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Trabalho Internacional (Original)

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ESAMC - ESCOLA SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO, MARKETING E 
COMUNICAÇÃO DE SANTOS 
DIREITO 2018 
 
 
 
ALESSANDRA LIMA DA SILVA – RA 11140091 
KLEBER SAMPAIO RIBEIRO FILHO – RA 11140298 
LARISSA SILVA SOUSA – RA 11140531 
VITOR PEREIRA LIMA DE OLIVERA – RA 11140087 
 
 
 
DIREITO INTERNACIONAL 
CASO “XIMENES LOPES” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTOS – SP 
2018 
 
 
ALESSANDRA LIMA DA SILVA – RA 11140091 
KLEBER SAMPAIO RIBEIRO FILHO – RA 11140298 
LARISSA SILVA SOUSA – RA 11140531 
VITOR PEREIRA LIMA DE OLIVERA – RA 11140087 
 
 
 
 
 
DIREITO INTERNACIONAL 
CASO “XIMENES LOPES” 
 
 
 
Trabalho de Direito Internacional, do caso “Ximenes 
Lopes” da Corte Internacional de Direitos Humanos, 
como exigência parcial de nota da referida disciplina. 
 
Professor responsável: Maria Luiza Justo Nascimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTOS – SP 
2018 
 
 
 
ALESSANDRA LIMA DA SILVA – RA 11140091 
KLEBER SAMPAIO RIBEIRO FILHO – RA 11140298 
LARISSA SILVA SOUSA – RA 11140531 
VITOR PEREIRA LIMA DE OLIVERA – RA 11140087 
 
 
 
 
 
DIREITO INTERNACIONAL 
CASO “XIMENES LOPES” 
 
 
 
Trabalho de Direito Internacional, do caso “Ximenes 
Lopes” da Corte Internacional de Direitos Humanos, 
como exigência parcial de nota da referida disciplina. 
 
 
 
Aprovados em ___/___/______ 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
_________________________________ 
Prof. Maria Luiza Justo Nascimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 5 
2 RELATÓRIO ..................................................................................................................................... 6 
3 ANÁLISE ............................................................................................................................................ 7 
3.1 Provas dos autos .......................................................................................................................... 7 
3.2 Reconhecimento da responsabilidade pelo Brasil .................................................................... 9 
3.3 Fundamentação utilizada na sentença ..................................................................................... 12 
3.3.1 Violação dos artigos 4 e 5º da Convenção Americana. ....................................................... 12 
3.3.2 Da Violação dos artigos 8 e 25 de Convenção Americana em relação com o artigo 1.1 .... 20 
3.4 Condenação do Brasil ............................................................................................................... 27 
4 CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 30 
 
 
 
 
 
5 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A pesquisa pretende abordar o caso do Sr. Damião Ximenes Lopes, que por ter sido 
tão notável pela violação da dignidade humana, acabou ocasionando ao Brasil sua primeira 
condenação perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos. 
 
Em um primeiro momento, com o escopo de compreendermos melhor o caso, será 
relatada a história do Sr. Damião Ximenes Lopes. 
 
Em um segundo momento, dissertaremos sobre o Sistema Interamericano de Proteção 
dos Direitos Humanos, analisando cada ponto da sentença condenatória exarada pela Corte 
Internacional de Direitos Humanos, em face da República Federativa do Brasil. 
 
Em um terceiro e derradeiro momento, será concluída a pesquisa com a opinião em 
comum dos autores desta monografia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
2 RELATÓRIO 
 
O Sr. Damião Ximenes Lopes tinha doença mental e estava internado na instituição 
psiquiátrica Casa de Repouso Guararapes, Centro de Saúde vinculado ao Sistema Único de 
Saúde (SUS), em Sobral/CE. 
 
Ocorre que o tratamento aplicado à “Ximenes” não foi o adequado, uma vez que, 
segundo relatos, ele foi submetido à contensão física com suas mãos amarradas para trás. 
 
No dia 04 de outubro 1999, ao receber a visita de sua mãe, Sra. Albertina Ximenes 
Lopes, Damião estava agonizando, momento em que foi solicitado socorro ao médico 
responsável, Dr. Francisco Ivo de Vasconcellos, sem, entretanto, o seu pedido ter sido 
atendido. 
 
A Sra. Albertina percebeu, ainda, que o seu filho apresentava marcas de torturas e seus 
punhos estavam dilacerados e totalmente roxos, além de suas mãos estarem perfuradas com 
sinais de unhas e uma parte de seu nariz ferida. 
 
Em vista disto, mesmo sofrendo com estado precário de seu filho, a Sra. Albertina 
retornou para casa e logo após recebeu um telefonema da Casa de Repouso informando que 
seu filho havia falecido, cujo laudo médico constatou que a causa da morte teria sido 
“natural” decorrente de uma parada cardiorrespiratória. 
 
No dia da morte, a família apresentou uma queixa na delegacia de policia da 7ª Região 
de Sobral, porém, não houve qualquer andamento e/ou interesse no caso. Por tal razão a 
família denunciou perante a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia legislativa. 
 
De 04 de outubro de 1999 até, aproximadamente, abril de 2002 a morte do Sr. Damião 
continuou impune, haja vista que sequer houve audiência definitiva para apuração do caso, 
uma vez que houve o adiamento por diversas vezes sem motivos consideráveis. Por esta razão 
a família levou o caso à Comissão de Direitos Humanos, a qual, por sua vez, o submeteu à 
Corte Interamericana de Direitos Humanos para apuração. 
7 
 
3 ANÁLISE 
 
3.1 Provas dos autos 
 
O caso do Sr. Damião Ximenes foi submetido à Corte Interamericana de Direitos 
Humanos para apuração de eventual violação dos direitos consagrados nos artigos 4 (direito à 
vida), 5 (direito à integridade pessoal), 8 (garantias judiciais) e 25 (proteção judicial), da 
Convenção Americana, por força do artigo 1.1 que obriga os Estados que aceitaram fazer 
parte da Convenção a respeitar os direitos lá constantes. 
 
Durante todo o tramite perante a Comissão e a Corte Interamericana verificou-se que 
muitos procedimentos foram adotados anteriormente à condenação aplicada para a República 
Federativa do Brasil. Dentre elas, várias provas foram remetidas à Corte, especialmente 
testemunhais e periciais, as quais passaremos a ressaltar alguns detalhes importantes. 
 
Nos depoimentos dos Srs. José Jackson Coelho Sampaio (médico psiquiatra) e 
Domingos Sávio do Nascimento Alves (médico e ex-Coordenador de Saúde Mental do 
Ministério da Saúde do Brasil), testemunhas do Estado, ficou evidente que o tratamento em 
hospitais psiquiátricos era precário (fls. 9/10, da sentença). Tais assertivas, inclusive, foram 
corroboradas pelo Sr. Luís Fernando Farah de Tófoli (médico psiquiatra da Secretaria de 
Desenvolvimento Social de Saúde do Município de Sobral), testemunha do Estado, ao dizer 
que “a influência do caso Ximenes Lopes na reorganização da atenção da saúde mental do 
município de Sobral é um fato inegável” e, também, que “a morte do senhor Damião 
Ximenes Lopes levou à reformulação da política de saúde mental e uma resposta adequada 
diante das condições insustentáveis de funcionamento da Casa de Repouse Guararapes” (fls. 
10, da sentença). 
 
Pelos depoimentos acima denota-se que as condições oferecidas pelos hospitais 
psiquiátricos, incluindo-se a Casa de Repouso de Guararapes, são por demais deficientes. 
 
