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0 UNIVERSIDADE GAMA FILHO CENTRAL DE CURSOS DE EXTENSÃO E PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PÚBLICO CONTROLE INTERNO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: Foco na Municipalidade BRÁULIA DE LIMA OLIVEIRA FONSECA Belo Horizonte 2012 1 BRÁULIA DE LIMA OLIVEIRA FONSECA CONTROLE INTERNO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: Foco na Municipalidade Monografia apresentada à Central de Cursos de Extensão e Pós-Graduação Lato Sensu como requisito parcial para conclusão do Curso de Especialização em Direito Público. Professor Orientador: Prof. Ms. Márcio Ferreira Kelles Mestre em Direito Público Belo Horizonte 2012 2 BRÁULIA DE LIMA OLIVEIRA FONSECA CONTROLE INTERNO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: Foco na Municipalidade Monografia apresentada à Central de Cursos de Extensão e Pós-Graduação Lato Sensu da Universidade Gama Filho como requisito parcial para a conclusão do Curso de Pós- Graduação em Direito Público. AVALIAÇÃO 1. CONTEÚDO Grau: ______ 2. FORMA Grau: ______ 3. NOTA FINAL: ______ AVALIADO POR Belo Horizonte, 01 de Julho de 2012 Profa. Dra. Cristina Maria Fortini Pinto e Silva Doutora em Direito Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG 3 RESUMO Remete a década de 1960 a obrigação legal da administração pública brasileira de manter um sistema de controle interno a fim de possibilitar o acompanhamento e a fiscalização dos recursos públicos. Tal sistema foi enfatizado com a promulgação da Constituição Federal de 1988 a qual reiterou a necessidade de manutenção do sistema de controle interno aos municípios e especificou a atuação na fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial. Nesse sentido, um sistema eficaz de Controle Interno representa um instrumento facilitador da execução idônea da gestão pública na medida que evita a incidência recorrente dos atuais casos de fraudes nos cofres públicos. Palavras chave: Direito, Controle Interno, Administração. 4 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 5 2. PROBLEMA 7 3. OBJETIVOS 8 3.1 Objetivos Gerais 8 3.2 Objetivos Específicos 8 4. HIPÓTESE 9 5. JUSTIFICATIVA 10 6. METODOLOGIA 11 6.1 Marco teórico 11 6.2 Operacionalização 7. REFERENCIAL TEÓRICO 13 7.1 Princípios norteadores da Administração Pública 13 7.2 Conceito de Controle 15 7.2.1 Natureza do Controlador 17 7.3 O Controle na gestão pública brasileira 18 7.4 Aspectos inerentes ao Controle Interno e municipalidade 21 7.5 Fundamentação legal 24 7.6 Controle do atos administrativos 26 7.7 Mérito versus legalidade 27 7.8 Controle Interno na mucicipalidade 28 7.8.1 Apoio para implementação 29 7.8.2 Estrutura organizacional 29 7.8.3 Estrutura física 30 7.8.4 A importância da profissionalização no setor público 30 7.8.5 Coordenação 31 8. Controle Interno na prefeitura de Belo Horizonte 31 8. CONCLUSÃO 34 10. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 35 5 1. INTRODUÇÃO Há tempos a sociedade necessita conhecer como os administradores públicos estão aplicando seus recursos. No âmbito da Administração Pública, o controle é premissa básica para a verificação da correta aplicação dos recursos provenientes de impostos e taxas que se paga. “Cumpre observar que todo ente estatal está submetido à obrigatoriedade de prestar contas de qualquer recurso de que se utilize, observando os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”.1 Partindo do advento da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – 1789, “Art. 15.º a sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração”, sendo assim, a necessidade de se prestar contas dos bens públicos se torna mais emblemática. A transparência da gestão da coisa pública decorre do princípio republicano democrático. Conforme Celso Antônio, “Não pode haver em um Estado Democrático de Direito, no qual o poder reside no povo (art. 1º, parágrafo único, da CF), ocultamento aos administrados dos assuntos que a todos interessam e muito menos em relação aos sujeitos individualmente afetados por alguma medida. 2 Nas organizações públicas, todos os que guardam e administram bens ou rendas têm o dever de prestar contas sobre essa responsabilidade. No entanto, para que possam prestar contas sem receios, os administradores devem estar bem informados sobre os atos e fatos de sua administração. Devem, igualmente, prover os meios para que a sociedade faça o acompanhamento da gestão e a tomada de contas, quando necessário, através dos meios institucionais. Clássicos como Frederick Taylor, Henri Fayol, dentre outros subsequentes, revelam que a Administração deve atender, particularmente, aos princípios de organização, planejamento, comando e controle os quais quando analisados separadamente, constituem funções administrativas, que por sua vez, formam o processo administrativo. Mais do que uma necessidade, o controle sobre as prestações de contas na Administração Pública é um dever a fim assegurar as condições mínimas de realização do que 1 DOMINGOS, EVERARDO CAVALCANTE. Controle interno na Gestão Pública: O caso da assistência à saúde suplementar do servidor da UFC. 2007. Dissertação (Mestrado em Gestão Estratégica para as Instituições de Ensino Superior). Pós Graduação em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior, Universidade Federal do Ceará. Fortaleza. p.15. 6 foi planejado pela gestão das organizações, acompanhado da necessidade de estabelecimento de padrões de mensuração e comparação que possibilite monitorar e avaliar processos e resultados alcançados. Para se conseguir um bom resultado do processo administrativo é necessário entender que estas funções estão, intimamente, vinculadas. Não se vislumbra a possibilidade de conseguir planejar, comandar e mesmo obter uma boa organização, se não se tem o controle do que se está administrando. Cumpre assinalar, portanto, a gritante necessidade de instrumentos de controle interno para aferir a correta utilização dessa responsabilidade, analisada por unidade administrativa de governo, programas e ações de governo, bem como pelos seus gerentes. 3 2 Curso de direito administativo, 4.ed.,p.59 3 DOMINGOS, EVERARDO CAVALCANTE. Controle interno na Gestão Pública: O caso da assistência à saúde suplementar do servidor da UFC. 2007. Dissertação (Mestrado em Gestão Estratégica para as Instituições de Ensino Superior). Pós Graduação em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior, Universidade Federal do Ceará. Fortaleza. p.18. 7 2. PROBLEMA A Administração Pública, em suas esferas de governo, se depara com barreiras no que tange a implantação de um sistema de controleinterno eficaz. Os empecilhos são diversificados, mas convergem a falta de pessoal qualificado para implantação, organização da estrutura e posteriormente para atuar neste. Vislumbrando aprofundamento acerca da essência da função controle interno na Administração Pública, particularmente a nível Municipal, a problemática envolvida emerge dos atos de utilização inadequada ou apropriação indébita dos recursos públicos, haja vista as lacunas existentes nos sistemas atuais de controle interno. 8 3.OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Refletir os aspectos e características relacionadas à implantação do sistema de controle interno na esfera municipal da Administração Pública. 3.2 Objetivos Específicos Promover um aprofundamento teórico sobre o tema ao qual se propõe; Conhecer os benefícios de um sistema de controle interno eficaz; Analisar como o controle interno se comporta na hierarquia da administração pública; Discutir os méritos dos atos administrativos em relação aos resultados atingidos na implantação do sistema de controle interno. 