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IMG Lev Vygotsky (1)

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LEV VYGOTSKY
MARTA KOHL DE OLIVEIRA
TEXTO E APRESENTA§AO
:ir-.
@
23
:v
Nasciem18g6,naBielo-Rüssia,paisquet,ezpartedaextintaUniäoSoviätica,emorriem
7g34de tubercurose, aos 37 anos. Era membro de uma iamilia com uma situagäo 
econÖmica
bastante confortävel e uma das mais curtas da cidade. Formei-me 
em Direito, trabalhei como pro-
fessor e pesquisador, nas äreas de Pedagogia, Psicologia, Filosofia, 
Literatura' Deficiäncia Fisica e
Mentar. com Leont ieve eluria, formei um grupo da jovens inteiectuais da 
Rüssia Pös-Revoluqäo
que buscavam uma nova Psicoiogia. Embora minha produqäo näo tenha 
sido um sistema expli-
cativo completo, ela foi vasta. Escrevi cerca de duzentos trabalhos 
cientificos que foram pontos
de partida para inümeros projetos de pesquisas posteriores' os temas dessas 
publicaqöes väo
desde a neuropsicologia atä a critica literäria, passando por deficiäncia' 
linguagem' psicologia e
educaqäo,
Na ärea da psicologia da Educaqäo piagei tem sido nossa principar referäncia 
historica-
mente. o aparecimento do vygotsky trouxe uma outra aiternativa. uma 
vez qrle Piaget näo 6
um autor que Se preocupe particularmente com a escola' Com 
o professor' com a intervengäo
pedagögica.
OaparecimentodoVygotskyatraioseducadores,porqueÖumautorquefaiadaescola'fala
do professor e valoriza a aqäo pedagdgica e a intervengäo'
E um autor que valoriza muito a escola, valoriza muito o professor' a 
intervenqäo pedagÖgi-
ca, o papel do educador na formaqäo do sujeito, quer dizer' o sujeito que passa 
pela escola' tem
na escola uma instituiqäo fundamental para Sua definiqäo' para seu 
funcionamento psiquico'
z pLANos GENExcos DE DESENVOLVIMENTO
uma forma muito interessante de entrarmos na concepgäo rle Vygotsky 
sobre desenvolvi-
mento ä uma questäo que ele charnou de 
planos Genäticos de Desenvolvimenio. E ur.,u icära de
que o mundo psiquico, o funcionamento psicol6gico näo estä pronto previamente' 
näo ä inato'
näo nasce com as pessoas, mas tambäm näo ä recebido peias p€s'oas 
como um pacote prorrto
dc meio arnbier-rte. Entäo, Vygotsky ä um autor. como outros' como Piaget' 
Wallon' que ä cha-
mado de interacionista, porque ere reva em conta coisas que väm de dentro 
do suieito e coisas que
24
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väm do ambiente . Mas a posilriacäo interacionista do $ygotskV ganha vida se prestarnlos atenqäo
ilos Planos Genöiicos de Desenvolvim€nto que ele postula. ilorque ele fala err) quatro entradas
de desenvolvimento que. juntas. caracterizariam o funcionanlento psicolögico do ser hi-imano.
UmaäaFiiog0nese,qlr€äairistöriadaespäciehumana; outrääaOntogänese,qusäahistöria
do individrio da es1:äcie: outra a Socicgänese. qlie 6 a histöria ctriii-rral. do meio cuitural no qualo
slijeito estä inserido; e a fulicrog€nese" cilie ö o aspecto n":ais nricroscöilico do desenvolvimento.
A Fiiogänese ii:: r'espsiicr ä histöria de i:r:ra 
€spöcie animai. Todas as €species animais tenr
un-ra histÖria pröpi'ia e essa histöria Ca espäcie rjefine lirnites e possibillciacles cle iuncionamento
psicolögicc. Enläc. täm coisas que scßlos capazes de fazer e outras qLie nä.o somos capazes de
fazer.
Fcr exeniplo. somos l:ipedes. tenios as mäos liberacias para outros tipos de atividacie"c. tem
uma deten:iinac{a conformaeäo da mäc, qr,ie permite movimentos finos. ern pinqa. por exemplo.
qr-ie ä iutla. coisa particular cia espäcie hu:nana. muito impr:rtante. Ternos a visäo por dois olhos.
que ä a r,;isäo trinocular. Entäo. temo.c u:na särie de caracterlsticas do corpo hurnano" do organis-
Iro. qlt€ väo servir de fundamento para o funcionarnento psicoibgico depois.
Como dito. tem coisas que fazemos e outras que näo fazemos. Andarros. mas näo voamos"
E urta das caracteristicas muito importantes da espäcie animai humana ä a plasticidade do c6re-
bro. Temos um cärebro extremamente flexivel. que se adapta a muitas circunstäncias diferentes.
E isto estä ligado ao fato de que nossa esp1.cie ä a menos pronta ao nascer, quer dizer, o membro
da espäcie humana e o menos pronto ao nascer. Entäo, porque temos uma parte do desenvolr,,i-
mento täo em aberto ä que temos iambäm um cärebro täo flexivel, porque. dependendo do que
o ambiente fornecer, o cärebro vai se adaptando e funcionarrdo de um determinado jeito.
