Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Psicologia do Pensamento e da Linguagem Aula 1 Módulo 22 – Linguagem Robert S. Feldman Linguagem Unidade 1 - Linguagem 2 Definições: Linguagem, Língua, Fala Propriedades da Língua Aquisição da Língua Compreensão e produção de fala e escrita Alterações da linguagem Linguagem 3 A linguagem constitui uma capacidade cognitiva importante, indispensável para a comunicação entre as pessoas. Ela não é apenas fundamental para a comunicação, ela também se encontra intimamente ligada ao próprio modo pelo qual pensamos e compreendemos o mundo. Não causa surpresa o fato de os psicólogos terem dedicado atenção considerável ao estudo da linguagem. Linguagem 4 Para esclarecer... Linguagem é todo e qualquer veículo que comunique algo a alguém (símbolos, ícones, sinais, signos); A comunicação de informação por meio de símbolos apresentados de acordo com regras sistemáticas. Língua é todo código verbal estruturado, com regras específicas de funcionamento (língua portuguesa, língua inglesa etc.); Fala é a expressão da língua; 5 Linguagem 6 O veículo primordial do nosso pensamento é a língua, sem ela o que podemos comunicar é infinitamente menos expressivo do que o que podemos fazer com as palavras; A comunicação é UMA das funções da língua, mas existem outras: generalização, associação, abstração, inferência, dedução etc.; Linguagem 7 Hoje já se sabe que o ser humano nasce com a capacidade para desenvolver uma língua, mas esta só se dará na INTERAÇÃO com os seus pares. Estrutura da língua 8 Para compreender como a linguagem se desenvolve e se relaciona ao pensamento, precisamos rever inicialmente alguns dos elementos formais da língua. A estrutura básica da língua se apoia na gramática: Sistema de regras que determina como nossos pensamentos podem ser expressos. A gramática lida com 3 componentes principais da língua: a fonologia, a sintaxe e a semântica. Estrutura da Língua 9 Fonologia: estudo dos fonemas Fonema – A menor unidade básica do som da fala. Morfema – A menor unidade da língua que contém um significado 1) O fonema não deve ser confundido com a letra. Na língua escrita, representamos os fonemas por meio de sinais chamados letras. Portanto, letra é a representação gráfica do fonema. Na palavra sapo, por exemplo, a letra s representa o fonema /s/ (lê-se sê); já na palavra brasa, a letra s representa o fonema /z/ (lê-se zê). Estrutura da Língua 10 2) Às vezes, o mesmo fonema pode ser representado por mais de uma letra do alfabeto. É o caso do fonema /z/, que pode ser representado pelas letras z, s, x: Exemplos: zebra casamento exílio 3) Em alguns casos, a mesma letra pode representar mais de um fonema. A letra x, por exemplo, pode representar: - o fonema sê: texto - o fonema zê: exibir - o fonema chê: enxame - o grupo de sons ks: táxi Estrutura da Língua 11 As diferenças entre os fonemas constitui uma razão por que as pessoas tem dificuldade em aprender outros idiomas. Exemplo: para uma pessoa que fala japonês, cuja língua nativa não possui o fonema R palavras como “rugido” apresentam certa dificuldade. Estrutura da Língua 12 Sintaxe – regras que usamos para ordenar palavras em frases. Toda língua possui regras particulares que orientam a ordem em que as palavras podem ser combinadas para transmitir significados. Para compreender o efeito da sintaxe, considere as mudanças no significado causadas pelas diferentes disposições das palavras nas 3 seguintes elocuções: “João raptou o menino”, “João, o menino raptado” e “O menino raptou João” Estrutura da Língua 13 A maioria dos pais teria dificuldade para enunciar as regras da sintaxe, mas aos 2 anos as crianças já formam suas próprias frases, originais e gramaticamente apropriadas. Crianças bem pequenas fazem supergeneralização , aplicação inadequada de regras. Ex: cabeu, dizeu, engordeceu. Estrutura da Língua 14 Semântica - é o conjunto de regras que usamos para extrair um significado de morfemas, palavras e até frases. As regras da semântica nos permitem usar palavras para transmitir as nuanças mais sutis. Por exemplo: somos capazes de fazer a distinção entre “O caminhão atingiu Laura” o que provavelmente diríamos se tivessemos acabado de ver o veículo atingindo Laura. E “Laura foi atingida por um caminhão” o que provavelmente diríamos caso alguém perguntasse por que Laura não estava indo ás aulas. Estrutura da Língua 15 Apesar das complexidades da língua, a maioria dentre nós aprende os elementos básicos da gramática sem sequer ter consciência de que aprendemos suas regras. Além disso, embora possamos ter dificuldades para indicar de modo explícito as regras da gramática, nossa capacidade linguística é tão sofisticada a ponto de podermos proferir um numero infinito de afirmações. Como adquirimos tal capacidade? – Teorias de Aquisição da Linguagem. Aquisição da Língua 16 As crianças balbuciam – emitem sons parecidos com a fala, mas desprovidos de significado - o que ocorre com a idade de três meses a um ano. O balbucio reflete cada vez mais a linguagem específica falada no seu ambiente, inicialmente em termos de altura e tom e, finalmente, de sons específicos. Crianças pequenas conseguem distinguir entre todos os 869 fonemas que foram identificados nas línguas do mundo. No entanto após a idade de 6 a 8 meses, essa capacidade começa a diminuir. As crianças começam a se “especializar” no idioma ao qual estão expostas, a medida que os neurônios se reorganizam em seus cérebros para responder aos fonemas específicos que elas ouvem rotineiramente. Aquisição da Língua 17 Alguns teóricos argumentam que existe um período crítico para o desenvolvimento da linguagem na primeira fase da vida, na qual a criança é particularmente sensível ás indicações da língua e a adquirem com o máximo de facilidade. Na realidade, se as crianças não forem expostas á língua durante esse período crítico, posteriormente terão muita dificuldade para vencer esse déficit. Os casos em que crianças que sofreram abusos foram isoladas do contato com outras apoiam a teoria de tais períodos críticos. Em um caso, por exemplo, uma menina chamada Genie foi exposta a praticamente nenhuma linguagem a partir da idade de 20 meses até ser salva com a idade de 13 anos. Ela era totalmente incapaz de falar. Apesar de uma aprendizagem intensiva, ela aprendeu somente algumas palavras e nunca foi capaz de dominar as complexidades da língua. Aquisição da Língua 18 Estágio do balbucio – por volta dos 4 meses O bebê está começando a usar a voz para transmitir seus desejos Estágio de uma só palavra – por volta de 12 meses Estágio de duas palavras – antes do 2º ano – característica é a fala telegráfica contém principalmente substantivos e verbos Aquisição da Língua 19 A fala telegráfica é usada para numerosas finalidades: Identificar e nomear objetos (Sopa mamãe) Pedir para repetir (mais suco) Afirmar que algo não existe (não sapato) Expressar posse (casaco papai) Indicar causas de uma ação (mamãe embora) Expressar localização (blusa cadeira) Indicar determinada qualidade (carro vermelho) Aquisição da Língua 20 Resumo de desenvolvimento da língua MesesEstágio 4 Balbucia muitos sons da fala 10 Balbucio revela a língua familiar 12 Estágio de uma só palavra 24 Duas palavras, fala telegráfica +24 Desenvolvimento rápido para frases completas Psicologia do Pensamento e da Linguagem Aula 2 Módulo 22 Robert S. Feldman Linguagem Linguagem As crianças fazem um enorme esforço para o desenvolvimento da linguagem durante a infância. As razões para esse crescimento são desconhecidas. Os psicólogos propuseram várias explicações, porém duas teorias se antagonizam nessas justificativas: Uma com base nas teorias da aprendizagem Uma base em processos inatos Linguagem A abordagem da teoria da aprendizagem indica que a aquisição da linguagem segue os princípios do reforço e do condicionamento. Exemplo: uma criança que diz “mama” recebe afagos e elogios de sua mãe, que reforça o comportamento de dizer “mama” e torna a repetição mais provável. Por meio de um processo de modelagem, a linguagem torna-se cada vez mais parecida com a do adulto. Linguagem A abordagem da teoria da aprendizagem não é tão convincente para explicar como as crianças aprendem as regras da língua. As crianças são reforçadas não apenas quando falam corretamente, mas também quando utilizam incorretamente. A teoria da aprendizagem possui dificuldade para explicar em sua totalidade a aquisição da linguagem Linguagem Focalizando os problemas com a abordagem da teoria da aprendizagem, o linguista Noam Chomsky propôs uma alternativa inovadora. Noam Chomsky Nasceu na Filadélfia em 07 de dezembro de 1928, é um linguista, filósofo e ativista político. É professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA. Noam Chomsky Gramática Gerativa Transformacional (Regras gramaticais que permitem gerar orações compreensíveis num idioma) Liderou na década de 50, uma corrente de estudos linguísticos que é conhecida pelo nome de “Gramática Gerativa Transformacional”. Suas