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Pós Graduação Direito Constitucional aula 3

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Docente: Ana Ketsia B. M. Pinheiro
Aula 3: Ações de Controle de Constitucionalidade (cont.)
Técnicas de Decisão em
Controle de Constitucionalidade
Pós Graduação em Direito Público
Disciplina: Direito Constitucional
Universidade Estácio de Sá (Unidade Romualdo)
VIADE EXCEÇÃO OU DEFESA
VIA DE AÇÃO
Método difuso ou aberto
Método concentrado
Controle incidental
Controle principal
Controle concreto
Controle abstrato
Processo subjetivo
Processo objetivo
Eficácia da decisão “interpartes” e “exnunc”
“Erga omnes” e “extunc”
A Natureza Dúplice da ADI/ADC 
A ADI e a ADC têm natureza dúplice, pois a procedência do pedido numa ação direta de inconstitucionalidade resulta no pronunciamento da inconstitucionalidade da norma impugnada e que a sua improcedência significa o pronunciamento de sua constitucionalidade. 
Na ADC aplica-se o mesmo raciocínio: se o pedido na ADC for julgado procedente, estar-se-á declarando a constitucionalidade da norma impugnada, bem como se o pedido for julgado improcedente, o STF terá pronunciado a sua inconstitucionalidade. 
Portanto, numa ADC, pode haver declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público. 
Se isso ocorre, há de se aplicar o art. 97 da CF (somente o plenário do STF poderia conhecer da ação declaratória de constitucionalidade, pois somente ele, na estrutura jurisdicional da Corte – excluídas, assim, as duas Turmas – tem autoridade constitucional para decidir a questão). Eis aqui o caráter dúplice da ADI/ADC. 
Observação importante: 
Esse mesmo raciocínio de caráter dúplice de ADI e ADC não se aplica em sede de medidas cautelares, ou seja:
se o STF indeferir a cautelar na ADI, qualquer juiz poderá declarar a inconstitucionalidade da lei impugnada;
porém, se o STF deferir a cautelar na ADC, nenhum juiz poderá declarar a inconstitucionalidade da lei impugnada. 
 
A Representação de Inconstitucionalidade (RI) e o Controle Abstrato nos Estados-Membros 
O Estado brasileiro foi organizado sob a forma federativa tridimensional, que atribui autonomia nos âmbitos político, administrativo e financeiro para a União, Estados, Distrito Federal e Municípios. 
A autonomia política das unidades da federação lhes outorga o poder de auto-organização, que se materializa por meio da elaboração de Constituições regionais e locais. 
A organização dos Estados se faz pelas respectivas Constituições Estaduais nos termos do art. 25 da CF e a organização dos municípios e do Distrito Federal é feita pelas respectivas Leis Orgânicas, nos termos dos artigos 29 e 32. 
Em termos hierárquicos as constituições estaduais se colocam em patamar inferior à Constituição da República e superior às leis estaduais e municipais, inclusive sobre as leis orgânicas dos municípios. 
Daí se conclui de que as normas municipais e estaduais que contrariam a Constituição do respectivo Estado são consideradas inconstitucionais. 
Os níveis de hierarquia são: 
- Constituição da República; 
- Constituições Estaduais/Lei Orgânica do Distrito Federal; 
- Leis Municipais, Leis Estaduais e Leis Orgânicas Municipais. 
Observação: Não confundir aqui com a falta de hierarquia entre leis federais, estaduais, distritais e municipais, vez que não se trata de hierarquia, mas, sim, de repartição de competência. 
Importante!
A Lei Orgânica do Distrito Federal também ostenta supremacia em relação às leis distritais, de modo que, se estas contrariam aquela, também se tem caso de inconstitucionalidade. 
A CF, atenta a essa hierarquização das normas estaduais, distritais e municipais, criada em seu próprio texto, previu um mecanismo específico destinado a proteger a supremacia das Constituições Estaduais e, por equiparação, da Lei Orgânica do Distrito Federal: a representação de inconstitucionalidade, prevista no art. 125, § 2.°, da CF/88, que assim dispõe: 
“Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais e municipais, em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.” 
