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1 Projeto de Fundações e Contenções Prof. Dr. Carlos Medeiros 2 Sumário 1. Apresentação; 2. Introdução; 3. Segurança e desempenho das fundações; 4. Investigações geotécnicas; 5. Parâmetros Geotécnicos; 6. Fundações; 7. Fundações Superficiais; 8. Fundações Profundas; 9. Estruturas de Contenções; 10. Desafio Prático – Projeto de Contenção | Projeto de Fundações. 3 1. APRESENTAÇÃO 1. Ementa do Curso Investigação Geotécnica; Tipos de fundações superficiais e profundas; Dimensionamento de fundações superficiais e profundas; Comportamento de grupos de estacas; Distribuição de cargas; Projetos geotécnicos de fundações superficiais e profundas; introdução a estruturas de contenção. 2. Objetivos Contextualizar as fundações e estruturas de contenções no ambiente geológico geotécnico; analisar e calcular a capacidade de suporte e previsão de recalques de fundações diretas e profundas, a partir de resultados de ensaios de investigação geotécnica; Análise crítica sobre a técnica e tipo de fundação que melhor se adapta em um específico contexto geotécnico. Elaborar um projeto geotécnico de fundações rasas e um projeto geotécnico de fundações profundas. 2. INTRODUÇÃO A previsão de comportamento e o controle da execução das fundações e contenções na engenharia geotécnica são, muitas vezes, exercidos com 4 parcelas de empirismo e intuição. A essas peculiaridades, somam, com frequência, as incertezas, oriundas da natureza do próprio maciço, e as limitações nos estudos preliminares que servem de suporte à elaboração do projeto. Entretanto, o resultado final, ou seja, o desempenho da fundação, apesar das incertezas das ações, da variabilidade geotécnica e dos modelos adotados, entre outras, e independentemente do critério, do método e da filosofia assumida no projeto e na execução, deve ser satisfatório, objetivo que nem sempre é atingido, Silva (2011) Entende-se como ideal a estrutura de fundação ou de contenção que ofereça o mínimo de risco quanto à segurança e o máximo de economia quanto aos custos. Mas, para satisfazer a este binômio, fazem-se necessários estudos preliminares amplos e consistentes para o entendimento do comportamento geológico-geotécnico do maciço e da sua interação com a fundação e a superestrutura. Nesse contexto, a segurança é atingida apenas se a execução das fundações for contemplada com qualidade e um rígido controle. Hoje, a espacialização das informações geológico- geotécnicas e do controle da execução conjugados a análises por meio de métodos probabilísticos ao longo de todo o processo, do projeto à execução, são elementos essenciais à satisfação do binômio apresentado, segurança e economia. Mitigar o risco, concebendo projetos seguros e econômicos é o maior desafio da engenharia geotécnica, Silva (2011). Portanto, segurança e confiabilidade na engenharia geotécnica deve ser objeto de estudo e atenção, pois apenas a prática corrente do uso do coeficiente de segurança na fase de projeto não garante a análise e a avaliação apropriada dos riscos associados ao projeto e à execução da obra. Geralmente, as análises de segurança na engenharia de geotécnica são realizadas em nível de projeto e são determinísticas, ou seja, teoricamente existe a certeza dos parâmetros envolvidos no dimensionamento e se aceita como exata a metodologia de cálculo adotada. Entretanto, a grande fonte de variabilidade na engenharia de fundação é a formação geológico- geotécnica, sendo o desempenho do sistema solo-fundação fortemente influenciado pela variabilidade estratigráfica ao longo do perfil e no maciço como um todo. Somam-se a estas incertezas, dúvidas quanto aos carregamentos e aos resultados da execução, tais como a qualidade do processo executivo, integridade do elemento estrutural e qualidade da interação entre este e o maciço, Silva (2011). 5 3. SEGURANÇA E DESEMPENHO DAS FUNDAÇÕES Na Engenharia de Fundações, vêm-se procurando técnicas que garantam a avaliação e o bom desempenho das fundações, em relação à resistência e/ou à deformabilidade. Entretanto, a capacidade de suporte é avaliada isoladamente apenas na fase de projeto, geralmente, sem análises de deformabilidade, sendo o controle e a garantia das premissas de projetos, durante a execução, relegados a um segundo plano ou simplesmente ignorados. O controle de qualidade na execução exige ferramentas que identifiquem ou não a necessidade de intervenção durante a execução. Nos estaqueamentos, basicamente, buscam-se garantias de que as premissas de projetos em termos de capacidade de carga e deformabilidade sejam atendidas durante a execução, ou seja, que se defina, no projeto e na execução, entre as várias possibilidades, uma superfície resistente para as cotas de assentamento das bases das estacas que atendam aos requisitos técnicos, econômicos e legais. Em termos mais abrangentes, pode-se dizer que a adoção do controle de qualidade nos estaqueamentos durante a fase de execução trará garantia quanto à conformidade do estaqueamento, Silva (2011). Recentemente, foram incorporados à filosofia de projeto e execução de fundação novos conceitos pela NBR 6122 (ABNT, 2010) - Projeto e Execução de Fundações, que fazem um contraponto à filosofia da margem de segurança representada pelo fator de segurança. Isso reforça a necessidade de que a segurança e a conformidade de uma fundação, que eram única e exclusivamente garantidas pelo fator de segurança fundamentado no determinismo, passem a ser quantificadas também por métodos probabilísticos. Ou seja, reconheceu-se que o exercício da Engenharia de Fundação não é uma ciência exata e que riscos são inerentes a ele, o que permite e incentiva o uso de conceitos probabilísticos. Na NBR 6122 (ABNT, 2010), são apresentados procedimentos para determinar a variabilidade das resistências dos elementos de fundações, levando em consideração o caráter aleatório e a variabilidade presente nos projetos e na execução das fundações, por meio de uma visão sistêmica e probabilística do problema. 6 As fundações, como qualquer outra parte de uma estrutura, devem ser projetadas e executadas de forma a garantir, sob a ação das cargas em serviço, as condições mínimas de segurança, funcionalidade e durabilidade. Uma estrutura é considerada segura quando puder suportar as ações que vierem a solicitá-la durante a sua vida útil sem ser impedida, quer temporária, quer permanentemente, de desempenhar suas funções (Alonso, 1998). Espera-se da Engenharia de Fundações que o projeto, a execução e a interação solo-estrutura, sejam ao mesmo tempo seguros, econômicos e duráveis. Essa expectativa requer conhecimentos de Mecânica dos Solos, Mecânica das Rochas e Geologia de Engenharia, ciências que compõem a Geotecnia, e de Engenharia Estrutural para o dimensionamento do elemento estrutural, ou seja, a engenharia de fundações transita e exige conhecimento de diversas áreas científicas. Atualmente, as técnicas de avaliação do comportamento das fundações no campo, geralmente, estão restritas à verificação do desempenho de fundações por meio de provas de cargas, sejam estas estáticas ou dinâmicas, excetuando-se as estacas cravadas, que são submetidas e uniformizadas através do controle de energia, nega ou repique. Os aspectos aqui apresentados foram descritos e detalhados em Silva (2011),Bezerra (2015), Anjos (2013) e Sales (2017). 3.1. SEGURANÇA NAS FUNDAÇÕES A segurança na engenharia de fundações sofre influência de variados fenômenos, destacandose as várias técnicas de instalação e concretagem, dos carregamentos e das condições de subsolo e dos eventuais erros humanos cometidos na fase de projeto ou de execução. Segundo Silva (2003), os conceitos básicos de segurança em estruturas em geral, abrangem estudos sobre as ações, a vida útil, o estado de desempenho e a segurança propriamente dita, e costumam ter dois aspectos que, algumas vezes, podem ser confundidos: o aspecto qualitativo e o aspecto quantitativo, conceitos que podem ser estendidos à segurança das fundações. O aspecto qualitativo define se uma estrutura possui segurança; o aspecto quantitativo procura quantificar a segurança, ou seja, estabelece um número que serve como medida da segurança existente na estrutura. 