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CAPíTULO 2 FUNDAMENTOS DA PSICOTERAPIA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA* o que chamamos atualmente de psicoterapia humanista- fenomenológica é um desenvolvimento contemporâneo originado da interseção de duas principais vertentes: 1) O pensamento humanista em psicologia, que surgiu nos Estados Unidos na primeira metade do século XX com pensadores como Carl Rogers, Rollo May, Frederick Perls, Maslow, entre outros; e 2) o pensamento de psiquiatras europeus, representados por Binswanger, Boss, Van Den Berg, Strauss, dentre outros, que no início do século XX, influenciados pela leitura da filosofia de Heidegger, criticaram o enfoque freudiano que priorizava a existência de um aparelho psíquico, propondo a "daseinanalyse" ou análise existencial, que passava a focalizar a clínica na relação com o paciente, ~ compreendido em seu mundo, em sua existência. I Quanto à origem de uma teoria psicológica, a proposta humanista, I apresentada neste capítulo, parte mais especificamente do pensamento I...· de Carl Rogers, ou, melhor dizendo, da crítica a uma psicologia centrada ' na pessoa, ou de uma crítica ao humanismo antropocêntrico, que levou * Este capítulo consiste na reformulação do capítulo: MORElRA, V Psicología humanista-fenomenológica. In: A. KAULINO& A. STECI-lER(Eds.). Cartografia de Ia psicología contemporánea: pluralismo y modernidad. Vol. 1. Santiago: LOM, p. 167-191, 2008. 26 CLíNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA I à busca de uma clínica "para além da pessoa" (MORElRA,2001a, 2007). Do ponto de vista filosófico, a psicologia humanísta-fenornenológica, aqui apresentada, encontra seu fundamento no âmbito da fenomenologia, não mais em Heidegger, tal como aconteceu com os pioneiros da psiquiatria fenomenológica européia, mas na fenomenologia de Merleau-Ponty Este capítulo apresenta a psicoterapia hurnanista-fenomenológica como um desenvolvimento contemporâneo em Psicologia Clínica, enfocando as seguintes temáticas: 1) Aperspectiva histórica, na qual se discutirão encontros e desencontros da psicologia humanista e da fenomenologia em psicologia; 2) O fundamento epistemológico de uma psicologia humanista-fenomenológica eminentemente crítica, a partir da crítica ao humanisrno antropocêntrico em psicologia; e 3) O fundamento filosófico para a psicologia humanista na fenomenologia antropológica de Maurice Merleau-Ponty PERSPECTIVA HISTÓRICA PSICOLOGIA HUMANISTA X FENOMENOLOGIA A psicologia humanista-fenomenológica, historicamente, surgiu da preocupação de psicólogos com os fundamentos teórico-filosóficos da psicologia de base humanista. Surgida em meados do século XX,a abordagem humanista em psicologia (parte da chamada "terceira força" em psicologia) se propunha a combater o suposto intelectualismo da psicanálise e o mecanicismo do behaviorismo, postulando uma visão globalizante elo ser humano, que enfatizava a vivência das emoções. Entretanto, a partir da preocupação prioritária com a experiência, a teorização, nessas abordagens, ficou, frequentemente, em segundo plano, pelo que as abordagens humanistas foram acusadas de ter como metodologia somente a subjetividade e a intuição (BORIS, 1987; MORElRA, 2001a). Mais ainda, interpretações errôneas da ênfase na vivência e na experiência, associadas a ações irresponsáveis de profissionais que não contavam com a preparação necessária, foram fomentando algumas dessas acusações e dando lugar a mal-entendidos e a confusões em torno da psicologia humanista que, em muitos ambientes clínicos ou acadêmicos, foi confundida com laissez-faire, fazendo com que alguns pensassem, equivocadamente, que a formação do psicólogo humanista seria mais fácil e que o aluno teria que estudar menos, uma vez que o que "valia" seria apenas a vivência das emoções. É importante assinalar que esses mal-entendidos não surgiram por acaso. De fato, autores da abordagem humanista não se VIRGINIA MOREIRA 27 preocupavam com os fundamentos teórico-epistemológicos de suas ideias, argumentando serem suas abordagens experienciais, ou seja, provenientes de sua própria experiência. Carl Rogers, entre estes, só em 1951, na primeira edição do livro Terapia Centrada no Cliente (1974b), faz as primeiras alusões à filosofia existencial e fenomenológica. Em 1957, no artigo A note on the nature ofman, responde às tentativas de alguns autores de vincular seu pensamento ao dos iluministas do século XVIII, afirmando que, se sua teoria tinha algo em comum com o pensamento de Rousseau, não seria diretamente, uma vez que seu único elo com o trabalho daquele filósofo francês se havia dado através da leitura da obra Émile, para prestar um exame de francês durante sua adolescência. Este tipo de resposta, dada para quem desejava situar filosoficamente a Abordagem Centrada na Pessoa, tem uma cota importante de responsabilidade pelo fetiche da vivência que passou a ser posto em prática, com aplicações pouco sérias em nome da psicoterapia humanista (MORElRA, 2001a; FRElRE, 1989). Não é, portanto, sem razão que Figueiredo (199l), ao delinear as matrizes do pensamento psicológico, insere essa psicologia na matriz vitalista e naturista, referindo-se a um humanistno romântico com manifestações místicas de liberdade. Assinala que a noção de uma força criativa ou de um impulso vital aparece metaforicamente em Rogers e em Maslow, para quem o objetivo da psicoterapia