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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EFEITO DE TRATAMENTOS TÉRMICOS NA MICROESTRUTURA E NA RESISTÊNCIA A TRAÇÃO A QUENTE DO AÇO 2,25Cr-1Mo. AUTOR: Juliermes Carvalho Pereira ORIENTADOR: Dr. José Francisco dos Reis Sobrinho TERESINA-PI 2015 JULIERMES CARVALHO PEREIRA EFEITO DE TRATAMENTOS TÉRMICOS NA MICROESTRUTURA E NA RESISTÊNCIA A TRAÇÃO A QUENTE DO AÇO 2,25Cr-1Mo. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais do Instituto Federal do Piauí, como parte integrante dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Engenharia de Materiais. Área de concentração: Processamento e Caracterização de Materiais Orientador: Dr. José Francisco dos Reis Sobrinho Co-Orientador: Dr. Vitor Luiz Sordi TERESINA-PI 2015 FICHA CATALOGRÁFICA Serviço de Processamento Técnico – IFPI Biblioteca Dr. Francisco Montojos Pereira, Juliermes Carvalho P436e Efeito de tratamentos térmicos na microestrutura e na resistência a tração a quente do aço 2,25Cr-1Mo. / Juliermes Carvalho Pereira. Teresina: IFPI, 2016. 111f.: il. Dissertação (Mestrado) - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí. Teresina, 2016. Orientação: Prof. Dr. José Francisco dos Reis Sobrinho. 1. Aço 2,25Cr-1Mo. 2. Microestrutura. 3. Tratamentos térmicos. 4. Dureza. 5. Tração a quente. I. Título. CDD 669.14 A minha mãe Maria do Amparo Carvalho Sousa e a minha família em geral, cujo apoio foi fundamental para a realização desta pesquisa. AGRADECIMENTOS A Deus, por sempre ter concedido várias graças em minha vida e sem ele nada seria possível. Ao Prof. Dr. Francisco Reis Sobrinho, pelo incentivo, disposição e competência durante a orientação deste trabalho. Ao Prof. Dr. Luiz Vitor, pela paciência na realização de análises e pela co-orientação. Ao Prof. Levi de Oliveira Bueno pela colaboração fundamental para o desenvolvimento deste trabalho. Para a obtenção dos ensaios de tração, foi de suma importância a colaboração do técnico Sr. José Luiz dos Santos, responsável pela máquina Instron do DEMa/UFSCar. A Jessica e Glaucia, alunas do Programa de Mestrado em Materiais do IFPI pela colaboração na preparação metalógrafica das amostras. A REPLAN- Refinaria de Paulínia/PETROBRAS pelo fornecimento das amostras. A todos os professores da PPGEM do Instituto Federal do Piauí pelas disciplinas ministradas. Ao colega Rafael do DEMa/UFSCar, pelo apoio e alojamento na cidade de São Carlos. Aos colegas de sala de aulas e todos aqueles que contribuíram com a execução deste trabalho. Aos chefes e amigos de trabalho, Profº Francisco Portela Morais, Profº Paulo Afonso de Amorim, Profº Ediomar Costa Serra, e Profº João Alberto Santos Porto. E finalmente a Profª Dr. Maria de Fatima Salgado, primeiramente por ter transformado nosso curso de Licenciatura em Física do CESC/UEMA, tambem por ser peça fundamental na minha carreira docente no Ensino Superior, por sempre me incentivar no mundo da pesquisa, pela orientação inicial, e consequentemente ter contribuido para que eu possa ter chegado ate o fim deste programa. EFEITO DE TRATAMENTOS TÉRMICOS NA MICROESTRUTURA E NA RESISTÊNCIA A TRAÇÃO A QUENTE DO AÇO 2,25Cr-1Mo RESUMO Nesse trabalho, estudou-se o efeito de tratamentos térmicos na microestrutura do aço 2,25Cr-1Mo e nas propriedades mecânicas através do recozimento total e da têmpera em óleo com o aquecimento das amostras até sua temperatura de austenização que é de 950 °C. As transformações microestruturais após tratamentos térmicos foram avaliadas com técnicas de microscopia óptica e através de microscopia eletrônica de varredura aliada a análise por espectrometria por energia dispersiva. Por se tratar de aços aplicados na Industria em tubulações e componentes, como vasos que operam sob altas temperaturas e altas pressões, duas características se tornaram significativas: A dureza que lhe confere alta resistência ao desgaste e a resistência a tração que possibilita o material suportar grandes níveis de esforços em condições severas de serviço. As observações por Microscopia Optica aliada a Microscipia Eletronica de varredura, mostraram que no tratamento térmico de têmpera, a amostra revelou microestrutura com predominância martensítica e que o tratamento termico de recozimento total revelou uma microestrutura ferrítica perlítica. Os ensaios de dureza e microdureza revelaram que as amostras recozidas apresentaram uma considerável redução em seus valores se comparado com as amostras na condição normalizado e revenido, e que a amostra temperada mostrou uma grande elevação em seus patamares chegando ao dobro de seus valores se comparado com a amostra normalizada e revenida. As analises via espectrometria por energia dispersiva permitiram a identificação dos carbetos M2C, M7C3, M23C, M6C e M3C distribuídos nas amostras tratadas. Os ensaios de tração a quente das amostras recozidas só apresentaram um melhor desempenho nas temperaturas de 600 °C se comparado com os mesmos ensaios das amostras normalizadas e revenida, já as amostras temperadas tiveram um alto desempenho tanto nas temperaturas de 500 °C como nas temperaturas de 600 °C se comparado com os mesmos ensaios das amostras padrões e nas mesmas condições. Palavras Chave: Aço 2,25Cr-1Mo. Microestrutura. Tratamentos Térmicos. Dureza. Tração a quente. EFFECT OF HEAT TREATMENT ON MICROSTRUCTURE AND RESISTANCE TO TRACTION THE HOT 2,25Cr-1Mo STEEL. ABSTRACT In this study, we studied the effect of heat treatments on the 2,25Cr-1Mo steel microstructure and mechanical properties across the full annealing and quenching in oil with heating the samples until its austenitizing temperature which is 950 °C. The microstructural changes after heat treatments were evaluated techniques of optical microscopy and by scanning electron microscopy combined with analysis by energy dispersive spectrometry. As it steels applied in industry in pipes and components, such as vessels that operate under high temperatures and high pressures, two features became significant: The hardness which gives high strength you wear and tensile strength that enables the material support large effort levels in severe service conditions. The observations by optical microscopy combined with scanning electron Microscipia showed that the tempering heat treatment, the sample showed predominantly martensitic microstructure with heat treatment and total annealing revealed a ferritic pearlite microstructure. The testing the hardness and micro hardness showed that the annealed samples showed aconsiderable reduction in their values compared to the samples in the normalized and tempered condition and the quenched sample showed a large increase in their levels to twice its value compared with the normalized and tempered sample. The analysis via energy dispersive spectrometry allowed the identification of carbides M2C, M7C3, M23C, M6C and M3C distributed in the treated samples. Tensile tests hot of annealed samples only performed better at temperatures of 600 °C compared to the same tests of standard and tempered samples have temperate samples had a high performance both at temperatures of 500 °C as the temperature 600 °C compared with the same test samples and standards under the same conditions. Key Words: Steel 2,25Cr-1Mo. Microstructure. Thermal treatments. Toughness. Traction hot. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Classificação dos aços carbono e aços liga. ........................................... 16 Figura 2 - Ferrita e Cementita ................................................................................. 19 Figura 3 - Ferrita e Perlita........................................................................................ 19 Figura 4 - Bainita ..................................................................................................... 19 Figura 5 - Martensita e Austenita............................................................................. 19 Figura 6 - Diagrama Binário Ferro-Carbono (Fe- Fe3C) ........................................... 20 Figura 7 - Diagrama da transformação Isoterma para um aço eutenóide ................ 22 Figura 8 - Ciclo térmico de aquecimento e resfriamento .......................................... 24 Figura 9 - Diagrama esquemático de transformação para o recozimento ................ 29 Figura 10 - Diagrama esquemático de transformação para têmpera. ...................... 30 Figura 11 - Barra cilíndrica de seção transversal A0 e representação do ensaio ..... 33 Figura 12 - Curva obtida em um ensaio de tração. .................................................. 33 Figura 13 - Alongamento de uma barra cilíndrica de um material metálico submetido a uma carga de tração uniaxial ................................................................................... 34 Figura 14 - Diagrama esquemático tensão-deformação correspondente à deformação elástica para ciclos de carga e descarga. ................................................................. 