9 4.HIPÓTESE Grande parte dos administradores municipais assume o Controle Interno como um tipo de impedimento à maneira como desejam administrar os bens públicos. À medida que o controle interno é compreendido como um instrumento que tenta assegurar que a Administração realize determinada atividade corretamente, impedir comportamentos indesejáveis, trata-se de uma concepção negativa, pois assume uma concepção de agente fiscalizado. 4 Em segundo âmbito, outra concepção do termo refere-se ao seu aspecto positivo, a capacidade de fazer com que as ações de governo alcancem os fins planejados. Por fim, verifica-se a problemática supracitada arraigada ao tema, haja vista, a pouca compreensão por parte de muitos Administradores Públicos dos benefícios que um estruturado sistema de Controle Interno pode proporcionar à sua gestão. 4 SANCHEZ, OSCAR. ADOLFO. O poder burocrático e o controle da informação. Lua nova, n. 58. 2003. p.109. 10 5. JUSTIFICATIVA O Controle Interno na Administração Pública possui como objetivo maior a proteção ao patrimônio público na perspectiva de uma ferramenta de apoio a Contabilidade. Portanto, verifica-se a necessidade de estudos que demonstrem os êxitos e lacunas ainda existentes nesta área do conhecimento a fim de subsidiar novas pesquisas e aplicações práticas resolutivas, por exemplo, um Sistema de Controle Interno que evidencie indicadores de excelência na execução das políticas públicas. Não há pretensões de exaurir toda a problemática que envolve o tema, mas tão somente apresentar uma análise e uma maior reflexão e discussão com base na literatura pertinente, pois se considera o Controle Interno como ferramenta fundamental na gestão pública. 11 6. METODOLOGIA 6.1 Marco teórico Estudos datam de 1922 a preocupação no Brasil com o controle no setor público de tal forma que o Controle Interno atuava examinando e validando as informações sob os aspectos da legalidade e da formalidade, sendo que a sua preocupação concentrava-se em atender aos órgãos de fiscalização externa e não à avaliação da forma como os administradores atuavam na prestação dos serviços públicos. 5 A Lei Federal n.º 4320/64, em seu artigo 75, e o decreto-lei 200/67 no artigo 6º, já estabeleciam a necessidade de se organizar controles internos nas entidades públicas. A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 74 e 31, somente ampliou a exigência destes controles internos abrangendo inclusive os municípios. Com o advento da LRF, em 2000, o controle interno que já era necessário como suporte à boa e regular gestão passaram a ser fundamental instrumento de proteção contra riscos de multa, inelegibilidade, ou até mesmo prisão dos responsáveis. Com esta lei, os órgãos da administração pública estão obrigados a criar e implantar o Controle Interno imediatamente, pois ela exige que os relatórios de Gestão Fiscal devam ser assinados, não só pelo Administrador- Prefeito, Presidente de Câmara e demais Administradores- pelo Secretário da Fazenda e pelo responsável do Controle Interno. O aprimoramento dos sistemas de controle interno, tem se discutido não só suas atribuições como, também, os limites a que eles se sujeitam. 6.2 Operacionalização Trata-se de um estudo descritivo de natureza qualitativa do tipo revisão de literatura obtida por meio de pesquisa bibliográfica. Essa modalidade de estudo promove a análise e síntese da informação disponibilizada por todos os estudos relevantes publicados sobre um determinado tema, de forma a resumir o corpo de conhecimento existente e levar a concluir sobre o assunto de interesse. 6 5 CALIXTO, Giniglei Eudes; VELÁSQUEZ, Maria Dolores Pohmann. Sistema de Controle Interno na Administração Pública Federal. Revista Eletrônica de Contabilidade. Jul/2005. Disponível em: <http://w3.ufsm.br/ revistacontabeis/anterior/artigos/vIInEspecial/ a05vIInesp.pdf> .Acesso em: 08 de fevereiro de 2012.p.44. 6 MANCINI, MARISA COTTA; SAMPAIO, ROSANA FERREIRA. Quando o objeto de estudo é a literatura: Estudos de revisão. Rev. bras. fisioter., São Carlos, v. 10, n. 4, p. 361-472, out./dez. 2006. p.7. 12 A estratégia para o levantamento bibliográfico procedeu-se a coleta, seleção, análise e interpretação da literatura pertinente ao assunto no período de Fevereiro a Junho de 2012, inicialmente, por meio dos descritores referentes ao assunto nas fontes abaixo relacionadas observando a qualidade do material: Manuais, livros, catálogos; Teses, dissertações, e monografias; Periódicos nacionais; Referências de outros trabalhos; Internet para acesso aos domínios SCIELO (Scientific Eletronic Library) e BNTD (Biblioteca Nacional de Teses e Dissertações). Durante a pesquisa bibliográfica a organização se faz necessária para conseguir reunir material adequado ao propósito da pesquisa. Cumpre assinalar que se sistematizou a congruência e as contradições encontradas na literatura e os trabalhos que se relacionaram diretamente ao assunto. 7 7 ECHER, Isabel Cristina. A revisão de literatura na construção do trabalho científico. R. gaúcha Enferm., Porto Alegre, v.22, n.2, p.5-20, jul. 2001.p. 6 13 7. REFERENCIAL TEÓRICO 7.1 Princípios norteadores da Administração Pública O conceito de “Administração Pública” refere-se à atividade desenvolvida pelo Estado, através de atos executórios concretos, os quais buscam atingir o interesse público da coletividade. Ela compreende a complexa máquina estatal sendo integrada pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, através do qual o Estado visa à realização dos seus fins. 9 A referida expressão designa o “conjunto das atividades diretamente destinadas à execução concretadas tarefas ou incumbências consideradas de Interesse Público ou comum, numa coletividade ou numa organização estatal”. 8 O fim institucional da Administração Pública é o interesse público. A sua organização visa ordenar de forma adequada os órgãos administrativos, distribuindo funções, fixando competências e capacitando seus agentes públicos (pessoas físicas) para a satisfatória prestação dos serviços públicos, atingindo o interesse coletivo, objetivo maior do Estado em todos os setores do Governo e da Administração. 9 10 Na execução de suas atividades, ela deve observância aos princípios básicos implícitos ou expressos no texto constitucional art. 37 da Constituição da República os quais analisados de forma harmonizada permitem o controle sobre ela. Em relação aos princípios constitucionais, Júnior demonstra que “[...] Princípios de uma ciência são as proposições básicas, fundamentais, típicas que condicionam todas as estruturações subsequentes. Princípios são alicerces da ciência [...]” 11. Os princípios sobrepõem-se às regras administrativas, por possuírem natureza constitucional, embora não estejam codificados administrativamente. Caracterizam- se os princípios como espécies normativas de baixo grau de concretude na esfera pública, mas que fundamentam e orientam a interpretação das regras administrativas. Nessa perspectiva são apresentados os princípios norteadores da administração pública no país previstos em nossas 8 BOBBIO, Norberto; MATEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 12. ed. Brasília: Universidade de Brasília, 1999. V. 1. 9 BRAGA, Pedro. Ética, direito e administração pública . Brasília: Senado Federal Subsecretaria de Edições Técnicas, 2006. p. 211. 10 FONTOURA, Tarcísio Neves da. Modelagem de um sistema de controle interno para municípios com até cinquenta mil habitantes do estado do Rio Grande do Sul. 2006. Dissertação (Mestrado em Economia). Pós Graduação em Economia, Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. p.19. 11 JUNIOR, Cretella apud Ibd., p. 19. 