Além disso, o Sr. Eric Rosenthal (peritointernacional na matéria de direitos humanos 
das pessoas com deficiências mentais), indicado pela Comissão Interamericana, realçou que: 
 
[...] O direito interacional dos direitos humanos reconhece que indivíduos com 
deficiências mentais confinados em instituição psiquiátrica, como estava o senhor 
8 
 
Damião Ximenes Lopes, têm direito ao consentimento informado e, em 
consequência, o direito de recusar tratamento. [...] No caso do senhor Ximenes 
Lopes não há indicação de que existisse um risco iminente ou imediato e tampouco 
há informação a respeito de uma decisão emitida por autoridade médica 
independente (fls. 12, da sentença) - (grifamos). 
 
Perceba que em momento algum o Sr. Ximenes teve a opção de se manter ou não 
internado. 
 
No tocante a contenção física, o Sr. Eric Rosenthal, asseverou que “quando utilizada 
de maneira adequada, tem o objetivo de prevenir danos que o paciente possa ocasionar a si 
mesmo ou a terceiros”. Ocorre, todavia, que, segundo a análise realizada pelo Sr. Eric, o Sr. 
Ximenes Lopes não apresentava perigo iminente para si próprio ou terceiros, além de nunca 
ter sido evidenciado qualquer tentativa menos restritiva para controlar um eventual episódio 
de violência seu, vejamos: 
 
No caso do senhor Ximenes Lopes, não há evidências de que ele representasse 
perigo iminente para ele mesmo ou para terceiros. Tampouco há evidência de que 
quaisquer tentativas menos restritivas para controlar um possível episodio de 
violência seu. Assim sendo, o uso de qualquer forma de contenção física neste 
caso foi ilegal. Uma vez contido, com as mãos amarradas por trás das costas, 
competia ao Estado o supremo dever de proteger o senhor Damião Ximenes Lopes, 
devido a sua condição de extrema vulnerabilidade. O uso de força física e o 
espancamento constituíram uma violação de seu direito a uma acedência humana. 
Há outras alternativas que podem ser utilizadas antes de fazer uso da força ou 
decidir o isolamento de um paciente. Os programas de saúde mental deveriam se 
empenhar em manter um ambiente e uma cultura de cuidado que minimize a 
utilização de tais métodos. O uso injustificado e excessivo da forca neste caso viola 
o artigo 5.2 da Convenção Americana e constitui prática desumana e tratamento 
degradante (último parágrafo das fls. 12, da sentença) – (grifamos). 
 
Extrai-se, portanto, pela ótica do Sr. Eric Rosenthal, que o tratamento aplicado ao Sr. 
Damião foi ilegal. 
 
E, de fato, ao que se infere pelos depoimentos de outras testemunhas, a Casa de 
Repouso de Guararapes era um lugar onde existia atos de violência, sem qualquer 
investigação a respeito, inobstante a sua total falta de condições de saúde e higiene para com 
os pacientes. Para melhor compreensão, relevante é transcrever parte desses depoimentos: 
 
Na época em que esteve internado na Casa de Repouso Guararapes foi vítima de 
atos de violência e não denunciou os fatos à polícia. Soube de outros casos de 
violência e morte dentro da Casa de Repouso Guararapes, sem que tenham 
existido investigações a respeito. [...] A Casa de Repouso Guararapes era um lugar 
de violência, de abuso de poder e sem nenhum cuidado para com os pacientes 
9 
 
(Sr. Francisco das Chagas de Melo, ex-paciente da Casa de Repouso de Guararapes 
– fls. 14, da sentença) – (grifamos). 
 
[...] Na visita que realizou à Casa de Repouso Guararapes, a mesma se encontrava 
em péssimas condições de higiene, os pacientes estavam em más condições, sem um 
responsável da área médica ou administrativa presente. O Estado no fiscalizou a 
adequadamente a Casa de Repouso Guararapes (depoimento do Sr. João Alfredo 
Teles Melo, à época, era deputado da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e, 
após, Deputado Federal – fls. 15) – (grifamos). 
 
Conclui-se, destarte, que as provas orais (testemunhas e periciais) foram as principais 
bases para se alcançar a condenação do Estado Brasileiro, haja vista que foi possível 
determinar as condições da Casa de Repouso de Guararapes, as condutas do Sr. Damião 
Ximenes Lopes, bem como ao tratamento ilegal a ele aplicado. 
 
3.2 Reconhecimento da responsabilidade pelo Brasil 
 
No caso do Sr. Damião, o Brasil reconheceu diversas responsabilidades, 
principalmente na audiência pública realizada na Corte Interamericana nos dias 30/11/2005 e 
01/12/2005. 
 
Diante desta chance provida pela audiência, o Estado reconhece a procedência da 
inicial e declarou ter violado os artigos 4 e 5, da Convenção Americana, isto é, o direito à vida 
e à integridade pessoal (fls. 22 e 23, da sentença), com junção ao artigo 1.1 (obrigação de 
respeitar os direitos), pois perante os fatos expostos faltou prevenção à vítima para que não 
fosse possível a ocorrência de tal evento, mas devido a precariedade do sistema do Estado não 
foi possível evitar o ocorrido, violando, assim, o artigo 4, da Convenção. 
 
Devido aos maus-tratos que a vítima (Sr. Damião) sofreu antes de vir a óbito, o Estado 
Brasileiro reconheceu que violou o artigo 5, da respectiva Convenção, mas negou ter 
responsabilidades perante as violações dos artigos 8 (garantias judiciais) e 25 (proteção 
judicial) da Convenção, em agravo aos familiares do Sr. Damião. Contudo, ao se manifestar o 
Estado alegou inter alia, ou seja, reconhece sua responsabilidade internacional diante da 
violação dos artigos 4 e 5 da Convenção, ante seu pacto com a proteção dos direitos humanos. 
 
O Estado afirma, ainda, que não existe danos para serem reparados com relação à 
alguns familiares da vítima, como o Sr. Francisco (pai); Cosme (irmão gêmeo) e Irene (irmã 
que ingressou com ação judicial). Frisa que não há mais o que reparar para a Sra. Albertina 
10 
 
(mãe da vítima), pois o dano sofrido pela mesma já houve reparação civil, pois indenizou 
materialmente a mãe da vítima, tendo efetuado pagamento de uma justa indenização no 
âmbito interno, bem como concedeu pensão vitalícia nos âmbitos estaduais e federais, ambas 
as pensões por morte. A pensão por morte vitalícia do âmbito estadual foi baseada na Lei nº. 
13.491 que o Estado do Ceará proferiu, que na época em que foi prolatada a sentença, era 
correspondente ao valor de R$ 323,40 (trezentos e vinte e três reais e quarenta centavos), 
concedida em 16/06/04. 
 
Segundo o Estado, não havia danos emergentes, tendo em vista que, no processo civil, 
a Sra. Albertina já tinha litigado pela reparação de danos e, no processo penal, foi instaurada 
ação pelo Ministério Público. O Estado declarou, também, que o atraso no procedimento 
penal ocorreu devido ao Ministério Público, pois aos 22/09/03 acrescentou mais duas pessoas 
para a acusação e se valendo de o mesmo ser um Ente Público, suas ações e omissões 
envolver-se com as responsabilidades internacionais. Entretanto, o Ministério Público acabou 
levando cerca de 3 (três) anos para poder acrescentar na denúncia o diretor clínico, Dr. 
Francisco Ivo de Vasconcelos, e o auxiliar de enfermagem, Sr. Elias Gomes Coimbra, ambos 
agentes que, além de serem funcionários da Casa de Repouso Guararapes, foram os mesmos 
que prestaram atendimento ao Sr. Damião no dia em que morreu. 
 
