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* Engenheiro Mecânico Universidade Federal de Minas Gerais Email: giovane.junior@outlook.com MINI E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA NO BRASIL: perspectivas para a matriz energética após resolução normativa 482/2012 Giovane Leal de Azevedo Junior* RESUMO Este artigo visa avaliar o impacto da regulação da mini e microgeração distribuída na matriz energética brasileira após a divulgação da Resolução Normativa 482/2012 da ANEEL, que estabeleceu o sistema de compensação de energia elétrica, que permite que pequenos geradores se conectem à rede elétrica. Com isso é esperado um aumento da geração distribuída no país e algum impacto na matriz energética, principalmente em relação às fontes renováveis. Foram analisados os sistemas solares fotovoltaicos, eólicos e térmicos. Verificou-se que todos sistemas apresentaram crescimento desde 2012, com destaque para o sistema solar, entretanto nenhum dos sistemas ainda impacta significativamente a matriz energética do país, dada a pequena capacidade instalada dentro da matriz energética elétrica. Os sistemas solares fotovoltaicos são os mais promissores para suprir futuramente uma parcela significativa da demanda do Brasil. Palavras-chave: Geração distribuída. Matriz energética brasileira. Energia eólica. Energia solar fotovoltaica. 1. INTRODUÇÃO A geração distribuída (GD), também chamada de geração descentralizada, não é um conceito novo e existem diversas definições na literatura. É uma abordagem que tem ganhado destaque atualmente como alternativa para prover energia elétrica para o sistema elétrico de um país. Ela pode ser caracterizada pela instalação e operação de pequenas centrais geradoras de energia elétrica, que produzem a partir de fontes limpas e próximas ao cliente que usará a energia. A sua característica descentralizada pode ser útil em certos locais devido a não necessidade de investimentos massivos em sistemas de transmissão. Operacionalmente, ainda contam com menores perdas de distribuição e melhor qualidade de energia, contribuindo com continuidade e confiabilidade do sistema (EL-KHATAN; SALAMA, 2004). No Brasil, um dos primeiros marcos para o crescimento da GD foi o estabelecimento dos dispositivos legais que permitam que pequenos geradores se conectem à rede de distribuição. A regulação básica para isso foi a Resolução Normativa nº 482 de 17 de abril de 2012, que estabelece as condições gerais para tal conexão e criou o sistema de compensação de energia elétrica, que permite que a energia injetada na rede seja utilizada posteriormente. Essa regulação é um incentivo importante para o incremento de geração de pequeno porte a partir de fontes renováveis, contribuindo para uma maior participação dessas fontes na matriz energética no país, tendência já verificável em diversos países (ANEEL, 2014). Diante desse dispositivo legal que regulamenta a GD no país é esperado um aumento de fontes renováveis de pequeno porte injetando energia elétrica no sistema de distribuição do país. A questão principal que se deseja analisar é o impacto desse incremento de energia gerada sobre a matriz energética do país. Será que a matriz energética brasileira e suas perspectivas foram alteradas de forma significativa após a regulamentação nos termos da RES 482/2012? Portanto, esse trabalho visa analisar a matriz energética brasileira e a participação da GD desde que a RES 482/2012 foi divulgada até o momento atual e analisar quais as contribuições desse dispositivo para a geração de energia do país e quais os impactos que foram verificados na matriz energética brasileira. Ainda pretende-se comparar o cenário do Brasil com outros países mais avançados nesse tema, como países da Europa. Diante dessa tendência de aumento da participação das fontes renováveis na matriz energética, o estabelecimento da RES 482/2012 e do sistema de compensação de energia elétrica é um potencial incentivo para esse fim. Diante do exposto, esse trabalho se justifica porque irá analisar o impacto da regulamentação da GD