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ESAMC - ESCOLA SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO, MARKETING E COMUNICAÇÃO DE SANTOS DIREITO 2018 ALESSANDRA LIMA DA SILVA – RA 11140091 KLEBER SAMPAIO RIBEIRO FILHO – RA 11140298 LARISSA SILVA SOUSA – RA 11140531 VITOR PEREIRA LIMA DE OLIVERA – RA 11140087 DIREITO INTERNACIONAL CASO “XIMENES LOPES” SANTOS – SP 2018 ALESSANDRA LIMA DA SILVA – RA 11140091 KLEBER SAMPAIO RIBEIRO FILHO – RA 11140298 LARISSA SILVA SOUSA – RA 11140531 VITOR PEREIRA LIMA DE OLIVERA – RA 11140087 DIREITO INTERNACIONAL CASO “XIMENES LOPES” Trabalho de Direito Internacional, do caso “Ximenes Lopes” da Corte Internacional de Direitos Humanos, como exigência parcial de nota da referida disciplina. Professor responsável: Maria Luiza Justo Nascimento SANTOS – SP 2018 ALESSANDRA LIMA DA SILVA – RA 11140091 KLEBER SAMPAIO RIBEIRO FILHO – RA 11140298 LARISSA SILVA SOUSA – RA 11140531 VITOR PEREIRA LIMA DE OLIVERA – RA 11140087 DIREITO INTERNACIONAL CASO “XIMENES LOPES” Trabalho de Direito Internacional, do caso “Ximenes Lopes” da Corte Internacional de Direitos Humanos, como exigência parcial de nota da referida disciplina. Aprovados em ___/___/______ BANCA EXAMINADORA _________________________________ Prof. Maria Luiza Justo Nascimento SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 5 2 RELATÓRIO ..................................................................................................................................... 6 3 ANÁLISE ............................................................................................................................................ 7 3.1 Provas dos autos .......................................................................................................................... 7 3.2 Reconhecimento da responsabilidade pelo Brasil .................................................................... 9 3.3 Fundamentação utilizada na sentença ..................................................................................... 12 3.3.1 Violação dos artigos 4 e 5º da Convenção Americana. ....................................................... 12 3.3.2 Da Violação dos artigos 8 e 25 de Convenção Americana em relação com o artigo 1.1 .... 20 3.4 Condenação do Brasil ............................................................................................................... 27 4 CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 30 5 1 INTRODUÇÃO A pesquisa pretende abordar o caso do Sr. Damião Ximenes Lopes, que por ter sido tão notável pela violação da dignidade humana, acabou ocasionando ao Brasil sua primeira condenação perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Em um primeiro momento, com o escopo de compreendermos melhor o caso, será relatada a história do Sr. Damião Ximenes Lopes. Em um segundo momento, dissertaremos sobre o Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos, analisando cada ponto da sentença condenatória exarada pela Corte Internacional de Direitos Humanos, em face da República Federativa do Brasil. Em um terceiro e derradeiro momento, será concluída a pesquisa com a opinião em comum dos autores desta monografia. 6 2 RELATÓRIO O Sr. Damião Ximenes Lopes tinha doença mental e estava internado na instituição psiquiátrica Casa de Repouso Guararapes, Centro de Saúde vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS), em Sobral/CE. Ocorre que o tratamento aplicado à “Ximenes” não foi o adequado, uma vez que, segundo relatos, ele foi submetido à contensão física com suas mãos amarradas para trás. No dia 04 de outubro 1999, ao receber a visita de sua mãe, Sra. Albertina Ximenes Lopes, Damião estava agonizando, momento em que foi solicitado socorro ao médico responsável, Dr. Francisco Ivo de Vasconcellos, sem, entretanto, o seu pedido ter sido atendido. A Sra. Albertina percebeu, ainda, que o seu filho apresentava marcas de torturas e seus punhos estavam dilacerados e totalmente roxos, além de suas mãos estarem perfuradas com sinais de unhas e uma parte de seu nariz ferida. Em vista disto, mesmo sofrendo com estado precário de seu filho, a Sra. Albertina retornou para casa e logo após recebeu um telefonema da Casa de Repouso informando que seu filho havia falecido, cujo laudo médico constatou que a causa da morte teria sido “natural” decorrente de uma parada cardiorrespiratória. No dia da morte, a família apresentou uma queixa na delegacia de policia da 7ª Região de Sobral, porém, não houve qualquer andamento e/ou interesse no caso. Por tal razão a família denunciou perante a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia legislativa. De 04 de outubro de 1999 até, aproximadamente, abril de 2002 a morte do Sr. Damião continuou impune, haja vista que sequer houve audiência definitiva para apuração do caso, uma vez que houve o adiamento por diversas vezes sem motivos consideráveis. Por esta razão a família levou o caso à Comissão de Direitos Humanos, a qual, por sua vez, o submeteu à Corte Interamericana de Direitos Humanos para apuração. 7 3 ANÁLISE 3.1 Provas dos autos O caso do Sr. Damião Ximenes foi submetido à Corte Interamericana de Direitos Humanos para apuração de eventual violação dos direitos consagrados nos artigos 4 (direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 8 (garantias judiciais) e 25 (proteção judicial), da Convenção Americana, por força do artigo 1.1 que obriga os Estados que aceitaram fazer parte da Convenção a respeitar os direitos lá constantes. Durante todo o tramite perante a Comissão e a Corte Interamericana verificou-se que muitos procedimentos foram adotados anteriormente à condenação aplicada para a República Federativa do Brasil. Dentre elas, várias provas foram remetidas à Corte, especialmente testemunhais e periciais, as quais passaremos a ressaltar alguns detalhes importantes. Nos depoimentos dos Srs. José Jackson Coelho Sampaio (médico psiquiatra) e Domingos Sávio do Nascimento Alves (médico e ex-Coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde do Brasil), testemunhas do Estado, ficou evidente que o tratamento em hospitais psiquiátricos era precário (fls. 9/10, da sentença). Tais assertivas, inclusive, foram corroboradas pelo Sr. Luís Fernando Farah de Tófoli (médico psiquiatra da Secretaria de Desenvolvimento Social de Saúde do Município de Sobral), testemunha do Estado, ao dizer que “a influência do caso Ximenes Lopes na reorganização da atenção da saúde mental do município de Sobral é um fato inegável” e, também, que “a morte do senhor Damião Ximenes Lopes levou à reformulação da política de saúde mental e uma resposta adequada diante das condições insustentáveis de funcionamento da Casa de Repouse Guararapes” (fls. 10, da sentença). Pelos depoimentos acima denota-se que as condições oferecidas pelos hospitais psiquiátricos, incluindo-se a Casa de Repouso de Guararapes, são por demais deficientes. Além disso, o Sr. Eric Rosenthal (peritointernacional na matéria de direitos humanos das pessoas com deficiências mentais), indicado pela Comissão Interamericana, realçou que: [...] O direito interacional dos direitos humanos reconhece que indivíduos com deficiências mentais confinados em instituição