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Fundamentos de Geografia Organização do Espaço e Conceitos (texto) Unidade 2

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Unidade II
Unidade II
HISTÓRIA DA GEOGRAFIA
3 A GEOGRAFIA NA ANTIGUIDADE
O conhecimento geográfico surgiu nos primórdios da humanidade, quando o homem, vivendo 
em pequenos grupos, começou a sentir a necessidade de reconhecer o território para sobreviver, pois, 
vivendo em grupos nômades, era fundamental conhecer os lugares onde havia caça e pesca e onde era 
possível coletar pequenos frutos para sua subsistência. Era importante memorizar informações sobre 
os caminhos percorridos para essa empreitada, pois disso dependia a sobrevivência do grupo inteiro. 
Inicialmente, muito desse conhecimento geográfico era passado de geração em geração, ou seja, era 
parte de uma tradição oral e informal.
Segundo Andrade (1987, p. 21), esses povos primitivos
“conheciam o mecanismo das estações, fazendo migrações, às vezes 
de longos percursos, a fim de acompanharem os animais silvestres que 
utilizavam como alimentos ou para colherem frutos de determinadas áreas, 
na ocasião da ‘safra’”.
As primeiras espécies humanas, segundo os cientistas, surgiram na Terra há aproximadamente três 
milhões de anos. A Pré‑História pode ser dividida em três períodos:
• Idade da Pedra Lascada ou Período Paleolítico – perdurou até 10.000 anos atrás;
• Idade da Pedra Polida ou Período Neolítico – ocorreu, aproximadamente, entre 10.000 e 6.000 
anos atrás;
• Idade dos Metais (última fase do Período Neolítico) – ocorreu menos de 6.000 anos atrás.
No Paleolítico, o ser humano era nômade, praticava a coleta, a caça e a pesca e a divisão 
de trabalho era feita por sexo. Já no Neolítico, o homem passou a ser sedentário e começou a 
praticar a agricultura e a criação de animais, mas a divisão do trabalho continuou a ser feita com 
base nos gêneros masculino e feminino. Nesse período, surgiram os primeiros aldeamentos. Na 
Idade dos Metais, que é a última fase do Período Neolítico, ocorreu o domínio das técnicas de 
fundição de metais, a produção de artefatos de bronze e ferro. Nessa fase, os instrumentos de 
trabalho ficaram mais resistentes e as armas passaram a ser usadas em guerras para conquista 
de territórios. Esses instrumentos de trabalho foram fundamentais para o desenvolvimento 
da agricultura e consequente aumento da produção, originando um excedente agrícola e 
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desenvolvendo o comércio. A partir do desenvolvimento desse comércio, surgiram as cidades, 
as classes sociais, a divisão do trabalho por profissões, os exércitos, os primeiros Estados e os 
grandes impérios.
Os cientistas dividem a história humana da seguinte forma:
• Pré‑História – aproximadamente há 3 milhões de anos, período em que não havia a escrita.
• Idade Antiga ou Antiguidade – estabeleceu‑se entre o surgimento da escrita (3.000 a.C.) e a queda 
do Império Romano, em 476 d.C.
• Idade Média – perdurou da queda do Império Romano até a tomada da cidade de Constantinopla, 
pelos turcos, em 1453 d.C.
• Idade Moderna – deu‑se desde a tomada da cidade de Constantinopla até a Revolução Francesa, 
em 1789.
• Idade Contemporânea – começou a partir da Revolução Francesa.
Segundo Rodrigues (2008, p. 37):
[...] na Antiguidade, a Geografia era um conhecimento utilizado 
principalmente para desenhar roteiros a serem percorridos e para informar 
os recursos a serem explorados em determinado lugar, estando bastante 
relacionada à Cartografia e à Astronomia.
O conhecimento geográfico e sua aplicação foram progredindo a partir da necessidade da 
sociedade de dominar a natureza para dela extrair os recursos disponíveis para seu desenvolvimento 
econômico.
A dominação da natureza só aumentou com o passar dos anos, com o desenvolvimento da 
agricultura e o surgimento das cidades. Com esse desenvolvimento, estradas foram construídas, 
rios foram desviados e o homem passou a transformar a natureza e também a sofrer sua ação. O 
homem, assim, iniciou a produção de alimentos, de ferramentas, de habitações, de estradas etc. e 
começou a produzir o espaço geográfico. Esse espaço, na verdade, se apresentou como uma segunda 
natureza, uma natureza modificada pela ação humana, que diferia da primeira natureza, que era 
aquela intocada.
Com essa transformação da natureza, o homem passou a ter a necessidade do conhecimento 
do espaço geográfico onde ocorriam suas ações. A princípio, esse conhecimento era limitado, 
pois o homem primitivo era nômade e as informações que ele precisava guardar como, por 
exemplo, onde a caça e a pesca eram mais abundantes, ele precisava memorizar. Foi a partir 
do desenvolvimento dos grupos humanos e, principalmente, do desenvolvimento da escrita, 
que o homem passou a ter a necessidade de outros meios para armazenar as informações. Daí 
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surgiram os primeiros mapas que, inicialmente, foram esculpidos em diversos materiais, como 
pedra, madeira, pedaços de ossos etc.
O mapa mais antigo de que se tem conhecimento está no Museu Semítico da Universidade de 
Harvard, em Cambridge, Estados Unidos. Ele foi encontrado por meio de escavações feitas na cidade 
de Ga‑Sur, ao norte da Babilônia, e data de 2.500 a.C. Ele corresponde a uma pequena placa de argila, 
representando o vale de um rio, provavelmente o Eufrates, cercado por montanhas e desaguando por 
um delta de três braços.
Esses mapas elaborados pelos povos da Antiguidade tinham como principais funções a delimitação 
de fronteiras, a localização de água e de terras férteis, a localização de lugares e rotas de comércio. 
Inicialmente, a concepção que existia era a de que a Terra se apresentava sob a forma de um disco e com 
massa continental que flutuava na água (RODRIGUES, 2008).
Na Antiguidade, as primeiras civilizações desenvolveram atividades econômicas ligadas ao espaço 
natural que ocupavam. Por exemplo, no vale dos grandes rios, como o Nilo, o Tigre e o Eufrates, a 
economia se baseava principalmente na agricultura. Já as civilizações situadas no litoral se dedicaram 
principalmente à pesca, à navegação e ao comércio marítimo.
Nesse sentido, os povos da Antiguidade oriental – egípcios, 
mesopotâmicos, fenícios, hebreus e persas – desenvolveram‑se, em 
geral, às margens dos grandes rios. Essas civilizações ocuparam o 
espaço do Oriente Médio, marcado por planaltos e montanhas, clima 
seco e desértico, permeado por planícies férteis, como no Egito e 
na Mesopotâmia, onde desenvolveram a agricultura, e nas faixas 
costeiras do Mediterrâneo, em que desenvolveram as atividades 
marítimo‑comerciais [...] (RODRIGUES, 2008, p. 39).
O surgimento de mapas marítimos com a descrição de lugares e povos deu‑se com a expansão 
política, comercial e marítima dos povos do Mediterrâneo. Essas descrições foram chamadas de périplos 
(navegar em redor).
A contribuição dos gregos foi fundamental para o desenvolvimento do conhecimento geográfico na 
Antiguidade, pois o posicionamento da Grécia possibilitou a navegação, o comércio e o domínio sobre 
os povos do Mediterrâneo. Esse conhecimento era necessário para obter informações sobre os territórios 
sob o domínio da Grécia, bem como dos lugares conhecidos.
Na Grécia, a geometria da esfera e sua aplicação na astronomia – chamada 
cosmografia – progridem rapidamente nos séculos IV e III a.C. Isso leva 
uma maior compreensão das ligações entre realidades celestese terrestres 
[...]. Para os gregos, as estrelas se situam em uma esfera cujo raio é muito 
grande: a esfera celeste. Ela gira em torno de um eixo assinalado pela Estrela 
Polar (Ursa Maior). O Sol não evolui como os outros astros: ele descreve 
cotidianamente um círculo, mas este se desloca de um dia para outro; sua 
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altura acima do horizonte varia. No hemisfério boreal (norte), ela é crescente 
do solstício de inverno ao solstício de verão, depois diminui até o próximo 
solstício de inverno. O movimento aparente do Sol descreve, em um ano, 
o círculo da eclíptica, inclinado de 23°26’ em relação ao plano do equador 
celeste (CLAVAL, 2010, p. 71).
Segundo Andrade (1987, p. 24),
[...] os gregos realizaram estudos sobre sistemas agrícolas, sistemas de 
montanhas, técnicas de uso do solo, os rios com variados regimes, a 
distribuição das chuvas, a sucessão das estações do ano, o relacionamento 
entre a cidade e o campo, as relações entre classes sociais e entre o poder e 
o povo etc.
Esses estudos foram realizados por comerciantes, militares, navegadores, matemáticos, cartógrafos, 
astrônomos, historiadores, filósofos etc. O conhecimento geográfico era produzido pelo senso comum 
e filosófico.
Alguns filósofos contribuíram para o desenvolvimento do conhecimento geográfico e seus estudos 
eram, principalmente, de descrição e de localização, subordinados à cartografia e à Astronomia.