sobre a participação de fontes renováveis na matriz energética do Brasil. Pretende-se concluir se a regulamentação contribuiu ou não para esse objetivo e o que é esperado nos próximos anos para a matriz energética brasileira. Para esse trabalho propõe-se uma pesquisa bibliográfica de natureza exploratória com método indutivo. Será adotada uma abordagem quantitativa, com indicadores, números e informações obtidas de balanços oficiais divulgados pelo governo ou agências (e.g. ANEEL) e também de livros, artigos, monografias, dissertações e teses de especialistas na área, publicados em editoras, universidades, jornais, anais e periódicos conceituados. As informações obtidas serão organizadas em tabelas e/ou gráficos para auxiliar nas análises, comentários e conclusão sobre o que foi encontrado nos textos consultados. 2. GERAÇÃO DISTRIBUÍDA O Brasil possui 4.524 empreendimentos de geração de energia em operação, totalizando uma potência instalada de cerca de 144 GW. Para os próximos anos é previsto uma adição de cerca de 27 GW proveniente de novos empreendimentos (ANEEL, 2016a). Esse aumento na geração visa atender à crescente demanda de energia, que está relacionada ao crescimento da população e desenvolvimento tecnológico do país. Entretanto, desenvolvimento de grandes centrais geradores e linhas de transmissão, tem se tornado menos interessante devido a dificuldades de financiamento e impactos ambientais (DIAS, 2005). Diante desse cenário, a Geração Distribuída (GD) tem ganhado espaço como alternativa viável para atender a essa demanda. Como já verificado anteriormente, a GD não é um conceito novo e, no Brasil, já existe uma quantidade considerável de plantas operando em GD, sendo em sua maioria unidades de cogeração. Essas unidades geram energia operando conjuntamente com outros processos, que geralmente estão ligados a atividades agroindustriais, das indústrias de exploração de petróleo e gás e do refino do alumínio e papel (EPE apud PEREIRA et al, 2015). Entretanto vale destacar que essas operações de GD já utilizadas há algum tempo no Brasil são de porte maior do que as do público de interesse desse trabalho, que são consumidores interessados em se tornar pequenos geradores de energia, sejam pessoas físicas ou jurídicas. Esses pequenos consumidores e/ou investidores, passaram a ter um meio de acesso a rede elétrica da distribuidora local após a divulgação de uma regulação para esse processo e foram caracterizados como mini ou microgeradores de acordo com a capacidade de geração instalada, o que será detalhado nesse item. Na Europa, o setor de energia elétrica está passando por importantes mudanças em resposta a três objetivos definidos pela União Europeia em sua atual política de energia: sustentabilidade ambiental, segurança no fornecimento e competitividade. A GD na Europa tem passado por um acelerado crescimento, devido ao seu potencial em atingir esses objetivos, principalmente por sua natureza descentralizada e baixo impacto ambiental. Também é verificado que apesar do crescimento da GD na Europa, diversos problemas técnicos devem ser solucionados de modo a permitir a integração das plantas de GD nas redes de distribuição. Além dos aspectos técnicos, também são citados aspectos comerciais e regulatórios sobre esse assunto. Os autores reforçam a importância de políticas e instrumentos regulatórios apropriados para suportar a integração da GD nas linhas de distribuição (FERREIRA et al., 2011). Devido a essa importância e necessidade de uma regulação para a geração distribuída,a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), divulgou em 17 de abril de 2012 a resolução normativa nº 482/2012, que estabelece as condições gerais para o acesso de geração distribuída aos sistemas de distribuição e o sistema de compensação de energia elétrica. Essa resolução classifica as unidades de geração distribuída de acordo com sua potência instalada, sendo nomeadas de microgeração distribuída as unidades com potência de até 75 kW e minigeração distribuída as unidades com potência superior a 75 kW até 3 MW