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História do Brasil 
Colônia
História do Brasil 
Colônia
Organizado por Universidade Luterana do Brasil
Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Canoas, RS
2015
Maria Angélica Zubaran
Juliane Maria Puhl Gomes
Arilson dos Santos Gomes
Conselho Editorial EAD
Andréa de Azevedo Eick
Astomiro Romais,
Claudiane Ramos Furtado
Dóris Cristina Gedrat
Kauana Rodrigues Amaral
Luiz Carlos Specht Filho
Mara Lúcia Salazar Machado
Maria Cleidia Klein Oliveira
Thomas Heimann
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. 
Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores 
a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da 
ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei 
nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
ISBN: 978-85-5639-206-0
Dados técnicos do livro
Diagramação: Jonatan Souza
Revisão: Marcela Machado
Este livro apresenta a História do Brasil Colônia tendo como recorte o período que se estende da expansão comercial portuguesa (século XV), 
da conquista e da colonização do Brasil, até o processo de independência 
no início do século XIX.
Os dez capítulos deste livro apresentam um conjunto de informações 
que permite entendermos algumas das questões que elaboram a identi-
dade histórica do nosso país. No primeiro capítulo será apresentado o 
contexto histórico que levou à expansão marítima portuguesa, viabilizando 
a chegada dos portugueses ao Brasil em 1500. No entanto, estas novas 
terras que estavam fora do conhecimento europeu não estavam vazias, 
desta forma no capítulo dois se coloca a discussão sobre a ocupação do 
território anterior a presença portuguesa no Brasil. Será apresentada a His-
tória Pré-Colonial que se torna enriquecida através de estudos de casos 
regionais. Os regionalismos, superdimensionados pela extensão das novas 
terras, canaliza a abordagem sobre o contato entre povos e culturas com 
diferenças significantes, produzindo como resultado uma diversidade ímpar 
em termos de conhecimento histórico.
No terceiro capítulo será apresentado o processo de conquista, colo-
nização e estabelecimento das estruturas coloniais portuguesas, que inseri-
ram o Brasil no cenário da História Geral, conhecida pelas suas caracterís-
ticas eurocêntricas. A empreitada colonial portuguesa no Novo Mundo não 
foi um esforço solitário, pois contou com a parceria da Igreja Católica, o 
que significava uma sociedade invejável. O quarto capítulo irá abordar as 
religiosidades no Brasil colônia, ou seja, como a diversidade de nossa for-
mação construiu características religiosas que se manifestaram na herança 
de um país plural e complexo religiosamente.
Apresentação
Apresentação v
O quinto e o sexto capítulos abordam o trabalho compulsório e a es-
cravização no Brasil colonial. Será apresentado o processo de implantação 
das estruturas produtivas, os problemas com a mão de obra local (indí-
genas) e a necessidade de trazer africanos escravizados para dar suporte 
à base econômica e social brasileira. O conhecimento habitual sobre o 
período colonial coloca a organização das formas de trabalho compulsório 
como uma ação de imposição dos senhores e de aceitação calada dos 
escravizados, porém tal escravização não ocorreu sem resistência, tanto 
por parte dos índios quanto dos negros, o que deixou marcas históricas 
profundas em nossa História.
No capítulo sete, o centro da análise será a organização do sistema 
e o cotidiano da vida colonial, no aspecto da constituição dos fundamen-
tos que alicerçam a sociedade brasileira. No processo de formação inicial 
deste senso do ser vinculado a um Estado ou a um tipo de administração, 
serão abordadas as invasões estrangeiras nas terras “portuguesas”, no sen-
tido da construção de alianças e negociações mediadas pelo quadro de 
diversidade da colônia. O oitavo capítulo discute sobre o achamento do 
ouro nas Minas Gerais, sobre a expansão das fronteiras coloniais, assim 
como a reestruturação econômica e social que a movimentação em torno 
da mineração pode produzir na formação de um novo contexto político, 
social e econômico.
Os capítulos 9 e 10 abordam a influência das ideias iluministas no 
Brasil e as articulações políticas com o intuito de atacar a manutenção 
do sistema colonial no Brasil, o conjunto de ações contestatórias que se 
espalhou no país neste período foi denominado de revoltas coloniais. O 
ambiente político que se implantou no país, questionando os princípios da 
organização colonial, levou ao surgimento de novas possibilidades para os 
rumos da presença impositiva dos portugueses no Brasil; somado a isso, 
um quadro de perda de soberania em território português provocado pela 
expansão napoleônica e a hegemonia inglesa na Europa fez com que a 
vinda da família real ao Brasil passasse a ser uma realidade em 1808. 
O contexto de presença da casa real portuguesa no Brasil precipitou a 
reestruturação dos poderes, a urbanização, o crescimento de atividades 
vi Apresentação
econômicas alternativas à economia de exportação. Tais características, 
em conjunto, serão fundamentais para o entendimento da crise do sistema 
colonial e consequentemente do processo de independência do Brasil.
Esperamos que ao findar a leitura deste livro, construído por várias 
mãos, você seja capaz de reconhecer a importância da História do Brasil 
Colonial para entendermos, um pouco mais, quem somos nós como país 
e como povo diverso. Também, incrementar o volume de informações que 
possa atuar na autonomia do conhecimento que todo professor de História 
deve ter sobre o conjunto de dados que perfaz as características do que 
chamamos de conteúdo a ser trabalhado no exercício da docência. Estudar 
sobre a História do Brasil Colonial é um começo para elaborarmos uma 
ideia sobre a análise histórica do nosso país. Então, seja bem vindo ao 
começo da História do Brasil!
Seja bem-vindo ao início da História de nosso país!
 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta” 
do Brasil ...............................................................................1
 2 Os Indígenas na Colônia ....................................................20
 3 A Colonização da América Portuguesa ................................47
 4 Religiosidades na Colônia ...................................................66
 5 O Trabalho na Colônia: Escravização de Índios e Negros ....84
 6 Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas .....................108
 7 Engenhos, Casa-Grande e Senzala, União Ibérica, 
Invasões Holandesas e Restauração Pernambucana ..........134
 8 O Ouro e as Minas Gerais ................................................152
 9 As Revoltas Coloniais ........................................................173
 10 A Crise do Sistema Colonial: Quadro Internacional 
e Nacional (Inconfidência Mineira e Inconfidência Baiana) ..197
Sumário
A Expansão Marítima 
Portuguesa e a 
“Descoberta” do Brasil1
A Expansão Marítima 
Portuguesa e a 
“Descoberta”...
1 Doutora em História, professora adjunta do Curso de História e do Mestrado em 
Educação da Universidade Luterana do Brasil, membro do NEABI/ULBRA. 
Maria Angélica Zubaran1
Capítulo 1
2 História do Brasil Colônia
Introdução
O “descobrimento” ou “achamento” das terras que seriam cha-
madas Brasil em princípios do século XV se insere no contexto 
histórico das mudanças ocorridas na Europa Ocidental durante 
o final da idade média e início da idade moderna e se constitui 
em uma etapa da Expansão Marítima de Portugal. Neste capí-
tulo, estudaremos a expansão marítima portuguesa no Ocenao 
Atlântico, os fatores que determinaram o pioneirismo português 
nas grandes navegações, a expedição de Pedro Álvares Cabral 
em 1500 e os primeiros registros sobrea nova terra.
1 Antecedentes
Até o final da Idade Média, o mundo conhecido se limitava 
a três continentes: a Europa, a Ásia e a África e dois mares 
navegáveis, o Índico e o Mediterrâneo. O comércio entre a 
Europa e a Ásia era realizado através do Mar Mediterrâneo e 
da cidade de Constantinopla e era monopólio de comercian-
tes italianos (venezianos e genoveses) e de árabes.
Entre as cidades da Europa mediterrânea que participaram 
desse comércio destacam-se as cidade italianas de Gênova e 
Veneza, que mantinham comércio com as cidades de Ceuta e 
Tânger, no norte da África, onde se verificava a afluência de 
ouro, proveniente da região subsaariana. O ouro era trazido 
até as cidades ao norte da África pelas caravanas de árabes e 
servia de elemento de troca entre árabes e cristãos. Destacam-
-se também no comércio mediterrâneo os aragoneses, senho-
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 3
res de uma poderosa rede de comércio ligando Barcelona, Va-
lência e Palma de Mallorca com a Itália, a Sicilia, a Sardenha 
e o Marrocos.
Por fim, Portugal se lançou ao mar no início do século XV, 
cem anos antes de Colombo, a serviço da Espanha, ter che-
gado à América. No entanto, porque um país pequeno como 
Portugal foi o pioneiro na expansão marítima?
2 O pioneirismo português
Fatores geográficos e históricos explicam o pioneirismo de Por-
tugal na expansão ultramarina:
 Â A privilegiada posição geográfica, próximo ao Atlântico, 
às ilhas atlânticas e à costa da África. Além disso, os 
portugueses já tinham experiência no comércio mediter-
râneo acumulado ao longo dos séculos XIII e XIV, embo-
ra não se comparassem aos venezianos e genoveses, a 
quem iriam ultrapassar.
 Â O fato de Portugal ter sido o pioneiro da unificação na-
cional com a Revolução de Avis. Durante todo o século 
XV, Portugal foi um reino unificado, contrastando com a 
França, a Inglaterra, a Espanha e a Itália, envolvidas em 
guerras dinásticas.
O último rei da dinastia de Borgonha, D. Fernando I, mor-
reu sem deixar herdeiro masculino legítimo (1383) para o rei-
no de Portugal. Sua filha D. Beatriz, casada com D. João I, 
4 História do Brasil Colônia
rei de Castela, ameaçou levar Portugal a uma união dinástica 
com o reino de Castela. O problema da sucessão dinástica 
confundiu-se com uma guerra de independência, quando o 
rei de Castela, apoiado pela nobreza lusa, entrou em Portugal 
para assumir a regência do trono.
Dom João, conhecido como o Mestre de Avis, meio-irmão 
do falecido rei Fernando I, apoiado pela burguesia lusa dis-
putou a autonomia de Portugal face à Castela. A vitória de D. 
João I inaugurou a Dinastia de Avis (1385-1580), reforçou o 
poder monárquico, e deu início ao projeto nacional de expan-
são marítima e comercial portuguesa. O objetivo era assegu-
rar o fornecimento permanente de mercadorias do Oriente, e 
ouro para a península Ibérica.
O ouro era utilizado como moeda, como meio de paga-
mento e empregado pelos aristocratas na decoração de tem-
plos, palácios e nas roupas. As especiarias eram produtos ra-
ros e caros e incluíam condimentos, remédios e perfumaria. 
Entre esses condimentos destacam-se: a noz-moscada, o gen-
gibre, a canela, o cravo e, sobretudo, a pimenta. O alto valor 
das especiarias se deve as limitadas técnicas de conservação 
existentes na Europa no século XV.
Outro fator que contribuiu para o pioneirismo de Portugal 
foi o incentivo que o Infante D. Henrique (1394-1460), apeli-
dado de “o navegador”, proporcionou à arte de navegar. Os 
portugueses aprimoraram a bússola e o astrolábio e inven-
taram a caravela, uma embarcação pequena, que permitia 
aproximar-se bastante da terra firme sem o perigo de encalhar. 
Dom Henrique reuniu na cidade de Sagres vários navegantes, 
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 5
cartógrafos, marinheiros e cosmógrafos dispostos a desenvol-
ver conhecimentos marítimos para contornar o continente afri-
cano e chegar às Índias.
3 A expansão marítima portuguesa na 
costa da África:
Os portugueses se lançaram à conquista do Mar Oceano no 
alvorecer do século XV na busca de uma nova rota comercial 
que ligasse diretamente a burguesia mercantil portuguesa ao 
Oriente, de um novo caminho marítimo para às Índias, que 
evitasse o monopólio das cidades italianas.
Conforme afirmam Mary Del Priore e Renato Pinto Venâncio 
(2001), as caravelas, apesar de pequenas, eram tidas como 
os melhores veleiros para se navegar em alto-mar no século 
XV. No entanto, o cotidiano das viagens ultramarinas não era 
nada bom, a precariedade da higiene a bordo e o espaço 
restrito para os passageiros faziam proliferar toda sorte de pa-
rasitas como piolhos, pulgas e percevejos. Além de escassos, 
os alimentos embarcados eram mal conservados e a fome 
crônica colaborava para a morte de uma parcela importante 
dos marinheiros, composta de marujos acostumados à vida 
portuária, mas também de “vadios e desobrigados” recrutados 
pelas ruas das cidades.
Mapa das Navegações Portuguesa e Espanhola (século XV)
6 História do Brasil Colônia
Fonte: www.geocites.ws
O ponto de partida da expansão marítima portuguesa na 
primeira metade do século XV foi a cidade de Ceuta (1415), 
situada no norte da África, que pertenciam aos mouros, ponto 
de chegada das caravanas que atravessavam o deserto do Sa-
ara transportando ouro e marfim. No entanto, a conquista de 
Ceuta não representou a construção de uma rede comercial 
na África, pois os mouros desviaram suas rotas da cidade. Por-
tugal então se voltou para a costa ocidental da África e para 
as Ilhas Atlânticas, conquistando Madeira, Açores, Cabo Verde 
e São Tomé. Os portugueses foram estabelecendo várias feito-
rias na costa da África, entre elas a feitoria de Arguim (1449) e 
a feitoria de do Castelo de São Jorge da Mina (1482).
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 7
O reconhecimento da costa ocidental da África foi lento. 
Passaram-se 53 anos da ultrapassagem do Cabo Bojador, 
por Gil Eanes (1434), até a temida passagem do Cabo das 
Tormentas, por Bartolomeu Dias (1487), depois rebatizado de 
Cabo da Boa Esperança.
 Â Em 1453: os turcos tomaram Constantinopla, impe-
dindo o comércio direto dos Europeus com o Oriente. 
Tornava-se necessário encontrar um novo caminho ma-
rítimo para o Oriente.
 Â Em 1487: Bartolomeu Dias contornou o Cabo da Boa 
Esperança, último limite ao sul da África, onde as águas 
do Atlântico e do Índico se encontram. Estava aberto o 
caminho marítimo entre a Europa e Ásia.
 Â Em 1492: o genovês Cristovão Colombo, a serviço da 
Espanha, atravessou o Atlântico. Sua missão era fazer a 
volta ao mundo pelo oeste e chegar à Ásia, já que a rota 
que contornava a África pelo sul era dominada pelos 
portugueses. Em vez disso Colombo chegou às ilhas do 
Caribe, mas acreditou ter chegado ao leste asiático.
Pressionado pela Espanha, o Papa Alexandre VI, que era 
Espanhol, emitiu a Bula Inter Coetera, em 1493, dividindo o 
mundo ultramarino entre Portugal e Espanha. Por meio dessa 
bula traçava-se uma linha imaginária 100 léguas a oeste da 
ilha de Cabo Verde: as terras a leste dessa linha seriam portu-
guesas; as terras a oeste seriam espanholas. Portugal protes-
tou contra o privilégio concedido à Espanha e ameaçou entrar 
em guerra contra a Espanha.
8 História do Brasil Colônia
Em 1494, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Tor-
desilhas, um dos mais famosos tratados da História, amplian-
do para 370 léguas os limites estabelecidos, a partir de um 
meridiano imaginário dividindo o Atlântico em duas zonas: as 
ilhas e terras firmes do hemisfério oriental caberiam a Portugal 
e aquelas do hemisfério ocidental caberiam à Espanha.
MAPA MUNDI COM O TRAÇADO DO TRATADO DE TORDE-
SILHAS
Fonte: historiabatecabeça.wordpress.comO rei francês, Francisco I, não aceitou o Tratado de Tor-
desilhas. Ele mostrou o seu descontentamento com a seguin-
te frase: “Gostaria que espanhóis e portugueses mostrassem 
onde está o testamento de Adão, que dividiu o mundo entre 
Portugal e Espanha”.
Em 1498, Vasco da Gama chegava à cidade de Calicute, 
à sonhada Índia das especiarias. Goa foi o centro mais impor-
tante de presença portuguesa na Índia.
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 9
Em março de 1500, Dom Manuel enviou uma nova frota 
para o Oriente, composta de 13 navios (10 naus e 3 cara-
velas), que saíram do rio Tejo, em Lisboa, em 9 de março de 
1500, com o objetivo de assegurar para a Coroa portuguesa 
o domínio sobre a rota marítima para as Índias, descoberta um 
ano antes por Vasco da Gama.
A frota comandada por Cabral era composta por 13 em-
barcações e o número de tripulantes variava entre mil e du-
zentos e mil e quinhentos. Pedro Álvares Cabral era um fidalgo 
de pouco mais de 30 anos, pertencente a nobreza, mais um 
homem de armas do que um navegador. Apesar de festejado 
na corte manuelina, jamais recebeu outro comando e morreu 
no ostracismo.
4 A expedição de Cabral: descobrimento 
ou “achamento”?
Em 21 de abril de 1500 a frota de Cabral após passar Cabo 
Verde tomou rumo ao oeste, afastando-se da costa africana 
até avistar o que seriam os primeiros sinais de terra. Em 22 de 
abril os marinheiros notaram a presença de aves e avistaram 
primeiramente, um monte alto e logo em seguida, a terra pla-
na com grandes arvoredos. Ao monte alto deram o nome de 
Monte Pascoal, e a terra, Terra de Vera Cruz. Em 13 de setem-
bro de 1500 a frota chegou a Calicute. O objetivo tinha sido 
alcançado: haviam chegado à Índia e tinham “descoberto” 
uma nova terra, o Brasil.
10 História do Brasil Colônia
Portanto, no ano de 1500 a armada de Pedro Álvares Ca-
bral avistou o litoral da terra que seria chamada Brasil. Desco-
brimento ou achamento?
Essa dúvida intrigou os historiadores por muito tempo: teria 
sido o Brasil encontrado pelos portugueses por acaso ou inten-
cionalmente? Em primeiro lugar, a terra tocada pela esquadra 
de Cabral não estava deserta, abandonada ou sem dono: lá 
viviam entre três a cinco milhões de índios que já ocupavam a 
terra há mais ou menos 2500 anos. Em segundo lugar, os por-
tugueses já presumiam a existência das terras alcançadas em 
1500. Por último, outros europeus relataram terem chegado a 
essas terras antes de Cabral. Portanto, tudo leva a crer que o 
Brasil foi antes achado do que descoberto.
A historiografia luso-brasileira deve a revisão da temática 
do descobrimento do Brasil a Joaquim Barradas de Carvalho, 
que publicou importante obra sobre o navegador e diplomata 
Duarte Pacheco Pereira, autor do livro Esmeralda de Situ Or-
bis. Segundo esse autor, Duarte Pacheco Pereira, já no ano de 
1498, teria sido o verdadeiro “descobridor” das novas terras 
do Novo Mundo ao sul do Equador, mas é impossível saber 
com precisão.
O reinado de Dom Manuel (1498-1521), marcou o apo-
geu das navegações portuguesas, com o controle das rotas do 
ouro e da malegueta africana, das especiarias indianas e do 
pau tintorial do Brasil, que formaram um vasto império ultra-
marino lusitano.
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 11
4.1 Os concorrentes de Cabral
O maior concorrente de Cabral ao título de descobridor foi o 
também português e navegador Duarte Pacheco Pereira. Em 
1498 o rei D. Manuel encarregou esse marinheiro de uma mis-
são ultraconfidencial: descobrir se as terras encontradas por 
Colombo do outro lado do Atlântico faziam mesmo parte da 
Ásia. Duarte Pacheco Pereira redigiu entre 1505-1508 o Esme-
raldo de Situ Orbis onde relatou ter avistado uma multidão de 
“gente parda, mas quase branca”. A descrição bate com os in-
dígenas da tribo dos aruaques que têm a pele mais clara, ou-
tro detalhe, os aruaques povoavam o litoral do maranhão, por 
onde passava o traço invisível de Tordesilhas. Assim, mesmo 
antes de 1500, já se tem na corte portuguesa a comprovação 
da existência de terras no hemisfério ocidental.
Outro aventureiro famoso que pode ter lançado âncoras 
em nossas praias antes de Cabral foi o geógrafo italiano, 
florentino, Américo Vespúcio, que entrou para a história ao 
desmentir as teorias de seu conterrâneo Colombo. Em 1504, 
Vespúcio publicou um texto chamado Novus Mundus, garan-
tindo que as terras no oeste do Atlântico não eram parte da 
Ásia, mas um continente completamente desconhecido - um 
novo mundo. Rival de Colombo, Américo Vespúcio, pode ter 
desembarcado no Brasil em 1499, pelo menos é o que dá a 
entender em uma de suas cartas. Em junho de 1499 diz ter 
avistado uma terra cheia de grandíssimos rios a 5 graus de 
longitude sul, ou seja, o litoral do Maranhão.
Outros viajantes, os espanhóis Diego de Lepe e Yánez Pin-
zón, têm evidências mais sólidas. Foram condecorados pelo 
rei da Espanha por terem “descoberto” o Brasil em janeiro de 
12 História do Brasil Colônia
1500, dois meses antes de Cabral. Em abril de 1500 o rei 
português teria simplesmente decidido tomar posse oficial das 
terras que muitos já sabiam existir. Todas essas hipóteses da-
tam a descoberta do Brasil em algum momento do século XV.
No entanto, para o oficial da marinha britânica e historia-
dor diletante Gavin Menzies, a costa do Brasil havia sido ma-
peada 80 anos antes, em 1421, pelo navegador chinês Zheng 
He, quando a China dominava os mares, teoria defendida no 
livro 1421: O Ano em que a China descobriu o Mundo, não 
muito popular entre historiadores profissionais.
Entretanto, foi a “descoberta” de Cabral que incorporou a 
nova terra ao mundo ocidental. Com Cabral, o mundo soube 
que existia terra na área portuguesa do Tratado de Tordesilhas. 
