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Ética na contemporaneidade
Everson Elias Gonçalves de Oliveira
1. Breve histórico da ética.
Questionamentos acerca do comportamento humano são tão antigos quanto a própria existência da humanidade. Eles nasceram no momento em que o homem passou a viver em comunidade e, hoje, estão mais complexos em virtude do próprio desenvolvimento das civilizações.
No convívio comunitário, o ser humano percebe a necessidade de normas para reger um bom relacionamento social. Nesse cenário, destaca-se a ética.
Fábio Konder Comparato (2006, p. 91)� fixa o início da “teoria racional da ética” em Sócrates, porque, segundo Aristóteles�, fora ele “quem primeiro procurou definir as virtudes morais, isto é, exprimir a sua essência por meio de uma fórmula geral”.
Sócrates relaciona o agir moral com a sabedoria, afirmando que só quem tem conhecimento pode ver com clareza o melhor modo de agir em cada situação. Sócrates defendia que só age mal quem não conhece o bem, pois, ao conhecê-lo, reconhece-o e passa a praticá-lo.
Com base nos ensinamentos de Sócrates, Platão e, posteriormente, Aristóteles também desenvolveram critérios para o estudo da ética. Fábio Konder Comparato (2006, p. 95)� sucintamente explica os resultados atingidos pelos dois filósofos:
Platão buscou esse fundamento objetivo [para chegar a conclusões gerais em matéria ética] na noção de arquétipo ou ideia pura, da qual a realidade humana seria uma pálida cópia. Se a filosofia ética dá as razões (lógon adounai) pelas quais as ações humanas e as instituições sociais são boas ou más, basta que tenhamos a exata ciência do bem e do mal, à luz desses arquétipos puros e eternos, para termos um juízo eticamente verdadeiro. Daí a surpreendente afirmação, tantas vezes repetida, de que ninguém pratica o mal intencionalmente (...). Aristóteles corrigiu esse intelectualismo abstrato, ao procurar demonstrar que o bem, como finalidade objetiva de toda ação humana, é tudo aquilo que apresenta um valor para o homem. Encontra-se aí, em germe, a ideia de que o bem e o mal são percebidos também pela inteligência afetiva, o que representa a base de toda a teoria axiológica moderna.
	Um ponto comum a Platão e Aristóteles reside na realização de justiça na sociedade: uma vida justa é uma vida feliz. Como apresentado nas lições do Módulo I, o estudo da ética, principalmente para Aristóteles, privilegia as virtudes (justiça, caridade e generosidade).
	Ainda no mundo antigo surge o estoicismo. O principal princípio da ética estoica, segundo Comparato� (2006, p. 111-112) “é o de que todos devem viver em conformidade com a natureza, (...) significa, em última análise, servir o interesse geral da coletividade, antes que o seu próprio”. Dessa forma, estaria toda a humanidade submetida a uma lei natural sem a qual não seríamos capazes de separar o justo do injusto.
	Por fim, antes da modernidade, tem-se a ética cristã. Comparato� (2006, p. 143-144) caracteriza como racionalista o pensamento ético-teológico de São Tomás, além das influências aristotélicas. Segundo São Tomás, o homem fora dotado por Deus da capacidade de separar a verdade do erro através da razão. Essa atividade é, portanto, puramente intelectual. Assim, o pecado tem sua semente no livre-arbítrio, na incapacidade de o homem vislumbrar a verdade por sua conta própria.
Com o advento do que hoje designamos como modernidade, o estudo da ética afastou-se do cristianismo em busca de uma definição laica. Houve também a valorização do indivíduo e da consciência por filósofos como Kant. De acordo com Campos, Greik e Vale� (2002):
Kant afirma que se nos deixarmos levar por nossos impulsos, apetites, desejos e paixões não teremos autonomia ética, pois a Natureza nos conduz pelos interesses de tal modo que usamos as pessoas e as coisas como instrumentos para o que desejamos. Não podemos ser escravos do desejo. Para isso devemos agir conforme o Imperativo Categórico, ou seja, o ato moral deve concordar com a vontade e com as leis universais que ela dá a si mesma: “Age apenas segundo uma máxima tal que possa ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”. Ele [Kant] sustentava que o homem é o centro do conhecimento e da moral. Sendo o ato ético e moral criado e seguido pelo homem, isso passa a ser incondicionado e absoluto.