A seguir, conheceremos um pouco do estudo desses filósofos.
• Tales de Mileto (640–558 a.C.) – filósofo, matemático, astrônomo, físico; realizou estudos 
de interesse geográfico. Concebia a Terra como um disco boiando sobre a água, no oceano. 
Realizou estudos sobre os eclipses do Sol e da Lua (considerado o primeiro astrônomo a 
explicar o eclipse do Sol), o movimento dos astros para orientar a navegação e sobre os 
solstícios, com o objetivo de elaborar um calendário astronômico que tivesse informações 
meteorológicas.
• Anaximandro de Mileto (610–547 a.C.) – filósofo, geógrafo, matemático, astrônomo, engenheiro 
e político, discípulo de Tales de Mileto, percorreu o mundo e escreveu relatos das viagens. 
Anaximandro elaborou mapas astronômicos e geográficos e realizou estudos geométricos e 
matemáticos com o objetivo de mapear o céu. Anaximandro desenvolveu tratados sobre Geografia, 
Astronomia e Cosmologia. A ele atribui‑se a confecção de um mapa do mundo habitado, gravado 
em pedra.
• Anaxímenes de Mileto (588–524 a.C.) – filósofo e meteorologista, contribuiu com a distinção de 
planetas e estrelas e com as primeiras formulações sobre os princípios do geocentrismo.
• Hecateu de Mileto (560–480 a.C.) – filósofo, historiador e geógrafo, escreveu a obra Descrição 
da Terra, ilustrada por um mapa em que a Terra estava representada por um disco. Sua concepção 
da Terra era um plano circular rodeado por um oceano contínuo.
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• Hipócrates (460–350 a.C.) – na obra Dos ares, das águas e dos lugares, apresentava 
explicações sobre a influência do meio ambiente no homem. Apresentou, também, 
explicações sobre a influência dos fatores ambientais no surgimento das doenças, 
analisando as influências dos ventos, água, solo e localização das cidades em relação ao 
Sol na ocorrência de enfermidades.
• Parmênides (544–450 a.C.) – concebeu a esfericidade da Terra e o interior ígneo. O Universo teria 
a Terra como centro.
• Aristóteles (384–322 a.C.) – discípulo de Platão, nasceu em Estagira, Macedônia. Escritor, 
matemático, biólogo e filósofo grego, explicou os eclipses e era a favor da esfericidade da Terra, já 
que a sombra da Terra na Lua, durante um eclipse lunar, era sempre arredondada.
• Heródoto (485–425 a.C.) – apesar de ser considerado historiador, contribuiu bastante com o 
desenvolvimento do conhecimento geográfico ao percorrer a maior parte do mundo habitado e 
produzir uma obra sobre as regiões que conheceu, denominada História. Foi o primeiro a fazer um 
elo entre História e Geografia.
• Dicearco (350–290 a.C.) – construiu um mapa utilizando dois eixos perpendiculares: um alongado 
no sentido leste–oeste, o diafragma, passando pelas Colunas de Hércules e por Rodes, e o outro, 
perpendicular, passando por Rodes. Seus estudos estão na área da Política, história literária e 
Geografia.
• Aristarco de Samos (310–230 a.C.) – filósofo e astrônomo, foi provavelmente o primeiro a 
defender a teoria do heliocentrismo que, posteriormente, foi retomada por Nicolau Copérnico.
• Erastóstenes (276–196 a.C.) – foi diretor da Biblioteca de Alexandria, matemático, 
astrônomo e geógrafo, aperfeiçoou o mapa de Dicearco. Foi o primeiro a calcular a medida 
de circunferência da Terra, chegando a um resultado de 46.250 km, resultado bem próximo 
do real, que é 40.000 km.
• Hiparco (190–125 a.C) – aperfeiçoou o quadriculado criado por Erastóstenes. Compilou um 
catálogo de estrelas, classificando‑as por grandezas em função da intensidade do brilho. Também 
acredita‑se que tenha calculado a distância entre a Terra e a Lua a partir de observações de um 
eclipse solar que ocorreu em Cirene e em Alexandria.
• Estrabão (64 a.C.–21 d.C.) – filósofo, geógrafo e historiador, viveu em Roma. Escreveu 
um importante trabalho de dezessete volumes intitulado Geographia (Geografia), com a 
história e descrição dos lugares e dos povos de todo o mundo que lhe era conhecido, 
resultado dos fatos observados durantes viagens e de informações recolhidas nas obras 
gregas.
• Cláudio Ptolomeu (90–168 d.C.) – astrônomo e matemático grego, viveu em Alexandria, Egito 
e era cidadão romano. Foi considerado o último dos grandes sábios gregos e procurou sintetizar 
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
os trabalhos dos predecessores. Sua obra mais importante foi Sintaxis, que propunha o sistema 
geocêntrico, que, por sua vez, descrevia a Terra como centro do Universo, com o Sol, os planetas 
e as estrelas circulando ao redor. Esse trabalho influenciou o pensamento astronômico durante 
mais de 1.500 anos, até ser substituído pela teoria heliocêntrica de Copérnico. Para a Geografia, 
sua mais importante obra foi Geografia, na qual fez mapeamentos do mundo conhecido na 
época, listando latitudes e longitudes de locais importantes, acompanhadas de mapas e de uma 
descrição técnica de mapeamento. O sistema geocêntrico de Ptolomeu também foi adotado 
pelos teólogos medievais, que não admitiam outra teoria que não colocasse a Terra como centro 
do Universo.
Os gregos deixaram grandes contribuições para o desenvolvimento das Ciências e da Geografia, 
como a ideia de esfericidade da Terra, o avanço na cartografia, com a elaboração de mapas do mundo 
conhecido, a elaboração de conteúdos enciclopédicos com o objetivo de abranger todos os domínios do 
conhecimento.
Segundo Rodriges (2008, p. 48),
[...] na Antiguidade não existia uma ciência geográfica no sentido moderno 
de ciência. Existiam filósofos, historiadores, astrônomos, matemáticos, 
cartógrafos, entre outros que se denominavam geógrafos ou eram 
considerados geógrafos; eles tratavam de conteúdos geográficos e não da 
construção de uma ciência geográfica.
 Lembrete
Cartografia: ciência e técnica de elaborar cartas geográficas (mapas).
Astronomia: ciência que observa e perscruta os corposcelestes e o 
espaço sideral para estudar sua origem, sua evolução, sua constituição, 
suas dimensões, seus movimentos etc.
4 GEOGRAFIA NA IDADE MÉDIA E NO RENASCIMENTO
4.1 A relação entre História e Geografia nos estudos geográficos
A geografia tal como a conhecemos nos dias de hoje, como uma disciplina escolar, um curso 
universitário e uma área do conhecimento consolidada e institucionalizada, tem seu nascimento como 
ciência no final do século XVIII e início do XIX. Foi nesse período que a maioria das ciências humanas 
surgiram, no sentido de adquirirem um estatuto científico, conceitual e sistematizado. No entanto, 
naturalmente, os saberes e os assuntos que são os objetos das ciências humanas e da geografia existem 
desde o começo da civilização, uma vez que os homens sempre tentaram compreender este mundo que 
habitamos e sua relação com ele.
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Portanto, muito antes de a geografia ser institucionalizada como uma ciência, já existiam muitos 
saberes geográficos dispersos. A época do Renascimento, do século XV ao XVI, é um caso emblemático 
neste sentido, pois foi uma época em que foram produzidos muitos saberes que podem ser lidos sob a 
rubrica geográfica, por exemplo, novos mapas mundiais, frutos de projeções cartográficas mais corretas, 
elaboração de verdadeiras enciclopédias geográficas que pretendiam dar conta do conjunto crescente 
das terras globais, relatos de viajantes e sínteses descritivas sobre os modos de viver dos habitantes das 
novas terras descobertas. Em todos estes documentos históricos estavam presentes saberes geográficos 
que ao longo do tempo gestariam os elementos que pouco a pouco viriam a compor a ciência geográfica 
séculos mais tarde.
A História do Pensamento Geográfico é a disciplina curricular do curso de geografia 
universitária em que estão presentes de forma mais incisiva os estudos de História. Neste tópico, 
por exemplo, vamos lançar mão de vários elementos da história cultural e da história da ciência 
do século XVI para compreender a gestação dos conceitos geográficos. Por isso, antes de iniciar 
esse novo percurso, é bom lembrar algumas palavras de Antônio Carlos Robert Moraes sobre a 
relação Geografia‑História:
Os discursos geográficos – no sentido mais amplo desse termo (discursos 
referidos ao espaço terrestre) – variam por lugar, variam por sociedade, 
mas principalmente pela época em que foram gerados. São construções 
engendradas dentro de mentalidades vigentes, isto é, de formas de pensar 
historicamente determinadas, com epistemes próprias que conformam não 
apenas os paradigmas da reflexão, mas a própria sensibilidade humana. Nesse 
sentido, qualquer olhar geográfico já se exercita dentro de determinações 
históricas, qualquer leitura da paisagem sendo densa de uma temporalidade 
própria (MORAES, 2000, p. 3).
