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AnaPRL TESE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO 
 
 
 
 
 
ANA PATRÍCIA RODRIGUES LEITE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ÉTICA NA PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2012
 
 
ANA PATRÍCIA RODRIGUES LEITE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ÉTICA NA PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Administração da 
Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte, como requisito para a obtenção do 
título de Doutor em Administração, na área 
de Gestão Organizacional. 
Orientadora: Maria Arlete Duarte de 
Araújo, Dra. 
Co-Orientador: Mauro Lemuel de Oliveira 
Alexandre, Dr. 
 
 
 
 
NATAL 
2012 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Divisão de Serviços Técnicos 
 
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede 
 
 
 
Leite, Ana Patrícia Rodrigues 
 Ética na pesquisa em Administração/ Ana Patrícia Rodrigues Leite. 
– Natal, RN, 2012. 
218 p. 
 
 Orientadora: Maria Arlete Duarte de Araújo. 
 
 Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-
Graduação em Administração. 
 
 1. Administração – Pesquisa – Tese. 2. Ética – Tese. 3. Pesquisa 
 – Tese. 4. Princípios e parâmetros éticos – Tese. 5. Conduta ética – 
Tese. I. Araújo, Maria Arlete Duarte de. II. Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte. III.Título. 
 
 
 RN/UF/BCZM CDU 65.012.1 (043.2) 
 
 
 
 
 
 
ANA PATRÍCIA RODRIGUES LEITE 
 
 
 
 
 
ÉTICA NA PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO 
 
 
 
 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação 
em Administração da Universidade Federal do 
Rio Grande do Norte, como requisito para a 
obtenção do título de Doutor em Administração, 
na área de Gestão Organizacional. 
 
 
 
 
Natal, 17 de Setembro de 2012. 
 
 
 
 
 
Professora Dra. Maria Arlete Duarte de Araújo 
Presidente – Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
 
 
Professor Dr. Mauro Lemuel de Oliveira Alexandre 
Membro - Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
 
 
Professora Dra. Jomária Mata de Lima Alloufa 
Examinadora interna - Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
 
 
Professor Dr. Tomás de Aquino Guimarães 
Examinador externo – Universidade de Brasília 
 
 
 
Professora Dra. Márcia Martins Mendes De Luca 
Examinadora externa – Universidade Federal do Ceará 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Aos meus exemplos de vida 
 que já não estão entre nós fisicamente: 
meu pai Eldo de Souza Leite, minha 
 irmã Ana Cristina R. Leite e 
minha avó Professora Olívia 
Pereira Rodrigues. 
Estarão para sempre 
vivos em meu coração! 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus. 
 
Agradeço aos meus pais, Eldo (in memoriam) e Irma, que com amor me propiciaram 
educação, estímulos e exemplos de que com esforço pessoal, honestidade e determinação 
atingimos nossos objetivos de vida. 
 
Agradeço também a toda minha família, em especial meus irmãos Elma, Ana Cristina (in 
memoriam), Raíssa, Eudo e Ana Carla, que sempre me apoiaram em tudo na minha vida. 
 
Em especial, agradeço à minha filha de coração e de criação Fernandinha que suportou todos 
os meus estresses, me consolou nos momentos difíceis e compreendeu minhas ausências 
momentâneas. Seu amor me dá ânimo para tentar ser uma pessoa melhor a cada dia. 
 
Agradeço também ao meu noivo Ivanilson, que me apoiou e me incentivou com suas palavras 
de força, de cobrança e também de muito carinho e orgulho por minha conquista. 
 
À minha orientadora, Professora Maria Arlete Duarte de Araújo, o meu “muito obrigada” 
torna-se pequeno, perante a toda imensa gratidão e admiração que guardo por sua ajuda, 
resgate, compreensão, amizade e grande competência como orientadora. Exemplo de pessoa e 
de profissional. Sempre disponível e humana, sabendo ser dura quando necessário, mas sem 
perder a ternura jamais! 
 
Aos professores do PPGA da UFRN que, através de cada disciplina que cursei, contribuíram 
para o meu aprendizado e para a construção do meu trabalho. 
 
Às professoras Jomária Mata de Lima Alloufa e Tereza Souza, que participaram da minha 
qualificação e que com suas colocações pertinentes me ajudaram a construir o presente 
estudo. 
 
Agradeço muito por ter encontrado nas salas de aula pessoas tão especiais - Júlio, Walid, 
Luana, Jaqueline, Tatiane, Luciana, Thaís, Patrícia, Jefferson, Adriana, Renata e todos os 
demais colegas das turmas do mestrado e doutorado de 2008, pois com a amizade de vocês foi 
mais fácil cada dia dessa longa jornada. 
 
Agradecimento especial à minha grande amiga, Marli Tacconi, que de colega de doutorado, se 
transformou em uma grande e especial amiga, além de ser uma pessoa a quem muito admiro. 
E também ao meu grande amigo João Mendes, parceiro de turma e nos estudos, também meu 
pilar nessa caminhada árdua. A amizade de vocês dois revelou-se um grande presente do 
destino. 
 
A todas as minhas amigas de infância: Suzete, Cynthia, Danielle, Dolores, Fernanda e 
Cinthya, que sempre estiveram presentes em todos os momentos, torcendo, apoiando, e 
incentivando as minhas realizações. A amizade verdadeira e duradoura de todas vocês é um 
dos sustentáculos da minha felicidade. 
 
Ao pessoal querido da Secretaria do PPGA: Elisabete, Tiago, Deusa e Ana Rosa - agradeço a 
todos pela ajuda e presteza ao longo do curso. 
 
 
Agradeço muito aos pesquisadores que aceitaram ser entrevistados na primeira fase da minha 
pesquisa e que contribuíram de maneira relevante com suas colocações. 
 
Agradeço aos Coordenadores dos Programas de Pós-Graduação em Administração: Professor 
Walter Fernando Araújo de Moraes, Professora Tereza Souza e Professor Anielson Barbosa 
da Silva que concordaram com a formação de grupos focais em seus Programas, como 
também a todos os pesquisadores que participaram dos grupos e muito ajudaram na reflexão 
da temática estudada. 
 
Agradeço ao grupo de doutorandos do PPGA da UFRN que se colocaram disponíveis em 
participar da pesquisa de campo e que muito contribuíram com seus relatos. 
 
Agradeço a Universidade Federal do Rio Grande do Norte que me concedeu afastamento, de 
maneira a propiciar condições para minha qualificação profissional. Agradeço também ao 
DEPAD pelo apoio sempre constante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Há um tempo que é preciso abandonar as roupas 
usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer 
os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos 
lugares. È tempo da travessia e se não ousarmos fazê-
la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós 
mesmos”. (Fernando Pessoa). 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
A ética na pesquisa científica éum tema abordado e muito discutido em diversas áreas do 
conhecimento ligadas à saúde. Na área da Administração, são raros os estudos que abordam o 
tema da ética na pesquisa. O presente estudo buscou preencher esta lacuna na produção do 
conhecimento sobre o tema, investigando como os princípios éticos encontrados na literatura 
e nos códigos de conduta são percebidos e considerados nas atividades de pesquisa em 
Administração, desenvolvidas por pesquisadores atuantes em Programas de Pós-Graduação 
em Administração. Teoricamente, o estudo apoiou-se principalmente nas abordagens de 
Creswell (2007) e Bell e Bryman (2007), que discutem os princípios éticos na pesquisa. 
Metodologicamente, tratou-se de um estudo de caráter exploratório, com abordagem de 
pesquisa qualitativa. Na coleta de dados foram feitas entrevistas pessoais e em profundidade e 
formados grupos focais. Na primeira etapa, foram realizadas entrevistas com quatro 
pesquisadores experientes, participantes de um evento de ensino e pesquisa e na segunda 
etapa, foi adotada a técnica de grupo focal. Os grupos focais foram realizados em quatro 
instituições de ensino superior junto aos Programas de Pós-Graduação em Administração nos 
Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Os resultados apontam para a 
existência de princípios gerais para a pesquisa científica propostos na literatura e em 
resolução oficial. Porém, na área da Administração existem apenas recomendações de boas 
práticas no tocante à submissão de artigos para publicações científicas, mas não foram 
encontradas orientações com princípios éticos que englobem todas as atividades da pesquisa 
científica e que atendam especificamente às particularidades das pesquisas em Administração. 
Os principais dilemas éticos, apontados pelos pesquisados se referem às questões éticas que 
surgem nas fases da coleta dos dados e na divulgação dos resultados. A maioria dos 
pesquisados não conhecem as diretrizes e as normas sobre ética na pesquisa existentes no país 
e nem enviam seus projetos aos comitês de ética na pesquisa. Em caso de dilemas, decidem a 
questão ética com base nos seus valores e senso comum. Estes elementos confirmam a tese de 
que a conduta do pesquisador nas atividades de pesquisa em Administração é 
predominantemente balizada por valores pessoais ou pelo senso comum e menos por 
princípios éticos, seja pelo desconhecimento de instrumentos normativos relacionados à ética, 
como também pela discordância com quaisquer regras de disciplinamento sobre conduta ética 
na pesquisa. 
 
