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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE GEOGRAFIA 1º Ano Disciplina: PENSAMENTO GEOGRÁFICO Código: Total Horas/1o Semestre: Créditos (SNATCA): Número de Temas: 4 INSTITUTO SUPER INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico i Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). A não observância do acima estipulado o infrator é passível a aplicação de processos judiciais em vigor no País. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico ii Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Direcção Académica Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa Beira - Moçambique Telefone: +258 23 323501 Cel: +258 82 3055839 Fax: 23323501 E-mail: isced@isced.ac.mz Website: www.isced.ac.mz Agradecimentos O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Pela Coordenação Pelo design Direção Académica do ISCED Direção de Qualidade e Avaliação do ISCED Financiamento e Logística Pela Revisão Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED) Sualé Amade, Mestre em Gestão Ambiental Elaborado Por: António dos Anjos Luís, Mestrado em Ciência e Sistemas de Informação Geográfica ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico iii Índice Visão geral 1 Bem-vindo à Disciplina de Pensamento Geográfico ......................................................... 1 Objetivos do Módulo ........................................................................................................ 1 Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 1 Como está estruturado este módulo ................................................................................ 1 Ícones de actividade ......................................................................................................... 3 Habilidades de estudo ...................................................................................................... 3 Precisa de apoio? .............................................................................................................. 5 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................ 5 Avaliação ........................................................................................................................... 6 TEMA – I: O SABER GEOGRÁFICO. 9 UNIDADE Temática 1.1. A curiosidade do homem e a sua aventura na Terra ................. 9 Introdução ......................................................................................................................... 9 Sumário ........................................................................................................................... 15 Auto-avaliação ................................................................................................................ 15 Avaliação ......................................................................................................................... 16 REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 17 TEMA – II: O EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO. 18 Unidade Temática 2.1. A Geografia na Antiguidade ...................................................... 18 Introdução ....................................................................................................................... 18 Sumário ........................................................................................................................... 26 Autoavaliação ................................................................................................................. 27 Avaliação ......................................................................................................................... 28 Referencias Bibliográficas ............................................................................................... 29 UNIDADE Temática 2.2. A Geografia na idade Média .................................................... 29 Introdução ....................................................................................................................... 29 Sumário ........................................................................................................................... 35 Autoavaliação ................................................................................................................. 35 Referencias Bibliograficas ............................................................................................... 35 UNIDADE Temática 2.3. A Geografia na era dos Descobrimentos ................................. 36 Introdução ....................................................................................................................... 36 Sumário ........................................................................................................................... 43 Autoavaliação ................................................................................................................. 44 Avaliação ......................................................................................................................... 45 Referencias Bibliográficas ............................................................................................... 45 UNIDADE Temática 2.4. A Institucionalização da geografia ........................................... 46 Introdução ....................................................................................................................... 46 Sumário ........................................................................................................................... 51 Auto-avaliação ................................................................................................................ 51 ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico iv Avaliação ......................................................................................................................... 52 Referencias Bibliográficas ............................................................................................... 53 Sumário ........................................................................................................................... 59 Exercícios de AUTO-AVAL Avaliação ............................................................................... 60 Referencias Bibliográficas Referências Bibliográficas ..................................................... 61 TEMA – III: OUTRAS CONTRIBUICOES GEOGRÁFICAS. 62 Unidade Temática 3.1. Geografia Ratzeliana e o seucontexto ...................................... 62 Introdução ....................................................................................................................... 62 Sumário ........................................................................................................................... 69 Auto-avaliação ................................................................................................................ 69 Avaliação ......................................................................................................................... 70 Referências Bibliográficas ............................................................................................... 71 UNIDADE Temática 3.2. A Geografia Vidaliana e o seu contexto ................................... 72 Introdução ....................................................................................................................... 72 Sumário ........................................................................................................................... 78 Autoavaliação ................................................................................................................. 79 Avaliação ......................................................................................................................... 80 Referências Bibliográficas ............................................................................................... 81 UNIDADE Temática 3.3. A abordagem regional vidaliana .............................................. 81 Introdução ....................................................................................................................... 