Como vimos, os documentos histórico‑geográficos foram escritos no âmbito de uma cultura 
em que nós não nos reconhecemos mais. Consequentemente, é natural que o contato com 
estes mapas e documentos provoque certo estranhamento. Adotar uma atitude de pesquisador, 
cientista, professor de geografia ou historiador da ciência geográfica consiste, nesse caso, em 
lançar o olhar a estes documentos da maneira mais isenta possível, evitando a atitude crítica de 
superioridade e condenação.
 Observação
Episteme não é um tipo de conhecimento ou método científico 
específico. A palavra vem do grego e significa saber, mas nos dias atuais 
é usada para designar um conjunto de regras inconscientes que regem os 
saberes de uma época.
O que deve nos guiar na apreciação deste material é muito mais a curiosidade de querer desvelar o 
diferente, desvelar os caminhos sinuosos e pouco claros de uma certa episteme que não é mais a nossa. 
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
Contudo, convém não esquecer que o nosso olhar não é um olhar neutro, mas guiado pela cultura da 
nossa época, um olhar que inevitavelmente um dia será também considerado antigo. Não podemos 
desconsiderar que mais do que saber um conteúdo informativo, a formação de geógrafo consiste no 
treinamento formativo, ou seja, em exercer um olhar crítico para o mundo, além do aprendizado da 
atitude de pesquisador.
A Geografia sistematiza o espaço, o lugar, permite a leitura da paisagem, um olhar diferente daquele 
registrado pelo senso comum. Sempre foi assim? Diríamos que sim, desde os primeiros pensadores, os 
filósofos, que sempre foram, acima de tudo, bons observadores.
Um dos primeiros mapas elaborados do território brasileiro, ainda no início do século 
XVI, o Terra Brasilis, apesar de apresentar “imprecisões cartográficas” aos nossos olhos 
contemporâneos, torna‑se útil ao trazer elementos retóricos e estéticos que reproduzem a 
cultura da época.
Os tipos de discursos nos quais aparecem elementos geográficos apresentam grande 
variedade de estilos: são relatos, narrativas, fábulas, poemas, mitologias, textos de teatro, mapas 
geográficos, mapas com desenhos mitológicos, plantas esquematizadas etc. Conforme veremos, 
no século XVI, a ciência propriamente dita, do modo como nós a conhecemos hoje, ainda não 
existia. O que havia era uma variedade de materiais nos quais circulava um conjunto de saberes 
dispersos que no século XVIII daria origem aos campos científicos conceituais das disciplinas 
como a Biologia, a Botânica, a Economia Política, o Direito, a Geografia, a História, as Ciências 
Sociais etc.
Nesse período histórico ocorrem algumas mudanças fundamentais, a saber, a postulação do Universo 
infinito, a substituição da teoria astronômica do geocentrismo para o heliocentrismo e as descobertas 
das novas terras levada a cabo pelas grandes navegações comandadas pelos países ibéricos, Portugal e 
Espanha. As descobertas das novas terras por mares nunca dantes navegados e a descoberta de que o 
planeta Terra não estava no centro do Universo haveriam de mudar de modo definitivo o conceito do 
espaço terrestre que a humanidade cultivava até então.
Com o objetivo de rastrear as condições de aparição do novo conceito geográfico de Terra, 
escolhemos três aspectos do saber dos séculos XV e XVI que se revelaram particularmente interessantes. 
O primeiro foi a passagem de um modelo astronômico ptolomaico para o modelo copernicano, 
acompanhado das mudanças cartográficas dos mapas deste período. Num segundo momento, 
escolhemos comentar o que veio a se chamar cosmografia, uma espécie de esboço das primeiras 
enciclopédias geográficas. Por fim, num terceiro momento, analisaremos aspectos da mentalidade e 
dos valores culturais e ontológicos da época, que foram influenciados pela descoberta de novos povos 
habitantes do planeta.
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O Geocentrismo de Cláudio Ptolomeu:
Figura 10 – Visão geocêntrica da Terra
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
O Heliocentrismo de Nicolau Copérnico:
Figura 11 – Nicolau Copérnico e o Heliocentrismo
4.2 O nascimento de um novo mundo: novas histórias, novas geografias
Quais concepções e imagens da Terra mobilizamos quando nos vemos como seres terrenos? Que 
Terra nós pensamoshabitar? A Terra como objeto da ciência geográfica é o produto de uma construção. 
Essa construção se apoia nos diversos discursos científicos e não científicos que já existiram.
Quando se fala em ciência há uma dicotomia que se opera entre o mundo existencial (da vida) 
e o mundo objetivo da ciência, como se tivéssemos que depurar a história e os elementos da vida 
cotidiana e buscar neles algo mais essencial, da ordem do racional, enfim, uma base isenta sobre a qual 
se possa construir, algo que possa sustentar o estigma da origem de uma verdade. No entanto, segundo 
Jean‑Marc Besse (2003a), nada poderia ser mais enganoso do que uma divisão radical entre o mundo 
da vida e o mundo objetivo da ciência. A dicotomia seria artificial uma vez indiferente à importante 
dimensão do conhecimento geográfico, que é o da geografia vivida.
 Lembrete
Dicotomia é uma divisão entre duas categorias distintas e excludentes. 
Algumas dicotomias são fixas (morto/vivo, feminino/masculino), outras são 
filosoficamente questionáveis (mundo da ciência/mundo da vida; sujeito/
objeto) ou perdem a força no devir histórico (rural/urbano).
Apoiemo‑nos então na definição de Besse (2003b, p. 7–8) para compreender a distinção entre a 
dimensão conceitual e a vida da ciência geográfica. A Geografia é naturalmente dicotômica.
A Geografia é uma ciência ambígua. É possível, com efeito, considerá‑la 
primeiramente como uma disciplina que busca representar a superfície 
da Terra, e mais precisamente, mostrar aos homens os meios naturais, as 
formas e as divisões territoriais, as organizações e as práticas espaciais que 
estruturam e determinam em parte sua existência terrestre. Nesse sentido, 
a geografia é um momento desse esforço geral de conceituação e de 
explicação das realidades que se designam sob o nome do saber científico.
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Mas existe também outra geografia, um outro saber da Terra, mais íntimo 
talvez, que traduz uma inteligência cotidiana do mundo, de suas asperezas e 
de suas grandezas, uma geografia tão vivida quanto pensada. Esta segunda 
geografia, que é mais do que uma ciência no sentido nobre deste termo, 
é uma maneira de ser no espaço e um modo de pensar, ou dito de outro 
modo, essa “consciência geográfica”, ela assume variadas formas no curso 
da história. Esta viagem [na época do Renascimento] é uma dentre elas.
Neste sentido, tentaremos nos mover na direção de compreender qual a relação entre as mudanças 
científicas, tecnológicas e culturais ocorridas durante o século XVI e o florescer de alguns conceitos geográficos, 
não necessariamente no âmbito da academia, mas no âmbito da cultura de uma geografia vivida.
Segundo Thomas Kuhn (1990 e 2003), nos séculos XVI e XVII, existiam duas tradições científicas 
diferentes: a tradição matemática e a tradição experimental. A tradição matemática era o grupo das ciências 
que fazia apelo à observação e à experimentação fundadas em estruturas matemáticas: astronomia, óptica 
geométrica, estatística e matemática propriamente dita, dividida em geometria e álgebra. O grupo das ciências 
experimentais remete à tradição baconiana e inaugura uma prática nova, menos dedutiva e mais empírica. 
A ciência moderna nasce no seio desses dois métodos. Kuhn (2003) afirma que a ciência moderna é tanto 
galileana quanto baconiana, tanto racionalista quanto empirista. Não se trata, pois, apenas de uma soma, mas 
de algo que se construiu graças a um sistema de tensões e articulações entre racionalidades distintas.
 Observação
Baconiano é um adjetivo que indica aquilo que é relativo à doutrina de 
Francis Bacon.
Jean‑Marc Besse (2003a) utiliza‑se destas colocações de Kuhn (1990) para mostrar que igualmente 
a geografia não tem origem apenas na tradição matemática cartográfica de Claudio Ptolomeu, mas 
também numa tradição discursiva. São exemplos da tradição discursiva os compêndios de História 
Natural de Estrabão, Pompônio, as cosmografias, as descrições corográficas, as enciclopédias.
A posição de Besse (2003a) contraria as concepções de outros autores, como de Carvalho (2014), 
para quem as origens da Geografia não se confundem com a cosmografia, visto que a cosmografia não 
foi erigida a partir do paradigma racional que guiou, por exemplo, a cartografia de Ptolomeu. Notamos 
que o epistemólogo francês parece concordar que geografia científica distingue‑se da cosmografia, 
mas sua busca se orienta numa outra direção. Para ele, há um dualismo de discursos, de modelos e de 
práticas que caracterizam a Geografia nessa época, mas que também caracterizam outras ciências da 
natureza. Para Besse (2003a), o fato de duas tradições coexistirem no seio de uma mesma disciplina 
contribui para colocar a questão do caráter problemático da definição e da identidade dessa disciplina, 
tarefa que constitui seu objetivo e cujo sucesso será decisivo para provar a sua tese.