14 Constituições Federal e Estadual, a fim de melhor entender como deve ser embasado o controle na administração pública. Legalidade: Considerado o mais importante princípio da Administração Pública, o é o suporte e o limite da atuação do administrador público, ao qual só é permitido fazer o que a lei expressamente autoriza. Compõe-se de dois elementos “a primazia da lei e a reserva da lei. A primazia expressa à vinculação da administração às leis existentes. A reserva pede, para torná-lo ativo da administração, um fundamento e autorização legal” 12. Discricionariedade: Verifica-se quando a autoridade administrativa pode escolher uma solução conveniente ao caso concreto, dentro da delimitação legal dada pelo legislador. quadro e indica a direção de objetivos”. A autoridade “tem de continuar a pensar a concepção legislativa e de concretizar pelo caso particular; ela tem de decidir assim como o dador de leis certamente teria decidido o caso concreto”13. Economicidade: Visa à redução de custos nos serviços públicos, “a Administração Pública adota procedimentos para oferecer serviços públicos de qualidade por menor custo”12. Eficácia: princípio que permite avaliar o cumprimento das metas previstas. Define-se pela relação entre o resultado almejado e o efetivamente obtido. Eficiência: Princípio da Ciência da Administração que foi evidenciado pela Emenda Constitucional n° 19/98, trata-se de conceito econômico e constitui-se no dever de boa administração. Permite avaliar se pelo recurso empregado foi obtido o melhor resultado, visando combater o mau uso do dinheiro público e a falta de planejamento e fortalecendo o controle de resultados. Efetividade: Segundo o qual se verifica se o objetivo (missão) pretendido está sendo alcançado, ou seja, se as ações implementadas e suas metas estão produzindo os efeitos desejados. Legitimidade: A finalidade pública é o que deve a Administração perseguir, servindo rigorosamente os fins para os quais o Estado foi criado. Motivação: Todas as ações administrativas devem ser justificadas. É por meio da motivação que as ações podem ser controladas Razoabilidade/proporcionalidade: Princípios intimamente ligados e não expressos no texto constitucional, mas que vêm sendo aplicados desde longa data pela doutrina e pela 12 MAURER, 2001, p.45. 15 jurisprudência. Segundo Botelho, as decisões devem ser tomadas de forma equilibrada, ou seja, os membros do Controle interno devem manter imparcialidade nas suas decisões 13 . Probidade administrativa: Significa agir com legalidade ética. Continuidade: O Administrador deve zelar pela continuidade das atividades administrativas. Princípio que “se impõe e se garante pela própria continuação da existência do Estado, pouco importando a substituição periódica dos governos” 14. Supremacia do interesse público: Compreende não só a supremacia do interesse público sobre o privado, mas também a supremacia dos interesses da coletividade (interesse público primário) sobre os interesses secundários do Estado (considerados indispensáveis para a realização das atividades do Estado), que com aqueles não coincidam. Publicidade: Por constituírem-se em requisito (formal) de sua eficácia, todos os atos da Administração Pública devem ser divulgados oficialmente. Princípio que não deve ser confundido com o da Transparência, embora com ele guarde relação. 7.2 Conceito de Controle A literatura revela diversas concepções sobre a palavra controle. O dicionário Michaelis a denota da seguinte maneira: ”Ato de dirigir qualquer serviço, fiscalizando-o e orientando-o do modo mais conveniente”. O aparecimento do termo na Língua Portuguesa deu-se em 1922, significando ato ou efeito de controlar, monitorização, fiscalização ou exame minucioso obediente a determinadas expectativas, normas, convenções etc. No âmbito do Direito brasileiro, o termo vem sendo empregado desde 1941, tendo surgido pela primeira vez na clássica obra “Controle dos Atos Administrativos pelo Poder Judiciário”, da lavra de Seabra Fagundes. Ultrapassando as fronteiras da Língua Portuguesa e adentrando-se no campo do Direito, o controle aparece em duas versões: a do direito francês, segundo a qual o controle implica o reexame de um ato, ou situação jurídica, e outra, a do direito inglês, no sentido de poder diretivo, vigilância, predomínio sobre uma atividade programada. Na definição de Hely Lopes Meirelles, a expressão controle “em tema de administração pública, é a faculdade de 13 BOTELHO, Milton Mendes. Manual Prático de Controle Interno na Administração Pública Municipal. 2009, p.35. 14 PONDÈ, Lafayette. Controle dos atos da Administração Pública. Revista de Informação Legislativa. Brasília, n.35. 16 vigilância, orientação e correção que um poder, órgão ou autoridade exerce sobre a conduta funcional do outro” 15. Diante da cobrança da sociedade sobre a gestão dos bens públicos, este controle é necessário sobre os atos praticados haja vista a necessidade de controlar, verificar e averiguar as contas públicas que originalmente estavam ligadas as finanças. A ideia de controle esta estritamente vinculada a de poder. Pode se dizer que o controle é função inerente ao poder 16 . Em última análise, a necessidade de controlar o poder decorre do seu mau uso 17 . Segundo Botelho, “o controle é meio de comunicação, prevenção e regulamentaçãoplanejada para alcançar os resultados” 18. Para tal, “[...] mede o grau de desempenho atingido, o quanto se chegou próximo do resultado almejado, determina o que os gestores devem fazer caso sejam detectadas divergências”. 19 A relação com a fiscalização e domínio torna as pessoas avessas ao controle pela ideia de tratar de burocratização, dominação e fiscalização como meio de apontar seus erros e gerar alguma punição, percepção a qual dificulta a modernização dos sistemas de controle. Atualmente, denota a inspeção, exame, acompanhamento, verificação, exercida sobre determinado alvo, de acordo com certos aspectos, visando averiguar o cumprimento foi predeterminado ou evidenciar eventuais desvios com fincas de correção, decidindo acerca da regularidade ou irregularidade do ato praticado. Roncalio 20 , ainda infere que controlar requer verificação continuada dos procedimentos adotados, a fim de ajustar desvios em confronto com os padrões, metas, programas estabelecidos anteriormente, ou seja, efetuar uma análise comparativa constante entre o que foi planejado com o executado. 15 MEIRELLES, 1988, p.562. 16 FERNANDES, Jorge Ulisses Jacoby. Tribunais de contas do Brasil: jurisdição e competência. 2.ed. Belo Horizonte: Fórum, 2005. p.29. 17 CASTRO, Rodrigo Pironti Aguierre de. Controle interno da administração pública: uma perspectiva do modelo de gestão administrativa. 2007. Dissertação (Mestrado em Direito Econômico e Social). Programa de Pós Graduação em Fundamentos Jurídicos da Atividade Econômica, Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Curitiba.p.84 18 Botelho, Milton Mendes. Manual Prático de Controle Interno na Administração Pública Municipal,2009,p.35 19 RONCALIO, Patrícia Michele. Controle interno na administração pública municipal: um estudo sobre a organização e a atuação de órgãos centrais de controle interno de municípios catarinenses com mais de 50.000 habitantes, frente às funções estabelecidas na Constituição Federal. 2009. Dissertação (Mestrado em Contabilidade). Programa de Pós Graduação em Contabilidade, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis. p.29 20 Ibd., passim. 17 7.2.1 Natureza do Controlador Os doutrinadores da ciência jurídica revelam a existência de várias formas de controle da atividade administrativa do Estado conjugadas na forma de diversas espécies sendo que a divergências entre os autores consiste na denominação das mesmas. Segundo José dos Santos Carvalho Filho 21, “Não se trata de uma faculdade, mas também de um dever, pois não se pode admitir que , diante de situações irregulares, a Administração Pública, permaneça inerte e desinteressada”. Sob a ótica do órgão que exerce o poder o controle pode ser: Administrativo Consiste no poder-dever exercido pela própria Administração Pública sobre seus atos e decorre dos princípios da hierarquia e da autotutela. Ele emana da própria administração sobre suas atividades, por sua iniciativa ou por provocação externa. Esse controle permite que a Administração reveja seus atos quando ilegais, inoportunos e inconvenientes; essa espécie de controle pode ser exercida ex-offício, ou seja, quando a própria autoridade competente constata a ilegalidade, em ato praticado por ela mesma ou por agente subalterno e age no sentido de correção. 