para fontes hídricas e até 5 MW para cogeração qualificada ou demais fontes renováveis. Essa classificação passou a vigorar a partir 1° de março de 2016, conforme a resolução normativa nº 687/2015 que alterou a resolução nº 482/2012 (ANEEL, 2015). Com o aumento de demanda por energia elétrica esperado para os próximos anos e as devidas regulações que possibilitam a aplicação da GD, é esperado um aumento da participação de energias renováveis na matriz energética brasileira, diversificando e trazendo maior segurança e disponibilidade no fornecimento. A GD também conta com investimentos mais pulverizados e menores impactos ambientais, quando comparados às grandes centrais geradoras. 3. SISTEMA DE COMPENSAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA O Sistema de Compensação de Energia Elétrica é uma inovação trazida pela resolução nº 482/2012, que na nova redação dada pela resolução nº 657/2015 (p. 2) é definido como: Sistema no qual a energia ativa injetada por unidade consumidora com microgeração ou minigeração distribuída é cedida, por meio de empréstimo gratuito, à distribuidora local e posteriormente compensada com o consumo de energia elétrica ativa (ANEEL, 2015, p. 2). Dessa forma, a rede da distribuidora funciona de forma análoga a uma bateria, armazenando a energia produzida em excesso para uso posterior (empréstimo gratuito). O prazo para utilização do crédito de energia foi aumentado de 36 meses para 60 meses com a publicação da resolução nº 657/2015, sendo mais uma vantagem competitiva para os investidores que pretendem aderir à GD. Para essa contabilização da energia “emprestada” ao sistema é necessária uma adequação do sistema de medição, permitindo que sejam realizadas medições bidirecionais, ou seja, medições de quanta energia foi utilizada da distribuidora local e de quanta energia foi injetada nessa mesma rede. Quando energia injetada for maior que a consumida, o consumidor recebe créditos de consumo, que podem ser utilizados posteriormente tanto na mesma unidade quanto outras unidades dentro da mesma área de concessão previamente cadastradas. Se a energia injetada for menor que a utilizada, o consumidor paga apenas a diferença. Os custos relativos às adequações são devidos a quem está implantando uma unidade de geração distribuída, mas os custos de operação e manutenção são de responsabilidade da distribuidora acessada. O sistema de compensação de energia elétrica e o sistema de medição bidirecional é apresentado esquematicamente na Figura 1 (ANEEL, 2016b). Figura 1 – Representação esquemática do Sistema de Compensação de Energia Elétrica. Fonte: ANEEL, 2016b, p.16. Para os participantes do sistema de compensação de energia elétrica, é dispensável os contratos que os qualifiquem como centrais geradoras, sendo necessário apenas um acordo operativo. A análise do custo/benefício e busca de financiamentos para a implantação da unidade geradora são de total responsabilidade do consumidor. Outro fator importante a se considerar é a incidência de impostos nas unidades com GD. No caso do ICMS que é um imposto estadual, era aplicado sobre toda a energia consumida, desconsiderando o quanto de energia foi injetada. Assim, mesmo que o consumidor injetasse mais energia do que consumisse, a cobrança do ICMS seria válida pela energia consumida, prejudicando a viabilidade financeira do projeto. Esse cenário mudou em 2015, com a publicação do Convênio ICMS 16/2015, no qual todos estados que aderiram, passaram a aplicar o ICMS somente sobre a diferença positiva entre energia consumida e energia injetada (ANEEL, 2016b). Portanto, verifica-se que esse sistema é uma das principais novidades trazidas pela RES 482/2012. Com o estabelecimento desse sistema, os mini e microgeradores podem gerar em parte ou até mais energia do que precisam, sem ter a necessidade de associar a sua operação aos horários de geração, pois caso essa geração cesse, a distribuidora supre sua demanda. Isso é uma característica comum em sistemas solares e eólicos que dependem de fatores climáticos para gerar energia. Essa flexibilidade de geração e inexistência de um sistema de baterias para armazenamento da energia gerada em excesso, é uma vantagem competitiva que pode estimular pequenos consumidores a investir em sua própria unidade de geração. 