é "libertar esta energia, dar-lhe campo para atualizar-se na criação" (FIGUElREDO, 1991, p. 129). A matriz vitalista estaria a favor da vida e contra a razão; a tecnologia existiria somente como instrumento, enquanto que a inteligência seria substituída pela intuição e o interesse tecnológico pelo interesse estético. Na década de quarenta as abordagens fenomenológicas e existenciais atraíram a atenção de filósofos norte-americanos, enquanto que apenas nos anos cinquenta e sessenta se pretendeu uma abordagem fenomenológica e existencial aos problemas psicológicos, utilizando-se, então, o termo fenomenologia psicológica, para referir-se à fenomenologia como método aplicado aos problemas de natureza psicológica, isto é, " como um procedimento específico para explorar a consciência. Os dados fenomenais (sentimentos e imagens, entre outros) seriam aceitos e descritos tal como são experienciados, sem nenhum pressuposto ou transformação. O conhecimento passado e as tendências teóricas deveriam ser mantidos entre parênteses para possibilitar uma visão pura do mundo fenomenal (CURY,1987a e b, 1993; MORElRA,2001a). Seria um erro crer que a inclusão da fenomenologia na psicologia se deu, pela primeira vez, por influência de Husserl, uma vez que podem 28 CLíNICA HUMANISTA-FENOM ENOLÓGICA I ser encontrados exemplos da aproximação fenomenológica em todos os períodos da história da psicologia - antes mesmo dela poder ser considerada uma ciência e uma profissão (FIGUElREDO,2002) - desde o século Vcom a biografia de Santo Agostinho, passando pelas pesquisas de ênfase sensório-perceptiva do século XIX,até o início do século XX, com os estudos de fenomenologia experimental realizados por Katz e Wertheimer. Com respeito ao existencialismo, suas bases encontram-se na obra de Kierkegaard, no século XIX,e, posteriormente, floresce como um movimento filosófico na Europa, durante o período compreendido entre as duas guerras mundiais (CURY,1987a, 1993; MOREIRA,2001a). Inicialmente, a fenomenologia e o existencialismo eram, portanto, dois movimentos, diferenciados: Husserl criou a fenomenologia enquanto um método descritivo que tinha como objetivo ''voltar às coisas mesmas" - o fenômeno - realizando, assim, uma crítica à ciência positivista que priorizava o uso da razão; por outro lado, o existencialismo, tanto o cristão de Kierkegaarcl, quanto o ateu de Sartre, e antes dele, o de Níetzsche, foram pensamentos filosóficos. Em termos de uma perspectiva histórica do desenvolvimento da fenomenologia, encontramos que a fenomenologia, como métodode pesquisa transcendental proposto por Husserl, assume, pela primeira vez, um caráter existencial em Heidegger, com sua filosofia ontológica do ser-no-mundo. Em Heidegger, então, encontramos o início do que podemos chamar de fenomenologia- existencial, que é o que tem sido mais comumente utilizado no âmbito da psicologia. Esse caráter existencial, trazido por Heiclegger para o seio da fenomenologia, encontra-se radicalizado no pensamento de Merleau-Ponty que vai além, tratando não mais de um homem no mundo, mas de um homem mundano, tal como será discutido adiante. Neste sentido, a partir da releitura que Merleau-Ponty realiza da fenomenologia de Husserl, ela pode ser entendida não apenas como uma fenomenologia existencial, tal como a encontramos em Heidegger, mas como uma fenomenologia antropológica, ou, pelo menos, uma fenomenologia de cunho antropológico. Voltando à psicologia humanista de Rogers, somente em 1951, com a introdução do conceito de campo fenomenal, aparecem as primeiras tentativas de elaborar teoricamente a relação terapeuta-cliente, com alguma base na fenomenologia. Em 1961, em seu livro Tornar-se pessoa, Rogers refere-se ao conflito entre sua educação, pautada no positivismo lógico, e a abordagem existencial, que orientou seu trabalho. Declara não ter estudado a filosofia existencial, com a qual vai tomar contato apenas mais tarde, a partir da leitura de Buber e de Kíerkegaard, VIRGINIA MOREIRA 29 em resposta à insistência dos seus alunos. Trabalhando com Gendlin no Center for Studies of the Person, de La Jo11a, na Califórnia, Rogers sente-se atraído pela ênfase na experiência que, posteriormente, derivará na abordagem experiencial (CURY,1987a e b). Segundo Spiegelberg (1972), Gend1in (1961, 1988 e 1999) teria como objetivo que Rogers passasse do positivismo lógico para uma orientação existencialista, assumindo a influência de Sartre, Husserl e Merleau-Ponty em seu pensamento, visto que estar no mundo e com outros (em diálogo) seria a primeira consideração do existencialismo. Entretanto, Spiegelberg (1972) recorda que considerar toda psicologia rogeriana como fenomenológica seria um exagero evidente. Rogers adotou essa denominação tardia e incidentalmente e nunca tentou praticar uma abordagem fenomenológica intencionalmente. No contexto norte- americano, a assimilação do pensamento fenomenológico-existencial foi também tardia. Em 1958, May, com outros autores, publica a primeira edição do livro Existencia (1977), no qual apresenta uma interpretação do pensamento existencial. Sartre & Ferreira (1970), por seu lado, referem-se ao existencialismo como um humanismo. No entanto, a verdade é que o existencialismo norte-americano não está imbuído da melancolia de guerra que atingiu o pensamento europeu (JACOBY,1977). A revisão da literatura da área mostra que a preocupação com a fundamentação