A notícia do “achamento” da Terra de Santa Cruz, nome dado 
por Cabral à nova posse do rei D. Manuel I, ganhou os prin-
cipais portos europeus. Ao longo do século XVI o nome Brasil 
começou a designar o litoral atlântico da América Portuguesa, 
relacionado à madeira de cor avermelhada, abundante na ter-
ra, chamada Pau-Brasil.
5 Primeiros registros da Nova Terra: a 
carta de Pero Vaz de Caminha e a 
primeira missa no Brasil
A Carta de “achamento” do Brasil foi redigida pelo escrivão 
da frota de Cabral, Pero Vaz de Caminha, dirigida ao rei de 
Portugal, Dom Manuel. Tratava-se de um relato em ordem 
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 13
cronológica sobre os acontecimentos passados na nova terra, 
desde o dia 21 de abril de 1500 até o momento que os por-
tugueses deixaram a terra recém-descoberta rumo às Índias. 
Neste documento, assim Caminha descreveu os indígenas que 
encontrou na chegada:
A feição deles é parda, um tanto avermelhada, com bons 
narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertu-
ra. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar 
suas vergonhas, e nisso tem tanta inocência como em 
mostrar o rosto. Ambos traziam o lábio de baixo furado 
e metido nele seus ossos de verdade (...). Os seus cabe-
los são lisos e andavam tosquiados. De tosquia alta, e 
rapados até por cima da orelha (Carta de Pero Vaz de 
Caminha, 1999, p. 31).
O documento original está depositado no Instituto Arquivo 
Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, Portugal. A Carta de 
Caminha adquiriu o significado de ato fundador do país, de 
certidão de nascimento do Brasil.
O quadro, A Primeira Missa no Brasil, pintado por Victor 
Meirelles, em Paris, em 1859, procura recriar a cena da pri-
meira missa celebrada no Brasil pelo frei franciscano Henri-
que de Coimbra em Porto Seguro, no sul da Bahia, em 26 de 
abril de 1500. Vitor Meirelles usou como referência para a sua 
pintura, a Carta de Pero Vaz de Caminha. A cruz de madeira 
erguida naquela ocasião era um sinal de que a descobertanascia sob o poder da igreja católica.
14 História do Brasil Colônia
A pintura de Vitor Meirelles tornou-se um testemunho visual 
de um dos primeiros atos oficiais da Igreja Católica no Brasil, 
no cumprimento da sua missão no “Novo Mundo”.
Fonte: pt.wikipedia.org
Recapitulando
Neste capítulo estudamos o contexto europeu da “descoberta” 
ou “achamento” do Brasil, a partir da expansão marítima por-
tuguesa no Oceano Atlântico. Analisamos os fatores do pio-
neirismo português nas grandes navegações e as conquistas 
portuguesas ao longo da costa da África até a descoberta de 
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 15
Vasco da Gama de um novo caminho marítimo para as Índias. 
Em seguida estudamos a expedição de Cabral e discutimos as 
controvérsias em torno da “descoberta” do Brasil. Por últimos 
vimos os primeiros registros da nova terra: a Carta de Cami-
nha e o quadro da Primeira Missa no Brasil.
Referências
ABREU, Capistrano de. Capítulos de História Colonial. Sal-
vador: P555 Edições, 2006.
BETHELL, Leslie (org.). História da América Latina. São Pau-
lo: Editora da Universidade de São Paulo; Fundação Ale-
xandre Gusmão, 1998.
DEL Priore, Mary e Renato Pinto Venâncio. O Livro de Ouro 
da História do Brasil. Rio de Janeiro: EDIOURO, 2001.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Uni-
versidade de São Paulo: Fundação do Desenvolvimento da 
Educação, 1995.
LOPEZ, Adriana e Carlos Guilherme Motta. História do Brasil: Uma 
Interpretação. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2008.
LINHARES, Maria Yeda (org.). História Geral do Brasil. Rio de 
Janeiro: Campus, 1990.
MAESTRI, Mário. Uma História do Brasil: Colônia. São Pau-
lo: Contexto, 2002.
16 História do Brasil Colônia
SILVA, Maria Beatriz da. (org.). Brasil: Colonização e Escravi-
dão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
MELLO E SOUZA, Laura de. (org.). História da Vida Privada 
no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. 
Vol. I. São Paulo: Cia das Letras, 1997.
STADEN, Hans. A Verdadeira História Dos Selvagens, Nus 
e Ferozes Devoradores De Homens, Encontrados No 
Novo Mundo, A América. Rio de Janeiro: Dantes Livraria 
Editora, 1999.
TUFANO, Douglas. A Carta de Pero Vaz de Caminha. São 
Paulo: Moderna, 1999.
Atividades
 1. Leia as alternativas a seguir sobre a expedição de Pedro 
Álvares Cabral.
I. A esquadra de Cabral reunia os esforços da Coroa, da 
burguesia mercantil e da igreja.
II. O objetivo da viagem de Cabral era chegar às Índias, 
o que só foi possível depois de um longo caminho rea-
lizado pela costa africana, durante o século XV.
III. A viagem expressou a subordinação da Coroa portu-
guesa à Igreja Católica na época dos descobrimentos.
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 17
IV. Era um dos objetivos da viagem tomar posse de terras 
a oeste, de modo a assegurar o controle do Oceano 
Atlântico.
Indique a alternativa correta:
a) Somente I, II e III
b) Somente I, III e IV
c) Somente I, II e IV
d) Todas as afirmativas estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas acima.
 2. Foram razões importantes do pioneirismo português na ex-
pansão marítima do século XV, exceto:
a) A unificação política e a centralização do Estado Por-
tuguês, em relação aos demais países europeus.
b) A criação da Escola de Sagres, centro de estudos náuticos, 
que disseminou conhecimentos sobre a arte de navegar.
c) A deficiência na agricultura levou os portugueses a 
buscarem sua subsistência na pesca marítima.
d) A posição geográfica estratégica de frente para o 
Oceano Atlântico.
e) Nenhuma das alternativa acima.
 3. Em relação ao Tratado de Tordesilhas é correto afirmar que:
a) O Tratado foi assinado pelo Papa Alexandre VI.
18 História do Brasil Colônia
b) O Brasil já havia sido descoberto quando o Tratado foi 
assinado.
c) O Tratado definiu a divisão do Novo Mundo entre por-
tugueses e franceses.
d) O Tratado foi assinado no século XVI.
e) Nenhuma das alternativas acima.
 4. Sobre o “descobrimento” do Brasil é correto afirmar que:
a) Foi um acontecimento casual, uma vez que os portu-
gueses não sabiam da existência de terras a oeste da 
costa africana.
b) Marca uma etapa da expansão ultramarina portugue-
sa realizada pela Coroa em aliança com a burguesia 
mercantil e a Igreja.
c) Marca o interesse de Portugal em chegar ao Brasil e 
iniciar imediatamente a sua colonização.
d) Foi uma etapa da conquista comercial portuguesa no 
mar Mediterrâneo.
e) Nenhuma das alternativas acima.
 5. Sobre a expansão marítima portuguesa no século XV é cor-
reto afirmar que:
a) Os portugueses se lançaram ao mar no século XV para 
tomar posse das terras descobertas no Brasil.
b) O ponto de partida da expansão marítima portuguesa 
foi a cidade de Ceuta, situada no norte da África.
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 19
c) Os portugueses estabeleceram feitorias ao longo da 
costa africana para colonizar a África.
d) Bartolomeu Dias e Vasco da Gama foram responsá-
veis, respectivamente, pela passagem do Cabo Boja-
dor e pela conquista de um novo caminho marítimo 
para às Índias.
e) Nenhuma das alternativas acima.
Gabarito
1(d); 2 (d); 3 (c); 4 (b); 5 (b);
??????????
Capítulo ?
Os Indígenas na 
Colônia1
1 Mestre em História. Professora da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA.
Juliane Maria Puhl Gomes1
Capítulo 2
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 21
Introdução
Neste capítulo faremos um panorama das culturas indígenas 
antes da chegada dos europeus, bem como os desdobramen-
tos do contato entre estas culturas tão diferentes.
Para início de conversa, lembramos que o termo mais cor-
reto para denominar a história do Brasil antes da chegada dos 
europeus é “Pré-Colonial” e não “Pré-História”, afinal são no 
mínimo 15 mil anos de História que iniciaram com a chegada 
dos primeiros grupos humanos aqui.
Quem de fato povoou as terras que atualmente considera-
mos Brasil foram povos de vár´kas etnias, com culturas mui-
to elaboradas e extremamente bem adaptadas aos diferentes 
ambientes que formam nosso país. Estes grupos foram nome-
ados erroneamente pelos europeus de “índios”, pois Colombo 
acreditava ter chegado à Índia em 1492. Mesmo não sendo 
uma denominação correta, muitos grupos indígenas escolhe-
ram essa nomenclatura por se reconhecerem como e serem 
reconhecidos como índios.
Outros grupos preferem ser chamados de “nativos”. Mas tam-
bém estudamos em Pré-História que não existem grupos humanos 
nativos da América, eles migraram para cá pelo Estreito de Bering 
(teoria mais aceita) ou pela Oceania. Se este termo também não 
é correto, qual a denominação que devemos utilizar já que muitos 
destes grupos já não existem mais e não deixaram vestígios, senão 
de cultura material, para que possamos defini-los?
O termo correto seria: Grupos de CULTURA NATIVA, pois 
as culturas foram criadas, construídas aqui.
22 História do Brasil Colônia
E quantas culturas! Um grande número delas se perdeu 
nestes 514 anos de invasão, conquista e ocupação de seus 
territórios, mas muitas ainda estão vivas e fortes, ganhando 
espaço e tentando lutar por seus direitos.
2.1 O Brasil pré-colonial
O processo de povoamento da América já foi apresentado de 
forma mais aprofundada na disciplina de Pré-História. A teoria 
mais aceita pela comunidade científica é a de que os diferen-
tes grupos humanos que povoaram a América, provavelmente, 
entraram pelo Estreito de Bering.
Imagem de satélite mostrando o Estreito de Bering. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Povoamento_da_Am%C3%A9rica#mediaviewer/File:Beringia_at_Arctica_surface.png
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 23
Nesta ilustração vemos como estava o Estreito de Beringno período do povoamen-
to, quando era formado por terra firme, uma espécie de “ponte” natural entre a 
Ásia e a América, permitindo o deslocamento por terra. Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Povoamento_da_Am%C3%A9rica# mediaviewer/File:Poblamiento_de_
America_-_Teor%C3%ADa_P_Tard%C3%ADo.png
Um aspecto importante que temos que ter em mente ao 
estudarmos o povoamento do Brasil é o de que, como pro-
vam os estudos do pesquisador Walter Neves, estes grupos 
são oriundos de ao menos dois grupos genéticos diferentes, os 
negróides e os mongoloides.
Estamos tão habituados a ver os grupos indígenas (de as-
cendência mongoloide) que nos parece estranho pensar que 
grupos negróides (como os aborígenes australianos) também 
povoaram o Brasil. Aliás, cabe ressaltar que os sepultamentos 
(datados) mais antigos do Brasil foram encontrados na déca-
24 História do Brasil Colônia
da de 70, na escavação da Lapa Vermelha, em Lagoa Santa, 
MG. Um crânio feminino foi reconstituído por Walter Neves e 
recebeu o apelido de “Luzia”, fazendo uma analogia à “Lucy” 
(africana).
Os primeiros ocupantes do Brasil foram denominados, 
pela comunidade científica, como “Paleoíndios”1. Alguns pes-
quisadores afirmam que estes grupos eram caçadores espe-
cializados em megafauna. Assim que a megafauna entrou em 
extinção, estes grupos tiveram que se adaptar aos meios em 
que se encontravam, criando novas ferramentas e utensílios. 
Assim nasceram as Culturas Nativo Americanas!
È impossível, neste trabalho, abranger todas as culturas que 
durante séculos desenvolveram e aprimoraram seu modo de 
viver pelos vários ambientes que compõe o território brasileiro. 
Sendo assim, nossa proposta é aprofundar alguns exemplos, 
apenas no intuito de demonstrar a riqueza de nossa história 
Pré-Colonial.
2.1.1 Grupos pré-ceramistas
Utilizamos o termo Pré-Ceramista para designar os grupos que 
ainda não domesticavam plantas, e que viviam da coleta, caça 
1 Segundo Anna Roosevelt (1999, p.37), podemos definir os paleoíndios como, 
“caçadores especializados em animais de grande porte, altamente adaptados a 
ambientes terrestres abertos, de clima temperado das Américas”. Segundo Pedro 
Ignácio Schmitz (1999, p.56) os locais em que são encontrados vestígios destes 
grupos apontam para sítios de matança e não acampamentos residenciais. Tam-
bém indicam que a população era pouco numerosa, dispersa e nômade.
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 25
e/ou pesca, os chamados caçadores-coletores ou pescadores-
-coletores-caçadores.
A maioria destes grupos era nômade dentro de um terri-
tório mais ou menos definido. Normalmente esta delimitação 
era vinculada aos ambientes naturais aos quais adaptavam 
suas culturas para melhor sobrevivência. 
Antigos caçadores-coletores do sul do Brasil
No período de 12.000 a 8.500 AP (primeira fase do Holoceno) 
houve um aumento gradual da temperatura com baixa precipi-
tação, acarretando na diminuição da vegetação. Neste perío-
do houve a primeira expansão do povoamento do sul do Brasil, 
ao longo do rio Uruguai, que mesmo reduzido no seu caudal, 
atraiu os recursos anteriormente dispersos. “O único ambiente 
ocupado pelo homem ainda parece ser o das estepes secas e 
frias dos terrenos baixos (Fase Uruguai)” (SCHMITZ, 1984, p. 
05). Este ambiente, hoje, corresponderia aos campos sulinos.
Ainda segundo Schmitz (1984), a linha da costa se encon-
trava a 150m abaixo do nível atual e a flora predominante era 
adaptada a climas semidesérticos (frios e secos), devido a pou-
ca umidade. A floresta estava limitada à encosta do planalto 
meridional, para onde os homens tiveram que se deslocar em 
busca de recursos.
Naquele ambiente glacial, os primeiros caçadores encon-
traram uma fauna de grande porte, denominada por alguns 
pesquisadores como: megafauna (SCHMITZ, 1991). Esta fau-
na parece ter entrado em extinção com o término da última 
glaciação, talvez devido ao surgimento das novas condições 
26 História do Brasil Colônia
ambientais do Holoceno. Estes animais foram substituídos por 
outros animais de pequeno e médio porte como as emas, as 
antas, os ratões do banhado e os pequenos cervídeos, que fo-
ram igualmente caçados pelos primeiros grupos pré-históricos 
que aqui se estabeleceram. Nos vales dos rios Uruguai, Ibicuí 
e Quaraí encontram-se os vestígios arqueológicos mais anti-
gos do RS, datados de 12 mil a 10 mil A.P. (KERN, 2009).
Os vestígios mais encontrados são: lâminas de facas, com 
ou sem retoques, rapadores circulares para limpar as peles, 
pontas de flecha ou de lança líticas com pedúnculo e aletas, 
bolas de boleadeiras, quebra-coquinhos, dentre outros.
Ainda segundo Kern (2009), os espaços abertos do Estado 
do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina parecem ter sido 
palmilhados por esses caçadores, que aos poucos ampliaram 
seus raios de ação, aproximando-se do litoral atlântico, da re-
gião lagunar e das áreas alagadiças onde desenvolveram um 
padrão de subsistência baseado na coleta, na caça e na pesca.
Outros grupos humanos, entretanto, procuraram novas 
paisagens para se instalar e sanar os problemas iniciais de 
adaptação a ambientes naturais distintos. Deste modo, grupos 
de caçadores-coletores surgiram em meio às florestas subtro-
picais com araucárias do Planalto Meridional que se expan-
diram pelas alturas do Planalto Sul-brasileiro, pescadores e 
coletores marinhos se instalaram junto ao litoral atlântico, na 
estreita e alongada planície litorânea, onde o mar e as lagoas 
predominam (KERN, 2009).
Arno A. Kern (2009), também afirma que os mais antigos 
grupos de caçadores conhecidos se estabeleceram nas áreas 
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 27
de paisagens cobertas por arbustos e um imenso tapete de 
gramíneas, que genericamente denominadas de “pampas”, 
na Argentina, no Uruguai e no Rio Grande do Sul. Os ves-
tígios arqueológicos de sua cultura material são encontrados 
em sítios do final do Pleistoceno e pós-glaciais.
Estes grupos indígenas, que se tornaram conhecidos a par-
tir do século XVI como os grupos de Charrua e de Minuano 
históricos. Foram esses caçadores-coletores nômades os gru-
pos que mais resistiram ao processo de colonização europeia, 
até os inícios deste século.
Mapa com a localização dos sítios ar-
queológicos mais antigos do sul do Brasil 
(Fonte: SCHMITZ, 2006, p.26).
Mapa Áreas arqueológicas do Sul do Bra-
sil datadas entre 4.000 anos a.C. e 500 
anos d.C.: tradições Umbu, Humaitá e 
sambaquis (Fonte: SCHMITZ, 2006, p.27).
28 História do Brasil Colônia
Podemos observar em suas bolas de boleadeira que não 
ignoravam as técnicas de polimento para o tratamento das 
superfícies, e das de picoteamento para a confecção de sulcos 
destinados à preensão.. O basalto foi preferido para a ela-
boração das bolas de boleadeira, as demais matérias-primas 
foram utilizadas, sobretudo, para o lascamento de lâminas 
cortantes, como foram os casos das facas ou das pontas de 
flechas líticas (SCHMITZ, 1991; KERN, 2009).
Exemplos da cultura material dos grupos de caçadores-coletores mencionados. 
Detalhe C: cópia dos petroglifos do Morro do Sobrado, Montenegro/RS. Fonte: 
RIBEIRO, 1999, p.79.
Há vários outros objetos, como os chifres de veados, que 
devido à incrível resistência de suas pontas, foram utilizados 
como retocadores e utilizados por pressão nas arestas cortan-
tes das lâminas, para se obterem gumes serrilhados muito cor-
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 29
tantes. Muitos dentes de animais foram encontrados com per-
furações para serem utilizados como contas de colar (KERN, 
2009).
Segundo Kern (2009), os grupos pampianos evidenciaram 
na gravura a sua capacidade artística, sendo que os suportes 
sobre os quais aqueles artistas pré-históricos gravaram suas 
obras-primas foram variados, desde paredes de abrigos e 
cavernasda encosta, assim como blocos de pedra isolados. 
Outro tipo é composto por pequenos seixos achatados, de-
nominados de “pedras gravadas”, pelos signos ou petróglifos, 
esculpidos quase sempre em ambas as faces. As datações en-
contradas em alguns sítios arqueológicos onde estas manifes-
tações artísticas ocorreram indicam datas entre aproximada-
mente 5.700 e 700 anos AP (KERN, 2009).
Segundo Schmitz (1995-1996), a ocupação dos sítios co-
nhecidos do nordeste do Uruguai e o sul e sudoeste do Rio 
Grande do Sul se realizaria especialmente na primavera e no 
verão, servindo de acampamentos estacionais de pesca, so-
bretudo. Seu padrão de assentamento define-se como acam-
pamentos transitórios dentro de um território permanente.
A maioria destes acampamentos está relacionada à obten-
ção de recursos alimentares, matéria-prima, bem como festas 
e rituais. Segundo Schmitz (1995-96), algumas sociedades têm 
um acampamento central, a partir do qual saem para estações 
de atividades específicas, mas retornando sempre ao ponto de 
partida. Outras têm diversos acampamentos estacionais, dis-
tribuídos pelo ano, nenhum dos quais, segundo o autor, pode 
ser considerado a sede do grupo.
30 História do Brasil Colônia
As formas de exploração dos recursos do território de do-
mínio, bem como a organização social correspondente, e as 
formas de assentamento dos caçadores-coletores variam bas-
tante. O que caracteriza o assentamento é a pouca estabili-
dade no mesmo local, embora se volte a ele periodicamente 
(SCHMITZ, 1995-96).
Segundo Schmitz (1995-1996), há possibilidade destes 
grupos terem explorado sazonalmente os recursos de áreas 
litorâneas, fato ainda pouco estudado pelos pesquisadores. Já 
para as populações interioranas, principalmente as que viviam 
na Floresta Atlântica, as evidências de exploração sazonal são 
mais evidentes.
Pescadores-coletores-caçadores: os 
sambaquianos
As populações pré-ceramistas residentes o ano todo no litoral, 
popularmente conhecidas como sambaquianas, ainda são ob-
jeto de grande estudo e não existe consenso entre os pesqui-
sadores quanto a um padrão que defina o grupo, tomando-se 
muitas vezes como base, características muito abrangentes. 
Os sambaquis são encontrados do Rio de Janeiro ao sul do 
Rio Grande do Sul, datando de 7000 a 2000 AP. Também há 
sambaquis no norte do Brasil, mas são pouco estudados e não 
serão abordados neste trabalho.
Utilizaremos aqui um conceito de Schmitz (1991, p.18),
Os sambaquis são acúmulos de conchas, ossos de pei-
xes e outros resíduos de atividade humana, resultantes 
da ocupação do litoral marítimo por bandos especiali-
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 31
zados em sua exploração. São os resíduos mais volumo-
sos acumulados por qualquer população pré-histórica 
brasileira. Podem formar morros de 30 metros de altura, 
ao longo de lagoas, lagunas, mangues, pântanos ou 
baías, onde os alimentos eram ricos, mas dificilmente 
encontrados ao longo de praias retilíneas, onde o con-
junto de alimentos é consideravelmente pobre.
O autor chama esse conjunto de características de “cultura 
de sambaquis” (SCHMITZ, 2006). Constituem assentamentos, 
padrões de sepultamentos, organização social, tecnologia, 
economia alimentar, sociedade, hierarquia e até mesmo cons-
tituição biológica diferenciadas das demais populações indí-
genas (SCHMITZ, 2006, p.3).