81 Sumário ........................................................................................................................... 89 Autoavaliação ................................................................................................................. 90 Avaliação ......................................................................................................................... 91 Referências Bibliográficas ............................................................................................... 91 UNIDADE Temática 3.4. Os movimentos de renovação ................................................. 92 Introdução ....................................................................................................................... 92 Sumário ........................................................................................................................... 97 Autoavaliação ................................................................................................................. 97 Avaliação ......................................................................................................................... 98 Referências Bibliográficas ............................................................................................... 99 TEMA – IV: GEOGRAFIA COMO CIENCIA. 100 UNIDADE Temática 4.1. Geografia como Ciência ......................................................... 100 Introdução ..................................................................................................................... 100 Sumário ......................................................................................................................... 113 Autoavaliação ............................................................................................................... 113 Avaliação ....................................................................................................................... 114 Referências Bibliográficas ............................................................................................. 115 ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 1 Visão geral Bem-vindo à Disciplina de Pensamento Geográfico Objetivos do Módulo O objetivo geral da disciplina visa fazer compreender o aluno a evolução histórica do pensamento geográfico, seus principais autores e a sistematização desse conhecimento numa área específica do saber científico Objectivos Específicos Analisar as atuais perspetivas da ciência geográfica, enfatizando os movimentos de renovação do pensamento geográfico Conhecer as diferentes escolas da Geografia Conhecer os fundamentos da geografia quantitativa e qualitativa Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de Ensino em Geografia do ISCED bem como para todos os leitores que desejam atualizar e consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, adquirindo o manual sem ter que se inscrever na disciplina. Como está estruturado este módulo Este módulo de Pensamento Geográfico, para estudantes do 1º ano do curso de licenciatura em Ensino de Geografia, à semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado como se segue: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os aspetos-chave que você precisa conhecer para melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 2 Conteúdo desta Disciplina / Módulo Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente unidades, Cada unidade temática se caracteriza por conter uma introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados antes o sumário, exercícios de autoavaliação, só depois é que aparecem os exercícios de avaliação. Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e atividades práticas algumas incluindo estudo de caso. Outros recursos A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED, pensando em si, num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didáticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além deste material físico ou eletrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos. Autoavaliação e Tarefas de avaliação Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade temática. As tarefas dos exercícios de auto - avaliação apresentam exercícios resolvidos com detalhes (orientação das paginas e ou do paragrafo) Comentários e sugestões Este e o principal documento da disciplina. Contudo para cada tema recomenda-se que os estudantes usem outras fontes nomeadamente as que aparecem na lista bibliográfica de cada unidade temática ou mesmo através da pesquisa na internet. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 3 Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Habilidades de estudo O principal objetivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender aprende-se. Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e alcançarmelhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue: 1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura. 2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). 3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas atividades práticas ou as de estudo de caso se existirem. IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respectivamente como, onde e quando... Estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc. É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 4 ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo. Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama- se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias. Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz! Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar; ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 5 Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, SMS, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação. Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e Administrativo) é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED indicada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa. O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo. Tarefas (avaliação e auto-avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 6 Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plágio1 é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es). Uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED). Avaliação Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, estando eles fisicamente separados e muito distantes do docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e consistente. Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10% do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de avaliação. Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos exames. Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou módulo e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam nomínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1 (um) (exame). Algumas atividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as 1 Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 7 recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de Avaliação do ISCED. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 9 TEMA – I: O SABER GEOGRÁFICO. UNIDADE Temática 1.1. O saber geográfico e o seus elementos UNIDADE Temática 1.2. Exercícios Integrados deste Tema UNIDADE Temática 1.1. A curiosidade do homem e a sua aventura na Terra Introdução Nesta primeira aula da disciplina de Pensamento Geográfico, vamos aprender o que se entende por saber geográfico. Nesse sentido, estudaremos: como esse saber é essencial para os homens; de que maneira os conhecimentos geográficos servem para ordenar a superfície da Terra, gerir, explorar, organizar e substituir uma primeira natureza, que chamamos “intocada”, por uma natureza segunda, entendida como a natureza transformada pelo homem; e como a Geografia e os saberes geográficos ajudam a compreender as relações humanas e as inter-relações do homem e do seu entorno, fazendo brotar, na superfície, os meios humanos, as paisagens, as regiões, os territórios. Usando elementos do cotidiano e de nossa formação/informação básica, pretendemos auxiliá-lo na compreensão de como se estrutura o espaço geográfico e de como ele é apreendido pela Geografia enquanto ciência. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos Específicos Compreender como o saber geográfico se relaciona à aventura humana na Terra; Identificar de que maneira as necessidades do homem criam espacialidades diversas; Relacionar os elementos que compõem o saber geográfico. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 10 A curiosidade do homem e sua aventura na Terra Antes de começarmos este estudo, é importante distinguirmos Geografia (enquanto ciência) de conhecimento ou saber geográfico. O saber geográfico é algo mais do que a Geografia enquanto ciência que se institucionaliza no século XIX. Essa institucionalização significou a sistematização científica do saber geográfico desenvolvido no processo civilizatório. Nesse sentido, não podemos confundir ciência geográfica com saber geográfico, uma vez que este último não se resume às formas instituídas pela academia. O saber geográfico enquanto conhecimento acerca do mundo está presente em todos os tempos e em todas as civilizações. Assim, quando falamos de geografia, antes da sua sistematização, estamos, na verdade, falando de saber geográfico. Você sabia que a geografia tem a idade da humanidade? Caso tenha respondido positivamente, você deve ter entendido que ela é, como todo saber, a expressão de uma curiosidade e a resposta a essa curiosidade. Habitante da superfície da Terra, o homem tem, desde o início dos tempos, procurado saber onde se encontra, conhecer o que existe além do lugar onde mora, inventariar cada elemento da extensão terrestre, identificar e nomear os lugares, descrever e conferir representações. Poder se situar, de forma absoluta (onde estou?) e relativa (o que existe aquém e além do lugar onde estou?); poder se deslocar e construir um itinerário; conhecer as terras longínquas onde jamais se esteve e a diversidade dos homens que lá vivem, os recursos, as riquezas para explorar; representar e transmitir saberes: tal é a longa busca empreendida pelo saber geográfico. Essa aventura geográfica da humanidade comporta a história da exploração e da descoberta da Terra, bem como a extraordinária história de sua representação cartográfica. A seguir, vemos dois exemplos: um da Antiguidade grega e outro do século XVIII. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 11 a b Figura 1- (a) Cópia de mapas gregos antigos representando o continente Antártico sem gelo; (b) Mapa de Buache desenhado em 1737 O homem jamais se contentou em apenas observar a Terra. Por meio de uma constante interação com o meio, ele tem deixado as suas marcas: tira da Terra os elementos essenciais à sua vida. Com essa intervenção, as sociedades humanas “desnaturam” a superfície da Terra, o que implica sua transformação. Com estas palavras, você já deve estar imaginando que o homem é um agente geográfico quando ele descobre novos lugares, drena, cultiva, constrói, substitui o meio natural por um meio artificial, ou melhor, por um meio “humano”. A ação geográfica dos homens implica inscrição de traços, de linhas, de superfícies de volume (áreas produtivas, manchas urbanas), sendo alguns destes visíveis, como rotas, campos, construções, e outros não diretamente percetíveis, como relações sociais, fronteiras, fluxos de relações. Pontos, linhas, superfícies, volume, densidade são, de maneira ampla, escrituras geográficas. As paisagens atestam a diversidade dessa escritura. Tomando por base Milton Santos (2006), podemos dizer que a paisagem é constituída por um conjunto de formas que, num dado momento, exprime as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a natureza. Conjunto de elementos naturais e artificiais que fisicamente caracterizam uma determinada área. Depois de ter “escutado”, atentamente, o que disse o professor Milton Santos, você deve estar percebendo que o saber geográfico está relacionado à análise da paisagem, à compreensão de seus significados e de seus valores. Veja que o saber geográfico nasce da forma de olhar que os homens constroem sobre seu meio, das questões que eles se colocam sobre o sentido de sua presença nesse meio, sobre as influências que eles sofrem do meio e sobre os efeitos de suas intervenções. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 12 A partir dessa breve exposição, você deve ter percebido que o saber geográfico surge da curiosidade humana e das interrogações que os homens se colocam diante das possibilidades e das limitações de suas ações frente às condições do meio; e que suas ações implicam marcas e um perpétuo conflito entre a realização de suas necessidades e o meio. Elementos do saber geográfico Neste item, veremos cinco elementos importantes para a compreensão do desenvolvimento do saber geográfico, vá se familiarizando com eles, pois serão importantes para sua formação como professor de Geografia. Esses elementos variam no tempo, mas são sempre importantes para a análise geográfica. Posições e contornos Os homens desenvolveram esforços consideráveis para poder se situar e ter uma ideia da forma,dos contornos e da articulação entre os continentes. De diversas maneiras, o homem enfrentou as difíceis etapas do reconhecimento da Terra; os navegadores foram os principais descobridores dos limites das terras e dos litorais. Sobre seus barcos, guiados pelo fio condutor das costas, impulsionados pelos ventos e pelas correntes, esses homens empreenderam viagens e expedições em direção a terras míticas, imaginárias ou reais. Eles desenharam os contornos das costas; depois, com seus barcos mediram as distâncias, a duração das navegações, identificaram as posições topográficas. Deram às terras descobertas milhares de nomes. Foi subindo e descendo rios ou acreditando descobrir suas desembocaduras ou mares interiores que os homens adentraram os continentes. As viagens de exploração por via terrestre, mais difíceis, foram raras e tardias. Veja que a identificação da configuração dos continentes e oceanos necessitava da resolução de três séries de problemas: 1) o conhecimento da forma da Terra; 2) o conhecimento de suas dimensões; e 3) a definição das coordenadas de um lugar. A esfericidade da Terra foi admitida e suas dimensões foram medidas desde a Antiguidade. Entretanto, enquanto a latitude e a longitude2 não foram definidas com precisão, os homens não puderam “dominar” efetivamente o seu Planeta. A partir disso, fica claro que a atitude de se orientar constitui uma das bases de todo saber geográfico. 2 Distância em graus de qualquer ponto da Terra tomando como referência a linha do equador e distância em graus de qualquer ponto da Terra tomando como referência o meridiano de Greenwich, respetivamente. Você verá melhor esses dois conceitos na disciplina Leitura Cartografia ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 13 Identificação e Inventário dos Lugares O conhecimento dos contornos e das posições geográficas depende de outro conhecimento, aquele do conteúdo de cada lugar da superfície terrestre. A curiosidade dos homens apenas se satisfaz quando ele preenche os vazios das cartas e substitui os lugares míticos e imaginários por lugares “reais”. Diversas finalidades deram sustentação a esta empreitada: terras a conquistar, impérios a dominar, riquezas para se apropriar, populações para descobrir, rios e fontes, montanhas e lagos para inventariar. Assim, o desejo de conhecer foi sempre orientado e seletivo em relação às intenções dos homens e das sociedades. Ele varia com a escala que se deseja atingir, ou seja, varia em função da distância e do afastamento dos lugares que se quer conhecer. Conhecer significa criar itinerários que são “memorizados” graças à observação dos traços da topografia próxima e longínqua, à memorização das cores da vegetação, das nuances do relevo etc. Figura 2- Registo dos lugares nas primeiras sociedades Para melhor inventariar e identificar, primeiramente, fixa-se os fenômenos mais remarcáveis ou que fornecem os melhores marcos e sinais: o traçado dos rios, os obstáculos montanhosos, os desfiladeiros, os vulcões, os lagos, os animais e também as cidades. Em segundo lugar, elenca-se os fenômenos menos visíveis, relações de