4 ffiruY#ffiHjuH§ffi
0 segundo piano genätico de que Vygots§ fala ä o chamado ontogänese, que significa o
desenvolvimento do ser, de um individuo, de uma determinada espäcie. Em cada espbcie, o ser,
o membro individuaidaquela espäcie, tem urn caminho de desenvolvimento. Nasce, se desenvol-
ve. se reproduz, molTe: nurn ritmo determinado de ciesenvolvimento, com certa seqü€ncia etc. e
este plano genätico da ontog6nese estä muito ligado ä filog€nese, porque os dois säo de natureza
25
muito biolÖgica, dizem respeito ä pertinäncia do homem ä espäcie' 
somos membros de uma
determinada especie e. por ser membro desta determinad a espäcie, 
passa por certo percurso de
desenvorvimento que 6 um determinado percurso e näo outro. 
por exemplo, a crianga nasce e sÖ
fica deitada, depois eia aprende a sentar, engatinhar' andar, 
por exemplo' nesta seqüäncia' e as-
sim por diante. Entäo, tem värias coisas que säo determinadas 
pela passagem daquele individuo
da espäcie por uma seqüäncia de desenvolvimento"
5 §#tä#&*ruusx
oterceiroplanogeneticopostuiadopeloVygotskyÖochamadosociogänese'ouhist6ria
curtural, que aa histöria da curtura onde o suieito estä inserido, 
mas näo a histöria no sentido da
Hist6ria do Brasir, a Histöria do Mundo Ocidental, mas as formas 
de funcionamento cultural que
interferem no funcionamento psicorögico. que definem de certa 
forma o funcionamento psico-
lögico.
Entäo, essa questäo da significagäo pela cultura tem dois aspectos' 
um' que a cultura fun-
cionacomoumalargadordaspotencialidadeshurnanas'Comojädito:ohomerrranda,masnäo
voa, agora voa porque criou o aviäo. E um outro aspecto da histÖria cultural 
ä como cada cultura
organiza o desenvoivimento de um jeito diferente. Entäo, a passagem pelas fases 
do desenvolvi-
mento ä relida tambäm, lida e relida pelas diferentes cuituras 
de formas diferentes'
Quanto a isto, um exernplo bem importante ä a da adolesc€ncia" 
A pukierdade ä um fe-
nömeno biolÖgico, todos os seres hurtanos passarn pela puberciacle' amadurece 
sexualmente'
aparecem caracteres sexuais secundärios, que possibilita a reprociuqäo 
etc.. mas a puberdade ä
compreendida historicamente de formas diferentes em cada 
curtura' Enräo. o conceito de ado-
lescäncia ä um conceito cultural, embora esteja asse*tado sobre un-r conceito 
biolögico' que ä
a puberdade. Em nossa cultura, por exempio, a adolesc€ncia e um 
perrodo bastante estendid.'
Hoie era ä muito mais estendida que hä. irinta anos aträs. Hoie 
uma n:enina de ncve al1os esteia
jäpreocupadaemsearrumar'emterr]amorado.epociemoralColllospaisatäostrintaanose
ter uma relaqäo de filha' de adolescente'
outro exemplo interessante ä cs da Terceira tciade, corno caregoria 
qlle a nossa cuitura
criou hä muito ifollco tempo. sempre tivemos o velho. selT:pre tivemos 
o ldoso' mas a categoria
Terceira ldade" como uma categoria que tem prociutos de mercado 
esi:eciais para ela, tem ati-
vidades especiais, tem instituiqÖes que cuidam disso, e que 6 ccnsutnido assitn'ä utna categoria
claramente curtural. E1a näo diz respeito ao enverhecirnento d,: corpo. era diz 
respeito como a
cultura oiha o idoso.
76
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6 wlrcffi#§frrursr
A microg0nese diz respeito ao fato de que cada fenömeno psicolögico tem sua pröpria
histöria. Por isto ä micro, no sentido, näo necessariarnente de pequeno. mäs com foco bem
definido. Ao invös de pensarmos a Hisiöria do Brasil. a histöria das familias de classe möciia em
Säo Paulo, uma coisa maior... A micro ä, entre saber uma coisa e näs saber, por exemplo" uma
crianEa prirneiro näo sabe amarrar o sapato, depois eia sabe amarrar o sapato. Ou seja, entre
o satler e o näo-saber algo, um tempo passou. Entäo podemos. interessados em cornpreender
o desenvolvimento, olhar de uma forma micro para a hist6ria deste fenömeno. Corno a crianea
aprendeu a amarrar o sapato, ä a microgönese do aprender a amarrar o sapato.
O que Ö bern interessante a respeito da microgänese, rä que ela 6. a porta aberta dentro da
teoria pära o näo determinismo. Porque a filogänese e a ontogänese. de cefia forma, carregam
certo deierminismo biolÖgico. ou seja. o sujeito estä atrelado äs possibilidades cia sua espräcie, do
seu rnomento. do seu desenvolvimento como ser daqueia esytäcie etc. Na sociog€nese tern certa
tinta determinista em termos culturais, a cultura estä ciefinindo por onde vocä pode se desenvol-
ver. estä dando tambäm limites e possibilidades histöricas de desenvolvimento. A microgämese taz
com ciue olhemos como cada pequeno fenömeno tem a sua histöria, e como ninguärn tem urna
histöria igual ao do outro, ä ai que vai aparecer a construgäo da singularidade de cada pessoa e
dai a heterogeneidade entre os seres humanos. Quer dizer, näo encontramos duas coisas iguais,
mesmo coisas que podem parecer ser täo parecidas resultam diferentes. Temos duas crianqas
na sala de aula, as duas täm sete ancs. as duas säo de familia de classe mädia, as duas täm pais
cc;m ensino rnädio. as duas estäo naquela escola, naqueia sala, moram naquele bairro, tudo täo
parecido!, mas as crianQas näo säo iguais. Por quä? Porque elas t€rn experiäncias diferentes, uma
tem mais irmäos, outra menos; uma assiste muito televisäo, a outra näo assiste; uma foi para a
prä-escola, a outra näo foi... Quer dizer. tem fatos na histöria de cada um que väo definir a sin-
gularidacie a cada momento da vida cio sujeito.
