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AN02FREV0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE LITERATURA BRASILEIRA, LITERATURA PORTUGUESA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV0 2 CURSO DE LITERATURA BRASILEIRA, LITERATURA PORTUGUESA MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 LITERATURA 1.1 AFINAL O QUE É LITERATURA? 1.2 TEATRO 1.3 PROSA DE FICÇÃO 1.4 HISTÓRIA EM VERSO 1.5 OS TEXTOS SEM HISTÓRIA 1.6 NATUREZA DO FENÔMENO LITERÁRIO 1.6.1 Texto 1.6.2 Linguagem literária e não literária 1.6.3 O lugar da teoria literária 1.6.4 O “motivo” da literatura 1.6.5 Existem assuntos “poéticos”? 1.6.6 Denotação e conotação 1.7 GÊNEROS LITERÁRIOS 1.7.1 Gênero lírico 1.7.2 Gênero épico 1.7.3 Gênero dramático 1.8 ESPÉCIES LITERÁRIAS 2 LITERATURA PORTUGUESA 2.1 TROVADORISMO 2.1.1 A lírica trovadoresca 2.1.2 As cantigas ou cantares de amor 2.1.3 As Cantigas ou Cantares de Amigo 2.1.3.1 Classificação das Cantigas de Amigo 2.1.4 Cantiga de Ribeirinha AN02FREV0 4 MÓDULO II 2.2 ELABORAÇÃO E TEMÁTICA DAS CANTIGAS DE ESCÁRNIO E MALDIZER 2.3 CANTIGAS DE AMOR 2.4 CANTIGAS DE AMIGO 2.5 CANTIGAS DE ESCÁRNIO E MALDIZER 2.6 OS CANCIONEIROS 2.7 A LÍRICA TROVADORESCA 2.8 A PROSA DA PRIMEIRA ÉPOCA MEDIEVAL 2.8.1 Novelas de cavalaria 2.8.2 Amadis de Gaula 2.8.3 Demanda de Santo Graal 2.9 HUMANISMO 2.9.1 Fernão Lopes 2.9.2 A poesia palaciana 2.9.3 Gil Vicente 2.9.3.1 Classificação das peças de Gil Vicente 2.9.3.2 Farsa de Inês Pereira 2.10 CLASSICISMO 2.10.1 Luís Vaz de Camões 2.10.2 Barroco anunciado MÓDULO III 2.10.3 Poesia épica 2.10.3.1 Proposição 2.10.3.2 Canto I 2.10.3.3 Canto II 2.10.3.4 Canto III 2.10.3.5 Canto IV 2.10.3.6 Canto V 2.10.3.7 Canto VI 2.10.3.8 Canto VII AN02FREV0 5 2.10.3.9 Canto VIII 2.10.3.10 Canto IX 2.10.3.11 Canto X 2.11 BARROCO 2.11.1 Contexto histórico-social 2.11.2 Padre Antônio Vieira 2.11.2.1 Profecias 2.11.2.2 Cartas 2.11.2.3 Sermões 2.12 ARCADISMO 2.13 NEOCLASSICISMO 2.13.1 Pseudônimos pastoris 2.13.2 Carpe Diem 2.13.3 Fugere Urbem 2.14 NOVA ARCÁDIA 2.14.1 Manuel Maria Barbosa Du Bocage 2.14.1.1 Sonetos MÓDULO IV 3 LITERATURA BRASILEIRA 3.1 O ROMANTISMO 3.1.1 Almeida Garrett 3.1.2 Frei Luís de Sousa 3.1.3 Alexandre Herculano 3.1.4 Camilo Castelo Branco 3.1.5 Júlio Dinis 3.2 LITERATURA INFORMATIVA SOBRE O BRASIL 3.2.1 Momento histórico 3.2.2 A literatura informativa 3.2.3 Literatura dos jesuítas 3.3 ESTILOS DE ÉPOCA 3.3.1 Barroco em Portugal AN02FREV0 6 3.3.2 Arcadismo 3.4 ROMANTISMO 3.4.1 Características gerais 3.4.2 Produção literária 3.4.2.1 José de Alencar 3.4.2.1.1 Romance urbano: Senhora 3.4.2.1 Manuel Antônio de Almeida 3.5 REALISMO/ NATURALISMO 3.5.1 Portugal 3.5.1.1 Prosa – Eça de Queiros 3.5.1.2 Poesia – Antero de Quental 3.5.2 Brasil 3.5.2.1 Aluísio Azevedo 3.5.2.2 Machado de Assis 3.6 SIMBOLISMO 3.6.1 Características 3.6.1.1 Eugênio de Castro 3.6.1.2 Antônio Nobre 3.6.2 BRASIL 3.6.2.1 Cruz e Sousa 3.6.2.2 Alphonsus de Guimaraens 3.7 MODERNISMO EM PORTUGAL 3.7.1 Fernando Pessoa 3.7.2 Alberto Caeiro 3.7.3 Álvaro Campos 3.7.4 Ricardo Reis 3.7.5 Fernando Pessoa – ele mesmo 3.7.6 Mário de Sá Carneiro 3.8 1ª GERAÇÃO MODERNISMO BRASILEIRO – CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS 3.8.1 Autores modernistas 3.8.1.1 Mário de Andrade 3.8.1.1.1 Macunaíma AN02FREV0 7 3.8.1.2 Manuel Bandeira 3.8.1.3 Outros autores 3.9 2ª GERAÇÃO DO MODERNISMO BRASILEIRO 3.9.1 Características específicas 3.9.2 Poetas da 2ª fase 3.9.2.1 Carlos Drummond de Andrade 3.9.2.2 Cecília Meireles 3.9.2.3 Vinícius de Moraes 3.10 PROSA DO MODERNISMO 2ª FASE: 3.10.1 José Américo de Almeida 3.10.2 Rachel de Queirós 3.10.2.1 O Quinze 3.10.3 José Lins do Rego 3.10.4 Jorge Amado 3.10.5 Graciliano Ramos 3.11 POESIA PÓS-MODERNA 3.11.1 João Cabral de Melo Neto 3.11.2 Concretismo 3.11.3 Ferreira Gullar 3.12 PROSA PÓS-MODERNA 3.12.1 Clarice Lispector 3.12.2 Guimarães Rosa 3.13 PRODUÇÕES CONTEMPORÂNEAS 3.13.1 Lygia Bojunga (1932 - ) 3.13.2 Rubem Braga (1913-1990) 3.13.3 Fernando Sabino (1923 - 2004) 3.13.4 Paulo Coelho (1947) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV0 8 MÓDULO I 1 LITERATURA Definir literatura é marcar fins, limites, margens em que um objeto perde sua individualidade e seu nome. Deixa de ser. Dá lugar a algo que precisamente não é mais aquilo de que até então se tratava. O conhecimento – sempre hipotético – dessa linha que demarca o momento em que um ser perde sua identidade e surge um segundo, dele diverso, é o que possibilitaria definições. No caso da literatura, além de estarmos, como em qualquer outro, às voltas com esta questão, estamos também diante de agravantes que tornam ainda mais difícil qualquer aproximação: é que definir literatura se confunde com a definição do poético e da beleza. Ou seja: coloca, de uma penada, em toda a plenitude, a questão estética no centro da discussão. E esta, sabemos, permanece irresolvida, impossível que é desvinculada da questão do gosto, da regência de usos e costumes e situações contextuais, da ideologia, de relativizações de toda ordem. Como disse Paul Valéry a propósito do Romantismo, seria preciso perder toda noção de rigor para tentar esta definição. Sendo assim, fica evidente que do ponto de vista teórico jamais será possível saber em que momento um texto jornalístico, por exemplo, por definição será não literário ou não artístico passe a apresentar, por méritos de seu autor e/ou de sua feitura, características tais que façam dele um texto literário – vale dizer, um texto artístico. Frequentemente, textos que se queriam artísticos não passam de narrativas perfeitamente reconhecíveis como jornalísticas, ao mesmo tempo em que outros, jornalísticos ou historiográficos ou de registros em diários, memórias, etc., decolam de seu estado inicial para alçar o voo do literário e da produção artística. Há casos-limite em que uma coisa é a outra, mas sempre podendo deixar dúvidas em nosso espírito catalogador, de modo que se cria uma “zona neutra”, de impossível definição. Da mesma forma se coloca a questão do poético. Nota-se (digamos logo), aqui nestas palavras, que empreguei expressões como “alçar-se” e AN02FREV0 9 todo um tom de valorização do literário e do artístico em relação aos seus “opostos”. Isto já é um comportamento automático, ideológico, privilegiado de um texto – ou de postura ante os textos – em detrimento de outros. Tudo o que se disser, no campo das definições, está, deve estar sujeito a tais reparos. No momento em que se arbitrar a favor de ir em frente, numa linha de conceitos dada, em detrimento de outras, é preciso saber o que seestá fazendo. Não raramente é preciso ser arbitrário – quando se considera um objeto de estudo, mas é preciso saber o que estamos sendo e fazendo, é preciso ter consciência de que teremos então abandonado algo de nossa consciência crítica, embora tal atitude vise uma finalidade que em seu contexto justifique a decisão. A compreensão do que seja literatura em termos de dicionário é impossível e o leitor dos nossos dias sabe disso: não há mais ingenuidade alguma, pelo menos entre aqueles que possam um dia manusear este livro, capaz de conceber como possível uma definição do tipo dicionário do que seja literatura, poesia, ou o belo. Somente o recurso ao discurso enciclopédia poderá facilitar um pouco a questão e creio que as aproximações sucessivas, os avanços e recuos, as idas e vindas são perfeitamente naturais, aqui. O que não aborrece a prática de alguma ordem e disciplina. 