Portanto, a CF atribuiu aos próprios Estados a tarefa de regular a figura jurídica da representação de inconstitucionalidade. Tal regulação deve ser feitas nas respectivas Constituições Estaduais. 
Tem-se entendido que as normas relativas à ADI que questionem tanto a CF quanto a legislação infraconstitucional, aplicam-se ao âmbito da representação de inconstitucionalidade pelo princípio da simetria. 
Assim, a RI é também disciplinada pela Lei n.° 9.868/99. 
De acordo com o art. 125, § 2.°, da CF/88, a representação de inconstitucionalidade é ação que desencadeia o controle concentrado, principal e abstrato da constitucionalidade das leis e atos normativos estaduais e municipais violadores de disposições da Constituição Estadual. 
Objeto das Representações de Inconstitucionalidade 
Somente leis estaduais e municipais são impugnadas em sede de RI, cujo paradigma de referência é a Constituição Estadual. 
O mesmo raciocínio vale para a impugnação de lei distrital, em face da Lei Orgânica do Distrito Federal, ou seja, cabe representação de inconstitucionalidade naquela unidade da Federação. 
Leis federais não buscam fundamento de validade na Constituição Estadual ou na Lei Orgânica do Distrito Federal, logo não podem ser objeto de RI. Com efeito, não se pode aferir a validade de leis federais diante das normas constitucionais de âmbito regional (somente em face da Constituição da República uma lei federal pode ter sua constitucionalidade aferida). 
O objeto de impugnação da ADI aplica-se em sede de representação de inconstitucionalidade, qual seja: norma jurídica vigente. 
Competência para o Julgamento das Representações de Inconstitucionalidade 
A competência para o julgamento é do respectivo Tribunal de Justiça. 
Nesse sentido, a decisão do órgão especial ou do plenário do Tribunal de Justiça guarda identidade com a que o STF dá em sede de ADI. 
De modo que tudo o que se falou sobre a decisão dada pelo STF em sede de ADI há de ser aplicado aqui, utilizando-se, por simetria, as normas que disciplinam a matéria em âmbito federal. 
Atenção! Não cabe Recurso Extraordinário para o STF da decisão final de mérito do TJ em sede de RI (porque o objeto da RI não é a CF). 
Observação importante: Há uma exceção quando a hipótese for norma de repetição obrigatória da Constituição Federal. Nesse caso, caberá recurso extraordinário para o STF. 
Embora o intérprete maior da Constituição Estadual seja o órgão especial ou o plenário do Tribunal de Justiça respectivo, há casos em que a questão poderá ser definitivamente resolvida no âmbito do Supremo Tribunal Federal. 
Trata-se da hipótese em que a norma da Constituição do Estado que serviu de paradigma de controle reproduz por obrigação alguma norma da Constituição da República (norma de repetição obrigatória). 
Assim é que, fundado no art. 102, III, a, da CF/88, o STF tem admitido a interposição de recurso extraordinário contra a decisão do Tribunal de Justiça que julga a representação de inconstitucionalidade, desde que o paradigma de controle seja norma de reprodução obrigatória. 
A Jurisprudência do STF e as Representações de Inconstitucionalidade:
Conheça agora algumas decisões pretorianas relevantes no que tange ao regime jurídico das RI. 
NORMAS DE REPETIÇÃO COMPULSÓRIA 
São aquelas referentes à definição de forma de governo, separação dos poderes, direitos fundamentais, processo legislativo, processo eleitoral, vinculação a cláusulas constitucionais sensíveis. Existem outras (e a tarefa de descobri-las nem sempre é fácil). 
É vedado ao poder constituinte do Estado membro, mediante reforma constitucional, por exemplo, implantar regime de governo autoritário, adotar forma de governo monárquica, escolher o parlamentarismo como sistema de governo, suprimir direitos fundamentais, relativizar a
cláusula de separação dos poderes, adotar sistema proporcional para eleição de cargo de governador etc. Isso tudo feririanormas de reprodução compulsória.