36 Figura 15 - Comportamento da curva tensão-deformação de engenharia até a fratura do material ............................................................................................................... 37 Figura 16 - Representação esquemática da curva Tensão-Deformação real e de engenharia de um material metálico ........................................................................ 38 Figura 17 - Gráfico Log-Log da curva tensão versus deformação. Expoente n é o expoente de encruamento; K é o coeficiente de resistência ao escoamento. ........... 41 Figura 18 - Curvas Tensão Deformação para diferentes temperaturas e velocidades de tracionamento .......................................................................................................... 43 Figura 19 - Curva TTT do aço 2,25Cr-1Mo .............................................................. 46 Figura 20 - Micrografia ótica do aço 2,25Cr-1Mo novo normalizado e revenido ...... 48 Figura 21 - Espectro de EDS característico de carbetos precipitados encontrados em aços 2,25Cr-1Mo (a) Mo2C, (b) M3C, (c) M7C3, (d) M23C6 e (e) M6C......................... 50 Figura 22 - Rota de têmpera para o aço 2,25Cr-1Mo. ............................................. 52 Figura 23 - Rota de recozimento do aço 2,25Cr-1Mo. ............................................. 53 Figura 24 - Desenho do corpo de prova para ensaio de tração ............................... 56 Figura 25 - Microscopia óptica do aço 2,25Cr-1Mo normalizado e revenido, ataque Nital 2%. A) Aumento de 200X e B) Aumento de 500X .................................................... 58 Figura 26 - Identação localizada no grão Ferrítico no estado normalizado e revenido do aço 2,25Cr-1Mo ....................................................................................................... 60 Figura 27 - Microscopia eletrônica de varredura do aço como recebido ataque Nital com aumentos a)5000X e b)8300X respectivamente. ...................................................... 62 Figura 28 - Microscopia óptica do aço 2,25Cr-1Mo temperado a 950 °C, ataque com reagente Vilella. Aumento de (a) 200x e (b) 400x. ................................................... 64 Figura 29 - Microscopia óptica do aço 2,25Cr-1Mo Temperado a 950 °C, ataque metabissulfito de sódio e reagente LePera modificado, aumento de 400X e 800X. . 65 Figura 30 - Microscopia Eletrônica de Varredura do aço 2,25Cr-1Mo Temperado a 950 °C com ataque 2 % Nital com aumentos 1500X e 5000X respectivamente. ............. 66 Figura 31 - Micrografia obtida após têmpera a partir de 950 ºC mostrando os contornos de grãos da austenita prévia. ................................................................................... 67 Figura 32 - Microscopia óptica do aço 2,25Cr-1M0 Recozido a 950 °C, ataque Nital 2 %. Aumento de (a) 200x e (b) 400x .......................................................................... 68 Figura 33 - Microscopia Eletrônica de Varredura do aço 2,25Cr-1Mo Recozido, ataque com Nital 2 % com aumentos a)1500X e b)3000X respectivamente. ....................... 69 Figura 34 - Micrografia do aço 2,25Cr-1Mo na condição normalizado e revenido via MEV com a identificação localizada dos carbetos. ................................................... 72 Figura 35 - Espectro de EDS do carbeto M7C3 obtido para amostra Normalizada e revenida ................................................................................................................... 73 Figura 36 - Espectro de EDS do carbeto M2C obtido para amostra Normalizada e revenida ................................................................................................................... 73 Figura 37 - Espectro de EDS do carbeto M23C6 obtido para amostra Normalizada e revenida ................................................................................................................... 74 Figura 38 - Micrografia do aço 2,25Cr-1Mo na condição temperado via MEV com a identificação localizada dos carbetos. ...................................................................... 75 Figura 39 - Espectro de EDS do carbeto M6C obtido para amostra temperada ....... 75 Figura 40 - Micrografia do aço 2,25Cr-1Mo na condição recozido via MEV com a identificação localizada dos carbetos. ...................................................................... 76 Figura 41 - Espectro de EDS do carbeto M3C obtido para amostra recozida........... 77 Figura 42 - Espectro de EDS do carbeto M7C3 obtido para amostra recozida. ........ 77 Figura 43 - Espectro de EDS do carbeto M2C obtido para amostra recozida........... 78 Figura 44 - Evolução de precipitados: a) para o grão Ferrítico; b) para o grão perlíticos ................................................................................................................................. 78 Figura 45 - Curvas de tração em TA para o aço 2,25Cr-1Mo Recozido................... 82 Figura 46 - Curvas de tração a 500 ºC para o aço 2,25Cr-1Mo Recozido. .............. 83 Figura 47 - Curvas de tração a 600 ºC para o aço 2,25Cr-1Mo Recozido. .............. 84 Figura 48 - Curvas de tração a 700 ºC para o aço 2,25Cr-1Mo Recozido. .............. 84 Figura 49- Curvas de tração em TA para o aço 2,25Cr-1Mo Temperado ............... 86 Figura 50 - Curvas de tração a 500 ºC para o aço 2,25Cr-1Mo Temperado. ........... 87 Figura 51 - Curvas de tração a 600 ºC para o aço 2,25Cr-1Mo Temperado. ........... 87 Figura 52 - Curvas de tração a 700 ºC para o aço 2,25Cr-1Mo Temperado. ........... 88 Figura 53 - Gráficos dos Limite de Resistencia, Escoamento, alongamento e redução de área com a temperatura para o aço 2,25Cr-1Mo no estado Recozido ................ 91 Figura 54 - Gráficos dos Limite de Resistencia, Escoamento, alongamento e redução de área com a temperatura para o aço 2,25Cr-1Mo no estado Temperado ............. 95 Figura 55 - Comparação dos dados de: a) Limite de resistência; b) limite de escoamento do aço 2,25Cr-1Mo em várias condições ................................................................. 96 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Velocidade relativa de resfriamento de diversos meios. ......................... 31 Tabela 2 - Valores de n e K para metais à temperatura ambiente .......................... 42 Tabela 3 - Classificação do aço 2,25Cr-1Mo Classificação do aço 2,25Cr-1Mo ..... 45 Tabela 4 - Composição Química do aço 2.25Cr-1Mo conforme as especificações da ASTM A 387, grau 22. .............................................................................................. 51 Tabela 5 - Reagentes químicos usados neste trabalho .......................................... 54 Tabela 6 - Ensaios de tração a quente das amostras tratadas do aço 2,25Cr-1Mo 56 Tabela 7 - Composição química (% em peso) do material. ..................................... 59 Tabela 8 - Resultados de Durezas HRB e Micro durezas (HV) para as amostras do aço 2,25Cr-1Mo no estado normalizado e revenido. ....................................................... 60 Tabela 9 - Fração volumétrica e ferrita e tamanho de grão Ferríticos. .................... 70 Tabela 10 - Ensaios de dureza e microdureza do aço 2,25Cr-1Mo temperado ....... 79 Tabela 11 - Ensaios de dureza e microdureza para o aço 2,25Cr-1Mo Recozido ... 80 Tabela 12 - Especificação segundo a norma ASTM A-387/A-387M-90 .................. 81 Tabela 13 - Resultados dos dados de tração a quente do aço 2,25Cr-1Mo no estado Recozido. ................................................................................................................. 89 Tabela 14 - Resultados dos dados de tração a quente do aço 2,25Cr-1Mo na condição Temperado. .............................................................................................. 92 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13 1.1 Objetivos ............................................................................................................ 14 2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 15 2.1 Diagrama de Fases ............................................................................................ 15 2.1.1 Aços liga e aços Ferríticos .............................................................................. 15 2.1.2 Propriedades das Fases Presentes nos Aços Carbono ................................... 16 2.1.3 Diagrama Fe-Fe3C .......................................................................................... 20 2.1.4 Curvas Tempo Temperatura e Transformação ................................................ 22 2.2 Tratamentos Térmicos ....................................................................................... 23 2.2.2 Tipos de tratamentos térmicos: ....................................................................... 27 2.2.3 Meios de Resfriamento ................................................................................... 31 2.3 Ensaios de Tração ............................................................................................. 