teórico-filosófica dos enfoques psicológicos humanistas teve um desenvolvimento significativo no final do século xx. Este tema foi tratado por autores que buscavam um suporte teórico mais consistente para o seu trabalho. Assim, no final nos anos noventa e início do século XXIencontramos autores oriundos de uma formação humanista que buscaram desenvolver teórica e tecnicamente a psicologia através de pesquisas com base fenomenológica e existencial (AMATUZZI,1989; BORIS, 1987, 1990; FONSECA, 1998; GOBBI & MISSEL, 1998; HOlANDA, 1998; MORElRA, 1997, 1999a, 2001a, 2002a e b, 2003a e b; SÁNCHEZ,1999). Dentre os desenvolvimentos mais recentes da Abordagem Centrada na Pessoa - a teoria humanista de Carl Rogers - Segrera (2002) descreve: 1) Aversão clássica, atualmente desenvolvida pelo Center for Studies of the Person, onde Rogers passou a última fase de sua vida, e pela University of Chicago; 2) A linha experiencial, fundada por Eugene Gendlin (1988 e 1990), com ênfase na experienciação e focalização; 3) A linha experiencial processual; representada por LaUTaRice, no Canadá, e Robert Elliot, nos Estados Unidos, (RICE & GREENBERG, 30 CLíNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA I 1990; GREENBERG,RICE&ELUOT,1993), tendo um interesse principal no estudo detalhado dos elementos do processo; 4) A linha existencial- fenomenológica, embasada na fenomenologia-existencial, desenvolvida principalmente por autores brasileiros que, segundo Segrera (2002), estaria representada porVirginia Moreira (2001a) - a que poderíamos acrescentar outros representantes no Brasil, como Advíncula (1991), Belém (2004), Boris (1987 e 1990), Cury (1987a e b, 1993) Fonseca (1988 e 1998), Holanda (1998), entre outros; 5) Alinha transcendental, que abarca interesses espirituais, religiosos e transpessoais, trabalhada por autores como Charles Curran (1952), nos Estados Unidos, Yves Saint-Arnaud (1967), no Canadá, Brian Thorne (1991/1993), na Inglaterra, Peter Schmid (1989/1995), na Áustria, Ana Maria González (1995), no México, Elias Boainain (1999), no Brasil; 6) A linha expressiva, que integra elementos de arte e movimento corporal, estabelecendo pontes com a Gestalt-Terapia e o psicodrama, sendo representada principalmente pela filha de Carl Rogers, Nathalie Rogers (1993); 7) A linha analítica, com seu interesse na relação entre a psicologia do si mesmo de Heinz Kohut e outros elementos analíticos, representada por Edwin Kahn (1985); 8) A linha comportamental- operacional, com ênfase no desenvolvimento de habilidades, representada por Reinhard Tausch (1990), na Alemanha, e Ernest Meadows (MEADOWS& STILLWELL,1998), na Califórnia. A estes oitos desenvolvimentos atuais citados por Segrera (2002), devemos acrescentar, ainda, um nono: o curriculum centradona pessoa, realizado na área de educação, no Chile, representado por Eric Troncoso e Ana Repetto (TRONCOS O & REPETTO, 1997; MORENO, TRONCOSO & VIDELA,1999). Como se pode observar, são várias as vertentes atuais provenientes, direta ou indiretamente, da psicologia humanista de Carl Rogers. O desenvolvimento teórico-metodológico da psicologia humanista- fenomenológica, entre tantas outras, está relacionado à busca de caráter epistemológico, que em muitos casos transcende uma busca de fundamentação teórico-filosófica para a psicoterapia humanista, encontrando possíveis caminhos principalmente através da filosofia de Buber (HOLANDA, 1998; BORIS, 1987, 1990), de Nietzsche (ADVÍNCULA,1991; FONSECA, 1985, 1988, 1998), de Heidegger (BELÉM, 2004) e em uma vertente notoriamente crítica, de Marx (FREIRE, 1989) e de Merleau-Ponty (MOREIRA, 1992, 1993 a, b e c, 1994,1995,1997, 1998ae b, 1999ae b, 2001a, 2002, 2007; MOREIRA, BARBOSA,BECO& SOARES, 1995). A revisão da literatura dos anos VIRGINIA MOREIRA 31 oitenta e noventa mostra que este período concentrou as publicações que se preocupavam em fundamentar filosoficamente não apenas a Abordagem Centrada na Pessoa como a Gestalt-Terapia (no Brasil, estes dois referenciais hurnanístas, em muitos momentos, andaram juntos ou quase que superpostos na formação dos profissionais humanistas). É interessante observar que, paralelamente a esse movimento humanista em psicologia, desenvolveu-se a psicopatologia fenomeno- lógica que, ainda que situada em outro campo epistemológico e teórico - a psicopatologia - tem congregado tanto psicólogos quanto psiquiatras que vêm desenvolvendo um trabalho de tradição fenomenológica, embora, pelo menos na França e na América Latina, a maioria desses profissionais seja proveniente de uma formação médica. Na França, como representante mais atual deste movimento, encontramos Tatossian (1997a e b), cujo pensamento vem somar às contribuições de nomes que se transformaram em clássicos da psiquiatria fenomenológíca, tais comoMinkowski (1933, 1953/ sd, 1966/1999, 2000), também na França, Tellenbach (1967,1969,1999 e s/d) e Blankenburg (1971) na Alemanha e Kimura (1992, 1998), no Japão. Na América Latina, como representantes do pensamento fenomenológico vinculado à psiquiatria, encontramosOtto Dõrr (1995,1996) e Rafael Parada (1994), no Chile, e Lucrecia Rovaletti (1984, 1995, 1997, 1998a e b), na Argentina. Mas o que chama a atenção é que esses dois grupos - os humanistas e os fenomenólogos - tradicionalmente não se unem, seja por preconceitos referentes a formações diferentes (os fenomenólogos, em sua maioria psiquiatras, tendem a se isolar dos psicólogos