Entendimentos do STF sobre a RI
RCL 10.500-MC, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 18-10-2010, DJE de 26-10-2010. 
Antes de adentrar no mérito da questão aqui debatida, anoto que, muito embora não tenha o constituinte incluído o Distrito Federal no art. 125, § 2º, que atribui competência aos Tribunais de Justiça
dos Estados para instituir a representação de inconstitucionalidade em face das constituições estaduais, a Lei Orgânica do Distrito Federal apresenta, no dizer da doutrina, a natureza de verdadeira Constituição local, ante a autonomia política, administrativa e financeira que a Carta confere a tal ente federado. Por essa razão, entendo que se mostrava cabível a propositura da ação direta de inconstitucionalidade pelo MPDFT no caso sob exame. 
RE 577.025, voto do Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 11-12-2008, Plenário, DJE de 6-3-2009, com repercussão geral. 
É pacífica a jurisprudência do STF, antes e depois de 1988, no sentido de que não cabe a tribunais de justiça estaduais exercer o controle de constitucionalidade de leis e demais atos normativos municipais em face da CF. 
ADI 347, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 20-10-2006, Plenário, DJ de 20-9-2006. No mesmo sentido: RE 421.256, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 26-9-2006, Primeira Turma, DJ de 24-11-2006. 
EMENTA: Competência. Ação direta de inconstitucionalidade. Lei municipal contestada em face da Carta do Estado, no que repete preceito da CF. O § 2º do art. 125 do Diploma Maior não contempla exceção. A competência para julgar a ação direta de inconstitucionalidade é definida pela causa de pedir lançada na inicial. Em relação ao conflito da norma atacada com a Lei Máxima do Estado, impõe-se concluir pela competência do Tribunal de Justiça, pouco importando que o preceito questionado mostre-se como mera repetição de dispositivo, de adoção obrigatória, inserto na Carta da República. 
Natureza Política da Intervenção Federal e o Estado Democrático de Direito 
O alcance da intervenção e das prerrogativas do interventor não pode atingir os princípios constitucionais impostos pelo ordenamento jurídico. 
Não há, como no estado de sítio e no estado de defesa, uma flexibilização dos direitos fundamentais ou uma excepcionalidade dos direitos e garantias constitucionais. O Estado Democrático de Direito é mantido em sua inteireza, ocorrendo apenas a limitação da autonomia do ente federativo que sofreu a intervenção. 
No Estado Federal, a CF impõe deveres ao estados-membros, cuja inobservância pode gerar providências de índole interventiva.
Lembre: A Intervenção Federal diferentemente dos institutos do Estado de Defesa e do Estado de Sítio não é uma excepcionalidade ao Estado Democrático de Direito, visto que a CF não prevê para aquele instituto a possibilidade de suspensão de direitos ou garantias fundamentais. 
A intervenção será uma restrição à autonomia federativa de um ente. 
No entanto, como bem destaca Walber de Moura Agra (2007, p. 297): 
“Na história dos textos constitucionais brasileiros, o instituto da intervenção sempre respeitou os princípios do Estado Democrático de Direito. Contudo, o Ato Institucional 5 (AI-5) extrapolou os limites da intervenção, tornando-a um instrumento de coação do regime militar. Pelo AI-5 foi permitido ao Presidente da República, alegando interesse nacional, intervir nos Estados-membros e nos Municípios sem respeitar as barreiras legais firmadas pela Constituição.”
Os limites da intervenção são expostos pela Constituição Federal e pelo decreto presidencial que a estabelece. A intervenção federal possui caracteres que devem ser mencionados. São eles: 
Natureza política; 
Provisoriedade. 
Quando se defende a natureza política do processo de intervenção, devem ser levados em conta os critérios sobre os quais se movimenta a autoridade responsável pela expedição do decreto que devem ser essencialmente políticos. 
Esses critérios são:
Conveniência: é a aferição da efetiva necessidade no adotar-se a providência. 
Oportunidade: significa examinar o momento político da sua execução. 