 
 
Palavras-chave: Ética; Pesquisa; Reflexão ética; Princípios éticos; Parâmetros éticos; 
Conduta ética; Pesquisa em Administração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
 
Ethics on scientific research is approached and often discussed in several areas of knowledge 
connected to health. In the Administration area there are very few studies which approach the 
topic of ethics on research. The present paper tried to fill in this gap in the production of 
knowledge about the topic, investigating how the ethical principles found in the literature and 
in the codes of conduct are noticed and taken into account in Administration research 
activities developed by acting researchers in Administration Post Graduation Programs. 
Theoretically speaking, the study was based mainly on the approaches by Creswell (2007) and 
Bell and Bryman (2007), which discuss the research ethical principles. Methodologically 
speaking it was all about an exploratory kind of study, with qualitative research approach. 
Upon data collection, personal interviews were made aiming at its depth and focus groups 
were formed. The first stage had interviews with four experienced researchers who took part 
on a teaching and researching event and on the second stage we used the focus group 
technique. The focus groups were done in four college institutions along with the post 
graduation programs in Administration in the states of Rio Grande do Norte, Paraíba and 
Pernambuco, in Brazil. The results suggest the existence of general principles and parameters 
for the scientific research recommended in the literature and on official resolution. However, 
in the Administration area, there are only a few recommendations of good practices when it 
comes to submitting articles for scientific publications but we found no guidance with ethical 
principles and parameters which cover all the activities in the scientific research and which 
specifically meet the research particularities in Administration. The main ethical dilemma 
pointed by the researchers refers to ethical questions which arise at the time of data collection 
and on disclosing the results. Most researchers do not know the guidelines and the ethical 
norms on ethics about research that we have in our country neither do they send in their 
projects to the research ethics committee. When dilemma arises, they decide the ethical 
question based on their values and common sense. These elements confirm the thesis that the 
researcher’s procedure in the research activities in Administration is predominantly signed by 
personal values or by common sense and less by ethical principles, whether by not knowing 
the normative instruments related to ethics or by disagreeing with any disciplining rules on 
ethical behavior in the research. 
 
 
 
 
 
 
Key words: Ethics; Research; Ethical reflection; Ethical principles; Ethical behavior; 
Administration research. 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 Figura 1 – O ponto de vista moral e quatro abordagens possíveis de análise ética ........... 40 
 Figura 2 - Os três domínios da ação humana .................................................................... 54 
 Figura 3 – Desvios de conduta na pesquisa social ............................................................ 58 
 Figura 4 – O profissional e as pressões externas pela ética ............................................... 62 
 Figura 5 – Caminhos da regulamentação e da orientação ética em pesquisa 
 científica no Brasil ............................................................................................ 74 
 Figura 6 – Quatro princípios do modelo normativo da ética na pesquisa – 
 Resolução n. 196/96-CNS ................................................................................ 76 
 Figura 7 – Questões éticas e o processo de pesquisa......................................................... 94 
 Figura 8 – Categorias de princípios éticos identificados em códigos de ética na pesquisa 
 social ................................................................................................................. 96 
 Figura 9 – Dilemas éticos na pesquisa, enfrentados pelos entrevistados ........................ 126 
 Figura 10 – Possibilidade de tomada de decisão na pesquisa por parte dos 
 pesquisadores ................................................................................................ 130 
 Figura 11 – Tomada de decisão na pesquisa por parte dos pesquisadores entrevistados.132 
 Figura 12 – Espaços sugeridos pelos entrevistados para ações educativas e reflexões 
 sobre a ética na pesquisa em Administração ............................................... 135 
 Figura 13 – Percepção dos grupos focais quanto à conduta ética na pesquisa científica.142 
 Figura 14 – Dilemas éticos apontados na discussão dos grupos focais ........................... 148 
 Figura 15 – Visão dos grupos focais quanto à conduta ética do pesquisador em 
 Administração ............................................................................................... 153 
 
 Gráfico 1 – Perfil dos CEPs no Brasil............................................................................... 75 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
 Quadro 1 – Doutrinas éticas fundamentais ................................................................... 30-31 
 Quadro 2 – Resumo das abordagens sobre teorias éticas .................................................. 38 
 Quadro 3 – Classificação dos principais tipos de pesquisa ............................................... 44 
 Quadro 4 – Questões éticas a serem observadas no processo de pesquisa ....................... 64 
 Quadro 5 – Áreas de preocupação ética em pesquisas ...................................................... 66 
 Quadro 6 – Resumo dos princípios éticos abordados na literatura .............................. 98-99 
 Quadro 7 – Grupos focais ................................................................................................ 107 
 Quadro 8 – Características dos documentos orientadores da conduta ética do 
 pesquisador ............................................................................................ 118-119 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
ANPAD Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração 
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
CEP Comitê de Ética em Pesquisa 
CGEE Centro de Gestão de Estudos Estratégicos 
CNS Conselho Nacional de Saúde 
CONEP Comissão Nacional de Ética em Pesquisa 
EnANPAD Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em 
 Administração 
EnEC Encontro de Editores Científicos de Administração e Contabilidade 
EnEPQ Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade 
EPQ Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade 
MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação 
MS Ministério da Saúde 
SISNEP Sistema Nacional de Informação sobre Ética em Pesquisa envolvendo Seres 
 Humanos 
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
UFPB Universidade Federal da Paraíba 
UFPE Universidade Federal de Pernambuco 
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
UnP Universidade Potiguar 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 15 
 
 2 ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA EM ADMINISTRAÇÃO ............................. 27 
 2.1 Ética ............................................................................................................................. 27 
 2.1.1 Evolução e definições da ética e da moral ............................................................. 27 
 2.1.2 Teorias éticas .......................................................................................................... 35 
 2.2 Ética na pesquisa científica.......................................................................................... 41 
 2.2.1 Produção do conhecimento e ética ......................................................................... 41 
 2.2.2 Conduta ética e má conduta ética na pesquisa científica ....................................... 51 
 2.2.3 Princípios éticos na pesquisa .................................................................................. 64 
 2.2.4 Normas e diretrizes institucionais sobre ética na pesquisa científica .................... 67 
 2.3 Ética na pesquisa em Administração ........................................................................... 85 
 2.3.1 Pesquisa em Administração ................................................................................... 85 
 2.3.2 Ética na pesquisa em Administração ..................................................................... 88 
 
 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................ 100 
 3.1 Tipo de estudo ........................................................................................................... 100 
 3.2 Abrangência do estudo .............................................................................................. 102 
 3.3 Participantes da pesquisa ........................................................................................... 104 
 3.4 Coleta dos dados e instrumentos de coleta ................................................................ 104 
 3.5 Análise dos dados ...................................................................................................... 108 
 3.6 Limitações do estudo ................................................................................................. 111 
 
 4 REFLEXÕES E DISCUSSÕES SOBRE ÉTICA NA PESQUISA EM 
 ADMINISTRAÇÃO ........................................................................................................ 113 
 4.1Análise de documentos norteadores da ética na pesquisa científica ............................ 113 
 4.2 Análise das entrevistas ............................................................................................... 120 
 4.2.1 Percepção dos pesquisadores sobre boa conduta ética e má conduta na 
 pesquisa científica ........................................................................................................ 121 
 4.2.2 Dilemas éticos enfrentados pelos pesquisadores no desenvolvimento das 
 atividades de pesquisa .................................................................................................. 125 
 
 
 4.2.3 Conhecimento dos pesquisadores em Administração acerca dos princípios 
 sobre ética na pesquisa existente no Brasil .................................................................. 127 
 4.2.4 Tomada de decisão ética por parte dos pesquisadores ........................................ 129 
 4.2.5 Visão dos pesquisadores quanto à necessidade de orientação e/ou 
 normatização ética na atividade de pesquisa em Administração ................................ 133 
 4.3 Ética na pesquisa à luz dos grupos focais ................................................................ 136 
 4.3.1 Percepção dos grupos focais quanto à conduta ética e responsável do pesquisador e 
 quanto à má conduta na pesquisa científica .............................................................. 138 
 4.3.2 Dilemas éticos enfrentados pelos grupos focais no desenvolvimento das atividades 
 de pesquisa em Administração .................................................................................... 146 
 4.3.3 Conhecimento dos grupos focais acerca dos princípios sobre ética na 
 pesquisa existentes no Brasil ....................................................................................... 149 
 4.3.4 Aspectos considerados na tomada de decisão sobre questões e dilemas éticos 
 nas atividades de pesquisa ............................................................................................ 152 
 4.3.5 Visão dos grupos focais quanto à necessidade de orientação e/ou normatização 
 ética na atividade de pesquisa em Administração ........................................................ 155 
 
 5 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 157 
 
 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 163 
 
 APÊNDICES ....................................................................................................................171 
 APÊNDICE A – Instrumento de pesquisa 1 - Roteiro de entrevista ................................ 172 
 APÊNDICE B – Instrumento de pesquisa 2 - Guia de questões para grupo focal ............ 173 
 APÊNDICE C – Termo de consentimento livre e esclarecido .......................................... 174 
 