Posteriormente, perante as sequelas deixadas pela Segunda Guerra Mundial, tanto físicas quanto morais, Flávia Piovesan� (PIOVESAN, 2012, p. 42) destaca o robustecimento dos direitos humanos em prol de um novo “paradigma e referencial ético a orientar a ordem internacional”, principalmente a partir da confecção da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.
Fábio Konder Comparato� (COMPARATO, 2013, p. 240) afirma que a Declaração de 1948 é o apogeu de um “processo ético” iniciado em 1776 com a Declaração de Independência dos Estados Unidos e reforçado em 1789 com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão). 
O referido processo caracteriza-se pelo “reconhecimento da igualdade essencial de todo ser humano em sua dignidade de pessoa, isto é, como fonte de todos os valores, independentemente das diferenças de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião, origem nacional ou social, [...]”� (COMPARATO, 2013, p. 240).
A Declaração Universal de 1948, a qual dispõe sobre direitos pessoais, sociais, políticos, econômicos e civis, salienta, em seu próprio preâmbulo, os efeitos perversos da inobservância de direitos humanos e a necessidade de cooperação internacional pela promoção desses direitos fundamentais. 
Segundo Flávia Piovesan� (PIOVESAN, p. 2012, p. 60-61), “a comunidade internacional tenta (...) obrigar os Estados a melhorar a condição dos indivíduos e a garantir a eles direitos fundamentais”. Assim sendo, documentos como a Declaração de 1948 visam à fixação de diretrizes supraconstitucionais de ação estatal, isto é, “um código comum de ação, ao qual os Estados devem se conformar”� (PIOVESAN, 2012, p. 61), sob pena de responsabilização internacional.
2. Conceito de ética e moral.
	
	Como já brevemente apontado, a ética se ocupa do estudo do comportamento humano e investiga o sentido das ações do homem. Ética, segundo o Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa�, deriva do grego “ethos”, que significa “modo de ser, caráter, costume”. A fim de explicar o que uma ordem ética, Paulo Lôbo� (2011, p. 183) cita Goffredo Telles Junior:
Uma ordem ética é sempre expressão de um processo histórico. Ela é, em verdade, uma construção do mundo da cultura. Em concreto, cada ordem ética é a atualização objetiva e a vivência daquilo que a comunidade, por convicção generalizada, resolveu qualificar de ético e de normal.
Percebe-se, nesse conceito, a ausência de juízos de valor subjetivos. A ordem ética é construída a partir de condutas objetivamente qualificadas como corretas.
Moral, ao seu turno, é o conjunto de normas, livre e consciente, adotado para organizar as relações das pessoas, tendo como base o bem e o mal, com vistas aos costumes sociais. Moral, segundo o dicionário Houaiss, deriva do latim “mós” ou “moralis”, que significa "relativo aos costumes”.
Apesar de serem semelhantes, e por várias vezes se confundirem, ética e moral são termos aplicados diferentemente. Enquanto o primeiro aborda o comportamento humano como objeto de estudo, procurando torná-lo o mais abrangente possível, o segundo se ocupa de atribuir valor à ação.
Assim, conclui-se que a moral tem um caráter subjetivo, que faz com que ela seja influenciada por vários fatores, aumentando a sua variação de significado de um grupo para outro. Esses fatores podem ser sociais, culturais, econômicos etc.
3. Todo bandido tem ética?
	Em pronunciamento feito à televisão, o advogado Jeferson Badan ficou famoso ao dizer que “todo bandido tem ética”. Contudo, o ilustre causídico fora infeliz em sua manifestação.
	Com base no que já fora dito anteriormente, a ética, como uma ciência responsável pelo estudo da conduta do homem em determinada sociedade, não admitiria areferida subdivisão apresentada pelo advogado. A ética se propõe a estudar a conduta do infrator: por que ele roubou? Por que ele matou? Por que ele não quer dizer o nome do outro criminoso? 
No entanto, não é correto afirmar que o transgressor possui uma ética própria, uma vez que esse conceito é construído objetivamente por toda a sociedade (no caso, a sociedade brasileira), a qual, a priori, condena o comportamento criminoso.
