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Aula 07, Ação de perdas e danos

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE ARAÇATUBA/SP.
MARCOS, brasileiro, casado, pedreiro, residente e domiciliado na rua Bérgamo,123, apt. 205, na cidade de Araçatuba/SP, portador da carteira de identidade nº, expedido pelo (órgão expedidor), inscrito no CPF nº, endereço eletrônico, representado por seu advogado abaixo assinado, com endereço profissional (endereço completo) e endereço eletrônico para onde desde já requer que sejam remetidas futuras intimações, onde vem respeitosamente perante Vossa Excelência, cm fulcro no artigo 319 e seguintes do CPC. Lei 13.105/2015, ajuizar a presente.
AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL
Em face de, ROBERTO, naturalidade, estado civil, comerciante, residente e domiciliado na rua, nº, cidade de Recife/PE, portador da carteira de identidade nº, expedido pelo (órgão expedidor), inscrito no CPF nº, endereço eletrônico. Vem pelos fatos e fundamentos jurídicos que serão expostos a seguir:
I- COMPETÊNCIA
Muito embora, em princípio, tenhamos as regras do Código de Processo Civil em que se leva em consideração o domicílio do réu (ação pessoal) e lugar do ato ou fato; artigo 46 do NCPC, em virtude da precária condição econômica do autor, principalmente após a morte trágica do único responsável pelo sustento da família, este ficariam impossibilitados de comparecer às audiências e demais atos processuais numa das Varas Cíveis da Comarca de Recife–PE, considerando-se que o acesso à justiça é um direito expresso na Constituição Federal de 1988, em seu art.5º, XXXV.
Desta forma, a competência daquele juízo não deve prevalecer, devendo haver, portanto, a modificação da competência, para apreciar e julgar a presente ação, para uma das Varas Cíveis da Comarca de Araçatuba/SP, sob pena de impedir o acesso à justiça pela autora.
II- GRATUIDADE DE JUSTIÇA
Inicialmente, assegurados pela C.F., artigo 5º, LXXIV, e nos termos da Lei nº 1.060/50 com alterações da Lei 7.510/86 C.C. e art. 98 e 99 do N.C.P.C., ser pessoa juridicamente pobre, sem condição de arcar com as custas judiciais e honorários advocatícios sem prejuízo do próprio sustento ou de sua família, motivo pelo qual faz a gratuidade de justiça e a assistência gratuita integral.
III- DA OPÇÃO PELA REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO
A autora deseja a audiência de conciliação ou mediação de acordo com o artigo 319, VII C.P.C..
 
