Buscar

Artigo Giovane Leal de Azevedo Junior MINI E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA NO BRASIL

Prévia do material em texto

* Engenheiro Mecânico 
Universidade Federal de Minas Gerais 
Email: giovane.junior@outlook.com 
MINI E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA NO BRASIL: perspectivas para a 
matriz energética após resolução normativa 482/2012 
 
 
Giovane Leal de Azevedo Junior* 
 
 
RESUMO 
 
 
Este artigo visa avaliar o impacto da regulação da mini e microgeração 
distribuída na matriz energética brasileira após a divulgação da Resolução 
Normativa 482/2012 da ANEEL, que estabeleceu o sistema de compensação 
de energia elétrica, que permite que pequenos geradores se conectem à rede 
elétrica. Com isso é esperado um aumento da geração distribuída no país e 
algum impacto na matriz energética, principalmente em relação às fontes 
renováveis. Foram analisados os sistemas solares fotovoltaicos, eólicos e 
térmicos. Verificou-se que todos sistemas apresentaram crescimento desde 
2012, com destaque para o sistema solar, entretanto nenhum dos sistemas 
ainda impacta significativamente a matriz energética do país, dada a pequena 
capacidade instalada dentro da matriz energética elétrica. Os sistemas solares 
fotovoltaicos são os mais promissores para suprir futuramente uma parcela 
significativa da demanda do Brasil. 
 
Palavras-chave: Geração distribuída. Matriz energética brasileira. Energia 
eólica. Energia solar fotovoltaica. 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
A geração distribuída (GD), também chamada de geração descentralizada, não 
é um conceito novo e existem diversas definições na literatura. É uma abordagem que 
tem ganhado destaque atualmente como alternativa para prover energia elétrica para 
o sistema elétrico de um país. Ela pode ser caracterizada pela instalação e operação 
de pequenas centrais geradoras de energia elétrica, que produzem a partir de fontes 
limpas e próximas ao cliente que usará a energia. A sua característica descentralizada 
pode ser útil em certos locais devido a não necessidade de investimentos massivos 
em sistemas de transmissão. Operacionalmente, ainda contam com menores perdas 
de distribuição e melhor qualidade de energia, contribuindo com continuidade e 
confiabilidade do sistema (EL-KHATAN; SALAMA, 2004). 
No Brasil, um dos primeiros marcos para o crescimento da GD foi o 
estabelecimento dos dispositivos legais que permitam que pequenos geradores se 
conectem à rede de distribuição. A regulação básica para isso foi a Resolução 
Normativa nº 482 de 17 de abril de 2012, que estabelece as condições gerais para tal 
conexão e criou o sistema de compensação de energia elétrica, que permite que a 
energia injetada na rede seja utilizada posteriormente. Essa regulação é um incentivo 
importante para o incremento de geração de pequeno porte a partir de fontes 
renováveis, contribuindo para uma maior participação dessas fontes na matriz 
energética no país, tendência já verificável em diversos países (ANEEL, 2014). 
Diante desse dispositivo legal que regulamenta a GD no país é esperado um 
aumento de fontes renováveis de pequeno porte injetando energia elétrica no sistema 
de distribuição do país. A questão principal que se deseja analisar é o impacto desse 
incremento de energia gerada sobre a matriz energética do país. Será que a matriz 
energética brasileira e suas perspectivas foram alteradas de forma significativa após 
a regulamentação nos termos da RES 482/2012? 
Portanto, esse trabalho visa analisar a matriz energética brasileira e a 
participação da GD desde que a RES 482/2012 foi divulgada até o momento atual e 
analisar quais as contribuições desse dispositivo para a geração de energia do país e 
quais os impactos que foram verificados na matriz energética brasileira. Ainda 
pretende-se comparar o cenário do Brasil com outros países mais avançados nesse 
tema, como países da Europa. 
 
Diante dessa tendência de aumento da participação das fontes renováveis na 
matriz energética, o estabelecimento da RES 482/2012 e do sistema de compensação 
de energia elétrica é um potencial incentivo para esse fim. Diante do exposto, esse 
trabalho se justifica porque irá analisar o impacto da regulamentação da GD sobre a 
participação de fontes renováveis na matriz energética do Brasil. Pretende-se concluir 
se a regulamentação contribuiu ou não para esse objetivo e o que é esperado nos 
próximos anos para a matriz energética brasileira. 
Para esse trabalho propõe-se uma pesquisa bibliográfica de natureza 
exploratória com método indutivo. Será adotada uma abordagem quantitativa, com 
indicadores, números e informações obtidas de balanços oficiais divulgados pelo 
governo ou agências (e.g. ANEEL) e também de livros, artigos, monografias, 
dissertações e teses de especialistas na área, publicados em editoras, universidades, 
jornais, anais e periódicos conceituados. As informações obtidas serão organizadas 
em tabelas e/ou gráficos para auxiliar nas análises, comentários e conclusão sobre o 
que foi encontrado nos textos consultados. 
 