ideias são contrárias as ideias estruturalistas, as quais diziam que a língua era aprendida por meio da imitação. Faculdades a priori da Mente O poder de conhecer já nasce conosco As ideias de Chomsky situam-se na tradição da linguística racionalista cartesiana. O poder de conhecer já nasce conosco Entendimento; Imaginação; Sensibilidade; Linguagem; Inatismo Biológico Ele defende o inatismo biológico, de que o ser humano é dotado de uma gramática inata, ou seja, que o ser humano vem programado biologicamente para o desenvolvimento de determinados conhecimentos, sendo que esse conhecimento considerado inato só é ativado, por meio do contato com outras pessoas que falem a mesma língua a qual a criança está exposta. Gramática Inata Ele atribui a mente a responsabilidade pela aquisição da linguagem; Defende a ideia de que, o ser humano é dotado de uma gramática inata e universal que está inserida na mente humana; A criança já nasce com todas as regras de todas as línguas, ela somente irá desenvolver a língua em que ela está contextualizada. Dispositivo de Aquisição da Linguagem - DAL A criança possui um Dispositivo de Aquisição da Linguagem - DAL, que constitui-se de um conjunto de regras que são acionados a partir de Imputs, frases e falas dos adultos, onde a criança estiver inserida para então desenvolver sua gramática nativa. Estrutura Profunda da Linguagem Toda língua possui uma estrutura superficial A forma interna da linguagem ele chamou de: Estrutura profunda: Envolve a combinação de um conjunto de regras como as fonológicas, semânticas e sintáticas, sendo esta estrutura não vivenciada, nem observada. São mecanismos que atuam inconscientemente na produção e compreensão da fala. Criatividade Capacidade de produzir e entender um número indefinidamente grande de elocuções das quais não tinham prévio conhecimento O aspecto linguístico a que Chomsky refere- se como essencial, é o aspecto criativo da utilização da linguagem; A capacidade criadora da criança e pela sua intuição e habilidade em produzir infinitas sentenças na língua materna, mesmo não tendo ouvido ninguém falar desse ou daquele jeito antes. Criatividade O ser humano é capaz de inovar, emitir frases nunca antes ditas e interpretar, sem dificuldades, enunciados originais. A capacidade de inovação é o exemplo de que o desempenho linguístico humano não pode ser explicado nem em termos mecanicistas (estímulo x resposta) e nem em termos empiristas (observação). Teorias da Aquisição da Linguagem Chomsky x Behavioristas A mente é responsável pela aquisição da linguagem; Conhecimento inato da linguagem, o desenvolvimento da gramática irá depender do contato com outras pessoas. Comportamento observável; Desenvolve seu conhecimento linguístico através do Estímulo- Resposta (E-R) (imitação e reforço). Teorias da Aquisição da Linguagem Chomsky x Piaget A mente é responsável pela aquisição da linguagem; Conhecimento inato da linguagem, o desenvolvimento da gramática irá depender do contato com outras pessoas; Constrói o conhecimento por meio da experiência com o mundo físico e esse conhecimento se desenvolve por estágios (fases do desenvolvimento infantil); Teorias da Aquisição da Linguagem Chomsky x Vygotsky A mente é responsável pela aquisição da linguagem; Conhecimento inato da linguagem, o desenvolvimento da gramática irá depender do contato com outras pessoas; O desenvolvimento da linguagem tem origem social, por meio da interação entre a criança e o adulto; Explicação da relação linguagem e pensamento; Conclusão A linguagem é um processo especificamente humano. A estrutura gramatical de qualquer língua é universal e invariável, sendo assim, essa estrutura gramatical universal tornaria possível o aprendizado de toda e qualquer língua particular. A linguagem constitui um dos fundamentos do funcionamento mental, a partir da linguagem podemos adquirir qualquer conhecimento, pois a linguagem nos dá o suporte para todos os outros aprendizados. Caso Pirahãs – Gramática de Índio Os pirahãs são um povo indígena brasileiro de caçadores- coletores, que se destacam de outras tribos pela diferença linguística e cultural. Eles habitam um trecho das terras cortadas pelo Rio Marmelos e quase toda a extensão do Rio Maici, no município de Humaitá, estado brasileiro do Amazonas. Os pirahãs concebem o tempo como uma alternância entre duas estações bem marcadas, definidas pela quantidade de água que cada uma possui: piaiisi (época da seca) epiaisai (época da chuva). Segundo a Funasa, em 2010, a população pirahã era de aproximadamente 420 pessoas. Caso Pirahãs – Gramática de Índio Apaitsiiso ("aquilo que sai da cabeça") é como os pirahãs se referem à sua língua. Uma característica curiosa dessa tribo é o fato de seus membros não acreditarem em nada que eles não possam ver, sentir ou que não possa ser provado ou presenciado. Por esse motivo a tribo não acredita em espírito supremo ou divindade criadora, apenas em espíritosmenores que às vezes tomam a forma de coisas no ambiente (devido a experiência pessoal de cada indivíduo), e que a terra e o céu sempre existiram, ninguém os criou. Caso Pirahãs – Gramática de Índio Esforços já foram feitos para convertê-los ao cristianismo, talvez o mais relevante seja o do missionário Daniel Everett que nos anos 1970 tentou evangelizar a tribo. Sem sucesso, escreveu um livro em que descreve sua cultura. Segundo ele, os indígenas perderam o interesse em Jesus quando descobriram que Everett nunca o viu de fato. Enquanto aprendia a língua, vivendo numa aldeia pirahã com a mulher e os filhos, Everett descobriu uma série de peculiaridades no idioma. Os pirahãs não têm palavras para cores. Usam apenas oito consoantes e três vogais. Não possuem mitos de criação, não têm tempos verbais, não fazem arte e só sabem contar até três. Caso Pirahãs – Gramática de Índio Em 2005, Everett publicou no periódico "Current Anthropology" um artigo no qual afirmava também que a língua pirahã não tem recursividade, ou seja, a capacidade de formar sentenças encaixando uma frase na outra. Assim, um pirahã seria capaz de dizer "a canoa de João", "o irmão de João", mas nunca "a canoa do irmão de João". Como vivem numa sociedade extremamente simples, onde o que conta é a experiência imediata (o aqui e agora), os pirahãs, argumenta Everett, têm sua língua (e, portanto, seu pensamento) limitados pela cultura - um caso único. Caso Pirahãs – Gramática de Índio O trabalho caiu como uma bomba no meio linguístico. Se Everett estivesse certo, o idioma pirahã seria um sério desafio à teoria da Gramática Universal. Desenvolvida pelo influente linguista americano Noam Chomsky, a teoria afirma que todos os seres humanos possuem uma faculdade inata da linguagem, uma espécie de "órgão da linguagem" no cérebro. Essa capacidade independeria do meio cultural, tendo sido impressa nos circuitos cerebrais do Homo sapiens pela evolução. E a principal marca dessa faculdade é justamente a recursividade. Uma exceção a essa regra significaria ou que os pirahãs não são humanos ou que o arcabouço intelectual chomskiano - sob o qual se formaram gerações de linguistas - está falido. Everett, é claro, aposta na segunda hipótese. Psicologia do Pensamento e da Linguagem Aquisição da Linguagem – Teoria Behaviorista Aula 3 Linguagem Linguagem No século XIX, surgem experimentos sobre a aquisição da linguagem por meio dos experimentos com diários da fala espontânea de filhos de linguistas e estudiosos. A partir do século XX, os estudos sobre aquisição da linguagem estavam baseados em uma visão teórica behaviorista, assumindo que a aprendizagem de uma língua se dava pela exposição ao meio e em decorrência da imitação e do reforço. 2 Linguagem O ponto de vista teórico behaviorista defendia que o ser humano aprende por condicionamento, assim como qualquer outro animal. Porém, no final da década de 1950 os estudos de Noam Chomsky impulsionam os trabalhos em aquisição da linguagem, com base na posição assumida de que a linguagem é inata. 3 BEHAVIORISMO CLÁSSICO O Behaviorismo Clássico partia do princípio de que o comportamento era modelado pelo paradigma pavloviano de estímulo e resposta conhecido como condicionamento clássico. 4 BEHAVIORISMO CLÁSSICO Em outras palavras, para o Behaviorista Clássico, um comportamento é sempre uma resposta a um estímulo específico. Psicologia S-R (sendo S-R a sigla de Stimulus-Response (estímulo- resposta), em inglês). Watson era um defensor da importância do meio na construção e desenvolvimento do indivíduo. Ele acreditava que todo comportamento era consequência da influência do meio. 5 BEHAVIORISMO Skinner é o mais famoso psicólogo defensor da hipótese behaviorista. Um dos seus principais preceitos é que o aprendizado se dá por meio de um processo denominado condicionamento operante, o qual se pauta no estímulo - resposta, na repetição e na memorização. Uma de suas sugestões é a punição como forma de moldar o comportamento. 