7 Uma fundação é segura, do ponto de vista qualitativo, se possuir resistência para suportar as ações previstas que vierem a solicitá-la durante toda a sua vida útil sem apresentar sinais de alerta ou falhas que prejudiquem a sua utilização. Sobre o aspecto quantitativo, seria necessário conhecer a magnitude real das solicitações e qual seria a real capacidade resistiva da fundação, ou seja, o limite entre o sucesso e a falha. Segundo Oliveira (1998), em nenhum projeto estrutural, há conhecimento completo de todas as informações necessárias à sua realização, pois são inúmeras as incertezas e as variações existentes, tanto nas solicitações, quanto na capacidade resistente do sistema. Pode-se citar como exemplo a variabilidade das características resistentes dos materiais, os inevitáveis erros, o não cumprimento das especificações de projeto, as diferenças entre o comportamento real da estrutura e o previsto pelos modelos de análise etc. Neste contexto, podem-se enquadrar os projetos de fundações. A primeira tentativa de solucionar esse problema foi definir margem de segurança, que consiste em adotar valores um pouco distantes dos valores reais de resistência e de solicitação, de forma a considerar as incertezas existentes sobre estes, no intuito de evitar uma possível falha. Portanto, os projetos sempre foram realizados sob condições de incertezas quanto às ações e às resistências e, por isso, o critério básico de qualquer projeto, independente do método ou filosofia adotada, é o de que a capacidade resistente do sistema deve exceder às solicitações com uma margem aceitável de segurança (Silva, 2003). Segundo Meyerhof (1995), a segurança nos projetos pode ser alcançada por três métodos: - Método das Cargas Admissíveis: que consiste na aplicação de um coeficiente de segurança global; - Método dos Estados Limites: baseado na aplicação dos coeficientes parciais de segurança; - Métodos Probabi1ísticos: baseados em análises de Confiabilidade. As incertezas na engenharia não estão limitadas somente à variabilidade das variáveis básicas. Os valores estimados de uma dada variável, como a média, por exemplo, são baseados em dados experimentais e, portanto, não estão livres de erros (especialmente quando os dados são limitados). Os modelos matemáticos ou de simulação (como por exemplo, fórmulas, equações, algoritmos, programas de simulação computacional etc.) e os de laboratório, usados na análise de engenharia, são representações idealizadas da realidade, algumas vezes, representações imperfeitas do universo real. 8 Consequentemente, previsões e/ou cálculos feitos com base nesses modelos podem ser imprecisos e, portanto, também dão margem a incertezas. Geralmente, os projetos geotécnicos, em especial os de fundações, não consideram a variabilidade adequadamente. Nos métodos teóricos, por exemplo, a capacidade de carga é obtida por modelos analíticos, nos quais os parâmetros de resistência do solo são considerados a partir de valores característicos ou minorados por seus respectivos coeficientes de segurança. No entanto, obter o valor característico a partir de uma quantidade reduzida de ensaios de campo e laboratório compromete a representatividade desses parâmetros. Este procedimento é adotado na grande maioria dos projetos de fundações, que são elaborados a partir da utilização de fórmulas empíricas e semiempíricas, baseados no SPT (Standard Penetration Test), raramente são utilizados ensaios mais avançados como CPT (Cone Penetration Test) ou mesmos os geofísicos, os quais dependendo do perfil geotécnico-geológico, podem mitigar as incertezas entre os furos de sondagens, ficando a segurança, geralmente, garantida pela aplicação da margem de segurança ou do fator de segurança, sejam estes globais ou parciais. Bilfinger (2002) alerta que, em projeto de fundações, existe dificuldade em avaliar qual é a sondagem representativa do subsolo, pois diversas são as formas de consideração. Entre essas, podem ser citadas, por exemplo, a divisão da área da obra em subáreas de influência de cada furo de sondagem, a adoção de uma sondagem média, a adoção de uma sondagem ruim como representativa ou ainda a montagem de uma sondagem fictícia baseada em valores médios ou mínimos, entre outros. Salienta-se que a capacidade de carga das fundações, geralmente, é levantada a partir de métodos baseados em ensaios SPT (Standard Penetration Test), CPT (Cone Penetration Test), DMT (Dilatometer Test), PMT (Pressuremeter Test), métodos de natureza empírica ou semiempírica, que correlaciona diretamente a medida obtida nos ensaios com a capacidade da fundação, raramente utilizando a teoria da confiabilidade. Lembra-se de que a segurança também deve ser garantida durante a execução e instalação das fundações, ou seja, as condições pré- estabelecidas em projeto devem ser verificadas. Velloso (1990) assegura que a qualidade de uma fundação nada mais é do que sua adequação ao uso para o qual foi concebida, ou seja, a partir de um controle de qualidade de uma obra de fundações é que se pode avaliar e, consequentemente aprovar, aceitar ou recusar a mesma. O autor salienta, ainda, que a qualidade tem 9 uma função pedagógica, que deve se aplicar a toda empresa, desde a sua direção até o mais subalterno servidor, sendo a ignorância o maior inimigo da qualidade, e a burocracia o maior inimigo da garantia da qualidade. Segundo ele, só se pode controlar aquilo que se pode verificar e só se pode exigir o que se pode controlar. O referido autor enfatiza que, especificamente em fundações, o cumprimento dos formalismos da garantia da qualidade não significa necessariamente que o bom desempenho esteja assegurado, pois um aspecto que diferencia um projeto de estrutura de um projeto de fundações é que, no primeiro caso, as características dos materiais de construção são definidas pelo projetista, enquanto, no segundo, trabalha-se com o maciço, que é um material não fabricado pelo homem. 4. INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA O programa de investigação geotécnica deve ser conduzido pelo engenheiro geotécnico ou projetista, o que nem sempre acontece na prática da engenharia de fundações ou contenções. Segundo Sales (2006), para uma investigação adequada do subsolo, deve-se inicialmente definir um programa com base nos objetivos a serem alcançados. As etapas são: - Investigação preliminar: conhecer as principais características do subsolo; - Investigação complementar ou de projeto: esclarecer feições relevantes do subsolo e caracterizar as propriedades das camadas de solos mais importantes; - Investigação para a fase de execução: visa confirmar as condições de projeto em áreas críticasda obra. A NBR 8036/83 fixa condições exigíveis na programação das sondagens de simples reconhecimento dos solos destinada à elaboração de projetos geotécnicos para construção de edifícios. Esta programação abrange o número, a localização e a profundidade das sondagens. A sondagem deve investigação todas as camadas de solo até o impenetrável a percussão atendo os requisitos da fundação quanto a capacidade de suporte requerida e deformação admissível. Nos últimos trinta anos introduziram-se novos e modernos equipamentos de investigação na prática de engenharia visando ampliar o uso de diferentes tecnologias em diferentes condições do subsolo. O avanço da eletrônica somado a rápida evolução da informática, têm proporcionado equipamentos mais apropriados, menores, mais robustos e mais econômicos. 10 Segundo Mota (2003), a utilização do Cone Elétrico (CPT), Dilatômetro de Marchetti (DMT), Pressiômetro de Ménard (PMT) e Penetrômetro Dinâmico Leve (DPL) no Brasil enriquecem a engenharia geotécnica, uma vez que eles se somam a Sondagem de Simples Reconhecimento a Percussão (SPT), permitindo um tratamento mais refinado aos parâmetros obtidos em investigações de campo, com forte consolidação teórica e rápido tempo de resposta. A versatilidade destes ensaios sobre os ensaios de laboratório conduz ao desenvolvimento de métodos de interpretação de ensaios de campo para a estimativa das propriedades do solo. A importância e qualidade do conhecimento geotécnico por meio das investigações geotécnicas está representado intricadamente na adoção do fator de segurança, Tabela 4.1. 4.1. Sondagem de Simples Reconhecimento e com Torque (SPT e SPT-T) A sondagem de simples reconhecimento (“Standard Penetration Test” – SPT), Figura 4.1, desenvolvida no final da década de 20, é reconhecidamente a mais popular, rotineira e econômica ferramenta de investigação geotécnica, sendo ainda um processo dominante na prática da engenharia geotécnica. Permite uma indicação da compacidade de solos granulares, como também a identificação da consistência de solos coesivos. As vantagens com relação aos demais ensaios são: simplicidade do equipamento, baixo custo, obtenção de valores numéricos de resistência a penetração, retirada de amostras e a identificação da posição do nível d’água (Schnaid, 2000). Apesar da norma Brasileira, NBR 6484/80 (ABNT, 1980), observa-se uma diversidade de procedimentos utilizados para execução dos ensaios e falta de padronização (não há quantificação nem controle da energia utilizada no ensaio). 