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Fundamentos da psicoterapia humanista fenomenológica MOREIRA

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CAPíTULO 2
FUNDAMENTOS DA PSICOTERAPIA
HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA*
o que chamamos atualmente de psicoterapia humanista-
fenomenológica é um desenvolvimento contemporâneo originado da
interseção de duas principais vertentes: 1) O pensamento humanista
em psicologia, que surgiu nos Estados Unidos na primeira metade do
século XX com pensadores como Carl Rogers, Rollo May, Frederick
Perls, Maslow, entre outros; e 2) o pensamento de psiquiatras europeus,
representados por Binswanger, Boss, Van Den Berg, Strauss, dentre outros,
que no início do século XX, influenciados pela leitura da filosofia de
Heidegger, criticaram o enfoque freudiano que priorizava a existência
de um aparelho psíquico, propondo a "daseinanalyse" ou análise
existencial, que passava a focalizar a clínica na relação com o paciente, ~
compreendido em seu mundo, em sua existência. I
Quanto à origem de uma teoria psicológica, a proposta humanista, I
apresentada neste capítulo, parte mais especificamente do pensamento I...·
de Carl Rogers, ou, melhor dizendo, da crítica a uma psicologia centrada '
na pessoa, ou de uma crítica ao humanismo antropocêntrico, que levou
* Este capítulo consiste na reformulação do capítulo: MORElRA, V Psicología
humanista-fenomenológica. In: A. KAULINO& A. STECI-lER(Eds.). Cartografia
de Ia psicología contemporánea: pluralismo y modernidad. Vol. 1.
Santiago: LOM, p. 167-191, 2008.
26 CLíNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA
I
à busca de uma clínica "para além da pessoa" (MORElRA,2001a, 2007).
Do ponto de vista filosófico, a psicologia humanísta-fenornenológica,
aqui apresentada, encontra seu fundamento no âmbito da
fenomenologia, não mais em Heidegger, tal como aconteceu com os
pioneiros da psiquiatria fenomenológica européia, mas na
fenomenologia de Merleau-Ponty
Este capítulo apresenta a psicoterapia hurnanista-fenomenológica
como um desenvolvimento contemporâneo em Psicologia Clínica,
enfocando as seguintes temáticas: 1) Aperspectiva histórica, na qual se
discutirão encontros e desencontros da psicologia humanista e da
fenomenologia em psicologia; 2) O fundamento epistemológico de uma
psicologia humanista-fenomenológica eminentemente crítica, a partir
da crítica ao humanisrno antropocêntrico em psicologia; e 3) O
fundamento filosófico para a psicologia humanista na fenomenologia
antropológica de Maurice Merleau-Ponty
PERSPECTIVA HISTÓRICA PSICOLOGIA HUMANISTA X FENOMENOLOGIA
A psicologia humanista-fenomenológica, historicamente, surgiu
da preocupação de psicólogos com os fundamentos teórico-filosóficos
da psicologia de base humanista. Surgida em meados do século XX,a
abordagem humanista em psicologia (parte da chamada "terceira força"
em psicologia) se propunha a combater o suposto intelectualismo da
psicanálise e o mecanicismo do behaviorismo, postulando uma visão
globalizante elo ser humano, que enfatizava a vivência das emoções.
Entretanto, a partir da preocupação prioritária com a experiência, a
teorização, nessas abordagens, ficou, frequentemente, em segundo plano,
pelo que as abordagens humanistas foram acusadas de ter como
metodologia somente a subjetividade e a intuição (BORIS, 1987;
MORElRA, 2001a). Mais ainda, interpretações errôneas da ênfase na
vivência e na experiência, associadas a ações irresponsáveis de
profissionais que não contavam com a preparação necessária, foram
fomentando algumas dessas acusações e dando lugar a mal-entendidos
e a confusões em torno da psicologia humanista que, em muitos
ambientes clínicos ou acadêmicos, foi confundida com laissez-faire,
fazendo com que alguns pensassem, equivocadamente, que a formação
do psicólogo humanista seria mais fácil e que o aluno teria que estudar
menos, uma vez que o que "valia" seria apenas a vivência das emoções.
É importante assinalar que esses mal-entendidos não surgiram
por acaso. De fato, autores da abordagem humanista não se
VIRGINIA MOREIRA 27
preocupavam com os fundamentos teórico-epistemológicos de suas
ideias, argumentando serem suas abordagens experienciais, ou seja,
provenientes de sua própria experiência. Carl Rogers, entre estes, só em
1951, na primeira edição do livro Terapia Centrada no Cliente (1974b),
faz as primeiras alusões à filosofia existencial e fenomenológica. Em
1957, no artigo A note on the nature ofman, responde às tentativas de
alguns autores de vincular seu pensamento ao dos iluministas do século
XVIII, afirmando que, se sua teoria tinha algo em comum com o
pensamento de Rousseau, não seria diretamente, uma vez que seu único
elo com o trabalho daquele filósofo francês se havia dado através da
leitura da obra Émile, para prestar um exame de francês durante sua
adolescência. Este tipo de resposta, dada para quem desejava situar
filosoficamente a Abordagem Centrada na Pessoa, tem uma cota
importante de responsabilidade pelo fetiche da vivência que passou a
ser posto em prática, com aplicações pouco sérias em nome da
psicoterapia humanista (MORElRA, 2001a; FRElRE, 1989). Não é,
portanto, sem razão que Figueiredo (199l), ao delinear as matrizes do
pensamento psicológico, insere essa psicologia na matriz vitalista e
naturista, referindo-se a um humanistno romântico com manifestações
místicas de liberdade. Assinala que a noção de uma força criativa ou
de um impulso vital aparece metaforicamente em Rogers e em Maslow,
para quem o objetivo da psicoterapia é "libertar esta energia, dar-lhe
campo para atualizar-se na criação" (FIGUElREDO, 1991, p. 129). A
matriz vitalista estaria a favor da vida e contra a razão; a tecnologia
existiria somente como instrumento, enquanto que a inteligência seria
substituída pela intuição e o interesse tecnológico pelo interesse estético.