Sem dúvida foram as mudanças ocorridas depois do “Óti-
mo Climático” que atraíram esta população, “(...) a explora-
ção de moluscos litorâneos é uma das mais duradouras for-
mas de economia na pré-história brasileira e parece ter criado 
um verdadeiro modo de vida” (SCHMITZ, 1984, p.27).
Segundo André Prous (2006, p.34):
Instalavam-se geralmente em baías como as de Gua-
nabara, Iguape, Paranaguá, Joinville, Laguna, no limi-
te entre vários ambientes complementares (mar aberto, 
enseadas profundas, mangue que forneciam, cada um, 
alimentos específicos e recursos em água, madeiras e 
rochas diferentes.
Preferiam locais de posição elevada e seca, bem drenados 
evitando, o acúmulo de água após as chuvas, e que propor-
32 História do Brasil Colônia
cionasse acesso à brisa do mar. Com certeza isto reduzia a 
incidência de insetos, como moscas e mosquitos, bem como 
diminuía o perigo de cobras e de outros animais peçonhentos. 
A elevação das estruturas, também pode estar relacionada ao 
prestígio social do grupo (GASPAR, 2004).
O local também deveria ter abastecimento de água potá-
vel e recursos alimentares, principalmente peixes e moluscos, 
base da alimentação do grupo, cujas estimativas populacio-
nais apontam, em média, para 180 a 400 pessoas (SCHMITZ, 
1984).
Segundo a pesquisadora Maria Dulce Gaspar (2004) eram 
sedentários e muitos destes sambaquis (a maioria segundo a 
autora) foram ocupados por mais de cem anos ininterrupta-
mente, como os sambaquis Ilha da Boa Vista I, II, III e IV (RJ), 
que indicaram ocupações de 350 anos. Algumas exceções, 
como o Sambaqui da Jabuticabeira II (Laguna, SC), foram 
ocupados pelo período de 1000 anos, ou seja, por 18 gera-
ções! Apesar de sedentários não cultivavam seus alimentos, 
vivendo da pesca, coleta de moluscos e frutas, e da caça.
Possuíam uma rica cultura material composta por elemen-
tos como anzóis, agulhas, pontas de projétil em osso polido, 
pesos de rede, lâminas de machado polidas, percutores e es-
culturas em pedra polida denominadas de zoólitos. As marcas 
nos ossos dos sepultamentos dos indivíduos destes grupos in-
dica que nadavam e remavam muito.
Em alguns sambaquis há evidências de ocupação de po-
pulações ceramistas do Planalto (Tradição Taquara / Casa de 
Pedra / Itararé), que aculturaram ou mesmo se mestiçaram à 
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 33
população litorânea, como demonstra a grande quantidade 
de cerâmica destes junto às camadas superiores das aldeias 
do litoral.
Ocupantes do pantanal
O ambiente do pantanal é impar, pois tem um ciclo que passa 
do período das cheias, para os de campos emersos. Segun-
do Prous (2006) esta dinâmica faz com que haja três conjun-
tos favoráveis: a encosta dos platôs que margeiam a planície 
sempre seca e coberta por matas; os campos sazonalmente 
alagadiços; e os rios permanentes e as lagoas. O primeiro 
possibilitava a caça de mamíferos e a horticultura; o segun-
do, uma vasta oferta de gramíneas com grãos comestíveis (ar-
roz silvestre, por exemplo), bem como a coleta de moluscos e 
crustáceos aquáticos; e por fim o terceiro, que além da pesca 
possibilita a caça de mamíferos e répteis de grande porte.
Um dos problemas enfrentados por estes grupos era o pe-
ríodo das enchentes, portanto ou se mantinham nas terras al-
tas marginais, ou então precisavam construir aterros nas áreas 
alagadiças mais rasas do que 1,5m. Segundo Schmitz (1999) 
estes aterros formam pequenas elevações de 60m a 100m de 
diâmetro e até 2m de altura. Faziam esses pequenos aterros 
com terra dos arredores e muitas conchas de moluscos. O 
local de onde retiravam a terra, acabava funcionando como 
um canal que auxiliava a drenar a água. Posteriormente a ma-
nutenção era muito semelhante a dos sambaquis, consumiam 
os alimentos e iam depositando os restos no chão, o que gra-
dativamente ia elevando o pequeno monte.
34 História do Brasil Colônia
Prous (2006) chama a atenção para as fogueiras que eram 
feitas sobre uma base de pedras, provavelmente para reduzir 
a umidade. Junto aos vestígios de alimentação, aparecem os 
sepultamentos e também pequenos sinais do que podem ter 
sido calços para sustentação de abrigos.
Alguns destes sítios dataram de 6mil anos a.C, ou seja 8 
mil anos atrás.
No mesmo contexto destes sítios foram encontrados diver-
sos petroglífos (gravuras sobre pedra), alguns extremamente 
grandes, cobrindo imensos lajedos. A maioria das figuras é 
geométrica. Segundo Schmitz(1999, p.153), “A produção 
destas numerosas e extensas figuras exigiu grande investimento 
de tempo, razão pela qual não se pode atribuí-la a mero passa-
tempo ou diletantismo”. O autor avalia que estes locais podem 
estar relacionados a rituais religiosos destes grupos.
A partir de 200 a.C. alguns destes grupos passam a pro-
duzir cerâmica, indicando que já estão domesticando plantas 
para complementar a alimentação (horticultura).
Muitos remanescentes dos grupos de coletores, pescado-
res do pantanal foram conhecidos ainda no período históri-
co, quando auxiliaram na guerra contra o Paraguai. A grande 
maioria foi dizimada, mas muitos ainda vivem na região (trata-
remos dos grupos horticultores no próximo item).
2.1.2 Grupos ceramistas
Já dominavam técnicas de domesticação de plantas, mas con-
tinuavam praticando (agora como complementação alimen-
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 35
tar) a caça e a coleta. Com o processo de plantio precisa-
vam ficar mais tempo em um mesmo local, sendo assim esses 
grupos eram semisedentários ou sedentários, dependendo da 
região ocupada e do quanto da alimentação já provinha da 
agricultura.
Alguns eram horticultores - pense em uma horta. Você não 
sobrevive comendo de uma horta, você complementa sua ali-
mentação com ela.
Outros eram agricultores - a maior parte da alimentação já 
provinha do que era plantado.
Não há registro de domesticação de animais no Brasil.
Para cozer os alimentos era necessária a elaboração de 
“panelas”, ou seja, vasilhames que permitissem o cozimento 
dos alimentos. Estes vasilhames eram feitos de argila, por isso 
que os grupos que plantavam seus alimentos são chamados 
de CERAMISTAS. Grupos Pré-Ceramistas não tinham necessi-
dade de elaborar vasilhames, além disso, como eram nôma-
des, carregar todos estes utensílios seria muito complicado.
Vamos conhecer alguns exemplos de grupos ceramistas 
brasileiros.
Os ceramistas do planalto
No planalto, do sul de São Paulo ao Rio Grande do Sul, en-
contramos vestígios de grupos do tronco linguístico Jê (Kain-
gang e Xockleng, dentre outros). Estes grupos baseavam sua 
alimentação na coleta do pinhão, na caça e na horticultura, 
36 História do Brasil Colônia
sendo assim ceramistas. Nas regiões mais altas do planalto 
faziam as “casas subterrâneas”, estruturas escavadas na terra 
(grandes buracos), com o telhado rente ao chão. Dentro delas 
faziam fogueiras e o ambiente ficava como uma estufa, auxi-
liando a aguentar as baixas temperaturas (abaixo de zero) no 
período do inverno.
Algumas destas estruturas chegavam a ter 6m de profun-
didade, e a terra removida na abertura do buraco era depo-
sitada em forma de anel ao redor da estrutura, evitando que 
entrasse a água das chuvas.
Algumas aldeias tinham até 36 casas, mas ao que parece 
nem todas eram ocupadas ao mesmo tempo. Junto às foguei-
ras, mas principalmente do lado de fora das casas, foram en-
contrados os pequenos cacos das antigas panelas de barro, 
bem como instrumentos feitos em pedra.
Estes mesmos grupos também ocupavam áreas mais bai-
xas da encosta, demonstrando um movimento sazonal talvez 
relacionado à oferta de alimentação. Nas áreas do planalto 
com altitude inferior a 550m são raras as chamadas casas 
subterrâneas.
Também há muitos vestígios destes grupos no litoral, indi-
cando que no verão iam para a costa litorânea usufruir dos 
abundantes recursos do período.
Os migrantes da amazônia: Tupiguarani
Os grupos cuja língua vem do tronco Tupi (Tupinambá, Tupi-
guarani, Tupiniquim) são oriundos da Amazônia. Muitas são 
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 37
as teorias dos motivos que levam a saída do local de origem, 
mas não há consenso sobre isso. Alguns afirmam que muitas 
famílias de um mesmo grupo saíram da Amazônia em busca 
de melhores recursos e com a dispersão foram criando novos 
grupos que mantiveram traços linguísticos semelhantes, bem 
como muitas práticas culturais.
Não cabe aqui entrar nesta discussão, então apresentare-
mos um pouco dos Tupiguarani. Os vestígios culturais deste 
grupo aparecem desde as Reduções e o Rio da Prata ao sul, 
até o nordeste, e o sul da Amazônia.
A leste, ocupam toda a faixa litorânea, desde o Rio 
Grande do Sul até o Maranhão. A oeste, aparecem (no 
Rio da Prata) no Paraguai e nas terras baixas da Bolívia. 
Evitam as terras inundáveis do Pantanal e marcam sua 
presença discretamente nos cerrados do Brasil Central 
(PROUS, 2006, p.97).
Habitavam os vales dos rios, suas aldeias eram formadas 
por várias malocas. Salientamos que Maloca significa casa co-
letiva destinada à família extensa e Oca, casa da família nu-
clear. A maioria das tribos conhecidas utilizava malocas e não 
ocas como costumamos aprender na escola. O termo maloca 
se tornou pejorativo e sinônimo de local para atender questões 
sexuais, ou mesmo de lugar desorganizado, depois da che-
gada dos europeus. A afirmação “vou na maloca pegar uma 
índia para mim”, deu uma conotação completamente diferente 
à real, que é casa da família. Do mesmo modo era lá que fi-
cavam os filhos ilegítimos oriundos de violência sexual contra 
as índias. Deste modo os portugueses se referiam aos que não 
38 História do Brasil Colônia
pertencem a seu mundo, que viviam à margem, ou seja, os 
“maloqueiros”. Termo ainda utilizado em algumas regiões do 
país para designar grupos que vivem na periferia das cidades.
Praticavam a agricultura de coivara, ou seja, derrubavam 
o mato, colocavam fogo e depois faziam o plantio. Quando o 
solo esgotava abriam novas áreas. Plantavam: mandioca, fei-
jão, batata-doce, cabaças, amendoim, milho, cará, abóbora, 
algodão e, no sul do Brasil, também sabiam cultivar a erva-
-mate (dando origem ao chimarrão).
Alimentavam-se ainda de caça e pesca, e no litoral com a 
coleta de moluscos. Seus artefatos mais conhecidos são os va-
silhames de barro (panelas, tigelas) e as lâminas de machado 
polidas.
Ficaram conhecidos, assim como seus aparentados Tupi-
nambá, pelo hábito religioso de capturar guerreiros de tribos 
inimigas para rituais antropofágicos2. Acreditavam que ao ma-
tar uma pessoa a alma do morto ficava eternamente presa a 
quem a matou. Quanto mais guerreiro o inimigo fosse, mas 
almas Tupi carregava com ele. Portanto ao matar um grande 
guerreiro e comer um pedaço simbólico de sua carne, as al-
mas, a força e a coragem do inimigo, retornariam ao grupo 
de origem. Os portugueses não conseguiam, nem queriam, 
entender tal ritual e usavam disso para atacar os índios do 
grupo Tupi sem piedade.
2 O termo antropofágico é mais correto porque denota comer carne humana com 
intuito cerimonial. Canibalismo é mais relacionado à ideia de comer carne humana 
como fonte de proteínas. 
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 39
O ritual poderia levar dias, meses ou anos. O prisioneiro 
ficava livre dentro da aldeia, mas sob vigilância. Era bem cui-
dado, alimentado e recebia até mesmo mulheres para garantir 
que ficasse com corpo e mente sadios. Fazia exercícios para 
ficar em boa forma e lhe davam o direito de morrer lutando, 
porém tinha cordas amarradas a cintura para que pudessem 
manter o controle. No auge da luta, sem que visse, recebia 
uma pancada na parte de trás da cabeça e morria instantane-
amente. Seu corpo era limpo e preparado num complexo ritual 
que culminava com o consumo de sua carne.
Os jesuítas ficaram chocados e esta foi uma das práticas, jun-
tamente com o direito à poligamia dos caciques, que tentaram 
abolir. Os índios, em processo de catequização não entendiam 
o motivo de tanto “alarde” já que os padres afirmavam que a 
comunhão era comer a carne e beber o sangue de Jesus Cristo.
E na colônia?
Falaremos mais do trabalho indígena no capítulo 5. Os índios 
de origem Tupi foram considerados os mais “promissores” pelos 
europeus. Eles eram semisedentários,praticavam a agricultura, 
coziam seus alimentos em panelas de barro e foram excelentes 
guias. Muitos termos que ainda utilizamos tem origem na língua 
Tupi, pois foi com eles que os portugueses aprenderam os no-
mes das “coisas” no Brasil (arara, abacaxi, jacaré, tatu, jabuti, 
Pernambuco, Piauí, dentre tantos!). Isto foi tão significativo que 
em São Vicente a língua mais falada no século XVII era o Tupi.
A medicina indígena também foi muito utilizada. As co-
bras e doenças tropicais desconhecidas aos europeus eram 
40 História do Brasil Colônia
tratadas com ervas pelos pajés, que conheciam bem como 
tratá-las. Alguns destes remédios utilizamos até hoje (guaraná 
como ativador de memória, o aloé vera – babosa – em me-
dicamentos e produtos de beleza, diversos chás). O hábito de 
tomar banho diário também foi aprendido com os indígenas, 
pois os europeus não o faziam com muita regularidade. Os 
indígenas tomavam banho após fazer suas necessidades, mas 
também para refrescar o corpo e por diversão. Os europeus 
levaram anos para aprender a tomar banho de mar por prazer, 
por exemplo, como fazemos até hoje.
Os alimentos cultivados pelos indígenas até hoje fazem 
parte da nossa mesa: feijão, batata, abobora pimentas, milho, 
dentre tantos outros. No sul do Brasil costumam afirmar que 
alemão come batata e italianos polenta. Pois bem, tanto a 
batata quanto o milho são plantas americanas, os europeus 
aprenderam a comê-las depois de 1500.
Foram inseridos no sistema colonial, com ou sem opção e 
mesclando (na melhor das hipóteses) sua cultura a dos euro-
peus. Muitas tribos desapareceram, ou ficaram a margem da 
sociedade. A ideia era civilizá-los, ato que ainda hoje os não 
indígenas tentam fazer...
Recapitulando
O Brasil é povoado a ao menos 15mil anos (para não entrar-
mos em polêmica), e é neste período que a história do nosso 
país iniciou. Não podemos continuar a reproduzir uma fala de 
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 41
Pré-História, sendo que as culturas que viviam aqui deixaram 
inúmeros vestígios que comprovam a riqueza e grandiosidade 
destas comunidades Pré-Coloniais.
Todos os espaços e ambientes brasileiros eram ocupados 
por grupos que foram aprimorando suas tecnologias e ade-
quando-as às suas necessidades.
A chegada dos europeus alterou esta dinâmica e fez com 
que grande parte, senão a maioria destas culturas desapare-
cesse sem deixar outros vestígios que não os materiais (macha-
dos, pontas de flecha, etc.). Podemos observar como sepulta-
vam seus mortos, que objetos colocavam junto ao corpo, mas 
jamais poderemos recuperar os cantos, as rezas, os procedi-
mentos. Nem mesmo sabemos como se autodenominavam, 
damos nomes a eles, como os sambaquianos (sambaqui tem 
origem na língua Tupi).
No capítulo 5 retomaremos um pouco mais dos índios no 
Brasil Colônia.
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42 História do Brasil Colônia
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Cristina (Org.) Pré-História da Terra Brasilis. Rio de Ja-
neiro: UFRJ, 1999. [55-59].
__________.. Caçadores e Coletores da Pré-História do 
Brasil. São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas-
-UNISINOS, 1984.
Atividades
 1. O termo mais correto para definirmos as populações indí-
genas seria:
a) Nativo americanos.
b) Brasileiros.
c) Povos indígenas.
d) Povos de cultura nativa.
e) Índios do Brasil.
 2. Assinale a alternativa incorreta:
a) O Brasil tem uma história de quase 20mil anos.
b) Antes de 1500 o Brasil possuía centenas de culturas 
extremamente ricas e variadas.
44 História do Brasil Colônia
c) Ao ser descoberto pelos portugueses em 1500 o Brasil 
deu o primeiro passo de sua rica história.
d) Até hoje utilizamos palavras do vocabulário indígena.
e) A mão de obra indígena foi fundamental para o de-
senvolvimento do Brasil no século XVI.
 3. Os grupos pré-coloniais apresentavam grande adaptação 
cultural aos meios em que viviam. Prova disso é:
I – A elaboração de pesos de rede e anzóis pelos grupos 
sambaquianos demonstrando adaptação ao ambiente 
litorâneo.
II – Bolas de boleadeira aos caçadores-coletores (sul do 
Brasil) para caçarem animais de campo aberto.
III – Casas subterrâneas no Planalto do sul do Brasil para 
proteção do frio rigoroso no inverno.
IV – Elaboração de vasilhames de argila pelos grupos hor-
ticultores para o cozimento dos alimentos cultivados.
A partir das afirmações acima, assinale a alternativa correta:
a) As alternativas I, II e III estão corretas.
b) As alternativas I, II e IV estão corretas.
c) As alternativas II, III e IV estão corretas.
d) As alternativas II e III estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 45
 4. Ao analisarmos o motivo pelo qual os grupos Tupiguarani 
e Tupinambá consumiam a carne de seus inimigos, pode-
mos afirmar que:
a) Era um ritual religioso através do qual recuperavam a 
alma dos mortos pelos inimigos e adquiriam sua força 
e coragem.
b) Era uma forma destes grupos terem acesso a fontes de 
proteínas animais, escassas neste período.
c) Este habito iniciou com a chegada dos europeus, 
quando a comida ficou mais escassa.
d) Tentavam imitar a seu modo a metáfora cristã do cor-
po e sangue de Jesus.
e) É inexplicável e por isso mereceram ser dizimados.
 5. Algumas das heranças indígenas que ainda estão em nos-
so cotidiano são:
I – Influência na alimentação.
II – Contribuição na língua portuguesa.
III – O uso de plantas medicinais como chá ou processa-
das em medicamentos.
IV – Alguns hábitos de higiene.
A partir das afirmações acima, assinale a alternativa correta:
a) As alternativas I, II e III estão corretas.
b) As alternativas I, II e IV estão corretas.
46 História do Brasil Colônia
c) As alternativas II, III e IV estão corretas.
d) As alternativas II e III estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.
Gabarito
1 – D
2- C
3 – E
4 – A
5 - E
????????
Capítulo ?
A Colonização da 
América Portuguesa1
1 Doutora em História, professora adjunta do Curso de História e do Mestrado em 
Educação da UniversidadeLuterana do Brasil, membro do NEABI/ULBRA. 
Maria Angélica Zubaran1
Capítulo 3
48 História do Brasil Colônia
Introdução
A colonização da América portuguesa se deu no contexto his-
tórico do mercantilismo europeu, dos Estados Absolutistas e do 
fortalecimento da burguesia mercantil portuguesa. Neste ca-
pítulo abordaremos o período pré-colonial e a montagem do 
sistema colonial português no Brasil, iniciando com as Capi-
tanias Hereditárias e prosseguindo com o estudo do governo-
-geral e o estabelecimento dos vice-reis na Colônia. Por fim, 
estudaremos a importância das Câmaras Municipais no Brasil 
Colônia.
1 O período pré-colonial:
Entre os anos de 1500-1530, período denominado pela his-
toriografia tradicional de “pré-colonial”, Portugal, em decor-
rência dos lucros das Carreiras das Índias e da exploração 
do litoral africano, não ocupou a nova terra, mas estabeleceu 
feitorias no litoral do Brasil, assim como, em outros pontos-
-chaves de seu império colonial. As feitorias eram entrepostos 
comerciais militarizados situados no litoral. No caso do Bra-
sil, as feitorias cumpriam a função de armazenar o pau-brasil, 
madeira valiosa usada para o fabrico de tintura vermelha para 
tecidos na Europa, para carregamento nos navios portugue-
ses. O mapa a seguir ilustra a importância da extração do 
pau-brasil realizada pelos indígenas no período pré-colonial.
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 49
Figura 1 Detalhe Mapa “Terra Brasilis” 1519, Atlas de Lopo Homem.
Fonte: en.wikipedia.org
A extração do pau-brasil era monopólio da Coroa, no con-
texto do fechamento dos mares aos navios concorrentes. A Co-
roa arrendava a exploração do pau-brasil a particulares e o pri-
meiro contratante foi o comerciante Fernando de Noronha, que 
em 1501 se comprometeu a enviar anualmente seis navios ao 
Brasil, a construir um misto de entreposto e fortaleza e a pagar 
o quinto do pau-brasil à Coroa. A extração do pau-brasil era 
feita de forma predatória e a madeira esgotou-se rapidamente. 
As árvores eram cortadas e transportadas aos navios pelos indí-
genas que em pagamento recebiam objetos como espelhos, fa-
cas, tesouras, agulhas. Essa relação de troca entre portugueses 
e indígenas denominou-se escambo. Não por acaso, os por-
tugueses incluíam machados de ferro entre as mercadorias de 
troca, pois facilitavam a derrubada das árvores.