6 BEHAVIORISMO Skinner (1957) parte de pressupostos como a premissa de inacessibilidade à mente para se estudar o conhecimento, postura contrária à mentalista e idealista nas ciências humanas. O comportamento verbal para ele se enquadrava na sucessão de mecanismos de estímulo-resposta- reforço: eles explicam o condicionamento que está na base da estrutura do comportamento. 7 BEHAVIORISMO RADICAL O Behaviorismo Radical seria uma filosofia da ciência do comportamento. Para Skinner, o homem é uma entidade única, uniforme, em oposição ao homem "composto" de corpo e mente. Skinner desenvolveu os princípios do Condicionamento Operante e a sistematização do modelo de seleção por consequências para explicar o comportamento. 8 TEORIA DO CONDICIONAMENTO O condicionamento operante segue o modelo Sd-R-Sr, onde um primeiro estímulo Sd, dito estímulo discriminativo, aumenta a probabilidade de ocorrência de uma resposta R. O condicionamento ocorre se, após a resposta R, segue-se um estímulo reforçador Sr, que pode ser um reforço (positivo ou negativo) que "estimule" o comportamento (aumente sua probabilidade de ocorrência), ou uma punição (positiva ou negativa) que iniba o comportamento em situações semelhantes posteriores. 9 TEORIA DO CONDICIONAMENTO 10 TEORIA DO CONDICIONAMENTO As pessoas aprendem a língua exatamente da mesma forma que aprendem comportamentos simples: pelo condicionamento mecânico. A língua generaliza-se como qualquer outro comportamento – quando um ato é repetidamente reforçado, o ato em si torna-se reforçador e sua probabilidade de ocorrência aumenta. 11 TEORIA DO CONDICIONAMENTO Skinner e os princípios de aprendizagem familiar: Associação Imitação Reforço Comportamento verbal: “ ...passou a existir quando, por meio de um passo crítico na evolução da espécie humana, a musculatura vocal tornou-se suscetível ao condicionamento operacional.” 12 TEORIA DO CONDICIONAMENTO Mas não são apenas os padrões de estímulo que chamam a atenção dos behavioristas. A imitação também exerce uma função importante na aquisição da linguagem pela criança. O padrão de imitação segue um princípio fixo: o adulto fala uma palavra, a criança imita essa produção e o adulto recompensa a criança por essa repetição, mesmo que ela não seja fiel ao que foi dito inicialmente. 13 TEORIA DO CONDICIONAMENTO Com o passar do tempo, a criança passa a falar mais parecido com o adulto, aprendendo como combinar as palavras da mesma maneira que aprendeu a reproduzi-las, por meio da imitação e posterior aproximação ao modelo adulto. Os behavioristas entendem o erro como algo a ser corrigido imediatamente e a aprendizagem é vista como processo externo, o centro é o professor não o aluno e que todo comportamento é resultado dos estímulos do meio. 14 TEORIA DO CONDICIONAMENTO Com essa visão é que os behavioristas tendem a enfatizar a influência do meio e ver a criança como um receptor passivo da linguagem, desprezando o seu papel no processo de aprendizagem. Mas não explicam o fato das crianças produzirem construções que nunca foram ouvidas por elas anteriormente, assim como o fato da aquisição dos padrões gramaticais, já que as construções agramaticais nem sempre são corrigidas pelos pais e as gramaticais elogiadas, logo não podemser explicadas pelo reforço parental. 15 TEORIA DO CONDICIONAMENTO Os avanços dos estudos linguísticos, especialmente da Psicolinguística, que ajudaram a compreender melhor o que ocorre na mente humana e em seus processos internos e as críticas de estudiosos renomados como Noam Chomsky, o qual alega que esta teoria não é suficiente para explicar fenômenos da linguagem e da aprendizagem, fizeram com que o behaviorismo perdesse espaço entre as teorias psicológicas dominantes. 16 Para descontrair... 17 Para descontrair... 18 Pensamento e Linguagem Aula 4 Teorias Cognitivas Teorias de Solução de Problemas Jerome Bruner Linguagem Teorias Cognitivas A perspectiva cognitiva concebe a aprendizagem como um processo interno, que envolve o pensamento, e que, portanto, não pode ser observado diretamente. As mudanças externas e observáveis são fruto de mudanças internas relacionadas com mentalizações, sentimentos, emoções e significações da pessoa. Os cognitivistas definem aprendizagem como uma reestruturação que implica novas potencialidades. É neste processo que o sujeito tem um papel ativo. Teoria da Solução de Problemas Jerome Seymour Bruner (1915 - 2016) é um psicólogo estatunidense, de família polonesa. Professor de psicologia em Harvard e depois em Oxford. Escreveu importantes trabalhos sobre educação, liderou o que veio a ser conhecido como Revolução Cognitiva, na década de 1960. Esta introduz novas perspectivas no estudo da mente, superando os postulados colocados até aquela época pelo behaviorismo, que focava apenas nos fenômenos observáveis. Durante o governo dos presidentes Kennedy e Johnson ele chefiou o Comitê de Ciências (Science and Advisory Committee). Atualmente era professor da Escola de Direito da NYU. Suas publicações mais importantes são sobre o conhecimento: Ensaios da mão esquerda (1960) O Processo da Educação (1961), Atos de Significação (1990), A Cultura da Educação (1996). Teoria da Solução de Problemas Bruner foi um dos primeiros a propor que as crianças aprendem a se comunicar no contexto da solução de problemas enquanto interagem com os pais. A posição de Bruner é mais consistente com a posição cognitiva-gestaltista. Ele aponta que o objetivo último do ensino é promover a “compreensão geral da estrutura de uma matéria”. Bruner realça a importância que tem na aprendizagem a formação de conceitos globais, a construção de generalizações coerentes, a criação de gestalts cognitivas. Teoria da Solução de Problemas Bruner considera a sua teoria como uma teoria da instrução e não uma teoria da aprendizagem. Acha que uma teoria da aprendizagem é descritiva, isto é, faz uma descrição dos fatos à posteriori. A teoria da instrução, por outro lado, é prescritiva, isto é, prescreve antecipadamente como um assunto pode ser melhor ensinado. Se a teoria da aprendizagem nos diz que as crianças de seis anos ainda não estão prontas para compreender o conceito de reversibilidade, a teoria da instrução prescreve a melhor forma de guiar a criança a adquirir este conceito quando tiver idade suficiente para o compreender. A teoria de Bruner tem quatro princípios fundamentais: motivação, estrutura, sequência e reforço. Motivação – primeiro princípio A motivação especifica as condições que predispõem um indivíduo para a aprendizagem. Bruner insiste que só por meio da motivação intrínseca se sustenta a vontade de aprender, contudo não nega a noção de reforço ou recompensa externa em que acredita que pode ser importante para iniciar determinadas ações ou assegurar que estas sejam repetidas. Bruner preocupa-se mais com a motivação intrínseca do que com o que lhe parece ser um efeito transitório da motivação externa. Motivação – primeiro princípio O melhor exemplo da motivação intrínseca é a curiosidade, porque todos nós nascemos equipados com o impulso da curiosidade; Outra motivação inata é o impulso para adquirir competência e finalmente, Bruner lista a reciprocidade como uma motivação inerente às especies. De acordo com ele, as motivações intrínsecas são em si próprias recompensadoras e por isso auto- suficientes. Dado que a aprendizagem e a resolução de problemas exigem a exploração de alternativas, esta constitui o fulcro do problema e é crítico na criação de uma predisposição, de uma motivação para a aprendizagem a longo prazo. Motivação – primeiro princípio A exploração de alternativas envolve três fases: a) Ativação: as crianças precisam experimentar um certo grau de incerteza para atuarem na exploração, para poderem iniciar. b) Manutenção: uma vez ativada, a exploração terá de ser mantida. Isto envolve assegurar à criança que a exploração não constituirá uma experiência perigosa ou dolorosa. c) Direção: a direção da exploração acontece em função de dois fatores: conhecer o objetivo e saber que a exploração de alternativas é relevante para alcançar o objetivo. Deste modo, o Primeiro Principio de Bruner indica que as crianças apresentam uma vontade intrínseca para aprender. Estrutura – segundo princípio A estrutura, afirma que qualquer corpo de conhcimentos, pode ser organizado de uma forma ótima para ser transmitido e compreendido por praticamente qualquer pessoa. Para Bruner, a estrutura de qualquer corpo de conhecimentos pode ser caracterizada de três formas: modo de apresentação; economia da apresentação; e poder de apresentação. Estrutura – segundo princípio a) Modo de apresentação: refere- se à técnica, ao método pelo qual a informação é comunicada. b) Economia da Apresentação: a economia na comunicação de um corpo de conhecimentos depende da quantidade de informação que o aluno tem de reter para poder continuar a aprender. Quanto menos informação, menos os fatos e maior a economia. c) Poder de apresentação: Bruner acha que a natureza é simples, por isso, para ser poderosa, uma apresentação de algum