Na década de quarenta as abordagens fenomenológicas e existenciais
atraíram a atenção de filósofos norte-americanos, enquanto que apenas
nos anos cinquenta e sessenta se pretendeu uma abordagem
fenomenológica e existencial aos problemas psicológicos, utilizando-se,
então, o termo fenomenologia psicológica, para referir-se à fenomenologia
como método aplicado aos problemas de natureza psicológica, isto é, "
como um procedimento específico para explorar a consciência. Os dados
fenomenais (sentimentos e imagens, entre outros) seriam aceitos e descritos
tal como são experienciados, sem nenhum pressuposto ou transformação.
O conhecimento passado e as tendências teóricas deveriam ser mantidos
entre parênteses para possibilitar uma visão pura do mundo fenomenal
(CURY,1987a e b, 1993; MORElRA,2001a).
Seria um erro crer que a inclusão da fenomenologia na psicologia
se deu, pela primeira vez, por influência de Husserl, uma vez que podem
28 CLíNICA HUMANISTA-FENOM ENOLÓGICA
I
ser encontrados exemplos da aproximação fenomenológica em todos
os períodos da história da psicologia - antes mesmo dela poder ser
considerada uma ciência e uma profissão (FIGUElREDO,2002) - desde
o século Vcom a biografia de Santo Agostinho, passando pelas pesquisas
de ênfase sensório-perceptiva do século XIX,até o início do século XX,
com os estudos de fenomenologia experimental realizados por Katz e
Wertheimer. Com respeito ao existencialismo, suas bases encontram-se
na obra de Kierkegaard, no século XIX,e, posteriormente, floresce como
um movimento filosófico na Europa, durante o período compreendido
entre as duas guerras mundiais (CURY,1987a, 1993; MOREIRA,2001a).
Inicialmente, a fenomenologia e o existencialismo eram, portanto, dois
movimentos, diferenciados: Husserl criou a fenomenologia enquanto
um método descritivo que tinha como objetivo ''voltar às coisas mesmas"
- o fenômeno - realizando, assim, uma crítica à ciência positivista que
priorizava o uso da razão; por outro lado, o existencialismo, tanto o
cristão de Kierkegaarcl, quanto o ateu de Sartre, e antes dele, o de
Níetzsche, foram pensamentos filosóficos. Em termos de uma perspectiva
histórica do desenvolvimento da fenomenologia, encontramos que a
fenomenologia, como métodode pesquisa transcendental proposto por
Husserl, assume, pela primeira vez, um caráter existencial em Heidegger,
com sua filosofia ontológica do ser-no-mundo. Em Heidegger, então,
encontramos o início do que podemos chamar de fenomenologia-
existencial, que é o que tem sido mais comumente utilizado no âmbito
da psicologia. Esse caráter existencial, trazido por Heiclegger para o
seio da fenomenologia, encontra-se radicalizado no pensamento de
Merleau-Ponty que vai além, tratando não mais de um homem no mundo,
mas de um homem mundano, tal como será discutido adiante. Neste
sentido, a partir da releitura que Merleau-Ponty realiza da fenomenologia
de Husserl, ela pode ser entendida não apenas como uma fenomenologia
existencial, tal como a encontramos em Heidegger, mas como uma
fenomenologia antropológica, ou, pelo menos, uma fenomenologia de
cunho antropológico.
Voltando à psicologia humanista de Rogers, somente em 1951,
com a introdução do conceito de campo fenomenal, aparecem as
primeiras tentativas de elaborar teoricamente a relação terapeuta-cliente,
com alguma base na fenomenologia. Em 1961, em seu livro Tornar-se
pessoa, Rogers refere-se ao conflito entre sua educação, pautada no
positivismo lógico, e a abordagem existencial, que orientou seu trabalho.
Declara não ter estudado a filosofia existencial, com a qual vai tomar
contato apenas mais tarde, a partir da leitura de Buber e de Kíerkegaard,
VIRGINIA MOREIRA 29
em resposta à insistência dos seus alunos. Trabalhando com Gendlin no
Center for Studies of the Person, de La Jo11a, na Califórnia, Rogers
sente-se atraído pela ênfase na experiência que, posteriormente, derivará
na abordagem experiencial (CURY,1987a e b). Segundo Spiegelberg
(1972), Gend1in (1961, 1988 e 1999) teria como objetivo que Rogers
passasse do positivismo lógico para uma orientação existencialista,
assumindo a influência de Sartre, Husserl e Merleau-Ponty em seu
pensamento, visto que estar no mundo e com outros (em diálogo) seria
a primeira consideração do existencialismo. Entretanto, Spiegelberg
(1972) recorda que considerar toda psicologia rogeriana como
fenomenológica seria um exagero evidente. Rogers adotou essa
denominação tardia e incidentalmente e nunca tentou praticar uma
abordagem fenomenológica intencionalmente. No contexto norte-
americano, a assimilação do pensamento fenomenológico-existencial
foi também tardia. Em 1958, May, com outros autores, publica a
primeira edição do livro Existencia (1977), no qual apresenta uma
interpretação do pensamento existencial. Sartre & Ferreira (1970), por
seu lado, referem-se ao existencialismo como um humanismo. No
entanto, a verdade é que o existencialismo norte-americano não está
imbuído da melancolia de guerra que atingiu o pensamento europeu
(JACOBY,1977).