A autoridade responsável pelo início da intervenção não usa um ou outro, mas os dois. Entrecruzam-se conveniência e oportunidade para tornar o mais acertada possível a decisão política atinente à intervenção. 
Outrossim, o §4º do art. 36 salienta que “cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal”. 
É a característica referente à provisoriedade da intervenção - medida excepcionalíssima que vulnera as autonomias estadual e municipal, o procedimento interventivo deve durar rigorosamente o tempo apto ao retorno da normalidade institucional da entidade federativa atingida. 
Ação Direta de Inconstitucionalidade interventiva (ADINT) 
É uma medida excepcional de limitação temporária da autonomia do estado; 
Destina-se à preservação da soberania nacional e do pacto federativo; 
A decisão do STF é condição jurídica para a decretação da intervenção federal e a declaração de inconstitucionalidade não é o objeto da ação, mas questão prejudicial. 
Para parte da doutrina constitucionalista, a ação direta de inconstitucionalidade interventiva é uma modalidade de controle de constitucionalidade concreto para um conflito federativo. 
A ação direta interventiva não desencadeia um processo objetivo, ou seja, a análise da constitucionalidade da lei em tese, mas sim, a jurisdição para solucionar um conflito federativo entre a União e os Estados (ou Distrito Federal). 
Portanto, a eventual declaração de inconstitucionalidade de ato normativo estadual em sede de ADINT não o torna automaticamente nulo e nem lhe retira a eficácia. 
Ou seja, julgada procedente a ADINT a União ficará obrigada a intervir, pois trata-se de um ato vinculativo. 
Entretanto, isso não importa na declaração de nulidade do ato estadual, pois este é o objeto de outra modalidade de ação, qual seja, a direta de inconstitucionalidade (ADIN). 
Em outras palavras, os efeitos do provimento da representação (ou procedência da ação direta interventiva) não estabelecem a nulidade do ato contaminado, o que se tem é a decretação da intervenção federal no Estado. 
Hipóteses de Cabimento da ADINT 
De acordo com o art. 36, III da CF, em se tratando de intervenção federal no Estado ou no Distrito Federal, a decretação da ação direta interventiva (ou simplesmente representação interventiva) será fundada nas seguintes hipóteses: 
a) descumprimento de lei federal (CF, art. 34, VI, 1.ª parte); 
b) descumprimento de princípios constitucionais sensíveis (CF/88, art. 34, VII). 
Pelo art. 35, IV da CF, em se tratando de intervenção do Estado no Município, as hipóteses que pressupõem o provimento da ação direta interventiva estadual são as seguintes: 
a) descumprimento de lei, ordem ou decisão judicial; 
b) descumprimento de princípios descritos na Constituição do Estado. 
Os princípios constitucionais sensíveis são: 
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; 
b) direitos da pessoa humana; 
c) autonomia municipal; 
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta; 
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. 
Observe! o descumprimento de ordem ou decisão judicial é hipótese para a ação direta interventiva federal, ou seja, para a Intervenção Federal nos estados e no Distrito Federal, mas não é hipótese de cabimento da ação direta interventiva estadual, ou seja, para a Intervenção Estadual no Município. 
Legitimidade Passiva e Ativa Ad Causam para Propor ADINT:
A INSTAURAÇÃO DO PROCESSO DE CONTROLE DO CONSTITUCIONALIDADE, PARA FINS DE INTERVENÇÃO, É PRIVATIVA DO Procurador-Geral da República (chefe do MP Federal). 
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nemno Distrito Federal, exceto para:
I - manter a integridade nacional;
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
III - por termo a grave comprometimento da ordem pública;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: (PRINCÍPIOS SENSÍVEIS)
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da adm. pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde
Art. 36. A decretação da intervenção dependerá:
I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral;
III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII;
III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal.
Apesar de o texto constitucional falar em “representação” (art. 36, III), trata-se de verdadeira ação, por isso que hoje se chama ação direta interventiva federal. 
Já o legitimado para figurar no pólo passivo é o Estado-membro ou Distrito Federal. 