aspecto da natureza terá de refletir a sua simplicidade. Sequência – terceiro princípio A sequência, em que o grau de dificuldade sentido pelo aluno ao tentar dominar uma matéria depende, em larga medida, da sequência em que o material é apresentado. Bruner acredita que o desenvolvimento intelectual ocorre de acordo com uma sequência inata, movendo-se da representação motora para a icônica até à simbólica, então é altamente provável que esta também seja a melhor sequência para qualquer matéria. Sequência – terceiro princípio a) Representação motora: é necessária às crianças muito pequenas, que conseguem compreender melhor as coisas em termos de ações. b) Representação icônica: esta representação pode ser utilizada com crianças um pouco mais velhas. Aprendem a pensar a nível icônico quando os objetos são concebidos na ausência da ação. c) Representação simbólica: pode ser utilizada no estágio em que as crianças conseguem traduzir a experiência em termos de linguagem, permitindo que estas comecem a fazer derivações lógicas e a pensar de forma mais compacta. Reforço – quarto princípio De acordo com Bruner, a aprendizagem requer reforço. Para atingir a perícia de um problema, temos de receber informação retroativa (feedback) sobre o que estamos a fazer. A altura em que o reforço é dado é crucial para o sucesso da aprendizagem, assim como o reforço deve ser dado de uma forma compreensível para o adulto. Reforço – quarto princípio Aprendizagem por descoberta Para Bruner, podemos aprender por recepção, assimilandosaberes que nos são dados ou descobrindo esses saberes. Ele vai defender a qualidade da aprendizagem por descoberta. Reforço – quarto princípio Aprendizagem por descoberta Nesta o indivíduo implicado descobrirá por meio de um pensamento analítico e intuitivo, por meio da atividade de exploração e de pesquisa. O sujeito tem um papel ativo no ato de aprender. A aprendizagem por descoberta contribui para uma melhoria das capacidades intelectuais, pois privilegia o processo de observar, analisar e pensar pois para Bruner “O saber é um processo não é um produto”. Pensamento e Linguagem Aula 5 Teorias Cognitivas Jean Piaget Linguagem 1 Teorias Cognitivas – Jean Piaget Jean Piaget (1896 - 1980) foi um epistemólogo suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX. Defendeu uma abordagem interdisciplinar para a investigação epistemológica e fundou a Epistemologia Genética,teoria do conhecimento com base no estudo da gênese psicológica do pensamento humano. 2 Teorias Cognitivas – Jean Piaget Estudou inicialmente biologia na Universidade de Neuchâtel, onde concluiu seu doutorado e posteriormente se dedicou à área de Psicologia, Epistemologia e educação. Foi professor de psicologia na Universidade de Genebra de 1929 a 1954, e tornou- se mundialmente reconhecido pela sua revolução epistemológica. Durante sua vida Piaget escreveu mais de cinquenta livros e diversas centenas de artigos. 3 Epistemologia Genética – Piaget Piaget acredita ser o conhecimento e também a linguagem, frutos de uma troca entre organismo e meio; portanto, não é nem empirista, nem inatista. Para ele, há sempre um fator endógeno, orgânico, que precede cada passo da construção do conhecimento e da linguagem. Piaget acredita, como ele próprio diz, num a priori construído. 4 Epistemologia Genética – Piaget O construtivismo assume uma visão não modular (holista) da arquitetura cognitiva humana, na medida em que concebe a mente como indissociada por domínio. Daí que o desenvolvimento linguístico está submetido aos mesmos fatores e padrões que intervêm no desenvolvimento da cognição como um todo. Piaget dá um grande valor para a experiência, mas não se deve confundi-lo com um empirista. Para ele, a criança constrói o conhecimento com base na sua experiência com o mundo físico, isto é, a fonte do conhecimento está na (inter)ação da criança e o ambiente. 5 Epistemologia Genética – Piaget Piaget ocupou-se, sobretudo, das condições necessárias para que o ser humano possa falar, possa construir a linguagem, falada e escrita. Quando se fala em condição necessária, fala-se daquilo que não pode deixar de estar presente para que o fenômeno ocorra. Para Piaget, a linguagem é constituída a partir do encontro de um funcionamento endógeno (orgânico) do ser humano com a vida social; aliás, de forma análoga ao conhecimento. Graças a esse encontro a criança organizará o seu mundo, entre o nascimento e um ano/dois anos (em média). 6 Epistemologia Genética – Piaget Essa organização será representada por intermédio de imagens mentais, a partir do surgimento da função semiótica (capacidade neurológica de distinguir o significado do significante – “faz de conta” – cabo de vassoura vira cavalo). As imagens mentais serão ligadas entre si pelas relações lógicas previstas no funcionamento das estruturas mentais orgânicas específicas para o ato de conhecer que permitirão o nascimento da linguagem falada como verbalização desse entrelaçamento imagístico que refletirá as ações da criança no seu mundo. 7 Epistemologia Genética – Piaget A construção do discurso não depende apenas da distinção entre significado e significante, mas também de toda uma organização espaço-temporal e causal do real e de suas representações, construídos pela criança por intermédio de suas ações que visam conseguir alguma coisa no mundo que a cerca. A linguagem da criança inicia-se como que dublando essas ações, para depois revelar as organizações dos eventos, dos objetos e das pessoas. Sem as organizações que procedem das ações [que por sua vez são determinadas pelas construções endógenas nas trocas do organismo com o meio] anteriores à linguagem, o discurso coerente será impossível. 8 Epistemologia Genética – Piaget O nível endógeno diz respeito às construções internas, especialmente do funcionamento cerebral, melhor dizendo, funcionamento das estruturas mentais específicas para o ato de conhecer. O nível exógeno é aquele das construções que se iniciam com os esquemas motores primários, depois secundários e com a construção dos sistemas de esquemas de ação. O esquema é aquilo que é generalizável numa determinada ação (por exemplo, o esquema de pegar refere-se a pegar qualquer coisa e não apenas àquilo que a criança pegou pela primeira vez). 9 Epistemologia Genética – Piaget Há três tipos de conhecimento figurativo: a percepção, que funciona em presença do objeto e por intermédio de um campo sensorial; a imitação, no sentido amplo (gestual, fônica, imitação gráfica, ou desenho, etc.), funcionando na presença ou na ausência do objeto, mas pela reprodução motora manifesta; e a imagem mental, que, por definição, só existe na ausência do objeto e pela reprodução interiorizada. 10 Epistemologia Genética – Piaget O aspecto operativo é o que caracteriza as formas de conhecimento que consistem em modificar o objeto ou o acontecimento a ser conhecido de maneira a alcançar as transformações como tais e seus resultados, as ações e as coordenações dessas ações [graças aos esquemas motores] e às operações. Para Piaget é evidente que em certo nível de desenvolvimento pode-se, também,representar figurativamente as transformações, ou algumas delas, tão bem quanto os estados ou configurações ligadas por estas transformações; assim, os dois aspectos, figurativo e operativo, da cognição tornam-se complementares. 11 Epistemologia Genética – Piaget Piaget propõe que o desenvolvimento cognitivo passa por períodos, estágios: Sensório-motor ( 0 a 18 meses) Pré-operatório (dois a sete anos) Operações concretas (7 a 12 anos) Operações formais. Os estágios são cumulativos e construídos a partir dos estágios precedentes 12 Epistemologia Genética – Piaget Esses estágios são universais (gerais e invariáveis), o que leva a uma concepção filogenética da cognição, e, em cada um, a criança desenvolve capacidades necessárias para o estágio seguinte, provocando mudanças qualitativas no desenvolvimento. Para a aquisição da linguagem, interessam os períodos sensório-motor e pré-operatório. O primeiro é caracterizado pelos exercícios reflexos, os primeiros hábitos, a coordenação entre visão e apreensão e a busca de objetos desaparecidos. O segundo é marcado pela função simbólica e pelas organizações representativas. 13 Período Sensório-Motor (0-2 anos) A criança se desenvolve de um período neonatal, de completa indiferenciação entre o eu e o mundo para uma organização coerente de ações sensório-motoras diante do ambiente imediato. Esta organização é inteiramente prática, pois abrange ajustamentos perceptivos e motores simples às coisas e não manipulações simbólicas delas. Há seis estágios principais neste período, alguns dos quais subdividem- se em subestágios. 14 Subestágios de período: Sensório- Motor (0 a 2 anos) Estágio 1: O Uso dos Reflexos (0 - 1 mês); Estágio 2: As primeiras Adaptações Adquiridase a Reação Circular Primária (1 - 4 meses); Estágio 3: A Reação Circular Secundária (4 - 8 meses); Estágio 4: Coordenação de Esquemas Secundários e sua Aplicação a Situações Novas (8 - 12 meses); Estágio 5: A Reação Circular Terciária e a Descoberta de Novos Meios Através da Experimentação Ativa (12- 18 meses); Estágio 6: Invenção de Novos Meios Através de Combinações Mentais (18 meses em diante). 