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www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça SIMULADO DE APROFUNDAMENTO 4 - XXII EXAME DE ORDEM Ricardo apresentou queixa-crime contra Harry pelo delito de dano qualificado pelo considerável prejuízo causado para a vítima, nos termos do art. 163, parágrafo único, IV, do Código Penal. Informou a inicial acusatória que no dia 19 de janeiro de 2016, por volta das 23 horas, Harry, com a intenção de danificar o patrimônio de Ricardo, quebrou todo o carro deste, causando-lhe um enorme prejuízo. O Juiz da 3ª Vara Criminal da Comarca de São Paulo, capital do Estado de São Paulo, recebeu a inicial acusatória, vez que, no entendimento do magistrado, esta havia cumprido todos os requisitos previstos no artigo 41 do Código de Processo Penal, embora não houvesse nos autos qualquer laudo pericial que demonstrasse o prejuízo efetivamente causado, ou mesmo que atestasse a materialidade do crime. Citado para oferecer resposta à acusação, o advogado de Harry apresentou- a, arrolando a testemunha Maria e requerendo sua intimação para a audiência. Contudo, na data da referida audiência, apesar de devidamente intimados, querelante e seu patrono não compareceram, nem informaram ou justificaram o motivo da ausência. Assim, apesar da ausência da parte autora, como se encontravam presentes a testemunha Maria, o querelado e seu advogado, o juiz procedeu com a oitiva da testemunha, que indicou que conhecia tanto Harry como Ricardo e que nada sabia sobre o dano ao veículo. Realizado o interrogatório, Harry negou os fatos. Ao término da instrução probatória, sem qualquer outra providência e apesar de não existir prova para a condenação do querelado, nem prova da existência do fato, julgou procedente o pedido formulado na queixa-crime, condenando o querelado a pena de 01 ano e 03 meses de detenção, substituindo a pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, uma vez que presentes os requisitos constantes no art. 44 do Código Penal. Em face da situação hipotética, na condição de advogado constituído por Harry, redija a peça processual adequada à defesa do seu cliente, alegando as teses defensivas pertinentes. (Valor: 5,0) GABARITO COMENTADO Endereçamento correto (Valor: 0,2) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SÃO PAULO CAPITAL DO ESTADO DE SÃO PAULO Processo número: - Endereçamento correto da peça de interposição e indicação do artigo 593, I do Código de Processo Penal. (Valor 0,2) www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça - Estrutura correta (divisão das partes, indicação de local, data, assinatura) (Valor: 0,2) Harry, já qualificado nos autos do processo que lhe move o querelante, às fls.__, por seu advogado formalmente constituído que esta subscreve, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, inconformado com a respeitável sentença condenatória, conforme fls.__, interpor tempestivamente a presente APELAÇÃO com fundamento no artigo 593, I do Código de Processo Penal. Requer que, após o recebimento desta, com as razões inclusas, ouvida a parte contrária, sejam os autos encaminhados ao Egrégio Tribunal, para processamento e provimento do presente recurso. Termos em que, Pede deferimento. São Paulo, capital do Estado de São Paulo, data. Advogado, OAB. Endereçamento correto das Razões do Recurso (Valor 0,2) RAZÕES DA APELAÇÃO RECORRENTE: RECORRIDO: PROCESSO NÚMERO: EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO COLENDA CÂMARA ÍNCLITOS DESEMBARGADORES Exposição dos Fatos (Valor: 0,25) 1. Dos Fatos Harry está sendo acusado por ter cometido o supostamente crime de dano qualificado, previsto no art. 163, parágrafo único, inciso IV do Código Penal, pois teria depredado o carro do querelante, causando-lhe um enorme prejuízo. Embora não houvesse prova da materialidade do fato, o juiz da 3ª Vara Criminal da Comarca de São Paulo recebeu a queixa-crime e mandou citar o réu para responder por escrito as acusações, tendo