A invencäo e o uso dos simbclos como melos auxiiiares para solucionar urn dado problema
psicolÖgico, tais como lembrar. comparar. relatar. escoiher, ä anäloga ä invenqäo e ao uso de
instrumentos. 56 clue aEora. no campo ltsicolögico.
A idäia de r:rediaqäo. ä a idäia mesmo de intermeCiaqäo: ter uma coisa interposta entre uma
e outra ccisa. No caso do ser humano, a idäia bäsica d6 \lygotsky ä que a relagäo do homera
27
,;*arr 
. 
iita!:r:r1::r: ji
com o mlindo näc 6 uma relaqäo direta. mas ä uma relaqäo mediada. A mediaqäo pode ser feita
atrar,äs de instrumentos e de signos.
A rnediaqäo por inst.rumentos ä o fato tje qiie nos reiacionainos cotlt as coisas do mundo
usando ferramenias, or-i instruln€ntos intermediärios. Por exemplo. se voll corlar um päo. t:so
urna faca: s€ vou cortar ui:ra ärvor€" uso um machado. r-tma moto-serra. Entäo" esses instrtttrren-
tos cia tecnoiogia esiäo iazenclo uma mediaeäc entre minha aeäo concreta sobre c nlundo e o
mundo"
CIs siEnos säo fornras posteriores de n-iediaeäo" que fazem unta mediacäo de naLl.ii'eza seri:i-
ötica, ori si:r-iböiica. F'azern uma interposicäo entre o sujelto e o objeto do conheciurenio, entre o
psiquis:lceomundo.oelteoobjeto.oeueomundo.deumaformaquenäoäconcreia.col:rlc
fazen:os coin os it:strun:entos, mas de uma foriner sinibolica.
Teni umil prirneira forma de signos que ainda iei':-r ,.tr:ra existOncia conci"eta. For exeml:lc,
o banheiro rnasculino. feminino, nas porias cle saniihrio:: 'iir: chapeuzitlho i:ara homen: e ulna
sombrinha para a mulher. Isso ä um signo. Urna coisa que repr€senia a idäia de masculino e fe-
rrinin,t. todo mundc cor:rpartijha dessa r^epresentagäo. ciilet' c':.zer. os usuärios do sisienta sabem
que aquiio quer dizer hcmem. que aquilo qr-re clizer nulher. e ar:ettal:t a inforrnacäo, tomam posse
da informaeäo de uma fortna adequada.
O fato de eu mudar o anel ,le dedc para len-rbrar qlie lei-rho que ielefonar para algr-rärri.
por exemplo. näo 6 o prbprio ato de telefonar. näo esiä iigacto ac ato de ieletortar. mas ä r:ma
in1'ornraqäo de natureza sirnböiica que estä interposta enii e a inte ngäo de lazer alguura coisa e a
pröpria aqäo. Entäo aincla ä concreto. air-ida estä visivel pcl'cutros. estä marcado no mundo, fora
de mim. mas näo ä de natureza instrumental, ä de natureza simbÖlica, no senticio <Je que näo age
concretamente sobre as coisas, mas age no plallc simboiico'
O outro plano elx que aparecem os signos ä o irlano ioiaimente simbölico. inten-raiizado, as
coisas säo postas para dentro do sistema psicolögico e funcionarn como mediadores, semiÖticos.
ou simbölicos, dentro do nosso sistema psicolögico. Para isso. aparece ulna caracieristica que Ö
tipicamente humana que b, a possibilidade de representacäo mental, a possibiiidade de transitar
por um rnundo que ä sö simbÖlico.
Entäo, por exemplo, quando encontramos peia frenle uma mesa. quando a vemos, näo
estamos nos relacionando com ela de uma forma näo mediada, direta, s6 a sentinlos perceptu-
airnente, damos-lhe uma trombada, ou nos encostamos a ela e sentimos que ela tem unra aresta
pontuda, ou apoiamos coisas sobre eia, fisicamente s6. Olhamos para aquele objeto e vemos
uma mesa, ela nos remete a uma coisa unicamente simbölica, que estä em nossa cabega, que Ö o
conceito de mesa, a idäia de mesa, a palaura de mesa, a imagern de mesa. Ai depende de como
vamos compreender essa forma de representagäo na mente, rras seja qualfor a forma, tem uma
28
- - -,,1:-i"-:i.1.. '
forma de representagäo das coisas clo mundc qr-ie estä dentro cie n6s, que näo säo o pröprio
munCo. säc represeniaqöes do muncio. E isso ä uma coisa tipica e exclusivamente humana. que
permite o tränsito do ser humano por ciimensöes do sirntrölico. Podemos transitar por dimensöes
de tempo. p€nsar em colsas qr"re jä rros aconteceram, podemos antecipar coisas futuras, pensar
coisas que estäo em outro 
€spaqo. tudo por meio desse tränsitc simbölico desses mediadores que
fazern a intermediaeäo entre nossa pessoa e o mundo.
O aio de por o deCo na chama da vela e sentir dor, ä o ato rie relacäo direta corn o mundo,
näo medlada: tem o fogo. inelr ciedo. ponho o dedo no fogo e queirna. pronto. Näo n-rediado.