15 Período Sensório-Motor (0-2 anos) A inteligência sensório-motora, sendo uma inteligência da ação, restringe-se à busca de objetivos concretos de ação. O pensamento representativo, dada sua própria natureza, pode refletir sobre a própria organização dos seus atos. A possibilidade de ser auto- contemplativo e não simplesmente ativo, é inerente ao pensamento representativo. 16 Período Pré-Operatória (2-7 anos) O período pré-operatório é marcado pelo egocentrismo. Neste momento, a criança é egocêntrica e demonstra frequentemente uma relativa dificuldade de assumir o papel de outra pessoa, ou seja, de considerar seu próprio ponto de vista como um entre muitos outros e de tentar coordená-lo com estes outros pontos de vista. 17 Período Pré-Operatório (2-7 anos) Alguns comuns: a criança aprendeu qual é o seu lado direito e o seu lado esquerdo, mas não consegue identificar as mesmas posições de direito e esquerdo em uma pessoa que esteja de frente para ela. A criança faz pouco esforço de adaptar a sua linguagem falada às necessidades do ouvinte. O egocentrismo da criança pequena a leva a entender que todos pensam da mesma forma que ela e que o mundo inteiro compartilha de seus sentimentos e desejos. Este tipo de pensamento leva à onipotência mágica. O mundo é criado para a criança, ela pode controlá-lo. 18 Período Pré-Operatório (2-7 anos) Este tipo de pensamento egocentrico é animista, realista e artificialista. O animismo é a tendência a atribuir vida, intenção, desejo, vontade, consciência, sentidos a elementos da natureza e a objetos. O realismo é a tendência a atribuir existência real a acontecimentos que não são concretos, como os sonhos e os nomes. O artificialismo é a tendência a atribuir ao Homem a responsabilidade pela criação dos fenômenos da natureza. 19 O Surgimento da Linguagem no Construtivismo É na passagem do primeiro para o segundo estágio que a linguagem surge na criança, já que, segundo Piaget, é nesse momento que encontra-se a função simbólica (ou semiótica). Como ele assume uma conceito de língua como sendo um sistema representativo, somente no momento em que a criança está apta a manipular símbolos é que a linguagem toma lugar. Dessa forma, para que uma criança faça uso do signo linguístico, é necessário que ela “aprenda” que as coisas existem mesmo que não estejam no seu campo de visão. Um dos requisitos para adquirir a linguagem é a permanência do objeto: um objeto existe mesmo que não seja visto. O segundo pré-requisito é a representação. O caráter representativo é inerente ao signo. 20 A Fala Egocêntrica Um dos aspectos linguísticos que mais chamou a atenção de Piaget foi o discurso egocêntrico. Para ele, as conversações da criança são egocêntricas ou centralizadas. (fala consigo mesma). Não há intenção de se comunicar, não há a preocupação com o interlocutor . Por volta dos sete anos esse discurso tende a diminuir, até desaparecer, enquanto o discurso socializado ganha espaço. 21 Pensamento e Linguagem Aula 6 Teorias Cognitivas Emília Ferreiro Linguagem 1 Teorias Cognitivas – Emília Ferreiro Retorna a Buenos Aires em 1971. Forma um grupo de pesquisa sobre alfabetização e publica a sua tese de doutorado Les relations temporelles dans le langage de l'enfant. No ano seguinte, recebe uma bolsa da Fundação Guggenheim (EUA). Em 1974 afasta-se de suas funções docentes na Universidade de Buenos Aires. 2 Emilia Ferreiro (Argentina, 1936) é uma psicóloga e pedagoga argentina, radicada no México, doutora pela Universidade de Genebra, sob a orientação de Jean Piaget. Em 1970 depois de se formar em psicologia pela Universidade de Buenos Aires, estudou na Universidade Genebra, onde trabalhou como pesquisadora-assistente de Jean Piaget e obteve o seu PhD. Teorias Cognitivas – Emília Ferreiro Em 1979 passa a residir no México com o marido, o físico Rolando García, com quem teve dois filhos. Atualmente é Professora Titular do Centro de Investigação e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional, na Cidade do México. 3 Em 1977, após o golpe de Estado na Argentina passa a viver em exílio na Suíça, lecionando na Universidade de Genebra. Inicia com Margarita Gómez Palacio uma pesquisa em Monterrey (México) com crianças que apresentam dificuldade de aprendizagem. Teorias Cognitivas – Emília Ferreiro Existe um processo de aquisição da linguagem escrita que precede e excede os limites escolares. É um processo de autoconstrução no confronto e na interação da criança com o seu meio. 4 Antigamente acreditava-se que as crianças chegavam a escola sem nenhum conhecimento sobre a leitura e escrita. "Ignorava-se" todo conhecimento prévio dela. Era como se ela precisasse de uma autorização do adulto Teorias Cognitivas – Emília Ferreiro Os estudos de Emília Ferreiro contestam essa posição. Para ela e seus seguidores as crianças chegam à escola sabendo várias coisas sobre a língua. É de fundamental importância avaliar as crianças antes de determinar estratégias para sua alfabetização. É preciso prestar atenção aos aspectos construtivos e não somente gráficos. 5 As crianças antes mesmo de chegarem à escola constroem hipóteses sobre a escrita e a leitura. Essas hipóteses são construídas normalmente a partir dos 4 anos. Teorias Cognitivas – Emília Ferreiro Observam-se três critérios básicos: 1º Critério: o que é uma figura e o que não é uma figura. Existem marcas gráficas figurativas e não- figurativas. 2º Critério: quantidade mínima de caracteres e variação deles. Não basta ter letras, é preciso Ter uma certa quantidade e variedade para que se possa ler. Dois eixos: quantitativo - quantidade mínima de letras, geralmente 3; qualitativo - variação interna necessária para que uma série de grafias possa ser interpretada. 6 Teorias Cognitivas – Emília Ferreiro Observam-se três critérios básicos: 3º Critério: a fonetização da escrita. Atenção às propriedades sonoras do significante. A criança começa por descobrir que as partes da escrita (suas letras)podem corresponder a outras tantas partes da palavra escrita (suas sílabas). Quantidade de letras - quantidade de partes que se reconhece na emissão oral. Inicia-se o período silábico - uma sílaba por letra sem repetir letra e sem omitir sílabas 7 Teorias Cognitivas – Emília Ferreiro A hipótese silábica cria uma contradição com a hipótese da quantidade mínima de letras (caso dos monossílabos) e uma contradição com a escrita dos adultos que sempre terão mais letras que a hipótese silábica permite antecipar. O período silábico-alfabético marca a transição. A criança descobre que a sílaba não pode ser considerada como uma unidade, mas que ela é reanalisável em elementos menores. É o último passo para a compreensão do sistema socialmente estabelecido. 8 Teorias Cognitivas – Emília Ferreiro O aprendizado inicial da língua escrita não se reduz ao ensino das primeiras letras ou do alfabeto. A ideia é alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais relacionadas à leitura. A aprendizagem da escrita vai requerer um aprendiz que reconstrua as relações entre as representações fonológicas e as representações ortográficas da língua. Fonemas e letras são, antes de tudo, construções mentais, sendo sua apropriação por parte por parte do aprendiz produto de uma elaboração cognitiva intensa e gradual. 9 Teorias Cognitivas – Emília Ferreiro Se o aprendizado da escrita envolvesse apenas a reprodução de um código de transcrição gráfica, seria de se esperar que as trocas de letras de restringissem aos alunos com dificuldade de aprendizagem. Observa-se que no processo de aquisição da língua escrita as trocas de letras são comuns. Isto ocorre porque tais fonemas são semelhantes. 10 Teorias Cognitivas – Emília Ferreiro 11 A escrita pré-fonética A partir do encantamento e envolvimento, a criança começa a desenvolver seus primeiros conhecimentos sobre a escrita. Escrever passa a ser diferente de desenhar. Linearidade e descontinuidade são as propriedades iniciais observadas pela criança ao tentar ensaiar os primeiros escritos. A criança observa as convenções em relação à disposição espacial e à direção da escrita. 