sido a resposta regularmente apresentada por advogado constituído aos autos. Designada audiência de instrução e julgamento, o querelante e seu advogado não compareceram, tendo o juiz, ainda assim, procedido com a oitiva da testemunha arrolada na resposta à acusação e o interrogatório do querelado, e, ao término da instrução www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça probatória, apesar de não existir prova para a condenação do agente, nem prova da existência do fato, julgou a queixa-crime procedente contra Harry, condenando-o a pena de 01 ano e 03 meses de detenção, substituindo-a por restritiva de direitos. A sentença, todavia, merece ser reformada. Das Preliminares (Valor: 1,0) - Indicação da preliminar de causa extintiva de punibilidade pela perempção com fundamento no art. 107, IV do Código Penal em combinação com o art. 60, III do Código de Processo Penal. (Valor: 0,6) - Indicação da ausência do exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, por afronta ao artigo 564, III, b em combinação com o artigo 158, ambos do Código de Processo Penal (Valor: 0,3) - Indicação da preliminar de ausência de justa causa para o exercício da ação penal, com fundamento no artigo 395, III do Código de Processo Penal. (Valor: 0,1) 2. Das Preliminares Preliminarmente, cumpre destacar a ocorrência manifesta de causa extintiva de punibilidade em virtude da perempção, com fundamento no art. 107, IV do Código Penal em combinação com o art. 60, III do Código de Processo Penal. Ainda em sede de preliminar, cumpre esclarecer ausência do exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, em afronta ao artigo 158 do Código de Processo Penal, o que caracteriza nulidade, conforme previsão no art. 564, III, “b” do Código de Processo Penal. Diante da ausência da prova da materialidade, evidente a ausência de justa causa para a ação penal, motivo pelo qual a denúncia sequer deveria ter sido recebida, nos termos do artigo 395, III do Código de Processo Penal. Mérito (Valor: 1,7) - Desenvolvimento fundamentado da inexistência de justa causa para o exercício da ação, pois não há prova da existência do fato. (Valor: 0,8) - Desenvolvimento fundamentado acerca da ocorrência da perempção, com a consequente extinção da punibilidade do agente. (Valor: 0,5) - Desenvolvimento acerca da inexistência de prova do crime, o que enseja a absolvição do querelado. (Valor: 0,2) - Desenvolvimento acerca da possibilidade de aplicação de pena mínima e, com isso, os demais benefícios possíveis, como a suspensão condicional do processo. (Valor: 0,2) 3. Do Mérito Cumpre esclarecer ao douto julgador a ausência manifesta de justa causa para o exercício da ação penal. Conforme ensinamento pela melhor doutrina, para a configuração da justa causa são necessários dois requisitos: prova da materialidade do fato e indícios suficientes de autoria. www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça Prova é a certeza inequívoca da ocorrência do delito. Já os indícios se configuram como indicativos de que o acusado tenha efetivamente participado da empreitada criminosa, seja como autor ou partícipe. No caso concreto, restou claro não existir prova da materialidade do fato nem indícios suficientes de autoria. Conforme noticiam os autos, não há qualquer tipo de prova que leve a demonstrarter o acusado praticado a conduta, seja pericial, seja testemunhal. Além disso, é imperioso destacar a ocorrência de causa extintiva de punibilidade em face do instituto da perempção, conforme previsão no art. 107, IV do Código Penal em combinação com o art. 60 do Código de Processo Penal e ocorre quando o querelante não comparece a ato ao qual deveria estar presente, sem justo motivo. Não há, nos autos, qualquer justificativa para a ausência do querelante à audiência de instrução e julgamento. Ressalte-se que este instituto só é aplicável apenas às ações penais de iniciativa privada, sejam as propriamente ditas, sejam as personalíssimas, não