50 História do Brasil Colônia
O comércio do pau-brasil também interessou aos franceses, 
cuja ação no litoral do Brasil era motivo de preocupação para a 
Coroa portuguesa. A inexistência de núcleos regulares de povoa-
mento dos portugueses no Brasil facilitou aos corsários franceses 
(autorizados pelo governo francês) a invasão do território portu-
guês na América, interessados no comércio do pau-brasil. Portan-
to, nas três primeiras décadas do século XVI os interesses de Por-
tugal mantiveram-se orientados para o comércio com as Índias. 
O Brasil era, sobretudo, uma escala para a frota rumo à Índia.
Nesse período, Portugal enviou expedições exploradoras e 
guarda-costas para o Brasil. A primeira expedição explorado-
ra foi comandada por Gaspar de Lemos em 1501, que fez 
o levantamento dos principais acidentes geográficos na costa 
brasileira. Em 1503, Gonçalo Coelho liderou a segunda expe-
dição exploradora no litoral brasileiro.
Outras expedições foram enviadas entre 1516 e 1526, 
ambas comandadas por Cristovão Jacques para desalojar os 
franceses, daí serem denominadas expedições guarda-costas, 
no entanto, pouco fizeram contra os piratas estrangeiros devi-
do a grande extensão da costa.
2 O início da colonização do Brasil
Por que colonizar o Brasil? Povoar o Brasil fazia-se urgente, 
devido à crise do comércio português no oriente, causada pelo 
assédio dos muçulmanos às cidades e fortalezas portuguesas 
na Índia e pelos altos custos da defesa. Era também urgen-
te combater a presença francesa no litoral do Brasil. O por-
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 51
tuguês Cristovão Jacques apreendeu vários navios franceses 
carregando pau-brasil. Por outro lado, não resta dúvida que 
os indígenas continuavam negociando a madeira com portu-
gueses e franceses.
Por volta de 1530, Portugal passou a se interessar mais pelo 
Brasil. O início efetivo da colonização portuguesa ocorre com o en-
vio da expedição de Martim Afonso de Sousa, que em 1532, com o 
objetivo de expulsar os corsários franceses e explorar o litoral até o 
Rio da Prata em busca de metais preciosos. Tendo percorrido o lito-
ral e averiguado as condições para um povoamento estável fundou 
o primeiro núcleo colonial, a Vila de São Vicente (SP).
Figura 2 Fundação de São Vicente, Benedito Calixto, 1900.
3 O sistema de capitanias hereditárias
A solução adotada pelo rei de Portugal, D. João III (1521-
1557), para colonizar o Brasil foi o sistema de Capitanias He-
52 História do Brasil Colônia
reditárias, em que particulares recebiam uma vasta extensão 
de terras para explorar. O donatário podia deixar a capitania 
para seu filho, mas não podia vendê-la ou trocá-la e nem 
reparti-la. Era uma experiência que já havia sido utilizada na 
colonização do arquipélago de Madeira. Em carta escrita a 
Martim Afonso (1534), o rei comunicava a decisão de dividir 
as terras que iam de Pernambuco até o Rio da Prata em 15 
lotes paralelos, da beira-mar prosseguindo com a mesma lar-
gura inicial para o ocidente. As capitanias foram 12, entre elas 
destacam-se: Maranhão, Itamaracá, Pernambuco, Bahia, Por-
to Seguro, Ilhéus, Espírito Santo, Santo Amaro e São Vicente.
Figura 3 Mapa das Capitanias Hereditárias, Luiz Teixeira, 1574.
Fonte: www.histedbr.fe.unicamp.br
As Capitanias Hereditárias foram distribuídas aos donatá-
rios, representantes da pequena nobreza portuguesa, que ti-
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 53
nham se destacado na expansão marítima para África e Índias 
e aos funcionários da burocracia monárquica. As capitanias 
receberam degredados da justiça, colonos, pequenos comer-
ciantes, artesãos e cristãos-novos (judeus recém-convertidos). 
Aos donatários cabia criar vilas e povoações, exercer justiça, 
incentivar a instalação de engenhos e moendas de água. A Co-
roa portuguesa transferiu para particulares os compromissos 
com a colonização e o escambo foi paulatinamente substituído 
pela agricultura. Dois documentos básicos regiam o sistema 
de capitanias: a carta de doação e o foral, que garantiam os 
direitos do capitão-donatário e suas obrigações frente à Co-
roa. Através do regime de donatários a colonização portugue-
sa promoveu a intervenção direta dos empresários europeus 
no âmbito da produção. Esse sistema foi usado primeiramente 
nas Ilhas Atlânticas de Portugal, depois no Brasil e também em 
Angola, dentro da lógica da colonização do império colonial 
português, que abrangia além do Brasil, terras na África e no 
Oriente.
Por que o açúcar?
Além de seu valor monetário no mercado da época, de-
vido à sua raridade, o plantio e o fabrico do açúcar já eram 
praticados pelos portugueses nas Ilhas de Madeira e Açores, 
assim como, a construção de engenhos e o uso de mão-de-
-obra escrava. É da ilha de Madeira, que Martim Afonso de 
Sousa trouxe as primeiras mudas de cana-de-açúcar para a 
vila de São Vicente, onde construiu o primeiro engenho em 
1533. Assim constitui-se uma economia açucareira, que foi a 
base da economia colonial e cujo centro era o engenho, que 
prosperou particularmente, em Pernambuco e na Bahia.
54 História do Brasil Colônia
Figura 4 Engenho Real, Frans Post (1647)
Fonte: Frans Post: www.faperj.br
No entanto, o sistema de Capitanias Hereditárias fracas-
sou devido ao tamanho do território, ao isolamento e dificul-
dade de comunicação, a falta de recursos dos donatários e 
aos ataques dos indígenas. Mesmo assim, duas capitanias,São Vicente (Martim Afonso) e Pernambuco (Duarte Coelho) 
prosperaram, pois além da produção do açúcar, houve uma 
diversificação paralela de produtos, como o algodão e o ta-
baco e autonomia na produção de alimentos. Também foi 
importante para o sucesso das capitanias um relacionamento 
menos agressivo com os indígenas, pois várias capitanias não 
resistiram ao cerco indígena. Na Bahia, o donatário Francisco 
Pereira Coutinho foi devorado pelos Tupinambás.
As capitanias foram sendo retomadas pela Coroa, ao lon-
go dos anos, por meio de compra e foram paulatinamente 
passando do domínio privado para o público.
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 55
4 Os governos-gerais
Em 1549, frente ao fracasso das capitanias, às incursões fran-
cesas e aos ataques indígenas, o rei de Portugal, D. João III, 
resolveu intervir nomeando para a capitania da Bahia um Go-
vernador-Geral, Tomé de Sousa, um fidalgo com experiência 
na África e na Índia, que chegou acompanhado de mais de mil 
pessoas. O governo-geral se sobrepôs às capitanias e tinha 
como objetivo centralizar os poderes dispersos entre os dona-
tários e defender a colônia contra os indígenas e os piratas es-
trangeiros, sobretudo os franceses. O governador-geral vinha 
munido de um documento que lhe definia as atribuições cha-
mado Regimento. No governo-geral foram criados também os 
seguintes cargos: ouvidor-mor, responsável pela justiça local; 
o provedor-mor, responsável pelos impostos e taxas da Coroa; 
e um capitão-mor, responsável pela defesa da costa.
O Governo de Tomé de Sousa (1549-1553)
Chegando ao Brasil em 1549, Tomé de Sousa (1549-53) 
ergue a primeira cidade do Brasil, São Salvador, capital do 
Brasil até 1763, e inicia sua ação punitiva contra os Tupinam-
bás, destruindo-lhes as aldeias e povoações e matando e ca-
tivando parte deles. A obra colonizadora do governador-geral 
visava, acima de tudo, assentar os colonos, transformá-los em 
“moradores”, e para isso incentivava a implantação de enge-
nhos, o aldeamento dos índios mansos junto aos povoados e 
o combate ao comércio ilegal do pau-brasil.
Com Tomé de Sousa vieram os primeiros padres jesuítas 
chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega, com o objetivo de 
56 História do Brasil Colônia
catequizar os índios e disciplinar o clero da colônia. Foi tam-
bém no seu governo que foi criado o primeiro bispado da 
Coroa, sendo nomeado o Bispo D. Pero Fernandes Sardinha, 
que foi capturado pelos índios Caetés e devorado.
Tomé de Sousa trouxe gado bovino de Cabo Verde, dis-
tribuído aos colonos sob a forma de pagamento de soldos, o 
que incentiva a distribuição de sesmarias para a formação de 
pastos. A colonização é incentivada também com a intensifica-
ção do tráfico negreiro, já importante em 1550, e com apelos 
para a vinda de colonos açorianos. A Bahia passou a ser uma 
um importante foco de povoamento, tornando-se, ao lado de 
Pernambuco, uma das principais áreas açucareiras da América 
Portuguesa.
A instituição do governo-geral representou um esforço de 
centralização administrativa do Brasil. No entanto, a distância 
física entre o centro das decisões, Lisboa e as cidades litorâne-
as era enorme, o que limitava a ação dos governadores. Em 
São Vicente, Nóbrega dizia: “Mais fácil é vir recado de Lisboa 
a esta capitania do que da Bahia”. As leis não atingiam o 
interior que ficava nas mãos do mandonismo local, que unia 
prósperos senhores de engenho e funcionários metropolitanos.
Uma segunda camada de colonos era constituída por ple-
beus e lavradores que fixavam-se com seu gado e escravos 
no interior. Outros podiam ser ladrões de gado e não faltava 
quem se organizasse em bandos e quadrilhas, agindo em as-
saltos pelas estradas. Apesar dos esforços de Tomé de Sousa, 
a implantação do governo-geral na Bahia não inibiu a ação 
dos franceses em outros pontos da costa.
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 57
O Governo de Duarte da Costa (1553-1557)
O segundo governador-geral, Duarte da Costa, veio tam-
bém para o Brasil acompanhado de jesuítas, entre os quais, 
José de Anchieta, que junto com Nóbrega fundou o Colégio 
de São Paulo de Piratininga, criado em 1554, que mais tar-
de se tornou vila, e em 1711 passou a categoria de cida-
de. Durante o seu governo a pressão dos franceses tornou-se 
particularmente forte na baía da Guanabara, onde o francês 
Nicolau Durand de Villegaignon invadiu e fundou uma colônia 
em 1555, denominada França Antártica.
A França Antártica (1555-1567)
O francês Nicolau Durand de Villegaignon pretendeu fun-
dar uma colônia francesa na baía da Guanabara, onde os 
Huguenotes viveriam livres da perseguição religiosa. No en-
tanto, os conflitos entre franceses católicos e huguenotes se 
transferiram para a Guanabara. As querelas finalizaram com 
a perseguição e morte dos dissidentes.
Os franceses construíram o forte Coligny na baía da Gua-
nabara e pretenderam enraizar sua presença no litoral atlân-
tico para traficar pau-brasil. Entretanto, em 1560, as tropas 
de Mem de Sá tomaram o forte de Coligny após enfrentarem 
a resistência dos franceses apoiados pela coalizão indígena 
chamada Confederação dos Tamoios. Em 1565, em meio a 
constantes combates contra os franceses, Estácio de Sá fundou 
a segunda cidade do Brasil, São Sebastião do Rio de Janeiro.
O Governo de Mem de Sá (1558-72)
58 História do Brasil Colônia
Os 14 anos do governo de Mem de Sá se caracterizaram 
por realizações importantes, tais como a fundação da cidade 
de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1 de março de 1565, 
pela guerra para expulsar os franceses da Guanabara, e pelo 
combate aos indígenas da Confederação dos Tamoios. Estácio 
de Sá, seu sobrinho, passou a liderar a guerra contra a aliança 
franco-tamoia e aliou-se aos Temiminós. As lutas de portugueses 
aliados dos Temiminós contra os franceses aliados dos Tamoios 
se prolongariam até 1867. Estácio de Sá morreu em combate 
aos franceses, ferido no rosto com uma flecha envenenada.
Figura 5 Fundação da Cidade do Rio de Janeiro: Mem de Sá entrega as 
chaves da cidade ao alcaide.
Fonte: Autor: Halley Pacheco de Oliveira Disponível em http://commons.wikimedia.
org/wiki/File:Pal%C3%A1cio_Pedro_Ernesto_-_Funda%C3%A7%C3%A3o_da_Ci-
dade.jpg
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 59
Após o Governo de Mem de Sá sucederam-se vários gover-
nadores-gerais, ao todo 21, até a implantação dos vice-reis, 
instituído pela primeira vez em 1640, por Filipe III de Portugal, 
a favor de D. Jorge de Mascarenhas, Marquês de Montalvão. 
Os vice-reis provinham da alta nobreza e mais do que um go-
vernador geral, que lembrava um funcionário graduado, apa-
rentavam ser um representante da Coroa de Portugal.
O título de vice-rei só se tornou permanente a partir de 
1719, com a nomeação de Vasco Fernandes César de Mene-
zes, Conde de Sabugosa. Em 1808, quando o príncipe regen-
te D. João VI chegou ao Rio de Janeiro, cessaram as funções 
do vice-rei.
A França Equinocial (1612-1615)
Expulsos do Rio de Janeiro os franceses tentaram ocupar 
outra parte do Brasil no início do século XVII. Invadiram a capi-
tania do Maranhão e fundaram a França Equinocial em 1612 
e nela construíram o forte de São Luís, em homenagem ao rei 
da França Luís XIII. Os portugueses liderados por Jerônimo de 
Albuquerque e incluindo indígenas lutaram contra os franceses 
e os expulsaram em 1615, tomando o forte de São Luís.
Após a fundação das primeiras cidades coloniais, os do-
natários transplantaram de Portugal para a Colônia órgãos 
de administração local, que em Portugal eram chamados de 
Conselhos e que no Brasil chamaram-se Câmaras Municipais.
60 História do Brasil Colônia
5 As câmaras municipais
As Câmaras Municipais eram compostas por até seis verea-
dores, dois juízes ordinários (sem instrução formal em direito) 
e um procurador.Além disso, havia oficiais que auxiliavam os 
trabalhos. O papel principal ficava com os vereadores, eleitos 
de três em três anos, pelos chamados homens bons, isto é 
grandes proprietários de terras e de escravos que desfrutavam 
de elevada posição social, que não exerciam profissões manu-
ais e que eram também chamados povo.
As funções das câmaras estendiam-se por vários setores da 
vida local: administração municipal, obras públicas, regula-
mentação do comércio, abastecimento de gêneros, manuten-
ção de estradas, obras de defesa, regulamentação de práticas 
comerciais.
A Câmara funcionava ainda como um Tribunal de primeira 
instância, particularmente para o cível, com direito de apela-
ção ao ouvidor ou ao Tribunal da Relação, existente desde o 
final do século XVI na Bahia. As Câmaras tornaram-se a base 
da administração colonial e consolidaram o domínio portu-
guês na América.
Para ser oficial da Câmara Municipal, a legislação vigente 
impunha a obrigação de “pureza de sangue”, ou seja, não po-
dia ter sangue negro, judeu ou mouro. As Câmaras acabaram 
por constituir-se em uma “nobreza da terra” composta fun-
damentalmente por senhores de engenho e lavradores muito 
ricos, excluindo, por muito tempo, os comerciantes. Também 
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 61
os judeus ou cristãos-novos quase nunca tiveram acesso às 
câmaras coloniais.
Como aconteceu com o resto da América Latina, o Brasil 
se tornaria uma colônia cujo sentido era fornecer ao comércio 
europeu gêneros alimentícios ou minérios de grande impor-
tância. Essa diretriz deveria atender a acumulação de riquezas 
na metrópole lusa, em mãos de grandes comerciantes e da 
Coroa.
Recapitulando
Neste capítulo aprendemos que nos trinta primeiros anos da 
história do Brasil não houve colonização, mas o estabeleci-
mento de feitorias ao longo do litoral, com a extração do pau-
-brasil e a prática do escambo entre indígenas e portugueses.
O sistema colonial português foi montado a partir da ex-
pedição de Martim Afonso de Sousa e caracterizou pelo lati-
fúndio agro-exportador de açúcar, pela mão-de-obra escrava 
e pelo monopólio comercial, que juntos formaram o eixo em 
torno do qual se estruturou a vida econômica e social do mun-
do ultramarino português na América.
O primeiro sistema administrativo foi o de Capitanias He-
reditárias, seguido pelo governo-geral e finalmente, pelo esta-
belecimento dos vice-reis. As Câmaras Municipais instaladas 
após o aparecimento das primeiras cidades se constituíram 
na base da administração colonial e consolidaram o domínio 
português na América.
62 História do Brasil Colônia
Referências
ABREU, Capistrano de. Capítulos de História Colonial. Sal-
vador: P555 Edições, 2006.
DEL Priore, Mary; VENÂNCIO, Renato Pinto. O Livro de Ouro 
da História do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
EMANUEL, Araújo. O Teatro dos Vícios: transgressão e tran-
sigência na sociedade urbana colonial. Rio de Janeiro: 
José Olympio, 2008.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Uni-
versidade de São Paulo: Fundação do Desenvolvimento da 
Educação, 1995.
LOPEZ, Adriana; MOTTA, Carlos Guilherme. História do Bra-
sil: Uma Interpretação. São Paulo: Editora Senac São Pau-
lo, 2008.
LINHARES, Maria Yeda (org.). História Geral do Brasil. Rio 
de Janeiro: Campus, 1990.
MAESTRI, Mário. Uma História do Brasil: Colônia. São Pau-
lo: Contexto, 2002.
MELLO E SOUZA, Laura de. (org.). História da Vida Privada 
no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. 
Vol. I. São Paulo: Cia das Letras, 1997.
SILVA, Maria Beatriz da. (org.). Brasil: Colonização e Escravi-
dão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 63
Atividades
 1) São características do período pré-colonial, compreendido 
entre 1500 e 1530:
a) A exploração do pau-brasil.
b) O Escambo entre indígenas, portugueses e franceses.
c) O estabelecimento de feitorias no litoral.
d) O envio de expedições exploradoras e guarda-costas.
e) Todas as alternativas estão corretas.
 2) Sobre as Capitanias Hereditárias, sistema administrativo 
adotado no Brasil por iniciativa de D. João III, é correto 
afirmar que:
a) O sistema já fora experimentado com êxito pelos por-
tugueses nas ilhas atlânticas.
b) Os donatários tornavam-se proprietários das capita-
nias através da Carta de Doação, que lhes dava o 
direito de vendê-las de acordo com seus interesses.
c) O fracasso do sistema está associado às dificuldades 
de contratar mão-de-obra para o trabalho na lavoura.
d) As duas capitanias que prosperaram foram Bahia e 
Pernambuco.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
 3) A criação do governo-geral no Brasil representou:
64 História do Brasil Colônia
a) O fim das Capitanias Hereditárias.
b) A descentralização administrativa da Colônia.
c) Um maior controle da Metrópole sobre a Colônia.
d) A liberação da atividade mineradora.
e) A proteção dos indígenas contra os jesuítas.
 4) Sobre as invasões francesas ocorridas no Brasil Colônia é 
correto afirmar que:
a) A primeira tentativa de fundar uma colônia francesa 
no Brasil Colônia se deu no Governo Geral de Duarte 
da Costa, no Rio de Janeiro, a chamada França Antár-
tica.
b) A segunda tentativa de fundar uma colônia francesa 
no Brasil Colônia se deu no Maranhão, a chamada 
França Equinocial.
c) Na luta contra os franceses no Rio de Janeiro as tribos 
indígenas se dividiram: os Tamoios apoiaram os fran-
ceses e os Temiminós apoiaram os portugueses.
d) Os franceses foram expulsos do Rio de Janeiro no go-
verno de Mem de Sá.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
 5) Sobre as Câmaras Municipais no Brasil Colônia pode-se 
afirmar que, exceto:
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 65
a) Com a fundação das cidades, criaram-se órgãos lo-
cais de administração portuguesa, chamadas Câma-
ras Municipais.
b) As Câmaras Municipais acabaram por constituir-se na 
“nobreza da terra” composta fundamentalmente por 
senhores de engenho e lavradores ricos.
c) As Câmaras Municipais concentravam o poder político 
na Colônia.
d) As Câmaras Municipais também funcionavam como 
um tribunal de primeira instância.
e) A legislação vigente no Reino impunha a obrigação 
da “pureza de sangue” para ser oficial da Câmara, ou 
seja, não aceitava mulheres.
Gabarito
1 (e); 2 (a); 3 (c); 4 (e); 5 (e)
??????????
Capítulo ?
Religiosidades na 
Colônia1
1 Doutora em História, professora adjunta do Curso de História da Universidade 
Luterana do Brasil, membro do NEABI/ULBRA.
Maria Angélica Zubaran1
Capítulo 4
Capítulo 4 Religiosidades na Colônia 67
Introdução
Para compreender a instalação da Igreja Católica nas Amé-
ricas no século XVI, faz-se necessário considerar que nos sé-
culos XV e XVI a Península Ibérica foi palco de intensos movi-
mentos reformistas contra o avanço protestante. A instalação 
do governo-geral na Bahia coincidiu com o auge da Contra-
-Reforma católica e das guerras de religião na Europa. A pró-
pria Companhia de Jesus foi fundada em 1540, fruto do ideal 
reformador, dentro do modelo de cristianismo recomendado 
pelo Concílio de Trento (1545-1563).
O vínculo entre o poder secular da monarquia e o poder 
espiritual da igreja, concedido pelo papa aos reis de Portugal, 
por meio do direito do Padroado foi umas das principais ca-
racterísticas do Antigo Regime. A conquista das almas acom-
panhava a conquista das armas. Neste capítulo, considerando 
que a sociedade que se formou na colônia resultou da con-
vivência de práticas religiosas de três continentes, a Europa, 
a América e a África, estudaremos as religiosidades coloniais 
incluindo além do catolicismo, os cristãos novos, os judeus, os 
protestantes e os credos afro-brasileiros.