A revisão da literatura da área mostra que a preocupação com a
fundamentação teórico-filosófica dos enfoques psicológicos humanistas
teve um desenvolvimento significativo no final do século xx. Este tema
foi tratado por autores que buscavam um suporte teórico mais consistente
para o seu trabalho. Assim, no final nos anos noventa e início do século
XXIencontramos autores oriundos de uma formação humanista que
buscaram desenvolver teórica e tecnicamente a psicologia através de
pesquisas com base fenomenológica e existencial (AMATUZZI,1989;
BORIS, 1987, 1990; FONSECA, 1998; GOBBI & MISSEL, 1998;
HOlANDA, 1998; MORElRA, 1997, 1999a, 2001a, 2002a e b, 2003a e
b; SÁNCHEZ,1999).
Dentre os desenvolvimentos mais recentes da Abordagem Centrada
na Pessoa - a teoria humanista de Carl Rogers - Segrera (2002) descreve:
1) Aversão clássica, atualmente desenvolvida pelo Center for Studies of
the Person, onde Rogers passou a última fase de sua vida, e pela
University of Chicago; 2) A linha experiencial, fundada por Eugene
Gendlin (1988 e 1990), com ênfase na experienciação e focalização; 3)
A linha experiencial processual; representada por LaUTaRice, no
Canadá, e Robert Elliot, nos Estados Unidos, (RICE & GREENBERG,
30 CLíNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA
I
1990; GREENBERG,RICE&ELUOT,1993), tendo um interesse principal
no estudo detalhado dos elementos do processo; 4) A linha existencial-
fenomenológica, embasada na fenomenologia-existencial, desenvolvida
principalmente por autores brasileiros que, segundo Segrera (2002),
estaria representada porVirginia Moreira (2001a) - a que poderíamos
acrescentar outros representantes no Brasil, como Advíncula (1991),
Belém (2004), Boris (1987 e 1990), Cury (1987a e b, 1993) Fonseca
(1988 e 1998), Holanda (1998), entre outros; 5) Alinha transcendental,
que abarca interesses espirituais, religiosos e transpessoais, trabalhada
por autores como Charles Curran (1952), nos Estados Unidos, Yves
Saint-Arnaud (1967), no Canadá, Brian Thorne (1991/1993), na
Inglaterra, Peter Schmid (1989/1995), na Áustria, Ana Maria González
(1995), no México, Elias Boainain (1999), no Brasil; 6) A linha
expressiva, que integra elementos de arte e movimento corporal,
estabelecendo pontes com a Gestalt-Terapia e o psicodrama, sendo
representada principalmente pela filha de Carl Rogers, Nathalie Rogers
(1993); 7) A linha analítica, com seu interesse na relação entre a
psicologia do si mesmo de Heinz Kohut e outros elementos analíticos,
representada por Edwin Kahn (1985); 8) A linha comportamental-
operacional, com ênfase no desenvolvimento de habilidades,
representada por Reinhard Tausch (1990), na Alemanha, e Ernest
Meadows (MEADOWS& STILLWELL,1998), na Califórnia. A estes oitos
desenvolvimentos atuais citados por Segrera (2002), devemos acrescentar,
ainda, um nono: o curriculum centradona pessoa, realizado na área
de educação, no Chile, representado por Eric Troncoso e Ana Repetto
(TRONCOS O & REPETTO, 1997; MORENO, TRONCOSO &
VIDELA,1999).
Como se pode observar, são várias as vertentes atuais provenientes,
direta ou indiretamente, da psicologia humanista de Carl Rogers. O
desenvolvimento teórico-metodológico da psicologia humanista-
fenomenológica, entre tantas outras, está relacionado à busca de caráter
epistemológico, que em muitos casos transcende uma busca de
fundamentação teórico-filosófica para a psicoterapia humanista,
encontrando possíveis caminhos principalmente através da filosofia de
Buber (HOLANDA, 1998; BORIS, 1987, 1990), de Nietzsche
(ADVÍNCULA,1991; FONSECA, 1985, 1988, 1998), de Heidegger
(BELÉM, 2004) e em uma vertente notoriamente crítica, de Marx
(FREIRE, 1989) e de Merleau-Ponty (MOREIRA, 1992, 1993 a, b e c,
1994,1995,1997, 1998ae b, 1999ae b, 2001a, 2002, 2007; MOREIRA,
BARBOSA,BECO& SOARES, 1995). A revisão da literatura dos anos
VIRGINIA MOREIRA 31
oitenta e noventa mostra que este período concentrou as publicações
que se preocupavam em fundamentar filosoficamente não apenas a
Abordagem Centrada na Pessoa como a Gestalt-Terapia (no Brasil, estes
dois referenciais hurnanístas, em muitos momentos, andaram juntos ou
quase que superpostos na formação dos profissionais humanistas).
É interessante observar que, paralelamente a esse movimento
humanista em psicologia, desenvolveu-se a psicopatologia fenomeno-
lógica que, ainda que situada em outro campo epistemológico e teórico
- a psicopatologia - tem congregado tanto psicólogos quanto psiquiatras
que vêm desenvolvendo um trabalho de tradição fenomenológica,
embora, pelo menos na França e na América Latina, a maioria desses
profissionais seja proveniente de uma formação médica. Na França,
como representante mais atual deste movimento, encontramos Tatossian
(1997a e b), cujo pensamento vem somar às contribuições de nomes
que se transformaram em clássicos da psiquiatria fenomenológíca, tais
comoMinkowski (1933, 1953/ sd, 1966/1999, 2000), também na França,
Tellenbach (1967,1969,1999 e s/d) e Blankenburg (1971) na Alemanha
e Kimura (1992, 1998), no Japão. Na América Latina, como
representantes do pensamento fenomenológico vinculado à psiquiatria,
encontramosOtto Dõrr (1995,1996) e Rafael Parada (1994), no Chile,
e Lucrecia Rovaletti (1984, 1995, 1997, 1998a e b), na Argentina.