Nui:ra segunda vez. nlr:-ria pröxima experiäncia. a crianca pode ver a vela, chegar com o Cedo
perio e tirar. anies de queimar, s6 por sentir o caior. A acäo Cela. entäo. estarä senclo nieciada
pela lembranca cia experiäncia passada com a dor or,i peia lembranca da mera visäo cia veia. ou
quando ela ca*:ecar a sentir o calor, ela vai lembrar cia dor e tirar o dedo. Na primeiravez. ä uma
relaqäo clireia: vela. crianqa. Na segunda vez. ö uma reiagäo mec,iiaela. raediada peia experi€ncia
anterior'.
i:l mäe c'ue chega e fala, ''näa pöe a mäo na veia, porque queima". E a crianqa näo pöe, obe-
ciecendo a n:äe. ela tem uma relaEäo rnediada entre e1a e a chama da vela, mas näo foi meciiada
i:eia i:ronria ex;:eriäncia. peia cior ser-itida efetivamente, mas pela inforrnacäo que ela recebeu de
uma ouira pessoa. Isso ä uma coisa que. em terr:ros educacionais, ä extremamente importante.
Quer dizer, grande parle da agäo do homem no mundo ä mediada pela experi€ncia dos outros,
näo precisamos viver iudo er,r primeira mäo. Isso ä essencial para os processos de crescimento e
desenvolvimento histörico. senäo cada ser humano estaria corneQando tudo do zero.
,-,','- ,' ;*, ;. ; i:* ; i,., : ..."ri;.. .*-.i._: ;:,i-:
Nei altsäncia cie um sistema cie signos, lingüisticos or-r näo, somente o tlpo c1e comunicaqäo
nrais p::imiiivo elimiiacio torna-se possivei. Liin ganso amedrontado. pressentindo subitamente
algun-i perlgo, ao alertar o bando inteiro com seus gritos. :räo estä inforn-rando aos outros aquilo
que,:iu, mas. ant€s, contagiando-os com seu medo.
'. ':t i* {* i"3:,
Os signos säo construidos culturalmente. Quer dizer, näo ä que o sujeito inventa signos por
si pr6prio, ele desenvoive a capacidad e de representaqäo simbölica, inserida numa cultura que lhe
?9
fornece material para que desenvolva ess€ carnpo do simbölico. O principal lugar cultural onde
isso acont ece b na lingua. Todos os outros humanos täm urna lingr-ra e ela b o principal instru-
mento de representaqäo simbÖiica que os seres humanos dispÖem'
Aqui ä important e {azermos uma digressäo. F-alamos em linguagem. Na verdade, quanclo
falamos em lingr1agem, no pensamento de Vygotsky, nas relagöes pensamento e linguagem, o
termo melhor seria llngua, porqu€ näo ä de qualquer linguagem que ele estä faiando, näo ä a
linguagem da danqa, a iinguagem do gesto, a linguagem facial, mas a lingua mesmo. a fala. o
discurso"
Como todos os grupos humanos tOm uma lingua. esta lingua ,ä ttm obieto de atenqäo pri-
mordial do Vygoisky, vai ser muito importante para ele para pensar o desenvolvimento do pel'r-
samento.
Ele trabalha com duas funqöes bäsicas da lingLiager-il. Primeira lungäo. b. a de comunicaqäo,
As 1:essoas primeiramente desenvolveram a lingua para s€ cornunicar, para resolvereri proble-
mas cle comunicaqäo. Esse aspecto da iingua estä preseilr€ nos animais. Os anirnais tatnbäm se
comunicam por algum tipo de lingr-iagem. que ä gestuai, ou sonora. com o obietivo expliciio de
comunicagäo, de troca entre os ri-rembros da espöcie. ä assir:, que. tamb€m para o ser humano,
a linguagem nasce. Quer dizer. ela nasce como forrna de comunicacäo. Et:täo, o behä, a primeira
coisa que ele faz.ä chorar. ä o primeiro aio de iingua dele. Isso tem uma funQäo comunicativa, ele
näo tem uma pretensäo de transrnissäo de uraa informaqäo muito precisa, amarrada ou concei-
tual, nern seria possivel.
Urna seguncia funCäo da linguagem. que irä aparecer mais tarde no desenvolvimento. ä
o que Vygotsky chama de pensamento generalizante, que ä onde a lingua encaixa corn o pen-
samento. E nesta segunda funqäo que a relaqäo pensamenio-iinguagem ä rnuito forte. E o fato
de que o uso da linguagem implica numa compreensäo geueraiizada do mundo, quer dizer, ao
nomear alguma coisa. estamos reaiizando urr ato de classificaqäo. Ao chamarmos o cachorro
de cachorro, o estamos coiocando numa classe de objetos do rrrtrndo que säo agrupäveis com
ele, todos os cachorros seriam coiocäveis naquela mesma categoria, para a qual posso usar o
rötulo cachorro e, ao mesmo ternpo, estamos distinguindo esta categoria de toCas as outras, unt
cachorro näo ä um gato, näo ä um girafa, näo ä um sapato, näa ö uma cadeira. Entäo, se tiver-
mos uma palavra, ela jä serve para classificar o mundo em duas grandes categorias. Se terros a
palavracopo, jätenhotudooqueä copoetudoo queä näo-copo. Oatodenomearäoatcde
ciassificar. Isto ä uma coisa extremamenie importante. porque o grande salto qualitativo na forma
de retragäo do homem com o rrundo ö que somos capazes de absirair. generalizar. classificar e
isto sö ä possivel porque dispomos de um termo simbölico articulado, compartilhado, organizado
por regras, e, tal como a lingua, que nenhuma outra espbcte animai tem.
