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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL MARKETING DE EXPERIÊNCIA: ESTUDO DE CASO DA FARM Lara Nardy Moura Fé NATAL – RN NOVEMBRO, 2013 LARA NARDY MOURA FÉ MARKETING DE EXPERIÊNCIA: ESTUDO DE CASO DA FARM Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, na habilitação em Publicidade e Propaganda. Orientadores: Profª. Patrícia Reis Ferreira da Silva Prof. Aryovaldo de Castro Azevedo Junior NATAL – RN NOVEMBRO, 2013 LARA NARDY MOURA FÉ Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi julgado ________________ para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, na habilitação em Publicidade e Propaganda, e aprovado em ________________________ junto à Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Apresentada à Banca Examinadora, integrada pelos Professores: .................................................................... Profª. Patrícia Reis Ferreira da Silva Orientadora .................................................................... Banca Examinadora .................................................................... Banca Examinadora Dedico este trabalho à minha família, amigos, namorado e aos meus queridos professores da Universidade, que contribuíram cada um de sua maneira para o meu crescimento tanto como pessoa, quanto como futura profissional de comunicação. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus e à minha família, que me deu todo o apoio e suporte, e não menos importante, proveu toda a minha educação, moldando para que eu me tornasse alguém capaz de enfrentar esse mundo louco. Devo ao Sr. Nelson, Sra. Myrian e Maíra tudo o que sou hoje. Todo o apoio foi essencial para que eu estivesse sempre bem tanto fisicamente como psicologicamente. Agradeço especialmente a papai, que nesses últimos meses contribuiu imensamente com suas intensivas revisões e correções, tomando o cuidado para que meu trabalho não tivesse nenhuma vírgula nem a menos nem a mais. Muito obrigada! À minha orientadora/colega Patrícia Reis, que em meio a confissões e desabafos, ajudou de forma espetacular para o desenvolvimento do trabalho, sempre dando orientações nos momentos e horários mais inusitados. Ao meu orientador à distância, professor Ary Azevedo, que de Curitiba conseguiu imprimir o seu toque especial, ajudando com referências e sugestões enriquecedoras para o estudo. Aos meus amigos queridos, especialmente minha companheira de turma Selma Barros, que compartilhou diversas vezes das mesmas aflições que eu, e dividiu comigo referências e experiências. À minha amiga Priscilla Almeida, que na época em que estagiávamos juntas, me mostrou de forma tão clara a importância de se apaixonar pelo que se faz. Ao meu namorado maravilhoso, que, mesmo de longe, conseguiu me manter firme e forte, me inspirando a nunca desistir do que se quer alcançar. Às minhas ex-companheiras de trabalho do Senac, que me fizeram crescer de forma inimaginável tanto como pessoa quanto como futura profissional. À Lívia Brasil, companheira de mesa e de conversa, que me introduziu de forma singela ao mundo FARM. A Nelma Silva, que de uma forma bem peculiar, me ensinou como se apaixonar pela área da Comunicação. A todas, muito obrigada! E por último, não menos importante, aos meus atuais colegas de trabalho, que me fizeram crescer tanto como profissional. Mari, Déby, Jamaica, Kumakura, Jéssica, Wanessa, entre tantos outros, e em especial Micheline, que me fez ficar ainda mais encantada pelo universo FARM. “As pessoas esquecerão o que você disse, esquecerão o que você fez, mas nunca esquecerão o que você as fez sentir.” (Maya Angelou - Poetiza, escritora e historiadora.) RESUMO O foco central deste estudo é analisar o caso da FARM, uma das maiores marcas de vestimenta feminina no território brasileiro, quanto a critérios de desenvolvimento do marketing de experiência nas lojas da rede. O trabalho irá estudar a utilização dos estímulos sensoriais que a marca proporciona para as clientes dentro de suas lojas. Para verificar isso com embasamento teórico, procurou-se entender como que se deu a evolução no comportamento do consumidor até os tempos atuais, assim como a mudança nas estratégias de marketing praticadas pelas empresas. Após essa verificação, constatou-se que, em meio a um cenário extremamente novo e competitivo, as empresas teriam que buscar novas formas de se diferenciar, proporcionando uma experiência completa do consumidor com a marca, envolvendo inclusive suas emoções no processo de conquista e compra. Palavras-chave: Marca; Marketing sensorial; Marketing de experiência; Comportamento do consumidor; FARM. ABSTRACT The central focus of this study is to analyze the case FARM, one of the biggest brands in woman’s clothing at the Brazilian territory, in criteria of experience marketing development at its stores. The project will study the use of sensorial stimulations that the brand provides for the clients inside the stores. To verify that with theoretical foundation, it was needed to understand how was the evolution of consumer behavior till nowadays, such as the changes in marketing strategies practiced by companies. After the verification, it was noticed that, facing a new and extremely competitive scenario, companies would have to search for new ways to became outstanding, providing a complete experience of the consumer with the brand, involving his emotions in the process of conquest and purchase. Key Words: Brand; Sensory marketing; Experience marketing; Consumer behavior; FARM. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12 2. A ERA DO CLIENTE ....................................................................................... 14 2.1 SÉCULO XXI: UM NOVO CLIENTE SURGE. ........................................... 14 2.2 O MARKETING ESTREITANDO AS RELAÇÕES EMPRESA-CLIENTE. 15 2.3 O CLIENTE CONSUMINDO POR PRAZER. .............................................. 16 3. O PODER DA MARCA E O PAPEL DO MARKETING .................................. 18 3.1 A MARCA .................................................................................................... 18 3.2 BRANDING – A FORÇA ESTÁ NA MARCA ............................................. 21 3.2.1 Branding sensorial ......................................................................................... 23 4. O MARKETING DE EXPERIÊNCIA – TRABALHANDO AS SENSAÇÕES E SENTIMENTOS ......................................................................................................... 25 4.1 MARKETING OLFATIVO .......................................................................... 29 4.2 MARKETING SONORO .............................................................................. 32 4.3 MARKETING GUSTATVO .........................................................................35 4.4 O PODER DO TATO.................................................................................... 37 4.5 MARKETING VISUAL ............................................................................... 40 5. ESTUDO DE CASO: FARM ............................................................................. 43 5.2 A EXPERIÊNCIA FARM ............................................................................. 46 5.2.1 O visual que encanta ..................................................................................... 46 5.2.2 Cheirinho FARM .......................................................................................... 47 5.2.3 Músicas ajudando na escolha da cliente ......................................................... 48 5.2.4 Estimulando o paladar nas lojas ..................................................................... 50 5.2.5 Marca totalmente interativa ........................................................................... 52 5.2.6 Convenções FARM ....................................................................................... 53 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 57 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - A marca como uma rede neural associativa (BATEY, 2010, p. 30) ............ 19 Figura 2 - Nível de confiança de diversas instituições por parte da sociedade. ............ 20 Figura 3 - As maiores marcas do mundo. ................................................................... 20 Figura 4 - Hotéis Temáticos da Disney ....................................................................... 27 Figura 5 - Experiência com os personagens da Disney em todos os momentos da estadia. ........................................................................................................................ 28 Figura 6 - Pista de Cooper na loja Centauro. .............................................................. 29 Figura 7 - Imagens do comercial da Honda ................................................................ 34 Figura 8 - Abordagem através de degustação no ponto de venda. ............................... 36 Figura 9 - Videogames utilizando a tecnologia háptica. .............................................. 38 Figura 10 - Expositores de produtos nas lojas da HP e Contém 1g, proporcionando o toque dos clientes. ....................................................................................................... 