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Fichamento POSSE. 3 (CLASSIFICAÇÃO) Cristiano Chaves e Nelson R. 2015

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Plano de aula 4 – Classificação da posse 
1. Em relação aos vícios objetivos (CC, art. 1200): forma como ocorreu aquisição (fundamenta-se no fato, não em titularidade)
1.1. Posse justa 
Dentro do Direito. Adquirida pelos modos admitidos legalmente. (há titulação)
Requisitos: pública e contínua. 
1.2. Posse Injusta
Modo proibido ou vicioso. Somente a vítima pode alegar tais vícios, pois a injustiça da posse deve ser examinada apenas em relação ao adversário. Não há caráter erga omnes. 
Posse violenta é a que se adquire pela força (vis absoluta), através da prática de atos materiais irresistíveis, ou da ameaça (vis compulsiva). Caso o possuidor hostilizado resolva se defender (ação de desforço imediato), a aquisição da posse só se dá, de fato, quando cessar a reação de defesa (mero detentor). Não será violenta a remoção de obstáculos físicos (cadeado ou cerca) para ingresso em bens abandonados.
Posse clandestina é a que adquire às ocultas. (Ex: Alterar cercas divisórias de terreno à noite). Algumas pessoas podem eventualmente constar o fato, sendo importante apenas a ação sorrateira, desejando camuflar a subtração (sem publicidade). Publicidade é pressuposto de qualquer posse, assim o que é clandestina é a aquisição (enquanto a detenção se mantiver desconhecida ao possuidor). 
A posse precária é a que se adquire por abuso de confiança e, em regra, decorre da retenção indevida da coisa que deve ser restituída. Conduz-se ilicitamente. Requer primeiramente a existência de uma posse justa por cessão do titular, e, em um segundo momento, o abuso de confiança do possuidor direto que se recusa a restitui-la. 
A posse injusta se configurará após cessar a violência ou a clandestinidade. Já na precariedade, a sua existência é que torna a posse injusta. 
Essas três hipóteses não esgotam os vícios que tornam a posse injusta. O ingresso pacífico em terreno alheio, sem ocultar tal ato, também pode se configurar esbulho, por exemplo.
Flávio Tartuce afirma que a posse injusta impede a usucapião. Data vênia, não se trata de entendimento majoritário. Ademais, somente algumas modalidades de usucapião exigem justo título, conforme será demonstrado posteriormente. As demais modalidades independem de justo título e boa-fé. 
 
2. Em relação aos vícios subjetivos (CC, art. 1201) 
2.1. Posse de Boa-fé 
Configura-se quando o possuidor ignora o vício ou obstáculo que lhe impede a aquisição da coisa. É concebida de forma negativa no CC/2002, como ignorância, não como convicção. Assim, mesmo que não haja plena convicção sobre a legitimidade, somente a dúvida relevante exclui a boa fé. 
Analisa-se aspecto psicológico e também o ético; não é apenas mero desconhecimento, mas desconhecimento sem culpa; engano aceitável. 
Presume-se a boa-fé do possuidor com justo título, admitindo a prova em sentido contrário (presunção juris tantum) (CC, art. 1201, p. único). Para ser possuidor de boa-fé não é imprescindível o justo título. O título é justo quando se inclui dentre os meios hábeis à aquisição do direito sobre a coisa. 
Não há coincidência necessária entre posse justa e posse de boa-fé. 
2.2. Posse de má-fé 
Possuidor tem ciência da ilegitimidade do seu direito de posse, em virtude de vício ou obstáculo impeditivo de sua aquisição. Inicia-se no momento em que as circunstâncias façam presumir tal conhecimento (CC, art. 1202). Pode ser por citação ou outro modo de interpelação judicial.
3. Quanto à idade: a) Posse nova (menos de 1 ano e 1 dia) e b) posse velha (mais de um ano e um dia). Na posse nova o titular pode lançar mão do desforço imediato (CC, art. 1210, §1º) ou obter a reintegração liminar (CPC, art. 560 e s.). 
4. Quanto aos efeitos 
Posse ad interdicta – a que faz jus à tutela possessória, por meio dos interditos possessórios (ações de manutenção e reintegração de posse; e o interdito proibitório). Para que possa ser requerida, deve possuir Corpus e Animus.Não gera usucapião.
Posse ad usucapionem – é aquela possui os requisitos necessários para a aquisição da titularidade por usucapião. 
5. Posse trabalho, posse social, posse moradia e posse legitimada
Posse trabalho – trata-se daquela qualificada pelo exercício de atividade produtiva e laboral. É requisito para a configuração da usucapião especial rural (CC, art. 1.239).
Posse social – busca tutelar pessoas dotadas de poucos recursos econômicos e serve de base para os programas de regularização fundiária. 
Pose moradia – caracteriza-se por ser utilizado para a habitação do possuidor, bem como de sua família e permite a aplicação de regimes especiais de usucapião. Ex: usucapião especial urbana (art.1.240), rural (art.1.239) e extraordinária e ordinária (arts. 1.238, p. único e 1.239,p único). 
Posse legitimada – consiste naquela dotada de título de legitimação outorgado pelo Poder Público para fins de conversão futura em propriedade, nos termos dos arts. 22 a 24 da Medida Provisória n. 759/2016. 
6. Jus possessionis x Jus Possidendi 
O jus possessionis ou posse formal consiste na situação jurídica daquele que se instala no imóvel e nele se mantém por mais de um ano e dia. 
Já o jus possidendi decorre de justo título. Em ambas situações, os titulares poderão proteger seu direito possessório contra terceiros. 
7. Princípio geral da continuidade do caráter da posse
Trata-se da presunção juris tantum de que a posse guarda o caráter de sua aquisição. Se a posse começou clandestina, violenta ou precária, permanecerão com os mesmos vícios em relação aos sucessores do adquirente. 
Se o adquirente provar que a clandestinidade e a violência cessaram há mais de um ano e dia, sua posse passa a ser reconhecida (CC, art. 1208). 
7.1. Interversão da posse 
Consiste na possibilidade de mutação da causa possessionis (caráter aquisitivo da posse).
Decorre de fato de natureza jurídica (Ex: Invasor que posteriormente celebra contrato de compra e venda) ou fato de natureza material (detentor que mantém poder de fato sobre a coisa por longos anos). 
O art. 1208 do CC não se refere à configuração da posse depois de cessada a precariedade. Para boa parte da doutrina, o caráter de precariedade da posse nunca cessa. Contudo, Cristiano Chaves admite a interversão ainda nessas hipóteses, pois prevalece o princípio da função social da posse8.

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