22 Legislativo Controle Legislativo ou Parlamentar é aquele exercido pelos representantes do povo, cuja legitimidade resta tanto para os eleitos, quanto para as casas que compõem. Este controle se subdivide em duas subespécies. A primeira subespécie é aquela exercida pelos membros do Poder Legislativo, mediante seus órgãos representativos (Congresso Nacional: Senado e Câmara de Deputados, no governo Federal); Assembléias Legislativas, nos Estados; e Câmaras de Vereadores, nos Municípios. 23 Judicial Controle Judicial é aquele exercido exclusivamente pelo Poder Judiciário, a quem cabe a análise, principalmente, da legalidade dos atos administrativos praticados no âmbito do Poder Executivo e na administração dos demais órgãos e entidades do Poder Público. Poderá agir no exame dos atos praticados no âmbito da Administração Pública, sejam eles vinculados ou discricionários, no tocante ao aspecto da legalidade e da moralidade. 24 Quanto à localização do controle há de se verificar a existência de dois tipos: Controle interno: Deriva do poder-dever de autotutela que a Administração tem sobre seus próprios atos e agentes, é realizado por órgão no âmbito da própria Administração Pública que deve atuar de forma à propiciar uma certa garantia de que os objetivos e metas serão atingidos de maneira eficiente, eficaz e com a necessária economicidade exigidos para a boa administração do bem público. 21 Filho, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo.RJ,17 ed.,p27. 22 GUERRA, Evandro Martins. Os controles externo e interno da administração pública. 2 ed. Belo Horizonte: Fórum, 2005.p.89 23 Ibd., p.89. 24 Ibd., p.90. 18 Controle Externo: Aquele executado pelos órgãos auxiliares, estranhos à Administração Pública que terão seus atos inspecionados, podendo ser feito pela sociedade em geral, pelo Poder Legislativo, pelo Ministério Público e pelos Tribunais de Contas. No que tange ao momento em que se realiza o controle ele pode ser: A priori: Efetuado antes do surgimento do ato e tem como principais aspectos as funções autorizativas e orientadoras Concomitante: Quando o controle se faz em todas as etapas do nascimento do ato administrativo, sua principal característica é o caráter orientador. Posteriori: Quando o controle se faz após emanação do ato, ainda pode ter o condão corretivo ou punitivo dependendo do ato. O Controle ainda, se observado a extensão da sua análise pode ser do tipo legalidade ou méritos os quais serão detalhados adiante. 7.3 O Controle na gestão pública brasileira Administrar o Estado é função do Poder Executivo conforme previsto no artigo 1º da Constituição Federal de 1988. Apesar de que “todo poder emana do povo” esse não administra diretamente o Estado e por esta razão são escolhidos seus representantes os quais deverão aplicar as devidas normas fim de alcançar o pretendido e inafastável interesse público e da coletividade. No manejo dos instrumentos à busca do interesse público, no gozo e uso dos poderes que são atribuídos aos agentes públicos para alcançar esses fins, podem os mesmos ultrapassar os limites legais e se acometer em abusos e ilegalidades. Por tal razão, tornam-se necessários fiscalização e controle dos atos da Administração Pública. É fato que, na Administração Pública, a ocorrência de fraudes, atos de improbidade, de malversação e de ineficiência dos seus serviços implica em fragilidade e ineficácia dos controles adotados. Quando tais situações ocorrem, as consequências dizem respeito a toda a sociedade, em especial, os mais desamparados que dependem quase que exclusivamente dos serviços ofertados pelo Estado, dessa forma, revelam a pior face da gestão pública. Ademais, administrar o que é público em um quadro de limitação de recursos e demandas sempre crescentes, impõe aos que integram a Administração Pública uma 19 preocupação cada vez maior com a melhoria dos instrumentos de controle e eficiência no uso de recursos sob sua responsabilidade, seja no âmbito institucional ou pessoal. 25 No âmbito da Administração Pública, o controle é fundamental para a verificação correta da aplicação dos recursos provenientes de impostose taxas. Todo o ente estatal submete-se a obrigatoriedade de prestar contas dos recursos de que se utilize, observando os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. No estado moderno o Controle assume importante papel na gestão da coisa pública. Para todas as atividades da administração se prevê um controle, seja ele pontual (quando se estabelecem controles para certa atividade), seja em abstrato (quando a atividade não fora prevista e se controla de maneira genérica) 26 . A finalidade do controle da Administração Pública, em sentido amplo, é de verificar se o gestor aplica os recursos que lhes são repassados de maneira responsável, eficiente e moral 27 . A Administração Pública, no exercício de suas funções, se sujeita ao controle por parte dos Poderes Legislativo e Judiciário, além de exercer, ela mesma, o controle sobre os seus próprios atos. Esse controle constitui-se em poder-dever dos órgãos a que a lei atribui essa função, já que, devido à sua finalidade corretiva, o controle não pode ser renunciado nem procrastinado, sob pena de responsabilidade de quem se omitiu 28 . Para tanto, o controle na administração pública representa um instrumento da democracia tanto que do texto da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, artigo 15, extrai-se que “A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público sobre sua Administração”. 29 O Controle Administrativo emana da própria administração sobre suas atividades, por sua iniciativa ou por provocação externa. Esse controle permite que a Administração reveja seus atos quando ilegais, inoportunos e inconvenientes; essa espécie de controle pode ser exercida ex-offício, ou seja, quando a própria autoridade competente constata a 25 DOMINGOS, Everardo Cavalcante. Controle interno na Gestão Pública: O caso da assistência à saúde suplementar do servidor da UFC. 2007. Dissertação (Mestrado em Gestão Estratégica para as Instituições de Ensino Superior). Pós Graduação em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior, Universidade Federal do Ceará. Fortaleza. p.14. 26 Ibd., p.85. 27 Ibd., p.87. 28 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 20 ed.. São Paulo: Atlas, 2007. 29 SERRA, Rita de Cássio Chió Serra. Dos laços de conexão do controle social com o sistema de controle da Administração Pública: avanços e desafios após a Constituição Federal de 1988. 2011. Dissertação (Mestrado em Administração Pública). Pós Graduação em Administração Pública, Fundação João Pinheiro. Belo Horizonte.p.25. 20 ilegalidade, em ato praticado por ela mesma ou por agente subalterno e age no sentido de correção. 