psiquiátrica, como estava o senhor 8 Damião Ximenes Lopes, têm direito ao consentimento informado e, em consequência, o direito de recusar tratamento. [...] No caso do senhor Ximenes Lopes não há indicação de que existisse um risco iminente ou imediato e tampouco há informação a respeito de uma decisão emitida por autoridade médica independente (fls. 12, da sentença) - (grifamos). Perceba que em momento algum o Sr. Ximenes teve a opção de se manter ou não internado. No tocante a contenção física, o Sr. Eric Rosenthal, asseverou que “quando utilizada de maneira adequada, tem o objetivo de prevenir danos que o paciente possa ocasionar a si mesmo ou a terceiros”. Ocorre, todavia, que, segundo a análise realizada pelo Sr. Eric, o Sr. Ximenes Lopes não apresentava perigo iminente para si próprio ou terceiros, além de nunca ter sido evidenciado qualquer tentativa menos restritiva para controlar um eventual episódio de violência seu, vejamos: No caso do senhor Ximenes Lopes, não há evidências de que ele representasse perigo iminente para ele mesmo ou para terceiros. Tampouco há evidência de que quaisquer tentativas menos restritivas para controlar um possível episodio de violência seu. Assim sendo, o uso de qualquer forma de contenção física neste caso foi ilegal. Uma vez contido, com as mãos amarradas por trás das costas, competia ao Estado o supremo dever de proteger o senhor Damião Ximenes Lopes, devido a sua condição de extrema vulnerabilidade. O uso de força física e o espancamento constituíram uma violação de seu direito a uma acedência humana. Há outras alternativas que podem ser utilizadas antes de fazer uso da força ou decidir o isolamento de um paciente. Os programas de saúde mental deveriam se empenhar em manter um ambiente e uma cultura de cuidado que minimize a utilização de tais métodos. O uso injustificado e excessivo da forca neste caso viola o artigo 5.2 da Convenção Americana e constitui prática desumana e tratamento degradante (último parágrafo das fls. 12, da sentença) – (grifamos). Extrai-se, portanto, pela ótica do Sr. Eric Rosenthal, que o tratamento aplicado ao Sr. Damião foi ilegal. E, de fato, ao que se infere pelos depoimentos de outras testemunhas, a Casa de Repouso de Guararapes era um lugar onde existia atos de violência, sem qualquer investigação a respeito, inobstante a sua total falta de condições de saúde e higiene para com os pacientes. Para melhor compreensão, relevante é transcrever parte desses depoimentos: Na época em que esteve internado na Casa de Repouso Guararapes foi vítima de atos de violência e não denunciou os fatos à polícia. Soube de outros casos de violência e morte dentro da Casa de Repouso Guararapes, sem que tenham existido investigações a respeito. [...] A Casa de Repouso Guararapes era um lugar de violência, de abuso de poder e sem nenhum cuidado para com os pacientes 9 (Sr. Francisco das Chagas de Melo, ex-paciente da Casa de Repouso de Guararapes – fls. 14, da sentença) – (grifamos). [...] Na visita que realizou à Casa de Repouso Guararapes, a mesma se encontrava em péssimas condições de higiene, os pacientes estavam em más condições, sem um responsável da área médica ou administrativa presente. O Estado no fiscalizou a adequadamente a Casa de Repouso Guararapes (depoimento do Sr. João Alfredo Teles Melo, à época, era deputado da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e, após, Deputado Federal – fls. 15) – (grifamos). Conclui-se, destarte, que as provas orais (testemunhas e periciais) foram as principais bases para se alcançar a condenação do Estado Brasileiro, haja vista que foi possível determinar as condições da Casa de Repouso de Guararapes, as condutas do Sr. Damião Ximenes Lopes, bem como ao tratamento ilegal a ele aplicado. 3.2 Reconhecimento da responsabilidade pelo Brasil No caso do Sr. Damião, o Brasil reconheceu diversas responsabilidades, principalmente na audiência pública realizada na Corte Interamericana nos dias 30/11/2005 e 01/12/2005. Diante desta chance provida pela audiência, o Estado reconhece a procedência da inicial e declarou ter violado os artigos 4 e 5, da Convenção Americana, isto é, o direito à vida e à integridade pessoal (fls. 22 e 23, da sentença), com junção ao artigo 1.1 (obrigação de respeitar os direitos), pois perante os fatos expostos faltou prevenção à vítima para que não fosse possível a ocorrência de tal evento, mas devido a precariedade do sistema do Estado não foi possível evitar o ocorrido, violando, assim, o artigo 4, da Convenção. Devido aos maus-tratos que a vítima (Sr. Damião) sofreu antes de vir a óbito, o Estado Brasileiro reconheceu que violou o artigo 5, da respectiva Convenção, mas negou ter responsabilidades perante as violações dos artigos 8 (garantias judiciais) e 25 (proteção judicial) da Convenção, em agravo aos familiares do Sr. Damião. Contudo, ao se manifestar o Estado alegou inter alia, ou seja, reconhece sua responsabilidade internacional diante da violação dos artigos 4 e 5 da Convenção, ante seu pacto com a proteção dos direitos humanos. O Estado afirma, ainda, que não existe danos para serem reparados com relação à alguns familiares da vítima, como o Sr. Francisco (pai); Cosme (irmão gêmeo) e Irene (irmã que ingressou com ação judicial). Frisa que não há mais o que reparar para a Sra. Albertina 10 (mãe da vítima), pois o dano sofrido pela mesma já houve reparação civil, pois indenizou materialmente a mãe da vítima, tendo efetuado pagamento de uma justa indenização no âmbito interno, bem como concedeu pensão vitalícia nos âmbitos estaduais e federais, ambas as pensões por morte. A pensão por morte vitalícia do âmbito estadual foi baseada na Lei nº. 13.491 que o Estado do Ceará proferiu, que na época em que foi prolatada a sentença, era correspondente ao valor de R$ 323,40 (trezentos e vinte e três reais e quarenta centavos), concedida em 16/06/04. Segundo o Estado, não havia danos emergentes, tendo em vista que, no processo civil, a Sra. Albertina já tinha litigado pela reparação de danos e, no processo penal, foi instaurada ação pelo Ministério Público. O Estado declarou, também, que o atraso no procedimento penal ocorreu devido ao Ministério Público, pois aos 22/09/03 acrescentou mais duas pessoas para a acusação e se valendo de o mesmo ser um Ente Público, suas ações e omissões envolver-se com as responsabilidades internacionais. Entretanto, o Ministério Público acabou levando cerca de 3 (três) anos para poder acrescentar na denúncia o diretor clínico, Dr. Francisco Ivo de Vasconcelos, e o auxiliar de enfermagem, Sr. Elias Gomes Coimbra, ambos agentes que, além de serem funcionários da Casa de Repouso Guararapes, foram os mesmos que prestaram atendimento ao Sr. Damião no dia em que morreu. Apesar disso, a Procuradoria Geral de Justiça, através do seu Centro de Apoio Operacional dos Grupos Socialmente Discriminados aos 25/05/00, apenas 2 (dois) meses após dado início ao processo penal comunicou ao promotor encarregado do caso que fosse determinado tal denúncia como aditada, afinal, era constituída de maneira institucional e legal, com o acervo probatório recolhido desta finalidade. Para o Estado, os demais familiares, como o pai e irmãos de Damião, não faziam parte da indenização ao alegar que era totalmente inadequadaa indenização por dano imaterial para Francisco Leopoldino Lopes (pai) e para Irene Ximenes Lopes Miranda (irmã), tendo em vista que os dois não mantinham uma relação direta com a vítima. Alegou, igualmente, que, com base do seu irmão gêmeo, Sr. Cosme, devido o mesmo não ter conhecimento do falecimento de seu irmão, não haveria razões suficientes para que fosse configurado o dano imaterial diante do desconhecido. 