Procedimento da Ação Interventiva Regulado pela Lei N. 4337/64: O Procurador-Geral da República, ao ter conhecimento do ato que viola os princípios constitucionais sensíveis ou a inexecução de lei federal pode propor a ação direta interventiva. Mas esse é um ato discricionário. 
Ao receber uma representação do interessado, o PGR – se entender ser relevante – tem o prazo de 30 dias para ingressar com a ação direta interventiva perante o Supremo Tribunal Federal. 
Proposta a ação, o relator ouve em 30 dias os órgãos que elaboraram ou praticaram o ato.
Após a oitiva dos órgãos, o relator tem mais 30 dias para apresentar o relatório, que remeterá a todos os Ministros. 
O julgamento será feito pelo órgão plenário, podendo fazer uso da palavra o Procurador-Geral da República e o órgão que emitiu o ato. 
Se a decisão for pela inconstitucionalidade, o STF comunica aos órgãos interessados e requisita ao Presidente da República a decretação da intervenção federal, estando este obrigado a cumpri-la, sob pena de responder por crime de responsabilidade com base no art. 12 da Lei 1.079/50. 
Atenção! A Lei 4.337/64 expressamente proíbe a concessão de liminar. Tal provimento é incompatível com a ação interventiva, porque a suspensão liminar do ato impugnado transformaria em ação direta de inconstitucionalidade, o que é fiscalização abstrata e não concreta (MENDES, 2008). 
Efeitos da declaração de inconstitucionalidade na ADIn interventiva: julgada procedente a ação interventiva, e após o seu trânsito em julgado, o STF comunicará à autoridade interessada, bem como ao PGR para que tome as providências constitucionais (RISTF, art. 175, parágrafo único). 
A decretação da intervenção será sempre realizada por meio de decreto do PGR (art. 84, X, da CF/88), o qual, na presente hipótese, depende de requisição do STF, limitando-se o decreto a suspender a execução do ato impugnado, acaso tal medida seja suficiente para o restabelecimento da normalidade. 
Se tal medida não for suficiente, vai-se decretar efetivamente a intervenção, rompendo-se, momentaneamente com a autonomia do Estado-membro. 
Uma vez feita a requisição pelo STF, ela tem que ser cumprida. Sua duração e limites serão fixados no Decreto presidencial, até que ocorra o retorno à normalidade do pacto federativo.
 
Técnicas de Decisão adotadas:
Se aplicam a todos os processos constitucionais; 
Por muito tempo o STF utilizou como técnica de decisão o chamado modelo dual (ou a lei é inconstitucional ou constitucional). 
Assim, se a ADI fosse improcedente, se declarava a CONSTITUCIONALIDADE da lei. Se fosse procedente, culminaria na INCONSTITUCIONALIDADE da lei (com eficácia erga omnes). Neste caso, a lei era tida como NULA e varrida do ordenamento com eficácia ex tunc (efeito retroativo). 
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Na regra atual:
Para instaurar o julgamento da ADI:
Art. 22. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros.
Para declarar a inconstitucionalidade ou constitucionalidade:
Art. 23. Efetuado o julgamento, proclamar-se-á a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da disposição ou da norma impugnada se num ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos seis Ministros, quer se trate de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação declaratória de constitucionalidade.
Se houver, na sessão, a presença de oito ministro sendo que 5 votam pela inconstitucionalidade e 3 contra, o que ocorre? Necessariamente deve ser suspenso o julgamento para numa outra sessão, tentar obter os 6 votos. Esse quórum mínimo deriva da necessidade de produzir certeza jurídica.
Quanto aos efeitos a lei pode ser:
Lei declarada constitucional;
Lei declarada inconstitucional: lei é nula de pleno direito, o que autoriza o desfazimento de situações jurídicas feitas durante a vigência da lei, devido à eficácia ex tunc.
Percebeu-se, ao longo do tempo, uma falha no modelo dual, tendo em vista que havia casos nos quais a lei era inconstitucional apenas numa dada interpretação, o que gerou a chamada interpretação conforme (a Constituição), o que vale dizer que que tal interpretação é inconstitucional, e outra não o é.