11 Figura 4.1 – Equipamento SPT A sugestão da medida do torque após a execução dos SPT foi proposta por Ranzini (1988), que sugeriu uma prorrogação no procedimento do ensaio dinâmico, para a obtenção de um valor de atrito lateral, não alterando em nada o procedimento para obtenção do índice de resistência à penetração (N), sendo esta uma das principais características do ensaio SPT-T, a possibilidade de determinar estaticamente, com um baixo custo adicional, a resistência de atrito lateral entre o amostrador e o solo (Figura 4.2). Figura 4.2 Ilustração do torquimetro 12 O ensaio SPT indica a compacidade dos solos granulares (areias e siltes arenosos) e a consistência de solos finos (argilas e siltes argilosos), Tabelas 4.2 e 4.3. Tabela 4.2 – Compacidade dos solos arenosos Tabela 4.3 – Consistência dos solos finos O ensaio SPT pode ser correlacionado com o ensaio CPT (piezocone) que consiste basicamente na cravação, a velocidade constante (2 cm/s), de uma haste com ponta cônica, medindo-se a resistência encontrada na ponta do cone e a resistência por atrito lateral do cone. A Tabela 4.4 apresenta valores correspondem ao SPT e ao cone sem qualquer correlação, ou seja, para as condições de energia usualmente empregadas. Tabela 4.4 – Correlação entre cone e SPT, valores sugeridos de K (Danziger e Velloso, 1995) 13 4.2. Sondagem rotativa ou mista Na ocorrência de rocha ou solos resistentes que precisem ser ser caracterizados, utilizam-se as sondagens rotativas. A melhor indicação da qualidade de uma rocha é o RDQ (Rock Quality Designation), que consiste num cálculo de percentagem de recuperação em que apenas os fragmentos maiores que 10 cm são considerados. A classificação da rocha de acordo com o RDQ está apresentada na Tabela 4.5. Tabela 4.5 Classificação da rocha segundo o RQD 5. Parâmetros Geotécnicos 5.1. Resistência ao cisalhamento dos solos A capacidade de suporte dos solos depende de sua resistência ao cisalhamento. A resistência ao cisalhamento é a máxima tensão cisalhante que pode atuar no solo sem que haja ruptura e foi conceituada por Terzaghi como a tensão cisalhante que ocorre no plano de ruptura no instante da ruptura. Este processo é bem caracterizado, tanto em ensaios de cisalhamento direto, como, por exemplo, nos escorregamentos de taludes e encostas onde se tem uma superfície bem definida. 14 A análise da estabilidade de uma determinada estrutura pode ser realizada seguindo os seguindo a metodologia: 1. Recolher amostra indeformada no campo; 2. Realizar ensaios de laboratório; 3. Determinar os parâmetros que definem o comportamento tensão x deformação e, consequentemente de resistência; 4. Utilizar teorias e metodologias de dimensionamento que fornecem o Fator de segurança. 5.2. Critérios de ruptura A ruptura é um estado de tensões arbitrário, o qual é escolhido na curva tensão x deformação, dependendo do critério de ruptura escolhido. Independente do critério de ruptura. Geralmente, utiliza-se o conceito de Envoltória de ruptura (ou de resistência) que define o lugar geométrico dos estados de tensão na ruptura. Portanto, estados de tensão inferiores aos da envoltória correspondem a situações de estabilidade. A região acima da envoltória corresponde a estados de tensão impossíveis de ocorrer. Critério de Rankine - a ruptura ocorre quando a tensão de tração se iguala à tensão normal máxima (max) observada em ensaio de tração, Figura 5.1. Figura 5.1 – Critério de Rankine Critério de Tresca: a ruptura ocorre quando a tensão de cisalhamento se iguala à tensão de cisalhamento máxima (max) observada em ensaio de tração, Figura 5.2 15 Figura 5.2– Critério de Tresca Critério de Mohr: a ruptura ocorre quando no plano de ruptura a combinação das tensões normais e cisalhantes () é tal que a tensão de cisalhamento é máxima. Esta combinação de tensões, avaliada através do círculo de Mohr, resulta numa em uma Envoltória curva que circunscreve os círculos correspondentes à ruptura. Figura 5.3 - Critério de Mohr Critério de Mohr-Coulomb: este critério é assume que a Envoltória de Mohr é definida por uma linha reta, definida como: É importante observar que para um determinado solo, a Envoltória de Ruptura varia em função do tipo de ensaio: 1. Condições de drenagem; 2. Velocidade de ensaio (argilas); 3. Direção do ensaio (solo anisotropico); 4. Trajetória de tensões; 5. Compacidade da amostra. Observação: O critério de máxima tensão desviadora, ou pico da curva tensão-deformação é um dos mais tradicionais associados com a ruptura de corpos de prova. No entanto, nem sempre a curva tensão-deformação 16 apresenta pico, e outro critério de ruptura deve ser estabelecido. Existem também materiais que se comportam com enrijecimento progressivo (strainhardening) e, não há uma ruptura definida na curva tensão-deformação. O critério de ruptura utilizado para esse caso pode ser o de deformação, que, no entanto, é de difícil aplicação uma vez que o acréscimo de deslocamento conduz a parâmetros de resistência sempre superiores. 5.3. - Ensaios de campo - resistência ao cisalhamento Dentre os ensaios “in situ” mais empregados no Brasil para determinação de parâmetros de resistência ao cisalhamento e de deformabilidade no campo destacam-se: • Ensaio de palheta ou "Vane Shear Test"; • Ensaio de penetração estática do cone (CPT) ou "Deepsoundering"; • Ensaio pressiométrico. Além desses, no caso de fundações são executadas provas de carga que, traduzem, especificamente, as resistências do solo frente às características do elemento estrutural por meio das solicitações (cargas). O ensaio de CPT e “Vane test” têm por objetivo a determinação da resistência ao cisalhamento do solo, enquanto o ensaio pressiométrico visa estabelecer uma espécie de curva de tensão-deformação para o solo investigado. Ensaio de penetração estática do cone – CPT. O ensaio de penetração estática do cone, também conhecido como deepsounding, foi desenvolvido na Holanda com o propósito de simular a cravação de estacas. O ensaio permite medidas contínuas da resistência de ponta e lateral devido à cravação de um penetrômetro no solo, as quais por relações, permitem identificar o tipo de solo, destacando a uniformidade e continuidade das camadas. Permite, também, determinar os parâmetros de resistência ao cisalhamento e, consequentemente, a capacidade de carga dos materiais investigados. Apresenta como desvantagens a não obtenção de amostras para inspeção visual, a não penetração em camadas muito densas e com a presença de pedregulhos e matacões, as quais podem tornar os resultados extremamente variáveis e causar problemas operacionais. Ensaio de Palheta O “Vane test” foi desenvolvido na Suécia, com o objetivo de medir a resistência ao cisalhamento não drenada de solos coesivos moles saturados. O equipamento para realização do ensaio é constituído de uma palheta de 17 aço, formada por quatro aletas finas retangulares, hastes, tubos de revestimentos, mesa, dispositivo de aplicação do momento torçor e acessórios para medida do momento e das deformações. O ensaio consiste em cravar a palheta e em medir o torque necessário para cisalhar o solo, segundo uma superfície cilíndrica de ruptura, que se desenvolve no entorno da palheta, quando se aplica ao aparelho um movimento de rotação. Ensaio pressiométrico Este ensaio é usado para determinação “in situ” o módulo de elasticidade e a resistência ao cisalhamento de solos e rochas, foi desenvolvido na França por Menard. O equipamento destinado a execução do ensaio, chamado pressiométrico, é constituído por três partes: sonda, unidade de controle de medida pressão-volume e tubulações de conexão. A sonda pressiométrica é constituída por uma célula central ou de medida e duas células extremas, chamadas de células guardas, cuja finalidade é estabelecer um campo de tensões radiais em torno da célula de medida. 5.4 Ensaios de laboratório São diversos os tipos de ensaios de laboratório que buscam representar as condições, com fidelidade e exatidão, de solicitações e comportamento dos solos, dentre os principais temos: • Ensaio de Compressão Simples; • Ensaio de Cisalhamento Direto; • Ensaio de Compressão Triaxial. Dependendo da importância da obra e de suas características justifica-se a realização de ensaios com a finalidade específica de obter os parâmetros de resistência ao cisalhamento ( c e ϕ). Ensaio de compressão simples Este ensaio consiste em se ensaiar os corpos de provas em uma prensa aberta em que só se tem condição de aplicar a pressão axial , uma vez que, sendo a prensa aberta não há condição de aplicar pressões laterais, isto é, 0. Tem- se assim um só círculo e =0. Logo só é aplicável a solos puramente coesivos. σ1 σ3 = ϕ Os valores desses ensaios são extremamente limitados na sua 18 interpretação e utilização prática em geotecnia.aplicados para identificar as consistências das argilas. Ensaio de cisalhamento direto O ensaio de cisalhamento direto é o procedimento para a determinação da resistência ao cisalhamento mais utilizado e se baseia diretamente no critério de Mohr-Coulomb. Aplica-se uma tensão normal num plano e verifica-se a tensão cisalhante que provoca a ruptura. Para o ensaio, um corpo de prova do solo é colocado em uma caixa bipartida de cisalhamento, Figura 5.4a. A partir de uma força normal N aplicada sobre a caixa, aplica-se uma segunda força tangencial T na caixa bipartida que contém o corpo de prova, provocando seu deslocamento e medindo-se a força cisalhante suportada pelo solo. As forças T e N, divididas pela área da seção transversal do corpo de prova, indicam as tensões σ e τ que nele estão ocorrendo. A tensão τ pode ser representada em função do deslocamento no sentido do cisalhamento, como se mostra na Figura 5. 