11 Na alegação final escrita apresentada pelo Estado, foi frisado que o mesmo ao ter respeitado os princípios da ampla defesa, contraditório e do devido processo legal não violou o direito à proteção e às garantias judiciais. Demonstrou seu real comprometimento com a tutela dos direitos humanos, optando por assumir suas falhas com a obrigação de fiscalizar e regular o atendimento médico na Casa de Repouso Guararapes, bem como de prevenir os indefesos e suas integridades pessoais e vida, que são garantias estas previstas nos artigos 4 e 5 da Convenção Americana. Abordou, ainda, que através da procura de justiça foi informada da tramitação na jurisdição interna, bem como demonstrou através de Contestação que investigou de forma que usou todos os seus recursos com a finalidade de descobrir as circunstâncias que levou a óbito o Senhor Damião, e como meio de poder punir os responsáveis pelos maus tratos que ocasionou na morte da vítima, na Casa de Repouso Guararapes. Destarte, referente aos meios de reparação o Estado declarou que aderiu todas as resoluções que se aguarda de um Estado democrático de direito com formas para evitar que venha a ocorrer eventos semelhantes aos que aconteceu com o Sr. Damião. O Estado além de aderir diversas medidas no âmbito nacional, como, por exemplo, a aprovação da Lei nº 10.216/01 mais conhecida como a Lei de Reforma Psiquiátrica, adotou meios no Município de Sobral em diversas unidades com especialização em tratamento de pessoas portadoras de variáveis tipos de doença, instituiu numerosos programas relacionais aos serviços de saúde. Ainda fez inúmeras reparações, em especial como forma de homenagear a vítima, deu o nome de um Centro de Atenção Psicossocial de Sobral (CAPS), cujo nome do tal como “CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DAMÃO XIMENES LOPES”. Após ter sido feito a Terceira Conferência Nacional de Saúde Mental foi dada o nome da Sala de Damião Ximenes Lopes. Outrossim, desde que o Brasil pactuou com a Convenção Americana e após o caso em tela, o Estado passou a ter uma espécie de pressão, vindo a ter uma atenção maio nos casos de saúde mental no país, sendo extinto e reformulado alguns manicômios tornando-se em centros de atenção e cuidado, onde os tratamentos é devolvido em liberdade, passando a trocar os procedimentos institucionalizados como os maus tratos ou meios cruéis tornando assim proibidos aos portadores de doenças mentais. 12 Diante das despesas e custas, pondera que há o que ser ressarcido aos familiares da vítima na esfera interna, afinal, se quer efetuaram despesas para que houvesse o tramite da presente ação, seja diante do Tribunal ou da Comissão, e mesmo que tenha sido efetuado tais despesas, as mesmas não foram comprovadas. Assim, de acordo com o reconhecimento de responsabilidade efetuado pelo Estado, a Corte considerou propício em evidência de seu compromisso com a proteção dos direitos humanos, bem como um meio positivo de colaboração para desenvolver o processo de maneira mais eficaz e legal e de forma fundamental para a vigência dos princípios compostos pela Convenção Americana no Estado, ao dizer que: uma atitude desta natureza contribui para solucionar o caso presente, mas também contribui para estabelecer um precedente muito importante no Brasil e na região de como os Estados devem atuar responsavelmente quando os fatos são inquestionáveis e quando também é inquestionável a responsabilidade do Estado em matéria de direitos humanos no âmbito do sistema interamericano (fls. 22 da sentença). Contudo, não há controvérsias a respeito do caso que resultou na morte do Sr. Damião estabelecidas nos parágrafos 112 a 112.71, também em relação aos direitos nos moldes dos artigos 4 e 5 da Convenção. Assim, aos 17/08/07 a indenização fixada pela Corte no valor de US$ 146.000,00 (cento e quarenta e seis mil dólares) foi paga pelo Estado Brasileiro e embora tenha sido cumprida a obrigação da sentença, o processo penal, que visa a responsabilização dos envolvidos pela morte de Damiao, ainda não foi finalizado. Ressalta-se, por fim, que o Estado Brasileiro fixou uma espécie de pacto com o Conselho Nacional de Justiça para que a sentença que tramita na vara criminal seja satisfatória e rápida. 3.3 Fundamentação utilizada na sentença 3.3.1 Violação dos artigos 4 e 5º da Convenção Americana. Os Estados Partes da Convenção Interamericana comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa 13 que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, posição política ou de qualquer natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social. Segundo o artigo 4º, § 1º, da referida Convenção, “toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida”, cujo direito deve ser velado pela lei desde o momento da concepção, não podendo ser privado da vida arbitrariamente. De outro lado, a integridade física também é protegida pelo mesmo diploma internacional no artigo 5º, pelo qual toda pessoa detém o direito de que se respeite sua integridade física, psíquica e moral, não podendo ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis ou degradantes, de modo que até mesmo aqueles que são privados da liberdade devem ser tratados com igual respeito. A Corte entendeu que na Casa de Repouso Guararapes existia ambiente violento contra as pessoas hospitalizadas, que viviam sob constante ameaça física e psíquica pelos funcionários do nosocômio ou sem que impedissem as agressões, vindo a serem submetidos a estas transgressões mesmo com a saúde debilitada. O direito à vida e à integridade pessoal são direitos fundamentais para que se desfrute dos demais direitos, a perquirir a inadmissibilidade de liberalidades que restrinjam tais direitos. Em vista disso, os Estados têm a obrigação de garantir a criação das condições necessárias para que não se produzam violações a esse direito inalienável e, em particular, o dever de impedir que seus agentes atentem contra ele. O artigo 4º garante, assim, não apenas o gozo da vida sem restrição arbitrária, mas, também, o dever dos Estados de adotar as medidas impreteríveis para viabilizar a repugnância de qualquer ameaça contra o aludido direito, incluindo um sistema de justiça efetivo, capaz de investigar, castigar e reparar toda privação da vida por parte de agentes estatais ou particulares; e salvaguardar o direito de que não se impeça o acesso a condições que assegurem uma vida digna, o que inclui a adoção de medidas positivas para prevenir a violação desse direito. 