se aplicando, todavia, à ação privada subsidiária da pública. O juiz deveria, considerando a disponibilidade que rege a ação penal privada, analisar as hipóteses previstas no art. 60 do Código de Processo Penal, reconhecendo a perempção como forma de sanção, penalidade ao querelante em virtude de sua inércia. Analisando o caso concreto, verifica-se que o querelante, apesar de devidamente intimado juntamente com o seu patrono, não compareceu à audiência de instrução e julgamento, nem justificou o motivo de sua ausência, razão pela qual deveria o nobre julgador ter julgado extinta a punibilidade do agente, conforme preceitua o art. 60, III do Código de Processo Penal. Ainda a título de informação, é visível a nulidade em virtude da falta de exame de corpo de delito. Como o delito imputado, em tese, deixa vestígios, obrigatória passa a realização da perícia técnica, conforme previsão no artigo 158 do Código de Processo Penal. Tal situação suscita nulidade, nos termos do artigo 564, III, “b” do Código de Processo Penal. Cumpre esclarecer ainda, por gosto à lide e amor ao debate, que em sendo a conduta do querelado não amparada pela extinção de punibilidade, o que não se espera, requer-se, de pronto, a aplicação do instituto da suspensão condicional do processo, conforme previsão no art. 89 da lei 9.099/95, uma vez que a pena mínima cominada abstratamente ao crime de dano qualificado é de seis meses, enquadrando-se dentre as hipóteses de concessão do benefício. Além disso, entendendo o Tribunal pela manutenção da condenação, é possível, ainda, doutos julgadores, a aplicação da pena mínima cominada ao delito e o ajuste da substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, na forma do art. 44 do Código Penal. Pedidos (Valor: 1,1) - Pedido de absolvição, com indicação do artigo 386, inciso II, do Código de Processo Penal, em virtude de não haver prova da existência do fato. (Valor: 0,4). www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça - Pedido de extinção de punibilidade em virtude da ocorrência da perempção, na forma do art. 60, III, primeira parte, do Código de Processo Penal em combinação com o artigo 107, IV do Código Penal. (Valor: 0,3) - Pedido de anulação sentença em virtude da existência de nulidade por ausência de corpo de delito, com fundamento no art. 564, III, “b” do Código (Valor: 0,1) - Pedido subsidiário de suspensão condicional do processo, conforme previsão no art. 89 da Lei 9.099/95 (Valor: 0,1) - Pedido subsidiário de aplicação da pena mínima prevista abstratamente ao crime. (Valor: 0,1) - Pedido subsidiário para que, em caso de condenação, seja mantida a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, na forma do art. 44 do Código Penal. (Valor: 0,1) 4. Dos Pedidos Diante de todo exposto, requer a Vossas Excelências a absolvição do réu, com fundamento no artigo 386, incisos II do Código de Processo Penal, visto não haver prova da existência do fato. Ou, ainda, que seja declarada a extinção da punibilidade do querelado em virtude da perempção, na forma do art. 107, inciso IV, do Código Penal, combinado com o art. 60, inciso, III, primeira parte, do Código de Processo Penal. Além disso, em caso de não aceitação de tais pedidos, requer-se a anulação da instrução probatória face a nulidade decorrente da ausência do exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, conforme previsão no art. 564, III, “b” em combinação com o art. 158, ambos do Código de Processo Penal. Requer-se ainda, a título de pedidos residuais, a suspensão condicional do processo, com fundamento no art. 89 da Lei 9.099/95, bem como, em caso de eventual condenação, o que não se espera, a aplicação da pena mínima abstratamente prevista ao delito. Por fim, estabelecida a pena mínima, por ser esta inferior a 01 ano, a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos realizadas pelo douro magistrado deverá ser ajustada, uma vez que a substituição será por uma pena restritiva de direitos ou