troca, tipos de organização social, religiosidade etc. Gostaríamos de frisar que um bom inventário leva em consideração também – e não é menos importante – os lugares habitados, rotas, construções religiosas, riachos, paradas etc. As cidades, os portos, as redes de rotas representam nós e linhas de funcionamento das sociedades ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 14 humanas e são reveladoras de dados essenciais. É fundamental chamar sua atenção para o fato de que o inventário dos lugares comporta um outro aspecto essencial: aquele de sua denominação. A toponímia é uma etapa indispensável do conhecimento da superfície da Terra. A Terra torna-se Terra dos homens quando deixa de ser anônima e é nomeada por eles. Todo lugar nomeado pelo homem torna-se significativo no sentido forte do termo. Baptizar o terreno e cobri-lo de uma camada de nomes transforma o conhecimento dos lugares em saber coletivo. Desde o instante em que os lugares têm um nome, eles são integrados a uma grade social de localização. Seu conhecimento geográfico deixa de ser fechado no círculo estreito das pequenas comunidades e se socializa para além do local. A gente ouve falar de vilarejos, de cidades, de montanhas, de reinos que jamais vimos e que não veremos nunca. A existência, além do que é pessoalmente conhecido, de uma esfera muito mais ampla e que existe apenas como um universo de palavras tem efeitos múltiplos: ela suscita, para alguns, uma fascinação por aqueles lugares dos quais ouviram falar; ela alimenta sua imaginação; ela faz nascer uma necessidade de evasão. A camada de nomes que constitui a toponímia alarga a esfera dos deslocamentos e das trocas para além do que foi percorrido pelo indivíduo. Localização e Distribuição Você já deve estar sabendo que o saber geográfico se particulariza por sua primazia com os dados de localização. É importante salientar que, além de coletados através de critérios rigorosos, é necessário que eles sejam cartografados. O que o geógrafo procura ver na paisagem não é a simples localização deste ou daquele objeto geográfico particular (fazenda, cidade, capela e outros), mas a distribuição de todos os objectos de uma mesma espécie (as casas, as cidades, as vilas, a vegetação, as florestas) e as diversas fisionomias de conjunto que revelam o meio. A relação homem-natureza Os homens se colocam, desde sempre, questões relativas às relações entre as sociedades e o seu meio, mesmo antes de ter um saber geográfico sistematizado. Hipócrates (século V antes de Cristo), em seu tratado Sobre os Ares, as Águas e os Lugares, já opunha os povos das regiões elevadas e húmidas a povos de regiões sem água e de variações climáticas bruscas. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 15 Veja que foi e ainda é normal que, inseridos em meios naturais diversos, os homens tenham de retirar desses meios o seu sustento, os materiais para construir suas casas, as matérias-primas para sua produção, dentre outras coisas. Bem como que se interroguem sobre as influências desse meio no seu comportamento. O saber geográfico como totalizador da superfície terrestre Por sua vez, no século XIX, o nível de descrição da superfície da Terra já permitia uma visualização de sua totalidade. Além das descrições de lugares particulares, de inventários sobre as diversas partes da Terra, o saber geográfico segue na direção de compreender os conjuntos de elementos naturais e humanos e a solidariedade entre seus componentes, numa dimensão totalizante. Sumário Nesta Unidade temática, aprendemos que a curiosidade do homem foi e é um importante elemento para a constituição das sociedades e da Geografia. Vimos também que as necessidades básicas nos impõem atividades diversas e que, para satisfazê-las, deixamos as nossas marcas e impressões na superfície da Terra. Aprendemos ainda que as paisagens são um elemento revelador para a análise da Geografia. Auto-avaliação 1. Ao conjunto de elementos naturais e artificiais que fisicamente caracterizam uma determinada área chama-se: A. Paisagem B. Pensamento Geográfico C. Saber geográfico D. Todas opções estão correctas. 2. O homem enfrentou as difíceis etapas do reconhecimento da Terra; os principais descobridores dos limites das terras e dos litorais foram: A. Os geógrafos B. Os navegadores C. Os expositores D. Antropólogos ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 16 3. A latitude e a longitude são elementos muito importante para dominar e delimitar o planeta Terra, mas o que constitui uma das bases de todo saber geográfico é: A. Longitude B. Meridianos C. Latitude D. Equador 4. A toponímia é uma etapa indispensável do conhecimento da superfície da Terra. 5. O que o geógrafo procura ver na paisagem é a simples localização deste ou daquele objeto geográfico particular, a distribuição de todos os objectos de uma mesma espécie e as diversas fisionomias de conjunto que revelam o meio. Guião de Correcção 1-A; 2-B; 3-C; 4-V; 5-V Avaliação 1. O conceito de lugar articula-se a partir da relação ou compreensão do ser diante do espaço geográfico, ou seja, o lugar é o espaço apropriado ou percebido pelas relações humanas. 2. A respeito do conceito de região, avalie as proposições a seguir a que esta incorrecta: A. Uma região pode ser criada com a finalidade de realizar estudos sobre as características gerais de um território, assim como para entender determinados aspectos do espaço. B. A região resulta de uma elaboração racional e intencional do ser humano. Tem a finalidade de facilitar a análise, a gestão e a compreensão de uma determinada área e dos elementos que a compõem. C. Em geral, a região pode ser entendida como uma área que foi dividida obedecendo-se a um critério específico. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 17 D. Algumas regiões surgem de forma natural e são estabelecidas sem que seja necessária a especificação de um critério que as defina ou classifique. 3. Onde surgiu o conhecimento Geográfico? A. No mundo Árabe. B. Na América. C. No Brasil. D. Na Grécia Antiga. 4. A Geografia é a ciência que estuda e analisa o espaço produzido pelo homem 5. O Espaço Geográfico é um importante conceito para a Geografia, haja vista que ele é o objeto principal de estudo dessa área do conhecimento. o espaço geográfico é um conjunto de sistemas de objetos e ações, isto é, os itens e elementos artificiais e as ações humanas que manejam tais instrumentos no sentido de construir e transformar o meio, seja ele natural ou social. Essa ideia foi defendida por: A. Milton Santos B. Frederich Engels. C. André Cholley D. Alexander Von Humboldt Guião de Correcção 1-V; 2-D; 3-D; 4-V; 5-A REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS DANTAS, Aldo. Pierre Monbeig: um marco da geografia brasileira. Porto Alegre: Sulina, 2005. KAERCHER, Nestor André. A geografia é o nosso dia-a-dia. In: CASTROGIOVANNI, António Carlos (Org.). Geografia em sala de aula. Porto Alegre: Editora da Universidade/AGB, 1998. SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: EDUSP, 2006. http://brasilescola.uol.com.br/geografia/milton-santos.htm ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 18 TEMA – II: O EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO. Unidade Tematica 2.1. Geografia na Antiguidade Unidade Tematica 2.2 Geografia na Idade Média Unidade Tematica 2.3 Geografia na era dos descobrimentos Unidade Tematica 2.4 A Institucionalização da Geografia Unidade temática 2.5. Exercícios Integrados deste Tema Unidade Temática 2.1. A Geografia na Antiguidade Introdução Como você aprendeu na aula 1 (O saber geográfico) o conhecimento geográfico está fundado na relação homem/natureza (notadamente a biosfera), na ação humana e na maneira como estão distribuídos os fenômenos físicos e humanos na superfície da Terra. Nesta aula, você irá estudar como se deu a evolução desse conhecimento na antiguidade, principalmente a influência dos gregos e romanos na construção das ideias geográficas. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Compreender a evolução do pensamento geográfico na Antiguidade. Relacionar as necessidades dos povos antigos com a produção e compreensão do espaço geográfico. Compreender a influência dos gregos e romanos no desenvolvimento do conhecimento geográfico. Perceber como surge a Geografia geral e regional. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 19 A indagação geográfica Para darmos início ao conteúdo desta aula, poderíamos, antes, nos fazer a seguinte indagação: qual é a questão específica que se coloca para a Geografia? Entre tantas possibilidades de respostas, poderíamos responder da seguinte maneira: a questão específica da Geografia é entender por que e como as distribuições espaciais estão estruturadas da maneira que estão. Lembramos a você que as distribuições espaciais são estruturadas a partir das ações humanas individuais e coletivas sobre a extensão terrestre. Quando Começam as Indagações Geográficas? Os primeiros indícios de uma preocupação com a distribuição dos fenômenos surgiram desde os primórdios da humanidade. Nesse período, o homem pouco modificava a natureza, uma vez que estava muito subordinado às condições naturais o que, provavelmente, lhe impunha uma condição de nômade. Essa condição se exprime no constante deslocamento à procura de meios de subsistência ou em atividades guerreiras e condiciona a uma necessidade de conservar informações sobre os caminhos percorridos e as suas direções. Dessa maneira, surgem os primeiros esboços representando a superfície da Terra, isto é, os primeiros mapas. Você pode confirmar essa informação perguntando a qualquer pessoa, mesmo aquelas que não sabem ler, qual o melhor caminho para ir a um lugar. Ela será capaz de fazer um esboço, mostrando o caminho a seguir, os fatos mais importantes que existem ao longo do percurso e os principais obstáculos. Há mesmo quem diga que fazer mapas é uma aptidão inata do ser humano. Desde a Antiguidade, a cartografia tem grande importância. O mapa mais antigo de que se tem notícia data de 2500 a.C. e é uma representação de um rio, provavelmente o Eufrates, com uma montanha de cada lado desaguando por um delta de três braços. Nesse período, a concepção existente era de uma Terra plana, com a forma de um disco e constituída por uma massa flutuante na água, com a abóbada celeste por cima. A expansão política, comercial e marítima dos povos do mediterrâneo (Mesopotâmia, Fenícia, Egipto) levou à elaboração de mapas marítimos e, sobretudo, à descrição de lugares e de povos. Tais descrições eram denominadas de périplos. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 20 O périplo mais antigo data do século VII a.C. e foi feito por marinheiros fenícios a serviço do faraó egípcio. Foi na Grécia antiga que a ciência geográfica recebeu seu nome, entretanto, outros povos que vieram antes dos gregos, já tinham conhecimentos geográficos, entre estes, destacamos os egípcios, babilônios e fenícios. Os egípcios •Umas das mais antigas civilizações do mundo: 5 mil anos a.C.; •Se estabeleceram às margens do Rio Nilo e tiveram na agricultura a principal atividade; •Devido às condições climáticas da região essa era a única área que permitia atividade agrícola, no período de cheias; •Os egípcios estudaram a periodicidade das estações do ano observando o movimento do Sol, Lua e estrelas. Figura 3-Registo dos egípcios Os fenícios e babilônios •Povos que habitavam a região do atual Oriente Médio; •Fenícios ocupavam uma faixa do litoral do Mar Mediterrâneo, onde atualmente fica o Líbano; •Dedicavam-se ao comércio e faziam inúmeras viagens pelo Mar Mediterrâneo e Mar Vermelho;ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 21 •Chegaram a ultrapassar o Estreito de Gibraltar e atingir o Oceano Atlântico; •Conheciam muito bem esses litorais, ilhas, golfos e baías. Figura 4-Rotas comerciais dos fenícios e babilônios •Os babilônios habitavam a região da Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, atual Iraque; •Esse povo serviu-se de crenças espirituais e mitológicas para explicar os fenômenos naturais que eram inexplicáveis; •Os babilônios supunham que a Terra era uma grande montanha redonda cercada por mares; •No interior da montanha estava o reino dos Mortos e sobre ela, no céu, a Morada dos Deuses; •O mais antigo mapa que se tem notícia foi elaborado pelos babilônios. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 22 Figura 5- Localização geográfica do império da Babilónia A Sistematização do Conhecimento Geográfico A palavra geografia (descrever a Terra) foi criada pelos gregos, povos que originalmente vão se preocupar com a sistematização desse conhecimento. Para Nelson Werneck Sodré (1987), talvez a Geografia seja a ciência de história mais longa entre todas que conhecemos. Ela começa com as descrições, nas comunidades de tradição oral, das migrações e das diferenciações dos lugares. Isso mostra que é importante que o conhecimento seja registado e transmitido. É na Grécia, já com o domínio da escrita e em decorrência de sua posição geográfica no Mediterrâneo, em relação às outras partes do mundo conhecido, que cabe (aos gregos) coletar e sistematizar os conhecimentos de natureza geográfica. O primeiro mapa grego de que se tem notícia foi elaborado por Anaximandro de Mileto (650-615 a.C.), que viajou e escreveu relatos das suas viagens. Discípulo de Tales de Mileto é provável que Anaximandro de Mileto tenha sido o inventor do gnómon, instrumento que serve para medir a altura do Sol (Figura 2). ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 23 Figura 6-Gnomon O segundo mapa da Antiguidade foi elaborado por Hecateu de Mileto (560-480 a.C.). Viajou por toda parte do mundo conhecido, escreveu a Descrição da Terra, obra ilustrada por um mapa onde a Terra é representada por um disco com água em sua volta. Outros documentos importantes dessa época são os poemas épicos Ilíada e Odisseia, de Homero, conhecidos e apreciados por seu valor literário e pelas informações geográficas contidas na descrição dos lugares distantes e das longas viagens marítimas. Os dois pontos de vista da Geografia Você deve ter percebido, até aqui, que duas são as preocupações que fundamentam os conhecimentos geográficos desse período. Um está relacionado com a física terrestre – forma, dimensão, posição sideral. A outra, com a descrição das diferenças da constituição da superfície terrestre e com as diversas culturas que nela se instalam. Essas duas dimensões dão origem a dois pontos de vistas: o da Geografia Geral e o da Geografia Regional. Dois “geógrafos” gregos Erastóstenes (276-194 a.C.) – Além de demonstrar a existência da curvatura da Terra e calcular suas dimensões com notável precisão, também localizou mares, terras, montanhas, rios e cidades no primeiro sistema de coordenadas geográficas, no qual estavam presentes as latitudes e as longitudes. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 24 Estudou, ainda, questões relativas à hidrografia e à climatologia, às zonas climáticas e às cheias dos rios, notadamente aquelas relativas ao Nilo. Contudo, os níveis de generalização traziam consigo margens de erros consideráveis, fortalecendo a abordagem regional. Matemático, filósofo e astrónomo grego da escola de Alexandria. Graças a medição ingeniosa de um arco de meridiano, foi o primeiro a medir corretamente a circunferência da terra (em 40 000 Km. aproximadamente). Figura 7-Erastostenes Heródoto (484-425 a.C.) – Filósofo e historiador, considerado o pai da História e da Geografia, inseriu a história dos povos no contexto geográfico. Suas crônicas registam a gênese da Geografia Regional e retratam os mais diferentes e distantes países. São conhecidas suas viagens à Fenícia, ao Egipto e à Babilônia. Ao estudar as cheias do rio Nilo, Heródoto associou a sua desembocadura à letra grega delta, razão pela qual é encontrada até os dias atuais a foz em delta nos livros escolares. Figura 8- Mapa de Eratóstenes ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 25 Dois “geógrafos” romanos Estrabão (64 a.C – 20 d. C) – Grande enciclopedista destaca o caráter filosófico e transdisciplinar da Geografia. Em sua obra, afirmava que o amplo conhecimento, necessário ao empreendimento de qualquer trabalho geográfico, deve estar relacionado tanto com as coisas humanas como divinas, conhecimento que constitui a Filosofia. Ao contrário