ANEXOS ........................................................................................................................... 175 
ANEXO A – Resolução n. 196/96-CNS ............................................................................ 176 
ANEXO B – Relatório da comissão de integridade de pesquisa do CNPq ...................... 188 
ANEXO C – Código de boas práticas científicas - FAPESP ............................................ 193 
ANEXO D – Boas práticas da publicação científica - ANPAD ........................................ 203 
 
15 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 A ética é um tema que suscita debates, dilemas e diferentes abordagens teóricas. 
Constitui-se em uma remota preocupação humana. Desde o surgimento da filosofia, a ética 
vem sendo abordada e discutida em diversas áreas do conhecimento. 
 Na pesquisa científica, a ética também é atualmente um tema que gera muitas 
discussões. Porém, nem sempre foi assim. Campos e Costa (2007) colocam que por muito 
tempo a atividade de pesquisa foi considerada isenta de considerações de ordem ética. A 
neutralidade do pesquisador era exigência inexorável e a confiabilidade dos resultados 
depreendia da capacidade de se descolar de seus valores para se ater exclusivamente ao rigor 
do método. Assim, da pesquisa se cobrava tão somente a observância rigorosa dos métodos e 
dos procedimentos, abstraídas as consequências da aplicação de seus resultados. Desde que 
"científico", o conhecimento gerado legitimava-se e o pesquisador poderia ter certeza de 
servir à causa nobre do progresso da ciência. 
 Mais recentemente, os próprios cientistas passaram a reduzir essa distância. Há um 
fundamento ético na busca do conhecimento e na necessidade de aproximação da verdade. 
Atualmente, a ética está no centro dos debates sobre os limites da ciência. E esses debates 
envolvem pesquisadores, instituições, cidadãos em geral, juristas, religiosos, profissionais de 
diversas áreas e comunidades científicas (MATHEUS, 2006). 
 Guilhem e Zicker (2007) reforçam que é crescente o interesse pelo tema da ética em 
pesquisa e que esse crescimento está relacionado com o processo de globalização da pesquisa 
em saúde, com as questões econômicas envolvidas e com a vulnerabilidade de países em 
desenvolvimento como locais de estudo, de produção de conhecimento e de desenvolvimento 
de produtos. Além disso, com os novos conhecimentos científicos e as novas tecnologias 
surgem novas questões éticas que carecem de reflexão. 
Na visão de Paiva (2005), devido à imprevisibilidade das consequências de uma 
investigação é imperativo que a ética esteja sempre presente na elaboração de um projeto de 
pesquisa, sobretudo, quando esta lida com seres humanos. Na área de saúde, o tema bioética é 
bastante abordado em pesquisas que envolvem seres humanos e em eventos da área, porém, a 
discussão e a reflexão sobre ética na pesquisa científica não é tão aprofundada em outras áreas 
das ciências, tais como as ciências sociais. 
16 
 
 Hutz (1999) destaca que até o ano de 1988 não havia no Brasil uma preocupação 
institucional com os aspectos éticos da pesquisa. O pesquisador era o único árbitro da 
adequação ética de sua pesquisa, a sociedade concedia licença total a seus cientistas para 
experimentar e pesquisar em seres humanos das formas que julgassem apropriadas ou 
necessárias. 
 A primeira diretriz brasileira com relação à normatização da ética na pesquisa com 
seres humanos foi a Resolução n° 1/1988, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), órgão 
ligado ao Ministério da Saúde (MS), e representou um importante avanço. (CNS, 1988). 
 Anos depois, foi aberto um novo debate sobre o tema, envolvendo diferentes 
segmentos da sociedade. E esse grupo se dedicou a elaborar a nova resolução que pudesse 
abranger as múltiplas questões relativas às pesquisas com sujeitos humanos (CNS, 2008). 
Surgiu assim a Resolução n° 196/96 – CNS/MS, que incorpora, sob a ótica do 
indivíduo e das coletividades, quatro referenciais ou princípios básicos da ética: autonomia, 
não maleficência, beneficência e justiça, e visa assegurar os direitos e deveres que dizem 
respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado (CNS, 1996). 
 Na referida resolução, é ressaltado que cada área temática de investigação e cada 
modalidade de pesquisa em qualquer área do conhecimento, além de respeitar os princípios 
emanados no texto da resolução, devem cumprir com as exigências setoriais e 
regulamentações específicas de cada área de pesquisa. 
 O item IX.I da Resolução n° 196/96 – CNS/MS (CNS, 1996) destaca que, 
 
Todo e qualquer projeto de pesquisa envolvendo seres humanos deverá obedecer às 
recomendações desta Resolução e dos documentos endossados em seu preâmbulo. A 
responsabilidade do pesquisador é indelegável, indeclinável e compreende os aspectos 
éticos e legais. 
 
 A partir da Resolução n° 196/96 – CNS, foram criados, nas universidades brasileiras e 
em outras instituições ligadas à pesquisa científica, os Comitês de Ética em Pesquisa (CEP). 
Os comitês de ética em pesquisa são, conforme a Resolução n° 196/96 – CNS, item II.14, 
 
(...) colegiados interdisciplinares e independentes, com "munus público", de caráter 
consultivo, deliberativo e educativo, criados para defender os interesses dos sujeitos 
da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da 
pesquisa dentro de padrões éticos. (CNS, 1996). 
 
17 
 
 Francisconi et al. (2009) ressaltam que os CEPs devem ter a participação de 
pesquisadores de reconhecida competência, além de membros externos à comunidade 
científica e às instituições e devem avaliar especificamente os aspectos éticos das atividades 
científicas. 
 Os Comitês de Ética em Pesquisa no Brasil estão, em grande parte, inseridos nas 
universidades brasileiras públicas e privadas, mas existem também comitês ligados às 
secretarias de saúde dos Estados e aos institutos de pesquisa. 
 Além das resoluções federais já existentes, levantou-se que, nos últimos anos, órgãos 
de apoio a pesquisa científica passaram a refletir sobre a integridade na pesquisa, e assim 
criaram diretrizes e códigos de boa conduta, em alguns casos motivados a partir de denúncias 
de fraudes em pesquisas. 
 A partir do recebimento de denúncias de fraude em publicações científicas envolvendo 
pesquisas apoiadas pelo órgão, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e 
Tecnológico (CNPq) criou, em 2011, uma comissão de integridade de pesquisa para elaborar 
algumas diretrizes sobre ética na pesquisa, de forma a nortear a conduta dos pesquisadores 
com bolsa de produtividade da instituição. (CNPq, 2011). A referida comissão elaborou um 
relatório final no qual abordou que: 
 
A necessidade de boas condutas na pesquisa científica e tecnológica tem sido motivo 
de preocupação crescente da comunidade internacional e no Brasil não é diferente. A 
má conduta não é fenômeno recente, haja vista os vários exemplos que a história nos 
dá de fraudes e falsificação de resultados. (CNPq, 2011). 
 
 A comissão do CNPq preconiza que, as más condutas na pesquisa são assunto de 
interesse das agências de financiamento e que as mesmas devem zelar pela aplicação correta 
dos seus recursos em pesquisadores que sejam capazes de produzir avanços efetivos e 
confiáveis do conhecimento, instituindo assim, mecanismos de identificação e desestímulo de 
práticas fraudulentas na pesquisa, e dessa forma, estimulando a integridade na produção e na 
publicação dos resultados de pesquisas (CNPq, 2011).Também em 2011, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo 
(FAPESP) criou o “Código de Boas Práticas Científicas”, onde estabelece diretrizes éticas: 
para as atividades científicas dos pesquisadores beneficiários de auxílios e bolsas da FAPESP; 
para o exercício da função de avaliador científico pelos assessores da FAPESP; para 
18 
 
instituições e organizações de pesquisa e para os periódicos científicos apoiados pela referida 
fundação (FAPESP, 2011). 
 Segundo a FAPESP (2011), as diretrizes estabelecidas no código da fundação 
concernem a uma parte da esfera da ética profissional do cientista, parte esta que se refere 
apenas à integridade ética da pesquisa científica enquanto tal, ou seja, aos valores e padrões 
éticos de conduta que derivam direta e especificamente do compromisso do cientista com a 
finalidade de sua profissão: a construção coletiva da ciência como um patrimônio coletivo. 
 No Brasil, a maioria das pesquisas científicas são realizadas nas universidades. 
Bianchetti e Valle (2011) colocam que, no país a pós-graduação teve seu processo de 
institucionalização iniciado nos primeiros anos da década de 1950 com a criação da 
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), mas que só nos 
anos de 1970 é que a pós-graduação ganhou forte impulso, principalmente em universidades 
públicas e confessionais. Destacam ainda que, a educação formal brasileira como um todo, 
expandiu-se de uma maneira sem precedentes a partir da queda do regime ditatorial e da 
retomada do processo democrático, o que ocorreu pela institucionalização da chamada Nova 
República, em 1985, e da aprovação de uma nova Constituição Federal para o país (1988) e 
de uma nova lei para a educação brasileira (a LDBEN n. 9394/96). 
 A partir da evolução da pós-graduação no país, percebe-se que se por um lado foram 
criadas resoluções, comitês de ética na pesquisa, diretrizes e códigos de conduta ética, 
observou-se, por outro lado, com relação aos pesquisadores no país, um crescimento no 
Brasil do número de pesquisadores doutores, atuando em bases de pesquisa no país. Entre 
1996 e 2008, houve um crescimento de 278% no número de doutores titulados no Brasil, o 
que corresponde a uma taxa média de 11,9% de crescimento ao ano. Esta é uma das 
conclusões do estudo do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao 
Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI), transformado na publicação 
“Doutores 2010: estudos da demografia da base técnico-científica brasileira” (CAPES, 2010). 
 O estudo revela ainda taxas significativas de crescimento em todas as grandes áreas do 
conhecimento. Entre as que mais cresceram, destacam-se as ciências sociais aplicadas e as 
ciências humanas, que apresentaram crescimento de respectivamente 14,8% e 13,6% em 
média ao ano. Entre as áreas que cresceram abaixo da média, 11,9%, estão inclusas as áreas 
das ciências exatas e da terra. (CAPES, 2010). Observa-se, assim que há um aumento do 
número de pesquisadores nas áreas de ciências sociais aplicadas, o que demanda um olhar 
mais aprofundado sobre as questões éticas das pesquisas desenvolvidas nesta área. 
19 
 