4. UNIDADES DE MINI E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA Os sistemas de geração distribuída podem utilizar fontes diversas para gerar energia. As fontes mais comuns no Brasil, consideradas para estudo nesse trabalho são unidades fotovoltaicas, eólicas e termelétricas. Em alguns casos, ainda é possível sistemas híbridos que utilizem duas fontes simultaneamente. Essas principais fontes e seus principais aspectos são detalhados nos próximos itens. 4.1. Unidades Fotovoltaicas Um dispositivo fotovoltaico é um elemento capaz de converter diretamente a energia da radiação solar em energia elétrica. Para isso são utilizadas células fotovoltaicas, fabricadas em material semicondutor que são agrupados em série e/ou paralelo dependendo dos níveis de tensão que se deseja obter. Quando os painéis são conectados à rede para a GD, eles são ditos como trabalhando de forma conectada, e nesse caso é necessário o uso de inversores que transformam a corrente contínua produzida no painel e corrente alternada adequada para a rede da distribuidora local (BRANDÃO, D.I.; MARAFÃO, F.P.; VILLALVA, M.G., 2012). O Brasil é um país com grande potencial para esse tipo de energia. Um estudo recente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), calculou o potencial de energia fotovoltaica do país em cerca de 287 GWh/ano, que representa praticamente o dobro do consumo do país. Apesar de muito improvável a exploração de todo esse potencial, esse número mostra que além de uma possível forma de suprir a demanda do país a energia fotovoltaica não está limitada pela área no caso de massiva expansão dos sistemas distribuídos (EPE, 2014a). A geração fotovoltaica é vista pela EPE como a fonte mais promissora para o Brasil em termos de mini e microgeração distribuída. Essa fonte começou a ser utilizada no país com o objetivo de atender instalações remotas e isoladas da rede de distribuição, principalmente pelo Programa de Desenvolvimento Energético de Estados e Municípios (PRODEEM), que instalou uma potência de cerca de 5 MWp em aproximadamente 7.000 comunidades em todo país. Em 2011 a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) realizou uma chamada de projetos com foco em energia fotovoltaica, em que 17 projetos foram aprovados para serem instalados em diversas regiões do país até 2015, totalizando 24,6 MWp e um investimento de cerca de R$ 396 milhões (EPE, 2014b). De fato, pode-se verificar um aumento expressivo no número de instalações fotovoltaicas conectadas na rede, quando comparadas anualmente, a partir de 2012. Na Figura 2, é apresentado um gráfico como as informações da planilha obtida no Banco de Informações de Geração no site da ANEEL. As informações foram consolidadas a partir da potência instalada por consumidor e a respectiva data de instalação. Foramanalisadas um total de 4.050 unidades conectadas na rede e 5 unidades foram excluídas da análise devido a data de conexão informada estar incoerente com o período desde a RES 814/2012, considerando esses casos como prováveis falhas de preenchimento das informações. Figura 2 – Gráfico da evolução anual das unidades com mini e microgeração fotovoltaica conectadas à rede. Fonte: Elaborada pelo autor a partir de informações de ANEEL, 2016a *No ano de 2016 só há informações até JUL/16. 2012 2013 2014 2015 2016* Número de Conexões 3 55 329 1604 4050 Potência Instalada 0,4 1,7 5,3 14,6 32,0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0 P o tê n ci a So la r In st al ad a M in i e M ic ro ge ra çã o ( M W p ) Evolução Potência Instalada e Conexões (2012 a JUL/2016) Pode-se observar pelo gráfico que o número de instalações fotovoltaicas conectadas na rede tem experimentado um crescimento acentuado, principalmente a partir de 2014. O relatório síntese da EPE de 2016, ano base 2015, foi o primeiro a divulgar informações estatísticas sobre a mini e microgeração distribuída. Nesse relatório é informado a capacidade instalada de geração solar em 13,3 MW, sendo um número 10% menor que o obtido pelas informações da ANEEL. Assume-se essa distorção aceitável a título de análise e provavelmente está associada a algumas inconsistências nas bases analisadas. Apesar do ano de 2016 não estar completo, já é possível verificar que só no primeiro semestre de 2016, o número de unidades conectadas foi maior que a soma de todas as unidades conectadas de 2012 a 2015 (EPE, 2016). 