Apesar disso, a Procuradoria Geral de Justiça, através do seu Centro de Apoio 
Operacional dos Grupos Socialmente Discriminados aos 25/05/00, apenas 2 (dois) meses após 
dado início ao processo penal comunicou ao promotor encarregado do caso que fosse 
determinado tal denúncia como aditada, afinal, era constituída de maneira institucional e 
legal, com o acervo probatório recolhido desta finalidade. 
 
Para o Estado, os demais familiares, como o pai e irmãos de Damião, não faziam parte 
da indenização ao alegar que era totalmente inadequadaa indenização por dano imaterial para 
Francisco Leopoldino Lopes (pai) e para Irene Ximenes Lopes Miranda (irmã), tendo em vista 
que os dois não mantinham uma relação direta com a vítima. Alegou, igualmente, que, com 
base do seu irmão gêmeo, Sr. Cosme, devido o mesmo não ter conhecimento do falecimento 
de seu irmão, não haveria razões suficientes para que fosse configurado o dano imaterial 
diante do desconhecido. 
 
11 
 
Na alegação final escrita apresentada pelo Estado, foi frisado que o mesmo ao ter 
respeitado os princípios da ampla defesa, contraditório e do devido processo legal não violou 
o direito à proteção e às garantias judiciais. Demonstrou seu real comprometimento com a 
tutela dos direitos humanos, optando por assumir suas falhas com a obrigação de fiscalizar e 
regular o atendimento médico na Casa de Repouso Guararapes, bem como de prevenir os 
indefesos e suas integridades pessoais e vida, que são garantias estas previstas nos artigos 4 e 
5 da Convenção Americana. Abordou, ainda, que através da procura de justiça foi informada 
da tramitação na jurisdição interna, bem como demonstrou através de Contestação que 
investigou de forma que usou todos os seus recursos com a finalidade de descobrir as 
circunstâncias que levou a óbito o Senhor Damião, e como meio de poder punir os 
responsáveis pelos maus tratos que ocasionou na morte da vítima, na Casa de Repouso 
Guararapes. 
 
Destarte, referente aos meios de reparação o Estado declarou que aderiu todas as 
resoluções que se aguarda de um Estado democrático de direito com formas para evitar que 
venha a ocorrer eventos semelhantes aos que aconteceu com o Sr. Damião. O Estado além de 
aderir diversas medidas no âmbito nacional, como, por exemplo, a aprovação da Lei nº 
10.216/01 mais conhecida como a Lei de Reforma Psiquiátrica, adotou meios no Município 
de Sobral em diversas unidades com especialização em tratamento de pessoas portadoras de 
variáveis tipos de doença, instituiu numerosos programas relacionais aos serviços de saúde. 
Ainda fez inúmeras reparações, em especial como forma de homenagear a vítima, deu o nome 
de um Centro de Atenção Psicossocial de Sobral (CAPS), cujo nome do tal como “CENTRO 
DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DAMÃO XIMENES LOPES”. Após ter sido feito a 
Terceira Conferência Nacional de Saúde Mental foi dada o nome da Sala de Damião Ximenes 
Lopes. 
 
Outrossim, desde que o Brasil pactuou com a Convenção Americana e após o caso em 
tela, o Estado passou a ter uma espécie de pressão, vindo a ter uma atenção maio nos casos de 
saúde mental no país, sendo extinto e reformulado alguns manicômios tornando-se em centros 
de atenção e cuidado, onde os tratamentos é devolvido em liberdade, passando a trocar os 
procedimentos institucionalizados como os maus tratos ou meios cruéis tornando assim 
proibidos aos portadores de doenças mentais. 
 
12 
 
Diante das despesas e custas, pondera que há o que ser ressarcido aos familiares da 
vítima na esfera interna, afinal, se quer efetuaram despesas para que houvesse o tramite da 
presente ação, seja diante do Tribunal ou da Comissão, e mesmo que tenha sido efetuado tais 
despesas, as mesmas não foram comprovadas. 
 
Assim, de acordo com o reconhecimento de responsabilidade efetuado pelo Estado, a 
Corte considerou propício em evidência de seu compromisso com a proteção dos direitos 
humanos, bem como um meio positivo de colaboração para desenvolver o processo de 
maneira mais eficaz e legal e de forma fundamental para a vigência dos princípios compostos 
pela Convenção Americana no Estado, ao dizer que: 
 
uma atitude desta natureza contribui para solucionar o caso presente, mas também 
contribui para estabelecer um precedente muito importante no Brasil e na região de 
como os Estados devem atuar responsavelmente quando os fatos são inquestionáveis 
e quando também é inquestionável a responsabilidade do Estado em matéria de 
direitos humanos no âmbito do sistema interamericano (fls. 22 da sentença). 
 
Contudo, não há controvérsias a respeito do caso que resultou na morte do Sr. Damião 
estabelecidas nos parágrafos 112 a 112.71, também em relação aos direitos nos moldes dos 
artigos 4 e 5 da Convenção. 
 
Assim, aos 17/08/07 a indenização fixada pela Corte no valor de US$ 146.000,00 
(cento e quarenta e seis mil dólares) foi paga pelo Estado Brasileiro e embora tenha sido 
cumprida a obrigação da sentença, o processo penal, que visa a responsabilização dos 
envolvidos pela morte de Damiao, ainda não foi finalizado. 
 
Ressalta-se, por fim, que o Estado Brasileiro fixou uma espécie de pacto com o 
Conselho Nacional de Justiça para que a sentença que tramita na vara criminal seja 
satisfatória e rápida. 
 
3.3 Fundamentação utilizada na sentença 
 
3.3.1 Violação dos artigos 4 e 5º da Convenção Americana. 
 
Os Estados Partes da Convenção Interamericana comprometem-se a respeitar os 
direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa 
13 
 
que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, 
idioma, religião, posição política ou de qualquer natureza, origem nacional ou social, posição 
econômica, nascimento ou qualquer outra condição social. 
 
Segundo o artigo 4º, § 1º, da referida Convenção, “toda pessoa tem o direito de que se 
respeite sua vida”, cujo direito deve ser velado pela lei desde o momento da concepção, não 
podendo ser privado da vida arbitrariamente. 
 
De outro lado, a integridade física também é protegida pelo mesmo diploma 
internacional no artigo 5º, pelo qual toda pessoa detém o direito de que se respeite sua 
integridade física, psíquica e moral, não podendo ser submetido a torturas, nem a penas ou 
tratos cruéis ou degradantes, de modo que até mesmo aqueles que são privados da liberdade 
devem ser tratados com igual respeito. 
 
A Corte entendeu que na Casa de Repouso Guararapes existia ambiente violento 
contra as pessoas hospitalizadas, que viviam sob constante ameaça física e psíquica pelos 
funcionários do nosocômio ou sem que impedissem as agressões, vindo a serem submetidos a 
estas transgressões mesmo com a saúde debilitada. 
 
O direito à vida e à integridade pessoal são direitos fundamentais para que se desfrute 
dos demais direitos, a perquirir a inadmissibilidade de liberalidades que restrinjam tais 
direitos. Em vista disso, os Estados têm a obrigação de garantir a criação das condições 
necessárias para que não se produzam violações a esse direito inalienável e, em particular, o 
dever de impedir que seus agentes atentem contra ele. 
 
O artigo 4º garante, assim, não apenas o gozo da vida sem restrição arbitrária, mas, 
também, o dever dos Estados de adotar as medidas impreteríveis para viabilizar a repugnância 
de qualquer ameaça contra o aludido direito, incluindo um sistema de justiça efetivo, capaz de 
investigar, castigar e reparar toda privação da vida por parte de agentes estatais ou 
particulares; e salvaguardar o direito de que não se impeça o acesso a condições que 
assegurem uma vida digna, o que inclui a adoção de medidas positivas para prevenir a 
violação desse direito. 
 