 Especificamente, no campo da Administração, levantou-se que o único documento que 
discute práticas éticas, elaborado no Brasil, foi de iniciativa da Associação Nacional dos 
Programas de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD), que em 2010, 
elaborou um manual de boas práticas voltado para publicação científica, onde são 
apresentadas diretrizes éticas norteadoras para a conduta dos autores, editores, revisores e 
integrantes de corpos editorias de periódicos. 
 A associação coloca que o Manual ANPAD de Boas Práticas da Publicação Científica 
(Boas práticas da publicação científica: um manual para autores, revisores, editores e 
integrantes de corpos editoriais), é um documento que visa ajudar os periódicos brasileiros a 
alcançar elevado desempenho e a ampliar o seu impacto como fonte de pesquisa referencial 
nas áreas de Administração e Contabilidade e, que as boas práticas recomendadas representam 
um conjunto de critérios e orientações a respeito da publicação científica e dos papéis dos 
principais atores envolvidos no processo, tanto sob o ponto de vista ético quanto do 
operacional. (ANPAD, 2010). 
 No Manual da ANPAD (2010) é colocado que o documento em questão não tem 
caráter normativo, mas sim de orientação, que foi construído com base na literatura e na 
prática de se produzir a publicação científica. 
 Dessa forma, observa-se o crescente interesse em debater e refletir sobre a ética na 
pesquisa no Brasil quer seja pelo aumento do número de pesquisadores e das pesquisas e 
publicações por parte dos pesquisadores, quer seja pelo aumento de fraudes e desvios de 
conduta denunciados no campo da pesquisa científica, conforme dados da CAPES (2010) e 
CNPq (2011). 
 Segundo Oliveira (1983), nas Ciências Sociais o método científico procura descrever o 
comportamento, predizer comportamentos, determinar as causas do comportamento, entender 
ou explicar o comportamento dos indivíduos. No entanto, dada a natureza “nebulosa” das 
variáveis ligadas à percepção, atitude e comportamento, o processo de aquisição de 
conhecimentos nas Ciências Sociais se torna mais complexo do que nas Ciências Exatas, onde 
os materiais, os objetos e as coisas são mais facilmente identificáveis, mensuráveis e 
observáveis. 
Bell e Bryman (2007) discutem que, os pesquisadores de gestão enfrentam questões 
éticas de natureza diferente em relação àquelas confrontadas com frequência por outros 
20 
 
pesquisadores das ciências sociais, e defendem um reconhecimento mais explícito dos fatores 
contextuais envolvidos na pesquisa em Administração 
Os autores supracitados colocam também que o aumento na regulamentação ética é 
visto por alguns pesquisadores do campo da Administração, no Reino Unido, como evidência 
de ataque contra a independência acadêmica e as estruturas éticas são tratadas como 
mecanismos reguladores que refletem a falta de profissionalismo dos acadêmicos. Porém, os 
autores salientam que a prática de se apoiar em diretrizes científicas sociais gerais não 
considera a possibilidade de que os pesquisadores da área de Administração tendem a 
enfrentar diferentes tipos de situações éticas de outros pesquisadores sociais. 
Creswell (2007) salienta que, as questões éticas devem ser refletidas em todo o 
processo de pesquisa e recomenda que princípios éticos sejam considerados em cada etapa do 
processo da pesquisa. Esses princípios éticos referem-se a: beneficência; transparência na 
comunicação dos objetivos e dos órgãos apoiadores da pesquisa; não exposição dos 
participantes da pesquisa ao risco; autonomia e livre consentimento dos participantes; respeito 
à privacidade e ao anonimato; disponibilização do resultado final da pesquisa; honestidade 
nas práticas da pesquisa; qualidade na análise da pesquisa. 
 Quanto aos dilemas éticos, Medeiros et al.(2007) afirmam que, estão presentes em 
qualquer tipo de pesquisa desenvolvida nas distintas áreas das ciências. E que os principais 
aspectos dos dilemas éticos podem estar relacionados tanto aos próprios pesquisadores – no 
que tange a concepção inicial da proposta de pesquisa e seu delineamento – como ao processo 
de desenvolvimento da pesquisa em todas as suas etapas operacionais, incluindo-se o 
momento da comunicação do seu produto final. 
 Salienta-se assim que, o debate ético deve ser abordado em qualquer tipo de pesquisa, 
mas principalmente nas pesquisas científicas que sejam desenvolvidas em toda e qualquer 
área das ciências, como é destacado tanto pelas resoluções federais, como também pelos 
autores estudados. 
 Se o processo de aquisição de conhecimentos nas Ciências Sociais é mais complexo, 
como colocam os autores citados anteriormente, e se dilemas éticos e questionamentosestão 
presentes em qualquer tipo de pesquisa das distintas áreas das ciências, porque dilemas, 
reflexões e questionamentos éticos no processo de pesquisa são tão pouco estudados na área 
das Ciências Sociais Aplicadas, mais especificamente nas Ciências Administrativas? 
21 
 
 As Ciências Administrativas, diferentemente, de outras ciências, não carecem de 
princípios éticos para nortearem a conduta dos pesquisadores? Como então estimular o debate 
e a reflexão ética no campo da pesquisa científica em Administração? 
 A partir desses questionamentos, é pertinente investigar: Como os princípios éticos 
encontrados na literatura e nos códigos de conduta são percebidos nas atividades de 
pesquisa em Administração, desenvolvidas por pesquisadores atuantes em Programas de 
Pós-Graduação em Administração? 
O campo de estudo se circunscreve aos Programas de Pós-Graduação em 
Administração, por estes se constituírem lócus de excelência de realização da atividade de 
pesquisa. Definido o problema de pesquisa, emergem duas categorias de análise: os princípios 
éticos e as atividades de pesquisa. 
Japiassú e Marcondes (1996) definem princípios éticos como preceitos morais e 
normas de ação que determinam a conduta humana. Pode-se colocar assim que, por princípios 
éticos na pesquisa compreendem-se as orientações de boa conduta na pesquisa a serem 
seguidas por pesquisadores. 
 As atividades de pesquisa são todas as ações desenvolvidas em cada etapa do 
processo de: definição do problema da pesquisa; definição dos objetivos e indagações; 
aplicação da coleta de dados; análise e interpretação dos dados e divulgação, com a redação 
do relatório final da pesquisa, como destaca Creswell (2007). 
 Definidas as categorias foram formulados os seguintes questionamentos: 
• O que os pesquisadores em Administração percebem ser conduta ética e má 
conduta no processo de pesquisa? 
• Que dilemas éticos os pesquisadores em Administração enfrentam no 
desenvolvimento das atividades de pesquisa? 
• Os pesquisadores que atuam na área da Administração conhecem, consideram e 
refletem sobre os princípios, diretrizes e parâmetros éticos existentes? 
• Os pesquisadores em Administração consideram seus valores pessoais e morais 
e/ou os princípios e parâmetros éticos na tomada de decisão sobre questões e 
dilemas éticos nas atividades de pesquisa? 
• Os pesquisadores em Administração acreditam que é necessária a orientação ou 
normatização sobre ética na pesquisa científica no campo da Administração? 
22 
 