uma pena de multa, conforme previsão no parágrafo 2º do art. 44 do Código Penal. Indicação correta da Comarca, Estado, Data (Valor: 0,15). Termos em que, Pede deferimento. São Paulo, capital do Estado de São Paulo, data. Advogado, OAB. www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS QUESITO AVALIADO FAIXA DE VALORES ATENDIMENTO AO QUESITO 1. Endereçamento correto (0,2) 0,00 / 0,2 2. Indicação correta do dispositivo que dá ensejo à apresentação do Recurso de Apelação – art. 593, I do Código de Processo Penal (0,2) 0,00 / 0,2 3. Estrutura correta da peça de interposição (divisão das partes, indicação de local, assinatura) (0,2) 0,00 / 0,2 4. Endereçamento correto das Razões do Recurso (0,2) 0,00 / 0,2 5. Exposição dos Fatos (0,25) 0,00 / 0,25 6.1 Indicação da preliminar de causa extintiva de punibilidade pela perempção (0,4). Fundamento no artigo 107, IV do Código Penal (0,1) e artigo 60, III do Código de Processo Penal (0,1) 0,00/ / 0,4 / 0,5 / 0,6 6.2 Indicação da preliminar de ausência do exame de corpo de delito. (0,3) 0,00 / 0,3 6.3 Indicação da preliminar de ausência de justa causa para o exercício da ação penal. (0,1) 0,00/0,1 7.1 Desenvolvimento fundamento acerca da inexistência de justa causa para o exercício da ação (0,6), pois não há prova da existência do fato. (0,2) 0,00 / 0,6 / 0,8 7.2 Desenvolvimento fundamentado acerca da ocorrência da perempção (0,3), com a consequente extinção da punibilidade do agente. (0,2) 0,00 / 0,3 / 0,5 7.3 Desenvolvimento acerca da inexistência de prova do crime, o que enseja a absolvição do querelado. (0,2) 0,00 / 0,2 7.4 Desenvolvimento acerca da possibilidade de aplicação de pena mínima e demais pedidos benéficos (0,2) 0,00 / 0,2 8. Pedidos: - Pedido de absolvição (0,3), com indicação do artigo 386, inciso II do Código de Processo Penal (0,1). - Pedido de extinção de punibilidade em virtude da ocorrência da perempção (0,2), com fundamento no art. 60, III do Código de Processo Penal OU com fundamento no artigo 107, IV do Código Penal (0,1) - Pedido de anulação da sentença em virtude da nulidade pela ausência de corpo de delito. (0,1) - Pedido de suspensão condicional do processo OU pedido de aplicação do artigo 89 da Lei 9.099/95. (0,1) - Pedido de aplicação da pena mínima prevista 0,00 / 0,3 / 0,4 / 0,6 / 0,7 / 0,8 / 0,9 / 1,0 / 1,1 www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça abstratamente ao crime. (0,1) - Pedido de, em caso de condenação, seja mantida a substituição da pena privativade liberdade pela restritiva de direitos. (0,1) 9. Indicação correta da Comarca, Estado, data. (0,15) 0,00 / 0,15 QUESTÃO 01 Cristiano e Paulo, maiores e capazes, fazem parte do grupo “Ação e Ação”, que tem a finalidade de defender o fim do Estado Brasileiro e, com isso a criação de um novo Estado, com uma forma de governo inédita, muito diferente da atual. Dentre as manifestações, a tática mais utilizada por eles é a depredação de carros, ônibus e de metrôs pela cidade de Alfa. No dia 07 de setembro de 2015, durante uma manifestação, Cristiano e Paulo foram autuados em flagrante delito, por estarem depredando carros que estavam estacionados nas proximidades da Avenida Delta. Após todo o trâmite investigatório, a Autoridade Policial os indiciou pela prática do crime de dano qualificado por ter sido realizado contra o patrimônio público em continuidade delitiva, nos moldes do artigo 163, parágrafo único, inciso III, em combinação com o artigo 71, ambos do Código Penal Brasileiro. Após o oferecimento da denúncia, foram citados, porém não constituíram defensor, sob a alegação de que eles seriam os seus defensores. Diante disso, terminado o prazo para a apresentação da defesa, o juiz despachou no sentido de intimá-los para a audiência de instrução e julgamento. Diante das informações apresentadas, o juiz agiu de forma correta? (Valor: 1,25) GABARITO COMENTADO O juiz não agiu corretamente, violando o princípio da ampla defesa, disciplinado ao teor do artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal. Diante da ausência de resposta à acusação, ao final do prazo, deveria ter nomeado Defensor Público para apresentá-la, conforme preceitua o artigo 396, §2º do Código de Processo Penal. Ressalte-se que o princípio da ampla defesa, no Processo Penal, somente estará consagrado se for garantido o binômio autodefesa e defesa técnica. A autodefesa consiste no direito do réu de dar diretamente ao juiz, com suas próprias palavras, a sua versão sobre os fatos, bem como o de participar de todos os atos processuais. Contudo, com a garantia constitucional ao silêncio e o direito de não produção de prova contra si mesmo, a autodefesa torna-se, para o acusado, disponível, não o sendo, entretanto, para o magistrado. Já a defesa técnica é totalmente indisponível, tanto para o réu quanto para o juiz, devendo este nomear defensor público ou dativo para o réu que não constitua advogado, sob pena de nulidade absoluta por cerceamento de defesa. Assim, não podem os réus abrirem mão da defesa técnica e, ultrapassado o prazo de dez dias de sua citação sem que a resposta à acusação fosse apresentada, era www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça necessária a nomeação de Defensor Público para fazê-la, sob pena de nulidade absoluta do processo por ausência de defesa técnica, na forma da súmula 523 do Supremo Tribunal Federal. DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS QUESITO AVALIADO FAIXA DE VALORES ATENDIMENTO AO QUESITO O juiz não agiu corretamente, porque violou o princípio da ampla defesa OU aplicação do artigo 5º, LV da Constituição Federal (1,0), não podendo os réus abrirem mão da defesa técnica (0,25) 0,00 / 1,0 / 1,25 QUESTÃO 02 Paulo, Deputado Federal, encontrou Manoel Cunha mantendo relações sexuais com Lavínia, sua esposa. O Deputado Federal, com raiva pelo ocorrido, perseguiu Manoel até a Cidade Vizinha, local em que desferiu três tiros de arma de fogo contra o mesmo, que veio a falecer em decorrência das lesões provocadas pela ação de Paulo. No curso da investigação instaurada para apurar os fatos, o mandato de Paulo chegou ao fim e ele não conseguiu se reeleger. Considerada tal narrativa, indique a competência para processamento e julgamento do delito? (Valor: 1,25) GABARITO COMENTADO Paulo será processado e julgado pelo Tribunal do Júri da comarca em que a vítima faleceu, nos termos do artigo 5º, inciso XXXVIII, “d” da Constituição Federal em combinação com o artigo 70, caput, do Código de Processo Penal, tendo em vista que, com a perda do mandato, não tem mais foro por prerrogativa da função. DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS QUESITO AVALIADO FAIXA DE VALORES ATENDIMENTO AO QUESITO A competência para a análise do julgamento será do Tribunal do Júri da comarca em que a vítima faleceu (1,0), com fundamento no artigo 5º, inciso XXXVIII, d da Constituição Federal OU fundamento no artigo 70, caput do Código de Processo Penal. (0,25) 0,00 / 1,0 / 1,25 www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça QUESTÃO 03 No dia 11/01/2011, Jean, nascido em 11/01/1992, praticou um crime de furto simples, razão pela qual foi denunciado como incurso nas sanções do artigo 155, caput, do Código Penal. Em 25/01/2011, foi a inicial acusatória recebida, não sendo cabível a suspensão condicional do processo. Após o regular processamento do feito, diante da confissão de Jean, foi o mesmo condenado à pena mínima de um ano de reclusão, sendo a sentença condenatória publicada em 01/03/2013 e transitada em julgado para a acusação que não interpôs recurso. Diante das informações, pergunta-se: A) Caso a defesa intente com o recurso cabível, qual será a tese de defesa a ser alegada no caso concreto? (Valor: 1,25) GABARITO COMENTADO A) Deverá ser alegado como tese de defesa a hipótese de extinção de punibilidade pela prescrição, constante no artigo 107, IV em combinação com o artigo 109, V, artigo 110, §1º e artigo 115, todos do