	Provavelmente, entrando no campo da especulação, pode-se imaginar que o advogado quis dizer que os criminosos possuem um código de ética próprio, como os códigos de ética profissionais de várias atividades (advocacia, medicina, engenharia, veterinária etc.). Porém, isso também seria incorreto, uma vez que a criminalidade não é reconhecida como uma profissão pela sociedade brasileira.
	O mais correto seria dizer que os criminosos possuem um código de conduta, o qual, dentre outras regras de comportamento, exige que infrator dê cobertura ao outro.
4. Considerações finais.
	O Brasil ainda caminha a passos lentos no que diz respeito à ética, principalmente no cenário político. Porém, é inegável que alguns setores da sociedade têm se esforçado para fortalecer a moralidade.
	Os crimes de improbidade administrativa estão sendo mais investigados e a polícia e o Poder Judiciário têm atuado com mais liberdade em prol da promoção da moralidade e do interesse público.
	No setor público, a ética tem contribuído para melhorar a qualidade dos serviços prestados pelo Estado. Novos códigos de ética, além de regulamentar a qualidade e o trato dispensados aos usuários do serviço público, trouxeram punições para os funcionários públicos que descumprem normas éticas no desempenho da atividade.
	A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 37, determina que a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. A moralidade administrativa está ligada à ética, à honestidade, à lealdade, à probidade etc.
	Instrumentos normativos como a Lei n. 12.846, de 1º de agosto de 2013, conhecida como Lei Anticorrupção, evidencia a constante importância de se estudar a ética, uma vez que o setor privado também deveres frente à sociedade.
Fábio Konder Comparato� (2006, p. 95) ressalta o sentido convergente do processo evolutivo em direção à “elevação de consciência”. Segundo o autor: 
Ele [o fenômeno de elevação de consciência] nos permite reconhecer que a evolução vital é auto-centrada na espécie humana e manifesta um caráter personalizante. O “estar-no-mundo” é a condição ontológica própria da pessoa; o que implica a sua permanente abertura a tudo e a todos. Cada indivíduo ou grupo social se valoriza, pelo desenvolvimento contínuo de suas potencialidades, na medida em que se abre a todos os outros, neles reconhecendo o complemento de si próprio. O longo caminho da evolução histórica tende a nos conduzir, nessa perspectiva, à geração da humanidade-pessoa: a nossa espécie torna-se mais consciente de sua posição no mundo, e procura elevar-se indefinidamente rumo ao absoluto, em busca daquele ponto focal onde a mística religiosa sempre situou a divindade. Esta a verdadeira imortalidade do homem. Dignitas non moritur, segundo a expressão clássica: a dignidade da pessoa humana é imperecível. É ela que nos indica o caminho da plenitude de Vida, na Verdade, na Justiça e no Amor.
Referências
CAMPOS, Michele; GREIK, Michl; VALE, Tacyanne Do. História da Ética. Disponível em: <http://www. ebah.com.br/content/ABAAAATMYAG/historia-etica>. Acesso em: 21 jun. 2014.
COMPARATO, Fábio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
______________. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
GRANDE DICIONÁRIO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA. Edição digital disponível em: <http:// houaiss.uol.com.br/>. Acesso em: 21 jun. 2014.
LÔBO, Paulo. Comentários ao Estatuto da Advocacia e da OAB. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 13. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012.
� COMPARATO, Fábio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 91.
� ARISTÓTELES apud COMPARATO, op. cit., p. 91.
� COMPARATO, Fábio Konder. op. cit., p. 95.
� Ibidem, p. 111-112.
� Ibidem, p. 143-144.
� CAMPOS, Michele; GREIK, Michl; VALE, Tacyanne Do. História da Ética. Disponível em: <http://www. ebah.com.br/content/ABAAAATMYAG/historia-etica>. Acesso em: 21 jun. 2014.
� PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 13. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 42.
� COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 240.
� Ibidem, p. 240.
� PIOVESAN, Flávia. op. cit., p. 60-61.
� Ibidem, p. 61.
� GRANDE DICIONÁRIO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA. Edição digital disponível em: <http:// houaiss.uol.com.br/>. Acesso em: 21 jun. 2014.
� LÔBO, Paulo. Comentários ao Estatuto da Advocacia e da OAB. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 183.
� COMPARATO, Fábio Konder. op. cit., p. 699-700.

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