4.2. Unidades Eólicas A energia eólica é proveniente dos ventos e já sua utilização para moagem de grãos e bombeamento de água é o seu uso mais antigo. Mais recentemente, ela tem sido utilizada para geração de energia elétrica, por meio de turbinas eólicas ou aero geradores que transformam a energia cinética dos ventos em energia elétrica. Esses equipamentos são compostos basicamente por uma torre de sustentação, um gerador elétrico e um conjunto de pás. A energia eólica é uma fonte renovável e não gera quase nenhum impacto ambiental. Suas principais desvantagens são os elevados investimentos e poluição visual e sonora. A Figura 3 mostra os principais componentes de uma turbina eólica (MAGALHÃES, 2009). Figura 3 – Principais componentes de uma turbina eólica. Fonte: Brizon, et al, 2012 apud FEAM, 2013 p.11. Até junho/2016 existiam um total de 62 unidades de mini e micro geração distribuída registradas na Aneel e utilizando o sistema de compensação de energia elétrica. A Tabela 1, mostra a evolução das instalações de microturbinas após a RES 482/2012. Percebe-se que o ano de 2015 foi o de maior expansão dessa fonte de energia, elevando a potência instalada a um patamar praticamente 4 vezes maior que o ano de 2014. O mesmo não é observado em 2016, em que o crescimento dessas instalações está relativamente menor, apesar de ter dados somente até julho/2016, que foi a data da consulta à relação de micro e minigeradores distribuídos (ANEEL, 2016c). Tabela 1 – Evolução das instalações eólicas de micro e minigeradores. Fonte: Elaborada pelo autor a partir de informações de ANEEL, 2016c Ano Número de Unidades Conectadas Potência Instalada Total (MW) 2013 10 0,03 2014 18 0,05 2015 54 0,20 2016* 62 0,23 Comparando a evolução dessa fonte de energia em relação a energia solar, percebe-se que o crescimento dessa fonte é muito mais discreto, não atingindo nem 0,25 MW de potência instalada, enquanto as unidades fotovoltaicas já acumulam cerca de 32 MWp de geração com cerca de 4.050 geradores registrados. 4.3. Unidades Termelétricas Os sistemas termelétricos de forma geral utilizam energia térmica para a geração de energia elétrica. Para essa conversão, utiliza-se uma máquina térmica, que converte energia térmica em energia de eixo, que é utilizada para girar um gerador de energia elétrica. Diversas máquinas térmicas podem ser utilizadas, e a decisão pelo tipo a se utilizar geralmente é norteado por escolhas técnico-econômicas dependendo da disponibilidade de combustível e sinergia com outros processos, sendo as mais comuns: motores de combustão interna, microturbinas e turbinas a vapor. As microturbinas são vistas com um futuro promissor para a GD devido a suas vantagens em relação a outras máquinas térmicas, como tamanho e peso relativamente menores, eficiência elevada (mais que 80%), baixa emissão de gases poluentes (menos que 10 ppm de NOx), fáceis de operar, baixo custo de manutenção e menores custos de aquisição. Elas podem funcionar com diversos combustíveis, como gás natural, propano, diesel etc e em geral são fabricadas com potências nominais de 20 a 500 kW (EL-KHATAN; SALAMA, 2004). No Banco de Informações de Geração (BIG) da ANEEL, existem registradas apenas 24 unidades de micro e minigeração a partir de fontes térmicas, somando uma potência instalada de 4.430 kW. Na Tabela 2, são apresentadas as informações consolidadas das 4 fontes principais utilizadas no Brasil. Vale ressaltar que a fonte solar nesse caso não utiliza placas fotovoltaicas e sim a radiação solar