e vice-versa) , seja por preconceitos referentes ao campo epistemológico das duas vertentes (humanistas não teriam que ter um suporte teórico filosófico tão denso dado que são experienciais; por outro lado, fenomenólogos não se uniriam aos humanistas, percebidos frequentemente como profissionais alternativos ou pouco sérios). Uma última hipótese que possivelmente explicaria este desenvolvimento paralelo seria um movimento de competição ou, pelo menos, de dificuldade de integração entre pensamentos de origem européia e pensamentos de origem norte- americana: os norte-americanos, expertos do pragmatismo; os europeus, demasiado densos na teoria. E os latino-americanos, ainda que não pertençam a nenhum destes dois grupos, acabam por aderir mais a uma ou a outra dessas duas influências, incapazes, frequentemente, de desenvolver uma identidade própria como pensadores da psicologia latino-americana, que não é nem norte-americana nem européia, ainda que tenha afinidades com uma e/ou outra. Neste sentido, talvez não 32 ClÍNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA I seja por acaso que justamente na América Latina, tal como identifica Segrera (2002), tenha se desenvolvido, mais fortemente, a psicologia humanista-fenomenológica. FUNDAMENTO EPISTEMOLÓGICO: A CRíTICA AO HUMANISMO ANTROPOCÊNTRIC01 A perspectiva histórica da psicologia humanista-fenomenológica mostra que, ainda que haja aproximações e afinidades entre a psicologia humanista de Carl Rogers e a fenomenologia, não se pode dizer que o pensamento de Rogers seja fenomenológico (MORElRA,2001a, 2007). Esta posição dá lugar ao fundamento epistemológico para a psicologia humanista-feriomenológica: a crítica ao humanismo antropocêntrico na psicologia de Carl Rogers. Esta crítica teve como objetivo desenvolver uma prática clínica cuja preocupação fundamental fosse o humano, embora não tivesse o homem como centro, mas como um ser mundano. Trata-se de desenvolver teoricamente e metodologicamente uma psicologia que entenda o ser humano não como pessoa-indivíduo - como centro - mas como um ser humano atravessado por múltiplas dimensões de ordem psicológica, biológica, política, social, histórica e cultural. Esta visão encaminha a uma prática clínica para além da pessoa (MORElRA,2001, 2007). Utopia? Sem ela não se avança nem se tem a coragem de desafiar, criticar e recriar o que é dado como certo. Não por Rogers, que em sua sabedoria sempre considerou sua teoria aberta à continuidade, à crítica e à reformulação. Ele mesmo, em Brasília, no Brasil, por ocasião de um grande "workshop" em 1985, dois anos antes de sua morte, declarou publicamente que não era rogeriano. Com isto queria dizer que nem ele mesmo se sentia preso ao que havia escrito em seus próprios livros, nem a um modelo teórico cristalizado, incentivando, assim, futuros desenvolvimentos de uma psicologia humanista com base na ideia de que o ser humano éprocesso. Sem a utopia, nós, psicólogos latino-americanos, não poderíamos construir nossa história, recriando e descrevendo teoricamente o nosso fazer na nossa própria cultura. Permaneceríamos como meros importadores e repetidores de modelos, ignorando a importância de revisar a teoria frente à prática nos distintos contextos socioculturais. 1. Este tópico e o seguinte retomam passagens previamente publicadas em Moreira, V (2001a, 2007) - ver referências. VIRGINIA MOREIRA 33 Como uma tentativa de resposta ao desafio desta utopia, e buscando uma teorização mais próxima do fenômeno clínico, foi realizada uma pesquisa que teve como objetivo fazer uma revisão crítica da psicoterapia de Carl Rogers, procurando identificar as implicações de manter a noção de pessoa como conceito central da teoria e da prática psicoterapêuticas. Nesse estudo, foram revisadas as origens e as transformações que sofreu o conceito de pessoa ao longo da história, verificando como ele é utilizado na teoria de Carl Rogers e, finalmente, analisando detalhadamente a noção de pessoa emergente em sua prática clínica, a partir de uma pesquisa fenomenológica realizada com sessões de psicoterapia individual desenvolvidas por Rogers nas décadas de quarenta, sessenta e oitenta. Essa análise fenomenológica teve como objetivo identificar, em primeiro lugar, a noção de pessoa, implícita na fala do psicoterapeuta e na forma como a entrevista se desenvolve. Em segundo lugar, buscou identificar em que medida a psicoterapia rogeríana segue uma metodologia fenomenológica, investigando as articulações de sentido que derivam da relação terapeuta-paciente e se essa psicoterapia se apoia na experiência intersubjetiva que se constitui nesse campo. Em outras palavras, analisou em que medida a noção de pessoa, tal corno foi formulada na teoria rogeriana, orientou a sua intervenção clínica, em detrimento do fenômeno. Foianalisada a segunda entrevista do caso Bryan, publicada em 1942 em Counseiing and Psychotherapy (ROGERS, 1974a),a entrevista de Glória, filmada em 1964 (ROGERS & WOOD, 1974), e a entrevista de Jan, realizada por Rogers diante de uma audiência e apresentada em um trabalho no II Fórum Internacional da ACp'na Inglaterra, em 1984 (ROGERS, 1997). A análise fenomenológica realizada utilizou o método da redução, o que implicava em deixar de lado os objetivos propostos inicialmente, assim como qualquer postulado teórico que pudesse dirigir a leitura das sessões. Ou seja, estes aspectos foram postas em suspenso a