32 2.3.1 Curva Tensão x Deformação de Engenharia ................................................... 33 2.3.2 Comportamento Tenção x Deformação ........................................................... 35 2.3.3 Propriedades Plásticas dos Metais: ................................................................. 36 2.3.4 Tensão e Deformação Verdadeira e Curva de Escoamento ............................ 38 2.4 Aços Resistentes ao Calor ................................................................................ 44 2.4.1 Os aços Ferríticos Baixa liga 2,25Cr-1Mo e sua Microestrutura ...................... 45 3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 51 3.1 Materiais ............................................................................................................ 51 3.2 Tratamentos Térmicos ....................................................................................... 51 3.2.1 Tratamento Térmico de Têmpera .................................................................... 52 3.2.2 Tratamento Térmico de Recozimento ............................................................. 53 3.3 Caracterização Microestrutural ........................................................................... 54 3.3.1 Metalografia das amostras .............................................................................. 54 3.3.2 Microscopia Ótica ............................................................................................ 54 3.3.4 Microscopia Eletrônica de Varredura e EDS ................................................... 55 3.5 Ensaios de Dureza e Microdureza ..................................................................... 55 3.6 Ensaio de Tração a Quente ............................................................................... 56 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 57 4.1 Caracterização do aço 2,25Cr-1Mo Normalizado e Revenido. ........................... 57 4.1.1 Microscopia Ótica, Análise Química Dureza e Microdureza ............................ 57 4.1.2 Analise da Microscopia Eletrônica de Varredura ............................................. 61 4.2 Caracterização das amostras tratadas termicamente ......................................... 63 4.2.1 Microestrutura da amostra temperada ............................................................. 63 4.2.2 Microestrutura da amostra recozida ................................................................ 68 4.3 Caracterização dos precipitados do aço 2,25Cr-1Mo via EDS ........................... 71 4.4 Ensaios de dureza e microdureza das amostras pós tratadas ........................... 79 4.5 Ensaios de tração a quente ................................................................................ 81 4.4.1 Avaliação da resistência e ductilidade em diferentes velocidades .................. 82 4.4.2 Avaliação do Limite de Escoamento, alongamento, redução de área e encruamento ............................................................................................................ 89 5 CONCLUSÔES ................................................................................................... 100 6 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS ................................................. 102 7 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 103 13 1 INTRODUÇÃO A competitividade industrial tem favorecido, ao longo dos anos, a busca da otimização nos processos de fabricação através do desenvolvimento de meios e métodos inovadores em toda a cadeia produtiva. Neste sentido, a indústriacompetitiva é aquela que atende às condições do mercado, onde se exige produtos de alta qualidade, grande produtividade e redução de custo, então, nestes setores os aços inoxidáveis desempenham um grande papel para o desenvolvimento tecnológico. Os aços Cromo Molibdenio podem ser encontrados na condição normalizado e revenido ou temperado e revenido. Podendo ser obtida uma microestrutura bainítica, a qual possui elevada resistência à fluência quando expostas por tempos curtos, sendo instável a longos tempos de serviço, ou uma microestrutura ferrita-perlita, que a baixas tensões e maiores tempos de exposição, apresenta uma maior resistência tração e á fluência. Entretanto, essas microestruturas são consideradas metaestáveis quando expostas a temperaturas elevadas por um longo tempo, pois podem ocorrer a esferoidização e o coalescimento dos precipitados. Isto resulta em tempo de serviço e resistência à tração e fluência similar para ambas microestruturas (DAVIS, 1997). A propriedade de resistência mecânica a altas temperaturas em aços é obtida pela adição de elementos de liga, como o Cromo, Molibdênio e Manganês em solução sólida. Entretanto, com o aumento do tempo de serviço em tais condições, esses elementos de liga tendem a precipitar na forma de finos carbetos ou nitretos, diminuindo assim a resistência adquirida inicialmente e proporcionando a degradação das propriedades do material ao logo do seu tempo de uso (SANTOS, 2011). Por serem aços utilizados em componentes com longos tempos de uso e que gradualmente sofrem mudanças em sua microestrutura, e consequentemente nas suas propriedades, torna-se vital a investigação das influencias das mudanças microestruturais nas propriedades de tração a quente do aço 2,25Cr-1Mo de maneira a garantir que eles possam continuar a operar de forma segura. Com essa motivação, o aço 2,25Cr-1Mo de classe Ferrítico-Perlítica ou Ferrítica-Bainítica para aplicação em altas temperaturas e condições severas de serviço, com microestrutura modificada através de tratamentos térmicos, foi objeto de estudo. Amostras de aço 2,25Cr-1Mo foram utilizadas na confecção de corpos de prova e submetidos a diferentes rotas de tratamentos térmicos, onde se avaliou dois 14 tratamentos, sendo uma delas a têmpera, onde o aço foi aquecido até o campo austenítico, a aproximadamente a 950 °C e consequentemente resfriado bruscamente ao óleo, e a outra que consistiu no recozimento, também seguida um mesmo aquecimento anterior, só que resfriado lentamente no interior do forno, ambos com atmosfera de argônio. A microestrutura foi analisada via Microscopia Óptica e MEV ao longo da direção longitudinal. Foi analisada o tamanho do grão das amostras tratadas, pois também exercem grande influência na resistência a tração a quente. Análises de dureza e microdureza foram feitas nas diferentes fases a fim de avaliar previamente a sua resistência mecânica, seguindo assim os ensaios de tração a quente nas temperaturas de 500, 600 e 700 °C com diferentes velocidades de travessão. Então, a partir desses dados das propriedades mecânicas e dos fatores micro estruturais, foram analisadas, discutidas e comparadas com outros autores o tratamento térmico mais eficiente para aço 2,25Cr-1Mo objetivando melhorias do seu desempenho em serviços de tração a quente. Este Trabalho foi realizado através de parceria do Instituto Federal do Piauí (IFPI), com o Laboratório de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos UFSCar. 1.1 OBJETIVOS Geral: O objetivo geral deste estudo, é promover alterações no estado Micro estrutural do material por meios de tratamentos térmicos, e verificar o efeito dessas modificações nas propriedades de tração a quente nas temperaturas de 36, 500, 600 e 700 ºC com velocidades de tracionamento de (0,01), (0,5), (1) e (20) mm/mim Específicos: Levantamento microestrutural do aço proposto no estado Normalizado e revenido. Promover tratamentos térmicos de têmpera e recozimento no aço proposto. Realizar trabalhos metalográficos nas peças tratadas por microscopia Ótica. Levantar a Dureza e Micro Dureza do aço normatizado e tratados termicamente. Realizar ensaios de tração a quente na temperaturas e velocidades determinadas. 