 
2. GERAÇÃO DISTRIBUÍDA 
 
 
O Brasil possui 4.524 empreendimentos de geração de energia em operação, 
totalizando uma potência instalada de cerca de 144 GW. Para os próximos anos é 
previsto uma adição de cerca de 27 GW proveniente de novos empreendimentos 
(ANEEL, 2016a). 
Esse aumento na geração visa atender à crescente demanda de energia, que 
está relacionada ao crescimento da população e desenvolvimento tecnológico do país. 
Entretanto, desenvolvimento de grandes centrais geradores e linhas de transmissão, 
tem se tornado menos interessante devido a dificuldades de financiamento e impactos 
ambientais (DIAS, 2005). 
Diante desse cenário, a Geração Distribuída (GD) tem ganhado espaço como 
alternativa viável para atender a essa demanda. Como já verificado anteriormente, a 
GD não é um conceito novo e, no Brasil, já existe uma quantidade considerável de 
plantas operando em GD, sendo em sua maioria unidades de cogeração. Essas 
unidades geram energia operando conjuntamente com outros processos, que 
 
geralmente estão ligados a atividades agroindustriais, das indústrias de exploração de 
petróleo e gás e do refino do alumínio e papel (EPE apud PEREIRA et al, 2015). 
Entretanto vale destacar que essas operações de GD já utilizadas há algum 
tempo no Brasil são de porte maior do que as do público de interesse desse trabalho, 
que são consumidores interessados em se tornar pequenos geradores de energia, 
sejam pessoas físicas ou jurídicas. Esses pequenos consumidores e/ou investidores, 
passaram a ter um meio de acesso a rede elétrica da distribuidora local após a 
divulgação de uma regulação para esse processo e foram caracterizados como mini 
ou microgeradores de acordo com a capacidade de geração instalada, o que será 
detalhado nesse item. 
Na Europa, o setor de energia elétrica está passando por importantes 
mudanças em resposta a três objetivos definidos pela União Europeia em sua atual 
política de energia: sustentabilidade ambiental, segurança no fornecimento e 
competitividade. A GD na Europa tem passado por um acelerado crescimento, devido 
ao seu potencial em atingir esses objetivos, principalmente por sua natureza 
descentralizada e baixo impacto ambiental. Também é verificado que apesar do 
crescimento da GD na Europa, diversos problemas técnicos devem ser solucionados 
de modo a permitir a integração das plantas de GD nas redes de distribuição. Além 
dos aspectos técnicos, também são citados aspectos comerciais e regulatórios sobre 
esse assunto. Os autores reforçam a importância de políticas e instrumentos 
regulatórios apropriados para suportar a integração da GD nas linhas de distribuição 
(FERREIRA et al., 2011). 
Devido a essa importância e necessidade de uma regulação para a geração 
distribuída,a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), divulgou em 17 de abril 
de 2012 a resolução normativa nº 482/2012, que estabelece as condições gerais para 
o acesso de geração distribuída aos sistemas de distribuição e o sistema de 
compensação de energia elétrica. Essa resolução classifica as unidades de geração 
distribuída de acordo com sua potência instalada, sendo nomeadas de microgeração 
distribuída as unidades com potência de até 75 kW e minigeração distribuída as 
unidades com potência superior a 75 kW até 3 MW para fontes hídricas e até 5 MW 
para cogeração qualificada ou demais fontes renováveis. Essa classificação passou a 
vigorar a partir 1° de março de 2016, conforme a resolução normativa nº 687/2015 que 
alterou a resolução nº 482/2012 (ANEEL, 2015). 
 
Com o aumento de demanda por energia elétrica esperado para os próximos 
anos e as devidas regulações que possibilitam a aplicação da GD, é esperado um 
aumento da participação de energias renováveis na matriz energética brasileira, 
diversificando e trazendo maior segurança e disponibilidade no fornecimento. A GD 
também conta com investimentos mais pulverizados e menores impactos ambientais, 
quando comparados às grandes centrais geradoras. 
 