39 Figura 11 - Azul turquesa como cor referência da marca Tiffany & Co. ..................... 42 Figura 12 - Linha Home da FARM. ............................................................................ 43 Figura 13 - Marca infantil feminina da FARM, a Fábula. ........................................... 43 Figura 14 - Linha de roupas FARM, sempre retratando o estilo praiano da mulher carioca. ....................................................................................................................... 44 Figura 15 - Marcas parceiras da FARM, e produtos feitos exclusivamente para a marca. ................................................................................................................................... 45 Figura 16 - Arquitetura característica das lojas da rede FARM. .................................. 46 Figura 17 - Interior das lojas FARM sempre fazendo uma clara referência à natureza e ao clima praiano. ......................................................................................................... 47 Figura 18 - Aromatizador Spray da FARM, linha Home. ............................................ 48 Figura 19 - Rádio Farm no site da marca. ................................................................... 49 Figura 20 - Dispositivo que sintoniza a playlist à escolha da cliente. .......................... 49 Figura 21 - Doces sendo distribuídos na FARM Ipanema no dia de São Cosme e Damião. ...................................................................................................................... 50 Figura 22 - Sorvetes Itália feitos exclusivamente para o lançamento da coleção de verão FARM. ....................................................................................................................... 51 Figura 23 - Lançamento da coleção em parceria com a Pantone. Experiência sensorial em vários aspectos. ..................................................................................................... 51 Figura 24 - Clientes podem conferir os looks da coleção através dos tablets que se encontram nas lojas. .................................................................................................... 52 Figura 25 - Linha Quero!: objetos que refletem o cotidiano da garota FARM. ............ 53 Figura 26 - As convenções da FARM refletem a experiência pura que cada coleção pretende transmitir. ..................................................................................................... 54 12 1. INTRODUÇÃO Com a mudança de comportamento do consumidor a partir, principalmente, da década de 80, percebe-se uma necessidade de modificar também o modo da empresa se comunicar com este público. Agora mais exigente, em decorrência da diversidade de fontes informacionais para analisar a infinidade de produtos, esse público busca por soluções específicas para suas necessidades e desejos. Os clientes agora, como nunca, têm uma voz que pode ser ouvida e exige participação ativa no processo de compra. Em meio a essas mudanças, o foco do trabalho do profissional de marketing também sofre transformações. Percebe-se uma necessidade de os departamentos de comunicação das empresas começarem a pesquisar e planejar formas mais eficazes de entrar em sintonia com as vontades e expectativas do cliente, pois são eles que agregam propriedade e significado à marca da empresa. Conhecer o cliente, saber o que ele pensa, sente, planejar e personalizar a comunicação são alguns dos fatores essenciais para uma eficaz relação entre empresa e consumidor. Nesse novo cenário competitivo entra o marketing de experiência, que vem como uma solução diferenciada de comunicação, frente aos veículos que já se encontram saturados. Fazer o cliente cheirar, ver, ouvir, degustar e tocar a marca, despertando assim os cinco sentidos, faz com que a relação seja muito mais íntima e fiel. Além disso, os tempos atuais possibilitam a utilização de tecnologias avançadas, fazendo com que as experiências sejam passadas nas mais diversas plataformas para o consumidor. O presente estudo vem com o propósito de evidenciar técnicas do marketing de experiência como meio de se conectar de uma forma mais direta e estratégica com o consumidor, trazendo pesquisas e cases já estudados. Técnicas essas que são, muitas vezes, negligenciadas pelos departamentos responsáveis nas grandes empresas. Além disso, procura também esclarecer o quanto é importante o relacionamento empresa- cliente na atualidade, assim como a promoção de experiências completas. Embasado em conceitos de marketing sensorial, branding e consumo hedônico, o estudo conta com referências como Kotler (1999, 2003), Levitt (1960), Ferracciú (2007), Dooley (2012), Cobra (2010), Batey (2010), Baudrillard (2008), Gobé (2010), 13 Lindstrom (2007), Schmitt (2000, 2004), entre outros importantíssimos autores, que contribuíram para o embasamento teórico e enriquecimento desse trabalho. Como meio de análise da eficácia da utilização do marketing de experiência nas empresas, o trabalho faz um estudo de caso da experiência utilizada numa redede roupas femininas, a FARM. No estudo são identificadas as principais técnicas de utilização do marketing de experiência pelas lojas da rede, que, apesar de recente, já está um passo à frente quando se trata de transmitir uma experiência única às clientes, comprovando assim a eficácia do marketing de experiência. 14 2. A ERA DO CLIENTE 2.1 SÉCULO XXI: UM NOVO CLIENTE SURGE. A sociedade capitalista passou por diversas transformações através do tempo. Surgiram novos valores, crenças, necessidades e desejos. E em meio a esse novo ambiente, cada vez mais acirrado e competitivo, com produtos, serviços e até empresas cada vez mais assemelhados, como optar por essa ou aquela marca? Tudo isso acontecendo diante de uma explosão de novas mídias e fontes informacionais, que leva às empresas o desafio de se ter na sua marca uma conexão mais eficaz e integrada com o público-alvo. A partir da década de 80 começou-se a perceber outra mudança radical no meio mercadológico: o cliente tornou-se o centro das atenções. Perante essa transformação, a relação entre as organizações e seus clientes também mudou. À medida que clientes já se acostumavam com essa avalanche de informações, exigiam participar ativamente do processo de compra. De acordo com Cobra e Brezzo (2010), o cliente espera que as empresas estejam preparadas para atuar em consequência a essa postura participativa dele, não se limitando a ser apenas um receptor de ofertas. Pelo contrário, busca alternativas e opções, e, se a empresa não está preparada para esse processo, fica fora da decisão. O grau de informação e de acesso aos produtos em qualquer parte do mundo é hoje muito alto e, em consequência, as empresas têm de enfrentar consumidores altamente informados e que veem o mundo inteiro como sua alternativa de fornecimento. (COBRA & BREZZO, 2010, p. 44) Como resultado dessa globalização, as empresas acabam por perceber que a sua concorrência também está no mundo todo, e não apenas nas regiões mapeadas por ela. 15 2.2 O MARKETING ESTREITANDO AS RELAÇÕES EMPRESA-CLIENTE. O papel dos departamentos de marketing nas empresas demonstrou também uma clara evolução ao longo do tempo. Em um primeiro momento da história, num período pós-revolução industrial, a demanda era maior do que a oferta de produtos, e, assim, as administrações das empresas eram focadas na melhoria da eficiência na produção e distribuição. Logo mais tarde o foco vai se transformando e passando a ser voltado para o produto. As organizações priorizam agora os produtos e suas características, e, é claro, a produção em larga escala, sem levar em consideração as necessidades e os desejos dos clientes. Trata-se de uma época que foi, de acordo com Levitt (1960), chamada de “miopia em marketing”. Já em meados dos anos 70, outra etapa apareceu. A produção estava a todo vapor, o produto havia sido melhorado, porém a dificuldade passou a ser o escoamento desse produto para o mercado. Sendo assim, a prioridade das administrações empresariais nesse período passou a ser a venda, praticando o que se conhece por “marketing de massa”. Diversas técnicas de vendas foram criadas, equipes treinadas, porém as empresas não percebiam que o problema consistia nelas sempre verem as vendas de dentro pra fora, como uma forma de escoamento das mercadorias em excesso, sem analisar antes o que o mercado realmente necessitava. Por volta da década de 80, começam a aparecer os primeiros indícios do marketing direcionado ao cliente. Nesse momento, o foco não estava mais dentro da empresa, mas sim, fora dela, nos consumidores, que passam a ser os protagonistas. Tratava-se de uma economia conduzida pela emoção, em que se pode perceber a transição do marketing de massa para o marketing de um para um. Começou-se a entender que, para conseguir atingir os objetivos de venda, era preciso primeiro conhecer de forma adequada as necessidades e desejos do público. “As marcas precisam reconhecer grupos étnicos, gênero, idade e a influência de outros fatores na percepção e no desejo do consumidor”, afirmou Gobé (2010). Aparece então o marketing segmentado, que trata de clientes com necessidades e desejos diferentes. Já nos anos 90, ainda com o foco no cliente, entra em evidência o marketing de relacionamento, aquele que tratava, dentro de um mesmo grupo, clientes com atitudes e comportamentos diferentes. 