1 Aação dos jesuítas
A crescente resistência indígena ao avanço dos portugueses e 
suas alianças com os franceses levaram a Coroa portuguesa 
a perceber que era necessário “pacificar” os indígenas para 
colonizar o Brasil. Os primeiros jesuítas que desembarcaram 
68 História do Brasil Colônia
no Brasil, em 1549, eram liderados por Manuel da Nóbrega 
(1517-1570) e chegaram na comitiva do primeiro Governa-
dor-Geral Tomé de Sousa com o objetivo de converter os indí-
genas e de transformar seu modo de vida e trabalho, de modo 
a se adequarem às novas prioridades do Estado colonizador 
português. Desconhecendo as sociedades indígenas, os euro-
peus tinham a impressão de que os índios viviam “sem Deus, 
sem lei, sem rei, sem pátria, sem república, sem razão”.
Dois anos depois da chegada da comitiva dos jesuítas à 
Bahia, a Coroa solicitou a autorização para criar o bispado 
do Brasil. A criação de um bispado em Salvador, diretamen-
te subordinado as autoridade de Lisboa veio confirmar a im-
portância da igreja católica na sociedade colonial. O bispo 
desempenhava funções relevantes e representava diretamente 
o poder metropolitano. O primeiro deles, o bispo Sardinha, 
acabou devorado pelos Tupinambás, depois de naufragar no 
litoral do Maranhão.
Os jesuítas faziam parte da Companhia de Jesus, fundada 
em torno de Inácio de Loyola, no contexto da Contrarreforma 
engajada na defesa do catolicismo contra o avanço protes-
tante. O monarca português cedeu aos jesuítas o monopólio 
da conversão do indígena. A tarefa da evangelização não era 
fácil e os jesuítas tiveram que aprender como ensinar o catoli-
cismo aos nativos. Para o aprendizado da língua tupi, os jesuí-
tas contaram com a ajuda de portugueses que viviam entre os 
indígenas, em geral náufragos e desertores. Com esse apren-
dizado, José de Anchieta escreveu uma gramática da língua 
Tupi, em 1555. A doutrinação mais exitosa ocorreu com as 
crianças que ainda não conheciam bem as tradições dos tupis. 
Capítulo 4 Religiosidades na Colônia 69
A encenação de peças teatrais e os autos jesuíticos foram um 
importante instrumento de catequização. De início, os padres 
percorriam com grandes riscos as aldeias nativas. No entanto, 
para contornar as crescentes dificuldades, os jesuítas elabora-
ram um plano de aldeamento dos indígenas, deslocando gru-
pos de indígenas de suas aldeias tradicionais para as aldeias 
da Cia de Jesus, dirigidas pelos jesuítas.
Os aldeamentos missionários fundados no Brasil e no Pa-
raguai, a partir da segunda metade do século XVI, foram cha-
mados de Missões ou Reduções Jesuíticas. Nos aldeamentos, 
indígenas das mais diferentes tribos eram reunidos para que 
pudessem, mais facilmente, ser convertidos. Os aldeamentos 
foram objeto de críticas na historiografia, uma vez que a cate-
quese buscou a mudança dos costumes indígenas incompatí-
veis com a fé católica, tais como a nudez, o hábito de viver em 
ocas coletivas, a poligamia e a antropofagia.
Os jesuítas enfrentaram grandes dificuldades nos caminhos 
da evangelização dos indígenas. O conflito mais importante se 
deu com os colonos, em torno da escravização dos indígenas 
nas lavouras de cana-de-açúcar. A disputa pelo indígena entre 
jesuítas e colonos foi intensa. Os jesuítas alegavam que era 
fundamental doutrinar os indígenas e conseguiram do rei vá-
rias leis proibindo o cativeiro indígena, só admitido nos casos 
das chamadas “guerras justas” e no “resgate”.
A guerra justa era uma das formas de legalizar a escraviza-
ção de mão-de-obra indígena. O principal fundamento para 
a guerra justa era a recusa à conversão e o impedimento da 
propagação da fé e a prática de hostilidades contra os luso-
70 História do Brasil Colônia
-brasileiros. No entanto, houve guerras ofensivas movidas pe-
los colonos com o único objetivo de obter escravos.
O resgate compreendia os índios que fossem comprados 
ou resgatados aos seus inimigos, considerando que a sua 
aquisição fosse uma forma de salvá-los de ritos antropofágicos 
ou, se o seu aprisionamento fosse considerado como resultado 
de uma guerra intertribal. O que a leitura da documentação 
deixa inferir é que frequentemente se efetuavam apreensões 
indevidas de indígenas, não se respeitando as especificidades 
estabelecidas pela guerra justa ou pelo resgate.
Os maiores responsáveis pela escravização dos indígenas 
no Brasil colônia foram os bandeirantes paulistas e colonos do 
Maranhão e do Pará, que consideravam a proteção dos indí-
genas pelos jesuítas a ruína econômica da colônia. Por outro 
lado, conforme Leslie Bethell (1998), nunca houve qualquer 
atividade missionária voltada para os negros. Os próprios je-
suítas tinham escravos negros, não só nos colégios como em 
suas fazendas e nos aldeamentos.
Em meio à crise entre os jesuítas e os colonos, o famo-
so jesuíta Antônio Vieira (1608-1697) voltou ao Brasil, na 
qualidade de visitador das missões do Maranhão e Grão-
-Pará e tornou-se um dos mais importantes defensores dos 
povos indígenas, combatendo a escravização dos indígenas 
pelos colonos no Brasil. Na literatura, escreveu Sermões, 
contra a cobiça dos senhores coloniais, fazem parte das 
obras primas da literatura brasileira. O padre Vieira morreu 
na Bahia, em 1697.
Capítulo 4 Religiosidades na Colônia 71
Figura1 Padre Vieira entre os indígenas, autor desconhecido, séc.XVI.
Fonte: en.wikipedia.org
Outro jesuíta de destaque foi o padre José de Anchieta 
(1534-1597), cognominado o apóstolo do Brasil. Chegou ao 
Brasil em 1553, com menos de vinte anos, e participou da 
fundação da cidade de São Paulo. Cuidava não só de educar 
os indígenas como também de defendê-los dos abusos dos 
colonizadores. Intermediou com Manuel da Nóbrega as ne-
gociações de Paz com os indígenas reunidos na Confederação 
dos Tamoios, oferecendo-se como refém enquanto Manuel da 
Nóbrega voltava para São Paulo. Durante esse tempo foi pri-
sioneiro dos índios e compôs o Poema à Virgem, nas areias da 
praia de Ubatuba.
72 História do Brasil Colônia
Figura 2 Padre José de Anchieta.
Fonte: www.news.va
Os jesuítas foram também responsáveis pelas aulas de pri-
meiras letras dos filhos dos colonos e fundaram muitos colé-
gios, entre eles o Colégio de São Paulo de Piratininga, que 
deu origem a cidade de São Paulo. As práticas religiosas dos 
colonos estavam ligadas à estrutura patriarcal das famílias nas 
grandes plantações de cana-de-açúcar e ocorriam nas cape-
las e nos espaços domésticos, em torno do oratório privado e 
da devoção aos santos.
Outras ordens religiosas vieram para o Brasil Colônia após 
os jesuítas. Entre eles, os Franciscanos, os Carmelitas, os Bene-
ditinos e os Capuchinhos franceses. A ordem dos franciscanos 
expandiu-se a partir de 1585, ao longo da faixa costeira, a 
partir de Olinda e concentraram-se principalmente entre Pa-
raíba e Alagoas. Os carmelitas chegaram ao Brasil em 1580, 
estabeleceram fazendas e aldeamentos e possuíam também 
Capítulo 4 Religiosidades na Colônia 73
expressivo número de escravos africanos. Expandiram-se para 
o norte e Amazonas, onde administraram importante rede de 
aldeias. Os beneditinos chegaram à Bahia em 1581 e espa-
lharam-se para Olinda e Paraíba, Rio de Janeiro e São Paulo. 
O centro de suas atividades eram os mosteiros e as fazendas. 
Os capuchinhos franceses tiveram destacada atuação na pro-
pagação da fé católica nos sertões do rio São Francisco.
A Cia de Jesus tornou-se uma das instituições mais ricas 
da América Portuguesa, acumulando muitas terras e bens e 
tornou-se objeto de invejas. Tais tensões chegaram ao máximo 
no século XVIII, na década de 1750, quando os jesuítas se 
recusaram a cumprir o Tratado de Madrid, o que preparou o 
caminho para sua expulsão do Brasil em 1759 e para o con-
fisco de seus bens.
2 Irmandades ou confrarias
As irmandades ou confrariastiveram origem na Europa, onde 
costumavam associar santos a determinadas atividades profis-
sionais. No Brasil, no período da escravidão, os negros eram 
impedidos de frequentar a igreja dos senhores. Assim, os ne-
gros organizaram irmandades ou confrarias, que proliferaram 
no século XVII e atingiram o apogeu no século XVIII e entraram 
em decadência no século XIX.
A palavra irmandade nos faz pensar em um conjunto de ir-
mãos e era assim que homens e mulheres que faziam parte das 
irmandades eram chamados. Promoviam a devoção de um 
74 História do Brasil Colônia
santo e a participação de leigos na direção e organização dos 
cultos católicos. Dentre as Irmandades negras, a mais impor-
tante foi a da Nossa Senhora do Rosário dos homens pretos, 
que congregou os afro-brasileiros em torno da Nossa senhora 
do Rosário. Organizavam procissões, festas, coroações de reis 
e rainhas e exerciam atribuições de caráter social, tais como: 
assistência aos doentes, compra de alforrias, garantia de en-
terro dos escravos. Também os brancos eram aceitos, porém 
com limitações.
Outras irmandades famosas foram: Irmandade de Santa 
Ifigênia e de São Benedito, ambos santos padroeiros negros. 
As irmandades negras conseguiram força social e poder po-
lítico durante o período colonial e foi por meio delas, que os 
negros criaram uma rede de solidariedade, preservaram a sua 
cultura e começaram a reivindicar seus direitos.
 
Figura 3 Rugendas, Festa de N. Senhora do Rosário, 1835.
Fonte: pt.wikipedia.org
Capítulo 4 Religiosidades na Colônia 75
Figura 4 Debret, Irmandade da N. Senhora do Rosário, 1834.
Fonte: people.ufpr.br 
3 Cristãos-novos na colônia
No século XVI, a migração de cristãos novos, nome que se 
dava aos judeus convertidos à força ao catolicismo por Dom 
Manuel em Portugal (1497), sob pena de expulsão de Portugal, 
começaram a buscar refúgio no Brasil. Instalaram-se principal-
mente na Bahia, Pernambuco e Maranhão e integraram-se à 
economia e aos costumes coloniais. Realizavam clandestina-
mente as suas práticas, mesmo sob a ameaça da Inquisição. 
Algumas práticas serviam para indicar judaísmo: guardar os 
sábados, acender candeeiros, jejuar e circuncidar os meninos.
4 Judeus na colônia
Foi no século XVII, que os judeus instalaram-se em Pernambu-
co, durante a invasão dos holandeses, no contexto de liber-
76 História do Brasil Colônia
dade religiosa concedida pelo príncipe Maurício de Nassau. 
Concentraram-se na cidade de Recife e na Rua dos Judeus, 
onde construíram a primeira Sinagoga do Brasil. Eram judeus 
de Amsterdam e da Nova Amsterdam (NY) que foram autori-
zados a migrar para o Brasil e integrar a economia açucareira 
do nordeste.
5 A inquisição na colônia
A inquisição foi uma instituição de origem medieval, criada no 
século XIII, para combater os movimentos contestatórios à igre-
ja católica. Na península Ibérica, a inquisição surgiu no século 
XV, primeiramente na Espanha. Em Portugal, o Tribunal do San-
to Ofício foi criado em 1536 (séc.XVI), no reinado de D. João 
III, e teve como alvo principal as “heresias” praticadas pelos 
conversos. Por descenderem de judeus, os cristãos-novos per-
maneceram suspeitos de manter suas crenças e rituais. Foram 
também perseguidos os bígamos, sodomitas, bruxas, feiticeiros 
(as). A partir de 1540 foram instalados três Tribunais da inqui-
sição em Portugal: em Lisboa, Évora e Coimbra. Apenas um 
Tribunal foi fundado no ultramar, em Goa, na Índia, em 1560.
O Brasil, nunca sediou um tribunal da inquisição, outro 
nome para o Santo Ofício. A inquisição se fez presente na 
colônia desde fins do século XVI, por meio das visitações do 
Tribunal. O tribunal enviava um visitador para receber denún-
cias que eram julgadas pelo Tribunal de Lisboa. A primeira visi-
tação de inquisidores no Brasil ocorreu no século XVI, entre os 
anos de 1591-1595, quando percorreram a Bahia, Pernam-
Capítulo 4 Religiosidades na Colônia 77
buco, Itamaracá e Paraíba. A delação secreta e sem provas 
era o método utilizado pelo Santo Ofício para obter denúncias 
de “crimes contra a fé”. A segunda visitação, no século XVII, 
de 1618-21, restringiu-se a Bahia e a terceira visitação foi no 
século XVII, entre 1763-69, no Pará. No caso dos cristãos-
-novos, as delações visavam eliminar hereges endinheirados e 
confiscar seus bens. A atividade inquisitorial diminuiu conside-
ravelmente no século XVIII e encerrou-se de vez em 1821, com 
a abolição do Santo Ofício pelas Cortes portuguesas.
6 O protestantismo no Brasil colônia
Conforme Mary Del Priore e Renato Pinto Venâncio (2001), o 
protestantismo no Brasil colônia teve dois momentos marcan-
tes: o primeiro, na baía da Guanabara, entre 1555-1560, na 
chamada França Antártica, com os franceses calvinistas (Hu-
guenotes). Perseguidos na França, os huguenotes invadiram o 
Rio de Janeiro, atraídos pela esperança de liberdade religiosa 
na França Antártica fundada pelo almirante francês Durand de 
Villegaignon. Após rejeitar o calvinismo, Villegaignon mandou 
prender e executar religiosos calvinistas sob a acusação de 
traição. Foram os primeiros mártires protestantes na América. 
A tentativa de implantar uma colônia calvinista no Centro-Sul 
do Brasil fracassou após longa guerra comandada pelo go-
vernador-geral Mem de Sá. Também no Maranhão, os france-
ses calvinistas tentaram sem sucesso implantar uma colônia, a 
França Equinocial, derrotada pelos portugueses.
78 História do Brasil Colônia
Um segundo momento marcante do protestantismo no Bra-
sil colônia foi durante a invasão e ocupação do nordeste pelos 
holandeses calvinistas (1630-1654). No nordeste, se estabe-
leceu o domínio holandês sob o comando do príncipe Mau-
rício de Nassau. Em seu governo houve clima de tolerância e 
liberdade religiosa para todos. Naquele contexto, a formação 
de paróquias protestantes se espalhou em todo o território de 
domínio holandês.
7 Os cultos africanos
Os africanos também trouxeram sua religiosidade para o 
Brasil colônia. Entre as práticas religiosas de matriz africana 
destacaram-se: os Calundús e o Candomblé. De acordo com 
Regiane Augusto de Mattos (2007), no Brasil colônia nos sécu-
los XVII e XVIII, o Calundu representava a influência das tradi-
ções da África Centro-Ocidental, de origem Jeje, que consistia 
na prática do curandeirismo e no uso de ervas com ajuda de 
adivinhação e possessão. As pessoas que praticavam o Calun-
du eram conhecidas como curandeiras. Esses indivíduos, na 
maioria das vezes africanos, eram muito considerados entre 
escravos e libertos e temidos pelos senhores.
Outra prática religiosa de matriz africana é o Candomblé, 
derivado dos povos Iorubás da África Ocidental, conhecidos 
no Brasil como nagôs. O Candomblé começou a ser praticado 
no Brasil pelos escravos de origem africana. Seus rituais são 
organizados em torno de centros religiosos conhecidos como 
terreiros, geralmente liderados por sacerdotisas, as mães de 
Capítulo 4 Religiosidades na Colônia 79
santo, ou sacerdotes, os pais de santo. O primeiro terreiro 
de Candomblé instalou-se em Salvador, na Bahia, conhecido 
como Casa Branca do Engenho Velho. Os seguidores cultua-
vam um panteão de orixás, que representam um elemento da 
natureza e tem uma cor e uma comida favorita. Iemanjá, por 
exemplo, é a deusa do mar e geralmente veste azul e bran-
co. Os praticantes vestem-se com as cores dos orixás, entoam 
canções, muitas vezes em Iorubá, e dançam ao som dos tam-
bores sagrados. O ápice da cerimônia é quando a liderança 
religiosa incorpora o orixá ao som dos tambores e atabaques.
8 A santidade indígena
Santidade indígena foi o nome pelo qual ficou conhecida a 
rebelião indígena ocorrida na Bahia, no século XVI. O nome 
é devido o forte caráter religioso desse movimento que reunia 
diversas populações indígenas sob a liderançado Pajé chama-
do Antonio, que tinha fugido de um aldeamento jesuítico da 
capitania de Ilhéus e que se proclamava papa. Esse indígena 
dizia que era a encarnação viva de Tamandaré, ancestral dos 
Tupinambás. Pregava que os portugueses seriam todos mortos 
e que os que sobrevivessem se tornariam escravos dos Tupi-
nambás e misturava a doutrina cristã com crenças indígenas. 
Reuniu centenas de seguidores, que desafiaram os coloniza-
dores portugueses. O movimento foi reprimido por várias ex-
pedições militares que dispersaram os seguidores da santida-
de. Como afirmaram Mary Del Priore e Renato Pinto Venâncio 
(2001), a Colônia crescia à sombra da cruz e de vários credos 
que deixaram marcas profundas em nossa sociedade.
80 História do Brasil Colônia
Recapitulando
Neste capítulo estudamos as religiosidades no Brasil Colônia 
para além do catolicismo. Vimos a importância dos jesuítas na 
catequização dos indígenas e na educação dos filhos dos co-
lonos, destacando-se a atuação de Manuel da Nóbrega, José 
de Anchieta e do Padre Antônio Vieira.
Estudamos também as iniciativas dos protestantes no Rio 
de Janeiro, na chamada França Antártica e no Maranhão, na 
chamada França Equinocial. Ambas derrotadas pelos portu-
gueses.
Analisamos também a presença dos cristãos novos e dos 
judeus, principalmente no nordeste e a visita do Tribunal do 
Santo Ofício, também conhecido como Inquisição e consta-
tamos que no Brasil a presença da Inquisição ocorreu apenas 
através de visitações, sem a instalação de um Tribunal.
Por último, também estudamos a ocorrência dos credos de 
matriz afro-brasileira, tais como o Calundu e o Candomblé e 
o movimento conhecido como Santidade Indígena, com forte 
caráter religioso.
Referências
ABREU, Capistrano de. Capítulos de História Colonial. Sal-
vador: P555 Edições, 2006.
Capítulo 4 Religiosidades na Colônia 81
BETHELL, Leslie (org.). História da América Latina. São Pau-
lo: Editora da Universidade de São Paulo; Fundação Ale-
xandre Gusmão, 1998.
EMANUEL, Araújo. O Teatro dos Vícios: transgressão e tran-
sigência na sociedade urbana colonial. Rio de Janeiro: 
José Olympio, 2008.
DEL Priore, Mary e Renato Pinto Venâncio. O Livro de Ouro 
da História do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Uni-
versidade de São Paulo: Fundação do Desenvolvimento da 
Educação, 1995.
LOPEZ, Adriana e Carlos Guilherme Motta. História do Bra-
sil: Uma Interpretação. São Paulo: Editora Senac São Pau-
lo, 2008.
LINHARES, Maria Yeda (org.). História Geral do Brasil. Rio 
de Janeiro: Campus, 1990.
MAESTRI, Mário. Uma História do Brasil Colônia. São Pau-
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MOTA, Carlos Guilherme e Adriana Lopez. História do Brasil: 
uma interpretação. São Paulo: Editora SENAC, 2008.
MATTOS, Regiane Augusto de. História e Cultura afro-bra-
sileira. São Paulo: Contexto, 2007.
82 História do Brasil Colônia
Atividades
 1) Para a conversão dos indígenas os jesuítas recorreram:
a) Aos aldeamentos, a uma gramática da língua Tupi, a 
encenações de peças teatrais.
b) Aos aldeamentos e ao ensino do espanhol.
c) As visitações nas aldeias indígenas e a gramática da 
língua Tupi.
d) As visitações nas aldeias indígenas e as encenações de 
peças teatrais.
e) Nenhuma reposta está certa.
 2) O conflito mais importante no caminho da evangelização 
dos indígenas na colônia se deu em razão:
a) da disputa pelo indígena entre jesuítas e colonos;
b) da disputa de terras entre jesuítas e colonos;
c) da disputa de ouro e prata entre indígenas e jesuítas;
d) da disputa de ouro e prata entre jesuítas e colonos;
e) Nenhuma resposta está certa.
 3) Entre os nomes de jesuítas de destaque na evangelização 
do indígena no Brasil Colônia encontram-se:
a) Padre Antonil e padre Antônio Vieira
b) Padre José de Anchieta e padre Antonil
Capítulo 4 Religiosidades na Colônia 83
c) Padre José de Anchieta e padre Antônio Vieira
d) Padre Manuel da Nóbrega e padre Antonil
e) Nenhuma resposta está certa.
 4) As irmandades ou confrarias eram:
a) cultos protestantes realizados entre escravos e libertos;
b) cultos de matriz africana realizados entre escravos e 
libertos;
c) cultos católicos realizados entre escravos e libertos;
d) cultos indígenas realizados entre escravos e libertos;
e) Nenhuma resposta está certa.
 5) Os cristãos-novos eram:
a) protestantes convertidos à força ao catolicismo;
b) judeus convertidos à força ao catolicismo;
c) africanos convertidos à força ao catolicismo;
d) europeus convertidos à força ao catolicismo;
e) Nenhuma resposta certa.