dos gregos, interessava-se por uma abordagem mais humana, cujos ensinamentos destinavam-se às ações de governo. Além do mais, ensinava que os geógrafos não deviam preocupar-se com o que estava fora do mundo habitado. Assim como Heródoto, Estrabão foi um grande viajante, tendo descrito no seu livro várias partes do mundo daquela época. Por tal feito, é, ainda hoje, considerado um dos mais importantes geógrafos da Antiguidade. Estrabão tinha como metodologia geográfica a localização e delimitação dos aspetos físicos de uma região seguidas da descrição da população, com suas lendas, costumes e atividades econômicas. Ptolomeu (90 – 168 d.C.) – É o último grande geógrafo da antiguidade, foi também astrônomo e matemático. Interessou- se pelas técnicas de projeção cartográfica e elaboração de mapas. Em sua obra Geographia, de 8 volumes, traz os princípios de construção de globos e projeções de mapas, indica os princípios da Geografia, Matemática e da cartografia, além de organizar um grande vocabulário com todos os nomes de 8000 lugares que conhecia, localizando-os por meio da latitude e da longitude. Em sua obra “el Almagesto” descreve os princípios da Teoria Geocêntrica, o movimento circular uniforme e a divisão do Universo em dois domínios) o Cosmos e o mundo sub lunar), que estiveram vigentes até ao final da idade media e o Renascimento; imaginou a terra imóvel no centro do universo. Foi o primeiro a fazer mapas com coordenadas. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 26 Figura 9-Representação da teoria Geocêntrica de Ptolomeu Sumário Nesta Unidade temática, aprendemos que o saber geográfico não é algo que começou a ser produzido recentemente. Chega-se mesmo a afirmar que o seu início remonta às primeiras comunidades gentílicas. O rótulo geografia, por outro lado, somente passou a ser utilizado na antiguidade clássica e é fruto direto do pensamento grego. No processo histórico de construção desta especificidade do saber humano, os (as) gregos (as) são considerados (as) os (as) primeiros (as) a registar de forma sistematizada os conhecimentos geográficos. Tais contribuições decorrem do posicionamento geográfico da Grécia, que possibilitou a navegação, o comércio e o domínio sobre os povos do mediterrâneo, além do desenvolvimento social, político, econômico e cultural. Os (as) romanos (as), partindo dos conhecimentos herdados dos (as) gregos (as), ampliaram significativamente estes conhecimentos, tornando-se os (as) responsáveispelas grandes contribuições que passariam ser, mais tarde, fundamentais no desenvolvimento da Geografia enquanto ciência (Um dos grandes problemas enfrentados pelos que pretendem desenvolver uma pesquisa mais aprofundada acerca da história da Geografia, é a ausência quase que total de informações sobre as produções teórico-metodológicas dos povos orientais, sobretudo os da Antiguidade, fato que nos obriga, neste processo de construção, a citar apenas os feitos dos geógrafos ocidentais, e, mais particularmente, os dos greco-romanos). Autores como Eratóstenes, Tales de Mileto, Anaximandro, Heródoto, Hipócrates, Hiparco, além de outros, produziram os conhecimentos ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 27 alicerçadores do que mais tarde seria a geografia científica, fato que justifica alguns comentários sobre eles. Apesar da imensa contribuição destes autores citados, foram, sem dúvida, Estrabão e Cláudio Ptolomeu os maiores responsáveis pela sistematização dos conhecimentos geográficos na Antiguidades Clássica. Suas obras, ressaltamos, serviram de modelo para os geógrafos responsáveis pela grande retomada da produção de conhecimentos geográficos, ocorrida a partir do século XV. Auto-avaliação 1. Desde a Antiguidade, a cartografia tem grande importância para representar os contornos do planeta terra. O mapa mais antigo foi em: A. 2500 a.C. B. 2500 d. C C. 2000 a. C D. 2000 d.C 2. A expansão política, comercial e marítima dos povos do mediterrâneo (Mesopotâmia, Fenícia, Egipto) levou à elaboração de mapas marítimos e, sobretudo, à descrição de lugares e de povos. Essas descrições eram chamados de: A. terráqueo B. périplos. C. Trilho D. todas opções estão correctas. 3. Atende as características: antigas civilizações do mundo: 5 mil anos a.C. e situada as margens do Rio Nilo com a principal actividade agricultura. Estas particularidades refere-se aos: A. Os fenícios B. Os babilônios C. Os egípcios D. Todos 4. Ocupavam uma faixa do litoral do Mar Mediterrâneo, dedicavam-se ao comércio e faziam viagens pelo Mar Mediterrâneo e Mar Vermelho e litorais, ilhas, golfos e baías. São características típicas de: A. Os babilônios B. Os egípcios C. Gregos D. Fenícios 5. A Geografia é uma ciência que tem por objetivo o estudo da superfície terrestre e a distribuição https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 28 espacial de fenômenos significativos na paisagem. Os primeiro que coletar e sistematizar os conhecimentos de natureza geográfica foram: A. Gregos B. Egípcios C. Babilónicos D. Todos Guião de Correcção 1-A; 2-B; 3-C; 4-D; 5-A Avaliação 1. O primeiro mapa grego de que se tem notícia foi elaborado por: A. Eratóstenes (276-194 a.C.) B. Anaximandro de Mileto (650-615 a.C.) C. Heródoto (484-425 a.C.) D. Ptolomeu (90 – 168 d.C.) 2. O segundo mapa da Antiguidade que fazia a Descrição da Terra, obra ilustrada por um mapa onde a Terra é representada por um disco com água em sua volta, foi elaborado por: A. Anaximandro de Mileto (650-615 a.C.) B. Heródoto (484-425 a.C.) C. Ptolomeu (90 – 168 d.C.) D. Hecateu de Mileto (560-480 a.C.) 3. No processo histórico de construção desta especificidade do saber humano, os gregos são considerados os primeiros a registar de forma sistematizada os conhecimentos geográficos. 4. Eratóstenes foi ele que localizou mares, terras, montanhas, rios e cidades no primeiro sistema de coordenadas geográficas. 5. Qual o objeto de estudo da Geografia? A. Interpretação de Mapas. B. Descrição dos Lugares. C. Observação da Paisagem. D. Estudo do Espaço Geográfico. https://pt.wikipedia.org/wiki/Paisagem ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 29 Guião de Correcção 1-B; 2-D; 3-V; 4-V; 5-D Referencias Bibliográficas ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia: ciência da sociedade. Recife: Editora Universitária/UFPE, 2006. BAILLY, A. FERRAS, R. Élements d’éspistemoligie de la géographie. Paris: Armand Colin, 1997. CLAVAL, Paul. Histoire de la géopgraphie. Paris: PUF, 1996. SANTOS, Milton. O país distorcido. São Paulo: Publi folha, 2002. p. 82. UNIDADE Temática 2.2. A Geografia na idade Média Introdução Esta aula discute a influência das mudanças ocorridas na passagem da Antiguidade para o medievo e suas repercussões no conhecimento geográfico, assim como a influência árabe no desenvolvimento da Geografia. período. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Compreender a evolução do pensamento geográfico na Idade Média. Entender que as mudanças ocorridas na sociedade com a queda do Império Romano e ascensão Medieval repercutem no desenvolvimento do conhecimento geográfico. Compreender a influência dos árabes no desenvolvimento da Geografia. Quadro geral do Sistema Feudal A obra de Ptolomeu, que vimos no final da aula sobre a Geografia na Antiguidade, encerra a primeira etapa da Geografia. A própria riqueza que essa obra produziu por meio de uma ampla sistematização e o método de documentação que preconizou mantiveram-se durante muitos séculos presentes no pensamento geográfico. Como Aristóteles para a Filosofia, Ptolomeu será, até o Renascimento, a autoridade ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 30 inconteste em matéria do conhecimento da Terra e do sistema Mundo. E, desse modo, a Idade Média é, para a Geografia, um período de estagnação e mesmo de retrocesso do conhecimento produzido por essa ciência. A queda do Império Romano e a difusão do Cristianismo dão início a esse novo momento da história da humanidade, instalando um processo de fragmentação na produção do conhecimento científico e geográfico. As causas para essa fragmentação podem ser encontradas no contexto social, econômico e religioso daquela época. As invasões