16 Eis a minha definição de marketing: Gestão de marketing é a arte e a ciência de escolher os mercados-alvo e de conquistar, reter e cultivar clientes, por meio da criação, comunicação e fornecimento de valor superior para os clientes. (KOTLER, 2003, p. 11) Nos anos 2000 entra em campo o marketing individualizado, ou marketing one to one, focado em ofertas cada vez mais personalizadas, tendo em vista que os consumidores estão cada vez mais exigentes e deixando facilmente de ser leais às marcas. Também vemos aparecer o marketing sensorial, vivencial e/ou experiencial, que será o foco desse estudo. Para Peter Drucker (1992) pode-se presumir que sempre haverá alguma necessidade de vender. Mas a meta do marketing é tornar a venda supérflua, é conhecer tão bem o consumidor que o produto ou o serviço se adapte a ele e se venda sozinho. A tecnologia está transformando as escolhas, e as escolhas estão transformando o mercado. Como consequência, estamos testemunhando o surgimento de um novo paradigma de marketing – não de um marketing do ‘faça mais’, que simplesmente aumenta o volume dos discursos de vendas do passado, mas um marketing baseado na experiência e no conhecimento [...]. (McKENNA, 1993, p. 1) Após sucessivos ciclos econômicos associados à geração de valor agregado a produtos e serviços, o marketing torna-se agora a área de fabricação de clientes na empresa, e as marcas tomam vida. Toda a estruturação do próprio departamento sofre uma reformulação. Ele passa a ter que estar atento a toda e qualquer modificação do mercado, a realizar pesquisas de satisfação, pesquisas de opinião, passa a procurar no mais profundo interior de seus clientes suas verdadeiras aspirações e necessidades, para assim, poder saciá-las, numa era onde o entretenimento e a interatividade se fundem para gerar valor agregado para a marca. 2.3 O CLIENTE CONSUMINDO POR PRAZER. Dentro desse contexto de um marketing voltado para os desejos e necessidades do consumidor, há também os primeiros estudos e evidências do consumo hedonista. Essa categoria de consumo vem do termo “hedonismo” (do grego hedonê, “prazer”, “vontade”), uma teoria filosófica que afirma ser o prazer o objeto da vida humana. 17 Sendo assim, caracteriza-se por indivíduos que consomem produtos ou serviços em busca do prazer, e não apenas por necessidades funcionais, como as de alimentação, por exemplo. As condutas de consumo, aparentemente orientadas e dirigidas para o objeto e para o prazer, correspondem na realidade a finalidades muito diferentes – a da expressão metafórica ou desfiada do desejo, a da produção por meio de signos diferenciais de um código social de valores. Não é determinante a função individual de interesse através de um conjunto de objetos, mas a função instantaneamente social de troca, de comunicação e de distribuição dos valores através de um conjunto de signos. (BAUDRILLARD, 2008, p. 91) Ainda segundo Baudrillard (2008, p. 151) “a verdade do objeto contemporâneo já não consiste em servir para alguma coisa, mas em significar; deixou de ser manipulado como instrumento, sendo utilizado como signo.” O consumo hedonista desse objeto acontece diversas vezes no ato, por exemplo, de comprarum sapato ou uma bolsa da moda apenas para satisfazer um desejo interno emocional, que é imediatamente saciado quando o ato da compra ocorre, sendo logo substituído por outro desejo. Na conjuntura contemporânea, o consumo hedônico assume em muitos casos uma manifestação de natureza imaterial (Rifkins, 2004), em que o foco no produto migra para a experiência. Nessa modalidade, o valor não está no bem, mas num acontecimento intangível e de elevada carga emocional. (COBRA & BREZZO, 2010, p. 241) Mesmo dentro desse ambiente extremamente favorável às vendas, existem muitas empresas que pensam que a forma de satisfazer o cliente ainda é através do produto e focam sua atenção nele. De acordo com Kotler (2003), as empresas excepcionais cultivam clientes encantados, criam fãs. A questão toda é que as companhias precisam evoluir do foco na fabricação e escoamento de produtos para o foco na conquista e retenção de clientes. 18 3. O PODER DA MARCA E O PAPEL DO MARKETING 3.1 A MARCA A marca é simplesmente o ativo mais importante de qualquer empresa, ou pelo menos deveria ser. De acordo com Kotler (2003), marca é um nome, símbolo, signo ou combinação desses elementos, usados para identificar os produtos ou serviços de um vendedor e diferenciá-los de seus concorrentes. É a partir da marca que as pessoas percebem a identidade de certo produto ou serviço relacionado a ela, o que já vem geralmente com uma opinião pré-estabelecida sobre ele. Representada por um logotipo, “não é apenas um marcador neutro de uma empresa, mas a revelação profunda de todos os significados associados à marca” (GOBÉ, 2010, p. 128). Esse papel de criar uma identidade para a marca está cada vez mais saindo das mãos das empresas que as criaram e indo para as mãos dos próprios consumidores. Por volta da década de 90 presenciamos o início de um processo de super conectividade das pessoas. Dentro de um ambiente totalmente público e acessível como as redes sociais, foi possível expressar opiniões e trocar experiências sobre os mais diversos assuntos, inclusive sobre as marcas, sem que houvesse interferência de mediadores. E muitas vezes os primeiros contatos que diversas pessoas tiveram com certa marca ou produto foi através desses meios. Cada vez mais, embora as empresas fortaleçam as identidades de suas marca, as propriedades e significados da marca estão sendo criados pelos consumidores através das experiências que eles têm com ela. [...] está havendo uma mudança de 180 graus na natureza de relações entre consumidores e marcas. Enquanto essas últimas eram escolhidas antigamente pela capacidade de atribuírem valores aos consumidores que as usavam, agora são os consumidores que dão valores às marcas. Cada vez mais, a ’propriedade’ da marca é passada ao consumidor. (BATEY, 2010, p. 16) Dentro dessa perspectiva, a percepção que uma pessoa tem sobre determinada marca vem de duas fontes: aquelas que são transmitidas pelas empresas, seja, por exemplo, através da embalagem do produto, das propagandas, ou do ponto de vendas; e a percepção que é captada, criada e atribuída pelos consumidores. Entra aí o papel do profissional de comunicação, que visa criar meios de facilitar uma percepção positiva da marca pelo consumidor, ativando nele os mais diversos sentidos. 19 Conforme Batey (2010, p. 28) “as associações de marca são criadas, mantidas e incrementadas por toda a experiência e encontro que o consumidor tem com ela”. Sendo assim, se a imagem da marca percebida por um consumidor é baseada nas experiências que ele tem com ela, daí decorre que quanto mais forte for essa conexão, maior será a relação entre o consumidor e ela. Temos como exemplo as associações que uma pessoa pode fazer sobre a bebida Gatorade (Figura 1). Baseando-se em todos os contatos que ela já teve com o produto, desde a propaganda assistida, o contato com a embalagem, o comentário feito por um amigo e a própria experimentação com o produto, associações vão sendo criadas em sua mente através de redes neurais associativas. Essas associações são as que ajudam o consumidor a definir a imagem que terá sobre o produto. Figura 1 - A marca como uma rede neural associativa (BATEY, 2010, p. 30) Quando se atinge um nível de relação forte e resistente entre a marca e o consumidor forma-se então um laço de lealdade e confiabilidade entre eles. De acordo com a pesquisa conduzida pelo Henley Centre, da Inglaterra (1998 apud BATEY, 2010), os consumidores confiam muito mais em marcas como Kellogg’s, Cadbury ou Coca-Cola, do que nos membros do parlamento (Figura 2). Essa pesquisa mostra que quando uma empresa trabalha fortemente o seu vínculo com seu público, essa relação de 20 confiança com a marca pode inclusive superar as relações de confiança existentes entre a sociedade e as instituições que antes gozavam da confiança do público. Figura 2 - Nível de confiança de diversas instituições por parte da sociedade. Fonte: The Henley Centre, 1998. Outro exemplo são os vínculos criados entre os hóspedes fiéis de uma determinada rede de hotéis. Não importa aonde eles vão, saberão que terão o conforto e segurança que sempre encontraram nos hotéis da rede. A marca passa a ser mais forte do que as características físicas e/ou racionais do produto ou serviço. Muitas vezes o valor que as marcas representam se sobrepõe até ao valor dos produtos ou instalações da empresa. Conforme pesquisas de 2013 da Interbrand (Figura 3), estima-se que a marca da Coca-Cola, terceira maior do mundo, esteja avaliada em 79,213 bilhões de dólares, muito mais do que o valor de suas fábricas. As organizações que desenvolvem marcas fortes estão mais protegidas de seus concorrentes, e têm a marca como o maior patrimônio da empresa. Figura 3 - As maiores marcas do mundo. Fonte: www.interbrand.com 21 Devido a enorme importância da marca, às vezes despercebida pela empresa, que se vê a necessidade de trabalhar no fortalecimento de uma comunicação e conexão constante com o público, visando criar um vínculo que ultrapasse a racionalidade, caminhando para um vínculo emocional. 