Então, de um lado, a tradição ptolomaica, matemática e astronômica tem como preocupação básica 
a questão das medidas, as posições, as distâncias, as coordenadas geográficas de latitude e longitude; 
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por outro lado, a outra tradição, mais discursiva e literária, interessa‑se pela caracterização qualitativa 
das áreas, dos povos, pelas suas histórias, pelas particularidades que singularizam os lugares etc. Seus 
instrumentos são a pintura, a retórica, as enciclopédias, os inventários. E é por isso que trataremos, 
neste tópico, das mudanças na esfera cartográfica. Em seguida, falaremos da cosmografia de Sebastian 
Münster e, por fim, da concepção de Terra de Ortelius.
A esfera e a carta são duas ferramentas do geógrafo. A representação da Terra por meio de globos sempre 
foi a mais apropriada. Mas o grande desafio era justamente o de transpor para a folha plana uma superfície 
esférica, com o menor nível de distorção possível. Ptolomeu foi o primeiro a desenvolver as teorias para 
confecção de cartas. É importante notar que antes de ser um conceito geográfico, a Terra é um fenômeno 
astrofísico, ou seja, é um corpo no Universo respondendo às determinações astronômicas. Importavam à 
astronomia noções como movimento, espaço vazio, limites, centro, órbitas, finito/infinito, formas etc. Não 
existiam ainda as noções de Terra como bioma, ecossistema, não existia a noção de organismo vivo, o que não 
significa que esta noção fosse negada, mas somente que ainda não havia sido sistematizada. Na Antiguidade, 
já existia o sistema de longitudes e latitudes, porém, na Idade Média, ignorou‑se esse tipo de representação, 
embora no mundo árabe a cartografia avançasse porque ali haviam traduzido Ptolomeu desde o século VIII.
A noção de Terra como palco das ações humanas tem origem nessa época, em que a cultura está 
influenciada pelo Cristianismo. Se o homem era considerado o protagonista do Universo, feito à imagem 
e semelhança de Deus, a Terra era a morada escolhida por Deus. Um exemplo disso é o Mapa do Salmo, 
feito ainda durante a Idade Média, no qual Jerusalém está no centro do mundo, o paraíso está na Ásia, 
onde nasciam os rios mais importantes e na África estão representados os monstros. O importante, 
pensando sobre isso, é considerar que a Terra é vista como tema religioso, mistério da vida, não como 
objeto científico. Por isso, até o século XIII, os mapas serviam para ilustrar enciclopédias e eram revestidos 
de um caráter artístico e simbólico, traziam ilustrações de um planeta habitado por monstros e sereias.
Figura 12 – Isidoro de Sevelha, MapaMundi T e O, 1472. Gunter Zainer, Mapa do Mundo T‑O, 1472, gravura
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Na figura anterior vemos que a Terra era dividida em três partes: Europa, África e Ásia. Então, 
dentro de um O, inscrevia‑se um T. O traço horizontal do T representava os rios Nilo e Tanais e o 
traço vertical do T era o Mar Mediterrâneo. Havia todo um espírito bíblico nesta representação, pois, 
segundo o Antigo Testamento, no livro Gênesis, a divisão do mundo deu‑se entre os três filhos de 
Noé que herdaram, por sua vez, um continente cada um: Sem herdou a Ásia, Cham a África e Japhet 
herdou a Europa.
Para entender esse período é preciso saber que mudanças fundamentais ocorreram. Alexandre 
Koyré (1979) ressalta que duas ações relacionadas entre si foram decisivas: a destruição do cosmos 
e a geometrização do espaço, isto é; a) a substituição da concepção do mundo como um todo finito 
e bem ordenado, no qual a estrutura materializava uma hierarquia de perfeição e valor, por um 
Universo infinito, não mais unido por subordinação natural, mas unificado apenas pela identidade de 
seus componentes supremos e básicos; e b) a substituição da concepção aristotélica do espaço – um 
conjunto diferenciado de lugares intramundanos, pela concepção da geometria euclidiana – uma 
extensão essencialmente infinita e homogênea – a partir de então considerada como idêntica ao 
espaço real do mundo.
A concepção da infinitude do Universo originou‑se com os gregos, com Lucrécio, mas não foi aceita 
pelos medievais. O primeiro homem a levar a cosmologia lucreciana a sério foi Giordano Bruno, que 
dizia que “a Terra e o oceano são fecundos” porque do infinito é engendrada uma abundância sempre 
renovada da matéria” (BRUNO apud KOYRÉ, 1979, p. 50). Por defender essas ideias, contudo, ele foi 
condenado e queimado vivo pela Inquisição.
 Saiba mais
Veja o filme Giordano Bruno, que retrata a vida do célebre filósofo, 
astrônomo e matemático italiano que morreu na fogueira da Inquisição 
defendendo até o fim o heliocentrismo:
GIORDANO Bruno. Dir. Giuliano Montaldo. Itália; França: Compagnia 
Cinematografica/Champion Les Films Concordia, 1973. 115 minutos.
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Figura 13 – Figura dos corpos celestes, do português Bartolomeu Velho
A figura anterior mostra o esquema geocêntrico, isto é, a Terra ocupando o centro do Universo e 
rodeada de planetas e até o Sol orbitando ao seu redor. A teoria geocêntrica tem um início que remonta 
à Antiguidade grega, foi elaborada por Aristóteles e estruturada por Ptolomeu nesta época, no entanto, 
a teoria manteve‑se até o século XV, quando foi substituída pelo geocentrismo, que pregava que a Terra 
ficava imóvel no centro do Universo. Considerava‑se que a forma da Terra era nobre e esférica, por 
isso, perfeita, e que, portanto, nenhuma conclusão quanto à imperfeição da Terra poderia ser inferida 
da alegada imperfeição de seus habitantes. Isso significava que a estrutura ontológica do mundo era a 
mesma em toda parte, expressando a perfeição do criador, por isso a Terra só poderia estar no centro 
de tudo.
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Figura 14 – Harmonia Macrocósmica, de Andreas Cellarius
A Teoria Heliocêntrica, isto é, o Sol ocupando o centro do Universo, foi elaborada por Copérnico 
e está representada na figura anterior. Também Kepler e, posteriormente, Galileu Galilei refizeram os 
cálculos, tornando mais precisa a teoria. Além do Sol no centro do Universo, o heliocentrismo mostrou 
que a Terra elaborava três movimentos: movimento de inclinação de seu eixo, rotação em torno do 
eixo e translação anual. Desse modo, era possível explicar fenômenos nunca antes satisfatoriamente 
explicados, como as estações do ano.
A perda da Terra de sua posição central levava à perda do homem de sua posição singular e privilegiada 
no drama teo‑cósmico, tanto que o astrônomo Galileu acabou por ser julgado pela Inquisição, apesar 
de não ter sido condenado à morte. Isto porque uma teoria como a de Copérnico e Galileu espalhava 
ceticismo e perplexidade. Galileu Galilei e seu telescópio descobriram montanhas na lua, novos planetas 
no céu, novas estrelas fixas e outras coisas que nenhum olho humano havia pensado em ver. A ciência 
entrava numa fase instrumental. Neste sentido, é emblemático que o filósofo Descartes (apud KOYRÉ) 
dissesse na época que as pessoas estavam acostumadas a imaginar em vez de pensar e que doravante 
elas teriam que aprender a pensar.
Essa mudança espiritual, diz KOYRÉ (1979, p. 8), não ocorreu numa mutação súbita, pois “as esferas 
celestiais que continham o mundo e o mantinham íntegro não desapareceram de uma vez, numa colossal 
explosão; a bolha terrestre cresceu e inchou antes de rebentar e fundir‑se no espaço que a circundava”. 
A figura precedente, analisada por Koyré (1979), é apresentada como representante de um saber antigo, 
o geocentrismo, curiosamente, já apresenta a Terra no centro do esquema, como um planeta paisagem, 
um planeta vivo, habitado.
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Nesse ponto o conceito de ecúmeno ocupa papel central no incremento da questão, e isso não 
é pouco representativo quando paramos para pensar que o ecúmeno de Ptolomeu se estendia a 
pouco mais de 6400 km em latitude e depois do “descobrimento” do continente americano no 
contexto das grandes navegações este número passou para 27000 km em latitude; ou seja, a 
dimensão do planeta aumentou vertiginosamente de um momento para outro. Aumento este que 
foi não só quantitativo, mas qualitativo, pois se descobriu não apenas uma terra virgem, mas um 
continente habitado por milhões de povos indígenas, diferentes entre si e principalmente muito 
diferentes do europeu ou do asiático. Ou seja, não se tratava de uma simples ampliação do espaço 
de frequentação humana, mas da abertura de um novo horizonte de pensamento. É esse elemento 
que não pode ser subjugado.
No período antecedente ao século XV, o homem concebia a parte habitável do planeta como algo 
que ocupava somente ¼ das terras emersas. Existia a crença de que somente as áreas temperadas 
norte e sul ofereciam as condições climáticas amenas propícias à vida humana e, ainda assim, de que 
elementos associados à topografia e a fatores climáticos impediam a uniformidade climática das áreas 
temperadas.