12 A escrita pré-fonética 13 A escrita pré-fonética 14 A fonetização da escrita A criança começa a problematizar a relação entre as representações fonológica e ortográfica da língua, podendo chegar a uma escrita parcialmente alfabética. Suposições básicas das crianças: a) Todas as palavras que foram lidas devem estar escritas e a ordem em que estão escritas deve corresponder á ordem em que foram enunciadas. b) A quantidade de letras varia em função da quantidade de elementos sonoros existentes na palavra. (cada sílaba uma letra) 15 A fonetização da escrita 16 A escrita alfabética A criança é sensível ao fato de que a língua escrita é regida pelo princípio alfabético, podendo, portanto, estabelecer correspondências grafema-fonema de maneira sistemática e convencional. O tipo de correspondência que a criança faz é biunívoca – cada letra representa somente um fonema e cada fonema é representado por uma letra. A criança preocupa-se em realizar a transcrição fonética da fala. 17 A escrita alfabética 18 A escrita ortográfica Nesta fase a criança compreende que regularidade subjacente à observância do princípio alfabético da língua é relativa. Algumas letras representam mais de um som e determinados sons são representados por mais de uma letra. Muitas vezes a criança se hipercorrige, ou seja, na tentativa de grafar as palavras de acordo com a norma, faz generalizações indevidas de determinada convenção ortográfica com a qual já se deparou. 19 A escrita ortográfica 20 A aquisição da escrita A aquisição da escrita não é feita de modo imediato, mas sim de maneira gradual, implicando em um processo de elaboração de conceitos e competências por parte do aprendiz que se estende muito além da compreensão do princípio alfabético propriamente dito. As pesquisas em psicologia do desenvolvimento cognitivo visa não só descrever como ocorrem tais aquisições, mas também explicar as razões das transformações ocorridas ao longo do desenvolvimento. 21 Pensamento e Linguagem Aula 7 Sócio-Interacionismo Lev Vygotsky Pensamento “O bom aprendizado é somente aquele que se adianta ao desenvolvimento” 2 Lev Vygotsky L.S. Vygotsky (1896- 1934) - estudioso russo que se dedicou a investigações sobre a linguagem e sobre as demais funções psicológicas superiores: pensamento, memória, atenção voluntária, percepção, imaginação. Seus estudos sobre o desenvolvimento humano partiam de uma abordagem sócio-interacionista. 3 Vygotsky sempre considerou o homem inserido na sociedade e, desta forma, sua abordagem foi orientada para os processos de desenvolvimento do ser humano com ênfase da dimensão sócio- histórica e na interação do sujeito com o outro no espaço social. Suas maiores contribuições estão nas reflexões sobre o desenvolvimento infantil e sua relação com a aprendizagem em sociedade e o desenvolvimento do pensamento e da linguagem. Segundo o modelo que propõe, o conhecimento se constrói na interação entre o homem e o meio e, portanto, ao socializar-se, o homem se predispõe à aprendizagem. Pontos a destacar 4 Vygotsky acredita que a aquisição da linguagem na criança se dá devido à interação dessa com o ambiente que a rodeia e o convívio com outros da espécie. A linguagem não é apenas uma expressão do conhecimento adquirido pela criança, entre pensamento e palavra existe uma inter-relação fundamental, em que a linguagem tem papel essencial na formação do pensamento e do caráter do indivíduo. Pontos a destacar 5 Pontos a destacar Os processos de internalização são propulsores do desenvolvimento das funções mentais superiores na criança - passagem dos processos interpsíquicos (sociais) para os intrapsíquicos (individuais). A importância da linguagem como instrumento culturalmente construído. Duas funções: a de intercâmbio social e a de pensamento generalizante. O papel dos mediadores: utilização dos instrumentos na mediação do homem com o meio externo: outros homens e o meio físico.6 Zona de Desenvolvimento Proximal É a distância entre o nível de desenvolvimento real, ou seja, o que a criança consegue fazer sozinha, e o de desenvolvimento potencial, que se refere ao que ela é capaz de realizar sob a orientação, ou com a ajuda, de um parceiro mais experiente. A educação formal deve trabalhar dentro da ZDP. As crianças agem como parceiros de aprendizagem. As mais experientes colaboram no processo de aprendizagem das menos experientes e, ao fazê-lo, organizam e consolidam seus próprios conhecimentos. 7 Imitação Por meio da imitação as crianças podem ir além dos limites de suas próprias idades. As crianças só conseguem imitar comportamentos que estão dentro de sua ZDP, ou seja, aqueles que elas estão prestes a desenvolver por si mesmas. 8 Brincadeiras A brincadeira cria ZDP. Brincando a criança vai além de seu comportamento diário. É como se ela fosse maior do que na realidade é. Por meio da situação imaginária, a criança age para além das restrições situacionais. Os objetos perdem sua ação determinadora e ela passa a agir de acordo com suas ideias, a separar percepção de significado. Logo, a situação imaginária pode ser considerada um meio para se desenvolver o pensamento abstrato. 9 Ao brincar, a criança subordina-se às regras,lutando contra seu desejo e impulso. Ela consegue exercer seu auto-controle coletivamente, na brincadeira, muito antes de conseguir fazê-lo individualmente, por si mesma. Brincadeiras 10 Aprendizagem e Desenvolvimento A interação social é muito importante, especialmente com pessoas mais experientes (adultos ou crianças), que desempenham a função de mediadores entre a criança e os conteúdos que vão ser aprendidos. A aprendizagem é necessária para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Converte-se em desenvolvimento que, por sua vez, abre novos caminhos para o aprendizado. 11 A aprendizagem, como se sabe, ocorre desde o nascimento e não apenas a partir do ingresso na escola. O aprendizado escolar, porém, diferencia-se por ser sistemático e voltado para atransmissão de conceitos científicos (não-espontâneos). Aprendizagem e Desenvolvimento 12 Aprendizagem e Desenvolvimento Vygotsky concebeu o processo de desenvolvimento, estabelecendo, do ponto de vista empírico, as fases importantes deste processo – propondo um processo de periodização do desenvolvimento infantil e do adolescente. A descrição deste processo envolve cinco fases intercaladas por períodos de crises: primeiro ano (2 meses a 1 ano); infância inicial (1 a 3 anos); idade pré-escolar (3 a 7 anos); idade escolar (8 a 12 anos) e adolescência (14 a 18 anos). 13 Aprendizagem e Desenvolvimento Estas idades e fases decorrem do contexto em que se vive e podem variar dependendo das circunstâncias específicas que são oportunizadas, entendendo que cada idade é distinta por uma estrutura qualitativa de recursos e relações. A mudança de uma etapa a outra não é um processo evolutivo, mas um processo dialético de saltos de vida com qualidade. “o desenvolvimento é um processo contínuo de automovimento, que se distingue, em primeiro lugar, pelo permanente aparecimento e formação do novo, não existente em estágios anteriores” 14 Pensamento e linguagem Duas funções básicas da linguagem: Intercâmbio social Pensamento generalizante A linguagem ordena o real, agrupando todas as ocorrências de uma mesma classe de objeto, eventos, situações, sob uma mesma categoria conceitual. 15 Pensamento e linguagem É essa função de pensamento generalizante que torna a linguagem um instrumento de pensamento: ✓a linguagem fornece os conceitos e as formas de organização do real que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento. 16 Pensamento e linguagem A compreensão das relações entre pensamento e linguagem é pois essencial para a compreensão do funcionamento psicológico do ser humano. Pensamento e linguagem têm percursos distintos. 17 Pensamento e linguagem Por volta dos 2 anos o percurso do pensamento encontra-se com o da linguagem e inicia-se uma nova forma de funcionamento: ✓a fala torna-se intelectual, com função simbólica, generalizante; ✓o pensamento torna-se verbal, mediado por significados dados pela linguagem. 18 Pensamento e linguagem A vinculação dos processos de pensamento e linguagem é impulsionado pela própria inserção da criança num grupo cultural. O surgimento do pensamento verbal e da linguagem como sistema de signos é um momento crucial no desenvolvimento da espécie humana, momento em que o biológico transforma-se no sócio-histórico. 19 Pensamento e linguagem Quando os processos se unem, o ser humano passa a ter a possibilidade de um modo de funcionamento psicológico mais sofisticado, mediado pelo sistema simbólico da linguagem. A questão do significado nesta relação (p&l) ocupa lugar central. 20 Pensamento e linguagem O significado é um componente essencial da palavra e é, ao mesmo tempo, um ato de pensamento, pois o significado de uma palavra já é, em si, uma generalização. No significado da palavra é que o pensamento e a fala se unem em pensamento verbal. 21 Pensamento e linguagem É no significado que se encontra a unidade das duas funções básicas da linguagem: o intercâmbio social e o pensamento generalizante. “ O significado de uma palavra representa um amálgama tão estreito do pensamento e da linguagem, que fica difícil dizer se trata-se de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do pensamento.” VY 22 Pensamento e linguagem O pensamento não é simplesmente expresso em palavras: é por meio delas que ele passa a existir. ...o pensamento passa por muitas transformações até transformar- se em fala. Não é só expressão que encontra na fala; encontra sua realidade e a sua forma. 