1.1 AFINAL O QUE É LITERATURA? Encontra-se em aspectos variados a palavra literatura. Entretanto, talvez não se saiba ainda dizer o significado dela. Neste caso, mais importante é você entender do que se trata, em vez de tentar gravar o sentido do termo. Agora que é possível perceber o que representa viver numa cultura, já é capaz de perceber que a arte é uma atividade cultural em meio a outras e já captará a importância da palavra em nossa sociedade, estará habilitado a entender o que é literatura. Literatura é o nome que tem sido dado às produções artísticas que utilizam o código verbal, isto é, a língua. Embora haja literatura oral (letras de música e poesia AN02FREV0 10 popular, textos teatrais, por exemplo), a maior parte dos textos literários, hoje, é escrita para se destinar à leitura silenciosa. Vamos imaginar o conjunto de todos os textos do mundo. Ele se divide em dois subgrupos: textos literários e textos não literários. Os dois conjuntos possuem elementos comuns, pontos de interseção, que vão depender da época e do contexto cultural. Por exemplo, em uma época, certos discursos políticos são apreciados como literários, em outra, não. Normalmente, hoje, textos não literários são os científicos, os filosóficos, os noticiosos, entre outros. Mas há textos que estão na interseção e, dependendo de suas características e finalidades, podem ser considerados ou não como literários. É o caso, por exemplo, de muitas biografias, narrativas de memórias ou mesmo de certos trechos de jornal. Seria possível tentarmos distinguir o texto literário do não literário com base no verdadeiro e no inventado. De fato, os textos científicos e jornalísticos devem estar calcados em fatos reais, e a literatura tem sua origem na imaginação do escritor, mesmo quando ela se vale de dados reais. No entanto, às vezes, é impossível separar o verdadeiro do inventado. Pense nas “fofocas” e ficará de acordo com isso. Na literatura, o leitor fica na mesma condição de quem ouve uma “fofoca” será? Não será? Mas as semelhanças acabam por aí, pois no caso da “fofoca” o ouvinte pode resolver tirar tudo a limpo e, no caso da literatura, o leitor, se quiser mesmo ler, vai ter que “embarcar” no que lhe dizem e ler tudo como se fosse a verdade, embora saiba que pode ser pura imaginação. Isso porque o texto literário, como arte que é, cria sua própria “verdade”, por meio da linguagem. Por exemplo, quando Manuel Bandeira diz: Sou bem nascido. Menino Fui como os demais, feliz; Depois veio o mau destino E fez de mim o que quis. Pouco importa que tenha ou não sido assim mesmo a infância do poeta. Para nós, que lemos seus versos, o sentimento e a vivência passam como se fossem reais. Essa é a magia da arte literária. AN02FREV0 11 O artista da palavra consegue essa magia porque sabe criar contextos em que a linguagem revela sentidos pouco evidentes no uso cotidiano. Nesses contextos verbais inesperados, as palavras mostram possuir outros sentidos – conotativos – ocultos sob seu significado próprio – denotativo. Repare nos textos a seguir: “O coração é um músculo oco, de fibras estriadas, revestido externamente pelo pericárdio e dividido por um septo vertical em duas metades. (...) Em cada contração do coração, o sangue é bombeado, com certa pressão, para o interior dos vasos sanguíneos (artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias)” (Demétrio Gowdak) Ah, um soneto... Meu coração é um almirante louco Que abandonou a profissão do mar E que vai relembrando pouco a pouco Em casa a passear, a passear... No movimento (eu mesmo me desloco Nesta cadeira, só de imaginar) O mar abandonado fica em foco nos Músculos cansados de parar. Há saudades nas pernas e nos braços. Há saudades no cérebro por fora. Há grandes raivas feitas de cansaço. Mas esta é boa! – era do coração Que eu falava... e donde diabo estou eu agora Com almirante em vez de sensação?... (Álvaro de Campos) AN02FREV0 12 Ambos os textos descrevem o coração. Em ambos há “músculos” e “movimento/contração”. A primeira oração dos dois textos apresenta pontos marcantes de semelhança: 1. Sintática – sujeito + predicado nominal; 2. Métrica e musical – a do 1° texto tem 9 sílabas, a do 2° tem 10; rima quase perfeita entre “oco e “louco”. Mas com exceção desses aspectos, predominam as diferenças, referentes aos contextos, aos modos de usar a linguagem. É interessante analisar o contexto em que a palavra “coração” aparece. Em ambos os casos ela é o núcleo do sujeito, mas isto não define seu sentido como denotativo ou conotativo. Tudo se esclarece, porém, do segundo termo das orações em diante – predicativo do sujeito: atribuir ao “coração” à característica de “músculo oco, de fibras estriadas...” conduz o leitor à compreensão nítida de que “coração” tem como referente o órgão encarregado de bombear o sangue pelo corpo. Todas as palavras se ajustam umas às outras, reunindo-se num contexto em que a denotação – o sentido próprio – evidencia-se de tal modo que impossibilita a interpretação livre de cada termo. Cabe ao leitor um sentido único, que não lhe exige o senso imaginativo. Agora observe como o autor do segundo texto trabalha com a mesma palavra: quando descreve o “coração” do eu-poético como “um almirante louco”; ele mistura elementos de contexto bem diversos – corpo humano e mundo da navegação. Sabemos que no universo real é impossível um órgão tornar-se um navegante – nem importa se “louco” ou não. O que aconteceu então? O poeta metamorfoseou o mundo “real” num mundo “verbal”. O texto não é uma cópia da realidade – é uma realidade em si mesmo. Nesta realidade, “coração” deixa de indicar denotativamente, “parte do corpo” e carrega-se de conotação – sentido segundo – de “mundo afetivo, sede abstrata de sentimentos, centro do universo emocional”. Além disso, “almirante louco” permite múltiplas interpretações individuais – cada leitor colabora no texto com sua própria visão pessoal desse “coração” poeticamente maluco. AN02FREV0 13 Assim, podemos afirmar que, de modo geral, um texto se define como literário quando sua proposta semântica resulta num discurso aberto à participação do leitor. 