como fonte de aquecimento para gerar energia por meio de uma máquina térmica. Tabela 2 – Resumo da micro e minigeração distribuída térmica por tipo de fonte. Fonte: Elaborada pelo autor a partir de informações de ANEEL, 2016c. Fonte Quantidade de Unidades Potência Instalada (kW) Participação % Biogás 19 2.172 49,0% Diesel 2 1.250 28,2% Casca de Arroz 1 1.000 22,6% Solar 2 8 0,2% Total 24 4.430 100,0% Pode-se verificar que o biogás é responsável por quase metade da potência instalada, porém com o maior número de unidades, levando a conclusão que a maioria das aplicações desse tipo são de porte menor quando comparada com outras unidades térmicas. Também é verificado na base de dados obtida que na maioria dessas unidades, o biogás utilizado é obtido a partir de resíduos animais, urbanos e agroindustriais. Isso demonstra que esse tipo de geração é normalmente utilizado em sinergia com outros processos, aproveitando os rejeitos para gerar energia e contribuir para um aumento da eficiência global desses processos. O mesmo pode ser concluído da geração a partir de casca de arroz. 5. MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA E PARTICIPAÇÃO DA MINI E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA Com o objetivo de avaliar os impactos do crescimento da mini e microgeração distribuída na matriz energética brasileira, é importante se conhecer essa matriz. Nesse artigo será avaliada a matriz energética elétrica, divulgada pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia do Brasil, em seus relatórios anuais que consolidam o quanto e de que forma a energia foi utilizada no país. Nas Figuras 4 e 5 são apresentadas as matrizes elétricas no Brasil entre os anos de 2012, em que foi divulgada a RES 482/2012, e o ano de 2015. Figura 4 – Matriz elétrica brasileira nos anos de 2012 e 2013. Fonte: EPE,2014. Figura 5 – Matriz elétrica brasileira nos anos de 2014 e 2015. Fonte: EPE, 2016. Analisando a matriz energética elétrica brasileira, pode-se perceber uma grande dependência da fonte hidráulica. Em 2015, 64% da energia elétrica utilizada foi gerada a partir de hidrelétrica. Apesar de ser uma fonte renovável, é uma fonte que gera impactoambiental na sua construção, devido a necessidade de represar corpos hídricos. A dependência de apenas um tipo de fonte apresenta certos riscos ao país, visto que se algum fator externo prejudicar essa geração o país pode ter seu abastecimento de energia comprometido. No caso das fontes hidráulicas, o fator externo de maior influência na capacidade de geração é a meteorologia. Diante desse cenário, é interessante para um país, diversificar sua matriz energética. De acordo com o observado nas Figuras 4 e 5, percebe-se que o Brasil está apresentando uma tendência de queda no uso das fontes hidráulicas para suprir a demanda interna. Enquanto em 2011, 76,9% da energia utilizada foi gerada a partir de fontes hidráulicas, em 2015 esse número reduziu para 64%. Também é verificado um aumento nas fontes que utilizam sistemas térmicos para geração de energia, como derivados de petróleo, gás natural e biomassa. Parte dessa mudança observada na matriz elétrica se dá pelas condições desfavoráveis de geração hidráulica enfrentadas no Brasil nos anos de 2014 e 2015, com baixos níveis dos reservatórios devido a estiagens incomuns. Com isso, usinas termelétricas tiveram que ser utilizadas para suprir essa demanda e com isso aumentando a participação dessas outras fontes de natureza térmica. Isso foi um dos motivos do estabelecimento das bandeiras tarifárias, que indicam na conta de energia do consumidor final, as condições de geração do país. Em situações de reservatórios cheios e, portanto, disponibilidade de geração hidráulica, os custos de geração são menores e não resulta em acréscimos na conta de energia. Quando há necessidade de se utilizar uma parte de fontes térmicas para geração, há acréscimos na conta de energia, sinalizados pelas bandeiras amarela e vermelhas (ABRADEE, 2014). Analisando-se a evolução da energia eólica na matriz elétrica brasileira, percebe-se também um