3.2 BRANDING – A FORÇA ESTÁ NA MARCA Mas, então, como são construídas as marcas? Não é apenas de propaganda que uma marca vive. Um comercial ou um anúncio de revista chama atenção para uma marca e pode até despertar interesse por ela, porém a marca é construída através de um conjunto muito maior de ferramentas do marketing, como, por exemplo, eventos, patrocínios, porta-vozes, e aí vai. Dentro desse complexo de ferramentas de marketing, há uma classificação nos tipos de contato (ou mídia) que o receptor da mensagem tem com ela: paid, owned e earned media 1 . As paid medias 2 são, como o próprio nome diz, as pagas. São os meios mais tradicionais de marketing e publicidade e englobam os comerciais de TV, anúncios online ou impressos, que são completamente controláveis pela empresa, e geralmente não muito interativos. Já as owned medias 3 são aquelas próprias da empresa, como websites, blogs, páginas em redes sociais, aplicativos, jogos, e por aí vai. Essas mídias mantém uma comunicação bilateral e possibilitam a interatividade e diálogo com o público. As earned medias 4 , por outro lado, são as conquistadas pela empresa através da assessoria de imprensa, do relações públicas e até mesmo resultado do compartilhamento de opiniões do público sobre a marca. Gerir a presença de uma marca através dos três tipos de meios (pagos, próprios e conquistados) é um grande desafio, porém é uma parte crítica na estratégia de marketing, independente do tamanho donegócio. Se não há uma estratégia comum e os resultados não são analisados e medidos com precisão, os esforços tornam-se isolados em cada canal, resultando em ações fragmentadas e inconsistentes e tendo como consequência a perda de todo o potencial e vantagem competitiva. (AFONSO & BORGES) 1 Tradução livre do inglês: Mídias pagas, próprias e conquistadas. 2 Tradução livre do inglês: Mídias pagas 3 Tradução livre do inglês: Mídias próprias 4 Tradução livre do inglês: Mídias conquistadas 22 Um grande problema que se identifica na maioria das corporações é que a administração de suas marcas, às vezes, acontece através de departamentos desconexos. O setor de vendas poucas vezes discute como vão as vendas com o setor de marketing. O setor de marketing por sua vez, não entende as necessidades da agência de propaganda, e por aí vai. Isso acaba por fragmentar as percepções que o público tem da marca, pois, por exemplo, quando assistem ao comercial, a imagem que tem da marca é uma, e quando se deparam com a embalagem no ponto de venda, é outra. Uma empresa que trabalha bem seu branding preocupa-se em transmitir uma mensagem consistente e única da sua marca ao público. Todo esse processo de criação e desenvolvimento da marca é o que chamamos de branding. Nem todos os produtos são marcas, nem todas as marcas entendem as imensas possibilidades que terão se conseguirem alcançar o coração das pessoas, em vez de apenas a mente delas. Ainda há produtos sem nenhuma mensagem importante a transmitir que continuarão a congestionar os canais de comunicação com mensagens irritantes. (GOBÉ, 2010, p. 228) O desenvolvimento de uma marca é um processo extremamente delicado pois, como já foi citado anteriormente, a imagem que se tem de determinada marca é, na maioria das vezes, criada pelos consumidores. Por isso a missão dos profissionais de marketing atualmente está em promover o maior número de sensações positivas que o consumidor pode vir a ter com a marca, facilitando assim a sua percepção dela. Estudos de neuromarketing nos revelam que as experiências consistentes que temos com as marcas e produtos ficam inseparavelmente conectadas à marca ou produto. É o chamado efeito “eu gosto disso, mas não sei porque”. Portanto, promover experiências positivas em que o consumidor possa “sentir” a marca é o melhor caminho para que ela se torne inesquecível. Se um consumidor ficar consistentemente satisfeito com um produto ou um serviço, aquela experiência prazerosa continuará presa à marca. Por outro lado, as experiências ruins também pegam. Uma vez que essas associações estejam estabelecidas, será difícil mudá-las. (DOOLEY, 2012, p. 59) Uma tendência atual do branding é a das marcas estarem investindo na criação de personalidade, buscando assim uma maior identificação por parte do público-alvo. Você acaba comprando um produto pelo que ele faz, mas escolhe a marca pelo que ela representa para você. Não se compra uma bolsa Louis Vuitton apenas para ter onde 23 carregar as coisas. Uma motocicleta Harley-Davidson dificilmente será vendida a alguém que procura apenas um meio de transporte. Esses tipos de produtos transmitem muito mais do que apenas seus apelos racionais. Um consumidor ao se deparar com uma moto H-D consegue enxergar nela ideais de liberdade ou de subversão. As marcas acabam por ter um papel essencial na escolha dos produtos. Pode-se perceber claramente no teste às cegas feito com os refrigerantes Pepsi e Coca-Cola (SIMON, 2011). Por volta do ano de 1985, a Pepsi desenvolveu um teste para comprovar a preferência pelo seu sabor por parte do público, quando comparada à concorrente. Enquanto vendados, os participantes do teste provaram ambas bebidas, tendo que optar pela que oferecia o melhor sabor. A Pepsi ganhou nessa primeira fase. Quando já não mais vendados, foram perguntados por qual refrigerante optavam entre Coca-Cola e Pepsi. A primeira saiu na frente, disparado. Segundo Lindstrom (2007, p. 112) o “branding sempre foi a criação de laços emocionais entre a marca e o consumidor. Como em qualquer relacionamento, as emoções se baseiam na informação captada por nossos sentidos”. Isso demonstra a força do branding que é feita em cima da marca Coca-Cola para que ela conquistasse o coração e a mente dos consumidores, mesmo que não agradasse tanto quanto a concorrente em critérios de sabor. 3.2.1 Branding sensorial Um problema que se percebe na forma atual de comunicar as marcas é levar essa mensagem através de meios que já estão saturados. Os meios de comunicação com os quais estamos acostumados a interagir utilizam-se apenas da visão e da audição para transmitirem a sua mensagem, ignorando o fato de que todo ser humano conta com outros três sentidos prontos para serem explorados. As pessoas estão sedentas por algo que as toque emocionalmente. Lindstrom (2007) afirma que descobrir que uma marca precisaria tornar-se uma experiência sensorial vai além do paradigma tradicional, que aborda principalmente o aspecto visual e auditivo. Visando a maior conectividade com os consumidores, as marcas teriam que passar do modelo 2-D para o modelo 5-D, integrando completamente os cinco sentidos. 24 A meta do branding sensorial resume-se em transformar os valores centrais de uma marca em pontos de contato sensorial, transformando cada contato em uma experiência memorável e uma forma de comunicar a marca. De acordo com Lindstrom (2007) pode-se dizer que o branding sensorial aperfeiçoa o impulso do comportamento de compra, desperta interesse, e permite que a resposta emocional domine o pensamento racional. Trata-se das sensações que são capazes de identificar a marca, mesmo que encontradas de forma isolada. Esses estímulos sensoriais não apenas provocam em nós comportamentos além da razão, eles também contribuem para que possamos distinguir um produto do outro. Estão inseridos em nossa memória de longo prazo e passaram a fazer parte de nossos processos de tomada de decisão. São exatamente esses processos que apontam o caminho da próxima geração de construção de marcas. (LINDSTROM, 2007, p. 28) A pergunta a ser feita para perceber se o branding sensorial está sendo efetivo com sua marca é se os consumidores com olhos vendados seriam capazes de reconhecer ela, através dos múltiplos sentidos. 25 4. O MARKETING DE EXPERIÊNCIA – TRABALHANDO AS SENSAÇÕES E SENTIMENTOS No atual cenário competitivo de mercado, o consumidor se depara com uma grande variedade de opções. Por que optar por uma loja e não outra? Por que comprar esse produto e não aquele? Em meio a um turbilhão de possibilidades, o fator diferenciador, na maioria das vezes, deixa de privilegiar aspectos como o preço, o produto. Segundo Kotler (2003, p. 129) “todos os comerciantes prestam serviços. O desafio é oferecer aos clientes experiências memoráveis”. Toda a experiência que o cliente passa a ter com a marca transforma-se no diferencial que estava faltando. Três objetivos estratégicos podem motivar o marketing sensorial. Uma organização pode usá-lo para diferenciar a si mesma e a seus produtos no mercado, para motivar os clientes a comprar os seus produtos e para transmitir valores aos clientes. (SCHMITT, 2000, p. 119) As pessoas atualmente encontram-se conectadas a todo o momento e, para que uma marca toque uma pessoa, é preciso que ela forneça algum tipo de experiência. De acordo com Nahas (2010), “as experiências são marcantes e trazem uma lembrança mais duradoura de sua empresa ou de sua marca”. O marketing tradicional, abordadonos capítulos anteriores, que caracteriza-se pela exaltação das características e benefícios de um produto, acaba por tornar-se obsoleto, pois foi desenvolvido para uma era industrial, onde o produto era o foco das atenções. Num momento em que a informação, os meios