1.2 TEATRO Há histórias literárias que são escritas para serem representadas. São chamadas peças teatrais. Quando assistimos a alguma peça, os atores falam e agem diante de nossos olhos, há cenário, figurinos, música nos momentos adequados, luzes, etc. Isso não faz parte da literatura, mas de outra arte: o teatro. Literário dentro da peça é o texto, isto é, aquilo que os atores devem falar, constituindoa base verbal da história que está sendo representada. Ler uma peça pode ser cansativo, pois parece estar faltando algo. De fato, está faltando algo, falta o espetáculo teatral, complemento indispensável ao texto literário que se destina ao teatro. 1.3 PROSA DE FICÇÃO Há histórias literárias, narradas em prosa, destinadas a serem lidas por indivíduos que ora “devoram” livros inteiros, ora leem devagar, um pouquinho de cada vez. São histórias que normalmente aparecem em livros, mas podem aparecer em revistas e mesmo em jornais chamados de literários. São histórias que, às vezes, são contadas em trezentas páginas, outras vezes em três. Costuma-se, no Brasil, dividi-las em três tipos básicos: romances, novelas e contos. Depois você aprenderá a distingui-las. Chamamos qualquer romance, novela ou conto de prosa de ficção. Prosa porque nenhum deles emprega o verso para narrar às histórias. De ficção porque se AN02FREV0 14 trata de histórias baseadas na imaginação do escritor e, mesmo quando calcadas na realidade, não podem ser confundidas com uma notícia ou com uma verdade científica. 1.4 HISTÓRIA EM VERSO Será que existe jeito de contar uma história em verso? Claro que existe: são os chamados poemas narrativos, muito cultivados em épocas mais antigas. Hoje, quem quer contar uma história prefere a prosa de ficção. Entretanto, ainda encontramos bons poemas narrativos de autores contemporâneos, como o Caso do vestido, de Carlos Drummond de Andrade. 1.5 OS TEXTOS SEM HISTÓRIA Até agora falamos de histórias destinadas ao teatro e de histórias narradas para leitura silenciosa. Vimos que essas histórias recebem nomes especiais, de acordo com suas características. Mas, como só falamos em textos que contam histórias, fica a dúvida: afinal, há textos, que não contam histórias? Existem, sim, tais textos. Desde a Antiguidade, e em grande número. São textos chamados de líricos, porque antigamente eram recitados com acompanhamento da lira. Geralmente aparecem em verso, embora existam também em prosa. São textos que tratam de emoções (desejos, dores, revoltas, entusiasmos, amores, etc.), sem narrar acontecimentos. Sua força reside na própria linguagem, que se torna mais densa, mais sugestiva e muito mais carregada de recursos sonoros que a prosa de ficção. Quando estudar os gêneros literários entenderá isso melhor. AN02FREV0 15 1.6 NATUREZA DO FENÔMENO LITERÁRIO Quando procuramos entender a natureza do fenômeno literário devemos nos perguntar o que queremos dizer com “natureza” e “fenômeno”. Só assim entenderemos melhor como eles se aplicam ao literário. Tanto natureza como fenômeno são conceitos filosóficos que comportam um amplo número de significados. Como não se trata de discutir tais conteúdos filosóficos, é importante que o leitor esteja, ao menos, atento ao problema. Natureza aqui significa a preocupação de compreender a especificidade do literário. Natureza é aí tomada na acepção da essência, substância, aquilo que faz com que uma coisa seja aquilo e não outra. Uma definição ou conceituação tende a levar a um entendimento fechado e muitas vezes estático. 1.6.1 Texto Objeto que está lançado diante de alguém, no caso da literatura, o objeto imediatamente diante de nós é o texto. O que é um texto? 1. Texto vem do verbo tecer: é o entrelaçamento de linhas, no caso, as orações e os períodos. 2. A disposição das linhas e seu entrelaçamento, a ocupação e disposição espacial são itens que podem contribuir para a caracterização do literário. Chamamos a esse aspecto o “formato” para diferenciá-lo da forma. O formato está relacionado com a diagramação e tem uma grande importância na chamada literatura infantil. No texto-formato, a ilustração e a diagramação devem ser de tal maneira consonantes, que a sua união faça surgir a harmonia: é a obra enquanto apresentação. A apresentação surge como um esforço de integração entre as facetas do formato e da forma. Antes de entrarmos na tematização do texto enquanto forma especificamente literária, vejamos outras concepções de texto. AN02FREV0 16 3. O texto enquanto tecido de signos repetidos numa cadência regular não é algo em si, mas expressa e manifesta a relação do homem com as realidades e dos homens entre si. Então o texto tem de ser visto e relacionado a três referentes: o homem, a realidade e a expressão. Explicitamente, podemos fazer um corte e determo-nos num dos referentes, mas implicitamente os outros dois sempre estarão obrigatoriamente presentes. Isto é importante para penetrar no entendimento de um texto literário, embora qualquer texto implique sempre os três referentes. Começa a ficar claro que a relação do leitor com o texto ultrapassa uma simples relação objetiva. Em outras palavras, todo texto é resultado de uma leitura. Uma leitura, enquanto modalidade de relação radical do homem, com a realidade, resulta em produtividade, conforme um texto. Um texto é, pois, em última instância uma elaboração humana, um trabalho. O trabalho é a ação humana pela qual o homem textualizando, significando o real se significa. Por outro lado esta elaboração só encontra sua plenitude na medida em que ao elaborar ele colabora, isto é, pressupõe o outro (socializar) como polo necessário de sua ação significativa. Toda leitura supõe a colaboração, porque o texto não se lê, o instrumento não se lê. Logo, toda elaboração pressupõe o outro, a colaboração. Por outro lado, tal noção evidencia que o texto não se limita ao escrito, implicando, sobretudo o oral. E vai mais longe: uma fotografia, uma estátua, um instrumento, etc., é um texto, na medida em que expressa uma relação do homem com o real. Entre tantas modalidades de texto, quando um texto é especificamente literário? Este é o grande problema. Não há uma fórmula pronta e acabada que dê a resposta. O que há são muitos encaminhamentos, tentativas de compreensão. O caminho mais correto é o leitor apreender essas focalizações, pensá-las criteriosamente, sobretudo na leitura das grandes obras literárias (o mais importante), e assim ir configurando, dinamicamente, a compreensão do fenômeno literário. Portanto, em um processo radicalmente dialético. É a constatação do óbvio: o mestre pode ensinar as mais excelentes técnicas de nadar, mas o aluno aprende a nadar... nadando...então é inútil a presença da teoria literária? Não. Podemos usar outra metáfora. Digamos que a literatura é uma floresta. Penetrar e movimentar-se nela, é difícil. Numa primeira etapa, percorremos as trilhas já abertas e conhecidas. De posse destes AN02FREV0 17 caminhos, querendo conhecer melhor a floresta empreendemos a abertura de novas trilhas. É uma procura que entusiasma, por isso gratificante. 