Código Penal. Assim, considerando a pena base aplicada a Jean, que foi de 01 ano de reclusão, e diante da ausência de recurso da acusação, o que leva à proibição da reformatio in pejus, conforme art. 617 do Código de Processo Penal, a prescrição ocorreria no prazo de 04 anos. Contudo, em sendo Jean menor de 21 anos na data dos fatos, o cálculo prescricional dar-se-á pela metade, conforme artigo 115 do Código Penal. Diante do lapso temporal decorrido entre o recebimento da denúncia e a publicação da sentença condenatória, verifica-se prazo superior a 2 anos, restando extinta a punibilidade pela prescrição retroativa, na forma dos artigos 107, IV, c/c 109, V, 110, §1º, e 115, todos do Código Penal. Referida prescrição poderá e deverá ser reconhecida de ofício, mas, caso não o seja, bastará simples petição, a qual poderá ser endereçada ao próprio juízo processante. DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS QUESITO AVALIADO FAIXA DE VALORES ATENDIMENTO AO QUESITO A) A defesa defensiva a ser alegada diante do recurso cabível é a extinção de punibilidade pela prescrição (0,8), com fundamento no artigo 107, IV do Código Penal OU fundamentando-se no artigo 109, V do Código Penal OU aplicação do artigo 110, §1º do Código Penal OU fundamento no artigo 115 do Código Penal. (0,2). Proibido, nesse caso, a reformatio in pejus OU aplicação do artigo 617 do Código de Processo Penal. (0,25) 0,00 / 1,0 / 1,25 www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça QUESTÃO 04 Após vasta investigação policial para desvendar uma série de subtrações de dinheiro em caixas eletrônicos disponíveis em agências bancárias e estabelecimentos comerciais no Estado, a Autoridade Policial responsável pelas investigações verificou que os crimes apresentavam as mesmas características. Dentre as provas colhidas, ficou constatada a participaçãode Renato, que tem a função de obter contato direto com pessoas que trabalhavam dentro dos estabelecimentos e agências cujos caixas eletrônicos iriam ser violados, mediante arrombamento do cofre de segurança, para que houvesse a subtração do dinheiro. Além de outras informações, foram colhidas provas que demonstraram que a organização tinha um alto faturamento. Em um determinado dia, ao sair do supermercado, Renato percebeu que estava sendo seguido, e ao tentar fugir, foi capturado por alguns policiais que conduziram o agente até a Delegacia em que se realizavam as investigações. Em sede policial, Renato resolveu colaborar voluntariamente com as investigações, trazendo informações como o nome e as funções dos líderes do grupo: Tiago, responsável financeiro; Gustavo, administrador; Lucas e Daniel, estrategistas; e, ele, Renato, responsável por fazer os contatos com os funcionários dos estabelecimento que teriam os caixas eletrônicos violados. Além disso, informou que todo o faturamento do grupo foi resultado das subtrações realizadas nos caixas eletrônicos, que o grupo já atuava com esse esquema há quase dois anos e que, atualmente, eram 16 integrantes, mas os líderes continuavam sendo os cinco citados acima, contando com ele próprio. Diante das informações fornecidas acima, pergunta-se: A) Qual(is) as possível(is) tipificação(ões) penal(is) pode(m) ser reconhecida(s) em desfavor dos líderes do grupo: Tiago, Gustavo, Lucas, Daniel e Renato? (Valor: 0,65) B) O fato de Renato ter, voluntariamente, colaborado com a investigação criminal possibilita algum benefício? (Valor: 0,6) GABARITO COMENTADO A) Os líderes do grupo serão responsabilizados criminalmente pelas condutas de integrar organização criminosa e furto qualificado pelo rompimento de obstáculo e por ter sido cometido em concurso de pessoas, furto esse em continuidade delitiva, nos termos do artigo 2º da Lei 12.850/2013 e artigo 155, §4º, incisos I e IV em combinação com o artigo 29 e artigo 71, ambos do Código Penal, respectivamente. O crime de organização criminosa consiste na conduta dos agentes em promover, constituir, financiar