4b, onde se identificam a tensão de ruptura, τmax, e a tensão residual, que o corpo de prova ainda sustenta, após ultrapassada a situação de ruptura. O deslocamento vertical durante o ensaio também e registrado, indicando se houve diminuição ou aumento de volume durante o cisalhamento. Realizando-se ensaios com diversas tensões normais, obtém-se a envoltória de resistência, Figura 5.4c. (a) (b) (c) Figura 5.4 – ensaio de cisalhamento direto 19 Ensaio de Compressão Triaxial O ensaio triaxial é o mais versátil para a determinação das propriedades de tensão-deformação e resistência dos solos em laboratório. A Figura 5.5 mostra um esquema do ensaio. Figura 5.5 – ensaio triaxial No ensaio triaxial, o corpo de prova é cilíndrico, com relação altura/diâmetro da ordem de 2. Assim como o ensaio de cisalhamento direto, este é realizado em duas etapas: na primeira aplica-se uma tensão confinante isotrópica (c) e, na fase de cisalhamento, mantém-se constante o valor de c e aumenta- se o valor da tensão axial, 1 através da aplicação da tensão desviadora. Dependendo das condições de drenagem, os ensaios podem ser classificados como: • Ensaio adensado e drenado (CD) a drenagem é mantida aberta em todas as fases. Com isso o ensaio permite que a amostra seja adensada para o nível de tensão efetiva desejado antes do cisalhamento e que a variação volumétrica seja monitorada; • Ensaio adensado e não drenado (CU) a drenagem é mantida fechada apenas durante o cisalhamento. Com isso o ensaio permite que a amostra seja adensada para o nível de tensão efetiva desejado antes do cisalhamento. Quando se mede poropressão na fase de cisalhamento; • Ensaio não adensado e não drenado (UU) a drenagem é mantida fechada em todas as fases do ensaio. Com isso as poropressões são geradas em ambas as fases de consolidação e cisalhamento. Neste 20 caso, pode-se medir as poropressões através de válvulas e transdutores instalados nas saídas de drenagem. 5.5. Correlações semi- empíricas com base nas sondagens tipo SPT (Nspt) Na prática da engenharia de fundação utiliza-se largamente as correlações empíricas baseadas em ensaios do tipo NSPT, sendo a qualidade dos ensaios tipo SPT, na grande maioria dos casos questionável. A fase mais importante na concepção de uma obra civil é a execução de sondagens de reconhecimento do subsolo. Os dados provenientes dos ensaios realizados em campo são imprescindíveis para a definição do sistema de fundação aser adotado para a construção, motivo pelo qual sua boa execução é de suma importância para o sucesso de um empreendimento. A economia na definição de fundação a ser adotada e, sobretudo, a segurança da obra estão diretamente relacionadas à obtenção de informações confiáveis durante os serviços de investigação. O método de investigação mais difundido em nosso país é o de sondagens de simples reconhecimento com ensaio do tipo SPT, sigla para “Standard Penetration Test” (nomenclatura em inglês para Ensaio de Penetração Padrão). A redução de custos durante as investigações do solo é, grande parte das vezes, tida como uma economia direta no custo total da obra. No entanto, ensaios executados em desacordo com as instruções da norma (quantidade de furos insuficiente, paralisação em desacordo com os critérios pré-estabelecidos, ferramentas inadequadas, entre outros) acabam gerando superdimensionamentos ou, algumas vezes, subdimensionamento das fundações por insuficiência de informações ou dados não confiáveis. Pode- se encontrar na literatura técnica algumas correlações com os ensaios tipo SPT. 21 Os parâmetros geotécnicos devem ser minorados por meio de fatores de segurança parciais, a tabela 5.1 apresenta alguns fatores de segurança: 6 – Fundações Inicialmente alguns conceitos adotados na área de Engenharia de Fundações e que são considerados na norma NBR 6122 - Projeto e Execução de Fundações são apresentados: 6.1 - Fundação em Superfície (também chamada Rasa, Direta ou Superficial)- Fundação em que a carga é transmitida ao terreno, predominante pelas pressões distribuídas sob a base da fundação e em que a profundidade de assentamento em relação ao terreno adjacente é inferior a duas vezes a menor dimensão da fundação; compreende as sapatas, os blocos, as sapatas associadas, os “radiers” e as vigas de fundação. • Sapata - Elemento de fundação superficial de concreto armado, dimensionado de modo que as tensões de tração nele produzidas não podem ser resisitidas pelo concreto, de que resulta o emprego de armadura. Pode ter espessura constante ou variável e sua base em planta é normalmente quadrada, retangular ou trapezoidal. • Bloco - Elemento de fundação superficial de concreto, dimensionado de modo que as tensões de tração nele produzidas possam ser resistidas pelo concreto, sem necessidade de armadura. Pode ter as faces 22 verticais, inclinadas ou escalonadas e apresentar planta de seção quadrada ou retangular. • Sapata Associada - Sapata comum a vários pilares, cujos centros, em planta, não estejam situados em um mesmo alinhamento. • “Radier” - Sapata associada que abrange todos os pilares de obras ou carregamento distribuídos (tanques, depósitos, silos, etc.). 6.2 - Fundações Profundas - Aquelas em que o elemento de fundação transmite a carga ao terreno pela base (resistência de ponta), por sua superfície lateral (resistência de atrito do fuste) ou por uma combinação das duas, e está assente em profundidade em relação ao terreno adjacente superior ao dobro de sua menor dimensão em planta. • Estacas - Elemento estrutural esbelto que, colocado ou moldado no solo por cravação ou perfuração, tem a finalidade de transmitir cargas ao solo, seja pela resistência sob sua extremidade inferior (resistência de ponta ou de base), seja pela resistência ao longo de sua superfície lateral (resistência de fuste) ou por uma combinação das duas. • Tubulão - Elemento de fundação profunda, cilíndrico, em que, pelo menos na sua etapa final de escavação, há descida de operário. Pode ser feito a céu aberto ou sob ar comprimido (pneumático), e ter ou não base alargada. Na verdade, a transmissão de carga de um tubulão não segue o conceito literal de Fundação Profunda, por ser desprezado o atrito lateral do fuste. Mesmo assim, é referida como fundação profunda por se tratar de profundidades de apoio como estas. 6.3 - Pressões Admissíveis - Pressão Admissível de uma Fundação Superficial - e a pressão aplicada por uma fundação superficial ao terreno, que provoca apenas recalques que a construção pode suportar sem inconvenientes e que oferece, simultaneamente um coeficiente de segurança satisfatório contra a ruptura ou o escoamento do solo ou do elemento estrutural de fundação (perda de capacidade de carga). - Recalques Diferencial Específico - Diferença entre os recalques absolutos de dois apoios, dividida pela distância entre os apoios. 4 - Viga de Equilíbrio- Elemento estrutural que recebe as cargas de dois pilares (ou pontos de carga) e é dimensionado de modo a transmiti-las centradas às 23 suas fundações. Permite-se no dimensionamento da fundação do pilar, levar em conta um alívio de até 50% do valor calculado. Em nenhum caso levado em conta um alívio total (soma dos alívios devidos a várias vigas de equilíbrio chegando num mesmo pilar) superior a 50% da carga mínima do pilar. A principal diferença entre as fundações superficiais e profundas está no mecanismo de ruptura, na Superficial o mecanismo de ruptura surge na superfície do terreno e na profunda o mecanismo de ruptura não surge na superfície do terreno, Figura 6.1. Figura 6.1 – Mecanismos de ruptura em fundações, Superficial (a) e Profunda (B) 7- Fundações Superficiais A NBR 6122 define e recomenda sobre a elaboração de projeto e a execução de fundações particularmente em superfície. 7.1- Tensão admissível - Devem ser considerados os seguintes fatores na determinação da tensão admissível: a) profundidade da fundação: b) dimensões e forma dos elementos da fundação; c) característica do terreno 24 abaixo do nível da fundação; d) lençol d’água; e) modificação das características do terreno por efeito de alívio de pressões, alteração do teor de umidade de ambos; f) características da obra, em especial a rigidez da estrutura. 7.1.1 - Metodologia para determinação da pressão admissível A pressão admissível pode ser determinada por um dos critérios descritos: • Por meio de teorias desenvolvidas na Mecânica dos Solos: a) uma vez conhecida as características de compressibilidade, resistência ao cisalhamento do solo e outros parâmetros, a sua tensão admissível pode ser determinada por meio de teoria desenvolvida na Mecânica dos Solos, levando em conta eventuais inclinações da carga e do terreno e excentricidades; b) faz-se um cálculo de capacidade de carga à ruptura; a partir desse valor, a tensão admissível é obtida mediante a introdução de um coeficiente de segurança, que deve ser igual ao recomendado pelo autor da teoria; caso não haja essa recomendação, adota-se um coeficiente de segurança compatível com a precisão da teoria e o grau de conhecimento das características do solo, nunca menor que três. A seguir, faz-se uma verificação de recalques para essa pressão, que, se conduzir a valores aceitáveis, será confirmada como admissível; caso contrário, o seu valor deve ser reduzido até que se obtenham recalques aceitáveis. • Por meio de prova de cargas sobre placa, devidamente interpretada. • Por métodos semiempíricos. São chamados de métodos semiempíricos aqueles em que as propriedades dos materiais são estimadas com base em correlações e são usadas em teorias de Mecânica dos Solos, adaptadas para incluir a natureza empírica do método. Quando os métodos semiempíricos são usados, deve-se apresentar justificativas, indicando a origem das correlações (inclusive referências bibliográficas). • Por meios empíricos. São considerados meios empíricos aqueles pelos quaisse chega a uma pressão admissível com base na descrição do terreno (classificação e compacidade ou consistência). Esses métodos apresentam- se usualmente sob a forma de tabelas de pressões admissíveis. 