4. Numa distinção simples, podemos apontar duas espécies de texto: o texto-objeto e o texto-obra. O texto-objeto é constituído, sobretudo pelo discurso referencial cotidiano e técnico. Nele predomina uma oposição entre sujeito e objeto, em que o sistema expressivo, como tal, é colocado em plano secundário. Se alguém quer transmitir uma ordem ou então enunciar uma instrução técnica, não vai escolher palavras bonitas nem elaborar frases harmoniosas. O importante é ser compreendido o mais claramente possível, daí ser objetivo e prático. Noutras palavras, tal texto será tanto melhor quanto for objetivo, impessoal, útil e funcional. Um texto é literário quando começa a ultrapassar essa utilidade e funcionalidade. Não que deixe de ser útil e funcional. Quando se usam os textos literáriosna escola para instruir, eles são úteis e funcionais. Mas além dessa, apresentam outras dimensões. O texto literário é um texto-obra que lança mão do discurso metafórico. O poder metafórico, por sua plurissignificação, põe em tensão o emissor e o receptor, o leitor e a realidade (lida), de tal maneira que entre esses dois polos se estabelece uma relação produtiva, dinâmica, daí texto-obra – ou texto que opera transformações e manifestações. Dom Casmurro, de Machado de Assis, é um texto- obra – por ser ambígua, geração de leitores e críticos vêm debatendo o “caso” Capitu: do julgamento moral (adultério) à interpretação psicanalítica. O importante não é decidir quem está certo, mas atender para a produtividade de interpretações. PARA SABER MAIS... Machado de Assis - Um mestre na periferia http://portal.mec.gov.br/machado/index.php?option=com_content&task=view&id =157&Itemid=158 AN02FREV0 18 1.6.2 Linguagem literária e não literária Na literatura, as palavras podem não ter o mesmo valor das palavras que utilizamos na vida diária. Em nosso cotidiano, as palavras têm um valor utilitário, ao passo que, se usadas no texto literário, adquirem valor artístico, podendo criar um mundo poético ou ficcional, por meio da maneira como são usadas. O artista da palavra pode nos retratar uma realidade ao seu modo. A realidade literária (a criação literária) pode estar em desacordo com a realidade sensível, objetiva. A linguagem literária é conotativa, utiliza figuras (palavras de sentido figurado), em que as palavras adquirem sentidos mais amplos do que geralmente possuem. Na linguagem literária há preocupação com a escolha e a disposição das palavras, que acabam dando vida e beleza a um texto. A linguagem não literária é objetiva, denotativa, preocupa-se em transmitir o conteúdo, utiliza a palavra em seu sentido próprio, utilitário, sem preocupação artística. INDICAÇÃO DE LEITURA Dom Casmurro- Machado de Assis http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action =&co_obra=1888 AN02FREV0 19 Portanto, a literatura é de grande importância, porque é a expressão do ser humano e da vida, e porque retrata épocas, costumes e ideias. 1.6.3 O lugar da teoria literária A teoria literária, desde o início do século XX, debruçou-se sobre os problemas que o termo literatura assumiu, em consonância com as transformações históricas e sociais focalizando a literatura em diferentes posições. Considerando a literatura como floresta, rica de espécies, flores e frutos, verão que tais encaminhamentos abriram muitas trilhas e clareiras, mas devemos caminhar atentos, pois tais caminhos devem revelar a floresta e é a ela que devemos ficar atentos. Quem quiser eleger um caminho como único convirá que é limitar o conhecimento da floresta. Por outro lado só se conhece a floresta penetrando nela. O método (palavra grega que significa “caminho para”) de compreensão da natureza do literário não pode concebê-la como um objeto distante de um sujeito que, munido de uma teoria ou conceito, vai alcançá-la. Só se compreende a literatura lendo-a, como só se conhece a floresta percorrendo-a. 1.6.4 O “motivo” da literatura Uma literatura faz-se com obras. Porém, como distinguir uma obra literária de uma não literária? As especializações dos saberes tornaram mais agudas e pertinentes este problema. A química, a física, a matemática, a política, etc., sabem bem qual é o seu objeto de conhecimento. E a literatura? Teria ela afinal um objeto ou será que isso não é um problema de determinado momento histórico que legitima certas formas em detrimento de outras? Vidas Secas, de Graciliano Ramos, é literatura, sem dúvida nenhuma, assim como tantos outros romances dramas e poemas. Nessa ótica de objeto específico do literário, poderia se dizer o mesmo dos Sermões do Padre Antônio Vieira, da História do Brasil, de Frei Vicente do AN02FREV0 20 Salvador? Mais recentemente temos de Fernando Veríssimo, O analista de Bagé e As memórias de Pedro Nava já no sexto volume. São literaturas? É difícil negar que não sejam. O termo literatura, além da simples designação da bibliografia ou texto escrito, denomina também certo tipo de obras que teriam algo em comum com as plenamente aceitas como literárias, de caráter estritamente estético e ficcional. Por outro lado, a indústria cultural pública tem uma enorme quantidade de obras em que o “ficcional” predomina e que, no entanto, não são consideradas literárias. As agências de propaganda, onde trabalham muitos escritores, produzem textos comerciais utilizando muitos dos recursos retóricos e poéticos: É literatura? Diante de tantas formas de literatura o que considerar como uma obra literária? Para definir a natureza do literário devemos atender ao momento histórico e seu contexto, que pela classe dominante institui os parâmetros de legitimação do literário, à “criatividade” do escritor, aos recursos estilísticos e retóricos do texto, ao “gosto” dos leitores segundo a indústria cultural? Parece mais fácil para os teóricos da literatura apontar dificuldades do que propor soluções. Isso mostra a complexidade do problema, sendo uma forma de ir expondo a natureza do literário. 