bárbaras vão provocar uma situação de guerra generalizada em boa parte do espaço europeu ocupado pelo Império Romano. Tal situação irá provocar na Europa consequências importantes que levaram ao isolacionismo espacial das sociedades e à instauração do sistema feudal, conforme você pode perceber na passagem a seguir. A Europa que daí surge está dividida em uma série de pequenas áreas politicamente diferenciadas, deixando de existir uma política uniforme sobre todo o território. Veja que a desarticulação dos sistemas de comunicação ligada ao fato de a Europa se encontrar relativamente despovoada dificultava o deslocamento de pessoas e a troca de ideias e de bens entre suas diferentes áreas. O sistema que se constitui é essencialmente isolacionista e tenta resolver seus problemas a partir da auto – subsistência do próprio feudo, prejudicando a mobilidade de pessoas, as trocas e a ampliação do horizonte geográfico que se verificou na Antiguidade. A influência da Igreja Nesse período, a Igreja Católica representa o maior poder europeu associada às diversas aristocracias, uma vez que se constitui na única instituição com influência sobre todos os feudos. Dessa maneira, as respostas para as questões da vida cotidiana, individual, social e políticas passaram a ser dadas a partir de interpretações bíblicas. É claro que o homem continua se perguntando sobre as questões geográficas. Entretanto, indagações sobre “como” e O fervor intelectual que havia favorecido a reflexão sobre a forma e a configuração da Terra desapareceu. O Estoicismo deixoude apoiar-se na hipótese geocêntrica e na imagem de um mundo harmonioso que daí emanava. A deslocação progressiva da administração tornou inúteis os levantamentos de informações tão procuradas na época de Augusto. As formas de construção social que triunfaram na Idade Média assentam em relações pessoais: é através de notáveis locais que o poder se exerce à distância; como tal, não é necessário formalizar o saber geográfico nesta sociedade: o conhecimento das pessoas é sufi ciente. (CLAVAL, 1996, p. 17-8). ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 31 “onde” continuam a ser feitas, só que agora as respostas são buscadas nas ordens religiosas e não nas cosmologias, como era mais comum anteriormente. A Bíblia era um instrumento que continha referências cosmológicas e geográficas, as quais davam respostas a tais perguntas. Veja que, no fundo, é a Igreja e não a ciência que busca respostas para indagações da realidade sócio espacial. Vale destacar que nesse período ocorre certo imobilismo populacional e uma diminuição dos eventos das viagens e, com isso, um maior desconhecimento do mundo real. Esses fatores aliados ao poder da Igreja provocam a diminuição da busca de respostas nas ciências. “Era natural que em um período de lutas constantes houvesse grande dificuldade de comunicação e uma queda no ritmo do comércio e nas preocupações filosóficas e, consequentemente, um retrocesso do conhecimento na Europa Ocidental”. (ANDRADE, 2006, p. 46). Depois de Ptolomeu houve um declínio evidente na exatidão dos mapas do mundo, declínio que perdurou até ao século XIV. Portanto, durante a Idade Média, período que se estendeu da queda do Império Romano (476 d.C.) a tomada de Constantinopla (1453 d.C.), a Cartografia experimentou uma fase de estagnação, onde todas as conquistas científicas realizadas anteriormente foram substituídas por uma representação simbólica, de caráter religioso. Isodoro (570-636 d.C.), bispo de Sevilha, criou o mapa etimologias, também conhecido como mapa T-0 (Figura 5). Este mapa esquemático tinha o seguinte significado: o "T" representava os três cursos d'água que dividiam o ecúmero, o Mediterrâneo, que separa a Europa da África; o Nilo, separando a África da Ásia; e o Don, entre a Ásia e a Europa. O ecúmero teria sido dividido por Noé entre seus três filhos após o Dilúvio. Além disso, o "T" também simbolizava a cruz e na sua junção estaria localizada Jerusalém, centro do mundo. Esses mapas, em sua maioria, eram circulares e emoldurados por um grande oceano. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 32 Figura 10- Mapa T em O, típico da era medieval Neste mapa a Ásia ocupava sempre a metade superior do “O”, com a Europa e a África ocupando, cada uma, a metade da parte inferior. O mediterrânico uma posição meridiano entre os dois continentes. Jerusalém estava no centro do círculo, segundo o texto bíblico «esta Jerusalém; no meio das nações eu a coloquei e suas terras ao redor dela». O paraíso aparecia localizado a leste na parte superior do mapa. Nestes mapas foram incluídos elementos teológicos, perdeu-se a noção de localização rigorosa dos lugares e não existia sistemas de projeção. Considerava-se a terra de forma plana representada circularmente. Nem tudo foi sombra na Idade Média Se por um lado o conhecimento declinava no mundo ocidental “em outras áreas, porém, a formação de Estados fortes e a intensificação das viagens e do comércio permitiram que as tradições culturais gregas e latinas se integrassem com a de povos do Oriente e houvesse maior difusão cultural” (ANDRADE, 2006, p.46). Aqui um fator merece destaque: a expansão Árabe-Muçulmana. A expansão Árabe-Muçulmana A civilização Árabe-Muçulmana emerge depois da queda de Roma e se baseia na nova e vigorosa religião do Islã. Surgida no século VII, seu fundador foi Maomé (570-632), um próspero mercador da cidade de Meca. Maomé acreditava ter visto o anjo Gabriel que lhe ordenou “recitar em nome do Senhor”. Tomado por essa visão, Maomé se considera o escolhido e se transforma em profeta. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 33 Nesse período, a maioria do povo árabe acreditava em deuses tribais, entretanto, nos grandes centros, a maioria da população já havia tomado conhecimento do Judaísmo e do Cristianismo, o que facilitou a aceitação de um Deus único anunciado por Maomé. Os padrões islâmicos de moralidade e as normas que regulam a vida cotidiana são fixados pelo Alcorão, que os muçulmanos acreditam conter a palavra de Alá, revelada a Maomé. Para eles, o Islã é o aperfeiçoamento do Judaísmo e do Cristianismo e reconhecem Jesus como um grande profeta, mas não divino. Maomé unifica as tribos árabes, envolvidas em constantes disputas, através da difusão da fé islâmica. Entre os séculos VIII e IX, a civilização muçulmana conhece o seu apogeu. Enquanto o conhecimento estava em baixa na Europa ocidental, os muçulmanos desenvolviam grandes conhecimentos embasados nas realizações dos gregos antigos através da tradução de obras gregas para o árabe. Com as suas conquistas, o império árabe estende-se desde a Espanha até a Índia e foi unificado, principalmente, pela fé. Por volta do século XI, começam a perder seu domínio. Os árabes encontravam-se assim extraordinariamente bem colocados para realizarem a exploração do domínio da Antiguidade clássica. O interesse pelas viagens e pelo conhecimento de outros lugares era grande. As peregrinações a Meca, exigência do Corão, significavam também grandes distâncias a percorrer. Assistiu-se assim a um período de desenvolvimento do conhecimento de muitos lugares. Os árabes procuravam também estabelecer relações com outros povos distantes. No século XII, Edrisi enriqueceu os seus conhecimentos geográficos com longas viagens e, ao serviço do rei da Sicília, elaborou e 1154 um mapa-múndi, que é considerado a obra mais importante da cartografia árabe. No século XIV, Ibn Batutah percorreu o Egipto, a Arábia, a Palestina, a Rússia, o Iraque, o Irão, o Afeganistão, a Índia e a China. Ultrapassou o Equador, demonstrando que a zona tórrida era habitada. O relato das suas viagens, rico de observações e de informações pessoais, é, sobretudo, uma descrição da sociedade muçulmana da 1ª metade do século XIV. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 34 Figura 11- Itinerários e expansão árabe na idade media Os árabes mantiveram, deste modo, as tradições da geografia descritiva. Foram também eles que traduziram no século IX a geografia de Ptolomeu, com o nome de Almagesto. Desenvolveram a astronomia, a matemática, a geometria. Aperfeiçoaram o astrolábio e a bússola. E enquanto a cartografia ocidental ia pouco além de uma ilustração decorativa de textos teológicos, o mundo muçulmano recolheu e desenvolveu a antiguidade clássica. As suas cartas são no entanto esquemáticas: não há nem projetado, nem coordenadas, e a configuração real das várias regiões é inteiramente ignorada. A latitude e a longitude foram utilizadas pelos astrónomos nas suas observações, mas geógrafos, ao elaborarem os mapas, não se serviam desses dados. Existia no mundo árabe uma separação entre os geógrafos e astrónomos, que não aconteceu na antiguidade. Figura 12-Cartogramas usados pelos árabes na idade média ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 35 Sumário Na aula 1 (O saber geográfico), você observou a diferençaexistente entre o conhecimento geral e o geográfico. Agora, você terá visto como esses conhecimentos e, em particular, o geográfico, recrudesceu no início da Idade Média. A partir desse período, a influência do Cristianismo passa a ocorrer, também, no cerne do conhecimento e as respostas para as indagações do homem passam a ser pautadas nos conhecimentos da Bíblia e no desenvolvimento do conhecimento humano, como o incremento de tecnologias que viabilizassem os empreendimentos da Igreja Católica – as cruzadas, por exemplo. Viu ainda que a influência dos árabes é grande nesse período e que ela foi fundamental para o desenvolvimento geográfico dessa época. Autoavaliação 1. A Europa, da Idade Média, é uma sociedade relativamente estável e fechada. Mas, esse período inicia grande processo de abertura e expansão comercial e marítima. 2. Qual das alternativas abaixo aponta características da religião na Idade Média? A - Várias igrejas cristãs e protestantes atuavam na Europa Medieval. B - A Igreja Católica dominava na Europa Medieval, controlando a produção cultural e tendo grande influência sobre a vida espiritual das pessoas. C - As pessoas não davam importância à religião na Idade Média, sendo que grande parte da população era composta por ateus. D - Embora monopolizasse a vida religiosa na Idade Média, a Igreja Católica era muito aberta aos avanços científicos e manifestações culturais diversas. Guião de Correcção 1-V; 2-B Referencias Bibliograficas ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia: ciência da sociedade. Recife: Editora Universitária/UFPE, 2006. BAILLY, A.; FERRAS, R. Élements d’éspistemoligie de la géographie. Paris: Armand Colin, 1997. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 36 CLAVAL, Paul. Histoire de la géopgraphie. Paris: PUF, 1996. FERREIRA, Conceição Coelho; SIMÕES, Natércia Neves. A evolução do pensamento geográfico. Lisboa: Gradiva, 1990. (Panfl etos Gradiva, 5). MARCO Pólo. Direção de Giuliano Montaldo. São Paulo: Versátil, 1982. AS MONTANHAS da lua. Direção de Bob Rafelson. [S. l.]: Tel Vídeo/20.20 Vision, 1990. O NOME da rosa. Direção de Jean-Jacques Annaud. São Paulo: Warner Bros, 1986. UNIDADE Temática 2.3. A Geografia na era dos Descobrimentos Introdução Nesta aula, veremos as mudanças ocorridas no período de transição entre a Idade Média e os Tempos Modernos, destacando os acontecimentos que deram origem à chamada Renascença e ao Iluminismo e a forma como essas mudanças influenciaram e demandaram uma nova ordem espacial. deseríodo. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Compreender a importância da Renascença e do Iluminismo para os tempos modernos. Mostrar a relação entre mudanças sociais e estruturas espaciais ocorridas na transição do Feudalismo para o Capitalismo. Relacionar mudanças ocorridas na estrutura social com a estruturação espacial. O Renascimento O Renascimento3 foi um dos mais importantes momentos de inflexão (mudança de direção) da história do ocidente e significa uma rotura 3 Segundo o dicionário Michaelis, o Renascimento pode ser definido como o movimento literário, científico e artístico surgido na Itália, no século XV, e difundindo-se pelos outros países da Europa, no século XVI; sua característica principal foi a imitação dos modelos da civilização grega e latina. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 37 entre o mundo medieval, caracterizado como uma sociedade agrária, estamental, teocrática e fundiária, e o mundo moderno, caracterizado pela urbanização, pelo modo burguês de pensar e, principalmente, por se caracterizar como uma sociedade de trocas. O Renascimento vai do século XV ao XVII. Neste momento ocorrem significativas mudanças. Na Europa, estas mudanças estão na origem do que viria a ser o mundo contemporâneo. Como vimos na aula anterior, a Europa, da Idade Média, é uma sociedade relativamente estável e fechada. Mas, esse período inicia grande processo de abertura e expansão comercial e marítima. A identidade das pessoas, de forte vinculação com o clã (tribo constituída de varias famílias subordinadas a um chefe hereditário) com a propriedade fundiária, passa a ter como referência o nacionalismo e o cultivo da própria individualidade. O homem vai tornando-se, aos poucos, o centro das preocupações, possibilitando paulatinamente a instalação de mentalidade laica (o que se opõe à eclesiástica), a qual vai se desligando do sagrado e das questões transcendentais tão características da Idade Média. Essas mudanças afetaram todas as esferas sociais: Na esfera econômica, o comércio e a manufatura tiveram grande expansão e o capitalismo substitui amplamente as formas medievais de organização econômica. Na esfera política, o governo central torna-se mais forte e viabiliza a consolidação do Estado, nova forma de governar. Na esfera religiosa, veremos a ascensão do protestantismo. Na esfera social, surge o que hoje chamamos de classe média, que assume um papel importante no campo da política e da cultura. Na esfera cultural, o clero perde o monopólio do ensino e a teologia cede lugar à ciência na explicação do mundo. A sociedade renascentista é uma sociedade fascinada pela vida da cidade, pelo comércio e pelos prazeres terrenos. A ideia de viver bem neste mundo passa a rivalizar com a promessa do paraíso. Ao se afastarem da orientação religiosa predominante na Idade Média, a sociedade que daí emerge vai discutir a condição humana na sua relação com o mundo, abrindo, assim, novas possibilidades de reflexão sobre questões políticas e morais. ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico 38 Note que nesse processo de transição do medieval para a modernidade o mundo vai tornando-se cada vez mais laico e independente da tutela da religião e o homem vai sendo levado a pensar e analisar a realidade que o cerca em toda a sua objetividade e não como resultado da vontade divina. Perceba que neste momento aparecem novas instituições políticas e sociais – nações, estados, novas legislações, novas classes sociais, exércitos etc. – o que implica também numa nova maneira de pensar a vida social, a história e a geografia. As cidades ganham vida, atraindo pessoas de diferentes lugares dispostas a conquistar um espaço no mundo, a competir e a enriquecer. A cidade vai transformar-se também no lócus de sustentação do desenvolvimento do capitalismo, inaugurando também uma nova divisão social e territorial do trabalho (trataremos melhor desse assunto na aula seguinte, na qual veremos as consequências espaciais de toda essa transformação). O Iluminismo Mais que um movimento, o Iluminismo foi um modo de pensar. Falando de modo geral, foi uma consequência da “revolução científica” do final do século XVII, que havia transformado a concepção que a maior parte das pessoas instruídas tinha a respeito do mundo habitado. Como vimos a pouco, o Renascimento inicia o movimento de transição da sociedade medieval para o capitalismo moderno. Sistema econômico voltado para a produção concentrada de bens, para a troca, para a expansão comercial, para a circulação crescente de mercadorias e para o adensamento populacional. Perceba que é um sistema que demanda constantemente ajustes e ordenamento espacial. Essa sociedade que emerge é individualista e financista. Voltada para expansão comercial e busca do lucro, ela engendra novos valores e atitudes que passam a reger o comportamento social. Veja que
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