30 Em síntese, controle da Administração Pública é a possibilidade de verificação, inspeção, exame, pela própria Administração, por outros Poderes ou por qualquer cidadão, da efetiva correção na conduta gerencial de um Poder, órgão ou autoridade, no escopo de garantir atuação conforme aos modelos desejados e anteriormente planejados, gerando uma aferição sistemática. Trata-se, na verdade, de poder-dever, já que, uma vez determinado em lei, não poderá ser renunciado ou postergado, sob pena de responsabilização por omissão do agente infrator 31 . Evandro Martins Guerra 32 aborda de maneira concisa os diversos entendimentos acerca do que se trata o “Controle”, destacando que: Em síntese, controle da Administração Pública é a possibilidade de verificação, inspeção, exame, pela própria Administração, por outros Poderes ou por qualquer cidadão, da efetiva correção na conduta gerencial de um Poder, órgão ou autoridade, no escopo de garantir atuação conforme aos modelos desejados anteriormente planejados, gerando uma aferição sistemática. Trata-se, na verdade de poder- dever, já que, uma vez determinado em lei, não poderá ser renunciado ou postergado, sob pena de responsabilização por omissão do agente infrator. Sob a ótica da função administrativa, o controle precisa de um sistema de informação e avaliação, para assegurar o cumprimento do planejado, sob pena de a condução dos negócios públicos se transformarem em uma mera improvisação. O instrumento de controle capaz de potencializar as informações necessárias a fim de analisar as naturezas econômica, financeira, física e de produtividade concernentes ao gerenciamento dos recursos públicos é a Contabilidade Governamental. 33 30 SILVA, Pedro Gomes da. Controle interno na gestão pública municipal: Modelo de um sistema de controle interno para municípios de pequeno porte do Estado da Bahia. 2009. Dissertação (Mestrado em Contabilidade). Programa de Pós Graduação em Ciências Contábeis da Faculdade de Ciências Contábeis, Universidade Federal da Bahia. Salvador. p.32 31 Ibd., p.29. 32 GUERRA, Evandro Martins. Os controles externos e internos da administração pública. 2.ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: Fórum, 2005. p.90. 21 7.4 Aspetos inerentes ao controle interno e municipalidade A função de fiscalização e de controle, tal como a conhecemos hoje, surgiu com o constitucionalismo e o Estado de Direito implantado com a Revolução francesa. 34 Atualmente, o controle interno integra a administração a fim de subsidiá-la quanto ao cumprimento dos seus objetivos. Teixeira Machado Jr. e Heraldo da Costa Reis afirmam que “O controle interno, como o externo, não é estritamente pessoal, mas de natureza funcional. É de importância vital para a Administração e necessária se faz a sua definitiva institucionalização, a fim de permitir conhecer os resultados que estão sendo obtidos através dos gastos públicos” 35. O controle interno remonta ao realizado pela própria Administração sendo inerente a cada um dos Órgãos e entidade dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário no exercício de suas atividades administrativas. È o controle decorrente de órgão integrante da própria estrutura na qual se insere o órgão fiscalizado. Também chamado de autocontrole ou controle administrativo, finca-se no principio da autotutela, referindo-se à verificação das metas anteriormente fixadas na lei orçamentária, os resultados alcançados, isto é, a eficiência e eficácia da gestão contábil, orçamentária, financeira e patrimonial 36 . O controle interno é aquele que o Poder Público exerce sobre seus próprios atos, objetivando assegurar a execução desses atos dentro dos princípios básicos da administração pública definidos pelo art.37 da Constituição Federal, ou seja, legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. O Supremo Tribunal Federal, nas Súmulas nº 346 e 473, respectivamente, reconhece amplamente este poder de autotutela, litteris: “A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos”. “A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de 33 FILHO, Antônio José. A importância do controle interno na administração pública. Diversa, Ano I - nº 1, pp. 85-99, jan./jun. 2008. 34 SERRA, Rita de Cássio Chió Serra. Dos laços de conexão do controle social com o sistema de controle da Administração Pública: avanços e desafios após a Constituição Federal de 1988. 2011. Dissertação (Mestrado em Administração Pública). Pós Graduação em Administração Pública, Fundação João Pinheiro. Belo Horizonte. p.27.35 Machado Júnior, J. Teixeira; Reis, Heraldo da Costa. A Lei 4.320 Comentada. RJ. 31..ed.,p170. 36 SILVA, Pedro Gomes da. Controle interno na gestão pública municipal: Modelo de um sistema de controle interno para municípios de pequeno porte do Estado da Bahia. 2009. Dissertação (Mestrado em Contabilidade). Programa de Pós Graduação em Ciências Contábeis da Faculdade de Ciências Contábeis, Universidade Federal da Bahia. Salvador.p.31. 22 conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.” Desde a década de 1960 a administração pública brasileira tem a obrigação legal de manter um sistema de controle interno que possibilite o acompanhamento e a fiscalização dos recursos públicos, sendo ainda mais enfatizada com a promulgação da Constituição Federal de 1988 que, além de exigir sua implantação nos três Poderes, reiterou a necessidade de manutenção do sistema de controle interno aos municípios e especificou a atuação na fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial 37 . Nesse sentido o artigo 74 da Constituição Federal, em vigor, assim menciona os objetivos do controle interno: Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de: I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União; II – comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; III – exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União; IV – apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional. Ainda neste sentido, Piscitelli menciona aquilo que julga como aspectos relevantes do Controle Interno 38 . Os aspectos eminentemente contábeis, formais e legais, revisando e/ou verificando as operações; O aspecto da eficiência, que concerne aos meios empregados, verificando os recursos utilizados para a consecução dos objetivos da organização; O aspecto da eficácia, verificando o produto, os programas e os fins perseguidos; O julgamento da própria administração, disponibilizando e tornando transparente uma prestação de contas de qualidade e os resultados. 37 SILVA, Pedro Gomes da. Controle interno na gestão pública municipal: Modelo de um sistema de controle interno para municípios de pequeno porte do Estado da Bahia. 2009. Dissertação (Mestrado em Contabilidade). Programa de Pós Graduação em Ciências Contábeis da Faculdade de Ciências Contábeis, Universidade Federal da Bahia. Salvador.p.36. 38 PISCITELLI, Roberto. O controle interno na administração pública federal brasileira. Brasilia. ESAF, 1998. 23 Atualmente, o Controle Interno figura como uma espécie de controle operacional o qual incide sobre a execução das atividades administrativas, apreciadas pelo ângulo operacional, compreendendo a economia, a eficiência e a legitimidade. A Constituição da República, quando trata da organização do Estado, no capítulo que sobre as atribuições dos Municípios, artigo 31, estabelece que a fiscalização dos Municípios seja exercida por seu poder legislativo (que o fará mediante controle externo) e pelo próprio Poder Executivo Municipal por meio de seus sistemas de controle interno (autocontrole) 39 . O controle sobre seus próprios atos pode ser exercido ex officio, isto é quando a própria autoridade competente constata algum vício e age no sentido de correção; ou pode ser provocada pelos administrados, visando o reexame do ato praticado, por meio de recurso administrativo. Utiliza como base de trabalho o conceito de que a administração pública deve ser austera e cautelosa no uso do dinheiro público, visando o baixo custo e qualidade dos serviços e aquisições, gerando o máximo de benefícios no emprego dos recursos públicos, evitando os desperdícios e garantindo rentabilidade social. O controle interno segundo Domingos Poubel de Castro 40 tem como objetivo auxiliar o administrador público e funcionar como instrumento de defesa e proteção do cidadão. Com isso, passa-se a ter uma nova visão do controle e ele deixa de ser um visto como instrumento de repreensão para funcionar em parceria com os servidores responsáveis pela execução e com o administrador para garantir a segurança dos mesmos e do bem público. 