 
3. SISTEMA DE COMPENSAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 
 
 
O Sistema de Compensação de Energia Elétrica é uma inovação trazida pela 
resolução nº 482/2012, que na nova redação dada pela resolução nº 657/2015 (p. 2) 
é definido como: 
Sistema no qual a energia ativa injetada por unidade consumidora com 
microgeração ou minigeração distribuída é cedida, por meio de empréstimo 
gratuito, à distribuidora local e posteriormente compensada com o consumo 
de energia elétrica ativa (ANEEL, 2015, p. 2). 
Dessa forma, a rede da distribuidora funciona de forma análoga a uma bateria, 
armazenando a energia produzida em excesso para uso posterior (empréstimo 
gratuito). O prazo para utilização do crédito de energia foi aumentado de 36 meses 
para 60 meses com a publicação da resolução nº 657/2015, sendo mais uma 
vantagem competitiva para os investidores que pretendem aderir à GD. 
Para essa contabilização da energia “emprestada” ao sistema é necessária 
uma adequação do sistema de medição, permitindo que sejam realizadas medições 
bidirecionais, ou seja, medições de quanta energia foi utilizada da distribuidora local e 
de quanta energia foi injetada nessa mesma rede. Quando energia injetada for maior 
que a consumida, o consumidor recebe créditos de consumo, que podem ser 
utilizados posteriormente tanto na mesma unidade quanto outras unidades dentro da 
mesma área de concessão previamente cadastradas. Se a energia injetada for menor 
que a utilizada, o consumidor paga apenas a diferença. Os custos relativos às 
adequações são devidos a quem está implantando uma unidade de geração 
distribuída, mas os custos de operação e manutenção são de responsabilidade da 
distribuidora acessada. O sistema de compensação de energia elétrica e o sistema de 
medição bidirecional é apresentado esquematicamente na Figura 1 (ANEEL, 2016b). 
 
 
 
Figura 1 – Representação esquemática do Sistema de Compensação de Energia Elétrica. 
Fonte: ANEEL, 2016b, p.16. 
 
Para os participantes do sistema de compensação de energia elétrica, é 
dispensável os contratos que os qualifiquem como centrais geradoras, sendo 
necessário apenas um acordo operativo. A análise do custo/benefício e busca de 
financiamentos para a implantação da unidade geradora são de total responsabilidade 
do consumidor. Outro fator importante a se considerar é a incidência de impostos nas 
unidades com GD. No caso do ICMS que é um imposto estadual, era aplicado sobre 
toda a energia consumida, desconsiderando o quanto de energia foi injetada. Assim, 
mesmo que o consumidor injetasse mais energia do que consumisse, a cobrança do 
ICMS seria válida pela energia consumida, prejudicando a viabilidade financeira do 
projeto. Esse cenário mudou em 2015, com a publicação do Convênio ICMS 16/2015, 
no qual todos estados que aderiram, passaram a aplicar o ICMS somente sobre a 
diferença positiva entre energia consumida e energia injetada (ANEEL, 2016b). 
Portanto, verifica-se que esse sistema é uma das principais novidades trazidas 
pela RES 482/2012. Com o estabelecimento desse sistema, os mini e microgeradores 
podem gerar em parte ou até mais energia do que precisam, sem ter a necessidade 
de associar a sua operação aos horários de geração, pois caso essa geração cesse, 
a distribuidora supre sua demanda. Isso é uma característica comum em sistemas 
solares e eólicos que dependem de fatores climáticos para gerar energia. Essa 
 
flexibilidade de geração e inexistência de um sistema de baterias para 
armazenamento da energia gerada em excesso, é uma vantagem competitiva que 
pode estimular pequenos consumidores a investir em sua própria unidade de geração. 
 
 
4. UNIDADES DE MINI E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA 
 
 
Os sistemas de geração distribuída podem utilizar fontes diversas para gerar 
energia. As fontes mais comuns no Brasil, consideradas para estudo nesse trabalho 
são unidades fotovoltaicas, eólicas e termelétricas. Em alguns casos, ainda é possível 
sistemas híbridos que utilizem duas fontes simultaneamente. Essas principais fontes 
e seus principais aspectos são detalhados nos próximos itens. 
 
 
4.1. Unidades Fotovoltaicas 
 
 
Um dispositivo fotovoltaico é um elemento capaz de converter diretamente a 
energia da radiação solar em energia elétrica. Para isso são utilizadas células 
fotovoltaicas, fabricadas em material semicondutor que são agrupados em série e/ou 
paralelo dependendo dos níveis de tensão que se deseja obter. Quando os painéis 
são conectados à rede para a GD, eles são ditos como trabalhando de forma 
conectada, e nesse caso é necessário o uso de inversores que transformam a corrente 
contínua produzida no painel e corrente alternada adequada para a rede da 
distribuidora local (BRANDÃO, D.I.; MARAFÃO, F.P.; VILLALVA, M.G., 2012). 
O Brasil é um país com grande potencial para esse tipo de energia. Um estudo 
recente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), calculou o potencial de energia 
fotovoltaica do país em cerca de 287 GWh/ano, que representa praticamente o dobro 
do consumo do país. Apesar de muito improvável a exploração de todo esse potencial, 
esse número mostra que além de uma possível forma de suprir a demanda do país a 
energia fotovoltaica não está limitada pela área no caso de massiva expansão dos 
sistemas distribuídos (EPE, 2014a). 
 