Assim, descobriu-se que talvez fosse melhor declarar a inconstitucionalidade apenas de um modo de interpretar. 
A interpretação conforme permite a declaração parcial de inconstitucionalidade (ou de nulidade) sem redução de texto. 
O que isso quer dizer? A lei comporta interpretações que são incompatíveis com a CF, e essas interpretações devem ser declaradas inconstitucionais, mas o texto subsiste íntegro.
Neste caso, temos que há declaração de inconstitucionalidade QUALITATIVA. A declaração de inconstitucionalidade QUANTITATIVA atinge o próprio texto.
Essa forma de interpretação passou a ser adotada porque o STF percebeu que há casos em que a declaração de inconstitucionalidade pode levar a um caos jurídico. 
Por isso a disposição do art. 27:
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
Gilmar Mendes explica que deste artigo, se depreende que:
O STF pode declarar inconstitucionalidade sem declarar a nulidade da lei;
Pode decretar eficácia ex nunc;
Pode declarar que a lei fique em vigor por algum tempo no sistema.
O art. 27 introduziu uma substancial modificação na técnica de declaração de inconstitucionalidade (modulação dos efeitosda declaração de inconstitucionalidade - restringir efeitos, estabelecer que a eficácia será doravante ou que a decisão terá eficácia para o futuro).
Exemplos: 
Caso da redução do número de vereadores – ficou decidido que o número menor de vereadores só passaria a valer a partir do pleito seguinte;
Progressão de regime em crimes hediondos - o STF declarou essa lei inicialmente constitucional e, portanto, a vedação à progressão de regime era constitucional. Passados alguns anos, o STF reanalisou a questão e declarou a inconstitucionalidade da referida lei, ressalvando que aqueles que cumpriram a pena em regime integralmente fechado não poderiam pleitear indenização.
Outro caso de técnica de decisão:
Lei ainda constitucional – o STF percebe que a lei tem um déficit, que não é perfeita, e a superação da inconstitucionalidade depende da atuação do legislador. Nesses casos, ao invés de declarar logo a inconstitucionalidade da lei e arcar com todo o ônus que daí decorre, o tribunal opta por dizer que a lei é ainda constitucional, o que vale dizer que ela está em processo de inconstitucionalização. Ex.: caso de discussão acerca do FPE, onde o STF declarou que a inconstitucionalidade só estaria valendo dentro de 36 meses.
Pode haver declaração parcial de nulidade, sem redução de texto. 
Lembre! Essa multiplicidade de técnicas de decisão, adveio da lei 9.868/99, em seu art. 27.
Sentenças de caráter aditivo (ou normativo) – em casos de omissão legal, o tribunal diz qual é a situação que deve balizar o quadro jurídico até que haja a disciplina legal, ao invés de pedir ao legislador que supra a omissão. Ex.: decisão acerca de greve no serviço público onde se mandou aplicar a lei de greve da inciativa privativa (posição CONCRETISTA do STF).
Mendes ressalta que a omissão parcial possibilita combinação de técnicas de interpretação aplicáveis. 
Lembre! Tudo que é aplicável ao controle abstrato se aplica ao controle incidental, à representação interventiva.
ATENÇÃO! QUAL A DIFERENÇA ENTRE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM REDUÇÃO DE TEXTO E INTEPRETAÇÃO CONFORME?
Já vimos que inicialmente, o STF declarava a lei constitucional ou inconstitucional e, nesse último caso, decretava-lhe a nulidade (modelo dual). 
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Todavia, as técnicas de interpretação foram evoluindo e se passou a verificar que em alguns casos era possível interpretar a lei em conformidade com a CF e implicitamente se declarava a inconstitucionalidade de algumas interpretações. 
Nestes casos, em que há uma eliminação de sentido se deve declarar a inconstitucionalidade SEM redução de texto. O texto subsiste íntegro, todavia, determinadas aplicações não poderão ser válidas (serão nulas). Portanto, ocorre uma inconstitucionalidade parcial sem redução de texto. 