Mas o que chama a atenção é que esses dois grupos - os humanistas
e os fenomenólogos - tradicionalmente não se unem, seja por
preconceitos referentes a formações diferentes (os fenomenólogos, em
sua maioria psiquiatras, tendem a se isolar dos psicólogos e vice-versa) ,
seja por preconceitos referentes ao campo epistemológico das duas
vertentes (humanistas não teriam que ter um suporte teórico filosófico
tão denso dado que são experienciais; por outro lado, fenomenólogos
não se uniriam aos humanistas, percebidos frequentemente como
profissionais alternativos ou pouco sérios). Uma última hipótese que
possivelmente explicaria este desenvolvimento paralelo seria um
movimento de competição ou, pelo menos, de dificuldade de integração
entre pensamentos de origem européia e pensamentos de origem norte-
americana: os norte-americanos, expertos do pragmatismo; os europeus,
demasiado densos na teoria. E os latino-americanos, ainda que não
pertençam a nenhum destes dois grupos, acabam por aderir mais a
uma ou a outra dessas duas influências, incapazes, frequentemente, de
desenvolver uma identidade própria como pensadores da psicologia
latino-americana, que não é nem norte-americana nem européia, ainda
que tenha afinidades com uma e/ou outra. Neste sentido, talvez não
32 ClÍNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA
I
seja por acaso que justamente na América Latina, tal como identifica
Segrera (2002), tenha se desenvolvido, mais fortemente, a psicologia
humanista-fenomenológica.
FUNDAMENTO EPISTEMOLÓGICO:
A CRíTICA AO HUMANISMO ANTROPOCÊNTRIC01
A perspectiva histórica da psicologia humanista-fenomenológica
mostra que, ainda que haja aproximações e afinidades entre a psicologia
humanista de Carl Rogers e a fenomenologia, não se pode dizer que o
pensamento de Rogers seja fenomenológico (MORElRA,2001a, 2007).
Esta posição dá lugar ao fundamento epistemológico para a psicologia
humanista-feriomenológica: a crítica ao humanismo antropocêntrico
na psicologia de Carl Rogers. Esta crítica teve como objetivo desenvolver
uma prática clínica cuja preocupação fundamental fosse o humano,
embora não tivesse o homem como centro, mas como um ser mundano.
Trata-se de desenvolver teoricamente e metodologicamente uma
psicologia que entenda o ser humano não como pessoa-indivíduo -
como centro - mas como um ser humano atravessado por múltiplas
dimensões de ordem psicológica, biológica, política, social, histórica e
cultural. Esta visão encaminha a uma prática clínica para além da
pessoa (MORElRA,2001, 2007). Utopia? Sem ela não se avança nem se
tem a coragem de desafiar, criticar e recriar o que é dado como certo.
Não por Rogers, que em sua sabedoria sempre considerou sua teoria
aberta à continuidade, à crítica e à reformulação. Ele mesmo, em
Brasília, no Brasil, por ocasião de um grande "workshop" em 1985,
dois anos antes de sua morte, declarou publicamente que não era
rogeriano. Com isto queria dizer que nem ele mesmo se sentia preso ao
que havia escrito em seus próprios livros, nem a um modelo teórico
cristalizado, incentivando, assim, futuros desenvolvimentos de uma
psicologia humanista com base na ideia de que o ser humano éprocesso.
Sem a utopia, nós, psicólogos latino-americanos, não poderíamos
construir nossa história, recriando e descrevendo teoricamente o nosso
fazer na nossa própria cultura. Permaneceríamos como meros
importadores e repetidores de modelos, ignorando a importância de
revisar a teoria frente à prática nos distintos contextos socioculturais.
1. Este tópico e o seguinte retomam passagens previamente publicadas em Moreira,
V (2001a, 2007) - ver referências.
VIRGINIA MOREIRA 33
Como uma tentativa de resposta ao desafio desta utopia, e buscando
uma teorização mais próxima do fenômeno clínico, foi realizada uma
pesquisa que teve como objetivo fazer uma revisão crítica da psicoterapia
de Carl Rogers, procurando identificar as implicações de manter a noção
de pessoa como conceito central da teoria e da prática psicoterapêuticas.
Nesse estudo, foram revisadas as origens e as transformações que sofreu
o conceito de pessoa ao longo da história, verificando como ele é
utilizado na teoria de Carl Rogers e, finalmente, analisando
detalhadamente a noção de pessoa emergente em sua prática clínica, a
partir de uma pesquisa fenomenológica realizada com sessões de
psicoterapia individual desenvolvidas por Rogers nas décadas de
quarenta, sessenta e oitenta. Essa análise fenomenológica teve como
objetivo identificar, em primeiro lugar, a noção de pessoa, implícita na
fala do psicoterapeuta e na forma como a entrevista se desenvolve. Em
segundo lugar, buscou identificar em que medida a psicoterapia
rogeríana segue uma metodologia fenomenológica, investigando as
articulações de sentido que derivam da relação terapeuta-paciente e se
essa psicoterapia se apoia na experiência intersubjetiva que se constitui
nesse campo. Em outras palavras, analisou em que medida a noção de
pessoa, tal corno foi formulada na teoria rogeriana, orientou a sua
intervenção clínica, em detrimento do fenômeno. Foianalisada a segunda
entrevista do caso Bryan, publicada em 1942 em Counseiing and
Psychotherapy (ROGERS, 1974a),a entrevista de Glória, filmada em
1964 (ROGERS & WOOD, 1974), e a entrevista de Jan, realizada por
Rogers diante de uma audiência e apresentada em um trabalho no II
Fórum Internacional da ACp'na Inglaterra, em 1984 (ROGERS, 1997).