30
-,rrt;i*
O significado de uma palavra representa um amälgama iäo estreito do pensamento e da lin-
guagem, que fica dificiidizer se se trata de um fenömeno da fala ou do pensamento. Do ponto de
vista da psicologia. o significado de cacla paiavra ä uma generalizaqäo ou um conceito. E como as
ge.eraiizaqöes e os conceitos säo atos de pensamento, podernos considerar o significado como
um fenömeno do Pensalnento.
para Vygotsky a relaqäo entre pensamento e linguagem" ele vai postular coll]o sendo rnuito
forte, muito tipicamente humana e muito importante para a defrnieäo do que ä o funcionamen-
to do psicol6gico humano. Mas esta relagäo, que ele postula como täo forte. näo nasce com o
sujeito, ela näo aparece pronta, ela ä uma coisa que se desenvolve clurante o desenvoivimenio
psicol6gicc. tantc r-ra i-listöria Ca espäcie" na filogänese. corro na histÖria do prÖprio individuo.
na ontog€ilEs€.
E*täc. ra filogöpese. para corxeqar por ela. primeiro hä linguaget't:. existe iingr-ragem. e
existe lrensan1€nic separados. Entäo existe linguagem. coln aqtrela fur-rcäo primeira de comunica-
cäo. er:t i,;ias as espäcies animais. Mas peguemos. como exem1l1o. o chitnpal":za. que ä a es1:äcie
mais prcri::ra cio hiunano, onde poderlos olhar n-reihor para coisas que pertencem ä histÖria
humana. e..,e1 c.izer-. oli1ando os chimpanzäs podemos imaginal ull-1 pouco como foi o hor"nem
antes ic :t:lr:,ailtc alualcie desenvolvimenio filogenäiico. Os chimpanzäs usam a lingr-ragem para
se cci-*l;:ica:.. eja :ern sö a funcäo cornunicativa. e1a sö ret:r aquela primeira funqäo, de intercäm-
bio sociai. Ten cc::-:ilnicacäo ali. t€m gestos. täm expressöes faciais. tem sons etc". sÖ a lingua-
gem separaia. E:e::r aiguma coisa que poderiamos chamar de primÖrciio de pensalnento, que ä
chamado na ps:ccicgia ie inteligöncia prätica. Os chinrpanzäs säo capazes de resolver probletnas
no mundo coilcrei; ,je uina forrra jä inteligente. no sentido de que ele atua sobre o ambiente"
ele resolve probien:as. eie busca soluqöes. mas de uma forma inserida num contexto perceptual
imediato. Täm esses eri:er:r':lenros bem conhecidos na Psicoiogia. O chimpanzö ä capaz de em-
pilhar alguns caixotes. i:al'a aicairqar algumas bananas que ele näo aicanqa sÖ com seu corpo,
Q capazde pegar ufira \:a:a e puxar uma fruta que estä fora da iaula. com aiuda da vara' Quer
dizer. ele estä usando inslri:mento. estä agindo ativamente sobre o ambiente para soiucionar urn
probiema, entäo ele estä usando uma intelig€ncia prätica. que ä assim chamada porque träo tem
nenhum componente sir':rböiico. Por exemplo. se o chimpanzä näo tiver a banaua e a vara ilo
mesrno campo visuai ele iä näo :'esoive o prcblema, ele näo ä capaz cie imaginar que ele precisa.
para aicanqar aquela banana. n:ais cio que o pröprio corpo. e eie vai ä busca de urna soiuqäo' Ele
näo ä capazd,elazer isto. Isso ä um indicador oe que ele näo estä agindo nurn plano simbÖlico.
mas sö num plano cotlcreio.
Na crianqa, no bebä, tambäm ailarece isso. Aparece a comunicagäo com fins de inter-
cämbio social, atraväs de choro. gestual. outros tipos de sons. expressöes faciais, e aparece a
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construQäo de uma inteligäncia prätica similar a do chimpanze. A crianca prä-lingr-risitica. antes
c1a aquisicäo da linguagem, tem uma agäo no mr:ndo parecida com a que o chimpanzä tem. Ela
ä capaz de pegar r-rrn banquinho para a.lcanqar um brinqr-redo que eia näo alcanqa sozinha. ela 6
capaz cle procurar uma bola que caiu aträs do sofä. de usar uma coisa para puxar a outra. Quer
d\zer. ela age ir-iteligentemente no ambiente. resolvendo problemas. usatrdo instrumentos e tal.
nr-tm plano concreto. sem mediaqäo slmbölica'
Entäo, tanto na hist$ria da esp6cie, como r-ia histÖria da crianqa. hä uin momento em que
existe lilguagern com esta funeäo primeira. de lniercämbio social, e existe pensamento, ou pri-
niördios de pensamento. que seria essa inteligÖncia pr'äiica.
.\um cieterminado momento do desenvolvimenio. essas duas potencialidades se tlnem e
iai pensamento e iinguage.m se atreiam e näo se ciesait"eiam mais e väo representar uma parte
substancial do funcionamento psicolögico iiumano. iria hislÖria da especie. isto aconteceu num
cletermiriado momento clo desenvoivimello cia esi:ecie. :-'e s:g:,:fica: iilgt'esso da espäcie hu-
flana :ra eSpäCie hUmana proi:riat-nenie. O mornento €:-;l C-r-i€ l-:ä5C€ a esl:eCie hUmana. ClarO
que espaihacio ao iongode milhares de a.nos n.ias o hor:E;:: :le.ssä a se:'capaz de se comunicar
pela linguagem. como ur)-l sisiema articulado e a inteiiger,c:a .-r".; liassa a ser abstrata. podendo
funcionar em piarros sirlboiicos. collro iaiamcs antes. Passa 3 -is:' cailaz rie circular por lrlomen-
tos e espaqos ausentes do espaQo atual, perceptual pt'esenle. ele pode ser capaz de imaginar.
inventar. criar, r'ecuperar coisas que aconteceram no passacc. Iie ielr uma inteligäncia. ele passa
a ter uma inteligäncia. um pensamento de natureza sir-ni:Ö1ica. e isso ä permitido peia linguagem.
inicialmenie por aquela funqäo segunda da iingr-ragem. qi;€ ä cle 1:er-rsamento generalizante. mas
iambäm por värias outras caracteristicas da iinguagern. rl:-:€ podemos imaginar. Por exemplo,
o fato de iermos verbos do presente. passado, futuro. ;;et'i::itincio que transitemos pelo ten-rpo
em termos simbÖlicos. O iato de possuirmos termos pal"a ilegaCäo, permite que neguemos no
discurso, que cCIncebamos o näo. a inexist€rtcia. o ze,:o. a netrhum. porque a lingua pern-rite
isso. Na. ausäncia da lingua seria muito ciificil concebern':os a attsäncia. a presenca atä sim, mas
a aus€ncia näo.