ou integrar organização criminosa, nos moldes do artigo 2º da Lei 12.850/2013. Ademais, a mencionada lei estabelece que a organização criminosa consiste na associação de pelo menos 4 pessoas que estão estruturalmente ordenadas e caracterizadas pela divisão de tarefas, objetivando com isso, obter vantagem de qualquer www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas, abstratamente cominadas ao delito, sejam superiores a 4 anos ou sejam de natureza transnacional. De acordo com as informações fornecidas pela questão, tem-se 16 integrantes de organização criminosa que se associaram de forma organizada, onde cada um desempenha tarefas distintas, objetivando obter vantagem patrimonial mediante a prática de uma série de furtos qualificados, crime este punido com reclusão de dois a oito anos, preenchendo todos os requisitos elencados para a constituição de organização criminosa. Ademais, resta configurado o crime de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo, bem como pelo concurso de duas ou mais pessoas, uma vez que, para a subtração do dinheiro, necessário se faz, romper/violar os caixas eletrônicos, bem como pelo fato de acontecer mediante a participação de duas ou mais pessoas, o que ficou caracterizado pelas circunstâncias fáticas apresentadas. Por último, esses furtos qualificados ocorreram em continuidade delitiva, conforme estabelece o artigo 71 do Código Penal. B) Cumpre destacar que Renato, por ter, voluntariamente, colaborado com a investigação criminal, poderá se valer do instituto da colaboração premiada, conforme estabelece o artigo 4º da Lei 12.850/2013, desde que satisfeita a efetiva produção de provas que corroborem as informações por ele prestadas e que seja homologada por magistrado. A colaboração premiada prevista na Lei acima mencionada consiste na conduta de um integrante da organização, voluntariamente, colaborar efetivamente com a investigação ou com o processo criminal, desde que, dessa colaboração, sejam alcançados um ou mais dos seguintes resultados: identificação dos demais agentes (coautores e partícipes); identificação das infrações penais praticadas; revelação estrutural da hierarquia e da divisão de tarefas; prevenção, recuperação do produto ou proveito das infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa e; a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada. Percebe-se que, na casuística, Renato colaborou voluntariamente para a investigação criminal, informando a identificação dos demais coautores, infrações penais praticadas e seu modus operandi, revelando a estrutura hierárquica e a divisão das tarefas dos líderes da organização. Como consequência jurídica, poderá o magistrado, conceder a Renato, devido a sua colaboração, o perdão judicial, reduzir em até 2/3 a pena privativa de liberdade ou substituí-la por pena restritiva de direitos, na forma do art. 4º. da Lei 12.850/2013. DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS QUESITO AVALIADO FAIXA DE VALORES ATENDIMENTO AO QUESITO A) Os líderes do grupo serão responsabilizados criminalmente pelas condutas de integrar organização criminosa (0,25) e furto qualificado pelo rompimento de obstáculo (0,2) e por ter sido www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça cometido em concurso de pessoas (0,1), furto esse em continuidade delitiva (0,1) OU responsabilização dos líderes nos termos do artigo 2º da Lei 12.850/2013 (0,25) e artigo 155, §4º, incisos I e IV (0,2) em combinação com o artigo 29 (0,1) e artigo 71, ambos do Código Penal. (0,1) 0,00 / 0,25 / 0,45 / 0,55 / 0,65 B) Renato poderá se valer instituto da colaboração premiada (0,4), conforme estabelece o artigo 4º da Lei 12.850/2013 (0,1), desde que satisfeita a efetiva produção de provas que corroborem as informações por ele prestadas e que seja homologada por magistrado. (0,1) 0,00 / 0,4 / 0,5 / 0,6 www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça
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