1.6.5 Existem assuntos “poéticos”? Qualquer assunto pode inspirar uma obra de arte, desde que o autor trabalhe bem, transmita a emoção estética. As palavras estão aí, à disposição de qualquer pessoa. Se houvesse palavras literárias em si mesmas, para escrever um poema bastaria comprar um dicionário de palavras poéticas na livraria da esquina e pronto! Mais um novo poeta na praça! Porém, não há uma hierarquia de palavras: as comuns, para os míseros mortais; as difíceis, para os professores, políticos e intelectuais; e as poéticas. Isso não ocorre, pois todas as palavras podem se tornar literárias; o que as transforma é o arranjo, a relação nova dada entre elas. AN02FREV0 21 “Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra.” (Carlos Drummond de Andrade) A língua já foi comparada a um dicionário, de modo que os exemplares idênticos são distribuídos entre os indivíduos, e cada indivíduo pode fazer uso desse “dicionário” de forma particular, desde que obedeça a algumas regras gerais da língua. Desta forma, ao realizar um ato de comunicação verbal, o indivíduo escolhe, seleciona as palavras, para depois organizá-las, combiná-las, conforme a sua vontade. E todo esse trabalho de seleção e combinação não é aleatório, não é realizado por acaso (afinal, seleção significa “escolha fundamentada”), mas está intimamente ligado à intenção de quem fala ou escreve. Quando esta intenção está voltada para o próprio texto, quer na sua estrutura, quer na seleção e combinação das palavras, ocorre a função poética da linguagem. Ao selecionar e combinar de maneira particular e especial as palavras, o poeta procura obter alguns elementos fundamentais da linguagem poética: • O ritmo; • A sonoridade; • O belo e o inusitado das imagens. Importante é perceber que a função poética não é exclusiva da poesia; você poderá encontrá-la em textos escritos em prosa, em anúncios publicitários e mesmo na linguagem cotidiana. A seguir, alguns exemplos da função poética da linguagem: “Diante dele, as pessoas, as coisas, perdiam o peso de ser. Os lugares, o Mutum – se esvaziavam, numa ligeireza, vagarosos. E Miquilim mesmo se achava diferente de todos. Ao vago, dava a mesma ideia deuma vez, em que, muito pequeno, tinha dormido de dia, fora de seu costume – quando acordou, sentiu o AN02FREV0 22 existir do mundo em hora estranha, e perguntou assustado: - Uai, Mãe, hoje já é amanhã?!” (Guimarães Rosa) A palavra Já não quero dicionários Consultados em vão. Quero só a palavra Que nunca estará neles Nem se pode inventar Que resumiria o mundo E o substituiria. Mais sol do que o sol, Dentro da qual vivêssemos Todos em comunhão, Mudos, Saboreando-a. (Carlos Drummond de Andrade) O texto de Guimarães Rosa, escrito em prosa, é um brilhante exemplo da função poética da linguagem. Nele predomina a linguagem figurada, resultante da seleção e da combinação especial de palavras. Dessa forma, mesmo isoladas do contexto, as frases têm um valor, porque o foco está na própria arrumação da mensagem. É o que ocorre em “os lugares se esvaziam, numa ligeireza, vagarosos” ou “sentiu o existir do mundo em hora estranha” ou ainda “hoje já é amanhã?”. O poema de Drummond apresenta dois aspectos interessantes. Por um lado, trata-se de um poema cujo tema é a palavra: Drummond se utiliza da palavra (do poema) como meio para fazer reflexões sobre a própria palavra – temos, aqui, uma função da linguagem chamada metalinguística. Por outro lado, o poema é também o fim: sua materialização se dá por intermédio da palavra – temos, aqui, a função poética da linguagem. AN02FREV0 23 1.6.6 Denotação e conotação A linguagem humana difere da comunicação animal por envolver um trabalho mental, pois o homem, ao contrário do animal, retém o significado de uma palavra. E mais: o homem tem imaginação criadora e a usa frequentemente. Dessa forma, na linguagem humana, uma palavra pode ter seu significado ampliado, remetendo-nos a novos conceitos por meio de associações, dependendo de sua colocação numa determinada frase. Como exemplo, compare os dois casos que seguem: 1. Ele está com a cara manchada. 2. “Deus me fez um cara fraco, desdentado e feio”. (Chico Buarque de Holanda) No primeiro exemplo, a palavra cara significa “rosto”, a parte anterior da cabeça, conforme consta nos dicionários. Já no segundo exemplo, a mesma palavra teve seu significado ampliado e, por uma série de associações, entendemos que significa “indivíduo”, “sujeito”, “pessoa”. Às vezes, numa mesma frase pode apresentar duas (ou mais) possibilidades de interpretação. João quebrou a cara. Em seu sentido literal, frio, impessoal, a frase significa que João, por um acidente qualquer, fraturou o rosto. Entretanto, podemos entendê-la num sentido figurado, como “João se saiu mal”, isto é, foi malsucedido em algo que tentou fazer. Pelos exemplos, nota-se que uma mesma palavra pode apresentar variações em seu significado, ocorrendo, basicamente, duas possibilidades: AN02FREV0 24 • Na primeira, a palavra apresenta seu sentido original, impessoal, independente do contexto, tal como aparece no dicionário; nesse caso, prevalece o sentido denotativo – ou denotação – do signo linguístico; • Na segunda, a palavra aparece com significado alterado, passível de interpretações diferentes, dependendo do contexto em que é empregada; nesse caso, prevalece o sentido conotativo – ou conotação – do signo linguístico. A linguagem poética explora o sentido conotativo das palavras, num contínuo trabalho de criar ou alterar o significado, já cristalizado, dessas mesmas palavras. Dessa forma, ao interpretar o sentido conotativo das palavras, o leitor transforma-se em leitor-ativo, em tradutor, em coautor do texto. Para tanto, é preciso sempre estar atento ao contexto, que nos fornecerá indicações concretas para decifrar o jogo denotação/conotação. 1.7 GÊNEROS LITERÁRIOS A ideia de que existem gêneros literários é das mais antigas e, por isso mesmo, vem sendo questionada ao longo dos tempos, gerando permanente polêmica em torno do assunto. O que se entende por gêneros literários pode ser resumido na própria etimologia do vocábulo “gênero”, oriundo do latim genus-eris, que significa tempo de nascimento, origem, classe, espécie, geração. Deste modo, toda obra literária se origina de uma determinada época e uma determinada cultura, ou seja, é gerada num certo tempo e num certo espaço, filiando-se a uma determinada classe ou espécie ou inaugurando um novo horizonte por meio de um conjunto próprio de regras. O primeiro problema que se coloca é se essa filiação depende de um princípio de rígida obediência a regras preexistentes, ou nas matrizes atemporais; ou se ela pode se adaptar a acrescentar a si mesma outras normas próprias do tempo ou do momento cultural em que brota. O segundo problema diz respeito à possibilidade de uma obra particular pertencer simultaneamente a mais de um gênero. AN02FREV0 25 Percorrendo a vida deste conceito, verificamos que, por intermédio dos tempos, enquanto alguns teóricos defenderam a tese da imutabilidade dos gêneros, como se fossem organismos permanentes que deveriam ser respeitados em toda a sua estruturação, outros propugnaram por uma liberação