7.5 Classificações do Controle Interno O controle interno por ser um campo complexo na Administração pública, merece algumas subdivisões. Para atingir um resultado de melhor qualidade o controle interno, primeiramente, será dividido em controle administrativo e contábil. O controle contábil é mais restrito às análises de relatórios e sistemas contábeis. Segundo Domingos Poubel de Castro, “compreendem o plano de organização e todos procedimentos diretamente relacionados com a consistência e a fidedignidade dos registros 39 CASTRO, Rodrigo Pironti Aguierre de. Controle interno da administração pública: uma perspectiva do modelo de gestão administrativa. 2007. Dissertação (Mestrado em Direito Econômico e Social). Programa de Pós Graduação em Fundamentos Jurídicos da Atividade Econômica, Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Curitiba. p.98. 40 Castro, Domingos Poubel de, Auditoria e Controle Interno na Administração Pública,2008,p.62. 24 contábeis”. 41 Para Botelho, nada mais é que “examinar as operações contábeis que produzam efeitos sobre o fluxo de caixa e sobre o patrimônio da municipalidade.’42 O Controle Administrativo envolve questões delicadas desde o plano de organização, aos métodos e procedimentos a serem adotados para se obter uma maior eficiência operacional obedecendo às diretrizes administrativas e ainda abrange aos aspectos de legalidade cujo objetivo é verificar a conformidade do ato ou procedimento administrativo com as normas legais que o regem, e aos aspectos de mérito, este envolvendo a apreciação das decisões administrativas, avaliando a eficiência do resultado, da conveniência ou oportunidade do ato controlado. Incluem-se controle de contratos, convênios, ações desenvolvidas, as retenções e recolhimentos de tributos, dentre outros praticados pela Administração Pública. Devida as atribuições destinadas aos órgãos de controle interno, é necessário o acompanhamento dos atos no tempo em que são executados, portanto o controle interno se subdivide em três momentos (a priori, concomitante ou posteriori) os quais foram citados anteriormente, mas merecem destaque. No controle a priori, as ações de controle e avaliação acontecem antes da ocorrência do evento ou fato que se pretende controlar, com o intuito de prevenir ou impedir o sucesso de atos indesejáveis como erros, desperdícios ou irregularidade, logo, o ato tem sua eficácia suspensa até ser submetido à análise e aprovação formal do órgão de controle. No controle concomitante, a verificação do ato é conjunto à ação do administrador e visa detectar erros, desperdícios ou irregularidades, no momento em que eles ocorrem, permitindo a adoção de medidas tempestivas de correção. Ajusta o desempenho ainda em andamento, a fim de se conseguir o objetivo. Uma das vantagens na sua utilização é o ato tido como irregular poder ser abortado durante a sua consecução, impedindo maiores prejuízos aoerário. O controle a posteriori aprecia o ato após a sua consumação, não permite qualquer ação corretiva relativamente ao desempenho completado, embora funcione como um mecanismo motivador, uma vez que uma variação desfavorável, informada por meio de relatórios gerenciais, leva o gestor a implementar ações para corrigir o desempenho de sua área ou da organização, no futuro. 41 Castro, Domingos Poubel de, Auditoria e Controle Interno na Administração Pública,2008,p.61. 42 Botelho,Milton Mendes. Manual Prático de Controle Interno na Administração Pública Municipal,2009,p.31. 25 7.5 Fundamentação legal No que tange ao controle interno na Administração Pública Federal, é a Lei 4.320, de 17 de março de 1964, o marco inicial da efetivação do controle interno, com a introdução da expressão controle interno, definindo as competências do exercício de tais atividades. Ela passa a determinar ,em seus artigos 75 e 76, o exercício do controle da execução orçamentária e a exigência de se ter um controle dentro do poder executivo. A efetivação, por completo, da questão do controle interno ocorreu com a promulgação da Constituição de 1988 cujas finalidades foram surpracitadas. A Constituição de 1988 amplia substancialmente a possibilidade de controle sobre a gestão da coisa pública, nomeadamente no que se refere à mudança da natureza do Ministério Público que, de advocacia da União, transforma-se em defensora da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis 43 . A base normativa para a implantação do controle interno na Administração Pública brasileira é a Constituição de 1988, que define as diretrizes para os sistemas de controle interno na União e nos municípios, adotados por simetria nos estados e no Distrito Federal. Assim, se alguém não familiarizado perguntar “o que faz o controle interno?” de início, há que se consultar os Artigos 31, 70 e 74 da CF/88, para se saber a quem compete exercer o poder de fiscalização e das finalidades dos sistemas de controle. 44 “Art. 75. O controle da execução orçamentária compreenderá: I - a legalidade dos atos de que resultem a arrecadação da receita ou a realização da despesa, o nascimento ou a extinção de direitos e obrigações; II - a fidelidade funcional dos agentes da administração, responsáveis por bens e valores públicos; III - o cumprimento do programa de trabalho expresso em têrmos monetários e em têrmos de realização de obras e prestação de serviços. Do Controle Interno Art. 76. O Poder Executivo exercerá os três tipos de controle a que se refere o artigo 75, sem prejuízo das atribuições do Tribunal de Contas ou órgão equivalente. A Carta Magna de 1967, constitucionalizou o tema em seu artigo 72, onde estabeleceu atribuições específicas ao controle interno, como: 43 BRAGA, Pedro. Ética, direito e administração pública . Brasília: Senado Federal Subsecretaria de Edições Técnicas, 2006. p. 70. 44 DOMINGOS, EVERARDO CAVALCANTE. Controle interno na Gestão Pública: O caso da assistência à saúde suplementar do servidor da UFC. 2007. Dissertação (Mestrado em Gestão Estratégica para as Instituições de Ensino Superior). Pós Graduação em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior, Universidade Federal do Ceará. Fortaleza. p.28. 26 I - criar condições indispensáveis para eficácia do controle externo e para assegurar regularidade à realização da receita e da despesa; II - acompanhar a execução de programas de trabalho e do orçamento; III - avaliar os resultados alcançados pelos administradores e verificar a execução dos contratos. Com a Constituição de 1988, também trouxe em seu corpo a previsão do controle interno em diversos artigos, consolidando sua importância. Em seu artigo 74, determina a finalidade para qual será criado o sistema de controle interno. De acordo com o “Art. 74 da CF os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de Avaliar o cumprimento de metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União; Comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; Exercer o controle das operações de créditos, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União; Apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional.” No entanto, apesar de todo esse aparato legal, apenas a partir da Lei Complementar 101, de 04/05/2000, a chamada Lei de Responsabilidade Fiscal, foi que os municípios se viram obrigados a instituir o sistema de controle interno, uma vez que o art.54,§ único , da referida lei, prevê que os relatórios de gestão fiscal devem ser assinados pelo chefe de cada poder e pela autoridade responsável pelo controle interno. 7.6 Controle dos Atos Administrativos Não há possibilidade de se analisar o controle de atos administrativo desvinculado do conceito de ato administrativo, diga-se de passagem que o ato administrativo faz parte do gênero de atos da Administração Pública, sendo uma espécie de ato praticado pela Administração Pública Direta ou Indireta. Ato Administrativo é todo o ato jurídico que decorre do exercício da função administrativa sob um regime jurídico de direito público e deve produzir efeitos jurídicos. Todo ato administrativo é também um ato de execução e decorre do exercício da função administrativa. 