14 
 
Da mesma forma, a Corte reconhece que o direito à integridade pessoal inibe qualquer 
tortura e penas cruéis, desumanos ou degradantes. 
 
A Corte já estabeleceu que: 
 
A infração do direito à integridade física e psíquica das pessoas é uma espécie de 
violação que apresenta diversas conotações de grau e que abrange desde a tortura até 
outro tipo de vexames ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes cujas 
sequelas físicas e psíquicas variam de intensidade segundoos fatores endógenos e 
exógenos que deverão ser demonstrados em cada situação concreta. 
 
Neste contexto, as características pessoas da vítima de tortura ou tratamentos cruéis 
devem ser levadas em consideração no momento de determinar se a integridade pessoa foi 
violada, já que essas características podem mudar a percepção da realidade do indivíduo e, 
por conseguinte, aumentar o sofrimento e o sentimento de humilhação quando são submetidas 
a certos tratamentos. 
 
Em vista disso, cabe ao Estado assegurar atendimento médico eficaz para pessoas 
portadoras de deficiência mental, o que traduz o dever estatal de assegurar seu acesso a 
serviços básicos de saúde à promoção da saúde mental; à prestação de serviços dessa natureza 
que sejam os menos restritivos possíveis; e à prevenção das deficiências mentais. 
 
Logo, é correto afirmar que, considerando sua condição psíquica e emocional, as 
pessoas portadoras de deficiência mental são eminentemente vulneráveis que é agravada 
quando estes cidadãos ingressam em instituições de tratamento psiquiátrico, onde o 
desequilíbrio de poder entre pacientes e corpo clínico é latente. 
 
É certo que em casos extremos é necessária a adoção de medidas sem seu 
consentimento, todavia, a deficiência mental não deve ser entendida como uma incapacidade 
para que a pessoa deixe de determinar o que quer, devendo ser aplicada a presunção de que 
estas mesmas pessoas são capazes de expressar sua vontade, a qual deve ser respeitada pelo 
pessoal médico e pelas autoridades, cabendo à autoridade competente emitir seu 
consentimento quanto ao tratamento a ser empregado, na impossibilidade do doente para 
consentir. 
 
15 
 
Evidente, neste interim, que os cuidados mínimos e condições de internação dignas 
devem ser respeitados, os quais podem ser pautados à luz dos Princípios para a Proteção dos 
Doentes Mentais e para a Melhoria do Atendimento de Saúde Mental das Nações Unidas. 
 
Destaca-se que as precárias condições de funcionamento da Casa de Repouso 
Guararapes, tanto as condições gerais do lugar quanto ao atendimento médico, se 
distanciavam de forma significativa das adequadas à prestação de um tratamento de saúde 
digno, particularmente porque afetavam pessoas de grande vulnerabilidade por sua deficiência 
mental, e eram per si incompatíveis com uma proteção adequada da integridade pessoal e da 
vida, o que somente se fez possível em razão da sujeição que pessoas nestas condições estão 
submetidas. Daí porque dizer que a sujeição apresenta “um alto risco de ocasionar danos ao 
paciente ou sua morte e que as quedas e lesões são comuns nesta área”, porque interfere na 
capacidade do paciente de tomar decisões e restringe sua liberdade de movimento. 
 
A sujeição torna-se, a partir desta análise, medida de última instancia, com a única 
finalidade de protege o paciente, ou o pessoal médico e terceiros, quando o comportamento da 
pessoa em questão seja tal que esta represente uma ameaça à segurança daqueles. A sujeição 
não pode ter outro motivo senão este e somente deve ser executada por pessoal qualificado e 
não pelos pacientes. O senhor Damião Ximenes Lopes foi submetido a sujeição com as mãos 
amarradas para trás entre a noite do domingo e a manhã da segunda-feira, sem uma 
reavaliação da necessidade de prolongar a contenção, e se permitiu que caminhara sem a 
adequada supervisão. Esta forma de sujeição física a que foi submetida a suposta vítima não 
atende à necessidade de proporcionar ao paciente um tratamento digno nem a proteção de sua 
integridade psíquica, física ou moral. 
 
O Estado detém, como reflexo da obrigação de proporcionar condições necessárias às 
pessoas sub sua guarda para desenvolver uma vida digna, o dever de proporcionar serviços de 
saúde física e mental do paciente. 
 
Logo, os cuidados devem ser aumentados quando se tratar de pacientes com 
deficiência mental, dada sua particular vulnerabilidade quando se encontram em instituições 
psiquiátricas. 
 
16 
 
Os Estados detêm, ainda, o dever de regular e fiscalizar as instituições que prestam 
serviços de saúde, como medida necessária para a devida proteção da vida e integridade das 
pessoas sob sua jurisdição, abrangendo tanto as entidades públicas ou privadas. Especialmente 
com relação às instituições que prestam serviço público de saúde, como fazia a Casa de 
Repouso Guararapes, o Estado não somente deve regulá-las e fiscalizá-las, mas tem, ademais, 
o especial dever de cuidado com relação às pessoas ali internadas. 
 
No caso julgado, a Casa de Repouso Guararapes funcionava no âmbito do sistema 
público de saúde e o Estado estava obrigado a regulamentá-la e fiscalizá-la, não somente em 
virtude de suas obrigações decorrentes da Convenção Americana, mas também em razão de 
sua normativa interna, conforme se pode inferir do artigo 197 da Constituição, “são de 
relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos 
da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle [...]”; Igualmente, do artigo 200 da 
Constituição ressalta que “ao Sistema Único de Saúde compete […] controlar e fiscalizar 
procedimentos [... e executar as ações de vigilância sanitária [...]”. Por sua vez, o artigo 6° da 
Lei nº 8.080, de 1990, dispõe que “estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema 
Único de Saúde (SUS), inter alia, a execução de ações …tanto de vigilância sanitária, a qual 
se entende por um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e 
de intervir nos problemas sanitários decorrentes […] da prestação de serviços de interesse da 
saúde, bem como o controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse 
para a saúde”. 
 
O Estado tinha conhecimento das condições da Casa de Repouso Guararapes, tanto 
que a violência contra os pacientes já havia sido o contexto da morte de duas pessoas 
internadas no referido hospital. Somado a isto, em 15 de maio de 1996, o Grupo de 
Acompanhamento de Assistência Psiquiátrica do Ministério da Saúde (GAP) havia emitido 
um relatório sobre o resultado da inspeção realizada na Casa de Repouso Guararapes, em que 
se recomendava o fechamento de duas enfermarias do hospital, por falta de condições de 
funcionamento, infiltração e outras irregularidades. 
 
A Corte observa que foi até 21 de outubro de 1999 que os funcionários do 
Departamento de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde e Assistência Social realizaram 
uma inspeção na Casa de Repouso Guararapes para averiguar se o hospital obedecia às 
especificações da normativa pertinente. Ademais, até 4 de novembro de 1999, a Coordenação 
17 
 
de Controle, Avaliação e Auditoria e o Médico Auditor do Sistema Municipal de Auditoria 
visitaram a Casa de Repouso Guararapes. Coincidentemente, os três órgãos concluíram que o 
hospital não cumpria as exigências das normas pertinentes e recomendaram que fossem 
sanadas de imediato as irregularidades. 
 