14 Da mesma forma, a Corte reconhece que o direito à integridade pessoal inibe qualquer tortura e penas cruéis, desumanos ou degradantes. A Corte já estabeleceu que: A infração do direito à integridade física e psíquica das pessoas é uma espécie de violação que apresenta diversas conotações de grau e que abrange desde a tortura até outro tipo de vexames ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes cujas sequelas físicas e psíquicas variam de intensidade segundoos fatores endógenos e exógenos que deverão ser demonstrados em cada situação concreta. Neste contexto, as características pessoas da vítima de tortura ou tratamentos cruéis devem ser levadas em consideração no momento de determinar se a integridade pessoa foi violada, já que essas características podem mudar a percepção da realidade do indivíduo e, por conseguinte, aumentar o sofrimento e o sentimento de humilhação quando são submetidas a certos tratamentos. Em vista disso, cabe ao Estado assegurar atendimento médico eficaz para pessoas portadoras de deficiência mental, o que traduz o dever estatal de assegurar seu acesso a serviços básicos de saúde à promoção da saúde mental; à prestação de serviços dessa natureza que sejam os menos restritivos possíveis; e à prevenção das deficiências mentais. Logo, é correto afirmar que, considerando sua condição psíquica e emocional, as pessoas portadoras de deficiência mental são eminentemente vulneráveis que é agravada quando estes cidadãos ingressam em instituições de tratamento psiquiátrico, onde o desequilíbrio de poder entre pacientes e corpo clínico é latente. É certo que em casos extremos é necessária a adoção de medidas sem seu consentimento, todavia, a deficiência mental não deve ser entendida como uma incapacidade para que a pessoa deixe de determinar o que quer, devendo ser aplicada a presunção de que estas mesmas pessoas são capazes de expressar sua vontade, a qual deve ser respeitada pelo pessoal médico e pelas autoridades, cabendo à autoridade competente emitir seu consentimento quanto ao tratamento a ser empregado, na impossibilidade do doente para consentir. 15 Evidente, neste interim, que os cuidados mínimos e condições de internação dignas devem ser respeitados, os quais podem ser pautados à luz dos Princípios para a Proteção dos Doentes Mentais e para a Melhoria do Atendimento de Saúde Mental das Nações Unidas. Destaca-se que as precárias condições de funcionamento da Casa de Repouso Guararapes, tanto as condições gerais do lugar quanto ao atendimento médico, se distanciavam de forma significativa das adequadas à prestação de um tratamento de saúde digno, particularmente porque afetavam pessoas de grande vulnerabilidade por sua deficiência mental, e eram per si incompatíveis com uma proteção adequada da integridade pessoal e da vida, o que somente se fez possível em razão da sujeição que pessoas nestas condições estão submetidas. Daí porque dizer que a sujeição apresenta “um alto risco de ocasionar danos ao paciente ou sua morte e que as quedas e lesões são comuns nesta área”, porque interfere na capacidade do paciente de tomar decisões e restringe sua liberdade de movimento. A sujeição torna-se, a partir desta análise, medida de última instancia, com a única finalidade de protege o paciente, ou o pessoal médico e terceiros, quando o comportamento da pessoa em questão seja tal que esta represente uma ameaça à segurança daqueles. A sujeição não pode ter outro motivo senão este e somente deve ser executada por pessoal qualificado e não pelos pacientes. O senhor Damião Ximenes Lopes foi submetido a sujeição com as mãos amarradas para trás entre a noite do domingo e a manhã da segunda-feira, sem uma reavaliação da necessidade de prolongar a contenção, e se permitiu que caminhara sem a adequada supervisão. Esta forma de sujeição física a que foi submetida a suposta vítima não atende à necessidade de proporcionar ao paciente um tratamento digno nem a proteção de sua integridade psíquica, física ou moral. O Estado detém, como reflexo da obrigação de proporcionar condições necessárias às pessoas sub sua guarda para desenvolver uma vida digna, o dever de proporcionar serviços de saúde física e mental do paciente. Logo, os cuidados devem ser aumentados quando se tratar de pacientes com deficiência mental, dada sua particular vulnerabilidade quando se encontram em instituições psiquiátricas. 16 Os Estados detêm, ainda, o dever de regular e fiscalizar as instituições que prestam serviços de saúde, como medida necessária para a devida proteção da vida e integridade das pessoas sob sua jurisdição, abrangendo tanto as entidades públicas ou privadas. Especialmente com relação às instituições que prestam serviço público de saúde, como fazia a Casa de Repouso Guararapes, o Estado não somente deve regulá-las e fiscalizá-las, mas tem, ademais, o especial dever de cuidado com relação às pessoas ali internadas. No caso julgado, a Casa de Repouso Guararapes funcionava no âmbito do sistema público de saúde e o Estado estava obrigado a regulamentá-la e fiscalizá-la, não somente em virtude de suas obrigações decorrentes da Convenção Americana, mas também em razão de sua normativa interna, conforme se pode inferir do artigo 197 da Constituição, “são de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle [...]”; Igualmente, do artigo 200 da Constituição ressalta que “ao Sistema Único de Saúde compete […] controlar e fiscalizar procedimentos [... e executar as ações de vigilância sanitária [...]”. Por sua vez, o artigo 6° da Lei nº 8.080, de 1990, dispõe que “estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS), inter alia, a execução de ações …tanto de vigilância sanitária, a qual se entende por um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes […] da prestação de serviços de interesse da saúde, bem como o controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse para a saúde”. O Estado tinha conhecimento das condições da Casa de Repouso Guararapes, tanto que a violência contra os pacientes já havia sido o contexto da morte de duas pessoas internadas no referido hospital. Somado a isto, em 15 de maio de 1996, o Grupo de Acompanhamento de Assistência Psiquiátrica do Ministério da Saúde (GAP) havia emitido um relatório sobre o resultado da inspeção realizada na Casa de Repouso Guararapes, em que se recomendava o fechamento de duas enfermarias do hospital, por falta de condições de funcionamento, infiltração e outras irregularidades. A Corte observa que foi até 21 de outubro de 1999 que os funcionários do Departamento de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde e Assistência Social realizaram uma inspeção na Casa de Repouso Guararapes para averiguar se o hospital obedecia às especificações da normativa pertinente. Ademais, até 4 de novembro de 1999, a Coordenação 17 de Controle, Avaliação e Auditoria e o Médico Auditor do Sistema Municipal de Auditoria visitaram a Casa de Repouso Guararapes. Coincidentemente, os três órgãos concluíram que o hospital não cumpria as exigências das normas pertinentes e recomendaram que fossem sanadas de imediato as irregularidades. Apesar de a competência contenciosa da Corte ter sido reconhecida pelo Estado em 10 de dezembro de 1998, o Tribunal considera que o lapso de 10 meses e 11 dias desta data até 21 de outubro de 1999, período em que medida alguma foi adotada para melhorar as precárias condições de atendimento de saúde na Casa de Repouso Guararapes, não é