25 No caso de não haver dúvida nas características do solo, conhecidas com segurança, como resultado da experiência ou fruto de sondagens, pode-se considerar como pressões admissíveis sobre o solo as indicadas na tabela 1. Os principais tipos de fundações superficiais são apresentados na Figura 7.1: Figura 7.1 - Tipos de fundações superficiais As diferenças entre blocos e sapatas, basicamente, o Bloco apresenta maior altura e geralmente não é armada, trabalha à compressão, enquanto que a sapata apresenta menor altura quanto comparado a um bloco assente em mesmo tipo de solo e com o mesmo carregamento e é armada a flexo- compressão. Os fatores segurança sugeridos pela NBR 6122 são apresentados na Tabela 7.1. 26 7.2 Capacidade de carga de fundações superficiais Considerando uma sapata retangular, com dimensões B x L, apoiada na superfície do terreno e submetida a uma carga Q, crescente desde zero até à ruptura. Consequentemente, é possível medir durante o carregamento os valores de Q e dos deslocamentos verticais “w” (recalques), curva tensão versus deformação. A tensão aplicada ao solo pela sapata é: σ = Q/B.L 7.3 Mecanismos de Ruptura em Função do tipo do Solo Quanto ao mecanismo de ruptura do solo tem-se; Ruptura generalizada ⇒ brusca, bem caracterizada na curva σ x w (ocorre em solos rígidos, como areias compactas a muito compactas e argilas rijas a duras); Ruptura localizada ⇒ curva mais abatida. Não apresenta nitidez da ruptura. Típica de solos fofos e moles (areias fofas e argilas média e mole); Ruptura por puncionamento ⇒ mecanismo de difícil observação. À medida que Q cresce, o movimento vertical da fundação é acompanhado pela compressão do solo logo abaixo. O solo fora da área carregada não participa do processo. 27 Analisando a Figura 7.1 verificamos: FASE I ⇒ ELÁSTICA: w é proporcional à carga Q, apresenta um comportamento próximo ao linear; FASE II ⇒ PLÁSTICA: w é irreversível, apresenta um comportamento não linear. O deslocamento w é crescente com pequenos acréscimo de carga, às vezes, mesmo sem variar Q; FASE III ⇒ PLÁSTICA: w é irreversível. A velocidade do “w” cresce continuamente ⇒ ruptura. As curvas carga-recalque de solos podem ter diferentes formas. Vésic (1963), apud Velloso e Lopes (2004) distinguiu três tipos de ruptura, conforme apresentado na Figura 7.2 e 7.3 a seguir: Figura 7.1 28 Ruptura generalizada: é caracterizada pela existência de um mecanismo de ruptura bem definida e constituído por uma superfície de deslizamento que vai de uma borda da fundação à superfície do terreno. Em condições de tensão controlada, que é o modo de trabalho da maioria das fundações, a ruptura é brusca e catastrófica. Durante o processo de carregamento, registra-se um levantamento do solo em torno da fundação. Ocorre em solos de boa resistência. Ruptura por puncionamento: é caracterizada por um mecanismo de difícil observação. A medida que cresce a carga, o movimento vertical da fundação é acompanhado pela compressão do solo imediatamente abaixo. A penetração da fundação é possibilitada pelo cisalhamento vertical em torno do perímetro da fundação. O solo fora da área carregada praticamente não participa do processo. Ocorre em areias fofas e argilas moles. Ruptura localizada: é caracterizada por um modelo que é bem definido apenas imediatamente abaixo da fundação. Este modelo consiste de uma cunha e superfícies de deslizamento que se iniciam junto às bordas da fundação, porém não há levantamento do solo em torno. A compressão vertical sob a fundação é significativa. Ocorre em solos intermediários. 29 7.4 Fatores que Afetam o Modo de Ruptura • Propriedades do solo (rigidez/resistência); • Geometria do carregamento (profundidade relativa D/B): se D/B aumenta ⇒ punção; • Estado de tensões iniciais (ko): Se ko aumenta ⇒ ruptura generalizada. 7.2 7.3 30 7.5 Métodos teóricas - Método de TERZAGHI -Karl Terzagui partiu dos estudos de Prandtl (1921) e Reissner (1924) e apresentou a equação tradicional para o cálculo da capacidade de suporte de fundações superficiais. Suas hipóteses são: i) a sapata é corrida, ou seja, L >>> B. Trata-se de um caso bidimensional (no plano); ii) o embutimento da sapata (D) é menor que sua largura (B). Neste caso, é desprezada; a resistência ao cisalhamento do solo acima da cota de apoio da sapata e substituise; a camada pela sobrecarga q = γ.D; 7.4= 31 iii) o maciço de solo sob a base da sapata é compacto ou rijo ⇒ ruptura generalizada. No caso real de uma sapata corrida embutida em um maciço de solo com coesão (c) e ângulo de atrito (φ), a capacidade de carga se compõe de três parcelas, que representa as contribuições: i) da coesão e do atrito de um material sem peso (W)e sem sobrecarga (q); ii) do atrito de um material sem peso e com sobrecarga, (q); Figura 7.4= Figura 7.5= 32 iii) do atrito de um material com peso e sem sobrecarga. Assim, a solução de TERZAGHI, considerando a superposição dos efeitos para ruptura geral é: Os fatores de capacidade de carga Nc, Nq e Nγ são adimensionais e dependem apenas de φ, ábaco da Figura 7.6. Para ruptura localizada, entra-se no ábaco da Figura 7.6 o valor de φ´ e obtêm-se os correspondentes valores de Nc´, Nq´ e Nγ´. Com o valor de φ ou φ´, determina-se no ábaco da Figura 7.6 diretamente os valores dos fatores de capacidade tanto para o caso de ruptura generalizada quanto localizada. Considerando o efeito de forma tem-se: 7.6 33 Método de Vésic: Vésic (1975), apud Velloso e Lopes (2004), é um dos principais autores sobre o tema capacidade de carga de fundações. Partiu de seus estudos a identificação dos tipos de ruptura do solo. Vésic sugere a adoção da equação proposta por Terzagui, sendo que sejam utilizados os fatores de capacidade de carga de Caquot-Kérisel (1953) e fatores de forma da sapata de De Beer (1967). A equação de capacidade é a proposta por Terzagui adotando-se os fatores de forma apresentados nas Tabelas 7.3 e 7.4 Tabela 7.1 Tabela 7.2 34 Presença do Nível de água. Influência do Lençol Freático (NA): ao observarmos as equações de capacidade de suporte do solo para fundações superficiais, vemos que a água, ao submergir o solo, afeta o valor de γ, que está presente em dois termos da equação. Para analisar a influência do NA, podemos ter dois casos (Figura 7.7): - Caso 1: o NA está entre a superfície do terreno e a cota da base da sapata; - Caso 2: o NA está abaixo da cota da base da sapata (dentro da área de influência do carregamento). Tabela 7.3 Tabela 7.4 35 Métodos Semiempíricos Métodos baseados no SPT: Todos os métodos consideram ruptura no modo generalizado, portanto deve-se levar em conta este fato, ao compará-los com resultados teóricos. 36 7.6 Previsão de Recalques Uma fundação ao ser carregada sofre recalques, que se processam, em parte, imediatamente após o carregamento e, em parte, como o decorrer do tempo. Dessa forma, o recalque total (wf) se compõe de duas parcelas: o recalque imediato (wi) e o recalque primáriodevido ao adensamento (wt), oriundo da saída água dos poros (com a consequente redução no índice de vazios). Há ainda uma parcela de recalque denominada de recalque secundário (ws), que se processa linearmente com o logaritmo do tempo, mesmo após da pressão neutra se aproximar de zero, devido a fenômenos viscosos (fluência). Portanto, o recalque total será a soma das referidas parcelas: wf = wi + wc + ws (1) O recalque de adensamento é típico das argilas saturadas sob carregamentos permanentes, o qual resulta de deformações volumétricas (diminuição do índice de vazios). O adensamento se processa com a dissipação das pressões neutras, lentamente com o decorrer do tempo, pois a baixa permeabilidade das argilas dificulta a expulsão da água intersticial. A fórmula teórica de Terzaghi permite o cálculo do recalque final de adensamento, teoricamente em tempo infinito, bem como os procedimentos para cálculo do recalque parcial para qualquer percentual de adensamento, em tempo t. Como regra geral, as sapatas e os tubulões podem ser apoiados 37 em argilas desde que elas sejam argilas sobreadensadas. Todavia, sempre que possível, deve-se limitar a tensão admissível em fundações diretas ao valor da tensão de pré-adensamento. Nas fundações diretas também ocorre uma parcela de recalque proveniente de deformações a volume constante (sem redução do índice de vazios). Ao contrário do adensamento, processa-se em tempo muito curto, quase simultaneamente à aplicação do carregamento, em condições