Apesar de a competência contenciosa da Corte ter sido reconhecida pelo Estado em 10 
de dezembro de 1998, o Tribunal considera que o lapso de 10 meses e 11 dias desta data até 
21 de outubro de 1999, período em que medida alguma foi adotada para melhorar as precárias 
condições de atendimento de saúde na Casa de Repouso Guararapes, não é compatível com o 
dever do Estado de regulamentar o atendimento de saúde prestado às pessoas sob sua 
jurisdição, em razão de que já havia uma situação irregular desde 15 de maio de 1996. 
 
O Estado tem responsabilidade internacional por descumprir, neste caso, seu dever de 
cuidar e de prevenir a vulneração da vida e da integridade pessoal, bem como seu dever de 
regulamentar e fiscalizar oatendimento médico de saúde, os quais constituem deveres 
especiais decorrentes da obrigação de garantir os direitos consagrados nos artigos 4 e 5 da 
Convenção Americana. 
 
Além do dever de cuidar, de regular e fiscalizar o Estado detém ainda o dever de 
investigar. O que significa dizer que a obrigação de garantir os direitos humanos consagrados 
na Convenção não se esgota na existência de uma ordem normativa destinada a tornar 
possível o cumprimento desta obrigação, mas compreende a necessidade de uma conduta 
governamental que assegure a existência, na realidade, de uma eficaz garantia do livre e pleno 
exercício dos direitos humanos. 
 
Nesse sentido, uma dessas condições para garantir efetivamente o direito à vida e à 
integridade pessoal é o cumprimento do dever de investigar as afetações a eles, o que decorre 
do artigo 1.1 da Convenção em conjunto com o direito substantivo que deve ser amparado, 
protegido ou garantido. 
 
Em virtude do acima exposto, o Estado tem o dever de iniciar ex officio e sem demora 
uma investigação séria, imparcial e efetiva, que não se empreenda como uma mera 
formalidade condenada de antemão a ser infrutífera. 
 
18 
 
Esta investigação deve ser realizada por todos os meios legais disponíveis e orientada 
à determinação da verdade e a investigação, ajuizamento e punição de todos os responsáveis 
pelos fatos, especialmente quando estejam ou possam estar implicados agentes estatais. 
 
Para determinar se a obrigação de proteger os direitos à vida e à integridade pessoal 
mediante uma investigação séria do ocorrido foi cumprida cabalmente, é preciso examinar os 
procedimentos abertos internamente, destinados a elucidar os fatos, o que se efetuará 
 
Com base em tais considerações, a Corte a concluiu que, por haver faltado com seus 
deveres de respeito, prevenção e proteção, com relação à morte e os tratos cruéis, desumanos 
e degradantes sofridos pelo senhor Damião Ximenes Lopes, o Estado foi responsabilizado 
pela violação dos direitos à vida e à integridade pessoal consagrados nos artigos 4.1 e 5.1 e 
5.2 da Convenção Americana, em relação com o artigo 1.1 desse mesmo tratado. 
 
Quanto à violação do artigo 5º, da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, a 
Corte entendeu que, embora a alegação era extemporânea, não teria impedimento para 
analisá-la em conformidade com o princípio iuria novit curia. 
 
A Corte entende que familiares das vítimas de violações dos direitos humanos podem 
ser, por sua vez, também vítimas. 
 
O Tribunal considerou violado o direito à integridade psíquica e moral de alguns 
familiares das vítimas em virtude do sofrimento adicional por que passaram, em consequência 
das circunstâncias especiais das violações praticadas contra seus seres queridos e das 
posteriores ações ou omissões das autoridades estatais frente aos fatos. 
 
Analisadas as circunstâncias do caso, com base na Convenção Americana, e à luz do 
princípio iura novit curia, a Corte considerou provado o sofrimento da senhora de Albertina 
Viana Lopes, mãe do senhor Damião Ximenes Lopes, pelo tratamento a ele dado pelo Estado, 
que culminou com sua morte, que somente foi conhecida por aquela primeira, ao chegar à sua 
casa depois de havê-lo deixado no hospital. O que lhe causou grande dor e tristeza. Depois da 
morte do filho sofreu grandes depressões e problemas de saúde. O que guardava relação com 
o depoimento de sua filha, Irene Ximenes Lopes Miranda, na audiência pública perante esta 
Corte, que declarou que sua mãe: 
19 
 
ficou com a vida completamente arruinada” vindo a ser acometida por depressão 
chegando a declarar a vontade de morrer, em vista de ter perdido o gosto pela vida, 
tendo uma gastrite nervosa e em consequência uma úlcera duodenal que [...] foi 
tratada com muita dificuldade 
 
Da mesma forma, a Corte entendeu que o Sr. Francisco Leopoldino Lopes, pai do Sr. 
Damião Ximenes Lopes, também era vítima, por que restou provado o sofrimento e angústia 
do pai da suposta vítima, que, embora estivesse separado da mãe do Sr. Damião Ximenes 
Lopes, não havia rompido os laços familiares com o filho. 
 
O Sr. Francisco Leopoldino Lopes sofreu com o falecimento do filho, que era tão 
jovem quando morreu e viveu por muito tempo com um desejo de vingança, segundo declarou 
a Sra. Irene Ximenes Lopes Miranda perante a Corte. 
 
A irmã do senhor Damião Ximenes Lopes, ademais do sofrimento e tristeza que lhe 
causou a morte do irmão, sofreu sequelas psicológicas, como uma depressão que durou mais 
de três anos, o que afetou suas relações familiares e a fez perder a capacidade de amamentar 
sua filha recém-nascida e abandonar o trabalho. Sofreu e reviveu de maneira constante as 
circunstâncias da morte do irmão, Damião Ximenes Lopes, perante os órgãos judiciais e de 
direitos humanos, uma vez que se dedicou à busca da verdade e da justiça com relação a esses 
acontecimentos, para o que participou ativamente do processo judicial interno e dos trâmites 
seguidos perante a Comissão e perante a Corte. Em virtude disso, separou-se da família por 
longos períodos. 
 
A Corte entendeu que o sofrimento que acometia a irmã da vítima restou provado na 
declaração prestada na audiência pública perante a Corte, quando manifestou que: 
 
no dia do enterro [do] irmão no cemitério [ela] se ajoelhou sobre o caixão dele e 
jur[ou] que [sua] alma não sossega[ria] enquanto não houvesse justiça no caso [de 
Damião Ximenes Lopes], e [faz] seis anos que [ela] busca justiça. 
 
Por fim, a Corte também entendeu que o Sr. Cosme Ximenes Lopes, que também 
esteve internado em instituições psiquiátricas, em razão do vínculo afetivo e da identificação 
que havia entre os dois irmãos pelo fato de serem gêmeos, sofreu com a perda do senhor 
Damião Ximenes Lopes. Logo que recebeu a notícia da morte do irmão, entrou em estado de 
choque, em seguida foi acometido por uma depressão e abandonou o trabalho. 
20 
 
A Corte considerou, assim, que o Estado tinha responsabilidade pela violação do 
direito à integridade pessoal consagrado no artigo 5 da Convenção Americana, em relação 
com o artigo 1.1 do mesmo tratado, em detrimento das Sras. Albertina Viana Lopes e Irene 
Ximenes Lopes Miranda e dos Srs. Francisco Leopoldino Lopes e Cosme Ximenes Lopes. 
 
3.3.2 Da Violação dos artigos 8 e 25 de Convenção Americana em relação com o artigo 1.1 
 
O artigo 8.1, da Convenção Americana, estabelece que: 
 
toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo 
razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido 
anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, 
ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, 
fiscal ou de qualquer outra natureza. […] 
 
O artigo 25, da Convenção dispõe que: 
 
Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso 
efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que 
violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela constituição, pela lei ou pela 
presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que 
estejam atuando no exercício de suas funções oficiais. […] 
 
Com base nos dispositivos retro mencionados, a Corte decidiu por examinar as 
diversas diligências relacionadas com a investigação policial, o processo penal e a ação civil 
de reparação de danos que tramitaram no âmbito interno. 
 