de comunicação e a supremacia das marcas é extremamente presente, a experiência toma um lugar de destaque. Num estudo para identificar as melhores práticas dos líderes de marca, a empresa de pesquisas Manning Selvage & Lee verificou que os líderes não somente tem o nome bem lembrado e uma imagem ótima, como também fornecem experiências ao consumidor. (SCHMITT, Marketing Experimental., 2000, p. 37) Dentro desse contexto, então, conhecer bem o consumidor é fundamental. Isso acontece, pois, com objetivo de criar experiências holísticas para os clientes, é preciso trabalhar a marca desde o primeiro contato que ele tem com ela. É preciso saber o que o cliente pensa sobre a marca, o que ele espera da marca, em que momentos ele tem contato com a marca, etc. 26 Num estudo de marketing de experiência feito por Schmitt (2000) para o Carnegie Hall, ele teve que observar toda e qualquer experiência que o consumidor poderia vir a ter com a marca, não apenas no momento em que estava na sala de espetáculos. O estudo foi feito desde o momento em que soube do teatro ou do espetáculo, da compra do tíquete (seja ela feita diretamente no balcão ou pela internet), até os últimos comentários e sugestões feitos, já fora do estabelecimento. Trabalhar a experiência do consumidor deve levar em conta todos os pontos de contato que ele tem com a sua marca/empresa, e não somente o ponto de venda, apesar desse último ainda ser o foco das atenções. Ainda segundo Schmitt (2000), o consumidor atual não avalia um produto como um item isolado, fazendo a análise das características e benefícios, que eram o foco do marketing tradicional, mas sim, como esse produto se encaixa na sua situação geral de consumo e nas experiências resultantes. Sendo assim, as empresas precisam do insight do cliente para a construção de experiências holísticas. Segundo James Watson, autor de Golden Archers East: McDonald`s in East Asia, na China o cardápio dos poucos itens do McDonald`s não é um problema para o consumidor, porque ele vai lá para passar pela experiência e não pelo produto. (SCHMITT, Marketing Experimental., 2000, p. 37) Uma das ferramentas que o marketing de experiência utiliza para poder atingir os consumidores é estabelecer contatos diretos com os sentidos e sentimentos dele. Estimulando os cinco sentidos, fazendo o uso correto de cor, sabor, cheiro, som, luz, textura, etc, e associando essas experiências à sua marca, é passo certo para a memória e coração do cliente. Trata-se do marketing que irá trabalhar com o lado direito do cérebro, permitindo que o consumidor vivencie aquilo que a marca procura transmitir, através de uma conexão emocional e não somente racional. Segundo Nahas (2010) “ver, tocar e ouvir são sensações que dão sentido para tudo na vida, todos querem sair do comum, querem se emocionar”. Peças apenas visuais ou audiovisuais já não são mais o suficiente. As pessoas querem uma real conexão com as marcas, algo que traga sentido para suas vidas. Campos (2008) explica ainda que “quanto mais sentidos forem despertados, mais eficaz e memorável será a experiência”. Ele procura assim gerar uma atitude positiva por parte dos clientes, favorecendo a escolha de uma marca. 27 É da natureza humana deixar-se interagir e influenciar pelo ambiente e atmosfera que a circunda. Quem entra em uma biblioteca ou livraria pode não ler ou comprar um único livro, mas fica com a sensação de aumento de sua sabedoria. (...) Dirigimos um carro com maior ou menor velocidade conforme a música que estamos ouvindo. (FERRACIÚ, 2007) Um dos setores que mais se utiliza do marketing de experiência atualmente é o de entretenimento, e para ilustrar de forma bem visível, há o exemplo da rede de hotéis temáticos do complexo Disney. A rede oferece claramente um universo de magia para todas as idades. Os cuidados com a experiência do cliente vão desde a decoração dos quartos, que criam ambientes temáticos que fazem referência aos desenhos clássicos infantis (figura 4), passando pelo momento das refeições feitas no hotel, que podem ser feitas na companhia das personalidades da Disney, além das comidas que também fazem alusão aos personagens (figura 5), entre outros momentos que são vivenciados durante a estadia do cliente. Figura 4 - Hotéis Temáticos da Disney Fonte: Google Imagens 28 Figura 5 - Experiência com os personagens da Disney em todos os momentos da estadia. Fonte: Google Imagens Apesar do profissional de marketing ter que focar nas experiências que há em todos os pontos de contato com a marca, ainda é no ponto de venda que essas experiências ganham mais importância. Diferente da promoção de vendas, que consiste num conjunto de ações que servem para estimular um comportamento que irá produzir resultados a curto prazo, o marketing de experiência procura transmitir a esse consumidor uma sensação de “pertencer” à marca, cultivando assim um relacionamento a longo prazo. Estima-se que 70% dos consumidores que tiveram uma experiência de entretenimento no varejo retornaram posteriormente à loja, o que representa o triplo ou o quádruplo do índice normal de retorno de novos clientes no varejo, de acordo com J`Amy Owens, do The Retail Group. (BERNARDINO, PACANOWSKI, KHOURY, & REIS, 2004, p. 117/118) Nas lojas de material esportivo da Centauro, por exemplo, os clientes são levados a uma realidade de utilização real dos produtos que são oferecidos (figura 6). Dentro dela são encontrados desde pistas de cooper a mini quadras de tênis ou futebol, entre outros. Nesse universo, o cliente já é inserido numa experiência de utilização real do produto, na qual tudo está ali para ser experimentado. Morgado e Gonçalves (2001:234) afirmam que: 65% das decisões de compra são tomadas na própria loja; 45% dos clientes são influenciados por estímulos no ponto-de-venda na hora de decidir a compra; e os consumidores compram de 15 a 20% mais quando as lojas são estimulantes para a compra. (BERNARDINO, PACANOWSKI, KHOURY, & REIS, 2004, p. 121) 29 Figura 6 - Pista de Cooper na loja Centauro. Fonte: Google Imagens Nos próximos tópicos serão abordados detalhadamente como são trabalhados os cinco sentidos de forma isolada, nas mais diversas situações. 4.1 MARKETING OLFATIVO As pessoas podem optar por não ver, não escutar, não sentir o gosto ou não tocar algo. Mas sentir o cheiro das coisas, involuntariamente, elas sempre irão sentir, pois esse é um processo que está ligado diretamente à nossa respiração. Segundo Santaella (2005) o olfato é o único de nossos sentidos com conexão direta ao sistema nervoso do cérebro, atingindo assim regiões responsáveis pelas sensações de prazer, sofrimento, emoções, controle de comportamento, entre outras. Os aromas, por sua vez, têm a capacidade de evocar a nossa memória emocional, que podem ser guardadas no inconsciente durante anos sem que saibamos. Segundo Batey (2010, p. 118) “as pessoas são capazes de se lembrar de aromas com 65% de perfeição depois de um ano, enquanto a lembrança visual de uma fotografia cai para cerca de 50% depois de apenas três meses”. Vê-se aí uma grande oportunidade para as empresas trabalharem com os aromas, que ficam guardados por mais tempo em nosso subconsciente. 30 Gerald Zaltman, especialista em psicologia do consumidore autor de How Customers Think, descreve como o olfato e outras sugestões sensoriais são fisicamente conectados ao sistema límbico no cérebro. Esse é o centro da emoção e, em virtude dessa conexão, os odores podem estimular recordações vivas. (DOOLEY, 2012, p. 37) Por ser o sentido mais fácil de ser atingido, muitas empresas estão atentando para esse ramo do marketing, ainda novo no mundo corporativo. De acordo com Alex Moskvin, vice-presidente da BrandEmotions, hoje em dia a chave para o sucesso no mercado não é vender mais produtos, mas criar experiências da marca e fragrância que reflitam de modo convincente os desejos profundos das pessoas. Diversas empresas de marketing já estão buscando se especializar na categoria, algumas inclusive trazendo a abordagem da aromaterapia para seus clientes. Trata-se da utilização de óleos essenciais (extraídos diretamente das plantas) ou essências sintéticas, com o objetivo de influenciar de forma positiva no posicionamento das marcas e até alavancar as vendas. Vai desde a aromatização do ambiente selecionado pela empresa, até a aplicação da essência nos materiais impressos. Martin Lindstrom (...) acredita que o cheiro é particularmente poderoso para contornar o pensamento consciente e criar associações com memórias e emoções. Ele estima que 75% de nossas emoções são geradas pelo que cheiramos, e defende entusiasticamente a incorporação do sentido do cheiro no máximo possível dos aspectos de marketing de uma empresa. (DOOLEY, 2012, p. 36) Uma das utilizações mais significativas do aroma é no branding sensorial. Diversas marcas estão começando a perceber a importância da criação de um aroma consistente e exclusivo para si, tornando-se um fator diferencial quando comparado às concorrentes. Trata-se de expressar a sensação que a marca quer que seja levada ao cliente, através de uma essência única. Em diversos casos, o aroma é, inclusive, uma referência de status do produto. Em um experimento descrito por Dooley (2012), dois pares de tênis da marca Nike foram avaliados por consumidores. Os