A geração fotovoltaica é vista pela EPE como a fonte mais promissora para o 
Brasil em termos de mini e microgeração distribuída. Essa fonte começou a ser 
utilizada no país com o objetivo de atender instalações remotas e isoladas da rede de 
distribuição, principalmente pelo Programa de Desenvolvimento Energético de 
Estados e Municípios (PRODEEM), que instalou uma potência de cerca de 5 MWp em 
aproximadamente 7.000 comunidades em todo país. Em 2011 a Agência Nacional de 
Energia Elétrica (ANEEL) realizou uma chamada de projetos com foco em energia 
fotovoltaica, em que 17 projetos foram aprovados para serem instalados em diversas 
regiões do país até 2015, totalizando 24,6 MWp e um investimento de cerca de R$ 
396 milhões (EPE, 2014b). 
De fato, pode-se verificar um aumento expressivo no número de instalações 
fotovoltaicas conectadas na rede, quando comparadas anualmente, a partir de 2012. 
Na Figura 2, é apresentado um gráfico como as informações da planilha obtida no 
Banco de Informações de Geração no site da ANEEL. As informações foram 
consolidadas a partir da potência instalada por consumidor e a respectiva data de 
instalação. Foramanalisadas um total de 4.050 unidades conectadas na rede e 5 
unidades foram excluídas da análise devido a data de conexão informada estar 
incoerente com o período desde a RES 814/2012, considerando esses casos como 
prováveis falhas de preenchimento das informações. 
 
 
Figura 2 – Gráfico da evolução anual das unidades com mini e microgeração fotovoltaica conectadas 
à rede. Fonte: Elaborada pelo autor a partir de informações de ANEEL, 2016a *No ano de 2016 só há 
informações até JUL/16. 
2012 2013 2014 2015 2016*
Número de Conexões 3 55 329 1604 4050
Potência Instalada 0,4 1,7 5,3 14,6 32,0
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
P
o
tê
n
ci
a 
So
la
r 
In
st
al
ad
a 
M
in
i e
 
M
ic
ro
ge
ra
çã
o
 (
M
W
p
)
Evolução Potência Instalada e Conexões (2012 a JUL/2016)
 
Pode-se observar pelo gráfico que o número de instalações fotovoltaicas 
conectadas na rede tem experimentado um crescimento acentuado, principalmente a 
partir de 2014. O relatório síntese da EPE de 2016, ano base 2015, foi o primeiro a 
divulgar informações estatísticas sobre a mini e microgeração distribuída. Nesse 
relatório é informado a capacidade instalada de geração solar em 13,3 MW, sendo um 
número 10% menor que o obtido pelas informações da ANEEL. Assume-se essa 
distorção aceitável a título de análise e provavelmente está associada a algumas 
inconsistências nas bases analisadas. Apesar do ano de 2016 não estar completo, já 
é possível verificar que só no primeiro semestre de 2016, o número de unidades 
conectadas foi maior que a soma de todas as unidades conectadas de 2012 a 2015 
(EPE, 2016). 
 
 
4.2. Unidades Eólicas 
 
 
A energia eólica é proveniente dos ventos e já sua utilização para moagem de 
grãos e bombeamento de água é o seu uso mais antigo. Mais recentemente, ela tem 
sido utilizada para geração de energia elétrica, por meio de turbinas eólicas ou aero 
geradores que transformam a energia cinética dos ventos em energia elétrica. Esses 
equipamentos são compostos basicamente por uma torre de sustentação, um gerador 
elétrico e um conjunto de pás. A energia eólica é uma fonte renovável e não gera 
quase nenhum impacto ambiental. Suas principais desvantagens são os elevados 
investimentos e poluição visual e sonora. A Figura 3 mostra os principais componentes 
de uma turbina eólica (MAGALHÃES, 2009). 
 
 
 
Figura 3 – Principais componentes de uma turbina eólica. 
Fonte: Brizon, et al, 2012 apud FEAM, 2013 p.11. 
 