não-drenadas em argilas e condições drenadas em areias. Essa parcela de recalque é chamada de recalque imediato, por razões óbvias. Para o cálculo do recalque imediato utiliza-se a Teoria da Elasticidade porque é razoável a hipótese de comportamento tensão-deformação linear até níveis de tensão inferiores à tensão admissível em fundações diretas. No emprego da Teoria da Elasticidade para cálculo de recalques, é preferível substituir a denominação Módulo de Elasticidade por Módulo de Deformabilidade, conforme sugere Vargas (1978). OBS1.: Devido aos recalques, um edifício pode sofrer movimentos verticais (translação) acompanhados ou não de inclinação (rotação). OBS2.: Se o subsolo fosse homogêneo e todas as sapatas tivessem as mesmas dimensões, os recalques seriam praticamente uniformes. Entretanto, a variabilidade do solo, em termos de compressibilidade, gera recalques desiguais. Além disso, como o tamanho das sapatas de um edifício pode ser diferente por causa das cargas dos pilares não serem as mesmas, surge mais uma fonte de recalques diferenciais. OBS3.: Recalques absolutos elevados, mas de mesma ordem de grandeza em todas as partes da fundação, geralmente podem ser aceitáveis. De fato, os recalques desiguais (diferenciais) é que preocupam. Como há muita confusão entre elasticidade e linearidade, é importante entender que um material pode ser elástico-linear, elástico não-linear e linear não-elástico, como mostra a Figura 7.8, mediante a comparação das curvas de carregamento e de descarregamento. 38 7.7 MÉTODOS PARA PREVISÃO DE RECALQUES DE FUNDAÇÕES DIRETAS a) Teóricos ou Racionais Os parâmetros de deformabilidade, obtidos em ensaios de laboratório ou de campo, são combinados a modelos para previsão dos recalques teoricamente exatos. b) Semi-Empíricos Os parâmetros de deformabilidade, obtidos por meio de correlações empíricas a partir de ensaios in situ, de natureza estática (Cone e Pressiômetro) e dinâmica (SPT), são combinados a modelos de previsão de recalques teoricamente exatos ou adaptações deles. c) Empíricos (Tabelados) Consiste no emprego de tabelas de valores típicos de tensões admissíveis com base na descrição do terreno de fundação (classificação e determinação da compacidade ou consistência por meio de investigações geotécnicas). Os recalques associados às tensões admissíveis indicadas são usualmente aceitos em estruturas convencionais. Na NBR 6122 (1996) os recalques admissíveis de fundações superficiais são da ordem de 25mm, considerando que o embutimento da fundação em solos granulares é D ≤ 1m. d) Provas de Carga Sobre Placa Métodos que utilizam os resultados do ensaio de prova de carga sobre placa, interpretando-os de modo a levar em conta as relações de comportamento entre a placa e a fundação real, bem como as características das camadas de solo influenciadas pela placa e pela fundação. Figura 7.8 39 Equações dos Métodos Teóricos Os cálculos podem ser de duas espécies: i) Cálculos diretos: o recalque é fornecido diretamente pela solução empregada. Exemplos: Teoria da Elasticidade e Métodos Numéricos; ii) Cálculos indiretos: o recalque é obtido à parte, com as deformações específicas integradas posteriormente. Exemplo: cálculo de recalques por camadas. Métodos diretos para estimativa de recalque imediato Equação baseada na Teoria da Elasticidade O recalque de uma sapata, com carga centrada, apoiada sobre argilas pré adensadas, pode ser estimado por uma equação oriunda da Teoria da Elasticidade: onde, q = tensão aplicada B = menor dimensão da fundação ν = coeficiente de Poisson E = módulo de elasticidade Is = fator de forma Id = fator de profundidade Ih = fator de espessura da camada compressível. Para carregamento aplicado na superfície de um meio de espessura infinita, Id = Ih = 1. O valor de Is pode ser obtido da Tabela 7.5. Sugere-se desprezar o fator Id, adotando-o igual a 1. Para uma sapata de concreto armado ser considerada rígida, é preciso que a altura de sua base, h, seja no mínimo igual 0,25 (B-b), conforme ilustrado na Figura 7.9, ou seja: 40 Tabela 7.5 – Fatores de forma (Is) para carregamentos na superfície de um meio de espessura infinita (Perloff, 1975). Valores de Is.Ih estão propostos na Tabela 7.6. Tabela 7.6 – Valores de Is.Ih para carregamentos atuando na superfície (Id =1) de um meio de espessura finita (Egorov, 1958; Harr, 1966). 41 Recalques imediatos em argilas Camada semi-infinita: Considere uma sapata de largura ou diâmetro B, apoiada numa camada argilosa semiinfinita, homogênea, com módulo de deformabilidade (Es) constante com a profundidade (caso típico de argilas pré-adensadas). Sendo σ a tensão média transmitida pela base da sapata à superfície superior da camada de argila, o recalque imediato é dado pela equação abaixo, oriunda da Teoria da Elasticidade: ρi = recalque imediato em argila B = largura menor da base da sapata σsap = tensão aplicada na base da sapata Iρ = fator de influência, que depende da rigidez e forma da sapata (Tabela 4.9) υ = coeficiente de Poisson do solo (Tabela 4.10) Es = módulo de deformabilidade do solo Tabela 7.7 – Fator de influência Ir (CINTRA, AOKI & ALBIERO, 2003). 42 Tabela 7.8 – Coeficiente de Poisson do solo (TEIXEIRA & GOGOY, 1996). Para determinação do módulo de deformabilidade do solo (Es), quando não se dispõem de ensaios de laboratório nem prova de carga, pode-se utilizar correlações com a resistência de ponta do cone (qc) ou a resistência à penetração da sondagem SPT (Nspt). Tabela 7.9 – Coeficiente (TEIXEIRA & GOGOY, 1996). solo areia 3 silte 5 argila 7 Tabela 7,10 – Coeficiente K (TEIXEIRA & GOGOY, 1996).43 Camada finita: Em muitos casos, a camada argilosa deformável é de espessura finita, sobreposta a um material que pode ser considerado rígido ou indeformável. Esse problema foi resolvido por Jambu (1956. Método de Janbu Como o método anterior, baseado na Teoria da Elasticidade, considera que a camada de solo abaixo da fundação tem espessura semi-infinita, o que nem sempre acontece, Janbu (1966) propôs um cálculo alternativo de recalque imediato considerando a espessura finita da camada. em que µ0 e µ1 são fatores dependentes do embutimento da fundação, da espessura da camada e da forma da fundação, conforme mostrado na Figura 7.10. em que µ0 e µ1 são fatores dependentes do embutimento da fundação, da espessura da camada e da forma da fundação, conforme mostrado na Figura 7.10. 44 Figura 7.10 – Fatores µ0 e µ1 para o cálculo de recalque imediato de sapata em camada argilosa fina (Janbu et al., 1956, apud Simons & Menziens, 1981). Métodos Semi-Empíricos O termo semi-empírico se deve à introdução de correlações matemáticas com respaldo estatístico para a definição de propriedades dos solos. As correlações permitem a estimativa de propriedades de deformação por meio de ensaios outros, não especificamente aqueles que visam obter o comportamento tensão – deformação dos solos (triaxial, edométrico, ensaio de placas, pressiômetro, etc.). Estes outros ensaios seriam o Cone de Penetração (CPT) e o ensaio de penetração padrão (SPT). Como são obtidas as correlações? i) a partir de resultados de ensaio de penetração; ii) ii) a partir de propriedades obtidas de ensaios do tipo tensão- deformação executados com amostras retiradas do local do ensaio de penetração; 45 iii) iii) das propriedades de deformação obtidas através de retroanálises de medições de recalques de fundações; Método de Terzaghi & Peck (1948; 1967) OBS.: Se o nível d´água estiver superfície, sugere-se reduzir em 50% o valor da σadm. Peck et al. (1974) propuseram ábacos para a estimativa da σadm para um recalque admissível de 1 polegada, em função de B, D e do valor de Nmédio, conforme apresentado na Figura 7.11. Figura 7.11 – Ábacos para obtenção da σadm de sapatas em areia (Peck et al. 1974). Método de Burland & Burbidge (1985) O recalque de fundações superficiais em areias é obtido pela expressão: em que w = recalque previsto, em mm q = tensão aplicada pela fundação, em kgf/cm2 fs = fator de forma fl = fator de espessura de camada compressível (H) NSPT = resistência à penetração média na profundidade Z1, obtido da Figura 7.12 Com os fatores fs e fl dados por: 46 Estimativa dos parâmetros do solo a partir do SPT e CPT Para avaliar a magnitude dos recalques é necessário estimar o módulo de deformação elástica e o coeficiente de Poisson. Para tanto, é necessário realizar ensaios com condição controlada de tensões e deformações, o que só é possível nos ensaios de laboratório em amostras indeformadas (ensaios triaixiais, por exemplo). Na prática, pela dificuldade de se realizar campanhas de ensaios de laboratório com quantidade e abrangência que permitam a utilização de formulações racionais, esses parâmetros acabam sendo estimados a partir de ensaios de campo, o que resulta em um método semiempíricos de previsão de recalques. Serão apresentadas correlações entre o módulo de elasticidade e os ensaios SPT e CPT, uma vez que esses ensaios são mais 47 populares e, na prática de engenharia, os únicos a serem utilizados em projetos correntes de fundações. A correlação mais empregada para previsão de recalques é a sugerida por Teixeira e Godoy (1996). Es=qc .................a partir do ensaio CPT Es= K. Nspt ..........a partir do ensaio SPT Os valores de , K e do coeficiente de Poisson (ν) podem ser estimados pela Tabela 7.11 a seguir. Tabela 7.11 - Fatores de correlação para determinação do módulo de deformação e coeficiente de poisson (Teixeira e Godoy, 1996 com modificações retiradas de Cintra et al, 2003). Outra expressão muito empregada para a avaliação do módulo de deformação elástica é proposta por Sandroni (1991). A correlação de Sandroni está fundamentada em uma série de provas de cargas em solos residuais: Es=0,6.