 O presente estudo tem por objetivo geral: Apreender como os pesquisadores atuantes 
nos Programas de Pós-Graduação em Administração percebem e consideram os princípios 
éticos da pesquisa científica. 
E, como objetivos específicos: 
a) Identificar a percepção dos pesquisadores quanto ao que consideram ser boa 
conduta ética e má conduta na pesquisa científica; 
b) Conhecer os dilemas éticos enfrentados pelos pesquisadores no desenvolvimento 
das atividades de pesquisa; 
c) Identificar o conhecimento dos pesquisadores em Administração acerca dos 
princípios sobre ética na pesquisa existentes no Brasil; 
d) Levantar se os pesquisadores em Administração consideram seus valores pessoais 
e/ou os princípios éticos na tomada de decisão sobre questões e dilemas éticos nas 
atividades de pesquisa. 
e) Conhecer a visão dos pesquisadores quanto à necessidade de orientação e/ou 
normatização na atividade de pesquisa em Administração; 
f) Levantar os documentos existentes, no país, que busquem orientar a conduta ética 
dos pesquisadores em Administração. 
O presente trabalho propõe-se então a examinar a seguinte tese: A conduta do 
pesquisador nas atividades de pesquisa em Administração é predominantemente balizada por 
valores pessoais ou pelo senso comum e menos por princípios éticos, seja pelo 
desconhecimento de instrumentos normativos relacionados à ética, seja pela discordância com 
quaisquer regras de disciplinamento sobre conduta ética na pesquisa. 
 A escolha do tema “ética na pesquisa em Administração” pode ser justificada de várias 
formas. Inicialmente, o interesse pelo tema “ética na pesquisa” surgiu a partir de buscas feitas 
nos livros das áreas de teoria da pesquisa e metodologia da pesquisa, quando foi constatado 
que muitos livros consultados não tinham nenhuma referência à ética na pesquisa científica. 
Os poucos livros que apresentavam capítulos inteiros ou trechos de capítulos que 
abordavam o tema eram livros de pesquisa de marketing, voltados para a pesquisa comercial. 
E um número ainda menor de livros de métodos de pesquisa abordava as questões éticas no 
processo de pesquisa, como encontrado em Creswell (2007). 
Com essa lacuna de conhecimento encontrada, despertou-se o interesse em aprofundar 
a busca de conhecimento sobre ética na pesquisa científica, na área da Administração, pois 
23 
 
observava-se, desde então, que, como em todas as outras áreas das ciências, podem ocorrer 
desvios de conduta por parte de pesquisadores em Administração. 
A partir da constatação da referida lacuna no conhecimento sobre o tema da ética na 
pesquisa científica em Administração nos livros consultados, procurou-se levantar dados 
sobre pesquisas realizadas e observou-se que, a maioria dos artigos científicos encontrados e 
publicados em periódicos nacionais concentravam-se, no debate sobre a ética na pesquisa na 
área da saúde, enfocando a bioética. 
 Os levantamentos sobre a publicação de teses que abordassem o tema ética na 
pesquisa foram feitos no site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior (CAPES), no banco de teses da Capes. Através do acesso ao portal de periódicos da 
Capes, foram feitas, também, buscas e consultas em publicações internacionais e nacionais. 
Foram acessadas bases como EBSCO, Proquest, Web of Science, SAGE journals online, entre 
outras. Os termos pesquisados envolviam os nomes; “ética”, “ética na pesquisa”, “research 
ethics”, “ethics of management research”. As consultas e levantamentos nos locais indicados 
foram feitas no período de 2008 a 2011. 
 Com relação a busca por teses foram encontradas muitas teses da área de medicina e 
odontologia que abordaram o tema ética na pesquisa. Nas áreas afins, como Ciências 
Contábeis, foi encontrada uma tese (ANDRADE, 2011) que tratou da má conduta na pesquisa 
na Contabilidade. E onde o autor afirma que há “[...] diminuto número de estudos realizados 
no Brasil sobre má conduta na pesquisa na área de contabilidade.” (ANDRADE, 2011, p.8). 
Na área de Administração, especificamente, não foram localizadas teses que abordam 
o tema “ética na pesquisa em Administração”, apenas teses com enfoque na “ética dos 
negócios”, ou mais especificamente, ética no marketing. Como não foram encontradas teses, 
no país sobre ética na pesquisa na área da Administração, observou-se assim, uma grande 
lacuna a ser preenchida na produção do conhecimento sobre o tema da presente pesquisa. 
Já com relação a artigos internacionais, foram encontrados muitos artigos voltados ao 
estudo da bioética, mas poucos artigos que abordavam especificamente a temática da ética na 
pesquisa na área da Administração, como o artigo de Bell e Bryman (2007). 
Foram encontrados diversos artigos científicos que abordavam, no Brasil, no campo 
da Administração, a temática ética, mas com enfoque maior na ética nos negócios, ética nas 
organizações e ética no ensino da Administração, porém com a temática voltada à discussão 
aprofundada sobre a ética na pesquisa científica, só foram encontrados dois artigos, no 
24 
 
formato de ensaio teórico: Mattos (2005b) e Yokomizo (2008), até o período de levantamento 
bibliográfico. 
Mattos (2005b) abordava a ética do pesquisador, colocando-a como uma dimensão 
pouco explorada. Já Yokomizo (2008) abordou os desvios de condutana pesquisa acadêmico-
científica. Outros artigos ligados a pesquisa científica foram levantados, com enfoque no 
produtivismo, como Mattos (2008); Alcadipani (2011); Bianchetti e Valle (2011) e Godoi e 
Xavier (2012). 
A partir dessas constatações, foi iniciado o estudo sobre o tema e elaboradas pesquisas 
preliminares, em 2008 e 2009, em disciplinas do curso de Doutorado em Administração, do 
Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte (UFRN). 
A primeira pesquisa desenvolvida pela pesquisadora e colaboradores, abordando o 
tema “ética na pesquisa em Administração”, foi aplicada em 2008, junto a pesquisadores do 
Departamento de Ciências Administrativas (DEPAD) e do PPGA da UFRN. Esse trabalho 
inicial gerou um artigo: “Ética na Pesquisa em Administração - reflexões junto aos 
pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte” (LEITE et al., 2009), que foi 
publicado e apresentado na sessão temática que abordava o tema ética na pesquisa, no XXXIII 
Encontro da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração 
(EnANPAD), em 2009. Foi o único trabalho apresentado sobre a temática específica da “Ética 
na Pesquisa”. O trabalho se tratou de uma pesquisa exploratória e descritiva, que através de 
uma abordagem quantitativa, buscava verificar se as questões éticas estavam sendo 
consideradas no processo de pesquisa em Administração. 
Vale salientar que, a Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em 
Administração (ANPAD), inseriu pela primeira vez o tema de interesse “Ética na pesquisa e 
produção do conhecimento em Administração e Contabilidade”, na divisão acadêmica 
“Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade” (EPQ), em 2009, dada a importância 
constatada do tema a ser pesquisado e discutido nos programas de pós-gradução do Brasil. 
Em 2010, novamente foi elaborada, pela presente pesquisadora, uma pesquisa sobre o 
tema ética na pesquisa, sendo que o tema em estudo foi abordado dentro de uma perspectiva 
qualitativa, diferentemente da primeira pesquisa, que tratou-se de uma abordagem 
quantitativa. A pesquisa gerou um segundo artigo, intitulado de “Percepções e reflexões de 
pesquisadores – uma abordagem sobre ética na pesquisa” (LEITE et al., 2010), que buscou, 
25 
 
através de uma abordagem inicial, conhecer as percepções dos pesquisadores sobre a ética no 
processo de pesquisa. Sendo aceito, apresentado e publicado nos anais do XXXIV 
EnANPAD, em 2010, na sessão temática “Ética na pesquisa e produção do conhecimento em 
Administração e Contabilidade”, na divisão acadêmica de EPQ. 
 Ao final do XXXIV EnANPAD, em 2010, foi realizado um fórum de editores 
científicos de Administração e Contabilidade, por ocasião do II Encontro de Editores 
Científicos de Administração e Contabilidade (II EnEC), onde foi elaborado um manual de 
“Boas Práticas da Publicação Científica: um manual para autores, revisores, editores e 
integrantes de Corpos Editoriais”, sendo que a versão final (revisada mediante consulta 
pública realizada com os editores) foi divulgada em dezembro de 2010. (MANUAL ANPAD, 
2010). 
 O Manual da ANPAD representa a preocupação crescente, na área da Administração, 
com os aspectos éticos envolvidos na conduta dos editores, comitês ou conselhos editoriais, 
revisores e em particular do pesquisador. O manual está relacionado a um dos pontos finais do 
processo de pesquisa, que trata da publicação científica e produção de periódicos científicos. 
Mesmo assim, observa-se que a discussão e a elaboração do referido guia orientador reforça a 
importância da presente pesquisa, pois nesta, são discutidas as reflexões e considerações dos 
pesquisadores com relação a um tema – ética na pesquisa – que envolve a confiabilidade e a 
qualidade na condução do processo de pesquisa em Administração. 
Diante do exposto, observa-se a relevância do estudo sobre o tema, ética na pesquisa 
em Administração, devido ao fato de ser um tema relativamente novo na área da 
Administração, relevante para o progresso da ciência na área estudada, original e pouco 
estudado até então. Além do fato de não existirem normas ou princípios éticos específicos e 
norteadores das pesquisas no campo da Administração, conforme Bell e Bryman (2007), o 
que reforça a importância do debate reflexivo sobre a ética na pesquisa em Administração. 
Pretende-se dessa forma contribuir para a discussão aprofundada e crítica sobre o 
tema, buscando suprir as lacunas do conhecimento e gerar o debate sobre a importância da 
ética na pesquisa científica em Administração. 
 Este trabalho está estruturado em cinco capítulos, incluindo esta Introdução que 
apresentou as considerações iniciais sobre o estudo, objetivo geral e objetivos específicos, 
justificativa, contribuições do estudo e estrutura dos capítulos. 
26 
 