Para além da área ecúmena de clima temperado, as regiões tórridas e frígidas, assim denominadas, 
não apresentavam, segundo a teoria, as condições mínimas de sobrevivência devido ao frio e ao calor 
excessivos. Assim, ficavam excluídas do conjunto das terras consideradas habitáveis toda a região 
tropical e também localidades ao norte da temperada norte e ao sul da temperada sul. Para além da 
área temperada norte (onde se encontram Europa, Ásia e parte da África) não haveria vida humana. 
Obviamente acreditava‑se que os primeiros homens teriam nascido na área temperada norte e não 
teriam podido migrar dali uma vez impedidos, via norte, pelo frio, e via sul, pelo calor extremos. Por 
outro lado, a opção do leste (via mar) seria igualmente impossível, porque necessitava transpor mares 
habitadospor monstros terríveis, turbilhões, sereias e redemoinhos gigantes. Por isso, os marinheiros 
que se arriscavam a empreender essa travessia eram tidos como heróis, bem como suas tripulações, 
compostas de homens condenados por seus crimes ou por sua miséria, além de poucos aventureiros 
que se lançavam em busca da sorte de encontrar fortuna além‑mar, visto que o objetivo das viagens 
era o comércio com as Índias, através de outro caminho que não fosse o contorno do continente 
africano.
Os primeiros mapas utilitários serviram para orientar os viajantes em suas navegações. Esses mapas 
marítimos chamavam‑se portulanos e apresentavam loxodromias, isto é, as linhas de direção dos ventos, 
também conhecidas como linhas de rumo (CARVALHO, 2014, p. 3), conforme demonstra a figura a seguir.
Nota‑se na carta de Martellus, representada a seguir, que não há rede de meridianos e de paralelos, 
mas, em contrapartida, também já não aparecem sereias, monstros e pigmeus. O mapa da figura a seguir 
é considerado um dos melhores mapas elaborados ainda sob o paradigma de Ptolomeu. Nele, ainda não 
aparecem as Américas, mas já aparece o contorno da África, elemento novo até então. Ele é fruto da 
navegação portuguesa no entorno da Ásia e da África e também das descrições das viagens de Marco 
Polo. O mundo, então, segundo Besse (2003a), ganhara em dimensão cerca de 275 graus de longitude. 
Para se adequar às novas medidas, a carta mudou de escala, mesmo assim, curiosamente, o sul da África 
acabou ficando fora do contorno.
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Figura 15 – Carta de Martellus
Contudo, haveria um longo caminho a percorrer entre as descobertas das novas terras e o 
mapeamento correto do planisfério. Existia ainda todo um pensamento sobre o novo que precisaria 
se desenvolver ao lado do amadurecimento das novas tecnologias cartográficas. O que estava em jogo 
era o amadurecimento do estatuto do que era desconhecido, não só em função da dimensão, mas da 
diversidade das formas de vida dessas regiões. Se o que importa para nós é a discussão epistemológica da 
Geografia, interessa‑nos essa mudança de estatuto. Podemos, então, nos indagar: quando a Geografia 
começa a aparecer como ciência? O fato é que é nesse intervalo entre a descoberta e a descrição das 
terras, é nele que o objeto da Geografia aparece. Nos próximos passos, então, introduziremos o aparato 
discursivo e narrativo através da cosmografia de Sebastian Münster.
4.3 A cosmografia de Sebastian Münster
Não foram apenas as novas representações cartográficas que foram os elementos fundamentais para 
que pouco a pouco se constituísse uma visão de Terra como espaço universal da existência humana. A 
cosmografia de Sebastian Münster foi muito importante para ajudar a sedimentar conceitos que muito 
mais tarde comporiam o conjuntos dos saberes geográficos. Mas o que é uma cosmografia? E quem foi 
Sebastian Münster?
Três nomes dominaram a cartografia no século XVI: Mercator, Ortelius e Münster. Desses três, 
Sebastian Münster (1489–1552) foi quem mais divulgou o conhecimento geográfico pela Europa na 
primeira metade do século XVI. A sua obra Cosmographia, publicada em 1544, incluía uma quantidade 
enciclopédica de detalhes sobre o mundo conhecido e desconhecido.
Münster era matemático e linguista formado. Ele foi professor de hebraico na Universidade de 
Heidelberg e posteriormente na Basiléia, onde se estabeleceu em 1529. Em 1528, confeccionou seu 
primeiro mapa da Alemanha, apelando aos eruditos que lhe enviassem descrições das vilas, cidades e 
rotas de comércio. Recebeu tantas contribuições que lhe permitiram atualizar e aprimorar os mapas 
impressos em seu Atlas. Ele foi o primeiro a fornecer um mapa separado para cada um dos quatro 
continentes conhecidos.
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Estes feitos não foram insignificantes, diferentemente dos dias atuais, em que existe uma 
disponibilidade quase infinita de informações sobre os mais diversos assuntos ao nosso alcance. O início 
de século XVI apresentava uma configuração pouco favorável a quem se prestava a trabalhar com a 
produção de informações novas. O início do século XVI foi um momento de grandes mudanças na 
Europa. Mudanças econômicas, advindas do processo de expansão ultramarina e comercial e mudanças 
políticas, pois o poder da Igreja Católica passou a ser questionado, desencadeando um ciclo de conflitos 
onde os não católicos ou os “dissidentes” da Igreja Católica sofriam certa perseguição. Este fato não era 
de se desprezar, pois o próprio Sebastian Münster era um ex‑franciscano que se tornou luterano.
Para se ter uma ideia de como não era simples arregimentar informações naquela época, o 
matemático e linguista começou a se interessar pelos assuntos da Geografia (na época, cosmografia) 
por volta de 1526. A partir de então, viajou pelos estados alemães e entorno, reunindo tudo o que havia 
de mais recente e atualizado em termos de mapas de diversas partes do mundo conhecido até então. 
Mas somente em 1544, ou seja, quase vinte anos depois, é que ele conseguiu publicar a obra que o 
consagraria na cartografia, a Cosmographia, de Sebastian Münster, composta de 6 volumes (MARTINS, 
2009). A obra fez grande sucesso e atingiu a marca de quase quarenta edições em seis línguas. O número 
de edições é bastante expressivo se levarmos em consideração a época em que foi lançada a obra e que 
não se tratava de uma obra religiosa.
Consta deste Atlas uma representação cartográfica da América do Sul um tanto inexata aos nossos 
olhos contemporâneos, mas que traz aspectos interessantes.
Figura 16 – Mapa da América do Sul
Nota‑se que as representações da América do Norte e Central pouco se assemelham à forma real 
dessas terras, enquanto a América do Sul apresenta menor distorção. Em relação às proporções, podemos 
notar a proximidade exagerada do continente americano em relação à África e à Ásia. Acompanhando 
a análise dessa imagem apresentada por Martins (2009), vemos que, na altura do Nordeste brasileiro, 
há uma ilustração que reúne árvores em uma posição triangular e, à direita, há uma cabeça que olha o 
litoral enquanto, à esquerda, há uma perna direita inteira pendurada. Ou seja,
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[…] se a ideia que a imagem queria passar, de que naquele território da 
América, Brasilis, havia seres sorrateiros, que habitavam as florestas e eram 
antropófagos não fosse entendida, não restaria dúvida ao consulente se ele 
lesse a palavra colocada logo acima e à esquerda daquelas imagens, Canibali 
(MARTINS, 2009, p. 4).
O historiador também nos lembra que foi a obra de Münster que tornou popular no imaginário 
europeu a existência, nas novas terras descobertas, de seres mitológicos como os homens‑lobos, seres 
de duas cabeças ou ciclopes.
Na obra Cosmographia, de Münster (1544), figuravam mapas, narrativas, escrituras. Esse é um elemento 
interessante a se considerar, pois foi através das narrativas e dos mapas, que se construíram as ideias que 
séculos mais tarde seriam consideradas conceitos próprios da ciência geográfica. Sobre esse aspecto, cabem 
algumas considerações. A Terra agora era, então, considerada o espaço da existência humana em toda sua 
extensão, logo, ao mesmo tempo em que se assistia a uma mudança na concepção do planeta, também 
operava uma mudança no conceitode humano, uma vez que as novas terras revelavam formas de existência 
que traziam reflexões filosóficas sobre o estatuto da existência e sobre a relação do homem com a natureza.
O dispositivo da escritura põe em ato desafios distintos do cartográfico. Se, do ponto de vista do 
mapa, o grande desafio era lidar com cálculos e projeções geométricas que dessem conta do novo 
planisfério, dos novos contornos e extensões, do ponto de vista da escritura, do texto narrativo, o 
desafio era descobrir qualitativamente esses espaços. Então, do ponto de vista da época, a proposta 
da obra Cosmographia era, sem dúvida, ambiciosa, pois pretendia constituir um conjunto de saberes 
acumulados sobre todo o espaço ecúmeno de então, que acabara de ser multiplicado por quatro.
Repare que o conceito de ecúmeno era o conceito em voga da época porque ele representava 
sinteticamente essa nova concepção da Terra, pois a descoberta do novo mundo era o acontecimento 
do século. Dizer que se vai falar sobre o ecúmeno significa dizer que se vai falar sobre todas as formas de 
vida – do ponto de vista social e natural – que vivem sobre a superfície da Terra. Logo, tratava‑se de uma 
proposta de síntese, acompanhada de um método descritivo – era um procedimento essencialmente 
geográfico que começava a se desenvolver.