grande avanço entre 2012 e 2015, passando de uma participação de 0,9% para 3,5%. Pode-se concluir que todo esse aumento de participação foi devido a investimentos em centrais geradoras de grande porte, pois conforme analisado na Tabela 1, a geração distribuída tem uma capacidade instalada desconsiderável quando comparada com a capacidade de geração eólica do país. O relatório anual da EPE divulgou uma capacidade instalada de 7.633 MW de geração eólica em 2015, enquanto a capacidade instalada de mini e microgeração distribuída eólica foi de apenas 0,2 MW (EPE, 2016). Em relação a energia fotovoltaica, é verificado que ela só começou a ser contabilizada a partir de 2014, ainda que suas contribuições em 2014 e 2015 tenha sido praticamente desconsideráveis (e.g. 0,01% em 2015). Apesar disso, é interessante notar que no caso da geração fotovoltaica, uma grande parcela da potência instalada é devido a mini e microgeração distribuída. Isso pode ser verificado no relatório da EPE ano base 2015, em que foi contabilizada uma capacidade instalada de geração distribuída de 13,3 MW e mais uma parcela referente a outras plantas solares de 21 MW. Portanto em 2015, cerca de 39% da capacidade solar foi pela geração distribuída (EPE, 2016). Essa participação da geração distribuída na capacidade instalada solar do país tende a aumentar em 2016. Apesar das informações analisadas para o ano de 2016 estarem atualizada até julho de 2016, pode-se ter prévia do que é esperado. O banco de informações de geração (BIG) da Aneel, em julho, contabilizada cerca de 23 MW de potência solar instalada, não contabilizando a mini e microgeração distribuída, mostrando um aumento de cerca de 9,5% em relação a 2015. Analisando a relação de mini e microgeradores no mesmo período de referência, também no BIG, têm-se uma potência solar instada de 32 MWp. Essa informação também está apresentada na Figura 2 (ANEEL, 2016a). Portanto, pode-se verificar que para 2016 já é esperada uma participação em capacidade instalada de mini e microgeração distribuída maior que a capacidade de plantas solares de grande porte. As unidades solares tem sido as com maior êxito em adesão ao sistema de compensação de energia elétrica. Esse crescimento está relacionado ao grande potencial solar do Brasil e das vantagens das placas solares, como facilidade de instalação e baixos custos de manutenção. Devido às instalações serem modulares, os níveis de investimentos também ficam flexíveis, permitindo o investidor de pequeno porte a instalar a quantidade de placas adequadas à sua área disponível e seu orçamento. Esse grande crescimento das instalações fotovoltaicas em geração distribuída já era esperado por especialistas. Em previsões da EPE, é esperado um crescimento expressivo da geração distribuída solar nos próximos 35 anos. Até 2020, é esperado um consumo de energia suprido pela fonte solar de cerca de 700 GWh. Para 2030 é esperado 13,3 TWh e para 2050 103,3 TWh. Em 2015, o consumo divulgado pela EPE foi de 59 GWh. Considerando a evolução de demanda instalada de 2012 até julho de 2016, pode-se concluir que essa previsão pode ser atingida caso o crescimento se mantenha na mesma ordem de grandeza (EPE apud PEREIRA et al, 2015). Analisando o avanço internacional da fonte da geração fotovoltaica, pode-se verificar também um crescimento acentuado nos últimos anos. A Agência Internacional de Energia, divulgou que em 2010 a capacidade instalada mundial de geração solar era de 35 TW. Essa capacidade está concentrada em poucos países. Em 2010 essa capacidade estava instalada em 49,7% pela Alemanha, 11,2% pela Espanha, 10,4% pelo Japão 10,0% pela Itália, 7,2% pelos EUA e os outros 11,5% restantes entre os demais países. A Figura 6, demonstra esse crescimento da fonte solar no cenário mundial e ainda mostra qual a participação entre as unidades que estão isoladas e as que estão conectadas à rede (i.e. funcionando como unidades geradoras distribuídas). Pode-se verificar que além do acentuado crescimento da capacidade acumulada, também há um grande avanço na capacidade conectada