27 Para que o ato administrativo seja reconhecido como tal, são necessários alguns requisitos essenciais: Competência: o ato deve ser realizado por uma pessoa competente, ou seja, que ocupe um cargo ou emprego público, cuja competência permita a produção de determinado ato. Forma: é a materialização do ato administrativo, a maneira como ele se exterioriza. Todo ato administrativo tem forma e, normalmente, se caracteriza pela forma escrita, já que deste modo, seria mais fácil o seu controle. Finalidade: A finalidade aproxima-se muito do princípio da Impessoalidade, no sentido de que a prática do ato administrativo requer uma atitude objetiva, visando atingir o interesse público. Para o professor Celso Antonio Bandeira de Mello, a finalidade seria um princípio decorrente do princípio da Legalidade. O autor entende que, além de um elemento do ato administrativo, haveria uma finalidade pública específica para cada ato administrativo. Objeto: é o efeito jurídico imediato, é aquilo que o ato administrativo declarar, o que ele determinar (o verbo, o comando, a ordem) .Para o professor Celso Antonio Bandeira de Mello, o objeto é a causa do ato administrativo. Motivo: são os pressupostos ou razões de fato e de direito que levaram à prática do ato. “Para o professor Marçal Justen Filho,” motivo é o mesmo que causa do ato e em sua obra Curso de Direito Administrativo, o autor ensina que: "o motivo é a causa jurídica eleita pelo agente para produzir o ato". 7.7 Mérito versus legalidade Para conceituar mérito administrativo, iremos nos valer dos ensinamentos do professor Meirelles em sua obra Direito Administrativo Brasileiro, em que profere: O conceito de mérito administrativo é de difícil fixação, mas poderá ser assinalada sua presença toda a vez que a Administração decidir ou atuar valorando internamente as conseqüênciasou vantagens do ato. O mérito administrativo consubstancia-se, portanto, na valoração dos motivos e na escolha do objeto do ato, feitas pela Administração incumbida de sua prática, quando autorizada a decidir sobre a conveniência, oportunidade e justiça do ato a realizar. O professor revela ainda que "nos atos vinculados não há faculdade de opção do administrador e que, portanto, não se pode falar em mérito. Já nos atos discricionários, nos quais observamos, além dos elementos vinculados (competência, finalidade e forma), encontramos ainda o motivo e o objeto e, relativamente a estes, a Administração tem liberdade ao decidir, sem possibilidade de correção judicial, salvo quando caracterizado o excesso ou desvio de poder". 28 O mérito do ato administrativo é um juízo de conveniência e oportunidade que o administrador público faz quando tem diante de si o instituto da discricionariedade, em outras palavras, só existiria mérito quando houvesse discricionariedade. Sendo assim, num primeiro momento, a própria Administração Pública pode, ex officio ou se provocada, controlar o mérito do ato administrativo. Com relação ao ato vinculado, sua análise se dá com base na lei, para que se possa fazer o controle de legalidade. No que concerne ao ato discricionário, pode-se também fazer um controle de legalidade relativamente a cada um de seus elementos. Se a Administração está sujeita à observância da lei e à consecução do interesse público, não há por que negar-lhe o controle sobre os próprios atos para assegurar a observância dos princípios a que ela se submete, em especial, da legalidade e da predominância do interesse público. Mesmo porque, não o fazendo, se sujeita ao controle pelos demais Poderes, aumentando o ônus do Estado na missão suprema de tutela do direito. 7.8 Controle interno na municipalidade A implantação de um sistema de Controle Interno na administração pública municipal visa ressaltar a importância desse instrumento na gestão pública. No âmbito dessa administração, tal sistema propõe uma enorme gama de orientações normativas e técnicas voltadas à verificação da legalidade do ato e da conformação da conduta do agente com os princípios ordenadores da sociedade. Muito embora ainda tenha uma evolução muito incipiente no estado brasileiro, é importante salientar que a exigência de sua implantação pelos entes integrantes da estrutura estatal (direta ou indireta) remonta – no mínimo – à Constituição da República de 1988. 45 Há tempo que os gestores públicos buscam maneiras de controlar melhor as entidades que dirigem. Cada vez mais o legislador brasileiro cria instrumentos legais na esfera pública para controlar e monitorar a aplicação dos recursos públicos. Contudo, tais regramentos legais têm-se demonstrado ineficazes no que diz respeito ao resultado que a sociedade brasileira espera, considerando os princípios constitucionais da eficiência e isonomia. 45 CASTRO, Rodrigo Pironti Aguierre de. Controle interno da administração pública: uma perspectiva do modelo de gestão administrativa. 2007. Dissertação (Mestrado em Direito Econômico e Social). Programa de Pós Graduação em Fundamentos Jurídicos da Atividade Econômica, Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Curitiba.p.137 29 Os controles internos se implantam com o fim de detectar, num prazo o dispositivo constitucional que dá sustentação a toda legislação produzida acerca do controle a qual está consubstanciada no art. 31 da CF: A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. Segundo leciona Meirelles A fiscalização financeira e orçamentária no âmbito municipal realiza-se mediante controle externo da Câmara de Vereadores, com o auxílio do Tribunal de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver, e controle interno do Executivo Municipal (LRF, art. 59), na forma da lei (CF, art. 31 e §§). A forma como o sistema de controle é organizado, estabelece a divisão das tarefas entre unidades e pessoas, e define as relações de autoridade e responsabilidade. Cada sistema deve ser planejado especificamente para sua entidade, de acordo com a missão da organização, devendo ser prático, econômico, eficiente e eficaz. Alguns elementos, elencados a seguir, são básicos e devem ser observados na organização de qualquer sistema de controle interno. 7.8.1 Apoio para implementação A colaboração do agente público, neste caso do Prefeito, maior da entidade, em estudar as formas de estruturar e organizar o sistema de controle interno e assim iniciar o processo legislativo do projeto de um sistema de controle interno é fundamental para que este se estabeleça. È importante também que esta vontade política se manifeste na atenção às irregularidades levantadas pela unidade de controle e as decisões que devem ser tomadas para saná-las, inclusive sob pena de responsabilidade. Fica claro que é responsabilidade do gestor dar condições para que o sistema de controle interno nasça e se desenvolva de forma técnica e independente de pressões hierárquicas ou políticas que possam afetar a autonomia de seus integrantes. 7.8.2 Estrutura organizacional O organograma deve definir as funções de cada cargo, facilitando a adaptação das pessoas envolvidas, bem como as condições de trabalho tanto materiais (softwares e equipamentos) quanto humanas. Para passar confiabilidade aos envolvidos, o respeito nos 30 relacionamentos precisa ser sentido pelas pessoas e observados pela Unidade de Controle Interno. 7.8.3 Estrutura Física A estrutura física para o funcionamento dos controles e do sistema de maneira em geral é fundamental. A ausência de equipamentos mínimos revela o descaso da Adminis- tração com os serviços, levando os servidores a pensar que, não havendo por parte dos gestores a preocupação pela realização do melhor serviço, esta também não deve ser preocupação deles. A Administração tem que demonstrar aos servidores que não economiza esforços para dar condições de trabalho, como móveis, redes de informática e tecnologias da informação, softwares. 