A relacäo enrre o pensamento e a palavra ä o rnovitrienlo continuo cie vai-e-vem do pensa-
rnento para a palavra e vice-versa. ü pensamento näo ä sin-lplesmente expresso em palavras. E
por meio delas que eie passa a existir.
A iingua 6 uma coisa que estä fora da pessoa inrcialmenie. Quer dizer, quando a crianqa
nasce. ela nasce num meio falante, que jä tem uma iingua e que ela vai se apropriar desta
iingua ao iongo do seu desenvolvimento. Esse ä um movimento que vai acontecer de fora
para dentro. Entäo, para Vygotsky, o primeiro uso da iinguagem ä o que ele chama de fala
socializada. Quer dizer. ä a fala da crianqa com os outros. para os outros, sö do lado de fora
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dela, sÖ com essa funcäo comunicativa inicial. E na interface clela com o outro que a lingua
aparece primeiro' E o ponto de chegada da lingua, o rnais desenvolvido de toclos. ä o chama-
do discurso interior. E o fato cie que incorporamos urn sistenia sirnbölico no posso aparato
psicol6gico e somcs callazes c,e ter" internamente. esse plano sirnbölico clo funcio,amento
psicolÖgico colrl o suporie rii': ii:rgua.. mas ele esiä iä dentro de nös. Er-rtäo. näo 1;recisamos
falar alto' E c,rmo se nossc pellsalner-rto acontecesse. em grande n-reclicla, apoiaelo nas pala-
vras. nos conceitos. cel:talrenl€. mas näo 1:recisamos externalizar isto. funciona clentro da
nossa cabeqa' Entäo, pensamos sozinhos. com o suporte cjas paiavras. com o moclo de pen-
sar de nossa iingi-ra. com as possibilidades de tränsito pelo mundo do simböiico que a lingua
nos dä, mas tudo lsso dentro da nossa cabega. Entäo, as coisas comecarn clo lado de fora e
acabam interr:aiizadas.
O Vygotsky propÖe que, entre uma coisa e outra, entre o que acontece lä fora e o que
acontece dentro" ocorre um momento do desenvolvimento que ö a charnada fala egocäntrica.
Qtie ä - querx tem contato com crianca sabe disto 
-, a fase da crianqa por volta dos tr6s,
quatro anos. fala sozinha. Ela faia alto, mas estä falando para ela mesma, näo precisa do inter-
locutor. Eia pode estar sozinha no ambiente e ela fala tambäm. Este fenömeno foi identificado
pelo Piaget e o Vygotsky se apropria da idäia do Piaget para discutir essa idäia. Mas eies a usam
com concepgÖes bem diferentes, justamente porque o Vygotsky estä trabalhando as coisas de
fora para dentro e o Piaget de dentro para fora. Entäo, para o Piaget existe fala egoc€ntrica.
rnas ela Ö um indicador de que o desenvolvimento estä saindo de dentro clo sujeito e inclo para
fora' E no Vygoisky ä exatamente o oposto. A exist6ncia da fala egocäntrica indica que a faia
estä sendo posta para dentro. Aquela comunicaqäo que era entre as pessoas vai estar sendo
internalizada pelo sujeito. para se tornar um instrumento ciele, interno" Entäo, essa fala ego-
c€ntrica, esse falar sozinho da crianga. ä como se ele estivesse usando um formato ainda socia-
iizado da lingua. que b. falar alto, mas com uma funqäo do discurso inierior, que ö a ,,fala para
mim"' Quando a crianQa eslätazendo uma tarefa, dizer, "ah, agora vou pegar o läpis azul...
ah. vou pegar um brinquedo, mas näo alcanqo, entäo preciso de um banquinho... E como se
ela ficasse falando para ela mesma. explicitando para ela mesma, passos de raciocinio, neces-
sidades na seqü€ncia da soiuqäo de problemas. A linguagem egoc€ntric a apayece muito rnais
qr-rando a crianca estä posta etr situacäo cle dificuldade cognitiva, que evidencia o fato de que
a linguagem 6 um instrui-nento de irensaixento. Entäo ela a. estä usando con-)o suporte. ,sa a
lingr-ia para ajudä-la a resolver Lim i:roblen-ia.