Hoje, herdeiros que somos das ciências humanas, da antropologia, da sociologia, das reflexões da 
História e da Geografia, diríamos que essas narrativas cosmográficas representavam tentativas de 
descrever as diversas culturas, uma forma de afirmar as diferenças culturais entre povos, modos de 
percorrer conformações e organizações espaciais distintas, espacialidades cuja racionalidade econômica 
é diversa etc. Mas o trabalho era muito mais simples e descritivo: mais do que fornecer esquemas 
explicativos, interessavam mais as diversas formas de “ecumenar” (BESSE, 2003a).
E é por isso que a cosmografia pode ser colocada no lugar de origem de uma geografia 
tradicional, essencialmente descritiva. O princípio do livro então era o de ser uma obra aberta, 
aquilo que atendia pelo nome de enciclopédia geográfica, e nos dias de hoje se dissolve em 
diversas formas de informação que pode ser acessada de qualquer lugar a qualquer momento. Se 
atualmente ecúmeno não faz eco aos nossos ouvidos, daqui a alguns anos, globalizado também 
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perderá sua utilidade e, ao assistir ao nascimento de um novo mundo fenomenal, precisaremos de 
outros conceitos para tentar apreender o novo que se apresentará. Essa espécie de compilação que 
se denominava cosmografia era habitada pela mesma forma de escritura tipicamente geográfica, a 
escritura do livro aberto, perpetuamente reescrito.
Portanto, a constituição progressiva da concepção de Terra como espaço universal da existência 
humana não tocou somente à representação cartográfica, como já foi dito, mas concerniu também 
ao texto, à descrição. Obviamente essas descrições eram enlevadas por um certo espírito da época e a 
presença de elementos simbólicos que atestavam essas filiações culturais era marcante, sobretudo numa 
época em que a ciência ainda não tinha se laicizado e as representações divinas se faziam presentes nos 
documentos. Vejamos, na figura a seguir, o desenho de uma cidade onde aparece claramente Deus na 
parte superior da paisagem e os anjos nas laterais.
Figura 17 – Imagem fundindo elementos cartográficos, históricos e simbólicos
Além dos elementos divinos, nota‑se na imagem a presença dos animais criados por Deus vivendo 
em harmonia com os homens na figura da embarcação atravessando o oceano.
A figura anterior nos faz perceber que a retórica não estava presente apenas na apresentação das 
sagas dos povos, apresentava‑se também nos próprios mapas que fundiam os elementos cartográficos, 
históricos e simbólicos.
Jean Marc Besse (2003a) foi um dos autores que analisou bem a Cosmographia de Münster no que 
diz respeito à gestação dos conceitos geográficos. Diz Besse que esse empreendimento “labiríntico” 
fundiu o objeto Terra e o objeto livro na medida em que construiu na cabeça do leitor a articulação de 
várias dimensões epistemológicas: a dimensão material pragmática do livro, a dimensão semântica das 
narrativas, a dimensão dos elementos simbólicos e a dimensão formal do conhecimento que realiza a 
análise e formação do conceito e objeto “Terra”.
Não podemos esquecer que a obra teve nada menos que 35 edições, número expressivo para a 
época. O estilo narrativo foi um dos elementos decisivos para o seu sucesso. Ou seja, não se tratava de 
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uma mera descrição, mas da indicação de um roteiro, um percurso, um itinerário no qual o componente 
emocional e retórico estava claramente presente. A ideia era conduzir o leitor por um passeio virtual e 
sair da aridez de um relato puramente descritivo.
Através da análise da Cosmographia de Münster (1544), Besse (2003a) ressalta a relação da Geografia 
com a Teologia e com a Filosofia, muito comum no século XVI. Com a Teologia, a relação se dá pelo 
modo como os cosmógrafos, não somente Münster, apresentavam o planeta Terra e como descreviam 
a geografia, tal como Besse (2003a) nos apresenta no prólogo da edição de 1544 da Cosmographia: “A 
geografia é um conhecimento dessa terra que nós habitamos, nós, mortais, pela graça de Deus...” (apud 
BESSE, 2003a, p. 186), de modo que a obra em si se apresentava como um verdadeiro guia da criação 
divina, sendo que todo o início do livro I da obra é consagrado à história da criação do mundo segundo 
a escritura bíblica.
O livro cosmográfico, nesse sentido, organiza um tipo de peregrinação do olhar e do espírito que 
descobre a diversidade e a sabedoria da criação divina. Essas qualidades da criatura criada, a Terra 
e o mundo dos seres humanos, atestam os poderes do criador, a verdade das palavras proféticas e 
a sabedoria de Deus. Mais ainda, a cosmografia realizaria, segundo o citado autor francês, o ato de 
transformar o leitor no peregrinador, invocando numa abordagem intelectual daquilo que os profetas 
invocavam nas escrituras.
A relação entre a Filosofia, a cosmografia e a Geografia também é bem clara. A Geografia partilharia 
com a Filosofia um certo olhar enciclopédico que a faria querer acompanhar os caminhos da astronomia, 
da matemática, das ciências dos seres vivos, das histórias políticas e das narrativas lendárias. E 
percorrendo essa variedade de objetos e saberes, a Geografia e a Filosofia partilhariam o mesmo cuidado 
que consiste em não perder de vista a totalidade e em se aproximar do conjunto, evitando perder‑se 
nos seus detalhes.
Besse (2003a) vai além e afirma que existe outro ponto em comum entre Filosofia e Geografia, que é 
o tipo de público a que são destinados esses saberes: são os homens livres e animados por um cuidado 
na arte de viver e da felicidade. O encontro se daria mais na dimensão ética que teórica.
O “percurso”, quer dizer, o itinerário, o roteiro do viajante, sugestionado pelas narrativas cosmográficas, 
é outro elemento importante a ser levado em consideração. O percurso unifica tempo e espaço de uma 
maneira sequencial e apresenta uma vocação utilitária para o comércio, a administração e as tarefas 
militares. Vemos, assim, nesses primórdios da ciência geográfica, um germe daquilo que viria a ser 
aclamado como uma de suas vocações primeiras no título da obra clássica do geógrafo Yves Lacoste 
(1988): A Geografia, isto serve para fazer a guerra. Nesse texto,que se tornou um clássico do pensamento 
geográfico, Lacoste (1988) dizia que a Geografia sempre seria uma espécie de conhecimento estratégico, 
um poder ligado ao Estado e à geopolítica. Sua visão, como se vê, se consolida no século XX, com a 
Geografia política e a Geopolítica.
Mas a cosmografia servia, sobretudo, como suporte para uma viagem virtual, uma viagem 
em espírito, principalmente. Ela permitia o prazer da viagem pelas inóspitas e perigosas terras 
tropicais sem o perigo do deslocamento real. Talvez então aqui encontremos um novo ponto 
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em comum entre a Geografia e a Filosofia, não tão positivo, que é o perigo de se substituírem a 
descrição, o itinerário, pela viagem propriamente dita, pela experiência real. É possível filosofar 
sem viver e viajar nas imagens e narrativas dos lugares sem vivê‑los. Por isso, é essencial 
ao geógrafo não perder a ligação com a realidade. Ir a campo é uma necessidade, não uma 
opção, caso contrário, corre‑se o risco de se tornar um geógrafo de gabinete, o que seria uma 
contradição em termos práticos. A Geografia vai ao campo, pois investiga e sistematiza os fatos 
que chamamos geográficos.
No entanto, é verdade, se a elaboração formal não se reduz à visualização de imagens, por outro 
lado, a fabricação de um espaço de visibilidade não se reduz à atividade intelectual, muito pelo contrário, 
a visualização das imagens é ativa no sentido de formar uma imagem fenomênica do mundo, ainda 
mais quando se trata do mapa‑múndi, cuja referência empírica é intangível, ou seja, a totalidade do 
planeta não é acessível ao olhar nu, é preciso transformá‑lo em imagem, mapa, fotos de satélite etc. 
Mas, no século XVI, a imagem privilegiada do mundo, os mapas mais modernos estavam presentes nas 
cosmografias.
O interessante é que a cosmografia, ao fazer o jogo do texto à imagem, da imagem ao texto 
constantemente, numa circulação constante, permite progressivamente construir o conceito de 
território1 , um dos conceitos centrais da Geografia moderna e contemporânea.
4.4 Geografia cultural: a formação de um novo homem
Como vimos, a aparição da cosmografia foi não apenas um fato histórico, mas configurou‑se também 
como signo de um acontecimento metacientífico que toca os fundamentos da cultura e da relação que 
o homem estabelece com ele e com o mundo. Então, nesse tópico, a partir das ideias de Jean‑Marc Besse 
(2003a), mostraremos como a Geografia teve um papel importante na mudança cultural que se operou 
a partir do século XVI: a mudança de porte ontológico, ou seja, que alterou o estatuto de existência do 
homem, ou, em outras palavras, o sentido mais profundo da questão do ser.