compatível com o dever do Estado de regulamentar o atendimento de saúde prestado às pessoas sob sua jurisdição, em razão de que já havia uma situação irregular desde 15 de maio de 1996. O Estado tem responsabilidade internacional por descumprir, neste caso, seu dever de cuidar e de prevenir a vulneração da vida e da integridade pessoal, bem como seu dever de regulamentar e fiscalizar oatendimento médico de saúde, os quais constituem deveres especiais decorrentes da obrigação de garantir os direitos consagrados nos artigos 4 e 5 da Convenção Americana. Além do dever de cuidar, de regular e fiscalizar o Estado detém ainda o dever de investigar. O que significa dizer que a obrigação de garantir os direitos humanos consagrados na Convenção não se esgota na existência de uma ordem normativa destinada a tornar possível o cumprimento desta obrigação, mas compreende a necessidade de uma conduta governamental que assegure a existência, na realidade, de uma eficaz garantia do livre e pleno exercício dos direitos humanos. Nesse sentido, uma dessas condições para garantir efetivamente o direito à vida e à integridade pessoal é o cumprimento do dever de investigar as afetações a eles, o que decorre do artigo 1.1 da Convenção em conjunto com o direito substantivo que deve ser amparado, protegido ou garantido. Em virtude do acima exposto, o Estado tem o dever de iniciar ex officio e sem demora uma investigação séria, imparcial e efetiva, que não se empreenda como uma mera formalidade condenada de antemão a ser infrutífera. 18 Esta investigação deve ser realizada por todos os meios legais disponíveis e orientada à determinação da verdade e a investigação, ajuizamento e punição de todos os responsáveis pelos fatos, especialmente quando estejam ou possam estar implicados agentes estatais. Para determinar se a obrigação de proteger os direitos à vida e à integridade pessoal mediante uma investigação séria do ocorrido foi cumprida cabalmente, é preciso examinar os procedimentos abertos internamente, destinados a elucidar os fatos, o que se efetuará Com base em tais considerações, a Corte a concluiu que, por haver faltado com seus deveres de respeito, prevenção e proteção, com relação à morte e os tratos cruéis, desumanos e degradantes sofridos pelo senhor Damião Ximenes Lopes, o Estado foi responsabilizado pela violação dos direitos à vida e à integridade pessoal consagrados nos artigos 4.1 e 5.1 e 5.2 da Convenção Americana, em relação com o artigo 1.1 desse mesmo tratado. Quanto à violação do artigo 5º, da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, a Corte entendeu que, embora a alegação era extemporânea, não teria impedimento para analisá-la em conformidade com o princípio iuria novit curia. A Corte entende que familiares das vítimas de violações dos direitos humanos podem ser, por sua vez, também vítimas. O Tribunal considerou violado o direito à integridade psíquica e moral de alguns familiares das vítimas em virtude do sofrimento adicional por que passaram, em consequência das circunstâncias especiais das violações praticadas contra seus seres queridos e das posteriores ações ou omissões das autoridades estatais frente aos fatos. Analisadas as circunstâncias do caso, com base na Convenção Americana, e à luz do princípio iura novit curia, a Corte considerou provado o sofrimento da senhora de Albertina Viana Lopes, mãe do senhor Damião Ximenes Lopes, pelo tratamento a ele dado pelo Estado, que culminou com sua morte, que somente foi conhecida por aquela primeira, ao chegar à sua casa depois de havê-lo deixado no hospital. O que lhe causou grande dor e tristeza. Depois da morte do filho sofreu grandes depressões e problemas de saúde. O que guardava relação com o depoimento de sua filha, Irene Ximenes Lopes Miranda, na audiência pública perante esta Corte, que declarou que sua mãe: 19 ficou com a vida completamente arruinada” vindo a ser acometida por depressão chegando a declarar a vontade de morrer, em vista de ter perdido o gosto pela vida, tendo uma gastrite nervosa e em consequência uma úlcera duodenal que [...] foi tratada com muita dificuldade Da mesma forma, a Corte entendeu que o Sr. Francisco Leopoldino Lopes, pai do Sr. Damião Ximenes Lopes, também era vítima, por que restou provado o sofrimento e angústia do pai da suposta vítima, que, embora estivesse separado da mãe do Sr. Damião Ximenes Lopes, não havia rompido os laços familiares com o filho. O Sr. Francisco Leopoldino Lopes sofreu com o falecimento do filho, que era tão jovem quando morreu e viveu por muito tempo com um desejo de vingança, segundo declarou a Sra. Irene Ximenes Lopes Miranda perante a Corte. A irmã do senhor Damião Ximenes Lopes, ademais do sofrimento e tristeza que lhe causou a morte do irmão, sofreu sequelas psicológicas, como uma depressão que durou mais de três anos, o que afetou suas relações familiares e a fez perder a capacidade de amamentar sua filha recém-nascida e abandonar o trabalho. Sofreu e reviveu de maneira constante as circunstâncias da morte do irmão, Damião Ximenes Lopes, perante os órgãos judiciais e de direitos humanos, uma vez que se dedicou à busca da verdade e da justiça com relação a esses acontecimentos, para o que participou ativamente do processo judicial interno e dos trâmites seguidos perante a Comissão e perante a Corte. Em virtude disso, separou-se da família por longos períodos. A Corte entendeu que o sofrimento que acometia a irmã da vítima restou provado na declaração prestada na audiência pública perante a Corte, quando manifestou que: no dia do enterro [do] irmão no cemitério [ela] se ajoelhou sobre o caixão dele e jur[ou] que [sua] alma não sossega[ria] enquanto não houvesse justiça no caso [de Damião Ximenes Lopes], e [faz] seis anos que [ela] busca justiça. Por fim, a Corte também entendeu que o Sr. Cosme Ximenes Lopes, que também esteve internado em instituições psiquiátricas, em razão do vínculo afetivo e da identificação que havia entre os dois irmãos pelo fato de serem gêmeos, sofreu com a perda do senhor Damião Ximenes Lopes. Logo que recebeu a notícia da morte do irmão, entrou em estado de choque, em seguida foi acometido por uma depressão e abandonou o trabalho. 20 A Corte considerou, assim, que o Estado tinha responsabilidade pela violação do direito à integridade pessoal consagrado no artigo 5 da Convenção Americana, em relação com o artigo 1.1 do mesmo tratado, em detrimento das Sras. Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda e dos Srs. Francisco Leopoldino Lopes e Cosme Ximenes Lopes. 3.3.2 Da Violação dos artigos 8 e 25 de Convenção Americana em relação com o artigo 1.1 O artigo 8.1, da Convenção Americana, estabelece que: toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. […] O artigo 25, da Convenção dispõe que: Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais. […] Com base nos dispositivos retro mencionados, a Corte decidiu por examinar as diversas diligências relacionadas com a investigação policial, o processo penal e a ação civil de reparação de danos que tramitaram no âmbito interno. O Tribunal teve de determinar se os procedimentos foram desenvolvidos com respeito às garantias judiciais, em um prazo razoável, e se ofereceram um recurso efetivo para asseguraros direitos de acesso à justiça, de conhecimento da verdade dos fatos e de reparação aos familiares. É um princípio básico do direito da responsabilidade internacional do Estado, amparado no Direito Internacional dos Direitos Humanos, que todo Estado é internacionalmente responsável por atos ou omissões de quaisquer de seus poderes ou órgãos em violação dos direitos internacionalmente consagrados. 