23 TEORIA AUTOR PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS Behaviorismo Skinner • Treino • Estímulo / resposta: a aprendizagem vem do meio • Hábito • Erro: inaceitável • Processo mecânico • Imitação Inatismo Chomsky • “aprendizagem” nata • Primeiro a aceitar o erro Sócio- interacionismo Vygotsky • Interação • Relação recíproca com o meio24 Pensamento e Linguagem Transtornos de Linguagem Transtornos de linguagem 2 Os transtornos de linguagem são problemas relacionados às habilidades linguísticas (fala, leitura, escrita, escuta), especialmente na fase de formação escolar. Os distúrbios de linguagem, assim como os distúrbios de aprendizagem, não são considerados doença. Tratam-se de dificuldades que podem ser contornadas com acompanhamento adequado, direcionado para cada caso. Transtornos de linguagem 3 Causas Disfunções neurofisiológicas; Distúrbios emocionais; Déficits sensoriais (surdez, prematuridade e baixo peso, asfixia perinatal severa, meningite) Distúrbios orofaciais como lábio leporino, fenda palatina, má oclusão dentária; Distúrbios neurológicos como deficiência mental, paralisia cerebral, tumores, traumatismos e infecções. Transtornos de linguagem 4 Os problemas na área da linguagem podem ser retardo na fala ou emissões das primeiras palavras (demora para falar ou expressar-se), deficiência na formação das frases (fala frases de forma incompleta ou mal consegue terminá-las), omissões ou acréscimos de sons na fala (pula palavras ou frases inteiras); troca de fonemas (troca palavras); gagueira (pode ser origem nervosa, psicológica ou motora), entre outras Transtornos de linguagem 5 Algumas áreas do cérebro envolvidas no processamento da linguagem: Área de Broca – azul Área de Wernicke – verde Giro Supramarginal – amarelo Giro Angular – laranja Córtex Auditivo Primário - rosa Etiologia dos distúrbios da linguagem oral 6 As alterações da linguagem situam-se entre os mais frequentes problemas do desenvolvimento, atingindo 3 a 15% das crianças, e podem ser classificadas em atraso, dissociação e desvio. Etiologia dos distúrbios da linguagem oral 7 A etiologia das dificuldades de linguagem e aprendizagem é diversa e pode envolver fatores orgânicos, intelectuais/cognitivos e emocionais (estrutura familiar relacional), ocorrendo, na maioria das vezes, uma inter-relação entre todos esses fatores. Sabe-se que as dificuldades de aprendizagem também podem ocorrer em concomitância com outras condições desfavoráveis (retardo mental, distúrbio emocional, problemas sensório-motores) ou, ainda, ser acentuadas por influências externas, como, por exemplo, diferenças culturais, instrução insuficiente ou inapropriada. Etiologia dos distúrbios da linguagem oral 8 Analisando as alterações da linguagem falada de um ponto de vista estritamente prático, podem-se dividir essas alterações em dois grupos principais: 1) alterações da linguagem devidas a causas predominantemente orgânicas; 2) alterações da linguagem de natureza predominantemente funcionais. 9 Alterações Predominantemente Orgânicas Alterações predominantemente orgânicas 10 Disartria Transtorno da expressão verbal causada por uma alteração do controle muscular dos mecanismos da fala. Compreende as disfunções motoras da respiração, fonação, ressonância, articulação e prosódia. Consiste na dificuldade de articular as palavras. Alterações predominantemente orgânicas 11 Disartria Resultam de uma lesão ao nível de qualquer das partes que intervêm na elaboração e na emissão dos sons, de cuja articulação resulta a palavra falada. A perturbação é mais acentuada quando se trata de pronunciar as consoantes labiais e linguais, as quais são omitidas ao dizer as palavras, ou a pessoa titubeia ao pronunciá-las. A alteração torna-se mais evidente quando se utilizam as frases de prova, como por exemplo, pedindo ao paciente que pronuncie "sou caricaturista, vou caricaturar-me no caricaturista", ou "artilheiro de artilharia", "ministro plenipotenciário" Alterações predominantemente orgânicas 12 Disartria Pode ser encontrada nos traumatismos crânio- encefálicos, nas patologias tumorais do cérebro, cerebelo ou tronco encefálico, nas lesões vasculares encefálicas, na intoxicação alcoólica, na esclerose em placas, na paralisia pseudobulbar, nas paralisias periféricas do grande hipoglosso, pneumogástrico e facial. Na Disartria há sempre uma conservação perfeita da compreensão da linguagem oral e escrita e existe sempre a possibilidade do paciente se expressar perfeitamente por escrito. Alterações predominantemente orgânicas 13 Dislalia Consiste na má pronúncia das palavras, seja omitindo ou acrescentando fonemas, trocando um fonema por outro ou ainda distorcendo-os. A falha na emissão das palavras pode ainda ocorrer a nível de fonemas ou de sílabas. Assim sendo, os sintomas da Dislalia consistem em omissão, substituição ou deformação os fonemas. Alterações predominantemente orgânicas 14 Dislalia As Dislalia constituem um grupo numeroso de perturbações orgânicas ou funcionais da palavra. No primeiro caso, resultam da malformações ou de alterações de inervação da língua, da abóbada palatina e de qualquer outro órgão da fonação. Encontram-se em casos de malformações congênitas, tais como o lábio leporino ou como consequência de traumatismos dos órgãos fonadores. Quando não se encontra nenhuma alteração orgânica a que possa ser atribuído, esta é chamada de Dislalia Funcional. Nesses casos, pensa-se em hereditariedade, imitação ou alterações emocionais e, entre essas, nas crianças é comum a Dislalia típica dos hiperativos. Alterações predominantemente orgânicas 15 Dislalia Também nos deficientes mentais se observa uma Dislalia, às vezes grave ao ponto da linguagem ser acessível apenas ao grupo familiar. Até os quatro anos, os erros na linguagem são normais, mas depois dessa fase a criança pode ter problemas se continuar falando errado. A Dislalia, troca de fonemas (sons das letras), pode afetar também a escrita. Alterações predominantemente orgânicas 16 Dislexia É um distúrbio específico da linguagem caracterizado pela dificuldade em decodificar (compreender) palavras. Segundo a definição elaborada pela Associação Brasileira de Dislexia, trata-se de uma insuficiência do processo fonoaudiológico e inclui-se frequentemente entre os problemas de leitura e aquisição da capacidade de escrever e soletrar. Resumidamente podemos entender a Dislexia como uma alteração de leitura. Alterações predominantemente orgânicas 17 Dislexia Apesar da criança disléxica ter dificuldade em decodificar certas letras, não o faz devido a algum problema de déficit cognitivo. Normalmente esses pacientes apresentam um QI perfeitamente compatível com a idade. Alterações predominantemente orgânicas 18 Dislexia O diagnóstico da Dislexia é muito semelhante ao do de outros distúrbios de aprendizagem. Por isto, é preciso muito cuidado para não rotular toda e qualquer alteração de leitura como Dislexia. Esta tem sempre como causa primária a relação espacial alterada, fazendo com que a criança não consiga decifrar satisfatoriamente os códigos da escrita. O diagnóstico da Dislexia exige quase sempre uma equipe multidisciplinar, formada por neurologista, psicólogo, psiquiatra e psicopedagogo. Esta equipe tem a função básica de eliminar outras causas responsáveis pelas trocas de letras e outras alterações de linguagem. Alterações predominantemente orgânicas 19 Afasia Pode ser entendida como uma perturbação da linguagem caracterizada pela perda parcial ou total da faculdade de exprimir os pensamentos por sinais e de compreender esses sinais. Alguns autores referem a Afasia como a perda da memória dos sinais pelos quais se realiza a troca ideias. De qualquer forma, o fato dominante na Afasia é a incompreensão da palavra falada e a impossibilidade, em grau variável, de ler ou de escrever. Alterações predominantemente orgânicas 20 Afasia O diagnóstico de afasia exige quatro característica: 1. É sempre produzida por lesões focais no córtex ou do centro oval. 2. É sempre compatível com a integridade das funções motoras, sensitivas e das percepções elementares, portanto, não é condicionada por alterações nessas áreas. 3. Geralmente está acompanhada, em grau variável,de elementos apráxicos ou cognitivos. 