tênis foram colocados em ambientes distintos, um com aroma floral, e o outro sem aroma. No final do experimento, 84% dos participantes avaliaram o par de tênis que encontrava-se no ambiente aromatizado como sendo superior. Outra utilização das fragrâncias bastante comum está na aromatização de ambiente, que deve ser sutil e adequado. Diversas são as essências criadas para produzir 31 os mais variados estímulos no público. Segundo a Harmonie Aromaterapia (HARMONIE, 2012), empresa especialista no trabalho com aromas, pode-se, por exemplo, estimular o ânimo, entusiasmo ou a vontade de comprar através da essência de Laranja Doce. Já a concentração e a produtividade podem ser estimuladas por uma essência de Limão. Companhias aéreas já se utilizam das técnicas do marketing olfativo em suas salas vips, procurando produzir uma ambiente de bem estar para seus clientes. Outro exemplo bem claro da utilização do marketing olfativo na aromatização do ambiente é a da rede Starbucks. Um dos segredos do sucesso das lojas está na manutenção de padrão de aromatização consistente e atraente, advindo da essência do café, que faz com que as lojas sejam sempre inconfundíveis pelo seu cheiro, além de ser um ótimo estimulante para as vendas dos principais produtos da franquia. Os aromas, além de trazerem diversos benefícios para o relacionamento empresa e cliente, podem trazer também mudanças significativas no relacionamento da empresa com seus funcionários. Estando em um ambiente mais agradável de trabalhar, o funcionário acaba por produzir mais, e, consequentemente, gerar mais lucro para a empresa. Na década de 1980, os gerentes de supermercados da Inglaterra começaram a perceber que ter uma padaria e deixar que o cheiro de pão fresquinho se espalhasse pelo ar contribuía para mais vendas de pão, e de tudo o mais também. (BATEY, 2010, p. 117) O marketing olfativo também está sendo amplamente trabalhado em outros segmentos como o de embalagens e materiais impressos. Segundo Batey (2010), algumas marcas de café já começaram a desenhar suas embalagens com válvulas especiais, possibilitando que a pessoa já sinta o cheiro do produto. Já a P&G, em sua campanha do sabão em pó Mountain Spring Tide, nas peças de material impresso havia um artefato que permitia que a pessoa raspasse e sentisse o aroma do produto antes da compra. 32 4.2 MARKETING SONORO Trabalhar o marketing sonoro dentro de uma empresa significa trabalhar as técnicas de uso da sonorização para influenciar a percepção do produto, empresa e marca pelo consumidor. Segundo Lindstrom (2007), assim como o olfato está vinculado à memória, o som está vinculado ao humor. Para ele o som gera humor e cria sentimentos e emoções. Para que se chegue a esse patamar, há de se definir os elementos, usos e significados para comunicar e representar a marca. A função de definir uma identidade sonora é orientar a construção de elementos musicais e vocais alinhados com toda a identidade da marca. Não se trata apenas de criar um jingle, definir uma trilha sonora ou um bom locutor para os seus spots e comerciais. Há de se trabalhar todas essas ferramentas de forma integrada, visando representar mais clara e consistentemente os conceitos da marca. Diversas empresas, principalmente no ramo das tecnologias, estão se utilizando da técnica da marca sonora. É, geralmente, uma melodia com poucos segundos de duração, pensados cuidadosamente, para transmitir a identidade desejada da marca. Em produtos como computadores ou celulares podemos perceber claramente esses sons, que são geralmente colocados no momento da inicialização do dispositivo. Usados para diferenciar um produto do outro, esses sons são utilizados também nas assinaturas e vinhetas, trilhas para vídeos e sites, jingles e peças musicadas e até em esperas telefônicas da empresa, vindo acompanhados da assinatura da marca. Exemplo disso é a melodia de inicialização dos computadores com sistema Windows 5 , ou até o ringtone padrão característico dos celulares Nokia 6 . Para além de ser uma música para um comercial, ou um spot de rádio, a identidade sonora está relacionada com “determinar como a marca soa e como conectar estrategicamente com a cultura da música como suporte para que a marca alcance seus objetivos” (LUSENSKY, 2011, p. 8, tradução nossa). (...), usar as identidades sonoras é uma estratégia crescente porque os métodos de publicidade tradicionais estão decaindo. (ERTHAL, 2013) 5 Pode ser ouvido em <http://www.youtube.com/watch?v=Gcz8wdfXD10> acessado em 20/11/2013 6 Pode ser ouvido em <http://www.youtube.com/watch?v=jjM6fMD0eFI> acessado em 20/11/2013 33 Outras companhias, um pouco mais avançadas no uso do marketing sonoro, preocupam-se também com a boa utilização do discurso falado e das locuções em sua comunicação. O estilo da voz pode acrescentar significados relevantes à mensagem, podendo acentuar ou atenuar intenções, ou até mesmo dar novos sentidos aos conteúdos. As diretrizes vocais promovem unidade e identidade ao discurso da empresa, alinhando o que deve ser dito com o modo de dizê-lo. Não se restringe apenas à escolha de um locutor-padrão. Aspectos como a definição de sotaques, coloquialidade ou não do diálogo, idade psicológica do locutor, tom de diálogo, entre outros, são levados em consideração no momento da criação da identidade sonora da empresa. Utilizado mais comumente em spots e textos de rádio ou eventos, informativos e boletins, atendimento eletrônico ou humano,mensagens ou alertas locutados e podcasts. Outro ramo do marketing sonoro, que está sendo largamente explorado nos últimos anos, é o chamado design sonoro. Trata-se da elaboração de sons específicos no produto, que reflitam o que a empresa procura transmitir. A área automobilística é uma das que vêm demonstrando maiores avanços nesse segmento. Segundo Volcler (2013) em 2010, a Audi lançou seu conceito de corporate sound 7 , que seria o desenvolvimento de uma identidade específica da marca, que iria desde o som do fechamento do porta- luvas até as músicas e as vozes escolhidas para acompanhar os comerciais. Todo esse cuidado acaba tornando o carro um produto único. Outro exemplo da exaltação desses detalhes sonoros está no conhecido comercial da empresa Honda, que trabalha com os diferenciais sonoros do carro Honda Civic, que são mostrados através da reprodução desses sons por um grupo de coral (figura 7). 7 Vídeo explicativo do Corporate Sound desenvolvido pela Audi em <http://www.youtube.com/watch?v=HNQam68x2l8> acessado em 20/11/2013 34 Figura 7 - Imagens do comercial da Honda Fonte: Youtube [http://www.youtube.com/watch?v=aSU7iW6E70I], acesso em 12 de novembro de 2013. Há ainda o cuidado com personalização sonora em ambientes empresariais e pontos de vendas. O trabalho é feito a partir de uma seleção de músicas específicas para o público-alvo de cada ambiente, a fim de criar uma identidade musical daquele negócio. Para tentar aproveitar ao máximo o espaço de seu ponto-de-venda, algumas empresas têm criado inclusive suas próprias rádios, selecionando seu repertório musical e inserindo comerciais e informações institucionais. A rede de academias Smart Fit é um exemplo disso. A rede possui uma rádio própria, que mantém uma seleção musical estimulante para a prática de atividades físicas, que são feitas no local. Segundo André Oliveira (apud SMANIOTTO, 2012), sócio proprietário da Única Identidade Musical - empresa especializada em marketing sonoro - para se construir a identidade sonora de uma marca, primeiramente, é realizada uma entrevista com o empresário, que determina, por exemplo, a faixa etária do público-alvo, o poder aquisitivo, aonde ele quer chegar, entre outros fatores. A partir disso, de forma estratégica, a empresa determina que tipo de música irá colocar na playlist, visando despertar sensações aos clientes. 35 A ambientação musical, ainda por cima, é uma ferramenta estratégica imprescindível para estimular, ou não, a permanência dos clientes na empresa, assim como o comportamento dele dentro dela. Segundo Ferraciú (2007), em dias e horários de grande aglomeração de público nas lojas, como em datas comemorativas, a escolha de uma trilha sonora mais acelerada, dinâmica, e ao gosto musical dos consumidores, estimulará a pessoa a apressar inconscientemente sua decisão de compra. Já em épocas e horários de pouco fluxo de pessoas, aconselha-se que a trilha seja mais calma, relaxante e suave, motivando o consumidor a permanecer mais tempo dentro da loja. Há alguns anos, pesquisadores no Reino Unido decidiram avaliar os efeitos da música ambiente nas decisões de compra do consumidor. Eles escolheram uma loja de vinhos para o experimento, já que vinhos têm origens identificáveis, e prosseguiram tocando música ambiente francesa e alemã em dias alternados. Os resultados foram surpreendentes: os vinhos franceses e alemães, cada qual vendeu múltiplas vezes mais. (DOOLEY, 2012, p. 44) A música ambiente não irá conduzir de forma tão direta o comportamento do consumidor, mas, harmonizando-se com outros elementos do ponto de venda, contribuirá para uma atmosfera extremamente propícia às compras. Uma identidade sonora, quando aplicada e difundida, proporciona reconhecimento pelos públicos e gera maior afinidade. 