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DIREITO PENAL I aula 02 aluno 1

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DIREITO PENAL I
PROFESSOR: ANDERSON ELISEU DA SILVA
EMAIL: anderson.eliseu@estacio.br
Princípio da Legalidade
Previsto também na Constituição Federal em seu art. 5.º, XXXIX, tem por finalidade servir como garantia política ao cidadão; garantia contendora do poder político-estatal, contra a arbitrariedade. 
Compreende dois princípios: Princípio da reserva legal e Princípio da anterioridade.
Aspecto político do pr. da legalidade: garantia constitucional fundamental do homem – só se pune aquele que praticar a conduta descrita, definida na lei, protegendo assim os demais membros da coletividade e controlando qualquer atuação arbitrária do Estado no seu direito de liberdade, pondo limites ao jus puniendi do Estado, tanto na criação dos delitos e das penas pelo Poder legislativo, quando pelo Poder Judiciário.
Aspecto histórico do pr. da legalidade: 
NULLUM CRIMEN, NULLA POENA SINE PRAEVIA LEGE – a expressão em latim foi traduzida por Feuerbach (1.775/1.833).
Considerado o pai do direito penal moderno e, tal expressão surgiu pela primeira vez na MAGNA CHARTA LIBERTATUM, documento de cunho liberatório imposto pelos barões ingleses ao Rei João Sem Terra em 1.215, a qual previa que, um homem livre não podia ser punido nem privado de sua liberdade se não houvesse previsão legal. 
O mesmo princípio, constou na Constituição Carolina Germânica de 1.532.
Mas no fim do século XVIII, sob a influência do Iluminismo, que o princípio ganhou força e efetividade, com o objetivo de garnatir segurança jurídica e conter o arbítrio.
Em 1.762, com a teoria do Contrato Social de Rousseau, o pr. da legalidade teve grande impulso; dizia que o cidadão só aceitaria viver em sociedade, se determinadas regras criadas pelo Estado, lhe trouxesse garantias e seguranças mínimas contra o abuso estatal.
Em 1.764, o Marquês de Beccaria, na sua obra mais famosa, DOS DELITOS E DAS PENAS, influenciado por Rousseau, mencionou que cabia somente ao legislador a criação dos delitos e das penas, desde que observassem o “Contrato Social”.
Em 1.789, com a Revolução Francesa, tal princípio foi consagrado na Declaração dos Direitos do Homem. E, Montesquieu na sua obra TEORIA DA SEPARAÇÃO DOS PODERES, menciona que não poderia nem o juiz usurpar a função que seria então do Poder Legislativo, cabendo apenas a função de aplicá-la no caso concreto de forma estrita e rigorosa, somente o que estivesse em regras penais objetivas.
A partir daí, tal princípio ganhou tamanha importância, que passou a constar nos mais importantes documentos históricos, tais como:
- Bill of Rights da Filadélfia em 1.764;
- Declaração dos Direitos da Virgínia e a Constituição Americana de 1.776;
- Código Penal Austríaco no art. 1º em 1.787;
- Declaração dos Direitos do Homem em 1.789, na Revolução Francesa;
- Constituição Francesa de 1.791
- no Brasil, em todas as Constituições, inclusive na Constituição Imperial de 1.824.
Aspecto jurídico: somente haverá crime quando houver absoluta e perfeita correspondência da conduta com a descrição legal.
Pela teoria de Binding, as normas incriminadoras não são proibitivas, mas descritivas (preceito primário e secundário do tipo). Quem pratica o crime não age contra a lei, mas de acordo com a descrição legal, com a definição da própria conduta, art. 1º, CP – TIPO PENAL: é o fato típico, hipóteses taxativamente descritas.
Vedação do emprego da analogia in malam partem: só cabe exclusivamente à lei a criação de uma conduta criminosa (pr. da reserva legal). 
Há absoluta proibição de qualquer outra fonte de direito criar, definir ou descrever condutas e sanções.
Mas, não veda-se a analogia in bonam partem, ou seja, casos parecidos em que beneficie o indivíduo, pode ser aplicada, mas NUNCA para criar condutas ou sanções.
Assim, sob o aspecto material, a criação de um crime e sua pena somente deve ocorrer quando estritamente necessário para a sociedade, para não por em risco certos valores. 
Logo, não devem ser criados crimes, por exemplo, que afrontem a dignidade da pessoa humana, pois afronta o Estado Democrático de Direito.
Princípio da reserva legal 
Não há crime sem lei que o defina nem pena sem cominação legal, ou seja, somente a lei poderá descrever crimes e cominar penas.
a) Aspectos 
Formal:
•	reserva absoluta da lei (somente a lei poderá veicular matéria penal). Segundo a doutrina dominante, somente a lei, em sua concepção formal e estrita, pode criar tipos e impor penas.;
Anterioridade da Lei
 Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
Cominação: do verbo cominar - co.mi.nar transitivo direto
(termo jurídico) decretar, impor, prescrever pena ou castigo por descumprimento ou infração de lei.
(termo jurídico) ameaçar com pena ou castigo no caso de infração prevista em lei ou não cumprimento de contrato ou de preceito, ordem ou mandado.
•	taxatividade (necessidade da lei descrever o crime em todos os seus pormenores); proibição da analogia (não é admitida analogia em normas incriminadoras, somente em normas não incriminadoras é admitida a analogia, desde que seja para beneficiar o agente). 
	Material:
•	tipo penal que exerce também uma função seletiva, que consiste em o legislador, por meio do tipo, selecionar, entre todas as condutas humanas, as mais perniciosas (prejudiciais) à sociedade. 
Em um tipo penal não pode constar condutas positivas, não perniciosas à sociedade.
Princípios
•	Adequação social: de acordo com este princípio, não podem ser considerados criminosos fatos socialmente adequados, ou seja, as condutas que são aprovadas pela coletividade não podem ser consideradas criminosas pelo legislador. Existem alguns obstáculos:
-	costume não revoga lei, ou seja, ainda que o costume leve a norma penal ao desuso, ele não poderá revogá-la (art. 2.º da LICC);
-	não cabe ao Judiciário avocar para si a função típica do Poder Legislativo.
•	Insignificância: aplica-se aos chamados “delitos de bagatela”. 
Assenta-se no princípio de minimis non curat pretor (o pretor não cuida de crimes insignificantes). 
O tipo penal cuida do bem jurídico e da proteção do cidadão, portanto, se o delito for incapaz de ofender o bem jurídico, não haverá como enquadrá-lo no tipo. 
Há, no entanto, que se entender que, nestes casos, apesar do delito ser insignificante, o fato é inadequado à sociedade.
•	Alteridade: não podem ser punidas condutas puramente internas, que não transcendam a figura do infrator.
Princípio da anterioridade
Não há crime sem lei “anterior” que o defina nem pena sem prévia cominação legal, ou seja:
a lei que descreve um crime deve ser anterior ao fato incriminado.
A irretroatividade da lei é uma conseqüência lógica da anterioridade.
A lei penal só poderá alcançar fatos anteriores para beneficiar o réu.
2. IRRETROATIVIDADE
Lei penal no tempo
        
	Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Lei que revoga um tipo incriminador extingue o direito de punir (abolitio criminis). 
A conseqüência do abolitio criminis é a extinção da punibilidade do agente.
Por beneficiar o agente, o abolitio criminis alcança fatos anteriores e será aplicado pelo Juiz do processo, podendo ser aplicado antes do final do processo, levando ao afastamento de quaisquer efeitos da sentença, ou após a condenação transitada em julgado. 
No caso de já existir condenação transitada em julgado, o abolitio criminis causa os seguintes efeitos:
a extinção imediata da pena principal e de sua execução;
a libertação imediata do condenado preso e extinção dos efeitos penais da sentença condenatória (ex.: reincidência, inscrição no rol dos culpados, pagamento das custas etc.).
Vale lembrar que os efeitos extrapenais, contudo, subsistem, como a perda de cargo público, perda do poder familiar, perda da habilitação, confisco dos instrumentos do crime etc.
A competênciapara a aplicação do abolitio criminis após o trânsito em julgado é do juízo da execução.
Súmula n. 611 do STF: “Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação da lei mais benigna”).
Art. 2.º, par. ún., do Código Penal - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
A lei nova que for mais benéfica retroage em favor do agente. 
2.3. Extratividade
É o fenômeno pelo qual a lei produz efeitos fora de seu período de vigência. 
Divide-se em duas modalidades:
retroatividade e;
ultratividade. 
Na retroatividade, a lei retroage aos fatos anteriores à sua entrada em vigor, se houver benefício para o agente; 
Na ultratividade, a lei produz efeitos mesmo após o término de sua vigência.
Ex: quando uma lei posterior pune mais gravemente ou severamente um fato criminoso (lex gravior ou lex severior), revogando de forma expressa a lei anterior que o punia mais brandamente (lex mitior), prevalecerá a lei mais benéfica, mas somente para os fatos ocorridos durante sua vigência. Se a lei anterior for a mais gravosa, ela não será ultrativa, ao contrário, a lei posterior é que retroagirá.
Da mesma forma, as leis temporárias e as excepcionais são ultrativas, pois aplicam-se aos fatos ocorridos durante a sua vigência, mesmo após auto-revogadas.
	2.4. Art. 3.º do Código Penal 
“A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.”
As leis acima citadas são auto-revogáveis, ou seja, são exceções à regra de que uma lei se revoga por outra lei. Subdividem-se em duas espécies: leis temporárias e leis excepcionais
•	leis temporárias: aquelas que já trazem no seu próprio texto a data de cessação de sua vigência, ou seja, a data do término de vigência já se encontra explícito no texto da lei.
•	leis excepcionais: aquelas feitas para um período excepcional de anormalidade. São leis criadas para regular um período de instabilidade. Neste caso, a data do término de vigência depende do término do fato para o qual ela foi elaborada.
Estas duas espécies são ultrativas, ainda que prejudiquem o agente (ex.: num surto de febre amarela é criado um crime de omissão de notificação de febre amarela; caso alguém cometa o crime e logo em seguida o surto seja controlado, cessando a vigência da lei, o agente responderá pelo crime). 
Se não fosse assim, a lei perderia sua força coercitiva, visto que o agente, sabendo qual seria o término da vigência da lei, poderia retardar o processo para que não fosse apenado pelo crime.
ART. 4.º, DO CP
		
“Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.”
Trata do tempo do crime, ou seja, quando o crime reputa-se praticado. Existem três teorias sobre o tempo do crime:
teoria da atividade: o tempo do crime é o tempo da ação, ou seja, é o tempo que se realiza a ação ou a omissão que vão configurar o crime;
teoria do resultado: o tempo do crime é o tempo que se produz o resultado, sendo irrelevante o tempo da ação;
teoria mista ou da ubiqüidade: o tempo do crime será tanto o tempo da ação quanto o tempo do resultado.
A teoria utilizada pelo CP é a teoria da atividade. 
Na teoria da atividade, seja em crime permanente, seja em crime continuado, o agente, em caso de lei nova, responderá sempre de acordo com a última lei vigente, seja ela mais benéfica ou não. (porque estende-se que a ação ou a omissão continua a ser praticada).
4. CONFLITO APARENTE DE NORMAS
O conflito ocorre quando existir: 
pluralidade de normas, 
unidade de fato, aparente aplicação de todas as normas ao mesmo fato e efetiva aplicação de somente uma das normas. 
O conflito existente não é real, mas sim aparente, tendo em vista que apenas uma das normas será aplicada. Estes conflitos aparentes só poderão ser solucionados por meio da observação de seus princípios, que são: os princípios da especialidade, subsidiariedade, consunção e alternatividade.
Princípio da Especialidade
Lex specialis derrogat generali (lei especial derroga a geral). 
Se houver um conflito entre uma norma especial e uma norma geral, aplica-se a norma especial, tendo em vista que a norma especial contém todos os elementos da norma geral com mais alguns elementos denominados especializantes.
Princípio da Subsidiariedade
Lex primaria derrogat subsidiariae (lei primária derroga a subsidiária). 
Se houver um conflito entre uma norma mais ampla e uma menos ampla, aplica-se a norma mais ampla, tendo em vista que a norma subsidiária é englobada pela norma primária. Existem duas formas de subsidiariedade:
•	implícita: não vem expressa no tipo (ex.: constrangimento ilegal é subsidiário do seqüestro);
•	explícita: vem expressa no tipo (ex.: o crime previsto no art. 132 do Código Penal é subsidiário do disparo de arma de fogo, visto que há no tipo a expressão “se o fato não constitui crime mais grave”.
Princípio da Consunção
Significa consumir, absorver. Um fato mais grave absorve o fato menos grave. 
Aqui, o conflito não se dá propriamente entre normas, mas sim no fato, tendo em vista ser um mais grave do que o outro. 
São espécies de consunção a progressão criminosa, antefactum não punível, postfactum não punível, crime progressivo e crime complexo.
Progressão criminosa
Existe uma pluralidade de fatos e elementos subjetivos e uma progressividade na lesão, ou seja, cada fato será progressivamente mais grave que o outro (ex.: um sujeito tem o dolo de causar uma lesão leve na vítima; após consumado o crime o agente decide causar lesões graves na vítima; logo em seguida o agente decide matar a vítima consumando o crime. Neste caso, o homicídio absorve as lesões).
Antefactum não punível
É um fato anterior imprescindível para a execução do fato principal (ex.: um sujeito acha uma folha de cheques, falsifica a assinatura e a utiliza para fazer uma compra. 
Neste caso, a falsificação é um meio necessário para a prática do crime de estelionato e se exaure com ele, ou seja, a falsificação não poderá ser utilizada para a prática de outros crimes. O estelionato absorve a falsificação. Súmula n. 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”).
Postfactum não punível
Configura fato posterior irrelevante (ex.: um sujeito furta um objeto e o vende. O fato de o agente ter vendido o bem furtado é irrelevante, tendo em vista que o furto não deixará de ser punido).
Crime progressivo
Existe um elemento subjetivo e uma pluralidade de fatos, ou seja, o crime é composto de vários atos, mas existe sempre a mesma vontade desde o início (ex.: um sujeito tem o dolo de matar a vítima; para isso utiliza-se de um instrumento qualquer que vai causando lesões, desde as leves até as gravíssimas, até chegar à consumação do crime. Neste caso, o homicídio absorve as lesões, mesmo porque o dolo era de matar a vítima).
Crime complexo
Resulta da fusão de dois ou mais crimes (ex.: extorsão mediante seqüestro, estupro qualificado pela morte etc.).
	