A análise fenomenológica realizada utilizou o método da redução, o
que implicava em deixar de lado os objetivos propostos inicialmente,
assim como qualquer postulado teórico que pudesse dirigir a leitura
das sessões. Ou seja, estes aspectos foram postas em suspenso a fim de
realizar uma leitura que permitisse ir apreendendo as articulações-de
sentido que' emergissem dos momentos em que se constituíssem as
respectivas falas no desenvolvimento dos encontros terapêuticos. Na re-
leitura que Merleau-Ponty realiza de Husserl, ele resgata sua ídeia de
que o fenômeno só é acessível através de um método fenomenológico,
do método da redução, que tem por objetivo urna psicologia descritiva,
já que
trata-se de descrever e não de explicar, nem de analisar. Esta
primeira recomendação que Husserl dava à fenomenologia
34 CLíNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA
I
nascente, de ser uma psicologia "descritiva" ou de retornar "às
coisas mesmas", é, antes de tudo, uma crítica à ciência
(MERLEAU-PONTY, 1945, p. lI).
o método da redução fenomenológica buscou, então, suspender o
conjunto de afirmações implica das nos dados do foco da pesquisa, a
crítica ao humanismo antropocêntrico. No entanto, vale lembrar que
suspender não significa negar o vínculo que liga o homem ao mundo
físico e sociocultural, mas ver o mundo e ter consciência dele através
de um recuo. Evidentemente, já nos lembrava Merleau-Ponty (1945, p.
VIII) que "o maior ensinamento da redução é a impossibilidade de uma
redução completa". Trata-se de um artifício para revelar o mundo,
colocando em suspenso a relação do observador com o mundo
(MORElRA,2001a, 2007).
A pesquisa identificou uma concepção de pessoa como centro nas
intervenções de Rogers e na forma como ele conduzia as entrevistas.
Trata-se de uma concepção de pessoa que é uma unidade indivisa, um
indivíduo, que incorpora tudo o que o cerca como eixo central do mundo.
É uma noção de pessoa interior, que tem um dentro, no qual se localizam
os recursos para o seu desenvolvimento. Esta concepção teórica de pessoa
fundamenta-se no conceito de tendência atualizante, que é
frequentemente o pano de fundo das intervenções rogerianas, que se
fazem para que o cliente busque dentro de si mesmo os recursos para
crescer. As intervenções de Rogers pressupõem uma concepção
dicotômica, que prioriza um interior como sendo a pessoa em si mesma.
O que é exterior(a preocupação de Glória com os filhos ou a necessidade
de Jan de receber ajuda de alguém, por exemplo), estaria incorporado
nessa pessoa interior. A visão dicotômica evidencia-se através da
priorização de um dos polos ou de uma das partes, o interior, que,
considerado por si mesmo, é entendido como único, unidade, indivíduo
e centro. Essa concepção de pessoa perpassa as três entrevistas de Rogers,
mantendo-se de 1942 a 1984. Cabe ressaltar uma diferença notável na
forma como essa conduta terapêutica desenvolve-se na entrevista de
Bryan e nas entrevistas de Glória e Jan. Na primeira fase, a ideia de
pessoa como centro predomina e domina a atuação terapêutica rogeriana
de tal modo que não permite que ela se desenvolva para além de um
nível intelectual. O processo permanece tão delimitado por um
pressuposto teórico que se mantém em uma dimensão intelectualizada,
que não é interrompida e que impede o aparecimento da emoção. Ao
contrário, nas entrevistas seguintes, com Glória e Jan, percebe-se uma
VIRGINIA MOREIRA 35
clara mudança na forma como aparece a concepção de pessoa como
centro. Nelas, Rogers inclui-se na relação psicoterapêutica, o que faz
com que se aproxime da experiência ocorrida em um campo comum?
na relação cliente-terapeuta, ou seja, dá mais atenção à interação, à
experiência da relação propriamente dita. Nas duas últimas entrevistas,
Rogers deixa de ser prisioneiro de sua concepção de pessoa, embora
ela se mantenha presente, interferindo e dirigindo muitas vezes o processo
psicoterapêutico. O que se pode observar é que quanto mais Rogers se
aproxima da experiência de relação com o paciente, inserindo-se nela,
mais se afasta da atitude centrada na pessoa.
Aquela pesquisa concluiu que a concepção de pessoa como centro
impede Rogers de realizar uma psicoterapia verdadeiramente
fenomenológica. Mais do que isso, o centramento na pessoa direciona,
restringe e pela mesma razão, empobrece o processo terapêutico, tal
como se observou no exemplo aparentemente mais ortodoxo - a
entrevista de Bryan - e na entrevista aparentemente menos centrada -
de Jan. A análise da prática clínica rogeriana mostrou que ela caminha
em direção à fenomenologia, ou seja, da pessoa como centro para a
experiência. No entanto, para que o modelo de psicoterapia que nos
deixou Carl Rogers possa assumir todo seu potencial de contribuição é
necessário que deixe, definitivamente, a busca de um suposto homem
interno - a pessoa - voltando-se para uma terapia fenomenológica
que, como demonstra o mesmo R.ogers, já existe potencialmente
embrionária em sua proposta. A elaboração de uma concepção de ser
humano pertinente - para além da pessoa - é um passo essencial nesse
sentido, transcendendo a ideia de centramento, que mantém a
psicoterapia de Carl Rogers "presa" e a impede de se realizar
2. Coelho (1988) desenvolve a noção de "campo comum" como uma busca para
"estabelecer uma conceituação menos problemática e menos desgastada para
tentar traduzir o cenário e ao mesmo tempo a condição em que, de alguma forma,
ocorre a produção de conhecimento da situação psicoterápica C .. ). Pensamos
'comum' no sentido de uma situação perceptiva pré-reflexíva compartilhada, de
um espaço vivido, de um tempo vivido compartilhado. Há união e desunião,
convergência e divergência. É um campo ambíguo, mas nem por isso ambivalente.