desses modelos, na defesa da liberdade criadora que não pode ser limitada por nenhuma regra anterior. Entre estas duas posições extremas, também encontramos algumas outras que, sem negar os modelos primitivos, vêm com a função de orientar a compreensão do leitor para que a sua apreciação se dê de uma forma mais efetiva, e os entendem como formas, sempre prontas a dialogar com várias épocas. Em todo caso, parece haver um consenso na atribuição de importância ao conhecimento das regras que deram origem aos diversos gêneros, pois estas traduzem os ideais estéticos então vigentes. A história, reflexo das realizações humanas, é dinâmica, o que não impede que levemos em consideração a existência de certas convenções estéticas de que a obra participa e que lhe dão certa modelização. Toda obra artística é autônoma em sua validade estética, mas não é independente da cultura de sua época e das influências da cultura de épocas anteriores: assim como nós, seres humanos, que também temos as nossas marcas genéticas e as que vamos adquirindo na nossa trajetória existencial, que nos tornam diferentes dos outros seres com que convivemos e, ao mesmo tempo, semelhantes a eles – em se tratando de elementos comuns a nossa condição humana. Precisamos estar alertas para reconhecermos e acolhermos as novas possibilidades criadoras que realmente possam participar da grande família composta por meio dos tempos, pelos gêneros literários. De acordo com a concepção clássica há três gêneros literários: lírico, épico e dramático. 1.7.1 Gênero lírico É certo tipo de texto no qual um eu lírico (a voz que fala no poema, que nem sempre corresponde a do autor) exprime suas emoções, ideias e impressões ante o AN02FREV0 26 mundo exterior. Normalmente os pronomes e os verbos estão em 1ª pessoa e há o predomínio da função emotiva da linguagem. Observe o lirismo do seguinte verso. “Ardo em desejo na tarde que arde! Oh, como é belo dentro de mim. Teu corpo de ouro no fim da tarde: Teu corpo que arde dentro de mim Que ardo contigo no fim da tarde”. (Manuel Bandeira) Atualmente também se fala de lirismo no cinema, na fotografia, na pintura, na melodia de uma música. Quase sempre o sentido dado à palavra, nesses casos, está relacionado à emoção e à subjetividade. A palavra lírica origina-se de lira, instrumento musical muito utilizado pelos gregos a partir do século VII a.C. Chamava-selírica a canção que se entoava ao som da lira. Havia, portanto, entre o som e a palavra uma junção, que perdurou até o século XV, quando os poemas se distanciaram da música e passaram a ser lidos ou declamados. 1.7.2 Gênero épico Há a presença de um narrador, que quase sempre conta uma história que envolve terceiros. Isso implica certo distanciamento entre o narrador e o assunto tratado, o que não ocorre no gênero lírico. Os verbos e os pronomes quase sempre estão em 3ª pessoa, porque se trata “dele” ou “deles”. Além disso, os textos épicos pressupõem a presença de um ouvinte ou de uma plateia. Os textos épicos são geralmente longos e narram histórias de um povo ou de uma nação. Envolvem aventuras, guerras, gestos heroicos e apresentam um tom de exaltação, isto é, valorizam os heróis e seus feitos. AN02FREV0 27 Os poemas épicos intitulam-se epopeias. As principais epopeias da cultura ocidental são Ilíadas e Odisseia, de Homero; Eneida, de Virgílio; Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões; Paraíso Perdido, de Milton; e Orlando furioso, de Ludovico Ariosto. No Brasil, foram feitos vários poemas épicos, muitos deles seguindo o modelo de Camões. Os mais importantes são Caramuru, de Santa Rita Durão, e O Uruguai, de Basílio da Gama. Atualmente, podem-se chamar épicos certos filmes cujos temas são aventuras ou guerras que definem a história de um povo. São considerados épicos, por exemplo, filmes como Gandhi, de Richard Attenborough, e Quilombo, de Carlos Diegues. 1.7.3 Gênero dramático Trata-se do texto escrito para ser encenado no teatro. Nesse tipo de texto não há um narrador contando a história. Ela “acontece” no palco, ou seja, é representada por atores, que assumem os papéis das personagens. Todo o texto se desenrola a partir de diálogos obrigando a uma sequência rigorosa das cenas e de suas relações de causa e consequência. Há a concepção clássica e moderna: na moderna leva-se em consideração modalidades de textos que não existiam no tempo de Aristóteles. Todas elas se filiam à modalidade narrativa e, por isso, são gêneros que apresentam parentesco com os poemas épicos. A partir do século XIX, os poemas épicos começaram a desaparecer dando lugar a um gênero novo, de grande aceitação pelo público burguês: o romance. Contudo, já desde a Idade Média vinham surgidos outros tipos de textos narrativos, mais curtos, como a novela e o conto. No Brasil, além da novela e do conto, vem se firmando um gênero narrativo pouco conhecido no exterior, a crônica, que já encontrou grande expressão em nossa literatura, por meio de escritores como Machado de Assis, Rachel de Queiroz, Rubem Braga, Luís Fernando Veríssimo e outros. AN02FREV0 28 De modo geral, procura-se diferenciar esses gêneros narrativos modernos levando em conta critérios como tamanho, tempo e espaço narrativo, número de personagens, número de conflitos. Assim, supõem-se que um romance, comparado ao conto, narre uma história na qual tempo e espaço sejam mais amplos, haja várias personagens e várias histórias organizadas em torno de uma história central. Já a crônica é marcada pela brevidade temporal, apresentando episódios captados com sensibilidade pelo cronista, que extrai deles momentos de humor e reflexão sobre a vida e o mundo. 1.8 ESPÉCIES LITERÁRIAS Lírico: centrado no eu; função poética da linguagem ligada à emoção; o mundo exterior simboliza emoções; não há histórias, passagem de tempo, tudo é presente. Exemplos: • Elegia; • Ode; • Canção; • Écloga; • Madrigal; • Prosa poética; • Outras espécies. Épico: narrativo, seus elementos são: narrador, personagens, tempo, espaço, apresentado por meio de: narração, descrição, diálogo e dissertação. Exemplos: • Romance; • Conto; • Novela; • Epopeia. AN02FREV0 29 Dramático: são peças teatrais, condensação, diálogos, ausência de narrador. Exemplos: • Tragédia; • Comédia; • Drama. LITERATURA PORTUGUESA 2.1 TROVADORISMO O primeiro período da história da literatura portuguesa principiou em 1189 ou 1198, data presumível da composição do mais antigo texto literário português, a chamada “Cantiga da Ribeirinha”. Esse período se estendeu até 1418 ou 1434, anos em que Fernão Lopes foi nomeado respectivamente guarda-mor da Torre do Tombo e cronista-mor do Reino Português. O trovadorismo, também chamado de Primeira Época Medieval, é rico em manifestações poéticas, ao lado das quais