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ffi
§ * SHSENVOLV§ilMEruTü E APR§ru*IUAGTfVI
, As relaEöes entre desenvolvimento e aprendizagem säo aspectos bem importantes da te-
oria do vygotsky, porque ele trabalha muito nesta ärea da Psicologia ligada ä educagäo' 
E por
um postulado bäsico de sua teoria, que öo fato de que o desenvolvimento se daria de fora para
dentro, o desenvolvimento humano. Por causa da importäncia da cultura, por causa importäncia
da imersäo do sujeito no mundo humano em volta dele. A rdbra de que o desenvolvimento se dä
de fora para dentro para ele, portanto a aprendizagem aparece como uma coisa extremamente
importante para ele na definiqäo dos rumos do desenvolvimento. Para Vygotsky a aprendizagem
ä quepromove o desenvolvimento. E porque o sujeito aprende, porque ele faz coisas no mundo
que fazemcom que ele aprenda ä que ele se desenvolve. ä como se aprendizagem puxasse o
desenvolvimento do sujeito e isto tambäm estä atrelado ä idäia de que o caminho do desenvol-
vimento estä em aberto. como a cultura, em grande medida,-valdefinir por onde o sujeito vai e
tambäm a especificidade de cada sujeito vai ser definida em sua interfase com o mundo, em suas
experiäncia de aprendizagem, em seus procedimentos rnicrogenäicos vistos anteriotmente' o
fato de aprender ä que vai definir por onde o desenvolvimento vai se dar'
E interessante pensarmos que esse äum ponto bem lorte de contraponto entre Vygotsky e
piaget. para piaget, como o desenvolvimento se dä mais de dentro para fora, o motor endÖgeno
de desenvolvimento ä queimpuisionaria o desenvolvimento psicol6gico' Por desenvolver-se ä que
o sujeito pode aprender. Ele aprende porque estä em determinado estägio de desenvolvimento'
Para vygotsky ä mais o conträrio. ele se desenvolve porque ele aprende'
Uma atividade interessante de iocarmos com relaqäo a isto ä o brinquedo. a brincadeira, ou
o jcgo simbÖlico, ori o jcgo de papäis, que ä a brincadeira de taz-de-conta' Este jogo de papÖis
para Vygotsky ä muitc importante, colrlo um iugar de ciesenvolvimento, exatarnente pCIr causa
dessa relagäo entre desenvoivimento e aprendizagenl. Na brincadeira, no iogo de papäis, a criau-
qa estä, ao mesrfio tempo, transiiando pelo mundo do imaginärio * ela b a professora' ä claro
näo O.urna proiessora de verdade, ela estä brincando de ser professora" entäo ä imaginärio -,
mas ao mesinc tempo esiä regicio por regras. Se ela vai brincar de escolinha, ela estä restrita p€-
ias regras de funcionamento de uma escola, se.ia uma eseola verdadeira ou Ltma escola imaginäria
da crianQa. mas tem regras. näo pode ser quaiquer coisa. A imposiqäo de regras ä uma imposigäc
que vemdc funcionamento da cultura, justamente corno os jogos de papäis, jogos simb6iicos,
jogos de {az-de-conta. Ele ö uma mimica das atividades do mundo adulto, ele traz para dentro cio
mundo da crianqa as regras de funclonamento do mundo adulto, ä um ieiio de realizat uma ativi-
dade tipica menteinfantil, que envolve aprendizagem e promove o desenvolvimento' E como se
a crianga {osse puxada para adiante daquilo que ela ä capaz de tazer como crianqa no momento
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da brincadeira. Quer dizer,ela se aproximado papel de mäe sem ser mäe em sua vida cotidiana.
No brinquedo, a crianqa se relaciona com o significado das coisas e näo com os pröprios objetos.
Por exemplo, ela pode pegar um toquinho de madeira e fingir que ä um carrinho. Entäo, ela estä
se relacionando com o significado de carro e näo com o objeto toco de madeira. E isso promove
para ela um descolamento do mundo perceptual imediato e faz com que ela se relacione com
o mundo do significado, o que tambäm a ajuda a entrar neste tränsito do mundo simbölico, das
representagöes, da iingua e das reiagöes. Ai entra pensamento e linguagem etc. O brinquedo 6
um bom exemplo de como atividades realizadas do iado de fora, que constituem aprendizagem,
promovem o desenvolvimento num caminho tipicamente humano, definido por um percurso que
estä atrelado ä cultura.
Desenhar e brincar devenam ser estägios preparatörios para o desenvolvimento da lingua-
gem escrita das crianqas. Os educadores devem organizar todas essas aqöes e todo o complexo
processo cie transiqäo de um tipo de iinguagem para outro. Devem acompanhar este processo
atravös de seus mornentos criticos. Atä o ponto da descoberta de que se pode desenhar näo so-
rnente objetos. mas tamMm a fala.
t t ä*{.*eu i":Eil #ääü f'iv{.:}il#g§# äf§T{"} ;}*q i.} H, rlu:!Ä i.
Um aspecto muito importante da tearia de Vygotsky com relaqäo ao desenvolvimento, ä
a idäia dele de que o desenvolvimento deve ser olhado de uma maneira prospectiva e näo re-
trospectiva. Isto ä, deve ser olhado para frente, aquilo que ainda näo aconteceu. Normalmente
olhamos para aquilo que jä aconteceu" qu€ jä passou. Normalmente perguntamos: "seu fi1ho jä
sabe amarrar sapato?, obeb|jä senta?, essa criangajä aprendeu a ler e a escrever?". Entäo, nos
referimos ao jä. äquila que jä esiä consolidado, que jä terminou, que jä estä pronto na crianga.