(Nspt)1,4 (MPa) 8. Fundações Profundas são aquelas cujo mecanismo de ruptura de base não atinge a superfície do terreno. São consideras fundações profundas aquelas cujas bases estão implantada a mais de duas vezes sua menor dimensão, e a pelo menos 3 m de profundidade, projetada para transmitir a carga ao terreno pela base (resistência de ponta), pelo fuste (resistência de atrito lateral) ou por uma 48 combinação das duas. As fundações profundas dividem-se em três categorias: estacas, tubulões e caixões. 8.1. Classificação das Fundações Profundas i) Estaca: elemento estrutural de fundação profunda, esbelto, que colocado no solo por processo de cravação, prensagem, vibração ou por escavação, ou de forma mista (dois ou mais processos), têm a finalidade de transmitir cargas ao mesmo, seja pela resistência sob sua extremidade inferior (ponta), seja pela superfície lateral ao longo do fuste (atrito/adesão lateral). ii) Tubulão: elemento de fundação profunda de forma cilíndrica, em que, pelo menos na sua fase final de execução, há a descida de operário. iii) Caixão: elemento de fundação profunda de forma prismática, concretado na superfície e instalado por escavação interna. As Figuras 8.1 e 8.2 mostram os principais tipos de fundações profundas: Figura 8.1: (a) estaca metálicas; (b) pré-moldadas de concreto vibrado; (c) pré-moldada de concreto cnetrifugado; (d) tipo Franki e Strauss; (e) tipo raiz; (f) escavadas; (g) tubulão a céu aberto, sem revestimento; (h) tubulão, com revestimento de concreto e (i) tubulão, com revestimento de aço. Fundação Mista É aquela formada pela conjugação do elemento estrutural de uma fundação superficial e o de uma fundação profunda. São exemplos desse tipo de 49 fundação as estacas T, as estapatas, o radier sobre estacas e o radier sobre tubulões, Figura 8.2. Figura 8.2 – Estacas mistas: a) estaca associada à sapata (estaca T); b) estaca abaixo de sapata (estapata); c) radier sobre estacas; d) radier sobre tubulões. Classificação das Estacas 1-As estacas podem ser classificadas de acordo com o material empregado: (i) Madeira; (ii) Aço; (iii) Concreto; (iv) Mistas. 2-As estacas também poder ser classificada de acordo com o método executivo. As estacas podem ser instaladas no solo empregando-se os seguintes processos: (i) Cravação Percussão (método mais comum), Prensagem (comum em reforço de fundações) e Aparafusamento (de pouco uso no Brasil); (ii) Escavação não suportada (sem escoramento), Suportada por lama bentonítica e Suportada por encamisamento; (iii) Misto parcialmente escavado e parcialmente cravado. Terzaghi & Peck (1967) apresentaram o clássico agrupamento das estacas em três categorias: i) Estacas de atrito em solos granulares muito permeáveis: indicadas para solos granulares muito permeáveis, onde a maior parcela da carga transferida ao solo se dá pelo atrito lateral. Pelo fato de sua instalação ser feita por cravação, muito próximas umas das outras, reduzindo a porosidade e a 50 compressibilidade do solo, elas são usualmente chamadasde estacas de compactação. ii) Estacas de atrito em solos finos de baixa permeabilidade: semelhante ao caso (i), a transferência de carga se dá pelo atrito lateral, todavia, o seu processo executivo não provoca a compactação do solo. São chamadas estacas flutuantes. iii) Estacas de ponta: são aquelas que transferem a carga a uma camada de solo resistente (camada suporte) situada a uma profundidade considerável abaixo da base da estrutura. Neste caso, a parcela do atrito ao longo do fuste tende a zero. 8.2. Carga Admissível das estacas Segundo Aoki (2000), a carga admissível de um estaqueamento (grupo de elementos isolados de fundação em estacas) é fixada por cada profissional que se julgue especialista neste tipo de fundação. O valor numérico por ele fixado decorre de sua experiência pessoal com aquele tipo específico de fundação naquela formação geológica, quando executado com o equipamento daquela firma especializada. Neste contexto fundação é uma arte e as decisões de engenharia dependerão da sensibilidade e experiência do artista. Neste caso, entende-se por experiência profissional o fato de ter projetado um estaqueamento para um determinado valor de carga admissível e ter tomado conhecimento posterior do seu comportamento sob ação deste tipo de carga em prova de carga estática. Se o comportamento foi satisfatório há tendência em se consolidar o valor adotado e até de aumentá-lo à medida que a experiência se acumula sempre com bons resultados. Se o comportamento foi deficiente a tendência é contrária. A experiência confere uma medida à confiabilidade de um determinado tipo de fundação e é um fator subjetivo”. Uma vez satisfeita sua capacidade estrutural, um sistema estaca-solo submetido a uma carga vertical resistirá a essa solicitação parcialmente pela resistência ao cisalhamento gerada ao longo de seu fuste e parcialmente pelas tensões normais geradas ao nível de sua ponta. Portanto, podemos definir como capacidade de carga de um sistema estaca-solo (Qr) a carga que provoca a ruptura do conjunto formado pelo solo e a estaca. Essa carga de ruptura pode ser avaliada através dos métodos estáticos, dinâmicos e das provas de carga. Por sua vez, os métodos estáticos se dividem em: 51 i) métodos racionais ou teóricos: utilizam soluções teóricas de capacidade de carga e parâmetros do solo; ii) métodos semi-empíricos: se baseiam em ensaios in situ de penetração, como por exemplo, o SPT e o CPT. Poderia se falar ainda dos métodos empíricos, a partir dos quais se pode também estimar, grosseiramente, a capacidade de carga de uma estaca ou tubulão com base apenas na descrição das camadas atravessadas. Conceituação Básica da Capacidade de Carga de Estacas Isoladas Nos métodos estáticos, parte-se do equilíbrio entre a carga aplicada mais o peso próprio da estaca ou tubulão e a resistência oferecida pelo solo. O equilíbrio é expresso com a seguinte equação: Qr + W = Qp + Ql (1) em que Qr = capacidade de carga total da estaca; W = peso próprio da estaca; Qp = capacidade de carga de ponta (de base); Ql = capacidade de carga do fuste (atrito/adesão lateral); Na maioria absoluta dos casos, o peso próprio é desprezível em virtude da sua pouca representação em relação às cargas atuantes sobre a estaca, de tal forma que a Equação 1 pode ser reescrita introduzindo-se as resistências unitárias (qs e ql). Designando-se por qs e qp, as tensões limites de cisalhamento ao longo do fuste e normal ao nível da base e As e Ap, respectivamente a área lateral da estaca e da seção transversal de sua ponta, tem-se: Qr=Ql + Qp=As.qs + Ap.qp A ruptura aqui considerada é a convencional, ou seja, a carga correspondente a um deslocamento do topo de estaca de 10% de seu diâmetro para argilas e de 30% de seu diâmetro para solos granulares. 8.3. Métodos de Previsão de Capacidade de Carga de Estacas Fórmulas Teóricas (Racionais) para Resistência de Ponta Segundo Velloso e Lopes (2002), as primeiras fórmulas teóricas foram desenvolvidas no início do século XIX. Serão apresentadas inicialmente as 52 formulações para resistência de ponta, que se baseiam na Teoria da Plasticidade e, em seguida, são desenvolvidas as teorias usadas para cálculo da resistência de atrito lateral. i) Solução de Terzaghi É a mesma teoria desenvolvida para a capacidade de carga de fundações superficiais. Neste caso, a ruptura do solo abaixo da ponta da estaca, não pode ocorrer sem deslocamento de solo para baixo e para cima, conforme mostrado na Figura 8.3. Figura 8.3 - Configurações da ruptura para fundações profundas: (a) Terzaghi; (b) Meyerhof. Se ao longo do comprimento L da estaca o solo é bem mais compressível que o existente abaixo da base, as tensões cisalhantes (τl) provocadas ao longo do fuste pelos deslocamentos são desprezíveis. 