IV- DOS FATOS
Marcos, brasileiro, pedreiro, casado, domiciliado na rua Bergamo 123, apt. 205, na cidade de Araçatuba/SP, caminhava por uma rua de Recife/PE, quando foi atingido por um aparelho de ar condicionado manejado, de forma imprudente, por Roberto, comerciante e proprietário de uma padaria. Encaminhado a um hospital particular, Marcos faleceu após estar internado por um dia. Maria, esposa de Marcos, profundamente abalada pela perda trágica do seu esposo, deslocou-se até Recife/PE e transportou o corpo para Araçatuba/SP, local do sepultamento. O falecido não deixou filhos. Sabe-se, ainda, que Mauro tinha 50 anos de idade, e era responsável pelo seu sustento e de sua esposa e conseguia obter renda média mensal de um salário mínimo como pedreiro. Sabe-se, também, que os gastos hospitalares somaram R$3.000,00 e os gastos com transporte do corpo e funeral somaram R$3.000,00. No inquérito policial, após o laudo da perícia técnica apontar como causa da morte o traumatismo craniano decorrente da queda do aparelho de ar condicionado, Roberto foi indiciado, sendo posteriormente denunciado e condenado em primeira instância como autor de homicídio culposo.
V- DOS FUNDAMENTOS
O Código Civil de 2002, no seu art. 186, é peremptório em afirmar que aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, viola direitos e causa danos a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito, o que, por sua vez, gera o dever de reparar o dano causado, a teor do art. 927 do mesmo Código. Ou seja, a consequência jurídica do ato ilícito que causa dano a outrem consiste na obrigação de indenizar.
No caso presente, a queda do aparelho de ar condicionado, quando era manejado, repita-se, de forma imprudente pelo réu, provocou a morte de Marcos, por traumatismo craniano, o que configura a responsabilidade contida no artigo 938 do Código Civil, já que aquele que habita prédio ou parte dele responde pelo dano causado pelas coisas que dele caiam ou que sejam lançadas em lugar indevido. 
Observa-se a incidência da responsabilidade subjetiva, que ocorre quando o agente, por sua conduta culposa, viola um dever jurídico e causa dano a outrem, ficando, por consequência, obrigado a reparar o dano.
Nesse contexto, importa trazer à colação a lição de Sérgio Cavalieri Filho, na sua obra Programa de Responsabilidade Civil, 8ª ed., São Paulo: Atlas, 2008, p.46, sobre o nexo de causalidade entre a conduta do autor do ato ilícito e o dano sofrido pela vítima, que se encaixa como uma luva no caso em questão:
“Não basta, portanto, que o agente tenha praticado uma conduta ilícita; tampouco que a vítima tenha sofrido um dano. É preciso que esse dano tenha sido causado pela conduta ilícita do agente, que exista entre ambos uma necessária relação de causa e efeito. Em síntese, é necessário que o ato ilícito seja a causa do dano, que o prejuízo sofrido pela vítima seja resultado desse ato, sem que a responsabilidade não ocorrerá a cargo do autor material do fato. Daí a relevância do nexo causal. Cuida-se, então ,de saber quando um determinado resultado é imputável ao agente; que relação deve existir entre o dano e o fato para que este, sob a ótica do Direito, possa ser considerado causa daquele.”
Nos termos do art. 948, I, do CC, se a ofensa resultar de homicídio, como demonstra o inquérito policial no presente caso, a indenização abrangerá, além de outras reparações, o pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família.
Com efeito, o ato ilícito praticado pelo réu resultou, primeiro, nos gastos hospitalares e depois com a morte de Marcos, nas despesas com o translado do corpo e com o sepultamento do falecido.
Desta forma, configurado o nexo de causalidade entre a conduta ilícita praticada pelo réu e o dano sofrido pelo falecido Marcos, cabível é a indenização aqui pleiteada a título de danos materiais, com base nos arts. 186,927 e 948, I, todos do CC.
No entanto, o dano provocado pela prática lesiva do réu não se resume ao dano material, que se mede pelos respectivos comprovantes anexos, mas se estende também ao dano moral, como previsto nos artigos 186 e 944 do Código Civil, em razão do profundo sentimento e dor provocado pela morte trágica de Mauro, causando a autora, desde então, aflições, angustias e desequilíbrios no seu bem-estar.
Por outro lado, a teor do art. 948, II, do CC, a indenização abrangerá ainda a prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável de vida da vítima.
 Este entendimento está em sintonia com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro em reconhecer a responsabilidade civil subjetiva e o consequente dever de indenizar à prestação de alimentos em caso de homicídio, conforme demonstra a seguinte ementa:
RECURSO ESPECIAL Nº 595.789 - MG (2003/0172004-5)
	RELATORA
	:
	MINISTRA NANCY ANDRIGHI
	RECORRENTE
	:
	ANDRADE GUTIERREZ MINERAÇAO LTDA
	ADVOGADO
	:
	HUMBERTO THEODORO JUNIOR E OUTROS
	RECORRIDO
	:
	WÂNIA HELENA FIGUEIREDO DE CARVALHO E OUTRO
	ADVOGADO
	:
	NOELHO ADELINO MACHADO E OUTROS
EMENTA
Direito civil e processual civil. Recurso especial. Ação de indenização por danos materiais e morais. Morte de empregado vítima de latrocínio enquanto laborava. Embargos de declaração. Ausência de omissão. Responsabilidade civil da empregadora. Valor arbitrado a título de reparação por danos morais. Indenização por danos materiais. Constituição de capital. Necessidade. Honorários advocatícios. Alteração. Reexame de prova.- A prestação jurisdicional deve corresponder àquela pleiteada pelas partes, devidamente fundamentada, sem omissões, obscuridades ou contradições.
- O transporte de valores por parte de empregado da empresa recorrente, em região de país estrangeiro de reconhecida periculosidade, exige adoção de medidas acautelatórias por parte da empregadora.
- Ocorrendo latrocínio que vitimou o empregado, pai e cônjuge dos recorridos, e verificado que, embora tenha a empregadora contratado empresa de segurança, não tomou providências no sentido de evitar que a vítima continuasse a realizar o transporte de valores expressivos em território perigoso, caracterizada está sua imprudência, o que faz emergir a culpa.
- Se o Tribunal de origem fundamentou sua decisão na responsabilidade subjetiva, tomando como parâmetro de suas conclusões a demonstração da conduta culposa da empregadora aliada a existência de dano e nexo causal dela decorrentes, revisar tal conclusão adentraria na senda da análise dos fatos e das provas, vedada no especial.
- Só é dado ao STJ revisar o arbitramento da compensação por danos morais quando o valor fixado destoa daqueles estipulados em outros julgados recentes deste Tribunal, observadas as peculiaridades de cada litígio.
- A indenização por danos materiais fixada em percentual incidente sobre a média dos rendimentos do falecido (salário acrescido de adicionais) auferidos no último ano em que laborou para a empresa antes do evento danoso, coaduna-se com a jurisprudência do STJ.
- "Em ação de indenização, procedente o pedido, é necessária a constituição de capital ou caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão, independentemente da situação financeira do demandado "(Súmula 313/STJ).
Por consequência, além da indenização aqui pleitada a título de danos materiais cumulada com o dano moral, diante da conduta reprovável do réu, decorrente de homicídio, cabível é a prestação de alimentos aos autores, que dependiam economicamente do falecido para seu sustento, com base no art. 948, II, do CC.
VI- DO PEDIDO
Diante do exposto, requer a v. Exa.:
1. A gratuidade de justiça;
2. Designação de audiência de conciliação ou mediação e intimação do réu para seu comparecimento;
3. Citação do réu para integrar a relação processual;
4. Seja julgado procedente o pedido do autor para condenar o réu a pagar a importância de um salário-mínimo nacional, em caráter vitalício, imediatamente;
5. Seja julgado procedente o pedido, confirmando a tutela antecipada deferida, bem como a condenação do réu ao pagamento de indenização por danos materiais, no valor de R$ 6.000,00;
6. Seja julgado procedente o pedido para condenar o réu a pagar a importância de R$ 30.000,00 (vinte mil reais) a título de reparação por danos morais;
7. Seja o réu condenado aos ônus sucumbência.
VII- DAS PROVAS
Requer a produção de todas as provas em direito admitidas, na amplitude do art. 369 e seguintes do NCPC, em especial a prova documental, testemunhal e o depoimento pessoal do réu, sob pena de confissão.
VIII- DO VALOR DA CAUSA
Dá-se à causa o valor de R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais), conforme o Art. 292, II do NCPC. 
Nestes termos, pede-se deferimento. 
Local/ data.
Advogado
OAB

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