fim de realizar uma leitura que permitisse ir apreendendo as articulações-de sentido que' emergissem dos momentos em que se constituíssem as respectivas falas no desenvolvimento dos encontros terapêuticos. Na re- leitura que Merleau-Ponty realiza de Husserl, ele resgata sua ídeia de que o fenômeno só é acessível através de um método fenomenológico, do método da redução, que tem por objetivo urna psicologia descritiva, já que trata-se de descrever e não de explicar, nem de analisar. Esta primeira recomendação que Husserl dava à fenomenologia 34 CLíNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA I nascente, de ser uma psicologia "descritiva" ou de retornar "às coisas mesmas", é, antes de tudo, uma crítica à ciência (MERLEAU-PONTY, 1945, p. lI). o método da redução fenomenológica buscou, então, suspender o conjunto de afirmações implica das nos dados do foco da pesquisa, a crítica ao humanismo antropocêntrico. No entanto, vale lembrar que suspender não significa negar o vínculo que liga o homem ao mundo físico e sociocultural, mas ver o mundo e ter consciência dele através de um recuo. Evidentemente, já nos lembrava Merleau-Ponty (1945, p. VIII) que "o maior ensinamento da redução é a impossibilidade de uma redução completa". Trata-se de um artifício para revelar o mundo, colocando em suspenso a relação do observador com o mundo (MORElRA,2001a, 2007). A pesquisa identificou uma concepção de pessoa como centro nas intervenções de Rogers e na forma como ele conduzia as entrevistas. Trata-se de uma concepção de pessoa que é uma unidade indivisa, um indivíduo, que incorpora tudo o que o cerca como eixo central do mundo. É uma noção de pessoa interior, que tem um dentro, no qual se localizam os recursos para o seu desenvolvimento. Esta concepção teórica de pessoa fundamenta-se no conceito de tendência atualizante, que é frequentemente o pano de fundo das intervenções rogerianas, que se fazem para que o cliente busque dentro de si mesmo os recursos para crescer. As intervenções de Rogers pressupõem uma concepção dicotômica, que prioriza um interior como sendo a pessoa em si mesma. O que é exterior(a preocupação de Glória com os filhos ou a necessidade de Jan de receber ajuda de alguém, por exemplo), estaria incorporado nessa pessoa interior. A visão dicotômica evidencia-se através da priorização de um dos polos ou de uma das partes, o interior, que, considerado por si mesmo, é entendido como único, unidade, indivíduo e centro. Essa concepção de pessoa perpassa as três entrevistas de Rogers, mantendo-se de 1942 a 1984. Cabe ressaltar uma diferença notável na forma como essa conduta terapêutica desenvolve-se na entrevista de Bryan e nas entrevistas de Glória e Jan. Na primeira fase, a ideia de pessoa como centro predomina e domina a atuação terapêutica rogeriana de tal modo que não permite que ela se desenvolva para além de um nível intelectual. O processo permanece tão delimitado por um pressuposto teórico que se mantém em uma dimensão intelectualizada, que não é interrompida e que impede o aparecimento da emoção. Ao contrário, nas entrevistas seguintes, com Glória e Jan, percebe-se uma VIRGINIA MOREIRA 35 clara mudança na forma como aparece a concepção de pessoa como centro. Nelas, Rogers inclui-se na relação psicoterapêutica, o que faz com que se aproxime da experiência ocorrida em um campo comum? na relação cliente-terapeuta, ou seja, dá mais atenção à interação, à experiência da relação propriamente dita. Nas duas últimas entrevistas, Rogers deixa de ser prisioneiro de sua concepção de pessoa, embora ela se mantenha presente, interferindo e dirigindo muitas vezes o processo psicoterapêutico. O que se pode observar é que quanto mais Rogers se aproxima da experiência de relação com o paciente, inserindo-se nela, mais se afasta da atitude centrada na pessoa. Aquela pesquisa concluiu que a concepção de pessoa como centro impede Rogers de realizar uma psicoterapia verdadeiramente fenomenológica. Mais do que isso, o centramento na pessoa direciona, restringe e pela mesma razão, empobrece o processo terapêutico, tal como se observou no exemplo aparentemente mais ortodoxo - a entrevista de Bryan - e na entrevista aparentemente menos centrada - de Jan. A análise da prática clínica rogeriana mostrou que ela caminha em direção à fenomenologia, ou seja, da pessoa como centro para a experiência. No entanto, para que o modelo de psicoterapia que nos deixou Carl Rogers possa assumir todo seu potencial de contribuição é necessário que deixe, definitivamente, a busca de um suposto homem interno - a pessoa - voltando-se para uma terapia fenomenológica que, como demonstra o mesmo R.ogers, já existe potencialmente embrionária em sua proposta. A elaboração de uma concepção de ser humano pertinente - para além da pessoa - é um passo essencial nesse sentido, transcendendo a ideia de centramento, que mantém a psicoterapia de Carl Rogers "presa" e a impede de se realizar 2. Coelho (1988) desenvolve a noção de "campo comum" como uma busca para "estabelecer uma conceituação menos problemática e menos desgastada para tentar traduzir o cenário e ao mesmo tempo a condição em que, de alguma forma, ocorre a produção de conhecimento da situação psicoterápica C .. ). Pensamos 'comum' no sentido de uma situação perceptiva pré-reflexíva compartilhada, de um espaço vivido, de um tempo vivido compartilhado. Há união e desunião, convergência e divergência. É um campo ambíguo, mas nem por isso ambivalente. Deslizamos constantemente do mundo comum para o particular para o comum. Há porosidade e imbricamento no plano pré-reflexívo e não polaridades irreconciliáveis. Consideramos a noção de campo comum como algo que caracteriza uma vívência que se dá em um nível anterior àquele que é estabelecido categoricamente pela distinção entre sujeito e objeto, entre o que seria interior e o que seria exterior" (pp. 101-105). 