Deslizamos constantemente do mundo comum para o particular para o comum.
Há porosidade e imbricamento no plano pré-reflexívo e não polaridades
irreconciliáveis. Consideramos a noção de campo comum como algo que caracteriza
uma vívência que se dá em um nível anterior àquele que é estabelecido
categoricamente pela distinção entre sujeito e objeto, entre o que seria interior e o
que seria exterior" (pp. 101-105).
36 CLÍNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA
I
fenomenologicamente. Em outras palavras, uma psicoterapia centrada
na pessoa é incompatível com uma psicoterapiafenomenológica. Rogers
desenvolveu uma teoria da psicoterapia centrada na pessoa e não uma
teoria psicoterapêutica fenomenológica mundana. É grave, então, o
problema referente à própria denominação dessa abordagem, uma vez
que ela se fundamenta em conceitos questionáveis, como centro epessoa.
Intuitivamente, embora sem uma teoria devidamente atualizada, foi o
próprio Rogers quem deu os primeiros passos rumo a uma psicoterapia
para além da pessoa, quando entra na sua fase experiencial (MORElRA,
200 Ia, 2007). Entretanto, ao manter a pessoa como centro, estanca em
uma concepção antropocêntrica. Evoluir para uma concepção de homem
mundano e, portanto, como fenômeno em mútua constituição com o
mundo, é um possível caminho para o desenvolvimento de uma
psicoterapia e de uma psicologia cujos modelos teóricos realmente
estejam comprometidos com a sociedade e com a cultura. Não se trata
de buscar fundamentos para a terapia rogeriana na fenomenologia
existencial, haja vista que esta última ainda é tributária de um certo
centro. O importante para a psicologia humanísta é acompanhar o
processo de liberação da noção de centro que, na fenomenologia
existencial, logrou-se através da trajetória de Merleau-Ponty (1942, 1945,
1960, 1964a, b e c, 1969, 1970a e b, 1974) que conseguiu transcender
o centramento teórico da fenomenologia (na consciência e no sujeito)
em direção à mútua constituição (MORElRA, 2001a, 2007). Portanto,
no âmbito da filosofia, o último Merleau-Ponty traz uma importante
contribuição à metodologia fenomenológica, que será de suma utilidade
para a psicoterapia, tal como se descreverá a seguir.
FUNDAMENTO FILOSÓFICO: UMA FENOMENOLOGIA ANTROPOLÓGICA
O processo de elaboração de uma fundamentação filosófica para
as psicologias e psicoterapias humanistas - originando o que hoje pode
ser chamado de psicoterapia humanista-fenomenológica, ou
simplesmente psicoterapia fenomenológica (lembrando sempre que
quando falamos de fenomenologia em psicologia, estamos
necessariamente falando de uma fenomenologia existencial e/ou
antropológica), deu-se, como foi tratado anteriormente, a partir da
busca de uma atuação profissional comprometida com o homem e com
o mundo. Assim, mais do que encontrar a fundamentação filosófica
para esta proposta, tem sido repensada sua teorização, buscando ir
mais além das discussões indivíduo-sociedade que perpetuam uma
VIRGINIA MOREIRA 37
concepção dicotômica do homem, em que a psicologia teria como objeto
de estudo, o indivíduo. Não se pode desenvolver uma psicoterapia
transformadora se ela não percebe o homem e o mundo em sua mútua
constituição. Neste sentido, a filosofia de Merleau-Ponty apresenta-se
como um caminho extremamente frutífero, na medida em que contribui
para a elaboração de uma concepção de homem que foge, inteiramente,
ao modelo dualista, tradicionalmente utilizado no mundo ocidental e
nas psicologias como um todo. Trata-se de um pensamento
eminentemente crítico: ainda que Merleau-Ponty tenha morrido em 1961,
seu pensamento é ambíguo, superando o pensamento dualista ocidental,
sendo sempre movimento em uma dialética cíclica, com múltiplos
contornos, em um processo de mútua constituição com o mundo. Como
assinala Lefeuvre (1976), "não se trata de uma ambigüidade que seria
dissipada com o progresso do conhecimento; trata-se, ao contrário, de
uma ambigüidade invencível, fundada na estrutura do ser" (p. 306).
Influenciado pelo pensamento de Lévi-Strauss, Merleau-Ponty (1960,
1964a) supera, definitivamente, a dicotomia entre o mundo natural e o
mundo cultural através da priorização do significado do mundo vivido.
É assim que seu pensamento se mantém tão atual neste início do século
XXI, trazendo, para o bojo de sua discussão, questões cruciais da
contemporaneidade, como o tema da cultura, que permeia toda a sua
discussão da mundaneidade do ser humano. Nesta perspectiva, mundo
não é sinônimo de cultura; a cultura é entendida como uma das dimensões
do Lebenswelt (mundo vivido) já que para Merleau-Ponty(1945), assim
como a natureza penetra até o centro de nossas vidas pessoais e se
entrelaça com ela, igualmente os comportamentos se entrelaçam à
natureza e se depositam nela na forma de um mundo cultural.