15 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 DIAGRAMA DE FASES Segundo (CALLISTER, 2002, p.170) “fases em materiais são definidas como uma porção homogênea de um sistema que possui características físicas e químicas uniformes”. O estudo de um sistema de um, dois ou mais componentes, sendo monofásico ou polifásico, pode ser feito a partir dos diagramas de fases, os mesmos são representações gráficas das fases presentes em um sistema em função da temperatura, pressão e composição. Em geral, dependendo de variáveis como temperatura, pressão e composição, uma liga pode exibir microestrutura monofásica ou polifásica. Uma microestrutura é monofásica quando existe completa solubilidade do soluto no solvente, ou seja, não ocorre a formação de precipitado, que em outras palavras, seria uma segunda fase. Exemplos de ligas que podem exibir microestrutura monofásica: Latão (cobre e zinco), bronze (cobre e estanho), etc. 2.1.1 Aços liga e aços Ferríticos Os aços-liga contêm quantidades específicas de elementos de liga, diferentes daqueles normalmente utilizados nos aços comuns. Estas quantidades são determinadas com o objetivo de promover mudanças nas propriedades físicas e mecânicas do produto, permitindo ao material desempenhar funções específicas. De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), os aços- liga são aços que possuem outros elementos, não se considerando como tais os elementos adicionados para melhorar sua usinabilidade. A soma de todos esses elementos de liga, inclusive carbono, silício, manganês, fósforo e enxofre não deve ultrapassar 8 %. A introdução de elementos químicos se dá quando é desejado alcançar efeitos específicos dos aços. São eles: aumentar a dureza e a resistência mecânica; conferir resistência uniforme através de toda a secção em peças de grandes dimensões; e, diminuir o peso. 16 De acordo com as pesquisas de (RAJ, CHOUDHARY e RAMAN, 2004), os aços carbono e os aços-liga com microestrutura de ferrita-perlita ou de ferrita-bainita são muito usados a elevadas temperaturas em plantas de geração de energia, plantas de indústrias químicas e plantas petroquímicas. Os aços carbono são usados geralmente até aproximadamente 370 °C sob altas tensões, podendo ser usado a 540 °C a baixas tensões. Os aços carbono- molibdênio com 0,5 % de Mo são usados até 540 °C, quando se tem uma baixa liga com 0,5 a 1,0 % de Mo em combinação com 0,5 a 9,0 % de Cr e outros elementos de liga formadores de carbetos, tais como vanádio, tungstênio, nióbio e titânio são usados algumas vezes até aproximadamente 650 °C. Para temperaturas acima de 650 °C, as ligas austeníticas são mais usadas (ASM METALS HANDBOOK,1993). Os aços-liga e os aços carbonos têm suas classificações destacadas na Figura 1, as mesmas, podem ser subdivididos em dois e três grupos respectivamente: Figura 1 - Classificação dos aços carbono e aços liga Fonte: (VAN VLACK, 2000 adaptado) 2.1.2 Propriedades das Fases Presentes nos Aços Carbono Geralmente, as propriedades físicas, o comportamento mecânico de um material, está ligado diretamente com sua microestrutura, e a mesma, está sujeita a uma boa observação com o uso de um microscópio quer seja optico ou eletrônico. Nos metais, sua microestrutura é caracterizada pelo número de fases existentes, por suas proporçõese pela maneira segundo a qual estão distribuídas. 17 A microestrutura de uma liga metálica depende de variáveis tais como os elementos de liga que estão presentes, suas concentrações e o tratamento térmico a que a liga foi submetida. As principais fases presentes nos metais e suas principais propriedades são: Fase Austenítica: (do nome do metalurgista inglês Roberts-Austen) uma solução sólida de carbono e ferro gama, possui estrutura cristalina CFC, existindo entre as temperaturas de 727 e 1495 °C, e com solubilidade máxima de carbono no ferro de 2,11 % a 1148 °C. Nos aços, o aspecto da austenita ao microscópio optico é de pequenos cristais sobrepostos ou retida em outras fases como mostra a Figura 5. A condição inicial da austenita determina o desenvolvimento da microestrutura final e também as propriedades mecânicas finais do aço. Assim, o comportamento e as propriedades mecânicas dos aços dependem, não somente da natureza da decomposição da austenita no resfriamento contínuo, mas também da cinética de reaustenitização, ainda, de seu tamanho de grão, da taxa de aquecimento, da presença de inclusões não metálicas e da distribuição das fases. A austenização é a etapa crítica para a qualidade do tratamento térmico (LIMA et al., 2012; CASTRO, 2007). Fase Ferrítica: A ferrita (do latim “ferrum”) é uma solução sólida de carbono e ferro no estado alotrópico do ferro puro, contém em solução traços de carbono, estável abaixo de 910 ºC e se cristaliza no sistema cúbico de corpo centrado. Também chamada de ferro alfa. Comparada com outros constituintes, a ferrita é pouco dura, com dureza Brinell igual a 80 (ABDALLA et al., 2004), a Figura 3 mostra seu aspecto visto ao microscópio optico. Cementita: (do latim “caementum”) é conhecida como carboneto de ferro, Fe3C (contendo 6,67 % de C), constituinte extremamente duro e quebradiço e que aparece no ferro fundido isoladamente ou em camadas alternadas com ferrita, formando a perlita, no primeiro caso, em quantidade predominante, da origem ao ferro fundido branco (CHIAVERINI, 1987). Seus grãos se apresentam em formas de lamelas como mostra a Figura 2. Fase Perlítica: A perlita apresenta-se na forma de lâminas finas dispostas alternadamente. É uma mistura mecânica de 11,5 % de cementita e 88,5 % de ferrita, na forma de laminas finas disposta alternadamente. As propriedades mecânicas da perlita são intermediárias entre as da ferrita e da cementita (CHIAVERINI, 1987). A perlita apresenta-se em forma laminar, reticular e globular como mostra a Figura 3. 18 Fase Bainítica: Fase que apresenta uma complexa formação e uma variedade de tipos possíveis de serem produzidas, que podem apresentar características de resistência e dureza intermediárias entre a fase ferrítica e a fase martensítica e resulta em uma melhora da tenacidade do aço (ABDALLA et al., 2004). A Figura 4 mostra sua aparência ao microscópio optico. De acordo com os trabalhos de Barbacki (1995), o aumento da resistência da bainita pode ser proveniente dos seguintes mecanismos: endurecimento por solução sólida, aumento do nível de deslocações, endurecimento através dos carbetos ou endurecimento por contornos de grão. A bainita pode ser obtida por resfriamento isotérmico entre a temperatura de início da transformação martensítica e a temperaturas de formação da ferrita e perlita. A identificação da fase bainítica em processos metalográficos, utilizando microscopia óptica, é uma das maiores dificuldades na caracterização dos aços multifásicos e exige cuidados especiais na preparação da amostra para que se consiga uma boa análise quantitativa deste microconstituinte. Fase Martensítica: É uma fase metaestável que aparece com o resfriamento brusco da austenita, a transformação ocorre por cisalhamento da estrutura, sem difusão. A martensita nas ligas ferrosas é composta de uma solução sólida supersaturada de carbono e ferro, além de possuir uma estrutura tetragonal de corpo centrado (TCC), que é uma forma distorcida da ferrita com estrutura cúbica de corpo centrado (CCC) (HONEYCOMBE, 2006), a Figura 5 mostra sua aparência ao microscópio optico. Segundo os trabalhos de (SANTOS, 2008), a presença da martensita altera significativamente as propriedades mecânicas nos aços e, portanto, suas aplicações industriais estão relacionadas à microestrutura. O trabalho realizado por (KUMAR et al. 2007) mostrou como a fração volumétrica de martensita altera os valores de tensão de escoamento e o limite de resistência à tração de aços bifásicos constituídos pelas fases ferrita e bainita ou pelas fases ferrita e martensita, ambos a base de Nb. De acordo com os artigos de (Abdala e Anazawa 2003), os trabalhos de caracterização por microscopia optica, apresentam uma dificuldade na caracterização dos aços no que se refere a distinção entre a fase bainítica e martensítica. LePera (1980) e Girauld et al. (1998) realizaram experimentos utilizando dois reagentes químicos específicos, os resultados foram bastante interessantes, 19 possibilitando a identificação da fase bainítica, difícil de ser detectada por ataques convencionais. Em suas micrografias percebeu-se que as amostras atacadas com o reagente metabissulfito de sódio mostrou em destaque nas cores bem claras para a austenita retida, enquanto que as amostras atacadas com o reagente LePera mostrou destaque entre a fase bainita que se revelou com tons de marrom e entre os constituintes Martensita mais austenita retida que se revelou na cor branca. Figura 2 - Ferrita e Cementita Figura 3 - Ferrita e perlita Fonte: Arcelor Mittal, 2012 Fonte: Arcelor Mittal, 2012 Figura 4 - Bainita Figura 5 - Martensita e Austenita Fonte: Arcelor Mittal, 2012 Fonte: Arcelor Mittal, 2012 20 2.1.3 Diagrama Fe-Fe3C Os aços em geral são materiais de extrema importância para a indústria metalúrgica e mecânica, o diagrama empregado é uma ferramenta para o estudo especifico de aços carbono e ferros fundidos brancos é o diagrama Fe-Fe3C que apresenta o equilíbrio entre o ferro e a cementita (Fe3C). Segundo Callister (2002, p.170), os diagramas de fases são representações gráficas das fases presentes em um sistema em função da temperatura, pressão e composição. A compreensão dos diagramas de fases para sistemas de ligas é de extrema importante, pois existe uma forte correlação entre a microestrutura e as propriedades mecânicas. Os desenvolvimentos das microestruturas de uma liga estão relacionados com as características do diagrama de fases. Uma parte do diagrama de fases ferro- carbono está representado na Figura 6. Figura 6 - Diagrama Binário Ferro-Carbono (Fe- Fe3C) Fonte: (DRUMOND, 1987) 21 O ferro puro, ao ser aquecido, experimenta duas alterações na sua estrutura cristalina antes de se fundir. À temperatura ambiente, a forma estável, conhecida por ferrita, ou ferro α, possui uma estrutura cristalina CCC. A ferrita experimenta uma