Até junho/2016 existiam um total de 62 unidades de mini e micro geração 
distribuída registradas na Aneel e utilizando o sistema de compensação de energia 
elétrica. A Tabela 1, mostra a evolução das instalações de microturbinas após a RES 
482/2012. Percebe-se que o ano de 2015 foi o de maior expansão dessa fonte de 
energia, elevando a potência instalada a um patamar praticamente 4 vezes maior que 
o ano de 2014. O mesmo não é observado em 2016, em que o crescimento dessas 
instalações está relativamente menor, apesar de ter dados somente até julho/2016, 
que foi a data da consulta à relação de micro e minigeradores distribuídos (ANEEL, 
2016c). 
 
Tabela 1 – Evolução das instalações eólicas de micro e minigeradores. 
Fonte: Elaborada pelo autor a partir de informações de ANEEL, 2016c 
Ano 
Número de 
Unidades 
Conectadas 
Potência Instalada 
Total (MW) 
2013 10 0,03 
2014 18 0,05 
2015 54 0,20 
2016* 62 0,23 
 
 
Comparando a evolução dessa fonte de energia em relação a energia solar, 
percebe-se que o crescimento dessa fonte é muito mais discreto, não atingindo nem 
0,25 MW de potência instalada, enquanto as unidades fotovoltaicas já acumulam 
cerca de 32 MWp de geração com cerca de 4.050 geradores registrados. 
 
 
4.3. Unidades Termelétricas 
 
 
Os sistemas termelétricos de forma geral utilizam energia térmica para a 
geração de energia elétrica. Para essa conversão, utiliza-se uma máquina térmica, 
que converte energia térmica em energia de eixo, que é utilizada para girar um gerador 
de energia elétrica. Diversas máquinas térmicas podem ser utilizadas, e a decisão 
pelo tipo a se utilizar geralmente é norteado por escolhas técnico-econômicas 
dependendo da disponibilidade de combustível e sinergia com outros processos, 
sendo as mais comuns: motores de combustão interna, microturbinas e turbinas a 
vapor. 
As microturbinas são vistas com um futuro promissor para a GD devido a suas 
vantagens em relação a outras máquinas térmicas, como tamanho e peso 
relativamente menores, eficiência elevada (mais que 80%), baixa emissão de gases 
poluentes (menos que 10 ppm de NOx), fáceis de operar, baixo custo de manutenção 
e menores custos de aquisição. Elas podem funcionar com diversos combustíveis, 
como gás natural, propano, diesel etc e em geral são fabricadas com potências 
nominais de 20 a 500 kW (EL-KHATAN; SALAMA, 2004). 
No Banco de Informações de Geração (BIG) da ANEEL, existem registradas 
apenas 24 unidades de micro e minigeração a partir de fontes térmicas, somando uma 
potência instalada de 4.430 kW. Na Tabela 2, são apresentadas as informações 
consolidadas das 4 fontes principais utilizadas no Brasil. Vale ressaltar que a fonte 
solar nesse caso não utiliza placas fotovoltaicas e sim a radiação solar como fonte de 
aquecimento para gerar energia por meio de uma máquina térmica. 
 
 
 
 
 
Tabela 2 – Resumo da micro e minigeração distribuída térmica por tipo de fonte. 
Fonte: Elaborada pelo autor a partir de informações de ANEEL, 2016c. 
Fonte 
Quantidade de 
Unidades 
Potência 
Instalada (kW) 
Participação % 
Biogás 19 2.172 49,0% 
Diesel 2 1.250 28,2% 
Casca de Arroz 1 1.000 22,6% 
Solar 2 8 0,2% 
Total 24 4.430 100,0% 
 
Pode-se verificar que o biogás é responsável por quase metade da potência 
instalada, porém com o maior número de unidades, levando a conclusão que a maioria 
das aplicações desse tipo são de porte menor quando comparada com outras 
unidades térmicas. Também é verificado na base de dados obtida que na maioria 
dessas unidades, o biogás utilizado é obtido a partir de resíduos animais, urbanos e 
agroindustriais. Isso demonstra que esse tipo de geração é normalmente utilizado em 
sinergia com outros processos, aproveitando os rejeitos para gerar energia e contribuir 
para um aumento da eficiência global desses processos. O mesmo pode ser concluído 
da geração a partir de casca de arroz. 
 
 
5. MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA E PARTICIPAÇÃO DA MINI E 
MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA 
 
 
Com o objetivo de avaliar os impactos do crescimento da mini e microgeração 
distribuída na matriz energética brasileira, é importante se conhecer essa matriz. 
Nesse artigo será avaliada a matriz energética elétrica, divulgada pela Empresa de 
Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia do Brasil, em seus 
relatórios anuais que consolidam o quanto e de que forma a energia foi utilizada no 
país. Nas Figuras 4 e 5 são apresentadas as matrizes elétricas no Brasil entre os anos 
de 2012, em que foi divulgada a RES 482/2012, e o ano de 2015. 
 