189 Assim, a influência do solo que envolve a esta é semelhante à de uma sobrecarga (q = .L), e a resistência de ponta será calculada por uma das fórmulas usadas em fundações superficiais: para estacas de base circular e diâmetro B, ou 53 para estacas de base quadrada, de lado B. Em argilas homogêneas, em condição não drenada (φ = 0°), a resistência de ponta se torna praticamente constante para valores de L/D acima de 4, podendo ser admitida iguala 9Su, portanto, independente das dimensões da estaca, como sugere Skempton (1951). Na Tabela 7.2 são apresentados os valores dos fatores de capacidade de carga Nc, Nq e Nγ, para o caso de ruptura geral, e N´c, N´q e N´γ, para o caso de ruptura localizada. Tabela 8.1 – Fatores de capacidade de carga propostos por Bowles (1968). ii) Solução de Meyerhof É análoga à solução de Terzaghi, tendo a seguinte diferença: enquanto na solução de Terzaghi o solo situado acima do nível da base da fundação é substituído por uma sobrecarga frouxa, L, onde as linhas de ruptura são interrompidas no plano BD, na solução de Meyerhof essas linhas de ruptura são levadas ao maciço situado acima de tal plano, conforme mostrado na Figura 8.3b. Meyerhof (1953) propôs um procedimento relativamente simples para o cálculo da capacidade de carga de estacas, sendo a resistência de ponta obtida de: 54 em que KS = coeficiente de empuxo do solo contra o fuste na zona de ruptura próxima à ponta e, Nc Nq e Nγ = fatores de capacidade de carga, que dependem de φ e da relação L/B. Os valores de KS, empuxo do terreno contra o fuste, na vizinhança da ponta de uma estaca cravada situam-se em torno de 0,5 (areias fofas) e 1,0 (areias compactas), conforme resultados obtidos de ensaios de laboratório e de campo (Velloso e Lopes, 2002). No caso de fundações profundas, o valor da relação L/B é muito grande. Por essa razão, despreza-se a última parcela da Equação de Meyerhof, ficando: onde os fatores Nc e Nq são obtidos dos ábacos da Figura 8.4, para o caso de estacas de seção circular ou quadrada e para valores comuns de φ´. Capacidade de carga de estacas em solos argilosos: como neste caso, φ = 0, a Equação é reescrita: 55 Figura 8.4 – Fatores de capacidade de carga propostos por Meyerhof (1953). Fórmulas Teóricas (Racionais) para a Resistência de Atrito Lateral A segunda parcela da capacidade de carga de uma estaca é a resistência de atrito lateral, conforme foi mostrado nas Equações 2 e 3. O tratamento teóricoaplicado ao atrito lateral unitário (ql) é análogo ao usado para analisar a resistência ao deslizamento de um sólido em contato com o solo. Dessa forma, seu valor é, usualmente, considerado como a soma de duas parcelas: em que ca é a aderência entre a estaca e o solo, σ´h é a tensão horizontal média atuando na superfície lateral da estaca na ruptura e δ é o ângulo de atrito entre a estaca e o solo. Os valores de ca e δ podem, em determinados casos, serem determinados através de ensaios de laboratório, executando-se ensaios de resistência ao cisalhamento na interface entre o material da estaca e o solo, porém, esse processo está sujeito a limitações (p. ex., o nível de tensão horizontal na superfície de contato). Por isso, ql,rup é comum e preferencialmente estimado com base em dados empíricos oriundos de observações de campo. Outro aspecto importante lembrado por Velloso e Lopes (2002) é fato comprovado: “medições em estacas instrumentadas cravadas em solos granulares parecem mostrar que o atrito lateral não cresce 56 com a profundidade abaixo de certa profundidade, denominada crítica, assumindo daí para baixo um valor constante”. a) Fórmula de Terzaghi: Terzaghi (1943) apresenta a parcela de resistência correspondendo ao efeito de profundidade da seguinte forma: LNg , onde seria o peso específico majorado, obtido com o seguinte raciocínio: na ruptura, a área anelar BD, da Figura 8.3a, tende a subir, o que faz surgir uma força resistente dada por: A maior limitação do uso da proposta de Terzagui refere-se às incertezas sobre o valor de τ, pois as tensões de cisalhamento ao longo da superfície DE, na Figura 8.3a, são muito dependentes da compressibilidade do solo. Sendo o solo pouco compressível (areias compactas), as tensões cisalhantes na região DE são muito significativas. Em contrapartida, no caso de solos fofos (areia fofa muito compressível), essas tensões cisalhantes ao longo de DE são inexpressivas, visto que o movimento necessário a uma penetração da fundação para baixo pode ser produzido por uma compressão lateral da areia localizada abaixo de BD e a tendência para levantar areia acima da base da estaca é, certamente, insignificante. Portanto, quando se escolhe um valor de para a Equação, deve-se supor uma mobilização incompleta da resistência ao cisalhamento do solo ao longo da superfície cilíndrica DE. Em todo caso, a compressibilidade do solo deve ser levada em consideração pelo fato dela influenciar decisivamente na capacidade de carga da fundação. 57 b) Fórmula de Meyerhof: Tendo como base a Equação de Terzaqui, Meyerhof propõe as seguintes expressões para cálculo do atrito lateral unitário de estacas: para solos granulares (ca = 0), sendo δ o ângulo de atrito solo-estaca e Ksmed o coeficiente de empuxo médio ao longo de todo o fuste. O atrito lateral unitário da estaca, será dado por: O valor médio de Ks, ksmed, pode ser determinado a partir de ensaios de penetração estática, analisandose os valores da resistência lateral; KS seria obtido no trecho inferior (2B a 4B) da haste de ensaio e ksmed obtida a partir da média dos Ks obtidos em diferentes profundidades. Na Tabela 7.5, de Broms (1966), são apresentados valores de Ks para fins de estimativas do atrito lateral unitário. Para δ sugere-se os seguintes valores (Velloso e Lopes, 2002 ): Observações: i) se a ponta da estaca estiver apoiada numa profundidade L´, abaixo do lençol freático, a capacidade de carga total da estaca (Qr) deverá ser reduzida pela aplicação do seguinte coeficiente multiplicador: em que γ´é o peso específico do solo submerso. ii) para solos argilosos (φ = 0), Meyerhof propõe a seguinte expressão para a aderência lateral: 58 em que ca é a coesão do solo, que depende do processo executivo da estaca e da sensibilidade da argila. iii) Para uma estaca cravada em uma argila pouco sensível, pode-se adotar ca = Su (resistência ao cisalhamento não drenada), com limite superior aproximado da ordem de 100 kPa. O fato da resistência lateral crescer e atingir um valor máximo da resistência não drenada da argila, levou os pesquisadores a comparar estas duas resistências por uma expressão do tipo: em que é um coeficiente que pode variar de 0,2 a 1,25, de acordo com o tipo de estaca e o tipo solo, conforme mostrado na Figura 8.5. Figura 8.5 – Valores do coeficiente de adesão α para atrito lateral de estacas. Fórmulas Semi-Empíricas que Empregam o SPT Os métodos teóricos e experimentais e os ensaios de laboratório são imprescindíveis para estabelecer a influência relativa de todos os parâmetros envolvidos nos cálculos de capacidade de carga. Todavia, a utilização dos métodos teóricos na prática da engenharia de fundações é, extremamente restrita, uma vez que a maioria dos parâmetros do solo necessários a essas análises é, muitas vezes, de difícil determinação. Em contrapartida, correlações entre tensões correspondentes a estados-limites de ruptura e 59 dados de resistências à penetração obtidos de ensaios “in situ”, são simples e fáceis de serem estabelecidas. As fórmulas semi-empíricas são oriundas de ajustes estatísticos feitos com equações de correlação que têm embutido em sua essência os princípios definidos nos métodos teóricos e/ou experimentais. No Brasil, dos métodos utilizados para o dimensionamento de fundações em estacas, dois são reconhecidamente os mais empregados: o método de Aoki e Velloso (1975) e o de Décourt e Quaresma (1978). Há ainda métodos desenvolvidos para tipos específicos de estacas, a exemplo do de Velloso (1981) e o de Cabral (1986), este último empregado exclusivamente para estaca-raiz. Método de Aoki e Velloso (1975) Esse método foi desenvolvido a partir de um estudo comparativo entre resultados de provas de carga em estacas e de SPT, mas pode ser utilizado também com dados do ensaio de penetração do cone (CPT). A expressão da capacidade de carga foi concebida relacionando-se a resistência de ponta e o atrito lateral da estaca à resistência de ponta (qc) do CPT. Para levar em conta as diferenças de comportamento entre a estaca (protótipo) e o cone (modelo), os autores propuseram a introdução dos coeficientes F1 e F2, ou seja: Onde: F1 = 1,75 e F2 = 3,50 Tabela 8.4 – Valores dos coeficientes K e α. 60 Método de Décourt e Quaresma (1978) Os autores apresentaram uma proposta para estimativa da capacidade de carga de estaca com base nos valores do N do SPT. O método foi originalmente desenvolvido para estacas de deslocamento, mas, a exemplo do método de Aoki e Velloso, tem passado por modificações para contemplar outros tipos de estacas. O método de Décourt e Quaresma tanto usa dados do SPT quanto do SPT-T. Desse último, se pode obter o Neq (N equivalente), que segundo Décourt (1991), é o valor do Torque, em kgf.m, divido por 1,2, conforme a Equação 37. O Neq assim calculado corresponde a um valor do N do SPT obtido sob um nível de eficiência da ordem de 72%. Entenda-se como eficiência (η), o valor da energia efetivamente usada para cravar o amostrador no solo dividida pela energia potencial do martelo (de 65 kgf) no instante em que o mesmo é erguido até uma altura igual a 0,75 m. Onde: Np = Nspt na ponta da estaca; Ns = Nspt médio da camada ao longo do fuste da estaca Tabela 8.5 – Valores do coeficiente K. 61 Método de Philipponnat O método de Philipponnat, também chamado de Método dos Franceses, se baseia em
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