transformação polimórfica para austenita, com estrutura cristalina CFC, ou ferro γ, à temperatura de 912 °C. Essa austenita persiste até 1394 °C, temperatura em que a austenita CFC reverte novamente para uma fase com estrutura CCC, conhecida por ferrita δ, a qual finalmente se funde a uma temperatura de 1538 °C (VAN VLACK, 2007). O eixo das composições do diagrama Fe-Fe3C se estende somente até 6,7 %pC. Nessa concentração, se forma o composto intermediário, o carbeto de ferro, ou cementita (Fe3C), representado por uma linha vertical no diagrama de fases. O carbono é uma impureza intersticial no ferro e forma uma solução sólida tanto com aferrita α como com a ferrita δ, e também com a austenita. Na ferrita α, com estrutura CCC, somente pequenas concentrações de carbono são solúveis. A solubilidade limitada pode ser explicada pela forma e pelo tamanho das posições intersticiais nas estruturas CCC. Os espaços interatômicos são pequenos e pronunciadamente alongados, de forma que não podem acomodar com facilidade, mesmo pequenos átomos esféricos como os do carbono (VAN VLACK, 2007). A austenita, ou fase γ do ferro, quando ligada somente com carbono, não é estável a uma temperatura inferior a 727 °C. A solubilidade máxima do carbono na austenita, 2,14 %, ocorre a 1147 °C. Essa solubilidade é aproximadamente 100 vezes maior do que o valor máximo para a ferrita com estrutura CCC, uma vez que as posições intersticiais na estrutura cristalina CFC são maiores e, portanto, as deformações impostas sobre os átomos de ferro que se encontram em volta do átomo de carbono são muito menores (CALLISTER, 2008). A ferrita δ é virtualmente a mesma que a ferrita α, exceto pela faixa de temperatura em que cada uma existe. A ferrita δ é estável somente a temperaturas relativamente elevadas, por isso não tem importância tecnológica. A cementita (Fe3C) se forma quando o limite de solubilidade para o carbono na ferrita a é excedido a temperaturas abaixo de 727 °C, para composições dentro da região das fases α + Fe3C, o Fe3C também coexistirá com a fase γ entre as temperaturas de 727 e 1147 °C. Mecanicamente, a cementita é muito dura e frágil. A resistência de alguns aços é aumentada substancialmente pela sua presença (VAN VLACK, 2007). 22 2.1.4 Curvas Tempo Temperatura e Transformação As curvas TTT, são diagramas que servem para indicar quanto tempo se deve ficar a determinada temperatura para atingir o grau de transformação desejada e indicam em quanto tempo elas ocorrem. Grande parte das primeiras pesquisas sobre as estruturas dos aços foram feitas com corpos de prova resfriados lentamente ou de forma rápida, ou seja, as transformações ocorreram numa faixa de temperatura. Para se realizar um estudo mais prudente das transformações é preciso acompanhar o seu percurso a uma temperatura constante, ou seja, isotermicamente. Isto pode ser feito por um processo desenvolvido originalmente por Bain e Davenport que determinam as relações existentes entre a velocidade de resfriamento e as transformações que ocorrem a temperaturas constantes (ROTHERY, 1968). Figura 7 - Diagrama da transformação Isoterma para um aço eutenóide Fonte: (RED-HILL, 1982, p.582) 23 Para facilitar o entendimento das curvas TTT pode-se considerar um aço eutetóide (aço que tem um teor de carbono de 0,77 %), com teores de elementos de liga desprezíveis, já que são bastante simples. A Figura 7 mostra uma curva TTT para um aço eutetóide, nota-se que a temperatura de austenização equivale a 723 ºC e é sempre a mesma para aços com teores de carbono aproximadamente 0,77 %. Estes aços resultam em somente dois produtos, perlita e bainita e estas transformações se superpõem no diagrama isotérmico. Acima de cerca de 550 ºC a 600 ºC a austenita se transforma completamente em perlita, abaixo dessa temperatura até cerca de 450 ºC formam-se tanto perlita como bainita (KRAUSS, 1997). Uma grande influência sobre as curvas TTT é o tamanho de grão austenítico, visto que a perlita começa a se formar nos contornos de grão da austenita. De acordo com (RED-HILL,1982), embora a velocidade de crescimento da perlita seja independentemente do tamanho de grão da austenita, o número total de núcleos que se formam por segundo, varia diretamente com a superfície disponível para a sua origem quanto maior for esse tamanho de grão mais para a direita são deslocadas as curvas isotérmicas devido ao tempo maior que a perlita levará para sua total transformação. Consequentemente aços com tamanho de grão austenítico grande tendem a apresentar, no resfriamento, estrutura martensítica com maior facilidade do que aços com tamanho de grão austenítico maior. 2.2 TRATAMENTOS TÉRMICOS Tratamento Térmico é um conjunto de operações de aquecimento e resfriamento a que são submetidos os aços, sob condições controladas de temperatura, tempo, atmosfera e velocidade de resfriamento, com o objetivo de alterar suas propriedades ou conferir-lhes características determinadas. As propriedades dos aços dependem, em princípio da sua estrutura. Os tratamentos modificam, em maior ou menor escala, a estrutura dos aços, resultando em consequência na alteração de mais ou menos pronunciada, de suas propriedades (CHIAVERINI,1990). Os aços e outras ligas metálicas podem exibir uma grande variedade de propriedades dependendo da sua composição e das fases presentes. A sua microestrutura e, portanto, as suas propriedades podem ser modificadas por tratamento térmico. 24 O tratamento térmico é um dos principais fundamentos utilizados em engenharia quando se deseja alguma aplicação específica e propriedades finais desejadas na utilização dos materiais metálicos. Alguns tratamentos para realizar alterações nas propriedades mecânicas, dos aços em particular, necessitam que o aquecimento se dê a temperaturas em que o carbono esteja totalmente solubilizado. Assim, para esses tipos de tratamentos, a temperatura a ser atingida estará no campo austenítico, conforme composição química. Os tratamentos térmicos são compostos por ciclos térmicos compostos por fases de aquecimento, permanência e resfriamento, a Figura 8 mostra um gráfico que ilustra uma rota de tratamento térmico para as três fases do tratamento térmico. Figura 8 - Ciclo térmico de aquecimento e resfriamento Fonte: (Nunes, 2010) Os principais objetivos dos tratamentos térmicos são os seguintes: Remoção de tensões internas Aumento e diminuição da dureza Melhora da ductilidade e usinabilidade Melhora da resistência ao desgaste e resistência a corrosão 25 2.2.1 Fatores que influenciam os tratamentos térmicos Para serem apresentados e definidos os tipos de tratamentos térmicos, será feita uma breve revisão dos vários fatores que devem ser levados em conta na sua realização. Representando o tratamento térmico um ciclo tempo - temperatura, os fatores a serem inicialmente considerados são: aquecimento, tempo de permanência à temperatura e resfriamento. Além desses, outro de grande importância é a atmosfera do forno de aquecimento, haja vista que a sua qualidade tem grande influência sobre os resultados finais dos tratamentos térmicos. Taxa de aquecimento O aquecimento é geralmente realizado a uma temperatura acima da crítica, porque então tem-se a completa austenização do aço, ou seja, total dissolução do carbeto de ferro no ferro gama: essa austenização do aço é, como se viu, o ponto de partida para as transformações posteriores desejadas, as quais se processarão em função da velocidade de resfriamento adotada (CHIAVERINI 1990). De maneira geral os tratamentos térmicos dos aços são realizados em temperaturas dentro do campo austenítico, visando-se a completa austenização do aço, e varia em função da porcentagem de carbono na liga. As velocidades ou taxas de aquecimento máximas dependem da condutividade térmica do aço, do tamanho e da forma do componente. Velocidades de aquecimento muito elevadas podem causar distorções ou, até mesmo, trincas, porém, em alguns casos, velocidades muito baixas de aquecimento pode causar crescimento de grão. Tempo de permanência na temperatura de tratamento O tempo de permanência na temperatura de tratamento é a soma do tempopara a homogeneização da temperatura no componente e o tempo da transformação de fase. Períodos superiores ao descrito, provocam o crescimento do tamanho de grão. O tempo para a homogeneização de temperaturas é calculado por meio de equações de regime de calor transiente e o tempo de transformação em austenita é da ordem de alguns segundos. 