36 CLÍNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA I fenomenologicamente. Em outras palavras, uma psicoterapia centrada na pessoa é incompatível com uma psicoterapiafenomenológica. Rogers desenvolveu uma teoria da psicoterapia centrada na pessoa e não uma teoria psicoterapêutica fenomenológica mundana. É grave, então, o problema referente à própria denominação dessa abordagem, uma vez que ela se fundamenta em conceitos questionáveis, como centro epessoa. Intuitivamente, embora sem uma teoria devidamente atualizada, foi o próprio Rogers quem deu os primeiros passos rumo a uma psicoterapia para além da pessoa, quando entra na sua fase experiencial (MORElRA, 200 Ia, 2007). Entretanto, ao manter a pessoa como centro, estanca em uma concepção antropocêntrica. Evoluir para uma concepção de homem mundano e, portanto, como fenômeno em mútua constituição com o mundo, é um possível caminho para o desenvolvimento de uma psicoterapia e de uma psicologia cujos modelos teóricos realmente estejam comprometidos com a sociedade e com a cultura. Não se trata de buscar fundamentos para a terapia rogeriana na fenomenologia existencial, haja vista que esta última ainda é tributária de um certo centro. O importante para a psicologia humanísta é acompanhar o processo de liberação da noção de centro que, na fenomenologia existencial, logrou-se através da trajetória de Merleau-Ponty (1942, 1945, 1960, 1964a, b e c, 1969, 1970a e b, 1974) que conseguiu transcender o centramento teórico da fenomenologia (na consciência e no sujeito) em direção à mútua constituição (MORElRA, 2001a, 2007). Portanto, no âmbito da filosofia, o último Merleau-Ponty traz uma importante contribuição à metodologia fenomenológica, que será de suma utilidade para a psicoterapia, tal como se descreverá a seguir. FUNDAMENTO FILOSÓFICO: UMA FENOMENOLOGIA ANTROPOLÓGICA O processo de elaboração de uma fundamentação filosófica para as psicologias e psicoterapias humanistas - originando o que hoje pode ser chamado de psicoterapia humanista-fenomenológica, ou simplesmente psicoterapia fenomenológica (lembrando sempre que quando falamos de fenomenologia em psicologia, estamos necessariamente falando de uma fenomenologia existencial e/ou antropológica), deu-se, como foi tratado anteriormente, a partir da busca de uma atuação profissional comprometida com o homem e com o mundo. Assim, mais do que encontrar a fundamentação filosófica para esta proposta, tem sido repensada sua teorização, buscando ir mais além das discussões indivíduo-sociedade que perpetuam uma VIRGINIA MOREIRA 37 concepção dicotômica do homem, em que a psicologia teria como objeto de estudo, o indivíduo. Não se pode desenvolver uma psicoterapia transformadora se ela não percebe o homem e o mundo em sua mútua constituição. Neste sentido, a filosofia de Merleau-Ponty apresenta-se como um caminho extremamente frutífero, na medida em que contribui para a elaboração de uma concepção de homem que foge, inteiramente, ao modelo dualista, tradicionalmente utilizado no mundo ocidental e nas psicologias como um todo. Trata-se de um pensamento eminentemente crítico: ainda que Merleau-Ponty tenha morrido em 1961, seu pensamento é ambíguo, superando o pensamento dualista ocidental, sendo sempre movimento em uma dialética cíclica, com múltiplos contornos, em um processo de mútua constituição com o mundo. Como assinala Lefeuvre (1976), "não se trata de uma ambigüidade que seria dissipada com o progresso do conhecimento; trata-se, ao contrário, de uma ambigüidade invencível, fundada na estrutura do ser" (p. 306). Influenciado pelo pensamento de Lévi-Strauss, Merleau-Ponty (1960, 1964a) supera, definitivamente, a dicotomia entre o mundo natural e o mundo cultural através da priorização do significado do mundo vivido. É assim que seu pensamento se mantém tão atual neste início do século XXI, trazendo, para o bojo de sua discussão, questões cruciais da contemporaneidade, como o tema da cultura, que permeia toda a sua discussão da mundaneidade do ser humano. Nesta perspectiva, mundo não é sinônimo de cultura; a cultura é entendida como uma das dimensões do Lebenswelt (mundo vivido) já que para Merleau-Ponty(1945), assim como a natureza penetra até o centro de nossas vidas pessoais e se entrelaça com ela, igualmente os comportamentos se entrelaçam à natureza e se depositam nela na forma de um mundo cultural. Na verdade, poder-se-ia dizer que Merleau-Ponty se antecipou, desenvolvendo uma fenomenologia mundana que, mais que um método, é uma ferramenta crítica. Supera pensamentos totalitários que pressupõem verdades absolutas. Para as psicologias, particularmente, a fenomenologia de Merleau-Ponty é um caminho consistente, dado que não se trata de uma fenomenologia transcendental, ou idealista, que busca uma essência, mas uma filosofia dafacticidade, que busca o significado da experiência vivida. Quando estamos trabalhando como psicólogos, o fim último será o outro, o bem-estar, seja