surgem algumas em prosa. Para que compreendamos satisfatoriamente, é necessário investigarmos um inovador movimento literário que, aproximadamente entre 1100 e 1210, floresceu no sul da atual França, numa região chamada Occitania, da qual fazia e faz parte a Provença. No trovadorismo merecem destaque as manifestações poéticas, comumente agrupadas sob o nome de lírica trovadoresca ou lírica galego-portuguesa. Trata-se de poemas produzidos para serem cantados – as cantigas ou cantares – elaborados em galego-português ou galaico-português, língua que corresponde a uma fase arcaica do português. As cantigas galego-portuguesas são divididas em três tipos: as cantigas de amor, as cantigas de amigo e as cantigas de escárnio e maldizer. Nas cantigas de amor e de amigo, desenvolve-se a temática amorosa; as cantigas de escárnio e maldizer têm finalidades satíricas. AN02FREV0 30 Nesse mesmo período ocorreram também algumas manifestações em prosa. Sem alcançar o mesmo grau de refinamento e elaboração da poesia, esses textos representam as manifestações iniciais da prosa literária portuguesa, que se afirmará definitivamente a partir do Humanismo, com Fernão Lopes. Destacamos as novelas de cavalaria, narrativas de cometimentos heroicos de cavaleiros medievais, de que são exemplos A Demanda do Santo Graal e o Amadis de Gaula. 2.1.1 A lírica trovadoresca Na lírica do trovadorismo há três tipos diferentes de poemas: as Cantigas de Amor, as Cantigas de Amigo e as Cantigas de Escárnio e Maldizer. Compostas para serem cantadas, essas cantigas representam uma época em que poesia e música não se haviam ainda dissociado. Constituem, além disso, a fixação de uma apurada técnica de composição poética e de uma concepção de amor que se farão sentir em vários momentos da literatura posterior como o Romantismo, o Simbolismo e até mesmo a música popular de nossos dias. Como já dissemos, a produção lírica do Trovadorismo português apresenta tipos diferentes de poemas: as Cantigas de Amor, as Cantigas de Amigo e as Cantigas de Escárnio e Maldizer. Compostas para serem cantadas, essas cantigas representam uma época em que poesia e música não se haviam ainda dissociado. Constituem, além disso, a fixação de uma apurada técnica de composição poética e de uma concepção de amor que se farão sentir em vários momentos da literatura posterior como o Romantismo, o Simbolismo e até mesmo a música popular de nossos dias. 2.1.2 As cantigas ou cantares de amor É provável que, num primeiro contato com a língua galego-portuguesa, você se assuste um pouco. Para facilitar seu trabalho, vamos por partes: inicialmente, AN02FREV0 31 preocupe-se em ler o texto, procurando captar-lhe a sonoridade, prestando atenção à regularidade dos versos e ao esquema de rimas (que são as mesmas nas três estrofes). Uma observação: em galego-português algumas palavras tinham pronúncia diferente da nossa: é o caso do ditongo eu, pronunciado de forma aberta (“eu”, “meu”, “Deus” e das terminações –or e –osa, sempre fechadas “melhor”, “fremôsa”).Quer’eu en maneira de provençal Fazer agora un cantar d’amor E querei muit’i loar mia senhor, A que prez nen fremusura non fal, Nen bondade, e mais vos direi en: Tanto a fez Deus comprida de ben Que mais que todas lãs do mundo val. Ca mia senhor quiso Deus fazer tal Quando a fez, que a fez sabedor De todo bem e de mui comunal, Ali u deve; er deu-lhe bom sem E dês i non quis que lh’outra fosse igual. Ca en mia senhor nunca Deus pôs mal, Mais pôs i prez e beldad’e loor E falar mui bem e riir melhor Que outra molher; dês i é leal Muit’, e por esto non sei oj’eu quen Possa compridamente no seu hen Falar, ca non á, tra-lo seu ben, al. D. DINIS. In. Poesia e prosa medieval. Lisboa: Odisseia, s.d.p.59. Feita a leitura em voz alta e captada a musicalidade do texto, vamos agora a sua tradução para nossa língua (preocupamo-nos com o sentido das palavras do texto). AN02FREV0 32 Quero eu na maneira do provençal Fazer agora um cantar do amor E quererei muito louvar minha senhora, A quem boas qualidades e formosura não faltam, Nem bondade, e ainda vos direi isto: Tanto a fez Deus perfeita do bem Que mais que todas as do mundo vale. Pois minha senhora quis Deus fazer de tal maneira Quando a fez, que a fez conhecedora. Do todo bem e de muito grande valor E como tudo isso é muito sociável Ali onde deves; também lhe deu bom senso. E, além disso, não lhe fez pouco bem, Quando não quis que nenhuma outra lhe fosse igual Pois em minha senhora nunca Deus pôs mal Mas pôs nela qualidade e beldade e louvor E falar agradável e rir melhor Que outra mulher; além disso, é muito Leal, e por isso eu não conheço hoje quem Possa perfeitamente no seu bem Falar, pois não há, além do seu bem, qualquer outro. O assunto do poema é um só: louvar as virtudes da mulher amada, enumerando-as e chegando a repetir algumas delas. Dessa forma, a dama de que fala o sujeito lírico apresenta qualidades morais e formosura; bondade e valor não lhe faltam, além de ser sociável e de ter bom-senso, juntamente com um modo de falar e de rir insuperáveis. Tanto bem possui essa mulher que o poema termina afirmando que não se conhece quem seja capaz de falar adequadamente dos atributos físicos e espirituais dessa dama. AN02FREV0 33 Essa disposição de louvar a mulher amada deriva de uma proposta, fixada nos primeiros versos do texto: a de fazer um cantar de amor de acordo com a maneira provençal. Tal proposta nos remete ao modelo a partir do qual as cantigas de amor foram produzidas na lírica galego-portuguesa: a poesia provençal. A Provença localiza-se na região da Occitania, que corresponde ao sul da França atual. Aproximadamente no século XII, essa região conheceu um movimento poético de grande intensidade, a lírica provençal. Os poetas da Provença desenvolveram uma refinada arte poética, caracterizada por técnicas de composição e versificação muito apuradas – a chamada “Gaia Ciência” – e por uma temática amorosa centralizada no amor cortês. O amor cortês na poesia provençal surgiu nas cortes provençais; é um código amoroso que se caracteriza pelo fato de o poeta tornar-se um vassalo de sua dama, passando a servi-la. É, portanto, uma forma literária de reproduzir a vassalagem medieval, em que o cavaleiro prestava homenagem e devia fidelidade a seu suserano. O código do amor cortês era bastante elaborado e possuía algumas regras estritas: o poeta passava por vários graus de relacionamento com sua dama, mas era sempre impedido de citar-lhe o nome em suas composições. O amor era idealizado e se confundia com uma forma de aprimoramento espiritual, uma vez que a dama, dotada de beleza e virtudes elevadas, constituía um ser inalcançável no mundo físico. A poesia brotava justamente dessa tensão: um amor de elevado nível