21 Os artigos 8 e 25 da Convenção consolidam, com referência às ações e omissões dos órgãos judiciais internos, o alcance do mencionado princípio de geração de responsabilidade pelos atos de qualquer dos órgãos do Estado. Os Estados têm o dever de investigar as afetações aos direitos à vida e à integridade pessoal como condição para garantir esses direitos. No caso, a Corte estabeleceu que o Estado pecou em seus deveres de respeito, prevenção e proteção. Isto porque, ao analisar o caso concreto à luz das regras do Manual para a Prevenção e Investigação Efetiva de Execuções Extrajudiciais, Arbitrárias e Sumárias das Nações Unidas. Em casos similares, a Corte determinou que o esclarecimento de supostas violações por parte de um Estado de suas obrigações internacionais por meio da atuação de seus órgãos judiciais poderia levar o Tribunal a examinar os respectivos processos internos. Da análise do caso, resultou que as Sras. Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda foram quem iniciou e acompanhou as gestões, e nelas intervieram, para averiguar o que havia acontecido com o Sr. Damião Ximenes Lopes. Apesar da evidência de que se havia praticado violência contra Damião Ximenes Lopes, o médico Francisco Ivo de Vasconcelos, da Casa de Repouso Guararapes, que examinou a suposta vítima logo após sua morte, diagnosticou a causa da morte como “parada cardiorrespiratória”. Com relação ao mencionado exame, o médico Francisco Ivo de Vasconcelos declarou, que o cadáver do paciente “estava no chão, onde fez o primeiro exame para tentar ver a causa de sua morte […]”. Declarou, também, em 11 de outubro de 2000, perante a Terceira Vara da Comarca de Sobral, que “passou a investigar a possível causa da morte e não percebeu nenhum tipo de objeto que pudesse ter asfixiado o paciente, não havia sinais de estrangulamento ou traumatismo, não havia tampouco sangramento externo, motivo por que o declarante atestou no certificado de óbito ‘parada cardiorrespiratória′. A Corte considerou que o referido médico Francisco Ivo de Vasconcelos, ao examinar o corpo da suposta vítima, não adotou as medidas adequadas, uma vez que, como salientou em sua declaração, examinou o cadáver e não informou que o corpo apresentava lesões 22 externas, que foram descritas posteriormente no laudo da necropsia, embora conhecesse as circunstâncias de violência na Casa de Repouso Guararapes, bem como as condições especiais da suposta vítima. Além do erro médico, constatou-se que o médico descartou possíveis causas da morte, ignorou a existência de lesões e a necessidade de ter determinado a realização de necropsia, a fim de proceder a um estudo exaustivo do cadáver da suposta vítima. Ante a nebulosidade quanto às circunstâncias que cercaram a morte do senhor Ximenes Lopes, seus familiares levaram o corpo para o Instituto Médico Legal da cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, para a realização da necropsia. O Instituto Médico Legal realizou a necropsia do senhor Damião Ximenes Lopes, concluindo que se tratava de “morte real de causa indeterminada” e deixando registrada a existência de diversas lesões, embora não mencionasse como teriam sido provocadas. Tampouco descreveu o exame do cérebro da suposta vítima, o que motivou o Ministério Público a pedir ao Delegado de Polícia que solicitasse ao Instituto Médico Legal esclarecimentos sobre o conteúdo da necropsia referente às lesões nela descritas. Após duas reiterações do Delegado de Polícia, o Instituto esclareceu que “as lesões descritas no laudo do exame cadavérico foram provocadas por ação de instrumento contundente (ou por espancamento ou por tombos)”. Em 20 de junho de 2001, a Quinta Vara Cível, em que tramita a ação civil de reparação de danos, ordenou, como prova pericial, a realização da exumação do cadáver da suposta vítima. O relatório conclusivo mencionou novamente que a morte do senhor Ximenes Lopes era uma “morte real de causa indeterminada”. A esse respeito, a senhora Lídia Dias Costa, na peritagem apresentada na audiência pública perante a Corte, declarou que na exumação do cadáver do senhor Damião Ximenes Lopes se pôde constatar que seu cérebro havia sido aberto como se faz nas necropsias, mas que não encontrava motivos justificados para que isso não fosse expresso ou descrito no laudo da necropsia realizada em 1999. Segundo a perita, tratava-se de um procedimento de rotina e não haveria justificativa para não examinar o cérebro ou não descrever o que foi examinado. Declarou também que se poderia formular um diagnóstico, com base na evolução clínica do paciente, de morte violenta 23 causada por traumatismo cranioencefálico. O relatório do exame pos-exumático confirma que o crânio apresentava uma “craniotomia transversal”, resultado de exame pericial anterior. A Corte considerou que o protocolo da necropsia realizada ao senhor Damião Ximenes Lopes em 4 de outubro de 1999 não cumpriu as diretrizes internacionais reconhecidas para as investigações forenses, já que não apresentou, entre outros elementos, uma descrição completa das lesões externas e do instrumento que as teria provocado, da abertura e descrição das três cavidades corporais (cabeça, tórax e abdômen), referindo-se na conclusão à “causa indeterminada” da morte e, por conseguinte, tampouco mencionou o instrumento que as teria provocado. Por sua vez, a Direção Técnico-Científica do Instituto Médico Legal que realizou a exumação também concluiu que se tratava “de um caso de morte real de causa indeterminada”. No caso ficou evidenciado que o Instituto de Medicina Legal não realizou as investigações nem documentou os achados encontrados no decorrer da necropsia, conforme dispõem as normas e práticas forenses internacionais. Por outro lado, no que se refere à investigação policial sobre a morte do senhor Damião Ximenes Lopes, ficou demonstrado que foi iniciada pela Delegacia Regional de Sobral em 9 de novembro de 1999, ou seja, somente 36 dias depois do ocorrido na Casa de Repouso. Portanto, houve uma falha das autoridades estatais quanto à devida diligência, ao não iniciarem imediatamente a investigação dos fatos, o que impediu inclusive a oportuna preservação e coleta da prova e a identificação de testemunhas oculares. Em virtude dessa falta de investigação, os familiares da suposta vítima denunciaram perante diversos organismos os fatos relacionados com a morte de Ximenes Lopes e reivindicaram justiça no caso. A senhora Albertina Viana Lopes, mãe da suposta vítima, recorreu à Coordenação Municipal de Controle e Avaliação da Secretaria de Saúde e Assistência Social, e a senhora Irene Ximenes Lopes Miranda, irmã da suposta vítima, recorreu à Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. 