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Interessantes Lições da Falência da Giroflex

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INTERESSANTES LIÇÕES DA FALÊNCIA DA GIROFLEX
Uma das mais antigas fabricantes de móveis do Brasil pediu autofalência neste final de junho e deixa muitas lições.
FOSSEM TERCEIRIZADOS, OS FUNCIONÁRIOS PODERIAM TER SALVO SEUS DIREITOS
OS funcionários dificilmente receberão parte de seus direitos, pois os ativos são insignificantes perto do que lhes é devido, alguns com décadas de serviço e anos no atraso do recolhimento de direitos remuneratórios..
Interessante concluir que se fossem terceirizados, poderiam ter se safado do desastre. O trabalhador terceirizado, ao contrário dos do setor industrial, agrário ou comercial, tem dupla garantia: da empresa onde é empregado e da empresa onde trabalha nessa condição. Se uma falir, a outra é obrigada a lhe pagar.
Isto também pode ser visto na recente apuração de direitos e  liquidação da antiga Maternidade São Paulo. Mesmo com a venda do prédio, os antigos funcionários não receberão metade do que ganharam na Justiça do Trabalho. Os que eram terceirizados voltaram para a empresa empregadora e continuaram empregados, tendo o FGTS, INSS e demais verbas sendo pagas.
A FALÊNCIA PODE PRESERVAR O PATRIMÔNIO DOS SÓCIOS DA EMPRESA
Os sócios de empresas inadimplentes com obrigações trabalhistas, fiscais, até civis, podem acabar sendo chamados em juízo para responder por dívidas da mesma, se esta não as paga. No juízo cível ou fiscal, são chamados se cometem alguma fraude ou ilícito na gestão e geralmente o gestor. Em juízo trabalhista são chamados todos os sócios, com ou sem fraude ou ilícito.
No entanto, se a empresa pede auto falência, ou se é declarada falida a pedido de algum credor, ela deixa de existir como figura jurídica e surge então a massa falida, administrada pelo síndico. Credores, inclusive trabalhadores, são obrigados a se habilitar e recebem pela venda do ativo e rateio do arrecadado, se não for possível pagamento integral (o que ocorre em 99% dos casos)
Os sócios da falida não são obrigados a pagar dívidas com seus recursos particulares, se demonstram que não retiraram lucro no período em que a empresa começou a ir mal no mercado ou cometeram fraude ou ilícito (desvio de recursos, fraude contábil, rasura de livros, confusão patrimonial e etc). E no caso da Giroflex,. Se os sócios pediram auto falência, devem estar certo que estão acobertados por essa norma.
Não obstante a clareza da lei, baseado em princípios gerais de direito, juízes trabalhistas tem tentado superar esse óbice e decretando a penhora de bens particulares dos sócios. Recentemente surgiram acórdãos dos tribunais superiores confirmando a irregularidade desse procedimento, pois o juiz cível que decretou a falência é que é competente para decidir o destino de seu patrimônio e sobre a possível desconsideração da pessoa jurídica. Não obstante, o conflito deve continuar, pois muitos juízes trabalhistas lidam com suas varas como se lida com um feudo. Alguns deles dão até entrevistas dizendo que não reconhecem limitações na condenação de empresas e empresários, sequer da divisão de competências imposta pela Constituição Federal.
MODELO AMBEV NÃO FUNCIONOU
Em 1911 alguns sócios da Ambev, entre eles o renomado Magin Rodrigues, comprar a empresa. Esta faturava R$ 200 milhões/mês e a expectativa é que viesse a faturar 1 bi. Os novos sócios aplicaram o modelo Ambev, mudança para gestores jovens e agressivos, foco em vendas, corte brutal de custos e etc. E venderam cadeiras para vários estádios da Copa, aeroportos e etc. Mas nada impedia o crescimento das dívidas.
Na verdade o sucesso da Ambev se deu fundamentalmente pela aquisição da Brahma pelo grupo por míseros US$ 50 milhões, e posteriormente a aquisição da Antarctica sem custos, em estranha operação, pois esta última tinha em seu patrimônio muitos milhares de imóveis, somados enquanto era uma Fundação . Antarctica e Brahma concorriam de forma agressiva e eram geridas por administradores idosos e nada inovadores ou agressivos, a decadência era visível. A fusão de ambas, estranhamente aceita pelos conselheiros do CADE  à época, forjou um verdadeiro monopólio no fornecimento de cerveja em mais de um milhão de pontos de venda. Foi possível corte de custos, aumento de preços e etc. O mérito dos sócios foi, principalmente, superar esses obstáculos e fazer exatamente esse caminho e portanto. A gestão em si pode merecer elogios, mas as condições resultantes da fusão foram fundamentais.  
IMPOSSÍVEL EM CERTOS SETORES COMPETIR COM FORNECEDORES DE OUTROS PAÍSES
No caso, os administradores da Giroflex dizem que foi impossível competir com fornecedores de outros países, até 40% mais baratos. Quem com eles compete, de fato, sabem que é inviável a concorrência. Certos setores industriais foram liquidados. Muito se fala contra o fechamento de fronteiras e a proteção a produção nacional. Mas como fazer? Será que é possível redução do custo Brasil em 40% em algum setor? Não deve o país colocar na balança das negociações com os demais, o valor de seu mercado comprador? O setor de serviços sobreviverá se for possível importar serviços como acontece na indústria? Será a dificuldade em importar mão de obra o diferencial que permite que as empresas sobrevivam  em mãos de empresários brasileiros?
É fato que isso pode até ocorrer, mas também é fato que o sonho de boa parte dos empresários brasileiros tem como sonho vender a empresa para algum grupo estrangeiro e receber em dólares.
DE COMO UM ATIVO PODE SE EVAPORAR
Antes da falência, um ex sócio conseguiu na Justiça tirar da empresa um de seus maiores ativos, a marca Giroflex. Com a falência, seu valor fica reduzido a quase nada, pois que valor tem uma marca que sempre nomeou uma empresa ora falida? Todos os jornais noticiam a falência da Giroflex e muito disto é que ficará na memória coletiva. Há, é certo, o exemplo da Varig, mas na mesma área há o da VASP, que ninguém se atreveu a voltar a usar. Mesmo o da Varig, ao que parece custará mais caro revalorizá-la que fazer outra marca. O ex sócio pode ter chegado a conclusão que não valeu a pena enfraquecer a empresa com mais este golpe, antes da falência.
PERCIVAL MARICATO – DIRETOR JURÍDICO DA CEBRASSE

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