7.8.4 A importância da profissionalização no setor público A profissionalização do servidor público se faz necessária principalmente a partir da edição da Emenda Constitucional nº 19-98, que acrescentou o § 2º ao art. 39 da Constituição Federal, nos seguintes termos: Art. 39. ... § 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisitos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos entre os entes federados. Um conjunto de regras, entre elas o princípio da transparência, vem requerendo da Administração Pública e, por consequência, do servidor público um preparo mais adequado para lidar com os instrumentos de gestão, especialmente em se tratando do aprimoramento do sistema de controle interno. É importante, para o sistema de controle interno, a continuidade das operações e o bom andamento dos processos. Ainda que os procedimentos estejam disciplinados por escrito, a garantia de continuidade esta fundamentada, principalmente na manutenção do pessoal envolvido, ou seja, o sistema de controle interno deve ser integrado por servidores de provimento efetivo, por ser a única forma impessoal de garantir a segurança (como princípio deorganização) dos controles ao próprio chefe do Poder, ao Legislativo e ao Tribunal de Contas. Nesse sentido: “O exercício das atribuições inerentes ao Sistema de Controle Interno dos Poderes do Estado deve ser, enquanto atividades exclusivas de Estado, da competência 31 dos servidores efetivos dos Quadros da Administração Pública, incluídas aquelas atividades que imprescindem do elemento confiança, as quais deverão ser realizadas por servidores efetivos mediante comissionamento ou gratificação. 46” 7.8.5 Coordenação A coordenação-geral do controle interno tem como função representar interna e externamente, mediante assinatura conjunta com os chefes dos Poderes, os relatórios legais de gestão. A normatização e a auditoria são funções básicas da Unidade de Controle. Quanto a normatização deve-se definir a organização dos processos, os fluxos, rotinas e orientações, treinamentos internos, assessoria e consultoria, apoio institucional ao controle externo e melhoria contínua como garantia de cumprimento dos padrões de controle previamente estabelecidos em lei e regulamentos. A auditoria, deve ser realizada por unidade administrativa diferente da unidade que organiza os controles, em função do princípio da princípio da segregação de funções: “Princípio básico do sistema de controle interno que consiste na separação de funções, nomeadamente de autorização, aprovação, execução, controle e contabilização das operações (Portaria n.º 63/96 - TCU - Glossário - Separações de Funções ) Sugere--se, neste sentido, uma bipartição da denominada até aqui de “Unidade de Controle Interno” em dois departamentos: a Controladoria e a Auditoria. A organização dos controles internos seria feita pela Controladoria e a Auditoria por departamento de Auditoria, em alinhamento ao princípio da segregação de funções. Todavia, a melhor sistemática de organização, se apenas uma Unidade Administrativa ou tendo as suas funções bipartidas em dois departamentos nitidamente separados, deve ser estudada em cada caso concreto, mas sempre com a observância do princípio da segregação de funções. 8. Controle interno na prefeitura de Belo Horizonte Conforme a constituição de 1988 previu, no art. 74, evidenciou-se a necessidade de criação do controle interno, em cada esfera de governo, entretanto, tornou-se claro também a possibilidade de cada esfera de governo decidir a estrutura de seu controle interno, porque não está previsto na Constituição um modelo. Em Belo Horizonte, a Controladoria Geral do Município-CTGM é órgão de primeiro escalão, assim como ocorre no modelo federal (CGU). Dentro da estrutura da CTGM, 46 Parecer nº 03-2003, da lavra da eminente Auditora Substituta de Conselheiro Exma. Sra. Heloisa Tripoli Goulart, acolhido pelo Tribunal Pleno do TCE-RS, em 02-04-2003 32 encontram-se a Auditoria Geral do Município (AGM), a Corregedoria Geral do Município (CGM) e a Ouvidoria Geral do Município (OGM). Cada uma das Secretarias Adjuntas que foram a CTGM possuem atribuições próprias, mas todas elas direta ou indiretamente relacionadas à temática do Controle. A criação desta atividade foi remonta ao ano de 2006, por meio da Lei Municipal nº 9155 de 12 de Janeiro, em que montou-se uma estrutura organizacional da Administração Direta do Poder Executivo a Controladoria Geral do Município dotada de autonomia funcional e com a finalidade de executar o controle interno, no âmbito da Administração Direta e Indireta do Poder Executivo Municipal. À época, a Controladoria, era composta pela Auditoria-Geral, pela Contadoria-Geral, pela Corregedoria e pela Ouvidoria. Atualmente a Contadoria-Geral não está subordinada a Controladoria. 47 No que tange a execução das atividades de fiscalização, a Controladoria Geral do Município poderá celebrar Termos de Compromisso de Gestão (TCG) ferramenta de ajuste de comportamento criada a partir do entendimento difundido no meio acadêmico de que o controle contratualizado poderá render benefícios superiores ao modelo meramente punitivo o qual se assemelha ao Termo de Ajustamento de Conduta empregado pelo Ministério Público. A Auditoria-Geral tem como finalidade supervisionar e executar a auditoria preventiva e de controle dos órgãos da Administração Direta e Indireta do Município. A auditagem engloba a área administrativa, contábil, financeira, orçamentária e patrimonial de todos os órgãos e entidades da Administração Direta e Indireta do Município. Para execução destes serviços, esta secretaria conta com servidores da carreira de auditoria, os Auditores Municipais e outros servidores de outras carreiras, que nem sempre possuem o treinamento necessário para execução de trabalhos de tamanha relevância. Nesse sentido e ainda considerando a relevância das atividades que são realizadas pelos profissionais que trabalham nesta área, impõe-se alguns critérios para aqueles que venham a atuar em cargos comissionados na Controladoria demonstrem, para fins da posse, não terem sido, nos últimos cinco anos: I - responsabilizados por atos julgados irregulares, de forma definitiva, pelo Tribunal de Contas do Estado ou da União; II - punidos por decisão, da qual não caiba recurso, em processo administrativo disciplinar por ato lesivo à administração pública; 47 (art.3º da Lei nº 9.489/08) 33 III - condenados em processo criminal por prática de crime contra a administração pública previsto no Código Penal Brasileiro, na Lei nº 7.492, de 16 de junho de 1986, e na Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992. 34 9. CONCLUSÃO Por meio do levantamento apresentado neste trabalho verifica-se que o sistema de controle é fundamental para qualquer organização e deve ser entendido de forma ampla, isto é, não está limitado apenas aos aspectos financeiros e administrativos, pois compreende todo o conjunto de métodos e ações implementados dentro de determinado órgão administrativo, criando uma cultura de transparência, efetuando comparação entre os resultados previstos e os realizados em sintonia com o interesse público. É fundamental que as Prefeituras. se estruturem melhor , melhorando os seus sistemas de gestão e de controle, para elevar a qualidade dos serviços que prestam à comunidade e para atraírem investimentos econômicos e sociais que mudem a realidade social. 35 10. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOBBIO, Norberto; MATEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 12. ed. Brasília: Universidade de Brasília, 1999. V. 1. BOTELHO, Milton Mendes. 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