Princípio da Alternatividade
Ocorre quando houver uma só norma contendo várias condutas, ou seja, várias formas de realização de um crime.
ART. 6.º DO CÓDIGO PENAL 
		
	“Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.”
Para os crimes de espaço máximo ou à distancia (crimes executados em um país e consumados em outro) foi adotada a teoria da ubiqüidade, ou seja, a competência para o julgamento do fato será de ambos os países.
Para os chamados “delitos plurilocais” (ação se dá em um lugar e o resultado em outro dentro de um mesmo país), foi adotada a teoria do resultado (art. 70 do CPP), ou seja, o foro competente é o foro do local do resultado.
Nas infrações de competênciados Juizados Especiais Criminais, a Lei n. 9.099/95 seguiu a teoria da atividade, ou seja, o foro competente é o da ação.
ART. 10 DO CÓDIGO PENAL 
	
	“O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.”
		
Os prazos podem ser de Direito Material ou de Direito Processual, com características distintas, quais sejam:
Prazos de Direito Processual (art. 798, § 1.º, do CPP): não se computa o dia do começo; o primeiro dia será o primeiro dia útil subseqüente ao dia do começo (Súmula n. 310, STF: “Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir”); o prazo prorroga-se até o dia útil seguinte quando terminar em domingo ou feriado; são prazos sujeitos à suspensão e interrupção;
Prazos de Direito Material (art. 10 do CP):
Na sua contagem, computa-se o dia do começo como o primeiro dia,
excluindo-se, por conseqüência, o dia do final; 
não se prorroga quando termina em domingo ou feriado (o sábado é considerado feriado), ou seja, não segue até o dia útil subseqüente.
São prazos considerados “fatais”; 
Entretanto, são prazos sujeitos à suspensão e interrupção.
Tipos de Prazo
Todo e qualquer prazo que acarretar a extinção da punibilidade é prazo de direito penal. 
São eles: prazo decadencial, prazo prescricional e perempção.
prazo decadencial: é o prazo para que o ofendido ou seu representante legal entre com a queixa ou ofereça a representação. É um prazo de Direito Penal, visto que acarreta a extinção da punibilidade;
prazo prescricional: também é um prazo de Direito Penal, visto que acarreta a extinção da punibilidade;
perempção: é uma sanção processual, ou seja, é uma sanção ao querelante que não dá andamento ao processo (art. 60 do CPP). O prazo de 30 dias para dar andamento ao processo é considerado um prazo de direito penal, visto que o seu decurso acarreta a extinção do processo e, conseqüentemente, a extinção da punibilidade.

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