26 A literatura normalmente descreve equações empíricas para a determinação do tempo de permanência aplicada em aços de construção mecânica, a equação 01 é a mais conhecida: Tp = 0,5. eeq (01) Onde: tp - tempo de permanência em (h) eeq- espessura equivalente em polegadas (pol) Para fornos com duas fontes de calor (duas baterias de resistências ou maçaricos em duas paredes) a espessura equivalente é 0,5 da maior espessura do componente em polegadas. Ex. para um componente com espessura de 100 mm (~4 polegadas), a espessura equivalente (eeq) é 2 pol. e o tempo de permanência (tp) será de 1h. Taxa de resfriamento Este é o fator mais importante, pois é ele que determinará efetivamente a estrutura e, em consequência, as propriedades finais dos aços. Como pela variação da velocidade de resfriamento pode-se obter desde a perlita grosseira de baixa resistência mecânica e baixa dureza até a martensita que é o constituinte mais duro resultante dos tratamentos térmicos. Cuidados devem ser tomados para que os resfriamentos não sejam demasiadamente lentos, resultando estruturas com baixa resistência mecânica e baixa dureza, ou então resfriamentos excessivamente bruscos, causando empenamento ou até mesmo ruptura da peça, devido às tensões internas causadas pelas diferenças de temperatura ao longo da seção da peça. De acordo com as pesquisas de (IWABUCHI, Y. e SAWADA. S, 1982, p332- 354), o decréscimo da taxa de resfriamento a partir da temperatura de austenitização de 950 ºC e encharque em 8 horas para aços de baixa liga, acarretará em uma perda da tenacidade que se acentua com uma taxa inferior a 50 ºC/hora, e um leve aumento do limite de resistência à tração. 27 Atmosfera do forno Durante os tratamentos térmicos, devem-se evitar dois fenômenos muito comuns e que podem causar sérios aborrecimentos: a oxidação que resulta na formação indesejadas da “casca de óxido” e a descarbonetação que pode provocar a formação de uma camada mais mole na superfície do metal”. As reações de oxidação mais comuns são: 2Fe + O2 = 2FeO, provocada pelo oxigênio Fe + Co = FeO + Co, provocada pelo anídrico carbônico Fe + H2O = FeO + H2, provocada pelo vapor de água. Os agentes descarbonetantes usuais são os seguintes: 2C + O2 = 2CO C + CO2 = 2CO C + 2H2 = CH4 A presença de oxigênio na atmosfera do forno provoca oxidação do ferro e a descarbonetação da superfície do aço. Este efeito começa a se manifestar a partir de 500 ºC. Em componentes sem o sobre-metal previsto ou no estado acabado são empregados fornos com atmosferas inertes (á base de N2 ou Ar) ou levemente redutoras (contendo H2 ou CO) Tais fenômenos de oxidação e de descarbonetação, são evitados pelo uso de uma atmosfera protetora ou controlada no interior do forno, a qual, ao prevenir a formação da “casca de óxido”, torna desnecessário o emprego de métodos de limpeza e, ao eliminar a descarbonetação, garante uma superfície uniformemente dura e resistente ao desgaste. 2.2.2 Tipos de tratamentos térmicos: Os tratamentos térmicos abordados neste trabalho são o recozimento e a tempera. Ambos envolvem transformações de fase a partir da austenita. Obviamente, as diversas estruturas possíveis de se obter na transformação de austenita estão associadas a diferentes propriedades, desde o máximo de ductilidade e mínimo de dureza, característico das estruturas ferrítica, até elevados valores de dureza e menor ductilidade associados a Martensita. 28 Recozimento O tratamento térmico de recozimento consiste em aquecer o material a uma temperatura pré definida e mantê-lo nesta temperatura até promover as alterações desejadas, depois é promovido o resfriamento do material, que pode ser realizado ao ar, água, óleo ou forno (GROSSMAN,1971). O tratamento térmico de recozimento é realizado com o objetivo de remover as tensões internas do material oriundas dos tratamentos mecânicos de deformação a frio ou a quente, ou também é utilizado como tratamento térmico para diminuir a dureza do material ou alterar as propriedades mecânicas como o limite de resistência, alongamento, ductilidade, etc. O recozimento do material encruado tem por finalidade alterar a microestrutura ou a textura e, consequentemente, as suas propriedades. Essas alterações se dão principalmente com a diminuição da densidade das discordâncias devido à diminuição da energia retida e a recuperação ou a recristalização. No processo de recozimento de um material encruado, inicialmente ocorre o processo de recuperação, onde as discordâncias de sinais contrários começam a se anular mutuamente, os defeitos pontuais desaparecem e as propriedades físicas voltam a ter valores próximos as do metal sem deformação. Após a recuperação ocorre o processo de recristalização, onde os grãos alongados se transformam em grãos finos e equiaxiais, e as propriedades como dureza e ductilidade voltam a ter valores próximos dos originais. Esta nucleação de grãos novos, sem deformação, prossegue até que toda a peça seja formada por grãos novos (MOFFATT,1972). As condições do recozimento são fortemente dependentes dos parâmetros iniciais (condições do encruamento) e finais do material (propriedades desejadas), além da sua natureza própria como o tipo do metal, composição química, fases, entre outras (HAYDEN,1968). A Figura 9 mostra as curvas características do processo de recozimento. 29 Figura 9 - Diagrama esquemático de transformação para o recozimento Fonte: (VAN VLACK, 1964) Os constituintes estruturais que resultam do recozimento pleno são: perlita e ferrita para os aços hipoeutetóides, cementita e perlita para os aços hipereutetóides e perlita para os aços eutetóide. Têmpera Segundo (LESLIE, 1981) o processo de têmpera nos aços consiste do aquecimento do material dentro do campo austenítico, seguido de resfriamento até uma temperatura abaixo da temperatura Ms e, rápido o suficiente (numa velocidade acima da velocidade crítica), para obtenção de martensita. As velocidades de resfriamento necessárias para obter as microestruturas para os aços, normalmente são obtidas nos diagramas genericamente denominados TTT (Tempo - Temperatura – Transformação) que podem ser construídos usando resfriamentos contínuos (Diagramas CCT) ou resfriamentos isotérmicos (Diagramas TTT). A Figura 10 mostra o diagrama do processo de têmpera. 30 Figura 10 - Diagrama esquemático de transformação para têmpera. Fonte: (Van Vlack, 2007) A operação de têmpera visa obter o constituinte martensita, proporcionando ao aço propriedades elevadas de dureza e resistência mecânica. Com a alta temperabilidade, a austenita apresenta grande capacidade de transformar-se em martensita, mesmo quando a velocidade de resfriamento é relativamente baixa. Porém, em aços de baixa temperabilidade, a martensita é produzida somente se as transformações difusionais da austenita forem impedidas pela utilização de elevadas taxas de resfriamento (FONSECA et al., 2005). Para uma completa transformação martensítica é necessário que a velocidade de resfriamentoseja rápida o bastante, para que não haja tempo de outros produtos de transformação aparecerem. Assim sendo, a velocidade de resfriamento constitui um dos fatores mais importantes para o êxito da operação. O mecanismo de resfriamento é aparentemente simples, sobretudo no caso de peças de secção regular, onde as velocidades de resfriamento, nas diversas profundidades, podem ser previstas com certa precisão. Contudo, vários fatores entram em jogo no mecanismo de resfriamento (TOTTEN,1993), tais como: 31 Forma da peça, que afeta o suprimento de calor do núcleo à superfície; Potencial de extração de calor do meio de resfriamento, em condições normais, ou seja, sem agitação e temperatura e pressão normais; Alguns destes fatores são controlados durante o tratamento térmico e são conhecidos como parâmetros de têmpera, sendo muitos deles, relacionados ao controle de distorção das peças temperadas. A configuração da peça, o poder de resfriamento do meio de têmpera, a temperatura do meio de têmpera e grau de agitação do mesmo, e a concentração em soluções aquosas são as variáveis mais importantes no procedimento de têmpera (FARAH, 2002). 2.2.3 Meios de Resfriamento Conforme já comentado, o meio de têmpera exerce uma forte influência no comportamento de resfriamento do componente e, por conseguinte, nas suas características mecânicas. A escolha do meio de resfriamento para a operação de têmpera, segundo (TOTTEN,1993), depende inicialmente: Dureza final desejada; Forma e dimensões das peças; Capacidade de endurecimento do aço Os meios de têmpera mais utilizados são: água; soluções salinas e cáusticas; banho de sais e metais fundidos; soluções de polímeros e óleos. Em princípio, quanto maior é a capacidade de extração de calor do meio, maior a dureza final da peça. Contudo, velocidades muito drásticas proporcionadas por meios de grande capacidade de resfriamento, podem ser prejudiciais em função das dimensões e formas das peças, podendo levar ao aparecimento de trincas e distorções no componente. Deve-se, então, levar em conta a capacidade de endurecimento do aço, medida pela temperabilidade, para que se obtenha o compromisso entre a dureza final e as restrições impostas pela forma e dimensões das peças (CHIAVERINI,1985). A Tabela 1, mostra em amostras de três diâmetros diferentes, a velocidade relativa de resfriamento de diversos meios. 