 O segundo capítulo trata do quadro teórico relacionado ao tema “ética na pesquisa em 
Administração” e para compor este quadro foram abordadas primeiramente, as definições, a 
evolução e as teorias sobre ética, enfocando a seguir, a relação entre ética e ciência, como 
também as normas e princípios éticos da pesquisa existentes no Brasil. E por fim, foram 
abordadas aspectos relacionados à ética na pesquisa científica no campo da Administração. 
 O terceiro capítulo descreve os procedimentos metodológicos utilizados neste estudo, 
o tipo do estudo aplicado, os sujeitos da pesquisa, o processo de coleta dos dados, os 
instrumentos de pesquisa utilizados, os procedimentos adotados para a análise da pesquisa, 
como também as limitações encontradas neste estudo. 
 O quarto capítulo abrange toda a análise e discussão dos dados, onde são apresentados 
os resultados da pesquisa com os pesquisadores entrevistados e com os grupos focais sobre o 
tema da ética. 
 O quinto e último capítulo apresenta as principais conclusões da pesquisa e as 
recomendações para pesquisas futuras. Apresentam-se, a seguir, os pressupostos teóricos que 
discorrem sobre a temática da ética na pesquisa e sua vinculação com o campo da 
Administração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
2. ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA EM ADMINISTRAÇÃO 
 
De forma a serem atingidos os objetivos da presente pesquisa, faz-se necessário 
incursões teóricas sobre a ética na pesquisa científica e, mais especificamente, sobre ética na 
pesquisa em Administração. Assim sendo, no presente capítulo serão abordados os seguintes 
temas: ética (conceitos, evolução e teorias éticas); ética na pesquisa científica (produção do 
conhecimento e ética, conduta ética e má conduta, normas e diretrizes éticas) e ética na 
pesquisa em Administração. 
 
2.1. Ética 
 
 Na tentativa de compreender o tema “ética”, serão expostas algumas definições e 
conceitos, alicerçados em abordagens de diversos teóricos. Primeiramente, buscar-se-á 
apresentar as origens das palavras: ética e moral e, em seguida, discutir-se-á a evolução 
histórica do estudo da ética. 
 
 
2.1.1 Evolução e definições da ética e da moral 
 
 
Conceituar ética não é uma tarefa simples, considerando-se que este campo de estudo 
é bastante complexo. A ética constitui uma preocupação antiga do homem. Desde o 
surgimento da filosofia, a ética vem sendo abordada com ênfase. Etimologicamente, a palavra 
ética tem sua origem no termo grego ethos, que por sua vez significa modo de ser, caráter. 
(KAKABADSE et al., 2002; POLLI; VARES, 2008). Por sua vez, a palavra moral deriva do 
latim, mais precisamente do termo mos (singular) e mores (plural), significando costumes 
(POLLI; VARES, 2008). 
Comparato (2008) destaca que, na língua grega, duas palavras, quase homônimas e 
com a mesma etimologia – êthos e ethos – indicam, a primeira, de um lado, o domicílio de 
alguém, ou o abrigo dos animais, e de outro, a maneira de ser ou os hábitosde uma pessoa; a 
segunda palavra, os usos e costumes vigentes numa sociedade e também, secundariamente, os 
hábitos individuais. 
28 
 
Já na etimologia, portanto, encontramos as duas vertentes clássicas da reflexão ética: a 
subjetiva, centrada em torno do comportamento individual, e a objetiva, fundada no 
modo coletivo de vida. Essas duas vertentes foram compridamente exploradas pelo 
pensamento grego. Na primeira delas, a individual, a regra de vida proposta foi a 
virtude (Areté); na segunda, a lei (nómos). (COMPARATO, 2008, p.96). 
 
 Segundo Valls (2008), entre os anos 500 e 300 a. C., aproximadamente, encontra-se o 
período áureo do pensamento grego. O autor coloca que foi um período onde surgiram muitas 
ideias, definições e teorias sobre o agir do homem e destaca os pensadores Sócrates, Platão e 
Aristóteles. Conforme Pegoraro (2008, p.36), “a ética e a política de Aristóteles formam o 
primeiro grande tratado sobre o comportamento das pessoas e da sociedade”. 
 Comparato (2008) destaca que, a filosofia, ou teoria racional da ética, principia com 
Sócrates, que foi o primeiro que procurou definir as virtudes morais. A partir de Sócrates, o 
caminho do conhecimento racional foi aberto e a reflexão ética atingiu uma notável elevação 
com mais eminentes seguidores: Platão e Aristóteles. Sócrates procurou fixar o princípio ético 
fundamental de que os homens, em geral, e os governantes, em particular, são sempre 
pessoalmente responsáveis por seus atos ou omissões intencionais. 
 Já Aristóteles procurou demonstrar que o bem, como finalidade objetiva de toda ação 
humana, é tudo aquilo que apresenta um valor para o homem. Encontra-se aí, em germe, a 
ideia de que o bem e o mal são percebidos também pela inteligência afetiva, o que representa 
a base de toda teoria axiológica moderna (COMPARATO, 2008). 
 Aristóteles (2001, p.17) escreveu no Livro I, da sua obra “Ética a Nicômaco”, que o 
“bem é aquilo a que todas as coisas visam”. E coloca que, o bem deve ser a finalidade de 
todas as ações do homem. Aristóteles (2001) discorre sobre a natureza do “bem”, e que esse 
bem, em cada atividade assume diferentes formas. 
 “Se há, portanto, um fim visado em tudo que fazemos, esse fim é o bem atingível pela 
atividade, e se há mais de um, estes são os bens atingíveis pela atividade” (ARISTÓTELES, 
2001). Chaui (2006) coloca que, se o pensamento filosófico dos antigos for examinado, será 
visto que nele a ética afirma três grandes princípios da vida moral: 
• Por natureza, os seres humanos aspiram ao bem e à felicidade, que só podem ser 
alcançados pela conduta virtuosa; 
• A virtude é uma excelência alcançada pelo caráter, tanto assim que a palavra grega 
que a designa é aretê, que quer dizer “excelência”. É a força interior do caráter que 
29 
 
consiste na consciência do bem e na conduta definida pela vontade guiada pela razão, 
pois cabe a esta última o controle sobre instintos e impulsos irracionais 
descontrolados, que existem na natureza de todo ser humano; 
• A conduta ética é aquela na qual o agente sabe o que está e o que não está em seu 
poder realizar, referindo-se, portanto, ao que é possível e desejável para um ser 
humano. Saber o que está em nosso poder significa, principalmente, não se deixar 
arrastar pelas circunstâncias nem pelos instintos, nem por uma vontade alheia, mas 
afirmar nossa independência e nossa capacidade de autodeterminação. 
 
Na ética antiga, destacavam-se três aspectos principais, como apresenta Chaui (2006): 
1. Racionalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a razão, que conhece o 
bem, deseja-o e guia a vontade até ele. A vida virtuosa é aquela em que a vontade se 
deixa guiar pela razão; 
2. Naturalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a natureza (o cosmo) e com 
a nossa natureza (nosso éthos), que é parte do todo natural. Agir voluntariamente não 
é, portanto, agir contra a necessidade natural e sim agir em harmonia com ela, de 
forma que nossa vontade realize nossa natureza individual e a coloque em harmonia 
com o todo da natureza; 
3. Inseparabilidade entre ética e política: relacionada à inseparabilidade entre a conduta 
do indivíduo e os valores da sociedade, pois somente na existência compartilhada com 
outros encontram-se liberdade, justiça e felicidade. 
 
 Assim, Chaui (2006) coloca que a ética era concebida como educação do caráter do 
sujeito moral para dominar racionalmente impulsos, apetites e desejos, para orientar a vontade 
rumo ao bem e à felicidade, e para formá-lo como membro da coletividade sociopolítica. 
 
 
Na filosofia grega, o nascedouro da ética é a natureza humana que, por sua vez, se 
insere no cosmos também regido por leis naturais ou pelas divindades como a justiça. 
Na idade cristã, a origem natural da ética foi mantida, mas com o acréscimo da criação 
divina do universo e do homem como obras e criaturas de Deus. Portanto, a última 
fonte da ética não é a natureza, mas a lei eterna. (PEGORARO, 2008, p. 9-10) 
30 
 
 Com relação às fases posteriores da evolução da ética, buscou-se agrupar, no quadro a 
seguir, as doutrinas éticas fundamentais. Vazquez (2005) discute alguns dos aspectos dessas 
doutrinas éticas e apresenta os principais filósofos e as características de cada doutrina. 
 
 
Quadro 1 - Doutrinas éticas fundamentais 
 
 
 
 
Doutrinas 
Éticas 
 
Visões e 
características 
 
Visões e 
características 
 
Visões e 
características 
 
Visões e 
características 
 
Visões e 
características 
 
 
 
Ética grega 
 
 
Sofistas – 
não existem 
verdade nem erro, 
e as normas – por 
serem humanas – 
são transitórias. 
 
 
Sócrates – 
A ética socrática é 
racionalista. O 
homem age 
retamente quando 
conhece o bem e, 
conhecendo-o, não 
pode deixar de 
praticá-lo. 
 