Na verdade, poder-se-ia dizer que Merleau-Ponty se antecipou,
desenvolvendo uma fenomenologia mundana que, mais que um método,
é uma ferramenta crítica. Supera pensamentos totalitários que
pressupõem verdades absolutas. Para as psicologias, particularmente,
a fenomenologia de Merleau-Ponty é um caminho consistente, dado
que não se trata de uma fenomenologia transcendental, ou idealista,
que busca uma essência, mas uma filosofia dafacticidade, que busca o
significado da experiência vivida. Quando estamos trabalhando como
psicólogos, o fim último será o outro, o bem-estar, seja do paciente, na
área clínica, seja do aluno, na educação, seja do funcionário, nas
organizações, e assim por diante. Isto é, existe um ser humano concreto
a ser ajudado pelo psicólogo; a psicologia é uma ciência, em ultima
instância, aplicada. Assim, a contribuição de Merleau-Ponty no sentido
38 CLÍNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA
I
de pôr a fenomenologia de Husserl de pé no mundo, torna seu
pensamento indicado para dar suporte a possíveis desenvolvimentos
em psicologia que integrem o ser humano que, além de ter uma
dimensão psicológica e biológica, tem também uma dimensão cultural,
política, histórica, sociológica, etc. (MOREIRA& SLOAN,2002). Todas
estas dimensões constituem os múltiplos contornos que abrangem todos
os seres humanos, tal como descreve Merleau-Ponty (1960), fazendo
uma analogia da sua filosofia com a pintura de Cézanne. Não é por
acaso, portanto, que se tem falado da antropologia fenomenológica de
Merleau-Ponty (MUNOZ, 1975). O conceito de Lebenswelt (mundo
vivido), fio condutor de todo o pensamento ambíguo merleau-pontyano,
é, nas palavras de Bidney (1989),
o ponto de conexão entre a antropologia moderna e a fenorneno-
logia. Antropólogos contemporâneos freqüentemente
descrevem culturas como "os desenhos para viver", historica-
mente construídos pelo homem para a vida em sociedade c. .. )
Cada mundo cultural vivido é um mundo subjetivo; é o mundo
histórico criado pelo esforço e pensamento humano o que tem
significado e valor para os membros de uma sociedade em um
determinado tempo e lugar (p. 133).
É esta fenomenologia antropológica, que tem como eixo o
Lebenswelt (mundo vivido), que faz com que Merleau-Ponty tenha uma
definição de humanismo que se diferencia da tradição antropocêntrica.
Define o humanismo como "uma filosofia que confronta como problema
as relações do homem com o homem e a constituição entre eles de uma
situação e de uma história que lhes sejam comuns" (1960, p. 283). Esta
definição do filósofo francês traz luz às seguintes inquietudes teóricas:
como pensar um humanismo histórico-cultural? Como desenvolver um
humanismo cuja preocupação fundamental seja o homem, mas que
não tenha o homem como centro e o situe como um ser mundano, que
habita o mundo e é habitado por ele? Como desenvolver uma prática
clínica em psicologia enraizada no mundo? Um caminho para que isso
ocorra é a elaboração de um modelo teórico no qual o homem seja
mundo e o mundo seja homem, abolindo uma visão de homem
dicotomizada, que o divide em interioridade e exterioridade, em
individual e social. Na medida em que o homem é sujeito e objeto,
mistura-se na geleia geral que compõe o mundo, o homem e a história,
ao mesmo tempo em que se singulariza com suas ações, pensamentos e
discursos (MORElRA,2001a, 2007)).
VIRGINIA MOREIRA 39
'I
Apartir desta perspectiva em psicoterapia, perceber-se-a o paciente
como um ser intrinsecamente interligado ao mundo, que é sua própria
história e sua possibilidade de transfiguração: o mundo já não é
considerado como objeto, assim como o cliente já não é visto como
sujeito. Estamos falando de um mundo cultural, como já enfatiza
Merleau-Ponty (1945). Ambos, paciente e sociedade, fazem parte da
mesma contextura carnal. Para elaborar o conceito de carne, Merleau-
Ponty (1964 b e c) parte da ideia de intercorporeidade, na qual carne é
aquilo que o meu corpo é - ativo-passivo, visível e vidente. Carne não é
a síntese homem-mundo, é uma forma de abordar o ser, que escapa à
representação. Não é matéria nem espírito, mas está entre ambos. É o
sentido do corpo em sua relação com os objetos, já que, para o filósofo,
o homem não tem uma consciência constituinte das coisas, como propõe
o idealismo, mas que
visível e móvel, meu corpo está no número das coisas, é uma
delas, é captado na contextura do mundo e sua coesão é a de
uma coisa. Mas, já que se vê e se move, ele mantém as coisas em
círculo em volta de si, elas são um anexo, ou um prolongamento
dele mesmo, estão incrustadas na sua carne, fazem parte da
sua definição plena, e o mundo é feito do próprio estofo do
corpo (MERLEAU-PONTY,1964b,p. 19).