32 Tabela 1 - Velocidade relativa de resfriamento de diversos meios. Fonte: (CHIAVERINI, 1985) Nos estudos de PARVATHAVARTHINI et al. 2001, O aço 2,25Cr-1Mo foi aquecido até a região austenítica e então resfriado com diferentes taxas. Foram obtidas as seguintes microestruturas: martensítica para o aço temperado em água, bainítica para o normalizado e um misto de ferrita pró-eutetóide e bainita quando resfriada lentamente ao forno. A confirmação das fases obtidas foi possível através do ensaio de microdureza Vickers, onde a fase ferrítica possui dureza de 152 VHN, a fase bainítica 225 VHN e a microestrutura martensíta de 372 VHN. 2.3 ENSAIOS DE TRAÇÃO O ensaio de tração é um dos testes mais comumente utilizado para avaliação das propriedades mecânicas dos materiais. O teste de tensão é realizado agarrando as duas extremidades opostas de um corpo de prova em uma máquina de testes que irá aplicar uma força que resultará na elongação gradual do corpo de prova e eventual fratura do mesmo. Quando corretamente executado, o teste de tração fornece dados que podem quantificar várias propriedades mecânicas importantes do material (KUHN, 2000). De acordo com (DAVIS, 2004), o teste de tração é certamente um dos testes mais largamente utilizado para determinar vários aspectos do comportamento mecânico dos materiais, incluindo deformação elástica, escoamento, deformação plástica e fratura. A Figura 11 mostra um esquema de um ensaio de tração com seu respectivo corpo de prova. 33 Figura 11 - Barra de seção transversal A0 e representação esquemática do ensaio Fonte: (GARCIA et al, 2000) Em engenharia o ensaio de tração é amplamente utilizado na determinação de dados quantitativos das características mecânicas dos materiais, como por exemplo: limite de resistência a tração (σu), limite de escoamento (σe), módulo de elasticidade (E), módulo de resiliência (Up), módulo de tenacidade (Ut), ductilidade, coeficiente de encruamento (n) e coeficiente de resistência (K) (GARCIA, 2000). 2.3.1 Curva Tensão x Deformação de Engenharia No estudo dos ensaios de tração, os valores da tensão e da deformação convencionais submetidos por um corpo de prova são descritos pelo gráfico da Figura 12, visto que o corpo de prova é uma barra cilíndrica e uniforme na qual é aplicada a uma força de tração uniaxial crescente. Figura 12 - Curva obtida em um ensaio de tração. Fonte: (Elaborado pelo autor) 34 A curva tensão versus deformação pode ser dividida em várias regiões nas quais são analisadas as propriedades mecânicas. A região linear logo no início do gráfico representa a região elástica onde o corpo-de-prova sofre deformações elásticas, ou seja, deformações que não modificam a geometria do mesmo. Com o aumento da força do ensaio, a tensão e a deformação continuam aumentando até que o gráfico não seja mais linear. Neste momento inicia-se a região plástica onde o corpo- de-prova sofre deformação plástica que modifica permanentemente a geometria do corpo-de-prova, mesmo com a interrupção do ensaio. Nesta região temos os fenômenos do escoamento, encruamento e estricção. A ocorrência desses fenômenos depende da natureza do material do corpo-de-prova, pois alguns não apresentam escoamento ou estricção (SOUZA, 1982). A tensão convencional, também conhecida por tensão nominal ou tensão de engenharia, c ou simplesmente , é definida pela equação 02. 𝜎𝑐 = 𝑃 𝑆0 (02) Onde P (ou F em alguns autores) é a carga instantânea aplicada em uma direção perpendicular à seção reta da amostra, e So (ou Ao em alguns autores), representa a área da seção reta original antes da aplicação da carga. No Sistema Internacional (SI), a unidade da tensão de engenharia, chamada somente de tensão, é o Newton por metro quadrado (N/m2), que é denominada Pascal (Pa). A Figura 13 mostra o esquema do corpo de prova. Figura 13 - Alongamento de uma barra cilíndrica de um material metálico submetido a uma carga de tração uniaxial Fonte: (Adaptada de SMITH, 1998) 35 A deformação é a variação de uma dimensão qualquer quando o corpo-de- prova é submetido a um esforço que modifica a sua geometria plasticamente. Matematicamente a deformação é a razão entre a variação da dimensão considerada pela dimensão inicial que o corpo apresentava. A equação 03 mostra essa relação: 00 0 l l l ll c (03) Sendo “l0” o comprimento inicial do corpo-de-prova, e “l” o comprimento do final corpo-de-prova. A tensão tem a dimensão de força por unidade de área (N/mm2 no SI) e a deformação é uma grandeza adimensional (CALLISTER, 2012, ABNT NBR 6152, 2002). 2.3.2 Comportamento Tenção x Deformação A grande maioria dos materiais metálicos submetidos a uma tensão de tração relativamente baixa apresenta uma proporcionalidade entre a tensão aplicada e a deformação observada, conforme a equação 04. E (04) Esta relação de proporcionalidade foi obtida a partirda equação 05, que relaciona a força aplicada com a elasticidade de uma mola e é conhecida como lei de Hooke. 𝐹 = 𝐾. 𝑥 (05) A constante de proporcionalidade E, denominada módulo de elasticidade ou módulo de Young, fornece uma indicação da rigidez do material (resistência do material à deformação elástica) e depende fundamentalmente das forças de ligação atômica. No Sistema Internacional (SI), os valores de E são normalmente expressos em Giga Pascal (GPa), devido serem valores muito elevados. Nos materiais metálicos, o módulo de elasticidade é considerado uma propriedade insensível com a microestrutura, visto que o seu valor é fortemente dominado pela resistência das ligações atômicas. O processo de deformação no qual a tensão e a deformação são proporcionais é chamado de deformação elástica. Neste caso, o gráfico da tensão em função de deformação resulta em uma relação linear conforme mostra a Figura 14. 36 Figura 14 - Diagrama esquemático tensão-deformação correspondente à deformação elástica para ciclos de carga e descarga. Fonte: (Adaptada de ASKELAND & PHULÉ, 2003) A inclinação da região linear inicial da curva tensão-deformação é o módulo de elasticidade, ou módulo de Young. O módulo de elasticidade é uma medida de rigidez do material. Quanto maior é o módulo de elasticidade, menor é a deformação elástica resultante da aplicação de uma determinada carga (MEYERS, M.A, CHAWLA, K.K,1982). 2.3.3 Propriedades Plásticas dos Metais: Para a maioria dos materiais metálicos, o regime elástico se mantém até deformações de aproximadamente 0,005. À medida que o material continua a ser deformado além desse ponto, a tensão deixa de ser proporcional à deformação e, portanto, a lei de Hooke não mais será obedecida, ocorrendo uma deformação permanente e não recuperável denominada deformação plástica. Em regime plástico, o material é submetido a tensões onde as deformações, e o movimento de discordâncias tornam-se permanentes. Materiais de naturezas distintas possuem comportamentos característicos durante o ensaio de tração. Porém o resultado do ensaio de tração é a curva tensão x deformação de engenharia, onde pode-se observar o comportamento de um material metálico, até a sua fratura (GODEFROID, 2012). Do ponto de vista atômico, a deformação plástica ocorre devido à ruptura de ligações com os átomos vizinhos originais, seguida da formação de ligações com os novos átomos vizinhos, uma vez que um grande número de átomos ou moléculas se 37 move relativamente uns aos outros. Consequentemente, mesmo que a tensão causadora da deformação seja removida, os átomos não retornarão às suas posições originais. De acordo com (DIETER, 2000) existem alguns importantes parâmetros que são obtidos por meio das curvas tensão-deformação resultantes dos ensaios de tração, são eles: a) Limite de Escoamento (σe): é a máxima tensão atingida na região de escoamento, que separa o comportamento elástico do plástico. Para os casos onde o escoamento é imperceptível, convencionou-se em adotar uma deformação padrão que corresponde ao limite de escoamento, por exemplo, para metais e ligas em geral, esta deformação padrão é de 0,2%. b) Limite de resistência à tração (σu): é a tensão (de engenharia) correspondente ao ponto de máxima carga atingida durante o ensaio, ou seja, a máxima tensão que o corpo de prova resiste. A partir desta tensão máxima, as tensões (de engenharia) caem, pois devido à estricção do corpo de prova as cargas diminuem. A deformação até este ponto é uniforme ao longo da região estreita do corpo de prova que se encontra sob tração. Contudo, nessa tensão máxima, uma pequena constrição, ou pescoço, começa a se formar em um ponto determinado, e toda a deformação subsequente fica confinada nesta região conforme mostra a Figura 15. Figura 15 - Comportamento da curva tensão-deformação de engenharia até a fratura do material Fonte: (CALLISTER, 2002) 38 Esse fenômeno é conhecido por estricção ou empescoçamento, e a fratura ocorre nessa região. À tensão aplicada quando da ocorrência da fratura denomina-se resistência à fratura do material, σr. c) Tensão de ruptura: última tensão suportada pelo material antes da fratura, ou seja, é a tensão (de engenharia) na qual ocorre o rompimento do corpo de prova; d) Deformação total (alongamento total): diferença entre o comprimento inicial e o comprimento final do corpo de prova. É o alongamento (de engenharia) que ocorre até a ruptura do corpo de prova. 