 
Platão – 
a ética de Platão 
se relaciona 
intimamente com 
a sua filosofia 
política, como 
para ele e para 
Aristóteles, a 
polis é o terreno 
próprio da vida 
moral. O homem 
é bom enquanto 
bom cidadão. 
 
 
 
 
 
 
 
Aristóteles – 
A ética de 
Aristóteles - como 
a de Platão – está 
unida à sua 
filosofia política, 
a comunidade 
social, e política é 
o meio necessário 
da moral. 
 
 
Estóicos e 
Epicuristas – 
A moral não 
mais se define 
em relação à 
polis, mas ao 
universo. A 
física é premissa 
da ética. 
 
 
Ética cristã 
medieval 
 
 
Ética religiosa – 
A Igreja exerce 
poder espiritual. A 
moral concreta e a 
ética estão 
impregnadas de 
conteúdo religioso. 
A ética cristã 
tende a regular o 
comportamento 
dos homens com 
vistas a outro 
mundo 
(sobrenatural). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ética cristã 
filosófica – 
Subordinava-se a 
filosofia à teologia. 
Ética limitada pela 
sua índole religiosa 
e dogmática. 
Ética de Santo 
Agostinho e de 
Santo Tomás de 
Aquino. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
Ética moderna 
 
Ética 
antropocêntrica – 
a razão separa-se 
da fé, e a filosofia 
da teologia. O 
homem aparece no 
centro da política, 
da ciência, da arte 
e da moral. Ética 
com centro e 
fundamento no 
homem. 
 
Ética de Kant – 
O que o sujeito 
conhece é o produto 
da sua consciência. 
Homem como 
sujeito cognoscente 
ou moral é ativo, e 
está no centro tanto 
do conhecimento 
quanto da 
moral.Ponto de 
partida da sua ética 
é o fato da 
moralidade. Ética 
formal e autônoma. 
 
 
 
 
 
 
Ética 
contemporânea 
 
 
De Kierkegaard 
ao 
existencialismo – 
Kierkegaard 
considerado pai do 
existencialismo – 
o que vale é o 
homem concreto, a 
sua subjetividade. 
3 estágios na 
existência 
individual: 
estético,ético e 
religioso. Outrosfilósofos: Stirner e 
Sartre. 
 
 
 
 
 
 
Pragmatismo – 
Principais 
expoentes: S.Pierce; 
W. James e J. 
Dewey. 
Caracterizava-se 
pela sua 
identificação da 
verdade com o útil, 
no sentido daquilo 
que melhor ajuda a 
viver e conviver.Na 
ética – os valores, 
princípios e normas 
variam de acordo 
com cada situação. 
Variante utilitarista 
marcada pelo 
egoísmo; versão do 
subjetivismo e do 
irracionalismo. 
 
 
Psicanálise e 
ética – 
Psicanálise foi 
fundada por 
Freud. 
Pressuposto 
básico da 
psicanálise é a 
afirmação de que 
existe uma zona 
da personalidade, 
na qual o sujeito 
não tem 
consciência,que é 
o inconsciente.O 
ato moral é 
aquele no qual o 
indivíduo age 
consciente e 
livremente, a 
partir de 
motivação 
inconsciente. 
 
 
 
 
Marxismo – 
Para Marx, o 
homem real é, em 
unidade 
indissolúvel, ser 
espiritual e 
sensível,natural e 
humano, teórico e 
prático, objetivo e 
subjetivo. É 
práxis, ser 
produtor, criador, 
transformador.Ser 
social; ser 
histórico. A moral 
cumpre função 
social, com 
caráter de classe. 
 
 
Neopositivismo 
e filosofia 
analítica – 
Partiu da 
necessidade de 
liberar a ética do 
domínio da 
metafísica. 
Concentra 
atenção na 
análise da 
linguagem 
moral.Principais 
autores: Ayer; 
Stevenson; 
Hare; Nowell-
Smith e 
Toulmin. 
Fonte: Elaborado a partir de Vazquez (2005, p. 265-297). 
 
 Sócrates, Platão, Aristóteles e Kant promoveram uma abordagem baseada na virtude, 
que enfatizava a vontade, intenções e caráter do indivíduo. A pessoa virtuosa se comportava 
de acordo com a convicção e a força interior, independentemente das consequências da ação e 
seu impacto em qualquer relacionamento. (KAKABADSE et al., 2002). Furrow (2007) 
considera que a teoria de Aristóteles é atraente, porque é uma filosofia prática que leva 
seriamente em conta toda personalidade humana. 
32 
 
 “A ética não se opõe à felicidade humana, como parece ser o caso segundo Kant, ou 
oposta à minha felicidade e integridade pessoal, como para os utilitaristas, mas é uma parte 
integral da busca de felicidade”, avalia Furrow (2007, p.127). 
 A partir do exposto, observa-se que a ética tem diversas e distintas abordagens, 
observadas e discutidas ao longo da história, e pode-se destacar a relação da conduta virtuosa 
como caminho para alcançar o bem e a felicidade. 
 Com relação a conceitos e definições de ética, Valls (2008), coloca que a ética é 
tradicionalmente entendida como um estudo ou uma reflexão, científica ou filosófica, e 
eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as ações humanas. 
 “A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode ser a própria realização 
de um tipo de comportamento” (VALLS, 2008, p.7). 
 Já Vazquez (2005) coloca que a ética é a teoria ou ciência do comportamento moral 
dos homens em sociedade, ou seja, é ciência de uma forma específica do comportamento 
humano, que se ocupa de um objeto próprio: o setor da realidade humana chamado de moral, 
constituído por um tipo peculiar de fatos, visando descobrir-lhes os princípios gerais. 
 Define-se a ética como ciência ou estudo do comportamento moral, que se constitui a 
partir de uma reflexão sobre os fundamentos que norteiam nossas ações, podendo se mostrar 
crítica ao desvelar aspectos distorcidos desses fundamentos ou até mesmo legitimar 
determinado conjunto moral. (VAZQUEZ, 2005). 
 Resnik (2010) afirma ainda que a forma mais comum da definição de "ética", é que a 
ética engloba normas de conduta que distinguem o comportamento aceitável e o inaceitável. 
Observa-se que tanto Valls (2008), Vazquez (2005) e Resnik (2010), focam nas suas 
definições a questão do estudo do comportamento moral como elemento central da ética. 
 Fortes (1998 apud FORTES, 2004) também destaca que, ética é a reflexão crítica 
sobre o comportamento humano que interpreta, discute e problematiza os valores, os 
princípios e as regras morais a procura da “boa vida” em sociedade e do bom convívio social. 
 Fortes (1998 apud FORTES, 2004) insere, assim, a reflexão crítica sobre o 
comportamento humano como definição de ética, salientando que a partir desta reflexão pode-
se gerar o bom convívio social. 
 Já Brown (1993) propõe que a ética é um processo, ou seja, em vez de ver a ética 
como um conjunto de regras ou punições, ou mesmo um código, com seus princípios, 
33 
 
delimitando espaços, o autor define a ética como o processo de decidir o que deve ser feito. O 
autor entende que, no lugar de dizer às pessoas o que é certo, deve-se ensiná-las a descobrir o 
que é certo, para que encontrem o caminho, sozinhas. Ao defender a ética como um processo 
de decisão, acredita que a partir de ensinamentos do que é certo, as pessoas se tornam 
autônomas para decidirem que caminhos seguirem. 
 Srour (2000, p. 19), coloca que “a ética estuda as morais históricas, as relações e as 
condutas dos agentes sociais que normas morais pautam”. O referido autor discute então o que 
é a moral, ou seja, um conjunto de valores e regras de comportamento, um código de conduta 
que coletividades adotam. Chaui (2006) complementa afirmando que, a ética é o estudo dos 
valores, e, portanto que a ética é a reflexão sobre a moral. 
 Observa-se assim, outro aspecto bastante destacado nas definições acima, a questão da 
moral. Alguns autores apontam diferenças entre ética e moral, enquanto outros autores 
colocam que são sinônimos. 
 Para Srour (2000) a ética e moral são distintas e aponta as diferenças: enquanto a ética 
diz respeito à disciplina teórica, ao estudo sistemático, a moral corresponde às representações 
imaginárias que dizem aos agentes sociais o que se espera deles, quais comportamentos são 
bem-vindos e quais não. Segundo o referido autor, a ética opera no plano da reflexão ou das 
indagações, estuda os costumes das coletividades e as morais que podem conferir-lhes 
consistência, visando à sabedoria ou ao conhecimento temperado pelo juízo. A moral, em 
contrapartida, corresponde a um feixe de normas que as práticas cotidianas deveriam observar 
e que, como discurso, ilumina o entendimento dos usos e dos costumes. 
 Severino (1994) salienta que, muitas vezes, os termos ética e moral são tomados como 
sinônimos, tanto para designar as prescrições vigentes como para designar a disciplina que 
estuda os valores implicados na ação, onde só o contexto pode dizer em que sentido os termos 
estão sendo usados. O autor então apresenta seus conceitos de moral e ética. 
 “Moral: é o conjunto de prescrições vigentes numa determinada sociedade e 
consideradas como critérios válidos para a orientação do agir de todos os membros dessa 
sociedade” (SEVERINO, 1994, p.195). 
 “Ética: é a área da filosofia que investiga os problemas colocados pelo agir humano 
enquanto relacionado com valores morais. Busca assim, discutir e fundamentar os juízos de 
valor a que se referem as ações quando neles fundam seus objetivos, critérios e fins” 
(SEVERINO, 1994, p. 196). 
34 
 
Para Freitas (2006), diferente da moral, a ética tem sido conceituada como uma 
reflexão crítica sobre os costumes e valores. A autora considera que a ética é, portanto, 
dinâmica e, também diferente do direito, não se assentando sobre normas, leis ou códigos de 
permissão ou proibição, mas sobre referenciais que devem ser confrontados com as situações 
concretas que se quer imputar como boas, o bem, benéficas, ou não. 
Rios (2006, p.81) coloca que, “quando procuramos questionar os valores que 
sustentam a moral, quando buscamos seus fundamentos, estamos no terreno da ética. A ética 
pode, então, ser definida como uma atitude crítica diante da moralidade, uma investigação 
sobre a consistência e o significado dos valores morais”. 
 