4.3 MARKETING GUSTATVO Trabalhar o sentido do paladar no marketing pode ser, algumas vezes, uma atividade bastante complicada, mas não impossível. Isso se deve ao fato de que o paladar é o sentido que exige mais cautela, pois, segundo Oliveira e Braga (2013), é biologicamente mais complicado agradar os paladares tão variados das pessoas, porém não deixa de ser um potencial sentido a ser usado. Além disso, com o passar do tempo, os receptores gustativos das pessoas vão envelhecendo, fazendo com que o sentido seja afetado, e torne-se pouco preciso nas pessoas mais velhas. Apesar das dificuldades, as empresas que conseguem estimular o cliente através do paladar tem uma chance muito maior de proporcionar uma experiência holística. 36 As marcas que conseguem tomar conta do mercado de um sabor específico ou que podem levar sabores únicos ao consumidor aumentam as chances de se diferenciar da concorrência. (BATEY, 2010, p. 116) Uma das abordagens mais comuns do marketing gustativo acontece com as empresas do ramo alimentício. A tática bastante usada para apresentar lançamentos de produtos ou de um novo sabor é a degustação no ponto de venda (figura 8). Leitão (2007) explica que este trabalho facilita a venda do produto, e ao mesmo tempo exprime a opinião do consumidor, tornando-se também uma forma de avaliar a qualidade do que está sendo oferecido. Porém, antes de tudo, há de se certificar que as amostras a serem provadas no ponto de venda devam ter a mesma qualidade do produto que o consumidor levará para casa. Segundo a Novo Negócio Startup, donos de docerias e casas de bolo já atuam desta forma, oferecendo seus produtos em pequenas porções, o que ajuda não apenas na escolha, como estimula uma compra de um produto que pode-se não querer comprar, simplesmente por acreditar que seu gosto não é tão bom quanto o visual. Figura 8 - Abordagem através de degustação no ponto de venda. Fonte: Google Imagens Outro uso do marketing gustativo, que pode englobar os mais diversos ramos, é a estimulação do paladar favorecendo uma experiência positiva do consumidor no estabelecimento de compras e vendas. Quando a loja oferece algum tipo de agrado, como balas, doces ou chocolates, ou até mesmo os deixa à disposição para que o cliente possa se servir, isso pode tornar a experiência de compra mais agradável e até mesmo deixar uma impressão positiva pelo fato de o cliente ter ganhado um brinde. 37 Praticamente todas as marcas de moda, quando realizam seus lançamentos de coleção, oferecem uma pequena festa em suas lojas para receber seus clientes. E uma das principais atrações, além das coleções, é sempre o cardápio. Os petiscos oferecidos geralmente se relacionam ao tema da coleção, ou ao perfil da marca, dependendo do caso. E, é claro, todas as lojas oferecem, geralmente no balcão do caixa, balinhas e chocolatinhos personalizados às clientes, além de expressos, águas aromatizadas, biscoitinhos e até mesmo brigadeiro de colher! (ÂME CONSULTORIA, 2010) Apesar de impensável, o paladar pode ser alcançado inclusive nas vendas no meio digital. Em entrevista à Estação Sebrae Rádio Web (NEIVA, 2013), o professor da ESPM 8 , Marcelo Chiavone Pontes, explicou que numa loja virtual se tem a limitação de quase todos os sentidos, mais expressamente o paladar, tato e olfato. Porém ele comenta que as empresas podem ir além dessas limitações, e exemplifica que ao entrar num site do supermercado pra comprar uma televisão e pagar 800 reais, nada impede que, no dia seguinte, essa loja mande um chocolate para o cliente. A loja não estimulou o paladar, mas o usou para agradecer o cliente pela compra, algo que fica, certamente, como ponto positivo para a empresa. 4.4 O PODER DO TATOVer e ouvir já não é o bastante, é preciso, também, sentir. Não é à toa que o tato é o sentido percebido pelo maior órgão do corpo humano, a pele. É através dela que temos as sensações de temperatura, textura, vibrações, etc. Para Lindstrom (2007), mesmo que o toque não seja um aspecto da marca que as pessoas obrigatoriamente consideram importante na sua decisão final de compra, ele oferece sinais adicionais para diferenciar a marca e inferir um maior grau de liderança. Além disso, utilização do tato através do toque ainda pode indicar e criar uma proximidade emocional nas relações entre vendedor e cliente. A área que trabalha no desenvolvimento de videogames já percebeu a importância desse sentido. Para não ficarem restritos à visão e audição, e enquanto ainda não há tecnologia para se utilizarem do cheiro ou paladar, o tato é o sentido que vem sendo altamente trabalhado nos departamentos de planejamento e criação dos games, que utilizam-se da tecnologia háptica (figura 9). Ainda de acordo com Batey (2010, p. 124) “háptico significa aquilo que pertence ao sentido do tato, e a tecnologia 8 Escola Superior de Propaganda e Marketing 38 háptica se refere aos estímulos da pressão, textura, vibração e outras sensações relacionadas à sensação do toque”. Máquinas que vibram ou transmitem calor e frio são desenvolvidas para criarem uma relação mais fiel do cliente com o jogo, e assim, portanto, com a marca. Figura 9 - Videogames utilizando a tecnologia háptica. Fonte: www.nintendoblast.com.br O desenvolvimento de embalagens também se apropria bastante das propriedades táteis. Principalmente no ramo do varejo, após o consumidor ser seduzido pelo visual atraente do produto, o próximo passo será tirar esse produto da prateleira e tocá-lo. Quando em mãos, as propriedades táteis do produto começam a agir e influenciar a percepção que temos daquele produto e/ou marca. Empresas mais ousadas procuram ainda diferenciar seus produtos a ponto de o cliente reconhecê-los apenas pelo tato. Foi esse o caso da Coca-Cola. Batey (2010) explica que a garrafa clássica da marca, ondulada, foi resultado de um briefing simples, por volta de 1915, o qual dizia que a garrafa deveria ser diferente o bastante para ser reconhecida pelo tato. Logo ela se tornou um ícone, uma representação visual e tátil da real thing, a verdadeira Coca. Talvez por essa forte representação que a maioria dos consumidores acha que a Coca-Cola de garrafa tem um gosto melhor que a de lata. Quando a garrafa de Coca-Cola foi apresentada com sua forma, tamanho e peso diferenciados tornou-se um ícone instantâneo. À medida que a empresa abraçava nova tecnologia e adotava garrafas plásticas e latas de alumínio, as sensações táteis, tão fortemente associadas ao seu produto, caíam constantemente. Uma pessoa de olhos vendados não poderia dizer se o que ela segurava era uma garrafa de Coca ou qualquer outra marca de refrigerante. (LINDSTROM, 2007, p. 98) Embora nas embalagens o tato seja amplamente trabalhado, ainda não é apenas nela que os esforços são gastos. Os próprios produtos procuram se diferenciar nos 39 aspectos táteis. O tato há algum tempo está sendo usado para "texturizar" marcas. Na área da tecnologia, há como exemplo os computadores Mac, da Apple, que são reconhecidos até por não consumidores da marca, através do toque. Isso se dá pelo fato de os fabricantes terem a preocupação de fornecer uma textura única para as superfícies dos computadores, trazendo para si uma relação da textura com o status que a marca proporciona. O ramo automobilístico é outro que trabalha muito bem o poder do tato. Eles conseguiram transformar a textura do couro num sinônimo de status nunca visto antes. Para adquirir um carro com bancos e/ou volante de couro, o cliente terá que desembolsar algumas centenas de reais a mais. As propriedades táteis fazem a conexão com os significados simbólicos. Associamos as texturas dos tecidos e materiais usados nas roupas, nos lençóis e no estofamento dos carros com certas qualidades de produtos. Um tecido que é “macio como seda” tem um toque luxuoso. (BATEY, 2010, p. 123) Algumas marcas acreditam que a exposição de produtos no interior da loja promove esse desejo de tocar nas peças por parte dos clientes. Portanto, deixar os produtos ao seu alcance pode ser uma grande oportunidade de agradáveis experiências aos consumidores e novos negócios para a empresa. Empresas como a Contém 1g ou as lojas da HP, utilizam expositores específicos para os seus produtos, proporcionando uma experiência tátil com o consumidor (figura 10). Figura 10 - Expositores de produtos nas lojas da HP e Contém 1g, proporcionando o toque dos clientes. Fonte: Google Imagens Em espaços de venda de roupas, o toque também ocupa um lugar de grande importância. Para decidir a compra, o toque é essencial, por exemplo, ao escolher uma roupa. É através desse sentido que o cliente sente a textura, a qualidade e a maciez dos produtos. 