Há casos, porém em que não se elimina sentido da norma mas, ao contrário, se ACRESCE sentido a ela, lembrando que tal acréscimo não advém do texto da lei, mas da interpretação da própria CF (são as chamadas sentenças aditivas)
Resumindo: pela Lei 9.868/99 ambas são técnicas de decisão.
Quando houver eliminação sentido, há declaração de inconstitucionalidade; se o texto se mantém íntegro há declaração parcial (ou qualitativa) sem redução de texto.
Nos demais casos, haverá interpretação conforme (que adensa o sentido da norma).
CONTROLE DIFUSO DENTRO DO CONTROLE CONCENTRADO: É POSSÍVEL!
Ex.: ADI 4029 que visava revogar MP 366/2007 (que criou o instituto Chico Mendes). No processo de criação de MP, antes de cada casa do Congresso aprová-la, ela deverá ser analisada por uma comissão mista de parlamentares (representantes do Senado e da Câmara dos Deputados). Todavia, essa MP havia sido analisada não pelo comissão como um todo, mas por um relator nomeado pela comissão, com poderes para representá-la. Esse procedimento estava previsto na Resolução 01/2002 do Congresso Nacional. 
Só que STF entendeu que essa Resolução é inconstitucional porque fere a previsão da CF que é de a MP seja analisada por uma COMISSÃO MISTA e não por uma só pessoa. 
Ocorre que, ao declarar a inconstitucionalidade e a nulidade, por consequência, todas as MP que foram aprovadas no período de 2002 até 2007, seriam inconstitucionais. Por questões de segurança, o STF declarou a inconstitucionalidade sem decretar a nulidade das que já foram editadas, ou seja, não houve o efeito retroativo. Isso é a chamada modulação dos efeitos da decisão que para ser adotada, necessita dos votos de 8 ministros.
E por que que isso não é considerado controle concentrado? Porque, para estar inserido nessa modalidade de controle, necessitaria possuir efeito ex tunc.
IMPORTANTÍSSIMO: A Turma Recursal não é considerada órgão de 2º grau e, portanto, NÃO PRECISA RESPEITAR A CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO em caso de apreciação de inconstitucionalidade.
Habeas Corpus
É um dos mais antigos instrumentos jurídicos de jurisdição constitucional das liberdades, surgido na Inglaterra na Magna Carta de 1215, outorgada pelo rei João Sem Terra. 
No Brasil, surgiu no Código de Processo Criminal do Império de 1832, porém, só alcançou status de norma constitucional com a Carta Magna republicana de 1891. 
Hoje em dia, o habeas corpus, embora seja um dos mais celebrados remédios constitucionais, não é o único - a proteção constitucional das liberdades é exercida por um amplo conjunto de ações constitucionais, também denominadas writs constitucionais ou remédios constitucionais. 
Em essência, os remédios constitucionais ou writs constitucionais são ordens escritas feitas para impedir arbitrariedades perpetradas pelas autoridades estatais e que violam direitos fundamentais do cidadão comum. 
Ou seja, não basta consagrar um catálogo de direitos fundamentais se não existir instrumentos jurídicos processuais de garantia deste rol jusfundamental. Portanto, faz-se necessário um conjunto amplo de ações constitucionais (remédios constitucionais de natureza processual que garantam a plena efetividade desses direitos. 
Características Gerais do Habeas Corpus 
Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. 
Na visão de Paulo Hamilton Siqueira Junior: 
“O habeas corpus é sinônimo de liberdade, configurando-se como consectário lógico do Estado de Direito. Muito embora a Constituição qualifique e consagre o habeas corpus como garantia, trata-se de verdadeiro remédio, na medida em que tem a finalidade de impedir ou invalidar os efeitos de qualquer ato contrário à Constituição. É o verdadeiro remédio contra a irregularidade constitucional. 
