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Contratos Civil Unidade I (2)

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Unidade I 
Da Compra e Venda
A redução dos contratos a um “tipo” previsto na legislação é a consequência óbvia do reconhecimento da importância desses negócios no trato social.
Constatando sua aplicação recorrente, o legislador preferiu estabelecersuas principais regras, de modo a padronizar o tratamento dado às partes.
Se lembram de que estudamos a causa dos contratos — e que para algumaslegislações a causa se erige em mais um elemento do contrato, sem oqual ele não estaria completo? Vimos que, em nosso sistema, não se dá muitaimportância para a causa. Apenas em raras situações. Mas isso não quer dizerque a causa para nós não exista ou de nada sirva. Sua análise é necessária, àsvezes, para a verifi cação da licitude do contrato. Bom, mas por quê estoufalando sobre a causa?
Tratando-se de umcontrato utilizado objetivamente, de modo a servir a todos da mesma forma,
deve também ser considerada de modo objetivo. A causa é o motivo “oggetivato”como diz Trabucchi. Dentro dessa idéia, a causa do contrato de comprae venda não deve ser procurada no motivo particular (compra do imóvelpara convalescença, ou para veraneio, ou para especulação), mas no motivocomum a todos que negociam através desse contrato. E qual seria, então, essemotivo?
É a aquisição/alienação do domínio em troca de um preço. E é com issoque se defi ne o contrato de compra e venda. Vejam que, ao analisar a causa,obtivemos os elementos para a conceituação do negócio E é isso que dispõeo art. 481: “Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga atransferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”.
Vejam com atenção: “um dos contratantes se obriga a transferir o domínio”.Embora a causa do contrato seja a alienação/aquisição do domínio (propriedade)em troca do preço, o contrato de compra e venda, por si só, não é omeio sufi ciente para a transferência da propriedade. E essa é uma das coisasque mais costumam chocar os leigos. Eles não entendem como que uma pessoa
que celebrou um contrato de compra e venda e inclusive já pagou o preçoainda não é a proprietária da coisa.
Mas a transferência da propriedade em nosso sistema depende da tradiçãoou do registro, havendo clara distinção entre o ato do contrato e o ato datransmissão da propriedadeEssa distinção ainda é um resquício dos costumes romanos que, como jáfalei, não admitiam que o contrato (consenso) apenas, produzisse efeitos.
Eles precisavam de uma solenidade (v. mancipatio) para que aquele acordo devontades pudesse interferir no mundo material, econômico, cotidiano. Elesprecisavam “ver” o acordo; precisavam de algo palpável para admitir os feitos.
Daí os rituais da “mancipatio” (pesar na balança — libriprens) e depois da“traditio”. Com a evolução do conceito de contrato, como disse, passou-se aadmitir que o acordo de vontades, por si só, produzisse efeitos, isto é, gerasseobrigações para as partes. Mas também só isso, ainda não se admitindo quepudesse gerar a transferência da propriedadePara nós, o contrato de c&v tem apenas efeito obrigacional. Gera para odevedor a obrigação de transferir a coisa, de fazer a tradição e o registro.
Os arts. 1226 e 1227 do Código Civil são esclarecedores.
Esses dispositivos que citamos trazem as formas, as maneiras de aquisiçãoda propriedade em nosso direito. São os chamados “modos de aquisição”. Ocontrato de compra e venda não é um deles; é título aquisitivo. A diferença é que um éa causa eficiente da transferência e o outro é a causa-origem, o título (isso nocaso da tradição e do registro porque os outros modos também podem servircomo causa).
Da doação
Estamos estudando a doação como um dos contratos típicos, discriminadosem nosso Código Civil.
Mas a doação é mesmo contrato?
Faço essa pergunta porque em algumas legislações, a doação não é vistacomo tal, mas como uma das formas de aquisição da propriedade.
Essa idéia surgiu pela primeira vez no Direito francês por graça e obra deNapoleão Bonaparte que não conseguia compreender a natureza contratualda doação se apenas uma das partes se obriga (não há bilateralidade das prestações).
Mas para nós, assim como para a maioria dos estrangeiros, a doação é,sim, um contrato e o é em razão de ser um negócio jurídico bilateral, formadopelo consenso de vontades, isto é formado por duas declarações devontade que se encontram (in idem placitum consensus).
O contrato deve ser reconhecido, pois a doação envolve o consenso quantoà transferência do bem. Tal transferência deve receber a concordância dodonatário.
Causa:
Lembrem-se que não falamos do motivo (causa final-intenção subjetiva),mas da causa objetivada.
É a causa a transferência de um bem por liberalidade, isto é, sem contrapartidaequivalente do donatário.Ou é a transferência de um bem por liberalidade ainda que com a exigência
de um encargo ou ônus.
Art. 538: Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade,transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra.
- E é também através deste artigo que encontramos uma definiçãopara o a doação, que o Código faz questão de enfatizar ser um contrato.
Características:
São, portanto, como se vê da definição do Código, características da doação:
Ser um contrato;
decorrer de uma liberalidade (e aqui que se identifica a causa)
acarretar uma transferência de bem ou vantagem:
É preciso, contudo, cuidado com o colocar desta última característica,pois o contrato de doação tem meros efeitos obrigacionais, não reais.Não se transfere a propriedade pelo simples contrato.Este apenas gera a obrigação de transferi-la.
A transferência da propriedade depende da tradição no caso dos móveis edo registro no caso de imóveis. Não é pelo contrato que se faz.Nesse ponto, a doação se distingue da renúncia e da remissão, pois estas,embora benefi ciem, não importam em transferência de bens ou vantagens(na doação, o bem ou vantagem parte do patrimônio do doador, por vontadedeste, para o patrimônio do donatário).
Somente a renúncia translativa (a herança é renunciada em favor de umherdeiro determinado) importaria em transferência.
Mas a causa não seria contratual. Pode haver coincidência e compatibilidadede vontades, mas não consenso, não uma vontade em direção ao encontroda outro (idem placitum consensus).
Também não há doação no abandono, ainda que as vontades sejam compatíveis.
Elementos:
Quanto aos elementos dos contratos, o que podemos de encontrar departicularidades na doação?
Quanto à capacidade, alguma particularidade?
Quanto à capacidade ativa, não.
Quanto à capacidade passiva, sim:
- É possível a doação ao nascituro:
• Art. 542: A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita peloseu representante legal.
- É possível a doação pura aos incapazes:
• Art. 543: Se o donatário for absolutamente incapaz, dispensa-se a aceitação, desde que se trate de doação pura.
- É possível a doação para pessoa indeterminada:
• Art. 546: A doação feita em contemplação de casamento futurocom certa e determinada pessoa, quer pelos nubentes entresi, quer por terceiros a um deles, a ambos, ou aos filhos que, defuturo, houverem um do outro, não pode ser impugnada porfalta de aceitação, e só fi cará sem efeito se o casamento não serealizar.

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