 
 
Figura 4 – Matriz elétrica brasileira nos anos de 2012 e 2013. Fonte: EPE,2014. 
 
 
Figura 5 – Matriz elétrica brasileira nos anos de 2014 e 2015. Fonte: EPE, 2016. 
 
 
Analisando a matriz energética elétrica brasileira, pode-se perceber uma 
grande dependência da fonte hidráulica. Em 2015, 64% da energia elétrica utilizada 
foi gerada a partir de hidrelétrica. Apesar de ser uma fonte renovável, é uma fonte que 
gera impactoambiental na sua construção, devido a necessidade de represar corpos 
hídricos. A dependência de apenas um tipo de fonte apresenta certos riscos ao país, 
visto que se algum fator externo prejudicar essa geração o país pode ter seu 
abastecimento de energia comprometido. No caso das fontes hidráulicas, o fator 
externo de maior influência na capacidade de geração é a meteorologia. 
Diante desse cenário, é interessante para um país, diversificar sua matriz 
energética. De acordo com o observado nas Figuras 4 e 5, percebe-se que o Brasil 
está apresentando uma tendência de queda no uso das fontes hidráulicas para suprir 
a demanda interna. Enquanto em 2011, 76,9% da energia utilizada foi gerada a partir 
 
de fontes hidráulicas, em 2015 esse número reduziu para 64%. Também é verificado 
um aumento nas fontes que utilizam sistemas térmicos para geração de energia, como 
derivados de petróleo, gás natural e biomassa. 
Parte dessa mudança observada na matriz elétrica se dá pelas condições 
desfavoráveis de geração hidráulica enfrentadas no Brasil nos anos de 2014 e 2015, 
com baixos níveis dos reservatórios devido a estiagens incomuns. Com isso, usinas 
termelétricas tiveram que ser utilizadas para suprir essa demanda e com isso 
aumentando a participação dessas outras fontes de natureza térmica. Isso foi um dos 
motivos do estabelecimento das bandeiras tarifárias, que indicam na conta de energia 
do consumidor final, as condições de geração do país. Em situações de reservatórios 
cheios e, portanto, disponibilidade de geração hidráulica, os custos de geração são 
menores e não resulta em acréscimos na conta de energia. Quando há necessidade 
de se utilizar uma parte de fontes térmicas para geração, há acréscimos na conta de 
energia, sinalizados pelas bandeiras amarela e vermelhas (ABRADEE, 2014). 
Analisando-se a evolução da energia eólica na matriz elétrica brasileira, 
percebe-se também um grande avanço entre 2012 e 2015, passando de uma 
participação de 0,9% para 3,5%. Pode-se concluir que todo esse aumento de 
participação foi devido a investimentos em centrais geradoras de grande porte, pois 
conforme analisado na Tabela 1, a geração distribuída tem uma capacidade instalada 
desconsiderável quando comparada com a capacidade de geração eólica do país. O 
relatório anual da EPE divulgou uma capacidade instalada de 7.633 MW de geração 
eólica em 2015, enquanto a capacidade instalada de mini e microgeração distribuída 
eólica foi de apenas 0,2 MW (EPE, 2016). 
Em relação a energia fotovoltaica, é verificado que ela só começou a ser 
contabilizada a partir de 2014, ainda que suas contribuições em 2014 e 2015 tenha 
sido praticamente desconsideráveis (e.g. 0,01% em 2015). Apesar disso, é 
interessante notar que no caso da geração fotovoltaica, uma grande parcela da 
potência instalada é devido a mini e microgeração distribuída. Isso pode ser verificado 
no relatório da EPE ano base 2015, em que foi contabilizada uma capacidade 
instalada de geração distribuída de 13,3 MW e mais uma parcela referente a outras 
plantas solares de 21 MW. Portanto em 2015, cerca de 39% da capacidade solar foi 
pela geração distribuída (EPE, 2016). 
Essa participação da geração distribuída na capacidade instalada solar do país 
tende a aumentar em 2016. Apesar das informações analisadas para o ano de 2016 
 