O Tribunal teve de determinar se os procedimentos foram desenvolvidos com respeito 
às garantias judiciais, em um prazo razoável, e se ofereceram um recurso efetivo para 
asseguraros direitos de acesso à justiça, de conhecimento da verdade dos fatos e de reparação 
aos familiares. 
 
É um princípio básico do direito da responsabilidade internacional do Estado, 
amparado no Direito Internacional dos Direitos Humanos, que todo Estado é 
internacionalmente responsável por atos ou omissões de quaisquer de seus poderes ou órgãos 
em violação dos direitos internacionalmente consagrados. 
21 
 
Os artigos 8 e 25 da Convenção consolidam, com referência às ações e omissões dos 
órgãos judiciais internos, o alcance do mencionado princípio de geração de responsabilidade 
pelos atos de qualquer dos órgãos do Estado. 
 
Os Estados têm o dever de investigar as afetações aos direitos à vida e à integridade 
pessoal como condição para garantir esses direitos. No caso, a Corte estabeleceu que o Estado 
pecou em seus deveres de respeito, prevenção e proteção. Isto porque, ao analisar o caso 
concreto à luz das regras do Manual para a Prevenção e Investigação Efetiva de Execuções 
Extrajudiciais, Arbitrárias e Sumárias das Nações Unidas. 
 
Em casos similares, a Corte determinou que o esclarecimento de supostas violações 
por parte de um Estado de suas obrigações internacionais por meio da atuação de seus órgãos 
judiciais poderia levar o Tribunal a examinar os respectivos processos internos. 
 
Da análise do caso, resultou que as Sras. Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes 
Lopes Miranda foram quem iniciou e acompanhou as gestões, e nelas intervieram, para 
averiguar o que havia acontecido com o Sr. Damião Ximenes Lopes. 
 
Apesar da evidência de que se havia praticado violência contra Damião Ximenes 
Lopes, o médico Francisco Ivo de Vasconcelos, da Casa de Repouso Guararapes, que 
examinou a suposta vítima logo após sua morte, diagnosticou a causa da morte como “parada 
cardiorrespiratória”. 
 
Com relação ao mencionado exame, o médico Francisco Ivo de Vasconcelos declarou, 
que o cadáver do paciente “estava no chão, onde fez o primeiro exame para tentar ver a causa 
de sua morte […]”. Declarou, também, em 11 de outubro de 2000, perante a Terceira Vara da 
Comarca de Sobral, que “passou a investigar a possível causa da morte e não percebeu 
nenhum tipo de objeto que pudesse ter asfixiado o paciente, não havia sinais de 
estrangulamento ou traumatismo, não havia tampouco sangramento externo, motivo por que o 
declarante atestou no certificado de óbito ‘parada cardiorrespiratória′. 
 
A Corte considerou que o referido médico Francisco Ivo de Vasconcelos, ao examinar 
o corpo da suposta vítima, não adotou as medidas adequadas, uma vez que, como salientou 
em sua declaração, examinou o cadáver e não informou que o corpo apresentava lesões 
22 
 
externas, que foram descritas posteriormente no laudo da necropsia, embora conhecesse as 
circunstâncias de violência na Casa de Repouso Guararapes, bem como as condições especiais 
da suposta vítima. 
 
Além do erro médico, constatou-se que o médico descartou possíveis causas da morte, 
ignorou a existência de lesões e a necessidade de ter determinado a realização de necropsia, a 
fim de proceder a um estudo exaustivo do cadáver da suposta vítima. 
 
Ante a nebulosidade quanto às circunstâncias que cercaram a morte do senhor 
Ximenes Lopes, seus familiares levaram o corpo para o Instituto Médico Legal da cidade de 
Fortaleza, capital do Estado do Ceará, para a realização da necropsia. 
 
O Instituto Médico Legal realizou a necropsia do senhor Damião Ximenes Lopes, 
concluindo que se tratava de “morte real de causa indeterminada” e deixando registrada a 
existência de diversas lesões, embora não mencionasse como teriam sido provocadas. 
Tampouco descreveu o exame do cérebro da suposta vítima, o que motivou o Ministério 
Público a pedir ao Delegado de Polícia que solicitasse ao Instituto Médico Legal 
esclarecimentos sobre o conteúdo da necropsia referente às lesões nela descritas. Após duas 
reiterações do Delegado de Polícia, o Instituto esclareceu que “as lesões descritas no laudo do 
exame cadavérico foram provocadas por ação de instrumento contundente (ou por 
espancamento ou por tombos)”. 
 
Em 20 de junho de 2001, a Quinta Vara Cível, em que tramita a ação civil de 
reparação de danos, ordenou, como prova pericial, a realização da exumação do cadáver da 
suposta vítima. O relatório conclusivo mencionou novamente que a morte do senhor Ximenes 
Lopes era uma “morte real de causa indeterminada”. A esse respeito, a senhora Lídia Dias 
Costa, na peritagem apresentada na audiência pública perante a Corte, declarou que na 
exumação do cadáver do senhor Damião Ximenes Lopes se pôde constatar que seu cérebro 
havia sido aberto como se faz nas necropsias, mas que não encontrava motivos justificados 
para que isso não fosse expresso ou descrito no laudo da necropsia realizada em 1999. 
Segundo a perita, tratava-se de um procedimento de rotina e não haveria justificativa para não 
examinar o cérebro ou não descrever o que foi examinado. Declarou também que se poderia 
formular um diagnóstico, com base na evolução clínica do paciente, de morte violenta 
23 
 
causada por traumatismo cranioencefálico. O relatório do exame pos-exumático confirma que 
o crânio apresentava uma “craniotomia transversal”, resultado de exame pericial anterior. 
 
A Corte considerou que o protocolo da necropsia realizada ao senhor Damião Ximenes 
Lopes em 4 de outubro de 1999 não cumpriu as diretrizes internacionais reconhecidas para as 
investigações forenses, já que não apresentou, entre outros elementos, uma descrição 
completa das lesões externas e do instrumento que as teria provocado, da abertura e descrição 
das três cavidades corporais (cabeça, tórax e abdômen), referindo-se na conclusão à “causa 
indeterminada” da morte e, por conseguinte, tampouco mencionou o instrumento que as teria 
provocado. 
 
Por sua vez, a Direção Técnico-Científica do Instituto Médico Legal que realizou a 
exumação também concluiu que se tratava “de um caso de morte real de causa 
indeterminada”. 
 
No caso ficou evidenciado que o Instituto de Medicina Legal não realizou as 
investigações nem documentou os achados encontrados no decorrer da necropsia, conforme 
dispõem as normas e práticas forenses internacionais. 
 
Por outro lado, no que se refere à investigação policial sobre a morte do senhor 
Damião Ximenes Lopes, ficou demonstrado que foi iniciada pela Delegacia Regional de 
Sobral em 9 de novembro de 1999, ou seja, somente 36 dias depois do ocorrido na Casa de 
Repouso. Portanto, houve uma falha das autoridades estatais quanto à devida diligência, ao 
não iniciarem imediatamente a investigação dos fatos, o que impediu inclusive a oportuna 
preservação e coleta da prova e a identificação de testemunhas oculares. 
 
Em virtude dessa falta de investigação, os familiares da suposta vítima denunciaram 
perante diversos organismos os fatos relacionados com a morte de Ximenes Lopes e 
reivindicaram justiça no caso. A senhora Albertina Viana Lopes, mãe da suposta vítima, 
recorreu à Coordenação Municipal de Controle e Avaliação da Secretaria de Saúde e 
Assistência Social, e a senhora Irene Ximenes Lopes Miranda, irmã da suposta vítima, 
recorreu à Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado 
do Ceará. 
 