Depreende-se, então, da filosofia de Merleau-Ponty e, particular-
mente, do seu conceito de carne, um modelo de homem que não se
insere no pensamento dualista ocidental, já que se situa para além das
dicotomias corpo-alma, sujeito-objeto, interior-exterior e individual-
social. Este homem, que sempre está entrelaçado com o mundo, não é
o centro do mundo. Ele o constitui tanto quanto o mundo constitui a
ele, de tal modo que não existe um centro. A partir de uma crítica ao
humanismo antropocêntrico, identificou-se a necessidade urgente de
uma (re)formulação da concepção de homem na prática de um
humanismo histórico e cultural em psicologia. É assim que não se trata
apenas de utilizar-se da fenomenologia de Merleau-Ponty para
fundamentar a psicologia humanista-fenomenológica. No momento em
que isto ocorre, modifica-se a concepção de ser humano em que se
baseia esta psicologia. Já não é uma psicologia centrada na pessoa. A
elaboração pertinente dessa visão de homem parece ser então, um passo
fundamental. Transcende a ideia de centramento que aprisiona as
abordagens psicológicas humanistas, impedindo-as de realizar-se
fenomenologicamente, tal como elas se propõem. É preciso que a sua
40 CLÍNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA
I
fundamentação se dê sobre uma concepção de homem enquanto ser-
no-mundo e, como tal, como fenômeno em mútua constituição com o
mundo. Somente assim será possível o desenvolvimento de uma
psicologia cujo modelo teórico realmente seja comprometido com a
história, considerando que homem e mundo são entendidos em mútua
constituição (MORElRA,2001a, 2007).
LIMITES E PERSPECTIVA? DA INTERVENÇÃO CLíNICA
FENOMENOLOGICA MUNDANA
Este capítulo tratou, basicamente, dos fundamentos históricos,
epistemológicos e filosóficos do que atualmente pode ser chamado de
psicoterapia humanista-fenomenológica. Ou seja, discute como surgiu
esta vertente teórica e sugere o pensamento de Merleau-Ponty como
possível eixo filosófico e epistemológico para seu desenvolvimento. O
passo seguinte é pensar em seus possíveis campos de aplicação, tema
que, embora não seja o objetivo aqui, não pode deixar de ser
mencionado. Primeiro porque não se pode esquecer que estamos falando
de campos epistemológicos diferentes quando nos referimos à
psicoterapia e à filosofia. O cuidado de não confundir conceitos e
campos é fundamental, o que não impossibilita a utilização do método
- no caso, o método fenomenológico - em psicologia. Em segundo
lugar, quando estamos tratando do método fenomenológico com base
no pensamento de Merleau-Ponty e em campos de aplicação na
Psicologia, estamos tratando em primeira instância da busca do
significado da experiência vivida. Ea experiência terá lugar nos diferentes
campos de aplicação da psicologia, o que sugere a necessidade de futuros
estudos nestes diferentes campos específicos, entre os quais a psicoterapia
e a psicopatologia. Não se pode esquecer que a pesquisa relatada neste
capítulo propõe uma psicoterapia para além da pessoa. Ou seja, trata-se de um desenvolvimento teórico no campo da clínica em psicologia.
No entanto, ainda que esse fato deva ser levado em conta, não
necessariamente representa um limite para a utilização desta proposta
nos mais diversos campos da psicologia. Aliás, na história da psicologia,
não é a primeira vez e provavelmente não será a última, em que
teorizações desenvolvidas no âmbito da clínica se ampliam para teorias
do desenvolvimento humano ou teorias pedagógicas, tal como ocorreu
com o próprio Rogers. No caso desta proposta, ainda que se tenha
originalmente estudado especificamente a psicoterapia, seu próprio
caráter mundano, que entende o fenômeno clínico em seus múltiplos
VIRGINIA MOREIRA 41
contornos, nos leva a pensar cada vez mais em intervenções clínicas que
sejam facilitadoras, mas que não necessariamente se inseram no modelo
de uma psicoterapia mais tradicional, seja individual ou grupal. Pensar
neste caminho abre possibilidades de que o psicólogo atue em situações
diversas, seja em hospitais, serviços de plantão, escolas ou organizações,
sempre tendo em conta sua mundaneidade e a do outro com que ele
está se relacionando e buscando ajudar na qualidade de psicólogo. Em
estudos mais recentes, por exemplo, se propõe uma intervenção clínica
facilitadora da cidadania que possa tentar dar conta de uma abordagem
crítica e ideológica do fenômeno psicopatológico (MOREIRA2002a e
b, 2003a e b, 2008). Em outros estudos, o método fenomenológico tem
sido pensado como método de intervenção clínica, que desenvolve
técnicas com base na descrição, na redução fenomenológica, na escuta
múltipla e na intuição eidética (MOREIRA, 1998b, 2001a; MOREIRA,
BARBOSA,BECO & SOARES, 1995), o que se encontra descrito no
próximo capítulo deste livro. No âmbito da psicopatologia, a psiquiatria
fenomenológica representada, na atualidade, especialmente, pelo
pensamento de Tatossian (1997a e b), entre outros, tem, sem dúvida,
uma contribuição notável a ser integrada tanto na clínica como na
pesquisa que tenham como objetivo compreender a experiência
psicopatológica vivida (MOREIRA2001a e b, 2002a, b e c, 2007, 2008);
MOREIRA& COELHO,2003). Finalmente, na medida em que estamos
falando de um desenvolvimento teórico metodológico com base em
uma fenomenologia mundana, os estudos mais recentes da área da
antropologia da experiência, tais como os desenvolvidos por Kleinman
(1986,1988,1995,1998) e Good (1992, 1994, 1997,2002) podem vir
a contribuir de forma bastante enriquecedora, na medida em que
trabalham com base na noção de cultura definida como a interseção
entre o significado e a experiência (KLEINMAN& GOOD, 1985).
Muito mais pesquisa necessita ser feita nessa área. Neste sentido,
quem sabe este capítulo pode servir como um convite a estudiosos
humanistas que perseguem a utopia de que já nos falava Paulo Freire
(1968/2000, 1980 e 1996/2000) em seu humanismo. Independentemente
dos limites a serem trabalhados e superados ou da perspectiva a ser
utilizada como caminho para sua construção teórica, a psicoterapia
humanista-fenomenológica poderá sempre contar com a fenomenologia
antropológica mundana como ferramenta crítica que proporciona
subsídios à compreensão da experiência vivida.
42 CLíNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA
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