espiritual, irrealizável, alimentava constantemente os versos do trovador. O conceito de amor cortês chegou à corte galego-portuguesa nos séculos XII e XIII e ali deu origem as Cantigas de Amor. As cantigas de amor galego-portuguesa refletiam um ambiente palaciano e uma situação que poucas vezes variava: o sujeito lírico, sempre na voz de um homem, dedicava-se a louvar as virtudes de sua dama (“mia senhor” nos textos, pois em galego-português as palavras terminadas em–or eram uniformes; veja-se, no poema de D. Dinis, sabedor”, forma aplicada à dama), transmitindo-nos uma visão idealizada das qualidades físicas e morais da mulher amada. Outra constante na temática amorosa das cantigas de amor é a queixa contra a indiferença da amada: o sujeito lírico expõe então a chamada coita d’amor, expressão em que coita (de que se formou a palavra coitado) traduz o sofrimento do amante desprezado. É comum AN02FREV0 34 o amante desejar a morte como única forma de escapar à paixão que o atormenta e o faz perder o senso. O texto de D. Dinis que estamos analisando é uma cantiga de mestria, ou seja, uma cantiga que, por não apresentar refrão, indica a mestria do poeta que podemos entender como o domínio técnico que lhe permitia dispensar a repetição de versos. O esquema de rimas é o mesmo nas três estrofes. Dirigidas do homem para a mulher, as cantigas de amor retratam o sentimento amoroso masculino. Trata-se de uma cantiga lamentativa, pois, como vimos, o amor declarado é impossível de ser concretizado: a mulher é inatingível ou por ser comprometida ou por pertencer a uma classe social superior. A cantiga é altamente respeitosa e enaltece as qualidades da mulher amada, que é tratada de “mia dona” ou “mia senhor”. A dona que eu am’ e tenho por Senhor Amostrade-mh-a Deus, se vos em prazer for, Se non dade-mh-a morte. Aque tenh’ eu porlume d’estes olhos meus E por que choran sempr(e) amostrade-nih-a [Deus, non dade-mh-a morte. Essa que Vós fezestes melhor parecer De quantas sei, ay Deus, fazede-mh-a Veer, Se non dade-mh-a morte. Ay Deus, que mh-a fezestes mais ca min amar; mostrade-ma-a hu possa com ela falar, Se non dade-mh-a morte. A mulher que eu amo e tenho por Senhora Mostrai-a, a Deus, se for de vosso agrado Se não, dai-me a morte. AN02FREV0 35 A que tenho eu por lume destes olhos meus E por quem choram sempre, mostrai-a a mim, [Deus, se não, dai-me a morte. Essa que vós fizestes ser tão mais bela De quantas conheço, ai Deus, fazei-me vê-la, Se não, dai-me a morte. Ai Deus, que me fizestes mais amá-la, Mostrai-me onde posso com ela falar, Se não, dai-me a morte. (Bernardo Bonaval) 2.1.3 As Cantigas ou Cantares de Amigo Ai flores, ai flores do verde pinheiro, Sabeis notícias do meu namorado? Ai, Deus, onde está? Ai flores, ai flores do verde ramo, Sabeis notícias do meu amado? Ai, Deus, onde está? Sabeis notícias do meu namorado, Aquele que mentiu sobre o que combinou comigo? Ai, Deus, onde está? Sabeis notícias do meu amado, AN02FREV0 36 Aquele que mentiu sobre o que jurou? Ai, Deus, onde está? -Vós perguntais pelo vosso namorado? E eu bem vos digo que está são e vivo. Ai, Deus, onde está? Vós perguntais pelo vosso amado? E eu bem vos digo que está são e vivo. Ai, Deus, onde está? E eu bem vos digo que está são e vivo E estará convosco antes do prazo combinado: Ai, Deus, onde está? E eu bem vos digo que está são e vivo E estará convosco antes de terminar o prazo: E eu bem vos digo que está são e vivo. O texto nos mostra um sujeito lírico feminino que expõea “coita” provocada pela impossibilidade de ver seu “amigo” (homem amado) e de lhe falar do sofrimento que se vê obrigada a suportar: sem descanso, atormentada pela paixão, a mulher decide repousar sob as avelaneiras. Essa situação é comum nas cantigas de amigo. Um sujeito lírico feminino fala de seu amigo expondo o sofrimento que ele lhe causa. Normalmente, trata-se de uma mulher do campo, que, num ambiente rural, sofre pela ausência do amado. Essas cantigas estabelecem vários contrastes com as cantigas de amor: apresentam um sujeito lírico feminino, que se move num universo rural, distante do ambiente cortesão das cantigas de amor; denunciam pouca influência provençal, com uma estrutura poética bastante simples (de origem nitidamente popular) e uma concepção do amor despojada de idealização. As cantigas de amigo originaram-se de uma tradição da própria península ibérica, estando provavelmente ligadas a AN02FREV0 37 antigos rituais pagãos de fertilidade e casamento, pois apresentam sinais evidentes de que eram criadas para serem cantadas em coro enquanto se dançava. 2.1.3.1 Classificação das Cantigas de Amigo As cantigas de amigo podem ser classificadas de acordo com o modo como apresentam o tema. É interessante essa classificação a fim de percebermos a grande variedade temática dessas cantigas: • Albas, alvas ou alvoradas: são as cantigas em que surge o tema da alvorada (nascimento do dia), momento em que os amantes se separam; as cantigas que focalizam o fim da tarde e o cair da noite são as serenas; • Bailias ou balaiadas: cantigas ligadas ao tema da dança; sua estrutura rítmica é paralelística e seu tema é a alegria de viver e de amar; • Barcarolas ou marinhas: cantigas em que surgem o mar ou um rio, normalmente transformado em interlocutor da mulher, que a eles se queixa da ausência do amado; • Cantigas de romaria: o tema dessas cantigas e a peregrinação a algum centro religioso, em que a mulher pedirá a proteção divina para seu amigo ou manterá encontros com ele. As romarias eram ocasião para namoros, divertimentos e bailados; • Pastorelas: o ambiente representado nessas cantigas é o campo, onde a pastora conversa com seu amado, podendo ter também a forma de um diálogo entre um cavaleiro e uma pastora. 2.1.4 Cantiga de Ribeirinha A chamada “Cantiga da Ribeirinha” ou “Cantiga da Guarvaia”, do trovador Paio Soares de Taveirós é considerada a mais antiga composição poética documentada em língua portuguesa, a data de sua redação foi provavelmente 1189 AN02FREV0 38 ou 1198. Essas datas, no entanto, são motivos de muita discussão entre os filólogos que se dedicam a esses estudos, e há quem prefira dizer que o poema não pode ter sido feito antes de 1200. Além disso, o próprio texto ainda não foi definitivamente fixado, havendo variantes interpretativas que chegam a permitir ver no poema uma cantiga de amor ou uma cantiga de escárnio e maldizer. Somam-se a isso mais um motivo de dúvidas, sendo provável que o texto originalmente apresentasse uma terceira estrofe, hoje perdida. Há até uma hipótese recente que contesta a autoria de Paio Soares de Taveirós, atribuindo a cantiga a Martim Soares. Você terá, agora, a oportunidade de ler esse texto tão famoso no Módulo II. FIM DO MÓDULO I