A ética consiste exatamente numa atitude crítica, um esforçode reflexão sobre os 
valores que orientam as ações e as relações dos indivíduos em sociedade. Enquanto a 
moral é sempre normativa, apontando o que devemos e o que não devemos fazer, a 
ética tem um caráter reflexivo, isto é, indaga por que devemos ou não agir do modo 
como nos é imposto. Mais ainda, procura trazer referências mais amplas para esse 
agir. (RIOS, 2006, p.82). 
 
 
Diferentemente, La Taille (2006) considera que, moral e ética são conceitos 
habitualmente empregados como sinônimos, ambos referindo-se a um conjunto de regras de 
conduta considerado como obrigatórias. Na visão do autor, tal sinonímia é perfeitamente 
aceitável: “[...] se temos dois vocábulos é porque herdamos um do latim (moral) e outro do 
grego (ética), duas culturas antigas que assim nomeavam o campo de reflexão sobre os 
‘costumes’ dos homens, sua validade, legitimidade, desejabilidade, exigibilidade.” (LA 
TAILLE, 2006, p.25). O autor considera que, tanto a ética, quanto a moral, são campos de 
reflexão sobre os costumes humanos, enquanto que, as autoras Freitas (2006) e Rios (2006) 
abordam a reflexão e a atitude crítica sobre os valores, ou seja, diante da moralidade, como 
conceito central da ética. 
 Já Fourez (1995) discute que, cada sociedade desenvolve códigos morais, mas o 
debate ético é bem mais amplo do que esses códigos, e opta por falar de ética ou de moral, 
sempre tratar de discussões que se pode ter a respeito da maneira adequada de agir - 
paradigmas éticos - onde colocam em jogo razões, valores, ideologias, representações daquilo 
que se quer para os seres humanos. 
Chaui (2008) discute ainda que, o campo ético-moral pressupõe: 
• Uma subjetividade dotada de consciência, razão, vontade, liberdade e 
responsabilidade; 
35 
 
• Uma intersubjetividade não violenta, consciente, racional e responsável, capaz 
de justificar seus atos e responder por eles; 
• Valores ou fins, considerados bons e justos, válidos para todos os sujeitos 
ético-morais de uma sociedade historicamente determinada; 
• Regras e normas de comportamento definidas pela noção de dever ou de 
obrigação para aqueles que interiorizam a moralidade de sua sociedade; 
• A diferença entre necessidade natural e histórica, e a possibilidade 
transformadora aberta pela ação de sujeitos éticos e políticos; 
• A ideia de situação ou determinação histórico cultural dos valores, normas e 
ações éticos, isto é, o reconhecimento de seres situados no mundo, 
condicionados pelas situações sociais, econômicas, políticas e culturais, mas 
capazes de compreendê-las, avaliá-las, superá-las ou transformá-las pela 
própria ação, na companhia de outros. 
 
 Observa-se que não há consenso entre os autores sobre as definições de ética e moral, 
e como já colocado anteriormente, ética é um campo de estudo bastante complexo, porém 
pode-se colocar que há em comum, entre os diversos autores citados, a visão de que a ética 
está relacionada ao estudo do comportamento moral, sendo considerada a reflexão crítica 
sobre a moral e o comportamento humano. Para fins do presente trabalho, será considerada 
esta abordagem, que aborda a ética reflexiva e crítica do comportamento moral. A partir das 
definições e conceituações da ética e moral, passa-se então para a apresentação de algumas 
correntes ou abordagens teóricas sobre ética. 
 
2.1.2 Teorias éticas 
 
 Com relação às teorias éticas, Amoêdo (1997) indica que três são as teorias éticas que 
precisam ser elucidadas: a teleologia, a deontologia e o utilitarismo. 
• teleologia – é a ética da finalidade (telos, em grego, é fim). A finalidade não pertence 
ao ato em si, mas sim ao agente. Não considera sempre a qualidade dos atos em si com 
a mesma preocupação com que considera a noção de propósito. 
36 
 
• deontologia – ou ética de princípio, entra no campo do subjetivismo e nas questões da 
moral. A força de uma ética de princípio é certamente seu respeito pelas pessoas como 
agentes morais, bem como sua ênfase em uma igualdade básica da dignidade humana. 
Mas, não considera as consequências de ações ou políticas. 
• utilitarismo – John Stuart Mill e Jeremy Bentham são os principais arquitetos do 
utilitarismo. Considerada a ética da conseqüência – analisa os efeitos de um ato ou de 
uma política, em seus aspectos positivos ou negativos. 
 Já Srour (2000) discorre sobre duas correntes teóricas sobre ética: ética da convicção e 
ética da responsabilidade. E coloca que, as duas correntes enfocam tipos diferentes de 
referenciais morais – prescrição versus propósitos – e configuram dois modos de decisão. Os 
agentes guiados pela ética da convicção seguem os imperativos da consciência, já os que se 
orientam pela ética da responsabilidade, guiam-se por uma análise de riscos. 
 O referido autor coloca que, nas duas correntes éticas fazem-se escolhas, porque em 
ambas a adesão a um curso de ação depende da concepção de mundo que os agentes têm ou 
da sua consciência da necessidade. Na ética da convicção, não há aferição dos efeitos a serem 
gerados, há uma obediência a valores, as escolhas derivam de pressupostos e são dedutivas. 
Na ética da responsabilidade, os adeptos seguem duas etapas: primeiro refletem sobre os fatos 
e as condições presentes e, depois, deliberam. A legitimação das decisões calca-se num 
pensamento indutivo. (SROUR, 2000). 
 Chanlat (2000), também destaca que a ética da responsabilidade, desenvolvida por 
Max Weber, remete às consequências das ações de cada pessoa pode ter sobre os outros e à 
reflexão que a precede. Ou seja, a ética da convicção obedece-se a valores e a consciência, 
sem avaliar-se os efeitos, e na ética da responsabilidade, a reflexão é anterior a tomada de 
decisão, e os riscos são analisados e ponderados. 
 Posto isso, Amoêdo (1997) configura duas abordagens para estudo da ética: uma 
normativa e outra descritiva. Resumidas da seguinte forma: 
• Ética descritiva – descreve a forma como as pessoas agem e explica sua ação em 
termos de julgamentos de valor e pressuposições; 
• Ética normativa ou prescritiva – estuda a forma como as pessoas devem agir e 
analisa os julgamentos de valor e pressuposições que justificam tais ações; é 
encontrada em códigos, muitos deles baseados no princípio de reciprocidade (a 
37 
 
ética vai buscar legitimidade na reciprocidade negativa, que estabelece como as 
pessoas não devem proceder). 
 Resnik (2005) também apresenta duas abordagens sobre a ética: a normativa e a 
aplicada. O autor coloca que, a ética normativa é o estudo dos padrões morais, princípios, 
conceitos, valores e teorias. A ética aplicada é o estudo de dilemas éticos, escolhas e padrões 
em várias ocupações, profissões e situações concretas e à aplicação de teorias e conceitos 
morais em contextos específicos. 
 Se para Amoêdo (1997) e Resnik (2005), o estudo da ética tem duas abordagens, 
Goodpaster (2003), ao discorrer sobre os modos de investigação da ética, afirma que o estudo 
da ética pode ser de três tipos: descritivo, normativo e analítico. 
• A ética descritiva pode ser mais bem classificada entre as ciências sociais, já que 
seu objetivo é fazer descrição empírica e neutra dos valores dos indivíduos e seus 
grupos; 
• A ética normativa não tem por objetivo descrever os fatos neutros, mas julgar o 
certo e o errado, o bom e o mau, a virtude e o vício. Com relação à dinâmica da 
ética normativa, existem dois níveis distintos de raciocínio interagindo dentro da 
ética normativa, o primeiro é o raciocínio moral advindo do senso comum. “Na 
vida pessoal e profissional, a maioria das pessoas opera com um conjunto de 
convicções, regras práticas ou princípios éticos mais ou menos definidos que as 
guiam em suas tomadas de decisão”. (GOODPASTER, 2003, p. 637). O autor 
salienta que, esses valores ou regras raramente são explicitados ou enumerados, 
porém, se assim o fossem,

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