do paciente, na área clínica, seja do aluno, na educação, seja do funcionário, nas organizações, e assim por diante. Isto é, existe um ser humano concreto a ser ajudado pelo psicólogo; a psicologia é uma ciência, em ultima instância, aplicada. Assim, a contribuição de Merleau-Ponty no sentido 38 CLÍNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA I de pôr a fenomenologia de Husserl de pé no mundo, torna seu pensamento indicado para dar suporte a possíveis desenvolvimentos em psicologia que integrem o ser humano que, além de ter uma dimensão psicológica e biológica, tem também uma dimensão cultural, política, histórica, sociológica, etc. (MOREIRA& SLOAN,2002). Todas estas dimensões constituem os múltiplos contornos que abrangem todos os seres humanos, tal como descreve Merleau-Ponty (1960), fazendo uma analogia da sua filosofia com a pintura de Cézanne. Não é por acaso, portanto, que se tem falado da antropologia fenomenológica de Merleau-Ponty (MUNOZ, 1975). O conceito de Lebenswelt (mundo vivido), fio condutor de todo o pensamento ambíguo merleau-pontyano, é, nas palavras de Bidney (1989), o ponto de conexão entre a antropologia moderna e a fenorneno- logia. Antropólogos contemporâneos freqüentemente descrevem culturas como "os desenhos para viver", historica- mente construídos pelo homem para a vida em sociedade c. .. ) Cada mundo cultural vivido é um mundo subjetivo; é o mundo histórico criado pelo esforço e pensamento humano o que tem significado e valor para os membros de uma sociedade em um determinado tempo e lugar (p. 133). É esta fenomenologia antropológica, que tem como eixo o Lebenswelt (mundo vivido), que faz com que Merleau-Ponty tenha uma definição de humanismo que se diferencia da tradição antropocêntrica. Define o humanismo como "uma filosofia que confronta como problema as relações do homem com o homem e a constituição entre eles de uma situação e de uma história que lhes sejam comuns" (1960, p. 283). Esta definição do filósofo francês traz luz às seguintes inquietudes teóricas: como pensar um humanismo histórico-cultural? Como desenvolver um humanismo cuja preocupação fundamental seja o homem, mas que não tenha o homem como centro e o situe como um ser mundano, que habita o mundo e é habitado por ele? Como desenvolver uma prática clínica em psicologia enraizada no mundo? Um caminho para que isso ocorra é a elaboração de um modelo teórico no qual o homem seja mundo e o mundo seja homem, abolindo uma visão de homem dicotomizada, que o divide em interioridade e exterioridade, em individual e social. Na medida em que o homem é sujeito e objeto, mistura-se na geleia geral que compõe o mundo, o homem e a história, ao mesmo tempo em que se singulariza com suas ações, pensamentos e discursos (MORElRA,2001a, 2007)). VIRGINIA MOREIRA 39 'I Apartir desta perspectiva em psicoterapia, perceber-se-a o paciente como um ser intrinsecamente interligado ao mundo, que é sua própria história e sua possibilidade de transfiguração: o mundo já não é considerado como objeto, assim como o cliente já não é visto como sujeito. Estamos falando de um mundo cultural, como já enfatiza Merleau-Ponty (1945). Ambos, paciente e sociedade, fazem parte da mesma contextura carnal. Para elaborar o conceito de carne, Merleau- Ponty (1964 b e c) parte da ideia de intercorporeidade, na qual carne é aquilo que o meu corpo é - ativo-passivo, visível e vidente. Carne não é a síntese homem-mundo, é uma forma de abordar o ser, que escapa à representação. Não é matéria nem espírito, mas está entre ambos. É o sentido do corpo em sua relação com os objetos, já que, para o filósofo, o homem não tem uma consciência constituinte das coisas, como propõe o idealismo, mas que visível e móvel, meu corpo está no número das coisas, é uma delas, é captado na contextura do mundo e sua coesão é a de uma coisa. Mas, já que se vê e se move, ele mantém as coisas em círculo em volta de si, elas são um anexo, ou um prolongamento dele mesmo, estão incrustadas na sua carne, fazem parte da sua definição plena, e o mundo é feito do próprio estofo do corpo (MERLEAU-PONTY,1964b,p. 19). Depreende-se, então, da filosofia de Merleau-Ponty e, particular- mente, do seu conceito de carne, um modelo de homem que não se insere no pensamento dualista ocidental, já que se situa para além das dicotomias corpo-alma, sujeito-objeto, interior-exterior e individual- social. Este homem, que sempre está entrelaçado com o mundo, não é o centro do mundo. Ele o constitui tanto quanto o mundo constitui a ele, de tal modo que não existe um centro. A partir de uma crítica ao humanismo antropocêntrico, identificou-se a necessidade urgente de uma (re)formulação da concepção de homem na prática de um humanismo histórico e cultural em psicologia. É assim que não se trata apenas de utilizar-se da fenomenologia de Merleau-Ponty para fundamentar a psicologia humanista-fenomenológica. No momento em que isto ocorre, modifica-se a concepção de ser humano em que se baseia esta psicologia. Já não é uma psicologia centrada na pessoa. A elaboração pertinente dessa visão de homem parece ser então, um passo fundamental. Transcende a ideia de centramento que aprisiona as abordagens psicológicas humanistas, impedindo-as de realizar-se fenomenologicamente, tal como elas se propõem. É preciso que a sua 40 CLÍNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA I fundamentação se dê sobre uma concepção de homem