à rede, sendo cerca de 97% em 2010 (IEA, 2011 apud EPE, 2012.). Figura 6 – Evolução da capacidade mundial em geração fotovoltaica. Fonte: IEA, 2011 apud EPE, 2012. Diante do exposto, pode-se verificar que a geração distribuída tem potencial para suprir parte da demanda da energia do país, sendo a fonte de maior destaque, a solar fotovoltaica. Ainda que essa fonte não seja significativa na matriz energética do país atualmente, a previsão é otimista para os próximos anos em ela pode suprir uma demanda mais considerável da energia do país. As fontes térmicas e eólicas, tem um avanço muito discreto e por isso não foram comparadas dentro da matriz elétrica total, sendo verificada tão somente os seus respectivos crescimentos desde 2012 em que foi estabelecido o sistema de compensação de energia elétrica pela RES 482/2012. 6. CONCLUSÕES Esse artigo estudou os efeitos do marco regulatório da RES 482/2012, que estabeleceu o sistema de compensação de energia elétrica, o que permite que pequenos geradores possam se conectar à rede elétrica. Com isso era esperado um avanço na capacidade de geração do país, interferindo na matriz energética elétrica do país. Baseado nas análises realizadas com dados das fontes consultadas, pode-se concluir que a RES 482/2012 não teve efeito significativo na matriz energética elétrica brasileira, embora o número de adesões a esse sistema tenha apresentado uma forte tendência de crescimento. Os sistemas baseados em geração solar fotovoltaica, foram os que apresentaram o maior crescimento em adesões e capacidade instalada. É esperado pelos especialistas um forte crescimentodessa fonte para os próximos anos. Além do potencial de geração solar do país ser elevado, esses sistemas são modulares e, portanto, mais flexíveis quanto ao dimensionamento, sendo uma vantagem competitiva para pequenos geradores. Os sistemas térmicos e eólicos, apesar de apresentarem um crescimento relativo elevado entre os anos de 2012 e 2016, a capacidade instalada total desses sistemas representa um valor praticamente nulo quando inseridos na matriz energética elétrica nacional. Sugere-se para trabalhos futuros, uma atualização dos indicadores desse trabalho após a divulgação do relatório da EPE ano base 2016 ou posterior, comparação das previsões com o cenário realizado e verificação da situação das fontes não detalhadas nesse trabalho, por terem muito poucas adesões ao sistema de compensação de energia elétrica no momento da coleta de dados, as unidades hídricas e sistemas híbridos. REFERÊNCIAS ABRADEE, – Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica. Bandeiras Tarifárias, 2014. Disponível em <http://www.abradee.com.br/arquivos/bandeiras- tarifarias-2016.zip> Acesso em agosto de 2016. ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). BIG - Banco de Informações de Geração, Capacidade de geração do Brasil. Disponível em <http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm> Acesso em julho de 2016a. ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Cadernos Temáticos ANEEL, Micro e minigeração distribuída: sistema de compensação de energia elétrica – Brasília, 2014. ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Cadernos Temáticos ANEEL, Micro e minigeração distribuída: sistema de compensação de energia elétrica. 2ª Edição – Brasília, 2016b. ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Relação de Micro e Minigeradores Distribuídos. Disponível em <http://www.aneel.gov.br/arquivos/Excel/Micro_Minigeracao_ANEEL.xls> Acesso em 31 de julho de 2016c. ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Resolução normativa nº 482/2012 de 17 de abril de 2012. Disponível em <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2012482.pdf> Acesso em junho de 2016. ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Resolução normativa nº 657/2015 de 24 de novembro de 2015. Disponível em <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2015687.pdf> Acesso em junho de 2016. BRANDÃO, D.I.; MARAFÃO, F.P.; VILLALVA, M.G. 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