Nesse sentido, podemos nos perguntar que conceitos o homem do século XVI mobilizava quando 
se declarava um ser terrestre. Lembremos que não é possível pensar a questão da revolução científica 
(o nascimento de um novo mundo: novas histórias, novas geografias) sob o ângulo de uma passagem 
brutal de uma teoria a outra. É necessário adotar uma perspectiva de diferenciação de temporalidades 
que convivem sob dispositivos distintos, verdades e valores divergentes que coexistem numa época de 
transição como é a passagem do século XV ao XVI. Ao longo desse tempo, se efetuam diversas operações 
de objetivação, ou seja, vários elementos começam a figurar como objetos de pesquisa e, paralelo a esse 
processo, ocorre outro, o da mudança de valores culturais.
1 Antes era o Estado que era usado para definir os lugares. O Território era a base, o fundamento do Estado‑
Nação que, ao mesmo tempo, contribuía para moldá‑lo. Com o processo de globalização em curso, passamos da noção 
de território “estatizado” nacional, para a noção de território “transnacional” mundial ou global. O território nacional é 
o espaço de todos os habitantes residentes ali, ou seja, abrigo de todos. Já o território “transnacional” é de interesse das 
empresas, e é habitado por um processo regionalizador e um conteúdo ideológico de origem distante, que chegam a esses 
lugares com os objetos e as normas estabelecidos para servi‑los, para cumprir com os arranjos do neoliberalismo.
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Em outras palavras, a descoberta das novas terras não significa somente uma ampliação de uma 
espaço de frequentação, mas também, e sobretudo, a elaboração de um novo conceito de Terra e de 
habitantes da Terra, que acompanham esse novo sentimento de grandeza e de habitat que se instala. 
Assiste‑se ao início de algo que vai permanecer.
O importante a se ressaltar é que a descoberta dos povos indígenas das Américas fez com que a 
cultura europeia se defrontasse com um elemento estranho a si, ao lidar com um “outro” diferente. As 
teorias que tinham sido criadas para justificar a existência de um mundo cuja área ecúmena se estendia 
por uma área bem menor caíam por terra, levando consigo o valor científico e cultural que as sustentava 
e que delas provinha. Claro, isso não acontecia abruptamente, mas num processo lento de reavaliação 
e questionamento de dogmas e velhas verdades. As teorias que foram produzidas para dar conta de um 
mundo velho transformam‑se em “história da cultura”.
Nesse movimento de afirmação das semelhanças e das diferenças culturais, a questão da alteridade 
novamente vem à baila no processo histórico. É necessário colocar o “outro” em cena. Nesse sentido, 
surgem as figuras interessantes dos gabinetes de curiosidades.
Os gabinetes de curiosidades, embriões dos atuais museus, apresentavam uma coletânea de 
objetos símbolos dos povos desconhecidos. A historiadora Rosa Maria Alves Pereira explica bem do 
que se trata:
A curiosidade sempre desempenhou um papel importante na busca do 
conhecimento e na formação de nosso imaginário. Está ligada às escolhas 
que fazemos para montarmos a nossa “coleção de imagens mentais”, da qual 
muitas vezes a emoção participa como um fixador da memória pessoal e 
coletiva na fruição dos bens culturais. As expedições de conquista territorial 
efetivadas pelos navegadores, especialmente entre os séculos XV ao XVII, 
trouxeram uma nova visão de mundo por ter acrescentado ao inventário 
de História Natural inúmeros espécimes apropriados (saqueados, por que 
não dizer?) e levados do Novo Mundo à Europa, até chegarem às cidades 
portuárias para o entretenimento de uns poucos, provocado pelo exotismo 
dos Gabinetes de Curiosidades (PEREIRA, 2006, p. 2).
 Saiba mais
Para saber mais sobre os gabinetes de curiosidades, consulte o artigo:
PEREIRA, R. M. A. Gabinetes de curiosidades e os primórdios da ilustração 
científica. In: ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE, 2, 2006, Campinas. Anais... 
Campinas: IFCH, Unicamp, 2006. Disponível em: <http://www.unicamp.
br/chaa/eha/atas/2006/PEREIRA,%20Rosa%20Maria%20Alves%20‑%20
IIEHA.pdf>. Acesso em: 21 fev. 2014.
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
Os gabinetes constituem‑se em verdadeiros arquivos de um acervo arqueológico, apresentando uma 
coleção variada de objetos, tais como: conchas, retratos, garrafas, pinturas de natureza morta e paisagens, 
peixes, cavalos‑marinhos e o retrato de um cartógrafo importante, Ortelius. Ou seja, num mesmo 
gabinete estão reunidos objetos pertencentes ao mesmo registro semântico das viagens e cenários 
do Novo Mundo. O peixe, ocavalo‑marinho, as conchas e as garrafas lembram as grandes viagens 
marinhas, os quadros mostram o trabalho de pintores viajantes naturalistas que faziam pinturas das 
novas paisagens. Além disso, há a figura de um cartógrafo renomado que se ocupava da representação 
gráfica e simbólica desses novos cenários.
Figura 18 – Theatrum orbis terrarum, de A. Ortelius
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Note‑se que o uso da palavra “cenário” nesse caso não é fortuita. Ortelius concebia o mundo como 
cenário da vida humana. A figura anterior mostra justamente a capa do Atlas elaborado por ele, cujo 
título é O teatro do mundo (Theatrum orbis terrarum). A ideia do mundo como cenário ou palco de 
atuação do homem não é nova nem mesmo no século de Ortelius, pois trata‑se de uma ideia intuitiva 
presente desde a Antiguidade clássica. Porém, o cartógrafo fez questão de deixar essa marca em seus 
mapas. Ortelius foi considerado um dos primeiros cartógrafos científicos da história.
Figura 19 – Mapa de Ortelius
Na esteira do golpe narcísico de descobrir que existiam outras formas de vida humana que habitavam 
o planeta das quais não se tinha conhecimento, desenvolveu‑se uma retórica de acolhimento e de 
rejeição, de curiosidade e de crítica eurocêntrica. Veja, por exemplo, o mapa anterior, elaborado por 
Ortelius muito tempo depois da descoberta do Novo Mundo. Observamos que, embora os continentes 
estejam desenhados nos cantos do mapa em miniatura, inclusive o continente americano, no canto 
esquerdo inferior, como se se tratasse de um mapa histórico, era interesse do cartógrafo registrar o 
planeta acessível ao espectador do mundo no tempo de Ptolomeu. Outro elemento cenográfico também 
presente em mapas em 1570 era a figura do imperador romano Carlos V, relacionando a figura do 
conquistador de terras à carta geográfica, associação sempre presente na história da ciência geográfica, 
que acabou dando, inclusive, posteriormente, origem ao conceito de território.
A redefinição da imagem do mundo e das relações entre os homens no mundo implica uma redefinição 
da relação do homem consigo mesmo na situação de habitante de uma Terra que se modificou, busca que 
pode ser traduzida pelo preceito délfico do “conhece‑te a ti mesmo”, como nos lembra Besse (2003a, p. 340).
A proximidade e o distanciamento mudam de escala, contudo, neste caso, não constituem apenas 
designações métricas, mas valores, a noção do longe e do perto alimenta‑se da noção do estar longe ou 
perto do “outro” da cultura europeia.
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
Na época do Renascimento, assiste‑se a uma transição, à passagem do medieval ao moderno; o 
pensamento racional começa a prevalecer, mas ainda se deixa levar pela racionalidade teológica e, 
sobretudo, pelo simbolismo teológico. Logo, é uma época de crise de valores. É a reflexão sobre o 
humano que vem à tona nesse período, então tudo que se refere à cultura humana é jogado numa lente 
de aumento: a liberdade, o pensamento, a arte, as viagens, as ciências, as descobertas. E como o homem 
está ao centro da cultura, tudo o que está em seu entorno vira cenário, um palco de encenação que é a 
vida humana sobre a Terra, daí o sucesso alcançado pelo Atlas de Ortelius. Ele estava consonante com 
o espírito de sua época.
Uma instigante figura está presente em um mapa‑múndi inserido na cabeça de um louco. O 
que representa essa imagem? Jean‑Marc Besse (2003a) analisa este quadro de autoria desconhecida 
encontrado na Antuérpia em 1590 e revela um aspecto interessante da cultura renascentista. A ideia 
central é que a contemplação do mundo implica uma conversão do olhar. Essa imagem era usada como 
objeto de uma espécie de meditação espiritual, não exatamente religiosa, mas com vistas a apaziguar o 
espírito insano, daí o mapa estar inserido na cabeça de um louco.
O que permite inferir que se trata da imagem da cabeça de um louco é o seu capacete, típico 
com guizos nas pontas. No lugar da face, um mapa do mundo do tipo planisfério. As inscrições 
contidas na armadura do louco podem fornecer algumas pistas sobre a intenção do seu autor. 
Sobre a fronte: “Oh, cabeça digna de hellébore!”; sobre as orelhas: “Orelhas de burro, quem não as 
tem?”; à direita, no globo: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”; à esquerda, nos medalhões: “Oh! 