enquanto ser- no-mundo e, como tal, como fenômeno em mútua constituição com o mundo. Somente assim será possível o desenvolvimento de uma psicologia cujo modelo teórico realmente seja comprometido com a história, considerando que homem e mundo são entendidos em mútua constituição (MORElRA,2001a, 2007). LIMITES E PERSPECTIVA? DA INTERVENÇÃO CLíNICA FENOMENOLOGICA MUNDANA Este capítulo tratou, basicamente, dos fundamentos históricos, epistemológicos e filosóficos do que atualmente pode ser chamado de psicoterapia humanista-fenomenológica. Ou seja, discute como surgiu esta vertente teórica e sugere o pensamento de Merleau-Ponty como possível eixo filosófico e epistemológico para seu desenvolvimento. O passo seguinte é pensar em seus possíveis campos de aplicação, tema que, embora não seja o objetivo aqui, não pode deixar de ser mencionado. Primeiro porque não se pode esquecer que estamos falando de campos epistemológicos diferentes quando nos referimos à psicoterapia e à filosofia. O cuidado de não confundir conceitos e campos é fundamental, o que não impossibilita a utilização do método - no caso, o método fenomenológico - em psicologia. Em segundo lugar, quando estamos tratando do método fenomenológico com base no pensamento de Merleau-Ponty e em campos de aplicação na Psicologia, estamos tratando em primeira instância da busca do significado da experiência vivida. Ea experiência terá lugar nos diferentes campos de aplicação da psicologia, o que sugere a necessidade de futuros estudos nestes diferentes campos específicos, entre os quais a psicoterapia e a psicopatologia. Não se pode esquecer que a pesquisa relatada neste capítulo propõe uma psicoterapia para além da pessoa. Ou seja, trata-se de um desenvolvimento teórico no campo da clínica em psicologia. No entanto, ainda que esse fato deva ser levado em conta, não necessariamente representa um limite para a utilização desta proposta nos mais diversos campos da psicologia. Aliás, na história da psicologia, não é a primeira vez e provavelmente não será a última, em que teorizações desenvolvidas no âmbito da clínica se ampliam para teorias do desenvolvimento humano ou teorias pedagógicas, tal como ocorreu com o próprio Rogers. No caso desta proposta, ainda que se tenha originalmente estudado especificamente a psicoterapia, seu próprio caráter mundano, que entende o fenômeno clínico em seus múltiplos VIRGINIA MOREIRA 41 contornos, nos leva a pensar cada vez mais em intervenções clínicas que sejam facilitadoras, mas que não necessariamente se inseram no modelo de uma psicoterapia mais tradicional, seja individual ou grupal. Pensar neste caminho abre possibilidades de que o psicólogo atue em situações diversas, seja em hospitais, serviços de plantão, escolas ou organizações, sempre tendo em conta sua mundaneidade e a do outro com que ele está se relacionando e buscando ajudar na qualidade de psicólogo. Em estudos mais recentes, por exemplo, se propõe uma intervenção clínica facilitadora da cidadania que possa tentar dar conta de uma abordagem crítica e ideológica do fenômeno psicopatológico (MOREIRA2002a e b, 2003a e b, 2008). Em outros estudos, o método fenomenológico tem sido pensado como método de intervenção clínica, que desenvolve técnicas com base na descrição, na redução fenomenológica, na escuta múltipla e na intuição eidética (MOREIRA, 1998b, 2001a; MOREIRA, BARBOSA,BECO & SOARES, 1995), o que se encontra descrito no próximo capítulo deste livro. No âmbito da psicopatologia, a psiquiatria fenomenológica representada, na atualidade, especialmente, pelo pensamento de Tatossian (1997a e b), entre outros, tem, sem dúvida, uma contribuição notável a ser integrada tanto na clínica como na pesquisa que tenham como objetivo compreender a experiência psicopatológica vivida (MOREIRA2001a e b, 2002a, b e c, 2007, 2008); MOREIRA& COELHO,2003). Finalmente, na medida em que estamos falando de um desenvolvimento teórico metodológico com base em uma fenomenologia mundana, os estudos mais recentes da área da antropologia da experiência, tais como os desenvolvidos por Kleinman (1986,1988,1995,1998) e Good (1992, 1994, 1997,2002) podem vir a contribuir de forma bastante enriquecedora, na medida em que trabalham com base na noção de cultura definida como a interseção entre o significado e a experiência (KLEINMAN& GOOD, 1985). Muito mais pesquisa necessita ser feita nessa área. Neste sentido, quem sabe este capítulo pode servir como um convite a estudiosos humanistas que perseguem a utopia de que já nos falava Paulo Freire (1968/2000, 1980 e 1996/2000) em seu humanismo. Independentemente dos limites a serem trabalhados e superados ou da perspectiva a ser utilizada como caminho para sua construção teórica, a psicoterapia humanista-fenomenológica poderá sempre contar com a fenomenologia antropológica mundana como ferramenta crítica que proporciona subsídios à compreensão da experiência vivida. 42 CLíNICA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA REFERÊNCIAS ADVÍNCULA,LTendência atualizante e vontade de potência: um paralelo entre Rogers e Nietzsche. Psicologia: Terapia e Pesquisa, v. 7, n. 2, p. 201-214,1991. AMATUZZI,M. O resgate da fala autêntica. Campinas: Papírus, 1989. BlANKENBURG,W Laperte de l'evidence naturelle. Paris: Presses Universitaires de France, 1971. BELÉM, D. Abordagem Centrada na Pessoa: um olhar contemporâneo. 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