estarem atualizada até julho de 2016, pode-se ter prévia do que é esperado. O banco 
de informações de geração (BIG) da Aneel, em julho, contabilizada cerca de 23 MW 
de potência solar instalada, não contabilizando a mini e microgeração distribuída, 
mostrando um aumento de cerca de 9,5% em relação a 2015. Analisando a relação 
de mini e microgeradores no mesmo período de referência, também no BIG, têm-se 
uma potência solar instada de 32 MWp. Essa informação também está apresentada 
na Figura 2 (ANEEL, 2016a). 
Portanto, pode-se verificar que para 2016 já é esperada uma participação em 
capacidade instalada de mini e microgeração distribuída maior que a capacidade de 
plantas solares de grande porte. As unidades solares tem sido as com maior êxito em 
adesão ao sistema de compensação de energia elétrica. Esse crescimento está 
relacionado ao grande potencial solar do Brasil e das vantagens das placas solares, 
como facilidade de instalação e baixos custos de manutenção. Devido às instalações 
serem modulares, os níveis de investimentos também ficam flexíveis, permitindo o 
investidor de pequeno porte a instalar a quantidade de placas adequadas à sua área 
disponível e seu orçamento. 
Esse grande crescimento das instalações fotovoltaicas em geração distribuída 
já era esperado por especialistas. Em previsões da EPE, é esperado um crescimento 
expressivo da geração distribuída solar nos próximos 35 anos. Até 2020, é esperado 
um consumo de energia suprido pela fonte solar de cerca de 700 GWh. Para 2030 é 
esperado 13,3 TWh e para 2050 103,3 TWh. Em 2015, o consumo divulgado pela EPE 
foi de 59 GWh. Considerando a evolução de demanda instalada de 2012 até julho de 
2016, pode-se concluir que essa previsão pode ser atingida caso o crescimento se 
mantenha na mesma ordem de grandeza (EPE apud PEREIRA et al, 2015). 
Analisando o avanço internacional da fonte da geração fotovoltaica, pode-se 
verificar também um crescimento acentuado nos últimos anos. A Agência 
Internacional de Energia, divulgou que em 2010 a capacidade instalada mundial de 
geração solar era de 35 TW. Essa capacidade está concentrada em poucos países. 
Em 2010 essa capacidade estava instalada em 49,7% pela Alemanha, 11,2% pela 
Espanha, 10,4% pelo Japão 10,0% pela Itália, 7,2% pelos EUA e os outros 11,5% 
restantes entre os demais países. A Figura 6, demonstra esse crescimento da fonte 
solar no cenário mundial e ainda mostra qual a participação entre as unidades que 
estão isoladas e as que estão conectadas à rede (i.e. funcionando como unidades 
geradoras distribuídas). Pode-se verificar que além do acentuado crescimento da 
 
capacidade acumulada, também há um grande avanço na capacidade conectada à 
rede, sendo cerca de 97% em 2010 (IEA, 2011 apud EPE, 2012.). 
 
 
Figura 6 – Evolução da capacidade mundial em geração fotovoltaica. Fonte: IEA, 2011 apud EPE, 
2012. 
 
Diante do exposto, pode-se verificar que a geração distribuída tem potencial 
para suprir parte da demanda da energia do país, sendo a fonte de maior destaque, a 
solar fotovoltaica. Ainda que essa fonte não seja significativa na matriz energética do 
país atualmente, a previsão é otimista para os próximos anos em ela pode suprir uma 
demanda mais considerável da energia do país. As fontes térmicas e eólicas, tem um 
avanço muito discreto e por isso não foram comparadas dentro da matriz elétrica total, 
sendo verificada tão somente os seus respectivos crescimentos desde 2012 em que 
foi estabelecido o sistema de compensação de energia elétrica pela RES 482/2012. 
 
 
6. CONCLUSÕES 
 
 
Esse artigo estudou os efeitos do marco regulatório da RES 482/2012, que 
estabeleceu o sistema de compensação de energia elétrica, o que permite que 
pequenos geradores possam se conectar à rede elétrica. Com isso era esperado um 
avanço na capacidade de geração do país, interferindo na matriz energética elétrica 
do país. 
Baseado nas análises realizadas com dados das fontes consultadas, pode-se 
concluir que a RES 482/2012 não teve efeito significativo na matriz energética elétrica 
 