Gabarito
1 (a); 2 (a); 3 (c); 4 (c), 5 (b)
??????????
Capítulo ?
O Trabalho na Colônia: 
Escravização de Índios e 
Negros1
1 Mestre em História. Professora da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA.
Juliane Maria Puhl Gomes1
Capítulo 5
Capítulo 5 O Trabalho na Colônia: Escravização de índios e Negros 85
Introdução
Quando falamos em trabalho escravo no Brasil, logo nos lem-
bramos dos africanos escravizados1, mas na verdade a escra-
vidão surgiu antes da chegada deles em nosso país.
Os primeiros povos escravizados no Brasil, assim como 
ocorreu em toda a América, foram os indígenas. Passado o 
primeiro momento de encantamento e euforia que marcou 
o encontro de dois grupos culturais tão distintos (indígenas e 
portugueses), bem como as trocas de quinquilharias por Pau-
-brasil, ervas e demais produtos considerados exóticos na Eu-
ropa, as relações começaram a mudar. De parceria nas trocas 
(escambo) à escravização.
Gradativamente, a economia do Brasil foi crescendo e 
o número de indígenas diminuindo. A situação chegou a tal 
ponto que a partir de 1570 houve a inserção da mão de obra 
escravizada da África. Uma nova e triste parte da História do 
Brasil iniciava.
Os africanos escravizados, bem como seus descendentes 
afro-brasileiros, tronaram-se a principal engrenagem do sis-
tema econômico brasileiro, mas, ao invés de movida a óleo, 
esse mecanismo foi lubrificado à custa de muito sangue e suor.
1 Atualmente, a maioria dos historiadores utiliza o termo “escravizado”, pois essa 
era uma situação imposta àquelas pessoas. Este termo é muito mais correto que 
escravo, que remete a uma condição. Portanto, tivemos africanos e índios que eram 
escravizados, e não escravos. 
86 História do Brasil Colônia
O Início da Escravização: indígenas
No chamado “período das feitorias” (até 1534) o escambo 
(troca de produtos) entre índios e portugueses funcionou relati-
vamente bem (para os estrangeiros). Mas o peso do trabalho, 
a exploração, os estupros, as doenças trazidas da Europa, a 
inserção de novos hábitos alimentares (açúcar, bebidas desti-
ladas) fez com que houvesse uma reversão no quadro “amis-
toso” dos primeiros contatos.
A noção de tempo para os indígenas, assim como o enten-
dimento de que não devemos tirar da natureza mais do que 
precisamos para utilizar, começou a fazer com que muitos gru-
pos já não quisessem mais fazer trocas com os portugueses, 
ou que não respeitassem o ritmo regular de trabalho imposto 
por esses.
Além disso, é importante lembrar que os índios não apenas 
deveriam trazer as mercadorias solicitadas pelos portugueses, 
como alimentá-los enquanto estavam aqui. A questão é que 
mesmo os grupos horticultores (como estudamos no capítu-
lo 2) não tinham excedentes alimentares para suprir grupos 
cada vez maiores de portugueses que vinham para cá. Muitos 
acompanhavam os estrangeiros em pequenas incursões pelos 
matos da zona litorânea, e além de guias também ficavam 
responsáveis pela caça que alimentava toda excursão.
O entendimento português era o de que os índios escon-
diam mercadorias e comida para não partilhá-las com eles.
Segundo Laima Mesgravis (1997, p. 33):Capítulo 5 O Trabalho na Colônia: Escravização de índios e Negros 87
[...] eram capazes de grandes esforços físicos como via-
gens de centenas de quilômetros, corridas de dias intei-
ros, podiam remar por grandes distâncias, carregando 
grandes pesos desde que tivessem um propósito útil aos 
seus olhos. Apenas faziam questão de trabalhar quando 
e como quisessem, sem supervisão e cobranças. Aliás a 
expressão “não tenho vontade”, com a qual se recusa-
vam a fazer qualquer coisa que lhes fosse pedida, era 
definitiva – e não se deixavam demover. Era um traço 
exasperado para colonos e jesuítas.
Tais desentendimentos e atritos levaram a relações cada 
vez mais ríspidas, e isso foi agravado pela grande demanda de 
Pau-brasil, que levou os portugueses a dobrarem os trabalhos 
indígenas, o que resultou em mais fugas por parte dos índios.
Muitos indígenas foram enganados e levados para a Euro-
pa. Eram convidados a jantar nos navios, ou largar mercado-
rias, depois eram aprisionados e levados para a Europa. Pou-
cos sobreviviam à travessia e menos ainda à vida nas cidades 
portuguesas onde eram expostos como criaturas exóticas.
Com isso, vemos que esse esquema, chamado de escam-
bo, durou pouco tempo, passando rapidamente para a explo-
ração e a escravização dos índios.
No início das capitanias hereditárias, era difícil conseguir 
colonos suficientes que viessem para trabalhar no Brasil. Por-
tugal não era um país populoso e poucos, neste momento, 
quiseram vir de livre e espontânea vontade para o Brasil. Nem 
só degredados vieram para cá, como muito se ouve falar, mas 
até 1550 eles foram trazidos massivamente.
88 História do Brasil Colônia
Portugal queria encontrar uma nova fórmula para a ocu-
pação e ganhos econômicos no Brasil, que não fosse apenas 
extração de recursos naturais. Os portugueses haviam inserido 
o cultivo da cana-de-açúcar na Ilha da Madeira, com bons 
resultados, já que o açúcar era uma especiaria de grande va-
lor econômico na Europa. Portanto, havia grandes chances de 
que também desse certo aqui no Brasil. Outros fatores tam-
bém ajudaram na inserção da cana-de-açúcar no território 
brasileiro, sendo que os principais foram: a grande proporção 
de terras férteis e o clima propício.
A partir de 1530 as plantações de açúcar se tornaram uma 
opção para fazer as novas terras “portuguesas” darem lucros. 
Porém, isso atentou contra um dos aspectos fundamentais às 
tribos indígenas: a posse da terra. Até então, os portugueses 
estavam “trocando” produtos, que eram trazidos pelos indí-
genas. Da mesma forma, eram alimentados por esses, mas 
a posse da terra era indígena. Após o acordo das capitanias 
hereditárias, as terras passaram oficialmente para mãos por-
tuguesas. Como dar aquilo que não lhe pertence? Muitas tri-
bos não aceitaram ser expulsas de terras com as quais tinham 
vínculos ancestrais, onde estavam sepultados seus familiares, 
onde sabiam como sobreviver. No entendimento dos portu-
gueses, os índios poderiam viver em qualquer lugar que hou-
vesse mato. Mas, como vimos no capítulo dois, a adaptação 
cultural ao meio é fundamental para essas populações. Expul-
sar grupos habituados a viver na faixa litorânea para o sertão, 
com ambiente diferente e pertencente a outros grupos, foi o 
mesmo que condená-los à morte.
Capítulo 5 O Trabalho na Colônia: Escravização de índios e Negros 89
Muitos grupos tentaram reagir, mas as armas portuguesas 
eram potentes, bem como a não escolha por quem matar. Para 
os índios, era inconcebível matar crianças, mulheres e idosos, 
colocar fogo nas malocas e roças. A pressão psicológica era 
muito grande, a desunião das tribos maior ainda. Além disso, 
como aconteceu em toda a América Espanhola, os portugue-
ses mandavam recados claros aos que pretendiam lhes atacar. 
Veja este relato de Frei Vicente de Salvador (SALVADOR apud 
JOHNSON, 1998 p. 259):
[...] depois de averiguar quais [índios] foram os homi-
cidas dos brancos, uns mandaram pôr em bocas de 
bombardas e dispará-las à vista dos mais, para que os 
vissem voar feito em pedaços [...]
A década de 1540 foi marcada por várias vitórias indíge-
nas em toda a costa litorânea, com exceção de São Vicente, 
Ilhéus e Pernambuco.
Em 1548, os danos eram manifestos; e o desapareci-
mento de um controle português efetivo em centros im-
portantes como a Bahia e outros, expôs cada vez mais 
o Brasil à ameaça contínua das incursões e instalações 
francesas. (JOHNSON, 1998 p. 260)
Dom João III tomou medidas para tentar sanar esses pro-
blemas e deu início ao projeto de Governo Geral, no qual a 
Bahia foi escolhida como sede do governo. Para tentar resolver 
a questão com os índios, foi planejada a defesa da cidade 
não apenas com edificações, mas com aumento da assistência 
militar.
90 História do Brasil Colônia
O regimento dado ao Governador Geral Tomé de Sousa 
orientava que nada poderia ser feito contra os índios pacíficos, 
garantindo-lhes a evangelização (entendida como um grande 
benefício pelo Rei). Porém, os índios rebeldes e agressivos, que 
não aceitassem a evangelização poderiam ser escravizados. E 
as tribos se viram entre a cruz e a espada...
Esta prática de “guerra justa” foi conhecida como os saltos.
As escravizações indiscriminadas (saltos) estavam entre 
as causas principais da resistência indígena, e isso por 
sua vez tornava impossível o desenvolvimento econômi-
co. Não obstante, o trabalho indígena na indústria de 
açúcar em desenvolvimento era essencial e somente a 
escravização podia fornecer os trabalhadores necessá-
rios. A solução dessa contradição foi uma das principais 
tarefas da nova geração de administradores [do Gover-
no Geral]. (JOHNSON, 1998 p. 263)
O Brasil já possuía engenhos produzindo para exportação 
desde a década de 1530. E como vimos desde o início, a 
mão de obra nas lavouras de cana-de-açúcar, bem como no 
processamento dela. Quanto mais mão de obra necessitavam, 
mais “guerras justas” aconteciam.
Muitas ordens religiosas tentaram parar este processo, pois 
tinham interesse na evangelização dos indígenas. Não apenas 
queriam torná-los cristãos como mais “civilizados”. Ao con-
trário dos Franciscanos, os Jesuítas acreditavam que os índios 
precisavam ser retirados de suas aldeias de origem para que 
tivessem mais sucesso no processo de educação e conversão. 
Capítulo 5 O Trabalho na Colônia: Escravização de índios e Negros 91
Criaram inúmeros espaços por todo Brasil, para os quais leva-
vam os índios, as Reduções2.
Os colonos não viam as Reduções com boa vontade, pois 
achavam que a mão de obra indígena precisava ser distribuí-
da onde era necessária e não trancada dentro de um espaço 
religioso. Iniciou assim uma corrida atrás dos índios, de um 
lado as ordens religiosas tentando convertê-los e por outro os 
colonos tentando escravizá-los.
A década de 1560 foi marcada por novas epidemias de 
doenças que assolaram as tribos indígenas. Estima-se que 
40% dos índios, com contato com os europeus, pereceram, o 
que aumentou a “caça” dos sobreviventes. Tais questões foram 
tão marcantes, e o decréscimo da população foi tão visível 
que Dom Sebastião criou uma Junta para avaliar a situação e 
projetar uma política indígena para o Brasil.
Em 1570, foi promulgada a lei que determinava que:
Nascidos livres, podiam, no entanto, ser escravizados 
em duas situações: (1) no curso de uma “guerra justa” 
declarada pelo rei ou por seu governador; (2) quando 
pegos na prática de canibalismo [antropofagia]. Foi de-
clarado o sistema de resgate: a prática anterior de res-
gatar ou salvar índios capturados nas guerras intertribais 
e que estavam destinados a ser mortos, impondo-lhes 
2 O termo Missão era utilizado pelos religiosos. Para eles, a missão era evangelizar 
e civilizar. A grande maioria dos historiadores não utiliza este termo, pois defendem 
a ideiade que os índios foram reduzidos a um espaço confinado, no intuito de 
terem a sua cultura extirpada e alterada.
92 História do Brasil Colônia
em troca uma vida de servidão a seu libertador. (JOHN-
SON, 1998, p. 267)
Muitos grupos indígenas, como falado anteriormente, fu-
giram para o interior do Brasil. Os que tiveram sorte com os 
atritos contra os grupos que ocupavam essas áreas logo pas-
saram a ter outro temor: as bandeiras.
O início do século XVII foi marcado pelo fortalecimento das 
entradas e bandeiras para o sertão do Brasil. Com a chegada 
dos bandeirantes, esse processo ficou cada vez mais violento. 
Os bandeirantes eram considerados, pelos jesuítas, como os 
piratas do sertão, os caçadores de homens, que partiam para 
o interior desbravando as matas e o sertão, devidamente ar-
mados e com um exército de homens, dos quais faziam parte: 
índios, mestiços e paulistas.
Os índios capturados eram levados para São Vicente, onde 
eram repartidos entre os bandeirantes e seus financistas; pou-
cos cativos seguiam para o nordeste. O Bandeirismo era um 
negócio de família, e dele provinham suas riquezas. Alguns 
deles tinham interesse em procurar metais preciosos, mas a 
maioria acreditava que “caçar homens” eram mais lucrativo.
Essas expedições eram formadas basicamente por índios 
(escravizados ou não) e por mestiços (frutos de relações de 
índias com portugueses ou brasileiros – a maioria por violên-
cia sexual). Os cativos eram tratados com extrema crueldade, 
tendo em vista que não eram considerados “gente”. Muitos 
morriam durante o deslocamento para São Paulo.
Capítulo 5 O Trabalho na Colônia: Escravização de índios e Negros 93
Em um segundo momento, os bandeirantes passam a es-
cravizar também índios que estavam em reduções, pois não te-
riam o trabalho de buscá-los no sertão, além do fato de que já 
estavam “educados”, adaptados ao sistema de trabalho rural 
e também já eram catequizados. Os bandeirantes acabaram 
com mais de 50 reduções jesuíticas nas regiões do Guairá, do 
Itatim e do Tape. A partir desses ataques que se permitiu aos 
índios reduzidos o uso de arma de fogo.
“Índios soldados da província de Curitiba escoltando prisioneiros”, tela de Je-
an-Baptiste Debret. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o_
ind%C3%ADgena_no_Brasil#mediaviewer/File:Indian_Soldiers_from_the_Coriti-
ba_Province_Escorting_Native_Prisoners.jpg)
Os bandeirantes foram excomungados pelo Papa, mas ig-
noraram as ameaças, tornando São Paulo o maior centro de 
escravismo indígena do Brasil.
Com as invasões às reduções jesuíticas, os padres foram os 
primeiros a incentivar o tráfico de africanos para o Brasil, pois 
94 História do Brasil Colônia
estavam preocupados com a grande mortalidade dos índios, 
não só pelo excesso de trabalho, mas também por surtos epi-
dêmicos.
Em resumo:
As epidemias, a escravização e o proselitismo religioso 
por parte dos bem-intencionados jesuítas estilhaçaram 
efetivamente a cultura e as sociedades indígenas der-
rotadas, deixando aos sobreviventes o destino de serem 
reintegrados a uma sociedade colonial estruturada em 
termos portugueses. (JOHNSON, 1998, p. 269)
A consolidação da escravização: Os africanos
Em 1570, iniciou o incentivo à importação de africanos para 
utilização como mão de obra no Brasil.
Os africanos seriam uma melhor opção para os senho-
res de engenho, pois estavam mais adaptados ao sistema de 
trabalho agrícola e ao modo de produção. Em seguida, esse 
negócio se mostrou lucrativo, pois eram trocados na África por 
cachaça e fumo, que eram de baixo valor; trazidos para o Bra-
sil, eram trocados por açúcar com os senhores de engenho, e 
vendido na Europa por alto preço.
Os africanos eram arrancados de suas aldeias e trazidos 
para o Brasil em navios negreiros, onde as condições eram 
precárias: mortos, doentes, crianças, mulheres e homens via-
javam no mesmo local, em condições insalubres. Os que con-
seguiam sobreviver a essas condições não viviam mais que 
sete anos no Brasil, devido a longas jornadas de trabalho a 
Capítulo 5 O Trabalho na Colônia: Escravização de índios e Negros 95
alimentação reduzida e não variada, e as péssimas condições 
de alojamento3. O baixo preço dos escravos fazia com que os 
senhores de engenho não se preocupassem em cuidá-los, pois 
trocavam as “peças” por novas quando alguma morria.
Os maus tratos eram diversos, a mais comum entre as pu-
nições era: o açoite em praça pública, e não era incomum 
que quem aplicasse a punição fosse outro escravo (às vezes da 
própria família), obrigado a infeliz tarefa. Também era usada 
a marcação a ferro em brasa, geralmente no rosto do escravo 
que fugia, cortar a orelha, passar mel no corpo e em seguida 
jogá-lo no formigueiro. Crueldades inimagináveis.
O tráfico negreiro foi um comércio rentável para os eu-
ropeus e para os intermediários (africanos e brasileiros), no 
qual a troca dos cativos por mercadorias coloniais fazia render 
altos lucros à Metrópole, mantendo esse comércio forte por 
três séculos.
Extremamente necessários nas lavouras de cana-de-açúcar 
no Brasil, atuavam também no trabalho doméstico, na cons-
trução de casas, nas obras públicas, em várias atividades de 
prestação de serviços (vendedores, barbeiros etc.). Ter escra-
vos passou a ser um indicativo de status social; sendo assim, 
muitas pessoas faziam de tudo para economizar e comprar um 
escravo.
O sistema de escravização indígena não rendeu lucros a 
Portugal, pois os ganhos com o “salto” dos índios ficava, de 
modo geral, dentro da própria colônia. Com o tráfico negrei-
3 A questão da escravização e resistência será melhor desenvolvida no Capítulo 6.
96 História do Brasil Colônia
ro, criou-se o comércio triangular, no qual não só os trafi-
cantes lucravam, mas também a Metrópole. O açúcar vindo 
das colônias era trocado pelos africanos escravizados e gerava 
grande lucro para intermediários e Coroa. O senhor de enge-
nho pagava pelos escravos, e cerca de cinco anos depois tinha 
100% do valor pago reposto pelo trabalho das “peças”. Os 
traficantes também trocavam produtos de baixo valor, cachaça 
e fumo, por negros. Esses produtos eram trocados na África 
por novos escravizados dando início a um novo ciclo.
Comércio triangular.
ht tp://pt .wik ipedia.org/wik i/Com%C3%A9rcio_at l%C3%A2nt ico_de_
escravos#mediaviewer/File:Triangular_trade.svg
Segundo Mário Maestri (2001), o Brasil teria sido uma das 
primeiras colônias da América a utilizar a mão de obra de 
africanos escravizados e a última a abolir o escravismo colo-
Capítulo 5 O Trabalho na Colônia: Escravização de índios e Negros 97
nial. Mulheres, homens e crianças, em condições precárias, 
trabalhavam até a morte para sustentar as lavouras dos en-
tão senhores do Brasil. Cerca de 3 a 5 milhões de africanos 
chegaram no Brasil na condição de escravo. Segundo Jaime 
Pinsky (2010), a jornada de trabalho de um escravo na lavoura 
e nas moendas chegava a ser de 18 horas.
Cativos e cativas – ébrios de sono – tinham os dedos, 
as mãos e os corpos engolidos e esmigalhados pelas 
prensas da casa da moenda, se o facão não fosse usa-
do, rápida e pertinentemente nas máquinas. (MAESTRI, 
2001, p. 82)
Os senhores de engenho viram na escravização dos africa-
nos uma saída para aumentar a produtividade nos engenhos 
e nas lavouras de cana-de-açúcar, além disso, a escolha da 
escravidão se mostrava muito lucrativa, pois, com o tráfico ne-
greiro, Portugal acabava se valendo de lucros. Outro aspecto 
importante é que o alto custo dos negros dificultava a aquisi-
ção de mão de obra suficiente para o trato do açúcar, restrin-
gindo a obtenção de terras a poucos indivíduos.
O negro, nesse momento, se torna a peça chave para o 
andamento das lavouras e dos engenhos, onde assumiam vá-
rias funções, desde a preparaçãoda terra para o plantio como 
nas moendas e nos caldeirões. Também seus trabalhos iam 
além dos serviços braçais, as mulheres serviam como amas de 
leite para os filhos dos senhores, eram cozinheiras, arruma-
deiras, estavam em todos os lugares, até mesmo carregando 
liteiras (espécie de cadeiras carregadas sobre os ombros) para 
transporte de seus senhores.
98 História do Brasil Colônia
De acordo com o padre jesuíta Antonil, os negros eram, 
“as pernas e os pés do senhor de engenho” (apud MAESTRI, 
2001, p. 83). Eram na verdade muito mais do que isso, eram 
os braços, os olhos, as pernas, os ombros, a máquina humana 
que fez o país andar. Também plantavam mandioca, feijão, 
abóbora; galinhas, para a alimentação na casa-grande e de-
les próprios.
Esses africanos sofriam tanto psicologicamente, por terem 
saído de suas terras, de seu país, por terem sido arrancados de 
suas famílias, quanto fisicamente, por agressões físicas, casti-
gos que serviam como punição para o escravo desobediente 
ou fujão. Os castigos variavam, indo desde a chibata, que era 
aplicada por um também escravo, já lhe servindo como exem-
plo, deixá-lo passando fome, passar mel no corpo e colocá-
-lo sobre um formigueiro, entre outros, usar ferros nos pés e 
mãos, ter membros amputados, dentes arrancados, dentre ou-
tros. Todas as formas de castigo eram desumanas, e por conta 
disso e de outros fatores, como a longa jornada de trabalho 
que chegava até 18h diárias, a maioria dos escravizados não 
resistia mais do que 7 anos de trabalho.
Referencial na sociedade açucareira, o negro era a moeda 
para a obtenção de terras e de poder. O número de escravos 
definia o status de um branco. Sem escravizados, nenhum co-
lono era considerado, realmente, um homem livre, e mesmo 
as famílias mais pobres tinham o sua “peça”, que muitas vezes 
sustentava a todos.