24 Todas as falhas mencionadas demonstraram a negligência das autoridades encarregadas de examinar as circunstâncias da morte do senhor Damião Ximenes Lopes e constituíram graves faltas do dever de investigar os fatos. Sob a ótica do processo penal, o artigo 25.1 da Convenção dispõe a obrigação dos Estados de garantir a todas as pessoas sob sua jurisdição um recurso judicial efetivocontra atos que violem seus direitos fundamentais. O recurso efetivo do artigo 25 da Convenção deve tramitar-se conforme as normas do devido processo estabelecidas no artigo 8 do mesmo tratado, do qual se depreende que as vítimas das violações dos direitos humanos, ou seus familiares, devem dispor de amplas possibilidades de ser ouvidos e de atuar nos respectivos processos, tanto na tentativa de esclarecer os fatos e punir os responsáveis, quanto na busca de uma devida reparação. Em resposta aos tratamentos cruéis, desumanos e degradantes a que foi submetido o senhor Damião Ximenes Lopes, e a sua posterior morte, o primeiro recurso que cabia ao Estado ter proporcionado era uma investigação efetiva e um processo judicial realizado de acordo com os requisitos do artigo 8 da Convenção, com vistas ao esclarecimento dos fatos, à punição dos responsáveis e à concessão de compensação adequada. O artigo 8.1 da Convenção dispõe, como um dos elementos do devido processo, que os tribunais decidam os casos submetidos ao seu conhecimento em prazo razoável. A razoabilidade do prazo deve ser apreciada em relação com a duração total do processo penal. Em matéria penal este prazo começa quando se apresenta o primeiro ato de procedimento contra determinada pessoa como provável responsável por certo delito e termina quando se profere sentença definitiva e firme. Para examinar se neste processo o prazo foi razoável, nos termos do artigo 8.1 da Convenção, a Corte levou em consideração três elementos: a) a complexidade do assunto; b) a atividade processual do interessado; e c) a conduta das autoridades judiciais. A Corte considerou que o caso não era complexo, por existir uma única vítima, devidamente identificada e que morreu em uma instituição hospitalar, o que possibilitava que 25 o processo penal contra supostos responsáveis, que estão identificados e localizados, fosse simples. A demora do processo se deveu unicamente à conduta das autoridades judiciais. Em 27 de março de 2000, o Ministério Público apresentou a denúncia penal contra os supostos responsáveis pelos fatos e, transcorridos mais de seis anos do início do processo, ainda não havia se proferido sentença de primeira instância. As autoridades competentes se limitaram a diligenciar o recebimento de provas testemunhais. Ficou provado ainda que a Terceira Vara da Comarca de Sobral demorou mais de dois anos para realizar as audiências destinadas a ouvir as declarações de testemunhas e informantes e, em alguns períodos, não realizou atividade alguma com vistas à conclusão do processo. A esse respeito, a Corte estimou que não procedia o argumento do Estado de que o atraso se deva, entre outros aspectos, ao grande número de declarações que teve de receber ou a ter tido de delegar a outras repartições judiciais o recebimento das declarações de testemunhas que não residiam em Sobral, ou ao volume de trabalho da repartição judicial que conhece da causa. O Estado também alegou que o atraso no procedimento penal se deveu a que o Ministério Público, em 22 de setembro de 2003, aditou a acusação para incluir outras duas pessoas. Neste ponto é importante ressaltar que o Ministério Público é um órgão do Estado, motivo por que suas ações e omissões podem comprometer a responsabilidade internacional desse mesmo Estado. Esse Ministério tardou mais de três anos para aditar a denúncia para incluir os senhores Francisco Ivo de Vasconcelos, Diretor Clínico, e Elias Gomes Coimbra, auxiliar de enfermagem, ambos da Casa de Repouso Guararapes, apesar de ter sido o senhor Francisco Ivo de Vasconcelos o médico que atendeu o senhor Ximenes Lopes no dia de sua morte e o senhor Gomes Coimbra o enfermeiro que havia atendido a suposta vítima no decorrer de sua internação. O Centro de Apoio Operacional dos Grupos Socialmente Discriminados da Procuradoria-Geral de Justiça, do Ministério Público, em 25 de maio de 2000, dois meses após o início do processo penal, declarou ao promotor encarregado da causa referente à morte do senhor Damião Ximenes Lopes que, de acordo com o acervo probatório recolhido para essa finalidade, a denúncia deveria ser aditada, já que isso “constituía uma imposição institucional e legal”. A Corte considerou que a referida alegação do Estado não era procedente para justificar a demora no procedimento penal. 26 Finalmente, após mais de dois anos do aditamento da acusação, o caso não progrediu de maneira significativa. O Tribunal faz notar que o Estado informou em suas alegações finais que “já está concluída neste caso a fase de instrução da ação penal, devendo ser proferida a sentença nos primeiros meses de 2006”. No entanto, ficou demonstrado pela prova aportada pelas partes à Corte que o processo se encontrava à espera de uma decisão interlocutória sobre o pedido de suspensão da apresentação das alegações finais por parte de um dos acusados originalmente e não estava pronto para que o juiz proferisse sentença definitiva no caso. O prazo em que se desenvolveu o procedimento penal no caso não era razoável, uma vez que, após mais de seis anos, ou 75 meses de iniciado, ainda não havia se proferido sentença de primeira instância e não haviam sido apresentadas razões justas para justificar a demora. A Corte entendeu então que este período excedeu em muito aquele a que se refere o princípio de prazo razoável consagrado na Convenção Americana e constituiu uma violação do devido processo. Por outro lado, a falta de conclusão do processo penal teve repercussões particulares para os familiares do senhor Damião Ximenes Lopes, já que, na legislação do Estado, a reparação civil pelos danos ocasionados por um ato ilícito tipificado penalmente pode estar sujeita ao estabelecimento do delito em um processo de natureza criminal. Por este motivo na ação civil de reparação de danos tampouco se proferiu sentença de primeira instância, ou seja, a falta de justiça na ordem penal impediu que os familiares de Ximenes Lopes, em especial sua mãe, obtivessem compensação civil pelos fatos deste caso. Pelo exposto, a Corte considerou que o Estado não dispôs de um recurso efetivo para garantir, em um prazo razoável, o direito de acesso à justiça das senhoras Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda, mãe e irmã, respectivamente, do senhor Damião Ximenes Lopes, com plena observância das garantias judiciais. Diante de tudo isso, a Corte concluiu que o Estado não proporcionou aos familiares de Ximenes Lopes um recurso efetivo para garantir o acesso à justiça, a determinação da verdade dos fatos, a investigação, identificação, o processo e a punição dos responsáveis e a reparação 27 das consequências das violações. O Estado foi, por conseguinte, responsabilizado pela violação dos direitos às garantias judiciais e à proteção judicial consagrados nos artigos 8.1 e 25.1 da Convenção Americana, em relação com o artigo 1.1 desse mesmo tratado, em detrimento das senhoras Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda. 3.4 Condenação do Brasil O Brasil foi condenado, por unanimidade a: 1) garantir, em um prazo razoável, que o processo interno destinado a investigar e sancionar os responsáveis pelos fatos deste caso surta seus devidos efeitos; 2) publicar, no prazo de seis meses, no Diário Oficial e em outro jornal de ampla circulação nacional, uma só vez, os fatos provados nesta sentença; 3) continuar a desenvolver um programa de formação e capacitação para o pessoal médico, de psiquiatria e psicologia, de enfermagem e auxiliares de enfermagem e para todas as pessoas vinculadas ao atendimento de saúdemental, em especial sobre os princípios que devem reger o trato das pessoas portadoras de deficiência mental, conforme os padrões internacionais sobre a matéria; 4) pagar em dinheiro para as Sras. Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda e para os Srs. Francisco Leopoldino Lopes e Cosme Ximenes Lopes, no prazo de um ano, a título de indenização por dano material, a quantia fixada nesta sentença; 5) pagar em dinheiro, no prazo de um ano, a título de custas e gastos gerados no âmbito interno e no processo internacional perante o sistema interamericano de proteção dos direitos nos, a quantia fixada nesta sentença, a qual deverá ser entregue à Sra. Albertina Viana Lopes; 6) apresentar relatório a Corte sobre as medidas que adotará para cumprir os dispositivos desta sentença. A Corte Interamericana de Direitos Humanos concluiu, também, que o Estado Brasileiro violou o seu dever genérico de respeitar e garantir os direitos consagrados na Convenção Americana. A sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre o caso de Damião Ximenes foi a primeira a abordar o tratamento cruel e discriminatório dispensado às pessoas portadoras de transtorno mental. O reconhecimento da situação vulnerável a que estão submetidas estas pessoas pela Corte ampliou a jurisprudência internacional e fortaleceu, nacionalmente, o trabalho de denúncia das organizações do movimento antimanicomial, no que diz respeito à violação de direitos humanos em estabelecimentos psiquiátricos. 28 O cumprimento das sentenças indenizatória e criminal em 17 de agosto de 2007, o Estado Brasileiro pagou as indenizações fixadas pela Corte no valor US$ 146.000, 00 (cento e quarenta e seis mil dólares). O juiz da 3ª Vara da Comarca de Sobral, Marcelo Roseno de Oliveira, condenou a seis anos de reclusão os seis réus apontados como responsáveis pela morte de Damião Ximenes Lopes, ocorrida em 1999, na Casa de Repouso Guararapes, em Sobral. Eles foram condenados pelo crime de maus-tratos que resultaram na morte da vítima - artigo 136, § 2º, do CPB: “ainda que não tencionassem expor a perigo a vida da vítima, assumiram, por seu comportamento omissivo, na mesma proporção, o risco de produzir tal resultado, eximindo-se, em suas respectivas esferas de atuação, de evitar a morte de Damião”, afirmou o magistrado em sua sentença proferida. De acordo com a decisão, os seis condenados, Sérgio Antunes Ferreira Gomes (proprietário da casa de repouso), Carlos Alberto Rodrigues dos Santos (auxiliar de enfermagem), André Tavares do Nascimento (auxiliar de enfermagem), Maria Salete Moraes Melo de Mesquita (enfermeira-chefe), Francisco Ivo de Vasconcelos (médico plantonista) e Elias Gomes Coimbra (auxiliar de enfermagem), devem cumprir a pena inicialmente em regime semiaberto. A reparação financeira e a execução de outras obrigações que tenham sido fixadas pela Corte podem se cumpridas pelos Estados de forma relativamente simples, dependendo unicamente do comprometimento do Estado com a Corte e com os princípios de direito internacional. O fato provocou grande comoção pública e ganhou repercussão no Brasil e em outros países. Na época, o Estado foi julgado e condenado pela Corte Interamericana, por violar os direitos humanos e não apresentar solução para o caso em tempo hábil. A Corte determinou que o país apresentasse informações detalhadas e atualizadas sobre a ação. A defesa dos seis condenados entrou com apelação no Tribunal de Justiça do Ceará, para reformular a sentença de 1º grau, alegando excesso de prazo na tramitação do processo. (Publicado em 10 de dez de 2009). Em 2 de maio de 2008, em procedimento de supervisão de sentença, a Corte Interamericana de Direitos Humanos emitiu uma sentença, declarando cumpridas as medidas de publicação e de indenização e declarando não cumpridas as demais medidas. 29 Não pairam dúvidas que o caso Damião Ximenes Lopes e as consequências que esse caso trouxe ao Brasil, foram um grande divisor de águas, tendo em vista que foi a partir do caso Damião Ximenes Lopes que houve maior implementação de políticas públicas com o intuito de facilitar a comunicação entre usuários dos serviços de saúde mental e seus familiares com a finalidade de coibir condutas violadoras dos direitos das pessoas com transtornos mentais e, além disso, foi a partir da condenação do Brasil no caso Damião que consequências benéficas no cenário jurídico brasileiro começaram a surgir. 30 4 CONCLUSÃO O caso de Damião Ximenes Lopes é muito simbólico não apenas para o Brasil, mas para todo o Sistema Interamericano de Defesa dos Direitos Humanos, pois além de ser a primeira condenação do país na Corte Interamericana, foi o precursor a analisar o respeito às violações de direitos humanos de pessoas com doença mental. Além disso, com a condenação do Brasil, verificou-se que o sistema interamericano de Direitos Humanos se mostrou muito mais eficiente se comparados a outros casos que foram submetidos a ele, em que outros Estados também foram réus. O papel da Comissão e da Corte Interamericana de Direitos Humanos no julgamento do caso “Ximenes Lopes” foi de grande importância para a responsabilização do Estado Brasileiro pela morte da vítima, bem como pela postura de desrespeito na persecução penal. Domesticamente, em análise a todas as circunstâncias que cercavam o caso, sem a utilização da jurisdição internacional e a atuação da Comissão e da Corte mencionadas com certeza a família da vítima não teria obtido a solução dada por elas. Em uma análise ainda mais profunda e objetiva do caso, devido à atuação de profissionais incapacitados na condução do tratamento de pessoas com deficiência mental, principalmente se considerarmos que estão ligados ao sistema público de saúde do Brasil, ficou configurado como o Estado ainda não está preparado para promover em sua amplitude a efetivação aos preceitos dos direitos fundamentais do cidadão. À luz do exposto, conclui-se que, deveras, houve a violação às normas estabelecidas pela Convenção Americana e, tendo em vista que o Estado não iniciou uma investigação séria, imparcial e efetiva, os autores deste trabalho concordam com a posição da Corte Internacional de Direitos Humanos, que entendeu que o Estado Brasileiro não dispôs, com plena observância das garantias judiciais, de um recurso efetivo para garantir, em um prazo razoável, o direito de acesso à justiça das Sras. Albertina Viana Lopes, mãe do Sr. Damião, e Irene Ximenes Lopes Miranda, irmão do Sr. Damião, condenando-o nos termos expostos anteriormente.
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