: reformas eleitorais que privilegiem e facilitem, direta e indiretamente, a participação de minorias no pleito eletivo e políticas públicas que viabilizem a presença de grupos minoritários nos processos decisórios. Acima dessas duas categorias, paira um principío fundamental para conferir alicerce a tais reformas: a liberdade de associação.
As reformas eleitorais viáveis para promoção da participação de minorias e grupos vulneráveis no cenário político são a diminuição do coeficiente eleitoral a ser obtido para ingresso no parlamento, a reserva de assentos, a redução de filiações necessárias para registro de um partido, a delimitação favorável das circunscrições eleitorais, sobretudo, no caso de votação majoritária e o financiamento privilegiado a partidos de minorias.
Em razão do coeficiente eleitoral que marca o sistema político brasileiro, as minorias podem ser privadas de qualquer representação política por seus próprios partidos, uma vez que esses grupos geralmente representam somente pequeno percentual da população. Um coeficiente eleitoral mais baixo pode facilitar a entrada no Parlamento de partidos de minorias.
Para complementar tal medida, é importante também diminuir as exigências para registro dos partidos em eleições mediante a redução ou a supressão do número de filiados exigido para registro eleitoral.
A reserva de assentos é uma medida que já vem sendo adotada, conforme legislação citada no início desta fundamentação teórica. Todavia, é imprescindível aprimorar essa reserva de assentos e expandir tal medida para vários outros grupos em situação de vulnerabilidade social.
Se a prática de votação em certas áreas segue os padrões minoria/maioria, as circunscrições eleitorais podem ser definidas de modo que gerem oportunidades adequadas para que partidos de minoria ou mesmo representação privilegiada de minorias possam elevar seu número de assentos potenciais através da demarcação de circunscrições eleitorais menores para comunidades minoritárias. Além disso, importante salientar que partidos de minorias são muitas vezes alijados de fundos públicos devido ao seu tamanho reduzido e baixo número de eleitores. Constituir e desenvolver um financiamento privilegiado para esses tipos de partido é medida importante para a promoção da participação política desses grupos.
Atrelado a essas reformas de cunho eleitoral, um conjunto de políticas públicas também é bem vindo. É o caso da constituição do chamado “Parlamento de minorias”, isto é, um conjunto de representantes diretamente eleitos por membros das minorias a nível local ou regional. Ademais, a criação de canais informais de participação, como mesas redondas, conselhos e comitês de contato também podem fazer com que as necessidades desses grupos minoritários sejam escutadas e atendidas pelas autoridades políticas municipais ou estaduais.
5. Considerações finais
Diante do exposto, é perceptível que uma participação política de grupos minoritários e vulneráveis nos processos decisórios é fundamental para consolidar, efetivar e salvaguardar os direitos básicos desses grupos. Mais que isso: assegurar uma participação efetiva de grupos em situação de vulnerabilidade e destituídos de poder significa fortalecer a democracia e avançar no processo de afirmação dos direitos humanos.
Tendo em vista os dados divulgados pelas pesquisas realizadas no Congresso Nacional, que atestaram a incipiente e ínfima representatividade de mulheres, afrodescendentes, homossexuais, deficientes físicos, entre outros grupos, algumas medidas precisam ser tomadas no sentido de alterar essa realidade. Foram, pois, apresentadas algumas propostas de reformas eleitorais e políticas públicas presentes na Convenção-Modelo sobre Proteção das Minorias Nacionais, organizada pelo Conselho da Europa.
É fundamental aplicar tais medidas quando se está diante de uma nação tão diversa e pluralista como a nação brasileira. Infelizmente, até o presente momento, diversos grupos sociais estão alijados dos processos decisórios e, por isso, veem, a cada dia, seus direitos sendo tolhidos e sua cidadania não sendo respeitada. A utopia da democracia, portanto, está longe de ser alcançada quando se pensa o direito das minorias. Não obstante, cabe, neste momento, parafrasear Winston Churchill: “a regra da maioria é a pior das regras da democracia, exceto por todas as outras”.
 
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Vanessa Soares, coordenadora do grupo Saramuná
Movimentos sociais e ativismo político na conquista de espaço na sociedade
Como disse uma certa vez o jornalista, sociólogo e intelectual da Comunicação Muniz Sodré: "O que move uma minoria é o impulso de transformação".
"Essa transformação se constitui como lutas sociais e articulação das minorias em movimentos sociais, ativismos e coletivos, para que tenham mais representatividade nos espaços políticos, econômicos e culturais", alerta a psicóloga e professora Viviane.
Para ela, esses movimentos organizados já conquistaram alguns avanços no que se refere aos direitos das minorias. A professora cita a Lei Maria da Penha como uma dessas conquistas, que completou 10 anos este ano. "Mas, por outro lado, ainda temos que lutar, em pleno século 21, contra a cultura do estupro e a violência de gênero, principalmente por saber que o Brasil está em 5º lugar no ranking mundial em que mais mata mulheres", enfatiza.
Viviane lembra ainda que, apesar da luta do movimento LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), não há uma lei que criminaliza a homofobia no país.
"Sem falar no racismo, que, embora tenhamos uma conquista por ter se tornado crime, ainda está presente com muita força no país", completa.
De acordo com ela, a conquista de espaço e visibilidade setorna cada vez mais urgente para estes grupos diante de um cenário de fortalecimento do conservadorismo. "Portanto, ocupar espaços na mídia, nas ruas e nos parlamentos pela luta por mais direitos e pela garantias daqueles já conquistados é, ou deve ser, pauta dos movimentos de grupos das chamadas minorias sociais", assegura.
 
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"Não são minorias porque são poucos, mas porque possuem poucos direitos garantidos, pouca representatividade" Viviane Mendonça.
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