Donos da vida e da morte em seu mundo, aos senhores ca-
bia velar pelos negros, nutrindo-os, vestindo-os e castigando-
Capítulo 5 O Trabalho na Colônia: Escravização de índios e Negros 99
-os. Pão, pano e pau, eram os elementos fundamentais das 
obrigações do proprietário para com seus escravizados. O co-
tidiano desses trabalhadores era de pouca comida, vestuário 
miserável, castigo duro e contínuo, e uma carga de trabalho 
extremamente pesada.
A instalação e a atividade de um engenho eram operações 
custosas que dependiam da obtenção de créditos. No século 
XVI, pelo menos parte desses créditos provinha de investidores 
estrangeiros, flamengos e italianos, ou da própria Metrópole. 
Posteriormente, no século XVII, essas fontes parecem ter-se tor-
nado pouco significativas. Pelo menos na Bahia, as duas prin-
cipais fontes de créditos vinham a ser as instituições religiosas 
e beneficentes, em primeiro lugar, e os comerciantes. Antes de 
1808, não existiam bancos no Brasil. Segundo Pinsky (2010) 
mesmo um engenho pequeno não funcionava com menos de 
50 escravizados.
Levantar um engenho exigia importante capital para fazer 
frente aos gastos com a compra da escravaria, com os traba-
lhos de carpintaria, com a aquisição de tachos de cobre, sacas 
etc. Não foram pouco colonos que sem experiência suficiente, 
perderam tudo na tentativa de ascenderem à prestigiosa classe 
dos “engenheiros”.
Os senhores de engenho não viviam isolados na plantation. 
Pela própria natureza e localização de sua atividade, geral-
mente próxima a um porto, estavam em contato com o mundo 
urbano e com ao menos um olho no mercado internacional. 
Afinal de contas, sua riqueza dependia não só da capacidade 
100 História do Brasil Colônia
de tocar o negócio no Brasil, mas dos preços fixados do outro 
lado do Atlântico, nos grandes centros importadores.
Além de terras férteis e próprias ao cultivo de cana-de-açú-
car, um bom engenho devia possuir matas que fornecessem 
madeiras de construção e, sobretudo, lenha farta. Era também 
importante que o engenho dispusesse de um curso d’água ca-
pazes de mover as moendas, e abastecer as necessidades de 
líquido da exploração. Desde o século XVI, era comum ocor-
rer disputas, muitas vezes sangrentas, entre engenheiros pela 
força hídrica. Na falta dessa força, as prensas eram movidas 
por juntas de bois. Os engenhos movidos à força d’água cha-
mavam-se reais, ou movidas por animais, trapiches (MAESTRI, 
2001).
A afirmação da época era a de que negros, bovinos e lenha 
eram as principais fontes de energia do engenho. Nos séculos 
XVI e XVII, temos notícias de rústicos engenhos que utilizavam 
trabalhadores escravizados para mover as moendas, por falta 
de cursos d’água ou de gado.
Segundo Pinsky (2010) todos os engenhos contavam com 
alguns trabalhadores livres. Algumas poucas famílias de mo-
radores se espalhavam pelas terras dos grandes latifundiários 
açucareiros. Elas aguardavam as divisas de engenhos, con-
trolavam os trabalhadores escravizados fugidos, pagavam 
alguma renda em espécie aos proprietários. A exceção das 
atividades dos moradores nos seus pobres roçados e casebres, 
a vida de um engenho centrava-se em torno de um só núcleo 
habitacional produtivo, composto por diversas e importantes 
instalações.
Capítulo 5 O Trabalho na Colônia: Escravização de índios e Negros 101
O engenho constituía-se da casa-grande, capela, fábrica 
(ou engenho) e senzala. Na casa-grande de um engenho real 
viviam a família senhorial e seus dependentes, o capelão e os 
domésticos mais próximos. As casas-grandes mais ricas e as 
capelas eram construídas em pedra e cal. As senzalas, ergui-
das em regiões mais baixas em relação à casa-grande, eram 
construídas com materiais menos nobres – terra, madeira, 
cipó, couro. Habitualmente, só tinham uma entrada, sem ja-
nelas ou outras aberturas, para dificultar as tentativas de fuga.
As principais instalações do complexo açucareiro eram a 
casa da moenda, a casa das fornalhas e caldeiras e a casa de 
purgar. A seguir, vinham a casa das caixas, a casa do bagaço, 
a casa da destilação, a enfermaria, a ferraria, a estrebaria.
Ao lado da produção para o mercado, o engenho satis-
fazia boa parte de suas necessidades internas. Criações de 
galinhas, porcos, ovelhas, roças de mandioca, milho, feijão, 
batata eram atividades que abasteciam os moradores da casa-
-grande e da senzala.
Houve a tentativa de criação de muitas leis para por fim à 
escravização, principalmente pela Inglaterra (interessada em 
aumentar o número de consumidores de seus produtos). Mas 
o Brasil ainda era um dos maiores compradores de africanos 
da América e este foi um processo difícil de interromper.
102 História do Brasil Colônia
Recapitulando
O sistema colonial brasileiro foi embasado em uma estrutura 
escravista. Os ensaios feitos nas colônias da África (feitorias, 
plantio de cana de açúcar) foram implantados no Brasil com 
extremo sucesso. As terras eram férteis, o clima era adequado 
e, em um primeiro momento, os portugueses puderam contar 
com a força de trabalho local: os indígenas.
Porém as diferenças culturais, aliadas ao fato de que os 
indígenas conheciam muito melhor o território, levaram vários 
grupos – após 30 anos de exploração – a questionar e rea-
gir ao tratamento que estavam recebendo. Infelizmente, assim 
como no restante da América, mesmo estando em número 
muito superior, tinham diversos atritos intertribais, que foram 
aproveitados pelos estrangeiros para minar as defesas dos ver-
dadeiros donos da terra.
Junto com os portugueses vieram as doenças para as quais 
os índios não tinham imunidade. Expulsos de seus ambien-
tes naturais, debilitados pelas novas doenças e caçados para 
trabalharem de maneira compulsória. Muitos não resistiram e 
morreram no cativeiro, outros cometiam suicídio e infanticídio, 
e os com mais sorte fugiam.
As ordens religiosas também estavam interessadas nesses 
grupos, com intuitos de convertê-los e civilizá-los.Construíram 
espaços específicos para isso – as Reduções – deixando os 
índios entre a cruz e a espada.
Na década de 1570, a situação econômica ficou insus-
tentável e mais uma vez a experiência administrativa na África 
Capítulo 5 O Trabalho na Colônia: Escravização de índios e Negros 103
abriu caminho às iniciativas no Brasil. Para solucionar o pro-
blema da mão de obra, milhares de africanos escravizados 
foram trazidos para o Brasil. Famílias foram separadas, muitos 
morreram na travessia e outros mais no trabalho insalubre e 
desumano das lavouras e moendas. Tornaram-se a base de 
um amplo sistema: as pernas e pés dos senhores de engenho 
e de toda a sociedade brasileira colonial.
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Contexto, 2010.
104 História do Brasil Colônia
Atividades
 1) O sistema de trocas de produtos exóticos e Pau Brasil entre 
índios e portugueses é denominado de:
a) Salto
b) Encomienda
c) Tributo
d) Escambo
e) Servidão passiva
 2) A década de 1560 foi marcada por novas epidemias de 
doenças que assolaram as tribos indígenas. Estima-se que 
40% dos índios, com contato com os europeus, perece-
ram. Podemos considerar como consequências (diretas e 
indiretas) dessa fatalidade:
I – Maior tentativa de proteção dos índios por parte das 
ordens religiosas.
II – Acirramento na atividade dos caçadores de índios ten-
do em vista que estavam ficando em número cada vez 
mais reduzido.
III – Promulgação da lei (1570) que proibia terminante-
mente a escravização de indígenas, abrindo margem 
para a entrada de africanos escravizados no Brasil.
IV – Criação de uma lei (1570) que regulamentou o que 
eram as “guerras justas”, dentre outras medidas.
Capítulo 5 O Trabalho na Colônia: Escravização de índios e Negros 105
Analise as afirmações acima e marque a alternativa correta:
a) As alternativas I, II e III estão corretas.
b) As alternativas I, II e IV estão corretas.
c) As alternativas II, III e IV estão corretas.
d) As alternativas II e III estão corretas.
e) As alternativas II e IV estão corretas.
 3) O início do século XVII foi marcado:
a) Pelo início da mão de obra de africanos escravizados 
que vieram gradativamente substituir a mão de obra 
indígena.
b) Por ações mais eficazes de controle a captura desen-
freada em relação aos indígenas.
c) Pelo fortalecimento das entradas e bandeiras para o 
sertão do Brasil.
d) Pelas Bulas Papais que condenavam a escravização 
dos indígenas.
e) Pelo final das Reduções Jesuíticas.
 4) Não era qualquer um que podia ser um “engenheiro”, 
pois mesmo uma estrutura pequena necessitava:
I – De ao menos 150 escravos.
II – De estruturas físicas como moendas, carros de bois 
para mover a moenda, arados, bois, trabalhadores li-
106 História do Brasil Colônia
vres para vigiar os escravizados, escolas para os filhos 
do senhor.
III – Casa da moenda, a casa das fornalhas e caldeiras, a 
casa de purgar, casa das caixas, a casa do bagaço, a 
casa da destilação, a enfermaria, a ferraria, a estreba-
ria.
IV – Além de terras férteis e próprias ao cultivo de cana-
-de-açúcar, um bom engenho devia possuir matas que 
fornecessem madeiras de construção e, sobretudo, le-
nha farta.
Analise as afirmações acima e marque a alternativa correta:
a) As alternativas I, II e III estão corretas.
b) As alternativas I, II e IV estão corretas.
c) As alternativas II, III e IV estão corretas.
d) As alternativas I e III estão corretas.
e) As alternativas III e IV estão corretas.
 5) O que o padre jesuíta Antonil quis dizer ao afirmar que os 
negros eram, “as pernas e os pés do senhor de engenho”?
a) Que eles ficavam em uma posição inferior aos senhores.
b) Que por serem negros não ficavam na posição mais 
baixa da sociedade.
c) Que estavam na base de todo trabalho em um enge-
nho, sustentando todas as estruturas sozinhos.
Capítulo 5 O Trabalho na Colônia: Escravização de índios e Negros 107
d) Que seus pés e pernas representavam as plantas (cana 
de açúcar), enraizados no engenho.
e) Que estavam presos aos senhores, como os pés às 
pernas.
Gabarito
1) d
2) b
3) c
4) e
5) c
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Capítulo ?
Tráfico Transatlântico e 
Resistências Escravas1
1 Doutor em História pelo PPGH-PUCRS, professor de História da FAPA – Faculda-
de Porto Alegrense e do Ensino Básico (Fundamental: séries finais e ensino médio) 
do Estado do Rio Grande do Sul. 
Arilson dos Santos Gomes1
Capítulo 6
Capítulo 6 Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas 109
Apresentação
Neste capítulo propõe-se evidenciar como ocorreu o proces-
so de exploração do continente africano a partir dos conta-
tos com os Impérios Europeus, principalmente, por meio do 
comércio de escravizados pelo Oceano Atlântico, o mar das 
Américas. Entretanto, a proposta permitirá reflexões substân-
cias do protagonismo africano na História, esta identificada na 
sua resistência contra a escravidão e a influência africana na 
cultura brasileira.
Diante disso, o capítulo tem por seguintes objetivos: apre-
sentar a África antes do contato com os povos europeus; ana-
lisar o conceito de escravidão antes e depois do comércio tran-
satlântico de almas para as Américas e o Brasil; demonstrar a 
reação dos escravizados, bem como as suas principais resis-
tências contra a escravidão no Brasil; evidenciar o legado dos 
africanos a cultura brasileira.
No capítulo, o acadêmico desenvolverá as seguintes habi-
lidades: compreensão da trajetória do continente africano an-
terior ao domínio; percepção do protagonismo dos africanos 
ao longo da história; entendimento das influências africanas 
no seu cotidiano.
Neste capítulo, pretende-se que o aluno tenha competên-
cia para interpretar, a partir de sua relação com o presente, o 
que o continente africano representa para a História do Brasil 
e à identidade afro-brasileira.
110 História do Brasil Colônia
Introdução
A África, continente composto por mais de cinquenta países, 
é comumente associada a estereótipos e a estigmas secular-
mente criados. Muitos destes advindos com a colonização no 
passado, que legou ao território uma posição inferior no ima-
ginário atual, em que pese iniciativas de promoção e de pro-
postas que visam alterar este quadro.
Muitas destas construções ocorreram em virtude do domí-
nio das potências europeias sobre o vasto território, que teve 
como ponto de origem a escravidão, em larga escala, reali-
zada desde os séculos 16, 17, 18 e 19 nas costas da África.
No entanto, tem-se neste capítulo, bem como por meio 
de outras iniciativas intensificadas após a promulgação da Lei 
10.639/03, que instaurou nos currículos escolares a obrigato-
riedade do ensino da história da África e dos povos africanos 
nos currículos escolares, outros “modos de ver” o protagonis-
mo desses grupos ao longo da história colonial das Américas, 
e mais peculiarmente, do Brasil.
Com o intuito de colaborar com tais ações, o texto será 
dividido da seguinte forma:
África antes do contato Europeu; a escravidão e o Tráfico 
Transatlântico; as resistências escravas no Brasil; e as influên-
cias das africanidades no Brasil e na cultura brasileira.Capítulo 6 Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas 111
1 África antes do contato europeu
Menciona-se que o continente africano é vasto. A África é o 
terceiro continente mais extenso (atrás da Ásia e da América) 
com cerca de 30 milhões de quilômetros quadrados, cobrindo 
20,3 % da área total da terra firme do planeta. É o segundo 
continente mais populoso da Terra (atrás da Ásia) com cerca 
de um bilhão de pessoas.
Sua história é vinculada, principalmente, pelo senso co-
mum, a escravidão, a miséria, a colonização e a opressão, 
quando esta não é levada à vitimização. Pensamentos que 
devem ser (re) vistos, interpretados, no intuito de formar uma 
consciência crítica sobre a África, que não é pobre, mas sim 
está pobre (MBEMBE, 2001). Na atualidade, tem-se na explo-
ração da mídia, por meio da veiculação da epidemia do vírus 
ebola, uma nova fase desta construção imaginária negativa do 
território e de suas populações.
No entanto, em termos culturais o continente africano con-
tinua influenciando-nos. Pode-se identificar que o “menospre-
zo” pelo continente tenha surgido a partir das relações econô-
micas do desenvolvimento dos impérios europeus nos séculos 
XV e XVI. Entretanto, esta trajetória deve ser pensada e ultra-
passada diante dos superficialismos.
Antes do tráfico de escravos existiam tolerâncias entre os 
povos africanos e europeus, já que não prevalecia a ideia de 
inferioridade racial. O desprezo racial começou a se justificar 
em virtude dos interesses materiais, o que gerou uma inferiori-
dade artificial, na qual os europeus criaram uma inferioridade 
112 História do Brasil Colônia
“natural”. Os juízos aplicados, repetidamente a história afri-
cana implica no exame da mentalidade europeia do passado 
sobre os povos da África (DAVISON, 1978, p.21-22).
No início a diferença cultural entre africanos e europeus era 
imperceptível, como demonstram relatos dos portugueses, que 
ao pisar em solo africano visualizaram sociedades complexas 
e organizadas, inclusive em estados centralizados. Impressões, 
que iriam mudar com o tempo.
Do século VIII ao XVII, sucederam-se na região ocidental 
da África significativos reinos e riquezas, relatados por mu-
çulmanos enviados para expedições. Existiam cheferias, pe-
quenas formações com líderes, fluxo comercial de ouro e sal. 
O islã ao consolidar-se ideologicamente na região conviveu 
com as crenças tradicionais, pois Kanku Mussa e Mansa Mus-
sa, reis do Mali, além de negociar ouro viajavam para Meca 
(MAESTRI, 1990), porém sem desconstituir suas crenças locais 
(MBOKOLO, 2009).
“A idade do ouro dos Estados sudaneses, entre cerca do 
século VII ao XV, foi assim um período excepcionalmente rico 
e instrutivo no que se refere às múltiplas molas que animaram 
então as sociedades africanas e de que os diferentes grupos 
sociais procuraram extrair o melhor proveito” (MBOKOLO, 
2009, p.163), não sem resistências.
Autores da época colonial explicavam que o sucesso da 
resistência africana contra invasores europeus era devido ao 
clima e aos mosquitos da região. Entretanto, pode-se relacio-
nar o sucesso das resistências ao poder dos exércitos africanos 
(DAVISON, 1978, p.25). Ao longo da faixa litoral da Costa da 
Capítulo 6 Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas 113
Guiné surgiram os reinos de Oyo, Benim, Denkira, Akawawu, 
que os europeus respeitavam. Esta faixa ocidental também era 
denominada de Sudão.
As evoluções destes reinos ocorriam de maneira intensa, 
longe de territórios politicamente fixos. Um deslocamento con-
tínuo ligado sem dúvidas às dinâmicas comerciais, dos centros 
de gravidade dos Estados para leste; diminuição regular do 
numero de Estados, indo de par com o aumento também re-
gular de sua base geográfica. Por isso os Impérios do Sudão, 
Songai, Mali e Kanem eram formados por muitos reinos, ori-
ginados da dependência de seus soberanos como relataram 
Al-Umari, Ibn Batutta, Ibn Khaldun, viajantes árabes (MBOKO-
LO, 2009, p.158-159).
Esta extensão territorial leva-nos, mais uma vez, a uma 
das molas permanentes dos Estados sudaneses desta época: 
o exército (MBOKOLO, 2009, p.160). O papel do exército 
era garantir a ocupação do território. Problema mais delicado 
com o qual tiveram de se confrontar os Estados sudaneses: o 
controle de territórios cada vez mais extensos e cada vez mais 
diversos.
Como ocorriam as administrações destes impérios? Admi-
nistração indireta: a pertença ao império era concretizada pela 
prestação de tributos e pelo fato de por à disposição do im-
perador soldados em caso de guerra; ou uma “administração 
direta” por príncipes da família imperial ou por governadores 
de regiões conquistadas por via militar.
Para evitar separações os imperadores sudaneses encontra-
vam uma resposta numa dosagem hábil de práticas de alian-
114 História do Brasil Colônia
ça e de mecanismos de repressão: alianças essencialmente 
matrimoniais que, fazendo dos príncipes dos reinos “vassalos” 
sucessores potenciais ao trono imperial, buscava conquistar a 
sua lealdade; repressão também, graças ao sistema dissimu-
lado dos “reféns” que levava os imperadores a manter na sua 
corte, sob o pretexto de assegurar a sua formação os filhos das 
linhagens principescas provinciais (MBOKOLO, 2009, p.162).
Os africanos resistiram às invasões no período que pode ser 
denominado de Idade do Ferro (minério mítico das tradicionais 
sociedades locais), onde mantiveram governos centrais, exér-
citos e desenvolvimento social, não sem hierarquizações, já 
que no território existiu a escravidão.
Todavia, como reforça Davison (1978, p.37), os povos es-
cravos das regiões sudanesas da África eram de servos e clien-
tes, desfrutando muitas vezes dos direitos individuais valiosos, 
o que se repetia em outras regiões como no Ashanti, atual Ni-
géria. O seu status era inteiramente diferente do “gado huma-
no” dos navios negreiros e das plantações americanas. Muitos 
escravos, inclusive, chegavam a ter mais autoridade que seus 
donos. Davidson relaciona o período de opulência da África a 
Idade do Ferro (ouro), com a Idade Média europeia, da qual 
se valerá as próximas interpretações.
2 A escravidão e o tráfico transatlântico
Na África, da idade do ferro, assim como na Europa, o escra-
vo medieval era um cativo que podia ter acesso a deveres e a 
Capítulo 6 Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas 115
obrigações. Assim, a ideia africana de que a Europa impôs em 
absoluto o tráfico de escravos à África não tem qualquer fun-
damento na História, como assevera Davidson (1978, p.44). 
Todavia, também como alerta o historiador, ambos partilham 
responsabilidades, mas a Europa desenvolveu com ela o trá-
fico de escravos e utilizou-o continuamente em seu proveito, 
o que desencadeou a vantagem da Europa em detrimento a 
África. Assim surgia outra forma de escravidão: a moderna.
Tipos de escravidão:
 Â Escravidão romana/antiga: prisioneiro de guerra, troca-
do por dívidas, empregado e até agregado a casa.
 Â Escravidão africana/medieval: o cativo, muitas vezes 
agregado à família, também adquirido por guerras.
 Â Escravidão mercantil/moderna: africanos, seres huma-
nos reduzidos a peças, como mercadorias ou moedas 
de trocas.
A chegada de exploradores e comerciantes portugueses na 
costa africana do sub-Saara, no começo do século XV, iria re-
presentar um novo desenvolvimento na história da escravidão 
na África, já que de lá estes escravizados eram negociados 
para outros territórios, onde serviriam de mão-de-obra para as 
plantações de cana de açúcar na América do Sul, em especial 
no Brasil e nas Antilhas, e para o cultivo da cultura do algodão 
na América do Norte. Ressalta-se que a nova escravidão origi-
nou-se a partir de elementos existentes na escravidão anterior, 
já que os europeus conseguiram, por meio dasdisputas entre 
116 História do Brasil Colônia
os reinos africanos, a brecha para intensificar a exportação de 
escravizados para outras partes do mundo.
Iniciava-se o comércio triangular. Em troca de rum, bebidas 
e armas, com a intermediação de líderes locais africanos e de 
europeus, os escravizados capturados eram negociados, assim 
embarcados para as Américas. Lá eram trocados por açúcar, 
ouro e especiarias, que eram enviadas para a Europa. E assim, 
sucessivamente, iniciou-se um comércio infernal.
Calcula-se que entre 1580 e 1680, os portugueses teriam 
transportado para o Brasil 1 milhão de escravizados. Quanto 
ao total global de escravos desembarcados vivos nas terras 
transatlânticas, incluindo as colônias britânicas da América do 
Norte e ao Caribe, chega-se a cerca de 15 milhões, segun-
do Kuczynski, eminente estatístico, conforme Davidson (1978, 
p.106). A estimativa geral é de que tenha se aproximado de 
mais de 50 milhões de pessoas.