4. Está associada a transtornos mais ou menos profundos da atividade intelectual que podem ser concomitantes ou simples repercussões dessas alterações da linguagem. Alterações predominantemente orgânicas 21 Afasia As causas da afasia são as seguintes: 1. Desordens vasculares 2. Traumatismos que atingem o hemisfério esquerdo 3. Processos inflamatórios 4. Escleroses disseminadas e encefaloses 5. Abscessos e gomas 6. Tumores 7. Hematomas Alterações predominantemente orgânicas 22 Redução da Linguagem A redução da linguagem, associada ou não às alterações articulares é a característica de algumas Afasias. Ela apresenta aspectos múltiplos, que algumas vezes se sucedem em um mesmo doente. A inibição é a característica mais constante, mostrando raridade e brevidade na expressão espontânea; durante um exame, as respostas são curtas como se emitidas a contragosto, em resposta a solicitações repetidas. Alterações predominantemente orgânicas 23 Redução da Linguagem Supressão da Linguagem e Estereotipia Uma total supressão da linguagem caracteriza a instalação de alguns tipos de Afasia, mas ela não será jamais um fenômeno duradouro. As estereotipias, que são uma outra manifestação de redução extrema da linguagem. Na estereotipia toda expressão oral termina pela emissão de algum som repetitivo, tipo, por exemplo, "tan-tan", ou de alguma palavra mais ou menos deformada, de um segmento de frase que é sempre o mesmo, quaisquer que sejam as condições de incitação. Alterações predominantemente orgânicas 24 Redução da Linguagem Estereotipia Verbal A Estereotipia Verbal, que consiste na repetição automática de uma palavra, sílaba ou som, que se intercala entre as frases, sem nenhuma finalidade, como vimos, teria as seguintes características: fixidez, duração, identidade, inutilidade e inadequação às circunstâncias. As estereotipias verbais são comuns nos esquizofrênicos e deficientes mentais. Entretanto, certas estereotipias encontram a sua explicação em lesões cerebrais circunscritas, como na demência pré-senil de Pick, nas lesões subcorticais da encefalite epidêmica, no parkinsonismo, enfermidades nas quais se verificam estereotipias verbais de origem orgânica. Alterações predominantemente orgânicas 25 Redução da Linguagem Agramatismo O agramatismo é uma evolução frequente da Afasia e reflete uma importante redução da linguagem. A utilização prevalente de substantivos, juntamente com o emprego sistemático de verbos no infinitivo e a supressão de pequenos instrumentos de linguagem (artigos, preposições...) determinam uma forma de expressão semelhantea uma linguagem primitiva (mim Tarzã, you Jane) ou de um estilo telegráfico, com uma linguagem econômica, reduzida, concreta, pobre, sem flexibilidade e sem possibilidade de abstração. Alterações predominantemente orgânicas 26 Redução da Linguagem Parafasias e Jargonoafasia Consideradas tipos de Afasia onde não ocorre a inibição da fala. As parafasias verbais consistem na utilização de uma palavra por outra. A palavra proferida apresenta, algumas vezes, uma relação de ordem conceitual com a palavra substituída (garfo por colher, lápis por borracha) ou de ordem fonética (pêra por cera, marco por barco), porém sua utilização frequentemente parece ocorrer ao acaso. Alterações predominantemente orgânicas 27 Redução da Linguagem Parafasias e Jargonoafasia Já o jargão (Jargonoafasia) é uma linguagem constituída de parafasias verbais e literais, uma utilização defeituosa da organização gramatical: ex.: "o amigo onde passei as férias". Normalmente, o jargonafásico não toma consciência da desorganização em sua linguagem (anosognosia) mas, com o passar do tempo pode surgir alguma atitude crítica que permite ao paciente reconhecer seus erros e tentar corrigi-los. Alterações predominantemente orgânicas 28 Discalculia É definida como uma desordem neurológica que afeta a habilidade de uma pessoa compreender e manipular números. Pode ser causada por um déficit de percepção visual. O termos discalculia é usado frequentemente ao consultar especificamente a inabilidade de executar operações matemáticas ou aritméticas, mas é definida por alguns profissionais educacionais como uma inabilidade mais fundamental para conceitualizar números como um conceito abstrato de quantidades comparativas. Alterações predominantemente orgânicas 29 Discalculia Alguns sintomas: Dificuldades na identificação visual e auditiva de números; Baixa capacidade para contar e baixa compreensão ou confusão dos sinais matemáticos, por exemplo, +, -, ÷ , x; Dificuldades com adição, subtração, multiplicação e divisão; Dificuldade em compreender e aprender tabuadas; Problemas ao diferenciar o esquerdo do direito (lateralidade); Alterações predominantemente orgânicas 30 Discalculia Alguns sintomas: Falta de sentido de orientação (norte, sul, leste, e oeste); Dificuldades na utilização de compasso; Dificuldades com calculadora na inserção da informação; Incapacidade de dizer qual de dois números é o maior; Dificuldade na compreensão de conjuntos. Dificuldade na compreensão de quantidade. Dificuldades na compreensão do conceito de medida. 31 Alterações Predominantemente Funcionais Alterações predominantemente funcionais 32 Aqui se incluem todas as alterações da linguagem oral resultantes de distúrbios emocionais, havendo integridade anatômica dos centros e das vias de condução da linguagem. As principais alterações deste tipo são: DISFEMIAS DISFONIAS LOGORRÉIA BRADILALIA VERBIGERAÇÃO MUTISMO MUSSITAÇÃO ECOLALIA ESQUIZOFASIA NEOLOGISMOS Alterações predominantemente funcionais 33 Disfemia São perturbações intermitentes na emissão das palavras, sem que existam alterações dos órgãos da expressão. Neste grupo de transtornos da linguagem o distúrbio mais importante é a gagueira (tartamudez). Caracteriza-se por hesitação, silabação, precedida ou intercalada dos fonemas qui, que, ga, gue. A gagueira revela a tendência de aumentar ou diminuir sob a influência da emoção. Alterações predominantemente funcionais 34 Disfemia A gagueira está muito além do simples ato de falar com bloqueios e/ou repetições. Ocorrem com os gagos fenômenos que não conseguimos observar, como o conflito de falar e não falar, o medo de algumas palavras, a ansiedade em certas situações de fala, auto-defesa, entre outros. Costuma passar pelo melhor ajustamento social e emocional, não evitar as situações onde se deve falar, não evitar de dizer determinadas palavras, acalmar-se e trabalhar o medo e a auto-confiança. Segundo um gago famoso (Bloodstein) que estudou o assunto a fundo, a gagueira é o resultado da reação de luta interior do indivíduo que fala. Alterações predominantemente funcionais 35 Disfonia Não se trata, propriamente, de alteração da linguagem, mas de defeitos da voz consequentes a perturbações orgânicas ou funcionais das cordas vocais ou, ainda, como consequência de uma respiração defeituosa. Seria então, a Disfonia, um distúrbio da voz, como rouquidão ou aspereza. A Disfonia é subdividida em: a) Disfonia Funcional: Alteração da voz resultante de abuso vocal ou mal uso. Não apresenta qualquer causa física ou estrutural. b) Disfonia Orgânica: Alteração da voz, causada ou relacionada a algum tipo de condição laringiana ou doença. Alterações predominantemente funcionais 36 Disfonia Alterações predominantemente funcionais 37 Logorréia Produção verbal anormal intensa e acelerada, frequentemente associada à fuga de ideias e distraibilidade. Há uma experiência subjetiva de impulso para falar a que o paciente pode ou não resistir; o desempenho verbal exibe normalmente várias alterações de conteúdo e forma da linguagem. Embora a logorréia seja uma manifestação frequente de mania e hipomania, a sua ocorrência não é limitada às alterações de humor e pode ser uma característica da esquizofrenia ou de transtornos mentais orgânicos. Sinonímia: discurso acelerado. Alterações predominantemente funcionais 38 Logorréia Alterações predominantemente funcionais 39 Bradilalia Consiste numa diminuição da velocidade de expressão, como resultado da lentidão dos processos psíquicos e do curso do pensamento. Observa-se no parkinsonismo pós-encefalítico, em casos de epilepsia pós-traumática. Verbigeração É a repetição incessante durante dias, semanas e até meses, de palavras e frases pronunciadas em tom de voz monótono, declamatório ou patético. Ë observada nos estados demenciais, em psicoses confusionais e na esquizofrenia, especialmente na forma catatônica. Alterações predominantemente funcionais 40 Mutismo Mutismo é a ausência de linguagem oral. O mutismo tem origem e mecanismos os mais variados. Nas doenças mentais, é observado nos estados de estupor da confusão mental, da melancolia e da catatonia; nos estados demenciais avançados, na paralisia geral e na demência senil. Na esquizofrenia, o mutismo adquire uma importante significação. Pode decorrer, nesse caso, de interceptação do pensamento, de perda de contato com a realidade, de alucinações imperativas ou de ideias delirantes de culpabilidade. Com muita frequência, os catatônicos não falam nem respondem ao interrogatório, dando-nos a impressão de que se encerram voluntariamente no mais completo mutismo. Alterações predominantemente funcionais 41 Mussitação É a expressão da linguagem em voz muito baixa; o enfermo movimenta os lábios de maneira automática, produzindo murmúrio ou som confuso. É um sintoma próprio da esquizofrenia Alterações predominantemente funcionais 42 Ecolalia É a repetição, como um eco, das últimas palavras que chegam ao ouvido do paciente. Em condições patológicas, observa-se nos catatônicos. O fenômeno tem muita semelhança com a perseveração do pensamento, observada nos epilépticos. Os enfermos repetem como um eco não só as palavras que lhes são dirigidas, como partes de uma frase que escutam
Compartilhar