Mas aquilo que estä em processo, que estä pcr acontecer ä aii que vai acontecer a intervenqäo
pedagögica, a agäo educacional de qualquer tipo e tarnbäm ä ali onde o desenvoivimeirto esiä
efewescente, estä fervendo em termos cie um fenömeno a ser compreenciido pelo estuciioso do
desenvolvimento. Entäc. para esta questäo, esta idäia bäsica do Vygotsky torna corpo, nurn con-
ceito que ä tipico da teoria dele, que ä muito conhecido, que ä o conceito de zona de desenvolvi-
mento proxirnal, ou potencial. Para explicar esta zona ele trabaiha com dois outros conceitos, ele
fala em nivel de desenvolvimento real, que b, o nivel de desenvolvimento atä. o qual a crianEa jä
chegou, que ä o taldo desenvolvimento passado, ou o olhar retrospectivo, ou seja, aquilo que ela
jä tem. Na outra ponta teriamos aquilo que ele chama de nivelde desenvolvimento potenciai, que
ä aquilo que a crianqa ainda näo tem, mas qu€ podemos imaginar que estä pröximo de acontecer,
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que estä num horizonte pröximo, näo muito longinquo' Geralmente sabemos que estä pr6ximo'
porque a crianqa Consegue se relacionar Com aq-ueles obietos de conhecimento e de aCäo näo
autonomamente ainda, mas Com ajuda, com instruqäo do outro, com intervenqäo cte um parcei-
ro mais experiente. O fato de que ela näo faz sozinha. mas faz com ajuda, identifica que aquilo
pertencea um plano de desenvolvimento que estä pröximo de se consoliclar. E dai. entre aquilo
que jä estä pronto e aquilo que estä presente €m sement-e. b. que o Vygotsky localiza esia chama-
da zona de desenvolvimento proximal. Que ä urn pedaqo do desenvolvimento que permiie' quer
dizer, que bo mais interessante emtermos de desenvoivimento, que ä onde o.desenvolvimento
estä acontecendo agora, e ä o que permite a intervenQäo. euer dizer, ä aii que podemos colocar
o dedo para operar transformaqöes.
A zona de desenvolvimento proximaldefine aquelas funqÖes que ainda näo amadureceram'
mas que estäo em processo de maturaqäo. Funqöes que amadureceräo, mas que estäo presente-
mente em estado embrionärio.
Uma coisa que ä bem importante de falar sobre isso 6 que esse ccnceito de Vygotsky ä um
conceito que tem um valor explicativo dentro da teoria, mas ele näo ä utn conceito instrumental'
Näo podemos pegar o conceito de zona proximal, entrar em uma sala de aula e querer rnedir a
zona proximal dos alunos, identificar as zonas proximais e tal, porque ele ä um conceito muito
flexivel e muito cornplexo, ele näo ä visivel na prätica. Quer dizet, ele nos ajuda a entender o de-
senvolvimento, mas näo ä visivelna prätica, pois para cada tÖpico de desenvolvimento, para cada
crianqa, em cada micro-momento teriamos uma zona' Entäo, se entramos numa saia de aula com
quarenta alunos e Vamos trabalhar adiqäo Com reserva hoje, temos quarenta zonas proximais em
movimento, porque cada vez que falamos alguma coisa estou alterando a zona de cada crianqa'
ou de uma Parte deias, Pelo menos'
T ä äNTERVfrNEÄS PED&ffiMM§fl&
Um aspecto muito peculiar da teoria do Vygotsky, muito central nas concepqöes dele sobre
desenvolvimento, aprendizag em, äa importäncia da intervenqäo das outras peSSoaS no desenvol-
vimento de cada sujeito.
Aqui entra uma coisa bem importante para Vygotsky, que ä a importäncia deste rnundo
humano, desta cultura, do outro social, mas näo em termos de um ambiente ':nde o suieito estä
simplesmente imerso, näo ä como se fosse um caldo onde tivössemos posto iä dentro e passi-
vamente fosse absorvendo informaqöes do ambiente. Ele coloca uma posiqäo rntiito ativa, pri-
meirc para o pröprio sujeito, quer dizer ele estä se relacionando com o muncio de informaqÖes,
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l'l:.-rtil:i ll].:i:l
significados, modos de ser, rumos de desenvolvimento e tal, onde ele tambäm age, ele när:, ä
um ser passivo. que recebe passivamente a informacäo do mundo, mas a cada momento de sua
histöria eie ä um sujeito pleno. que retroag€. que age sobre o ambiente, que dialoga, que impöe
significados, que traz sua subjetividade, seu modo de ver o mundo, sua pröpria hist6ria. naquela
relaqäo de aprendizagem que promoverä desenvolvimento. E, aiäm disto, a influäncia do arnbien-
te tambäm näo estä se ciando de uma forma s6 por imersäo, o sujeito näo absorve informaqöes
cio ambiente de un ambiente que ä passivo. ele absorve informaqöes de um ambiente que estä
estruturado pela culiura. Por exempio, um bebä brincando sozinho no berqo, estä brincando num
anrbiente cultural. estruturado pela cultura, porque ä dentro de um berqo, näo ä numa esteira no
chäo. porque ä com aqueies brinquedos e näo com outros, porque ä sozinho e näo acompanha-
do, porque ä nurn quarto de um determinado tipo. com determinado som em volta etc.
O V1,'gotsky ainda fala sobre um outro aspecto que extremamenie importante, que ä o da
' intervencäc atiria das outras pessoas na definicäo dc,s rumos do desenvolvimento. Entäo. para
ele, a inierr,'encäo pedag6gica ä essencial na promoqäo do desenvolvimento de cada individuo.
de cada sujeilc. O sujeito näo percorreria caminhos de desenvolvimento sem ter experiäncias
de aprendizagem, resultado da intervenqäo deiiberada de outras pessoas na vida dele. lnterferir
intencionaimente no desenvolvimento das crianqas ä importantissimo na definiqäo de seu desen-
volvimento. Entäo, o sujeito depende dessa intervengäo para se desenvolver adequadamente nos
rumos que aquela cultura supöe como os rumos adequados para o desenvolvimento. Desenvol-
ver-s€ nulna sociedade que tem escola, ö. dl{erente de desenvoirer-se numa sociedade que näo
tem escola. Entäo, escola, numa sociedade escolarizada ö um l6cus culturalextremamente impor-
tante, para a definiqäo dos rumos de desenvolvimento. E a intervengäo pedagögica ä essencialna
definiqäo cio ciesenvolvimento do sujeito.
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