Nessa esteira, José Frederico Marques dita que, 
"incluindo Constituição o direito de ir e vir entre um dos direitos concernentes à liberdade, que deve ser tutelado e assegurado, violá-lo ou pô-lo em perigo, 'por ilegalidade ou abuso de poder’, será atentar contra própria Constituição. Daí o habeas corpus, como instrumento ou meio destinado a prevenir a irregularidade constitucional ou a restaurar a situação que se apresenta como lesiva do jus libertatis constitucionalmente proclamado. 
O fito deste remédio constitucional é garantir o direito de ir, vir, ficar ou permanecer, incluindo-se a liberdade de fixar residência. 
É a própria Constituição que prevê a liberdade de locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens (inciso XV do art. 5º). Em exegese literal da expressão, habeas corpus significa: tomes o corpo do detido e venhas submeter ao tribunal o homem e o caso. 
Para legitimar o habeas corpus, a liberdade de locomoção deve estar sendo ameaçada ou tolhida de maneira ilegal ou por abuso de poder, não sendo válido o writ na hipótese de prisão legal (em flagrante delito ou por mandado de prisão assinado por autoridade judiciária competente, salvo os casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definido em lei). 
A CF/88 não revogou a vedaçãode habeas corpus em transgressões disciplinares da Constituição antecedente, bem como não admite o referido writ em punições disciplinares militares. 
Cabe habeas corpus contra ato ilegal ou abuso de poder de autoridade pública, sendo, porém, admitido (há divergência na doutrina) contra atos de particulares quando evidente o constrangimento ilegal, como, por exemplo, o diretor de casa de saúde mental em nítida internação forçada de pessoa (para proteger a liberdade ambulatorial). 
O ato será ilegal quando extrapolar os limites da lei e será abusivo quando se desviar de sua finalidade, embora autorizado pela lei. O abuso de poder só pode ser cometido por autoridade pública. 
O habeas corpus pode ser: 
Preventivo: quando o paciente encontrar-se ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção e nesse caso será expedido salvo-conduto;
Liberatório ou repressivo: quando alguém estiver efetivamente sofrendo tal violência ou coação.
Em ambas as espécies de habeas corpus, há a possibilidade de concessão de medida liminar, quando presentes o periculum in mora (probabilidade de dano irreparável) e o fumus boni iuris (existência de ilegalidade ou abuso de poder por parte de autoridade). 
A introdução da medida liminar em habeas corpus é obra da jurisprudência brasileira que nos seus regimentos internos previam a sua concessão pelo relator (salvo-conduto ou ordem liberatória) antes mesmo do processamento do writ. 
O habeas corpus pode ser impetrado sem advogado, por qualquer pessoa, em nome próprio ou alheio. 
Muito embora não possa ser impetrado pelo juiz (diante do princípio da inércia da jurisdição), pode ser concedido de ofício pelo juiz (art. 654, §2º do CPP), bem como pode ser impetrado pelo Ministério Público nos termos do art. 654 do CPP e do art. 32 da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (lei nº 8.625, de 12-2-1993). 
No polo passivo, já se encontra superado o entendimento que limitava o cabimento do habeas corpus aos casos em que a coação era exercida por agente no exercício de função pública. 
O particular também, se for o responsável pela coação, é legitimado passivo do HC. Exemplo disso é o impedimento de ingresso em supermercado ou diretor de hospital que nega a retirada de paciente que não pagou as despesas hospitalares. 
No que tange à abrangência do HC, é o próprio texto constitucional (art. 142 § 2º) que proíbe seu uso em punições disciplinares militares. 
Não cabe HC contra imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública. E mais: não se admite HC contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que pena pecuniária seja a única cominada. 
A ação de habeas corpus constitui remédio processual inadequado, quando ajuizada com o objetivo: 	
a) De promover análise de causa penal; 
b) De efetuar o reexame do conjunto probatório regularmente produzido; 
c) De provocar a reapreciação da matéria fato; 
d) De proceder à revalorização dos elementos instrutórios coligidos no processo penal de conhecimento. 
	
Informativo STF N° 396, (HC n° 70.231- SP. Rel.: Min. Celso de Mello).

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