brasileira, embora o número de adesões a esse sistema tenha apresentado uma forte 
tendência de crescimento. 
Os sistemas baseados em geração solar fotovoltaica, foram os que 
apresentaram o maior crescimento em adesões e capacidade instalada. É esperado 
pelos especialistas um forte crescimentodessa fonte para os próximos anos. Além do 
potencial de geração solar do país ser elevado, esses sistemas são modulares e, 
portanto, mais flexíveis quanto ao dimensionamento, sendo uma vantagem 
competitiva para pequenos geradores. 
Os sistemas térmicos e eólicos, apesar de apresentarem um crescimento 
relativo elevado entre os anos de 2012 e 2016, a capacidade instalada total desses 
sistemas representa um valor praticamente nulo quando inseridos na matriz 
energética elétrica nacional. 
Sugere-se para trabalhos futuros, uma atualização dos indicadores desse 
trabalho após a divulgação do relatório da EPE ano base 2016 ou posterior, 
comparação das previsões com o cenário realizado e verificação da situação das 
fontes não detalhadas nesse trabalho, por terem muito poucas adesões ao sistema 
de compensação de energia elétrica no momento da coleta de dados, as unidades 
hídricas e sistemas híbridos. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
ABRADEE, – Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica. Bandeiras 
Tarifárias, 2014. Disponível em <http://www.abradee.com.br/arquivos/bandeiras-
tarifarias-2016.zip> Acesso em agosto de 2016. 
 
ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). BIG - Banco de Informações 
de Geração, Capacidade de geração do Brasil. Disponível em 
<http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm> 
Acesso em julho de 2016a. 
 
ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Cadernos Temáticos ANEEL, 
Micro e minigeração distribuída: sistema de compensação de energia elétrica – 
Brasília, 2014. 
 
ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Cadernos Temáticos ANEEL, 
Micro e minigeração distribuída: sistema de compensação de energia elétrica. 2ª 
Edição – Brasília, 2016b. 
 
ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Relação de Micro e 
Minigeradores Distribuídos. Disponível em 
<http://www.aneel.gov.br/arquivos/Excel/Micro_Minigeracao_ANEEL.xls> Acesso em 
31 de julho de 2016c. 
 
ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Resolução normativa nº 
482/2012 de 17 de abril de 2012. Disponível em 
<http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2012482.pdf> Acesso em junho de 2016. 
 
ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Resolução normativa nº 
657/2015 de 24 de novembro de 2015. Disponível em 
<http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2015687.pdf> Acesso em junho de 2016. 
 
 
BRANDÃO, D.I.; MARAFÃO, F.P.; VILLALVA, M.G. Considerações sobre a 
implementação de um sistema fotovoltaico de geração distribuída multifuncional. 
Anais do Congresso Brasileiro de Automática, p.3126-3133, 2012. 
 
DIAS, M.V.X. Geração distribuída no Brasil: oportunidades e barreiras. 2005. 
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Energia) – Universidade Federal de Itajubá, 
Itajubá, 2005. 
 
EL-KHATTAM, W., SALAMA, M.M.A. Distributed generation technologies, definitions 
and benefits. Electric Power Systems Research, 71 p. 119–128, 2004. 
 
EPE, Empresa de Pesquisa Energética (Brasil). Análise da Inserção da Geração Solar 
na Matriz Energética Brasileira. Nota Técnica EPE. Rio de Janeiro, 2012. 
 
EPE, Empresa de Pesquisa Energética (Brasil). Inserção da Geração Fotovoltaica 
Distribuída no Brasil - Condicionantes e Impactos. Nota Técnica DEA 19/14. Rio de 
Janeiro, 2014a. 
 
EPE, Empresa de Pesquisa Energética (Brasil). Eficiência Energética e Geração 
Distribuída para os próximos 10 anos (2014-2023). Nota Técnica DEA 26/14. Rio de 
Janeiro, 2014b. 
 
EPE, Empresa de Pesquisa Energética (Brasil). Relatório Síntese do ano base 2015. 
Rio de Janeiro, 2016. 
 
EPE, Empresa de Pesquisa Energética (Brasil). Relatório Síntese do ano base 2013. 
Rio de Janeiro, 2014. 
 
FEAM, Fundação Estadual do Meio Ambiente. Utilização da energia eólica no Estado 
de Minas Gerai: aspectos técnicos e o meio ambiente. Comunicado técnico nº 2/2013. 
Belo Horizonte, 2013. 
 
 
FERREIRA, H. L. COSTESCU, A. L’ABBATE, A. MINNEBO, P. FULLI, G. Distributed 
generation and distribution market diversity in Europe. Energy Policy 39 p. 5561-5571, 
2011. 
 
MAGALHÃES, M. V. Estudo de utilização da energia eólica como fonte geradora de 
energia no Brasil. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009. 
 
PEREIRA, O. S. FIGUEIREDO, M. G. REIS, T. M. IMPERIAL, L. C. Energia Solar 
fotovoltaica e Biomassa: avanços e desafios para expansão de uso na matriz elétrica 
nacional. Revista Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, Ano I Ed. 5 p. 30-34, 2015.

Continue navegando