Preocupação humana”, “O quanto é grande o vazio das coisas”, “Todo homem é uma obra louca” e 
“O homem é uma vaidade universal”. Na parte inferior da testa, um texto maior: “Eis aqui o mundo 
e o tema de nossa glória. O lugar onde levamos nossas honras. Aqui nós exercemos nosso poder. 
Aqui nós desejamos a riqueza. Aqui o gênero humano se agita. Aqui nós recomeçamos as guerras, 
mesmo as guerras civis”.
 Observação
Hellébore é uma planta cuja virtude seria purgar a loucura.
Sobre a prática das meditações, é bom lembrar que os exercícios espirituais utilizando imagens 
são privilegiados na época. Ao contrário das meditações medievais, que contemplavam as imagens da 
paixão de Cristo, as meditações no Renascimento trabalhavam a figura humana. O autor nos diz que 
a meditação nesse período retoma um tipo de exercício espiritual que se praticava entre os estoicos, 
a meditação espiritual. Nesses exercícios, uma das imagens utilizadas era a da Terra. Por quê? Besse 
(2003a) elenca, dentre outros motivos: dar tranquilidade ao espírito pela contemplação da imensidão e 
da ordem do cosmos. Aos nossos olhos contemporâneos, parece estranho, mas o novo mapa do mundo 
era utilizado como “a” imagem forte da totalidade, dado que a descoberta de novas terras teve alto 
impacto para o homem europeu.
Em contrapartida, mediante a contemplação dessa grandeza do mundo, o julgamento humano 
de si mesmo e, consequentemente, de seus problemas, perderia o vigor e a importância. Ou seja, 
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Unidade II
o novo mapa do mundo redimensiona duplamente a extensão da terra e o valor do homem que 
a habita. Proximidade e distanciamento não são apenas designações métricas, mas constituem 
valores, pois ajudam a redefinir as relações entre o longe e o perto, assim como a noção de outro 
lugar. Esse é um momento da história em que há uma comunicação entre o plano da ciência e 
da espiritualidade. A presença do mapa faz apelo à ideia do homem como criador (não mais como 
criação), descobridor do mundo, navegador, viajante, cartógrafo, cientista, enfim, o homem senhor 
de sua casa.
Por outro lado, as frases escritas nos fazem rir. Temos, assim, a típica sátira renascentista. Notemos 
também que a figura do louco, como símbolo, encarna perfeitamente o Renascimento, porque é uma 
figura dobradiça, tanto se contrapõe, pelo humor, à sobriedade do medievalismo, como também, pela 
sátira, à presunção da razão.
Por fim, existe uma frase à esquerda da imagem mencionada, na qual se lê “Demócrito ri do 
mundo, Heráclito chora sobre ele...”. A alusão aos dois pensadores gregos é recorrente na cultura 
renascentista. Os dois também estão presentes também na figura anterior e representam o 
ideal de equilíbrio pregado pelo renascentista, de modo que não é necessário ser nem como 
Demócrito nem como Heráclito, nem rir nem chorar demais, mas tampouco simplesmente 
representar.
 Saiba mais
Outro exemplo de obra sobre o Renascimento é o filme O Nome da 
Rosa, baseado na novela com o mesmo título e primeiraobra de ficção do 
filósofo italiano Umberto Eco:
O NOME da rosa. Dir. Jean‑Jacques Annaud. Alemanha; França; Itália: 
(Neue) Constantin Film/France 3/Les Films De Ariane/Cristaldi Film/RAI, 
1986. 13 minutos.
A história se passa no século XIV, em uma abadia beneditina 
localizada no norte da Itália. A ordem dos beneditinos foi a primeira 
congregação do clero regular a surgir na Europa ocidental. Fundada 
por São Bento de Núrsia, no século VI, tinha como uma de suas 
atribuições zelar pelo patrimônio cultural eclesiástico, preservando e 
copiando textos que a Igreja considerava significativos. O filme gira 
em torno de uma parte hoje perdida da Arte Poética de Aristóteles: 
o tratado sobre a comédia, cujo último exemplar estaria guardado na 
biblioteca do mosteiro.
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
 Resumo
Nesta Unidade, vimos que o conhecimento geográfico nasceu, 
primeiramente, da necessidade do homem pré‑histórico de reconhecer seu 
território, pois desse conhecimento dependia sua sobrevivência.
A partir daí, com o desenvolvimento da agricultura e o crescimento 
das cidades, o homem passou a sentir a necessidade de conhecer o 
espaço em que vivia e de armazenar as informações a ele relacionadas. 
Com o desenvolvimento da escrita, essas informações começaram a ser 
armazenadas, contribuindo para o surgimento dos mapas, que eram 
esculpidos em diversos materiais como pedra, madeira, pedaços de 
ossos etc.
Esse mapas, elaborados pelos povos da Antiguidade, tinham como 
principais funções a delimitação de fronteiras, a localização de águas e 
terras férteis, a localização de lugares e rotas de comércio.
A contribuição dos gregos foi fundamental para o desenvolvimento 
do conhecimento geográfico na Antiguidade, pois o posicionamento 
geográfico da Grécia promoveu o desenvolvimento da navegação, do 
comércio e do domínio sobre os povos do Mediterrâneo.
Alguns filósofos foram importantes para o desenvolvimento desse 
conhecimento geográfico e seus estudos estavam ligados, principalmente, 
à cartografia e à Astronomia.
Na Idade Média, o conhecimento geográfico também estava pautado 
na descrição de lugares e na confecção de novos mapas mundiais, 
principalmente, após a descoberta das terras do Novo Mundo, por Portugal 
e Espanha.
O conjunto desses conhecimentos gerados entre os séculos XV e 
XVIII contribuíram para o processo de sistematização da Geografia 
como ciência.
 Exercícios
Questão 1. (Objetivo 2013, adaptada) Seguem dois cartogramas que representam as visões pretérita 
e atual de uma porção da Terra:
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Unidade II
Figura 20
Figura 21
Observando as imagens, é possível concluir que:
A) Não há meios de se estabelecerem comparações, pois os mapas foram elaborados de diferentes 
maneiras: no primeiro, não havia a presença de técnicas cartográficas, enquanto o segundo segue 
princípios matemáticos.
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
B) Mesmo prescindindo de técnicas cartográficas, o mapa de Heródoto possui vários pontos 
semelhantes à região mediterrânea que se observa no segundo mapa.
C) O mapa de Heródoto não pode ser verdadeiro, pois no século V a. C. não se conhecia boa parte da 
superfície terrestre, o que impede sua exatidão.
D) O mapa de Heródoto deve ser ignorado, pois só a partir do século XVI, com o estabelecimento da 
primeira projeção cartográfica, realizada por Mercator, é que se tornou possível construir cartas 
com precisão.
E) A visão do espaço geográfico conhecido por Heródoto no século V a. C. suplanta em muito a visão 
atual, numa surpreendente concepção da superfície terrestre.
Resposta correta: alternativa B.
Análise das alternativas
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: embora prescindam de técnicas cartográficas atualmente conhecidas, ambos os mapas, 
além de apresentarem similaridade, demonstram riqueza de detalhes.
B) Alternativa correta.
Justificativa: no século V a. C., ainda não havia as técnicas cartográficas utilizadas na atualidade 
e os traçados e contornos do espaço conhecido eram imprecisos. Mesmo assim, o cartograma de 
Heródoto surpreende pela visão que apresenta, mostrando várias regiões do mundo conhecido com 
certo detalhamento e pode ser utilizado como um documento histórico.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: o mapa era real e tratava de um lugar específico, inclusive indicando acidentes 
geográficos.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: o mapa de Heródoto é uma das referências geográficas para representar espaços.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: o mapa atual utiliza técnicas cartográficas e maior precisão para identificar lugares.
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Unidade II
Questão 2. (Vunesp 2013, adaptada) Observe as figuras a seguir para responder à questão:
Figura 22
Figura 23
As mudanças ocorridas nos territórios representados entre as figuras anteriores estão relacionadas:
A) À reforma protestante, que permitiu aos cartógrafos ampliar os horizontes da representação 
devido à menor pressão religiosa.
B) À Revolução Industrial, que levou à expansão do capitalismo e à ampliação das fronteiras da 
economia mundial.
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
C) Ao avanço do Iluminismo na Europa, que defendia a abertura do olhar para outros povos e 
culturas, desbravando novos continentes.
D) À expansão marítimo‑comercial, que fez com que os europeus deparassem com terras até então 
desconhecidas.
E) À retração manufatureira e industrial na Europa, o que levou os europeus a buscarem alternativas 
econômicas em outras regiões do planeta.
Resposta correta: alternativa D.
Análise das alternativas
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: a reforma protestante foi importante sob o aspecto religioso dos conhecimentos, mas 
a cartografia foi ampliada para apoiar os conhecimentos náuticos.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: a Revolução Industrial influenciou o processo produtivo, mas não necessariamente os 
conhecimentos cartográficos.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: a visão iluminista contribuiu com a evolução científica, mas o desbravamento para 
conhecer novos lugares ocorreu com as grandes navegações.
D) Alternativa correta.
Justificativa: as grandes navegações e o fato de se recorrer e conhecerem novas terras e novos 
espaços mudaram a visão cartográfica.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: a retração mencionada foi posterior ao período das grandes navegações.

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