2.3.4 Tensão e Deformação Verdadeira e Curva de Escoamento A curva de Tensão-Deformação de engenharia (convencional), não apresenta uma informação real das características de tensão e deformação do material, porque se baseia inteiramente nas dimensões originais do corpo-de-prova, e que são continuamente alteradas durante o ensaio. Assim, são necessárias medidas de tensão e deformação que se baseiam nas dimensões instantâneas do ensaio (SOBRINHO, 2004). A curva tensão versus deformação em carregamento uniaxial, obtida por um tradicional teste de tração, é de fundamental interesse na plasticidade quando esta é plotada em termos de tensão σ e deformação verdadeira ε. A tensão real ou Verdadeira (σr), é dada pela equação 06 S P r (06) Onde, P = carga (N); S = área da seção instantânea (m2) σr = tensão real (MPa). A tensão verdadeira, σr também pode ser expressa pela equação 07 em termos da tensão de engenharia (KUHN, 2000), (07) O gráfico da Figura 16 mostra a relação entre as curvas de tensão e deformação real e convencional. 39 Figura 16 - Representação esquemática da curva Tensão-Deformação real e de engenharia de um material metálico Fonte: (GARCIA et al, 2000) A derivação da equação acima assume volume constante (AL = A0L0) e distribuição homogênea de tensão ao longo da seção útil do corpo de prova. Portanto, a equação deveria ser utilizada somente até o início do pescoço. Além da carga máxima, a tensão verdadeira deveria ser determinada a partir de medições da carga e da área da seção transversal, ponto a ponto. No entanto, é importante ressaltar que esta tensão verdadeira não corresponderá à tensão de escoamento do material, pois a tensão de escoamento pressupõe um estado uniaxial de tensões, o qual não mais ocorrerá após o início da estricção. A deformação verdadeira ε pode ser calculada a partir da deformação de engenharia (ou deformação convencional), dada pela equação 08. (08) Para determinar a deformação verdadeira, a variação instantânea do comprimento (dl) é dividida pelo comprimento l, conforme equação 09 (09) 40 Esta equação é aplicável somente até o ponto anterior ao início da estricção. Após o carregamento máximo, deformações localizadas na região do pescoço, pois excedem significativamente a deformação de engenharia calculada. Geralmente, a curva de escoamentoé linear a partir da carga máxima até a fratura, enquanto em alguns casos sua inclinação decresce continuamente até a fratura. A formação da região do pescoço introduz um estado de tensões triaxiais que dificultam determinar com a curacidade a tensão longitudinal desde o início do pescoço até que ocorra a fratura (ASM INTERNATIONAL, 2002). A deformação real ou verdadeira pode ser determinada, a partir da deformação convencional como mostra a equação 10. 1 00 l l l l c (10) Que simplificando, chegamos na equação 11. c l l 1 0 (11) Consequentemente, substituindo pela equação 12, tem-se a relação mostrada na equação 13. 0 0 lnln l l S S r (12) e portanto: cr 1.ln (13) As relações anteriores ainda nos mostram que: cr S S 1lnln 0 (14) Que é equivalente a Equação 15. c S S 1 0 (15) 41 Substituindo pela equação 08, tensão verdadeira teremos: cr S P S P 1 0 (16) ou simplesmente ccr 1 (17) A curva de escoamento de muitos materiais na região de deformação plástica uniforme pode ser expressa pela simples equação 18, que descreve um comportamento elasto-plástico com encruamento isotrópico, conhecida por equação de Hollomon (HOSFORD, 2010): (18) Onde, n é o coeficiente de encruamento e K é o coeficiente de resistência ao escoamento. Um gráfico com eixos logarítmicos da tensão verdadeira pela deformação verdadeira até a carga máxima irá resultar numa linha reta se a equação acima for satisfeita, conforme mostra a Figura 17. Figura 17 - Gráfico Log-Log da curva tensão versus deformação. Expoente n é o expoente de encruamento; K é o coeficiente de resistência ao escoamento. Fonte: (SOBRINHO, 2004) 42 A inclinação desta linha é n, e K é a tensão verdadeira no ponto em que a deformação verdadeira é igual a 1, ε=1,0. O expoente de encruamento terá valores de n=0 (sólido perfeitamente plástico) a n=1 (sólido elástico). Para a maioria dos metais, n tem valores entre 0,10 e 0,50 conforme mostra a Tabela 2. Tabela 2 - Valores de n e K para metais à temperatura ambiente Fonte: (ASM INTERNATIONAL, 2002) Com frequência são observados desvios da equação de Hollomon, geralmente em baixas deformações (10–3) ou altas (ε=1.0). Uma forma comum de desvio é para um gráfico log-log da equação de Hollomon, resultando em duas linhas retas com diferentes inclinações. Em alguns casos, curvas que não apresentam comportamento de acordo com a equação equação 19 de Hollomon. (19) Onde ε0 pode ser considerado como sendo a quantidade de deformação que o material sofreu antes do teste de tensão. 2.3.5 Efeito do tempo e Temperatura nos Ensaios de Tração Em geral, a resistência diminui e a ductilidade aumenta com a elevação da temperatura. Todavia, mudanças estruturais como precipitação, encruamento ou recristalização podem ocorrer em certas faixas de temperatura, alterando este 43 comportamento geral. Além disso, exposições, por muito tempo, a temperaturas elevadas podem, como já vimos, causar “creep”. Em alta temperatura, resultados de ensaios de tração variam com a taxa de deformação, e valores padronizados de taxas são especificados para assegurar a reprodutibilidade dos resultados. Geralmente, tensões maiores que as dos valores aceitos para o limite de resistência podem ser aplicadas em alta temperatura para materiais comuns de engenharia por intervalos muito pequenos sem que ocorra a fratura. Embora o efeito da taxa seja relativamente secundário ou praticamente desprezível na temperatura ambiente, ele é bem expressivo em temperaturas mais elevadas. Geralmente, quanto mais alta a temperatura de teste, maior é o aumento percentual na resistência devido a um determinado aumento na taxa de deformação seguido de redução no tempo de fratura (CLAUSS, 1969). A Figura 18 mostra que em velocidades baixas as curvas se deslocam para direita e para baixo. Figura 18 - Curvas Tensão Deformação para diferentes temperaturas e velocidades de tracionamento Fonte: (CLAUS, 1969) 44 Segundo (MORETO, 2008), à temperatura ambiente, os metais apresentam curvas de tração dominadas pelo fenômeno de encruamento. Porém, em temperaturas elevadas, o encruamento decresce e os fenômenos de sensibilidade à taxa de deformação começam a intensificar. Esses dois fenômenos agem em sentido oposto, de tal forma que à medida que se eleva a temperatura, decresce o valor de n e aumenta o valor de m. 2.4 AÇOS RESISTENTES AO CALOR Essa categoria de aços resistentes ao calor, são aqueles que quando mantidos de modo contínuo, em meios de várias naturezas (gasosos ou líquidos), à ação de altas temperaturas, mostram a capacidade de resistirem aquelas condições de serviços, química e mecanicamente, os aços Cr-Mo tem grande destaque nestas aplicações. De acorde com os trabalhos de (JAYAN, KHAN e HUSAIN, 2004), os aços cromo-molibdênio possuem excelente resistência à fluência, tenacidade e resistência à corrosão, em relação ao seu custo e às propriedades do aço carbono comum. Estes aços são largamente usados nas indústrias petroquímicas e nas usinas de geração elétrica de várias formas, tais como: tubulações, vasos de pressão, e partes estruturais; em aplicações que envolvem exposição a altas temperaturas, onde se requer resistência à fluência promovida pelas adições de molibdênio e a melhora da resistência à corrosão promovida pelo cromo Pode-se destacar os principais campos de aplicação desses materiais nas indústrias petroquímicas, em equipamentos para aquecimento, em turbinas a gás e a vapor, na indústria automobilística, aeronáutica e semelhantes. Nesses e noutros setores de engenharia, em temperaturas superiores à do ambiente acima de 400 °C por exemplo os metais apresentam começam a perder seu significado. Não só as condições de corrosão e oxidação são agravadas, como também se verifica apreciável queda na rigidez do material traduzida por uma deformação plástica acentuada sob ação de um esforço mecânico. Baseado nisto é que o estudo e o conhecimento perfeito de todos esses requisitos são de grande importância para a escolha adequada do tipo de aço destinado a serviço a altas temperaturas. 45 2.4.1. Os aços Ferríticos Baixa liga 2,25Cr-1Mo e sua Microestrutura Os aços carbono e os aços-liga com microestrutura de ferrita perlita são muito usados a elevadas temperaturas em plantas de geração de energia, plantas de indústrias químicas e plantas petroquímicas (RAJ, CHOUDHARY e RAMAN, 2004). Segundo (SMITH, V. H. 1971), os aços cromo-Molibdênio caracterizam-se por possuírem, no estado temperado e revenido, elevados valores de limite de escoamento e excelente resistência
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