40 4.5 MARKETING VISUAL A visão é o mais poderoso de nossos cinco sentidos. É através do visual que, geralmente, uma pessoa resolve se vai entrar ou não em uma loja, ou se vai pegar ou não um produto na prateleira. Para Lindstrom (2007, p. 31) “a visão é o mais sedutor de todos os sentidos. Muitas vezes ela anula os outros sentidos e tem o poder de persuadir-nos contra a nossa lógica”. Lindstrom (2007) ainda traz a informação de que segundo Geoff Crook, chefe do laboratório de pesquisas em design do Central Saint Martin’s College of Art and Design, de Londres, 83% das informações que as pessoas retêm foi adquirida visualmente. Não é por acaso que a maior parte dos esforços e investimentos dirigidos ao marketing das grandes empresas está intimamente ligado a esse sentido. Trabalhar com o marketing visual, portanto, significa trabalhar com todos os aspectos da empresa que atingem os olhos do cliente. A imagem do produto/serviço ou até mesmo do ponto de venda tem que ser condizente com a imagem que é passada através de toda a comunicação da empresa. Em uma loja, por exemplo, é planejado desde a sua arquitetura, a fachada, iluminação, até a disposição dos produtos. A iluminação do estabelecimento, por exemplo, deve ser compatível com o clima da loja, seja ele vibrante ou mais íntimo. Ela também deve ser planejada de forma a guiar a visão do consumidor por dentro do local. Segundo Geary (2001), estudos mostram que uma loja tem menos de sete segundos para captar a atenção de um transeunte no lado de fora. Uma loja bem identificada, com boa vitrine, mas com excesso de mercadorias poluindo visualmente a entrada não é convidativa para o consumidor. Da mesma forma, uma entrada limpa e arejada não garante o tráfego se o consumidor não tiver ideia da identidade da loja. (BERNARDINO, PACANOWSKI, KHOURY, & REIS, 2004, pp. 108-109) Outro ponto bastante importante no planejamento visual dos estabelecimentos, é o denominado visual merchandising, ou exibitécnica. Trata-se da melhor forma de apresentar a mercadoria em seu ponto de venda, envolvendo aspectos como imagem e ambiência, layout, vitrine, e até utilizam-se de materiais promocionais como sinalização, displays, entre outros. Os profissionais que trabalham nessa área estudam 41 psicologia, ergonomia 9 , e antropometria 10 , para elaborar seus projetos de acordo com o público-alvo de determinada empresa. Para Ferraciú (2007), é como se o profissional utilizasse a loja como uma extensão de veículo publicitário e promocional, transformando ela num meio de comunicação com oconsumidor, no momento crítico em que a decisão de compra está sendo tomada. O profissional ainda identifica, por exemplo, as melhores zonas da loja para a disposição das mercadorias mais importantes, assim como a melhor forma de fazer o cliente percorrer dentro do estabelecimento, dando a devida importância para determinados produtos dispostos. Do ponto de vista estético, o visual merchandising bem realizado cria uma impressão favorável e memorável, simplifica o processo de compra, induz o consumidor a comprar mais e a retornar, facilita o trabalho dos vendedores e torna a loja um local divertido e estimulante para se comprar e para se trabalhar. Do ponto de vista técnico, o visual merchandising eleva a produtividade da loja, o giro do estoque, as vendas por metro quadrado e as vendas de mercadorias mais rentáveis, aumenta o tíquete médio e reduz a necessidade de remarcação e liquidações. (BERNARDINO, PACANOWSKI, KHOURY, & REIS, 2004, p. 107) A cor é outro determinante do marketing visual. Os variados tons que existem podem, comprovadamente, estimular o psicológico das pessoas, assim como podem, segundo Batey (2010), influenciar as percepções de propriedades de produtos como o gosto, por exemplo. A cor pode transmitir também sensações de calor, frio, sabor, peso, odor, acidez, etc. “Numa pesquisa realizada sobre essa questão, um café servido numa caneca amarela foi percebido como fraco, numa caneca azul foi percebido como suave, numa caneca vermelha foi percebido como rico em sabor e numa caneca marrom como forte demais.” (BATEY, 2010, p. 107). Uma marca que conseguiu trabalhar bem a cor em suas abordagens foi a Tiffany & Co., uma empresa norte-americana do ramo de comércio de joias (figura 11). A coloração azul turquesa faz parte da proposta central de marketing, que procura criar uma memória e identificação forte com a marca 11 . As caixinhas de presente, que são envolvidas por uma fita branca já se tornaram um ícone da loja, assim como a sacola, que é altamente identificável por onde quer que passe. Nos EUA, a cor está 9 Ciência que estuda a organização do trabalho no qual existe interações entre seres humanos e máquinas. 10 Ciência que estuda e avalia as medidas de tamanho, massa e proporções do corpo humano. 11 Ver site da Tiffany & Co., que também trabalha de forma bem característica a abordagem da cor turquesa em todo o seu design, em <http://www.tiffany.com/> acessado em 28/11/2013 42 inseparavelmente ligada aos conceitos de estilo, elegância e qualidade, que a marca transparece. Figura 11 - Azul turquesa como cor referência da marca Tiffany & Co. Fonte: Google Imagens Vale ressaltar que a utilização das cores também é influenciada pela cultura de cada país. Exemplo disso é que a cor branca no mundo ocidental normalmente é usada para representar o casamento, a pureza. Já na China, por exemplo, é utilizada em velórios e em momentos de luto. Outro exemplo é que na região de Istambul, cidade sede dos times de futebol Galatasaray e Fenerbahce, que possuem uma rivalidade fora do comum, as lanchonetes do McDonalds abriram uma exceção e são nas cores amarelo e preto 12 . Isso aconteceu porque o vermelho e amarelo, combinação de cores que estampa a marca, é exatamente a mesma de um dos times, o Galatasaray, o que não deixaria os torcedores do Fenerbahce nem um pouco à vontade para entrarem nas lanchonetes. 12 Ver matéria publicada no portal online da ESPN Brasil em <http://www.espn.com.br/post/305932_a-rivalidade-que-obrigou-o-mcdonalds-a-esconder- suas-cores> acessado em 20/11/2013 43 5. ESTUDO DE CASO: FARM 5.1 SOBRE A FARM A história da FARM começou em 1997, no Rio de Janeiro, mais precisamente na Babilônia Feira Hype – evento que reunia marcas alternativas. Era nessa feira, frequentada por clientes antenadas e formadoras de opinião com estilo, e berço de uma nova forma de consumo de moda, que os empresários Marcello Bastos e Kátia Barros possuíam alguns espaços para exposição de suas roupas, que eram produzidas pela própria Kátia. Quando perceberam que o negócio ia bem e estava crescendo, a dupla decidiu apostar na abertura da primeira loja da FARM, em 1999, no posto 6, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. Atualmente, a empresa conta com mais 40 lojas distribuídas em 16 estados brasileiros, uma loja virtual, uma linha Home (linha de utensílios para casa, figura 12), uma fábrica própria com mais de 6mil m², uma marca infantil (figura 13), além de diversas parcerias com outras marcas. Apesar de todas essas conquistas, o sucesso da FARM reside em algo muito menos complexo: no desejo pelo estilo de vida (ou lifestyle) da menina carioca. Figura 12 - Linha Home da FARM. Fonte: www.farmrio.com.br Figura 13 - Marca infantil feminina da FARM, a Fábula. Fonte: www.farmrio.com.br 44 É nas estampas, cores e na descontração que a FARM encanta mais e mais clientes a cada dia. “Marcello Bastos e Kátia Barros conseguiram interpretar, como ninguém, quem é a garota-carioca-zona sul, ponto de partida que inspirou o fenômeno da moda balneário”. (FARM RIO). Bastos (apud ARAUJO, GALVÃO, & VILARDO, 2010), comenta que a FARM faz roupa para a menina carioca, que gosta de sol, de ir à praia, e não gosta de salto alto. Trata-se de uma garota descolada, praiana e romântica (figura 14). Figura 14 - Linha de roupas FARM, sempre retratando o estilo praiano da mulher carioca. Fonte: www.farmrio.com.br A FARM entra então no mundo da moda como sinônimo autêntico da moda carioca. E para construir essa força, a marca não investe em campanhas para o grande público, nem em desfiles nas semanas de moda, mas sim, foca seus esforços na experiência da cliente na loja e no relacionamento com a marca. “Nossa estratégia de comunicação é diferente. Ela é voltada para o relacionamento direto com a cliente – nas redes sociais, na loja, nos eventos”, comenta André Carvalhal, diretor de marketing da FARM, em entrevista ao Blogazine (SANTOS, 2013). Apesar de recente, FARM possui hoje diversas marcas parceiras, como a Havaianas, Pantone, Converse, JRJ, Adidas ou Colorama, que contemplam em seus catálogos, produtos, muitas vezes, feitos exclusivamente para as lojas FARM. São os chamados produtos co-branded, que retratam o estilo de ambas as marcas (figura 15). Nas lojas pode-se encontrar, por exemplo, coleções de sandálias Havaianas feitas especialmente para a rede FARM, com as estampas da coleção. 45 Figura 15 - Marcas parceiras da FARM, e produtos feitos exclusivamente para a marca. Fonte: www.farmrio.com.br Dentre as concorrentes da marca, destacam-se marcas como a LeeLoo, Maria Filó, Xsite, Eclectic, Dress To, Oh Boy, que compartilham características similares em seus produtos como a riqueza de detalhes, estampas marcantes e tanto peças para o dia- a-dia quanto peças mais sofisticadas para as saídas noturnas. As plataformas mais utilizadas pela marca para comunicar-se com suas clientes são através da rede e nos meios digitais, tendo como exemplo o blog adoro! 13 , o blog de moda feminina mais acessado do Brasil. Diariamente ele recebe por volta de 50 mil visualizações por dia. A marca utiliza-se também das redes sociais para conversar com as consumidoras. Atualmente a página do facebook 14 da marca possui mais de 1,6 milhões de fãs, e a página do twitter 15 , mais de 46 mil seguidores. Mais recentemente a marca criou sua conta na rede do instagram 16 também, mostrando sempre
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