24 
 
Todas as falhas mencionadas demonstraram a negligência das autoridades 
encarregadas de examinar as circunstâncias da morte do senhor Damião Ximenes Lopes e 
constituíram graves faltas do dever de investigar os fatos. 
 
Sob a ótica do processo penal, o artigo 25.1 da Convenção dispõe a obrigação dos 
Estados de garantir a todas as pessoas sob sua jurisdição um recurso judicial efetivocontra 
atos que violem seus direitos fundamentais. 
 
O recurso efetivo do artigo 25 da Convenção deve tramitar-se conforme as normas do 
devido processo estabelecidas no artigo 8 do mesmo tratado, do qual se depreende que as 
vítimas das violações dos direitos humanos, ou seus familiares, devem dispor de amplas 
possibilidades de ser ouvidos e de atuar nos respectivos processos, tanto na tentativa de 
esclarecer os fatos e punir os responsáveis, quanto na busca de uma devida reparação. 
 
Em resposta aos tratamentos cruéis, desumanos e degradantes a que foi submetido o 
senhor Damião Ximenes Lopes, e a sua posterior morte, o primeiro recurso que cabia ao 
Estado ter proporcionado era uma investigação efetiva e um processo judicial realizado de 
acordo com os requisitos do artigo 8 da Convenção, com vistas ao esclarecimento dos fatos, à 
punição dos responsáveis e à concessão de compensação adequada. 
 
O artigo 8.1 da Convenção dispõe, como um dos elementos do devido processo, que 
os tribunais decidam os casos submetidos ao seu conhecimento em prazo razoável. A 
razoabilidade do prazo deve ser apreciada em relação com a duração total do processo penal. 
Em matéria penal este prazo começa quando se apresenta o primeiro ato de procedimento 
contra determinada pessoa como provável responsável por certo delito e termina quando se 
profere sentença definitiva e firme. 
 
Para examinar se neste processo o prazo foi razoável, nos termos do artigo 8.1 da 
Convenção, a Corte levou em consideração três elementos: a) a complexidade do assunto; b) a 
atividade processual do interessado; e c) a conduta das autoridades judiciais. 
 
A Corte considerou que o caso não era complexo, por existir uma única vítima, 
devidamente identificada e que morreu em uma instituição hospitalar, o que possibilitava que 
25 
 
o processo penal contra supostos responsáveis, que estão identificados e localizados, fosse 
simples. 
 
A demora do processo se deveu unicamente à conduta das autoridades judiciais. Em 
27 de março de 2000, o Ministério Público apresentou a denúncia penal contra os supostos 
responsáveis pelos fatos e, transcorridos mais de seis anos do início do processo, ainda não 
havia se proferido sentença de primeira instância. As autoridades competentes se limitaram a 
diligenciar o recebimento de provas testemunhais. Ficou provado ainda que a Terceira Vara 
da Comarca de Sobral demorou mais de dois anos para realizar as audiências destinadas a 
ouvir as declarações de testemunhas e informantes e, em alguns períodos, não realizou 
atividade alguma com vistas à conclusão do processo. 
 
A esse respeito, a Corte estimou que não procedia o argumento do Estado de que o 
atraso se deva, entre outros aspectos, ao grande número de declarações que teve de receber ou 
a ter tido de delegar a outras repartições judiciais o recebimento das declarações de 
testemunhas que não residiam em Sobral, ou ao volume de trabalho da repartição judicial que 
conhece da causa. 
 
O Estado também alegou que o atraso no procedimento penal se deveu a que o 
Ministério Público, em 22 de setembro de 2003, aditou a acusação para incluir outras duas 
pessoas. Neste ponto é importante ressaltar que o Ministério Público é um órgão do Estado, 
motivo por que suas ações e omissões podem comprometer a responsabilidade internacional 
desse mesmo Estado. Esse Ministério tardou mais de três anos para aditar a denúncia para 
incluir os senhores Francisco Ivo de Vasconcelos, Diretor Clínico, e Elias Gomes Coimbra, 
auxiliar de enfermagem, ambos da Casa de Repouso Guararapes, apesar de ter sido o senhor 
Francisco Ivo de Vasconcelos o médico que atendeu o senhor Ximenes Lopes no dia de sua 
morte e o senhor Gomes Coimbra o enfermeiro que havia atendido a suposta vítima no 
decorrer de sua internação. O Centro de Apoio Operacional dos Grupos Socialmente 
Discriminados da Procuradoria-Geral de Justiça, do Ministério Público, em 25 de maio de 
2000, dois meses após o início do processo penal, declarou ao promotor encarregado da causa 
referente à morte do senhor Damião Ximenes Lopes que, de acordo com o acervo probatório 
recolhido para essa finalidade, a denúncia deveria ser aditada, já que isso “constituía uma 
imposição institucional e legal”. A Corte considerou que a referida alegação do Estado não 
era procedente para justificar a demora no procedimento penal. 
26 
 
 
Finalmente, após mais de dois anos do aditamento da acusação, o caso não progrediu 
de maneira significativa. 
 
O Tribunal faz notar que o Estado informou em suas alegações finais que “já está 
concluída neste caso a fase de instrução da ação penal, devendo ser proferida a sentença nos 
primeiros meses de 2006”. No entanto, ficou demonstrado pela prova aportada pelas partes à 
Corte que o processo se encontrava à espera de uma decisão interlocutória sobre o pedido de 
suspensão da apresentação das alegações finais por parte de um dos acusados originalmente e 
não estava pronto para que o juiz proferisse sentença definitiva no caso. 
 
O prazo em que se desenvolveu o procedimento penal no caso não era razoável, uma 
vez que, após mais de seis anos, ou 75 meses de iniciado, ainda não havia se proferido 
sentença de primeira instância e não haviam sido apresentadas razões justas para justificar a 
demora. A Corte entendeu então que este período excedeu em muito aquele a que se refere o 
princípio de prazo razoável consagrado na Convenção Americana e constituiu uma violação 
do devido processo. 
 
 Por outro lado, a falta de conclusão do processo penal teve repercussões particulares 
para os familiares do senhor Damião Ximenes Lopes, já que, na legislação do Estado, a 
reparação civil pelos danos ocasionados por um ato ilícito tipificado penalmente pode estar 
sujeita ao estabelecimento do delito em um processo de natureza criminal. Por este motivo na 
ação civil de reparação de danos tampouco se proferiu sentença de primeira instância, ou seja, 
a falta de justiça na ordem penal impediu que os familiares de Ximenes Lopes, em especial 
sua mãe, obtivessem compensação civil pelos fatos deste caso. 
 
Pelo exposto, a Corte considerou que o Estado não dispôs de um recurso efetivo para 
garantir, em um prazo razoável, o direito de acesso à justiça das senhoras Albertina Viana 
Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda, mãe e irmã, respectivamente, do senhor Damião 
Ximenes Lopes, com plena observância das garantias judiciais. 
 
Diante de tudo isso, a Corte concluiu que o Estado não proporcionou aos familiares de 
Ximenes Lopes um recurso efetivo para garantir o acesso à justiça, a determinação da verdade 
dos fatos, a investigação, identificação, o processo e a punição dos responsáveis e a reparação 
27 
 
das consequências das violações. O Estado foi, por conseguinte, responsabilizado pela 
violação dos direitos às garantias judiciais e à proteção judicial consagrados nos artigos 8.1 e 
25.1 da Convenção Americana, em relação com o artigo 1.1 desse mesmo tratado, em 
detrimento das senhoras Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda. 
 
3.4 Condenação do Brasil 
 
O Brasil foi condenado, por unanimidade a: 1) garantir, em um prazo razoável, que o 
processo interno destinado a investigar e sancionar os responsáveis pelos fatos deste caso 
surta seus devidos efeitos; 2) publicar, no prazo de seis meses, no Diário Oficial e em outro 
jornal de ampla circulação nacional, uma só vez, os fatos provados nesta sentença; 3) 
continuar a desenvolver um programa de formação e capacitação para o pessoal médico, de 
psiquiatria e psicologia, de enfermagem e auxiliares de enfermagem e para todas as pessoas 
vinculadas ao atendimento de saúdemental, em especial sobre os princípios que devem reger 
o trato das pessoas portadoras de deficiência mental, conforme os padrões internacionais 
sobre a matéria; 4) pagar em dinheiro para as Sras. Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes 
Lopes Miranda e para os Srs. Francisco Leopoldino Lopes e Cosme Ximenes Lopes, no prazo 
de um ano, a título de indenização por dano material, a quantia fixada nesta sentença; 5) pagar 
em dinheiro, no prazo de um ano, a título de custas e gastos gerados no âmbito interno e no 
processo internacional perante o sistema interamericano de proteção dos direitos nos, a 
quantia fixada nesta sentença, a qual deverá ser entregue à Sra. Albertina Viana Lopes; 6) 
apresentar relatório a Corte sobre as medidas que adotará para cumprir os dispositivos desta 
sentença. 
 
 A Corte Interamericana de Direitos Humanos concluiu, também, que o Estado 
Brasileiro violou o seu dever genérico de respeitar e garantir os direitos consagrados na 
Convenção Americana. A sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre o 
caso de Damião Ximenes foi a primeira a abordar o tratamento cruel e discriminatório 
dispensado às pessoas portadoras de transtorno mental. 
 
O reconhecimento da situação vulnerável a que estão submetidas estas pessoas pela 
Corte ampliou a jurisprudência internacional e fortaleceu, nacionalmente, o trabalho de 
denúncia das organizações do movimento antimanicomial, no que diz respeito à violação de 
direitos humanos em estabelecimentos psiquiátricos. 
28 
 
 
O cumprimento das sentenças indenizatória e criminal em 17 de agosto de 2007, o 
Estado Brasileiro pagou as indenizações fixadas pela Corte no valor US$ 146.000, 00 (cento e 
quarenta e seis mil dólares). 
 
O juiz da 3ª Vara da Comarca de Sobral, Marcelo Roseno de Oliveira, condenou a seis 
anos de reclusão os seis réus apontados como responsáveis pela morte de Damião Ximenes 
Lopes, ocorrida em 1999, na Casa de Repouso Guararapes, em Sobral. Eles foram condenados 
pelo crime de maus-tratos que resultaram na morte da vítima - artigo 136, § 2º, do CPB: “ainda 
que não tencionassem expor a perigo a vida da vítima, assumiram, por seu comportamento omissivo, na mesma 
proporção, o risco de produzir tal resultado, eximindo-se, em suas respectivas esferas de atuação, de evitar a 
morte de Damião”, afirmou o magistrado em sua sentença proferida. 
 
 De acordo com a decisão, os seis condenados, Sérgio Antunes Ferreira Gomes 
(proprietário da casa de repouso), Carlos Alberto Rodrigues dos Santos (auxiliar de 
enfermagem), André Tavares do Nascimento (auxiliar de enfermagem), Maria Salete Moraes 
Melo de Mesquita (enfermeira-chefe), Francisco Ivo de Vasconcelos (médico plantonista) e 
Elias Gomes Coimbra (auxiliar de enfermagem), devem cumprir a pena inicialmente em 
regime semiaberto. A reparação financeira e a execução de outras obrigações que tenham sido 
fixadas pela Corte podem se cumpridas pelos Estados de forma relativamente simples, 
dependendo unicamente do comprometimento do Estado com a Corte e com os princípios de 
direito internacional. 
 
O fato provocou grande comoção pública e ganhou repercussão no Brasil e em outros 
países. Na época, o Estado foi julgado e condenado pela Corte Interamericana, por violar os 
direitos humanos e não apresentar solução para o caso em tempo hábil. 
 
 A Corte determinou que o país apresentasse informações detalhadas e atualizadas 
sobre a ação. A defesa dos seis condenados entrou com apelação no Tribunal de Justiça do 
Ceará, para reformular a sentença de 1º grau, alegando excesso de prazo na tramitação do 
processo. (Publicado em 10 de dez de 2009). Em 2 de maio de 2008, em procedimento de 
supervisão de sentença, a Corte Interamericana de Direitos Humanos emitiu uma sentença, 
declarando cumpridas as medidas de publicação e de indenização e declarando não cumpridas 
as demais medidas. 
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Não pairam dúvidas que o caso Damião Ximenes Lopes e as consequências que esse 
caso trouxe ao Brasil, foram um grande divisor de águas, tendo em vista que foi a partir do 
caso Damião Ximenes Lopes que houve maior implementação de políticas públicas com o 
intuito de facilitar a comunicação entre usuários dos serviços de saúde mental e seus 
familiares com a finalidade de coibir condutas violadoras dos direitos das pessoas com 
transtornos mentais e, além disso, foi a partir da condenação do Brasil no caso Damião que 
consequências benéficas no cenário jurídico brasileiro começaram a surgir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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4 CONCLUSÃO 
 
 O caso de Damião Ximenes Lopes é muito simbólico não apenas para o Brasil, mas 
para todo o Sistema Interamericano de Defesa dos Direitos Humanos, pois além de ser a 
primeira condenação do país na Corte Interamericana, foi o precursor a analisar o respeito às 
violações de direitos humanos de pessoas com doença mental. 
 
Além disso, com a condenação do Brasil, verificou-se que o sistema interamericano de 
Direitos Humanos se mostrou muito mais eficiente se comparados a outros casos que foram 
submetidos a ele, em que outros Estados também foram réus. 
 
O papel da Comissão e da Corte Interamericana de Direitos Humanos no julgamento 
do caso “Ximenes Lopes” foi de grande importância para a responsabilização do Estado 
Brasileiro pela morte da vítima, bem como pela postura de desrespeito na persecução penal. 
Domesticamente, em análise a todas as circunstâncias que cercavam o caso, sem a utilização 
da jurisdição internacional e a atuação da Comissão e da Corte mencionadas com certeza a 
família da vítima não teria obtido a solução dada por elas. 
 
 Em uma análise ainda mais profunda e objetiva do caso, devido à atuação de 
profissionais incapacitados na condução do tratamento de pessoas com deficiência mental, 
principalmente se considerarmos que estão ligados ao sistema público de saúde do Brasil, 
ficou configurado como o Estado ainda não está preparado para promover em sua amplitude a 
efetivação aos preceitos dos direitos fundamentais do cidadão. 
 
À luz do exposto, conclui-se que, deveras, houve a violação às normas estabelecidas 
pela Convenção Americana e, tendo em vista que o Estado não iniciou uma investigação 
séria, imparcial e efetiva, os autores deste trabalho concordam com a posição da Corte 
Internacional de Direitos Humanos, que entendeu que o Estado Brasileiro não dispôs, com 
plena observância das garantias judiciais, de um recurso efetivo para garantir, em um prazo 
razoável, o direito de acesso à justiça das Sras. Albertina Viana Lopes, mãe do Sr. Damião, e 
Irene Ximenes Lopes Miranda, irmão do Sr. Damião, condenando-o nos termos expostos 
anteriormente.

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