No entanto, o total de desembarcados vivos não equivale 
ao total de escravos embarcados, já que muitos pereceram 
na temida “passagem média”, como denomina Basil Davison 
(1978). Esta “passagem” era a rota da África para as colônias 
europeias no Atlântico.
O transporte era feito de navio, em terríveis condições, 
era uma prova dura para os passageiros africanos. Apenas 
os mais hábeis sobreviviam à fome, doenças e toda a sorte de 
dificuldades que longas viagens representavam na época.
Gilroy (1993) nos traz outras perspectivas desse trajeto, em 
que pese o sofrimento sentidos por estes seres humanos pre-
Capítulo 6 Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas 117
sos nos Navios Tumbeiros. Paul Gilroy (1993) problematizou a 
intensa rede de trocas culturais existentes entre os africanos a 
bordo dessas embarcações, em seus deslocamentos da África, 
para a América e a Europa, situação que o autor chamou, não 
de “passagem média”, mas de middle passage. Para Gilroy, 
existiram sofrimentos, mas também interações para a cons-
trução de uma identidade diaspóricas negra, reforçada por 
uma infinidade de trocas de conhecimentos em pleno Atlântico 
rumo aos continentes em que possivelmente esses negros se-
riam negociados.
Um dos principais relatos sobre as condições do tráfico de 
negros foi feito pelo reverendo Robert Walsh, que esteve num 
dos navios-patrulha ingleses. Ele conta que em 22 de maio de 
1829 interceptaram um navio suspeito, e a cena com que se 
depararam era terrível: “os negros estavam amontoados num 
local tão lotado e tão baixo que cada um tinha que se sentar 
em meio às pernas dos outros, sem espaço para se mexerem 
e fazendo suas necessidades nesta posição” (WALSH, 1829 
apud DAVIDSON, 1978).
O comércio de escravizados fez muitas fortunas para os 
grandes traficantes como Joaquim Félix de Souza, o Xaxá, co-
nhecido como renomado comerciante baiano. Aliás, a Bahia, 
o nordeste brasileiro como um todo, e o Rio de Janeiro foram 
os principais portos de entrada dos escravizados africanos.
Registros apontam 1532 como o ano da chegada dos pri-
meiros escravos africanos no Brasil, na expedição de Martim 
Afonso de Souza. No Rio Grande do Sul, com Silva Paes no 
século XVIII já tinham escravos em seu navio.
118 História do Brasil Colônia
Entretanto, o comércio de escravizados negros tornou-se 
prática comum, também no Rio Grande do Sul, sobretudo pela 
presença de um elevado número de pequenos comerciantes 
responsáveis pelo funcionamento desse mercado, negociando 
direto com o mercado do Rio de Janeiro. Entre 1788 e 1802, 
entraram na região de Rio Grande cerca de 3.294 escravi-
zados, e de 1809 a 1824, 6.984 pessoas (BERUTE, 2007, 
p.153-166).
Outra característica da região foi o “nefando e lucrativo” 
contrabando de escravos. Os contrabandistas se relacionavam 
com autoridades corruptas, compradores de escravos e mem-
bros do judiciário, que expediam documentações falsas na al-
fândega a fim de entrar e sair do porto de Rio Grande e de 
São José do Norte. Os escravizados vindos das Províncias da 
Bahia e do Rio de Janeiro eram comercializados sem tributos 
para as demais regiões brasileiras e do Uruguai, da Argentina 
e do Paraguai (FLORES, 2013).
Estima-se que 14 milhões de africanos, ao longo de quase 
quatro séculos, foram trazidos para o Brasil no período da 
escravidão.
3 As resistências escravas no Brasil
Desde que o primeiro africano se jogou ao mar contra o jugo 
da escravidão tem-se o início das revoltas escravas.
Na escravidão os quilombos eram espaços para onde os 
escravos que não aceitavam a sua condição fugiam e lutavam 
Capítulo 6 Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas 119
contra a escravidão. Os quilombos também eram chamados 
de mocambos e abrigavam negros, índios e brancos pobres.
O quilombo foi, incontestavelmente, como salienta Clóvis 
Moura (1988), a unidade básica de resistência do escravo. O 
quilombo aparecia aonde quer que existisse escravidão. Como 
era o sistema da colônia, os negros sempre resistiram. Portan-
to, não foi um fenômeno esporádico. Era a reação organizada 
de combate a uma forma de trabalho desumana.
Existiram quilombos em Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, 
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Maranhão e no Rio Grande do 
Sul. Desgastando as forças produtivas, quer pela ação militar, 
quer pelo rapto de escravos, fato que constituía, do ponto de 
vista econômico, uma subtração ao conjunto das produções 
dos escravizadores (senhores de escravizados de engenhos). 
Os escravizados eram rebeldes, sendo a revolta coletiva uma 
característica de luta entre os escravizados (MOURA, 1988, 
p.106).
Ademais, o Quilombo dos Palmares foi a maior resistência 
escrava no Brasil colonial. Foi a de maior envergadura. A ex-
tinção de Palmares teve uma importância à da expulsão dos 
holandeses. Foram cerca de trinta expedições que marcharam 
contra Palmares, do início ao final do século XVII. Em carta 
de 14 de março de 1696 para o rei, o comandante da última 
expedição contra Palmares disse: “Zumbi lutou com bravura, 
matando um ferindo alguns e, não querendo render-se nem 
aos companheiros, foi preciso mata-los e só a um se apanhou 
vivo”. “Deu-se isso, no dia 20 de novembro de 1695” (FREI-
TAS, 1973, p.166-167).
120 História do Brasil Colônia
Em Minas Gerais, os quilombolas se aliavam aos contra-
bandistas de diamantes e seria uma preocupação constante 
das autoridades. Em consequência das facilidades que os es-
cravos encontravam para a fuga na mineração, a repressão se 
processou com mais vigilância em Minas do que nas demais 
capitanias.
Outro quilombo importante foi o de Campo Grande, esten-
dia-se entre as capitanias de Minas Gerais e Goiás. O gover-
nador Gomes Freire, em 1746 refere-se a este quilombo como 
já existindo “há mais de 20 anos”, ou seja, desde 1726, evi-
denciando a antiguidade daquela resistência na região aurífera.
Pelotas, no Rio Grande do Sul, foi outra região relevante 
em termos de associativismo negro no início do século XX, efei-
to da grande concentração dessas populações advindas desde 
as charqueadas, em que o braço escravizado movimentava a 
riqueza da cidade e a prosperidade da elite local (ASSUMP-
ÇÃO, 2013). E em virtude da opulência produzida pela carne 
seca e salgada, o charque que inclusive era produto de expor-
tação, a cidade possibilitou o destaque e o cosmopolitismo 
do município, permitindo o trânsito de ideias e de pessoas de 
outras partes do país (CAIUÁ, 2013). A cidade também teve 
intensa produção de lavouras e roças, que eram constante-
mente ocupadas por quilombolas (MOREIRA; AL-ALAM; PIN-
TO, 2013, p. 2013).
Além dos quilombos as resistências ocorriam pelas fugas, 
como foi o caso de Manoel Congo, que com o naufrágio do 
navio negreiro, que se encontrava no litoral de Tramandaí-RS, 
conseguiu escapar. Dando início a uma luta constantepor sua 
Capítulo 6 Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas 121
liberdade (OLIVEIRA, 2006), com inúmeros riscos e desafios, fi-
xando-se na Santa Casa de Porto Alegre, como africano “livre”.
4 As influências das africanidades no 
Brasil e o racismo científico
Os africanos comportam dois grandes troncos linguísticos, 
identificados nos bantos e sudaneses e constituíram o maior 
grupo continental a entrar no país. Para o Brasil que, com a es-
cravização forçada de várias etnias africanas, recebeu nagôs, 
jejes, benguelas, fulos, fulas, tuaregues, iourubás, mandingas, 
minas, háussas, adamauás, entre outros, identificar essas pes-
soas como negros, é desconsiderar a profundidade étnico-
-cultural desses povos (RODRIGUES, 1976). No continente 
africano, existem, hoje, mais de 2.000 etnias, somente abaixo 
do deserto do Saara (SOUZA). Ou seja, aquelas milhares de 
etnias com os processos de colonizações foram fixadas. Na-
quele instante, designada pelos olhos dos europeus, os negros 
passaram a ser um lugar único de todos os grupos africanos, 
estereotipados.
Aliás, foi a partir da escravidão moderna, em que o oci-
dente passou a dominar, por meio das grandes navegações 
os mares, e após com os instrumentos bélicos outros povos, a 
cor dos escravizados passou a ser associada à inferioridade. 
Quanto mais escuro, pior seria a qualidade do sujeito.
O Europeu, masculino, branco, passou a ser considerado 
pelo poder hegemônico, e um ideal a ser cultuado ideologica-
122 História do Brasil Colônia
mente. Eis a origem do discurso binário: o branco e o negro, o 
bem e o mal, o superior e o inferior, o civilizado e o bárbaro, 
o com história e o agrafo e assim por diante (BHABHA, 2003). 
Nessa condição os Europeus se beneficiaram dos meios hu-
manos e minerais do Continente para fins de acumulação de 
riquezas. Devido a isto as etnias europeias, mesmo as que vie-
ram para o Brasil com certa dificuldade, tiveram condições de 
ocupar uma melhor posição social que as descendentes da 
África, pois suas peles eram claras.
Nos finais do século XIX, houve o advento do racismo cien-
tífico. As três escolas principais do pensamento racista eram: a 
etnológico-biológica, sistematizada nos Estados Unidos, defen-
dia a ideia da criação das raças humanas através de mutações 
das diferentes espécies (poligenia). A base de seu argumento 
era que a pretendida inferioridade das raças – índia e negra 
– podia ser correlacionada com as diferenças físicas em rela-
ção aos brancos, e que tais diferenças eram resultado direto 
da sua criação como espécies distintas. Esta teoria ganhou o 
apoio de Louis Agazis, zoólogo suíço, que atribuía a diferença 
das espécies humanas às diferentes regiões climáticas em que 
habitavam. A escola histórica de Gobineau ajudou a propagar 
a mensagem pela Europa de que a raça era o fator determi-
nante da história humana. E a escola do darwinismo social, 
que pregava a evolução da vida natural como resultado da 
“sobrevivência dos mais aptos”, numa competição de diferen-
tes espécies e variedades, também admitia que as espécies 
humanas, tinham passado por processo evolutivo semelhante.
Aqui no Brasil, próximo da abolição da escravidão, ocorri-
da em 1888, influenciada pelas ideias hegemônicas, as elites 
Capítulo 6 Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas 123
políticas iniciaram as discussões de como branquear a nação, 
já que uma nação rica somente poderia surgir, conforme ideó-
logos da nação, por meio da civilização branca, relacionando 
o nosso atraso ao excesso de negros. Esse ao menos era o 
pensamento de grande parcela da elite nacional. As formas 
de embranquecer as populações negras foram quantitativas: 
diminuir sua demografia; e qualitativa: fazer com que os ne-
gros passassem a adotar os padrões estéticos brancos. O que 
jamais daria certo, pois, na dinâmica cultural todos os grupos 
estavam se influenciando.
Os negros, por meio da imprensa negra, passaram a nego-
ciar com a sociedade abrangente e com o Estado, hibridizan-
do símbolos nacionais e datas comemorativas, a exemplo das 
reivindicações ocorridas nas datas do dia 13 de maio e 27 de 
setembro, datas da abolição e da Lei do Ventre Livre, respec-
tivamente. Surgiu, por meio dos intelectuais da comunidade 
negra, a luta por afirmação identitária, cidadania e inclusão 
social (ZUBARAN, 2008). No entanto, sem divisões raciais e 
sim primando à confraternização racial.
Diante disto, o que ocorreu? A tentativa de miscigenação 
política do país. O que teve seu ápice nos anos trinta do século 
XX, em que surge a figura do mulato. Entretanto, aspectos da 
cultura negra passam a ser adotados pelo país, como o samba 
e a capoeira.
Além das tentativas de fazer com que aspectos da cultura 
negra, antes perseguidos e estigmatizados, passassem a ser 
utilizados como símbolos da cultura nacional a exemplo da ca-
poeira e do samba. Cotidianamente, passou-se a demonstrar 
124 História do Brasil Colônia
ao mundo as qualidades brasileiras através de seus grupos for-
madores: brancos, negros e índios, pensamento que originou 
a decantada “democracia racial” brasileira. O que de certa 
forma deu certo, já que a nível internacional a Europa com a 
ascensão do nazi-facismo, a África do Sul com a política do 
apartheid e os Estados Unidos violentamente segregacionista, 
eram exemplos a deixar de lado. Eis que no Brasil: brancos, 
negros e índios, viviam harmonicamente.
Somente nos anos 50 do século 20, essa ideologia bra-
sileira passou a ser combatida e denunciada como um mito. 
O mito da democracia racial, pois cotidianamente os negros 
e índios, eram desconsiderados e na grande maioria viviam 
marginalizados.
Quanto à África, surgiram as resistências políticas, iden-
tificadas nos Congressos Pan-Africanos. Os primeiros foram 
reivindicatórios sobre as condições de vida dos povos coloni-
zados na África e sobre os abusos cometidos pelos europeus.
O quinto Congresso Pan-Africano, realizado em Manches-
ter, Inglaterra em 1945, foi marcado pela radicalização de suas 
propostas e pelo debate político aprofundado. Líderes converti-
dos ao marxismo: houve condenação ao capitalismo, discrimi-
nação e segregação racial. Era uma virada de mesa. Os princi-
pais líderes: Agustinho Neto, Samora Machel, Amilcar Cabral, 
Kwame Nrumah. O quais seriam presidentes após as indepen-
dências dos países africanos (ASSUMPÇÃO, 2008, p.89).
Destacam-se a negritude cultural de Aimé Césaire, da Mar-
tinica, e de Leopoldo Sédar Senghor e de Cheikh Anta Diop, 
ambos senegaleses. Houve divergências devido à forma de 
Capítulo 6 Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas 125
difundir e aplicar o conceito, quanto ao sentido de resgatar a 
autoestima dos povos africanos.
Leopoldo Sédar Seghor desenvolveu a ideia de Négritude 
(movimento literário que exaltava a identidade negra, lamen-
tando o impacto negativo que a cultura europeia teve junto das 
tradições africanas). Para Aimé Césaire (Martinica) e Léon Da-
mas (Guiana Francesa), a negritude reivindicava, entre outros 
fatores, a consciência do negro civilizado (GOMES, 2014).
Eis que surgiram, a partir dessas influências, as organiza-
ções sociais negras no Brasil nas décadas de 1930, 1940 e 
1950. A Frente Negra Brasileira, A União dos Homens de Cor 
e o Teatro Experimental do Negro, sendo esta última mais fun-
damentada na negritude. Esses movimentos primavam pela 
ascensão das populações negras e principalmente pela afir-
mação social e cultural desse grupo que, longe da África e 
de suas etnias originárias, aprendeu a ser brasileiro. Em aulas 
de teatro, através do assistencialismo e por meio de reuniões 
alfabetizadoras, essas associações fizeram com que os negros 
brasileiros passassem a se identificar, positivamente, com as 
suas raízes africanas.
Segundo Abdias do Nascimento (1914-2011),líder do Te-
atro Experimental do Negro, organização que surgiu em 1944 
na cidade do Rio de Janeiro para lutar contra o preconceito, 
por educação e por integração dos negros nas artes, a pro-
posta de luta, definitivamente, passava por duas questões: a) 
a mudança econômico-social no país, e b) a mudança nas 
relações de raça e de cor. Afirmando os valores da cultura 
126 História do Brasil Colônia
negro-africana contida em nossa civilização. Era o surgimento 
da ideologia da negritude brasileira.
5 A cultura afro-brasileira
Temos muito da África em nossos hábitos, em nossa cultura. 
A língua falada no Brasil é um dos exemplos. Veja a seguir a 
seguinte frase:
Após o jantar, um delicioso quibebe, uma mulher do qui-
lombo fazia cafuné na sua filha caçula. A jovem lembrava 
como sua avó era a bamba do lugar.
As palavras grifadas são oriundas da África diretamente 
para nosso vocabulário.
Outras palavras são: acarajé, angu, agogô, banda, batu-
que, bamba, banguela, banzo, carinho, cafuné, caçula, ca-
chimbo, camundongo, calombo, canga, cachaça, caxinguelê, 
chuchu, caxumba, calundu, cochilo, dengo, dengoso, dendê, 
fubá, inhame, Ioiô, Iaiá, jiló, jongo, moleque, miçanga, mo-
lambo, marimbondo, marimba, macambúzio, maxixe, muca-
ma, quiabo, quitanda etc. Darcy Ribeiro comentou que as lín-
guas africanas amoleceram o português.
Entre outros costumes tem-se:
 Â religiões: Candomblé (Bahia), umbanda (Rio de Janei-
ro), quimbanda, Batuque (Rio Grande do Sul), Tambor 
de Mina (Maranhão), Xangô do Recife e macumba;
Capítulo 6 Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas 127
 Â danças;
 Â capoeira;
 Â comidas: feijoada, mocotó, quindim etc.;
 Â instrumentos musicais de percussão: tambor, sopapo etc.
Recapitulando
Menciona-se que o continente africano é vasto, com milha-
res de etnias. No passado, existiam tolerâncias entre os povos 
africanos e europeus, já que não prevalecia a ideia de infe-
rioridade racial. A chegada de exploradores e comerciantes 
portugueses na costa da africana do sub-Saara, no começo 
do século XV, iria representar um novo desenvolvimento na his-
tória da escravidão na África. Era o surgimento da escravidão 
mercantil/moderna: africanos, seres humanos reduzidos a pe-
ças, como mercadorias ou moedas de trocas.
Contudo, hoje, compreende-se que jamais estes africanos 
foram peças, pois eram ávidos de vida, de agências e protago-
nismos, pois, mesmo com as dificuldades do período e da rota 
transatlântica os escravizados traziam e trocavam conheci-
mentos em pleno Atlântico. Tanto que muitos ao desembarcar 
conseguiam desvencilhar das correntes e fugir para o interior, 
a exemplo de Manoel Congo no Rio Grande do Sul. Aliás, a 
resistência ocorria, muitas vezes, em pleno mar. Desde que o 
primeiro africano se jogou ao mar contra o jugo da escravidão 
tem-se o início das revoltas escravas.
128 História do Brasil Colônia
Na escravidão os quilombos eram espaços para onde os 
escravos que não aceitavam a sua condição fugiam e lutavam 
contra a escravidão. Antes e após a libertação no século XIX 
houve o advento do racismo científico. Surgiu, por meio dos 
intelectuais da comunidade negra, uma imprensa negra en-
gajada na luta por afirmação identitária, cidadania e inclusão 
social, contra as hierarquizações raciais. Em meados dos anos 
de 1940 até 1960, contra o mito da democracia racial, sur-
giu a ideologia da negritude. Atualmente tem-se presente em 
nossa formação humana aspectos estreitamente vinculados as 
africanidades, nos gestos, nas falas, nos objetos e no conhe-
cimento.
Referências
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tência africana. Porto Alegre: FAPA, 2008, pp.77-99.
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130 História do Brasil Colônia
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do PPG em História da UFRGS. V. 15, n27, 2008. pp. 161-
187. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/anos90/article/
view/6743/4045>. Acesso em: 11 maio 2011.
Atividades
 1) Assinalar (V) para as assertivas verdadeiras e (F) para as 
falsas.
Diante do que se aprendeu no capítulo, pode-se afirmar que:
a) ( ) A África é um extenso país com vários estados.
b) ( ) No continente africano não existia escravidão antes 
do contato com os europeus.
c) ( ) A idade do ouro dos Estados sudaneses africanos foi 
entre o século VII ao XV.
d) ( ) Antes do tráfico de escravos existiam tolerâncias en-
tre os povos africanos e europeus.
e) ( ) A África é um continente com mais de 2.000 etnias 
e 54 países.
 2) Assinalar (V) para as assertivas verdadeiras e (F) para as 
falsas.
Capítulo 6 Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas 131
Sobre a escravidão na História, pode-se afirmar que:
a) ( ) Na Roma antiga o escravo era o prisioneiro de 
Guerra e adquirido como pagamento de dívidas.
b) ( ) Na Roma, assim como na África, jamais existiu es-
cravidão.
c) ( ) Na escravidão mercantil, moderna, os africanos, 
seres humanos reduzidos a peças, eram negociados 
como mercadorias ou moedas de trocas.
d) ( ) No navio negreiro o africano vinha calado e não 
tinha cultura.
e) ( ) No navio negreiro também interações para a cons-
trução de uma identidade diaspórica negra, reforçada 
por uma infinidade de trocas de conhecimentos em 
pleno Atlântico.
 3) A partir dos estudos desenvolvidos nesse capítulo, marque 
(X) somente nas assertivas verdadeiras.
a) ( ) Estima-se que 14 milhões de africanos, ao longo de 
quase quatro séculos, foram trazidos para o Brasil no 
período da escravidão.
b) ( ) O quilombo foi, incontestavelmente, como salienta 
Clóvis Moura (1988), a unidade básica de resistência 
do escravo.
c) ( ) O Quilombo dos Palmares foi a maior resistência 
escrava no Brasil colonial. Foram cerca de trinta expe-
132 História do Brasil Colônia
dições que marcharam contra Palmares no intuito de 
acabar com o Quilombo.
d) ( ) Jamais existiu contrabando de escravos no Brasil, 
pois eles vinham direto da África e eram negociados 
em mercados.
e) ( ) Além dos quilombos as resistências ocorriam pelas 
fugas.
 4) Assinalar(V) para as assertivas Verdadeiras e (F) para as 
Falsas.
Os grupos envolvidos nas revoltas foram:
a) ( ) Várias etnias africanas, recebeu nagôs, jejes, ben-
guelas, fulos, fulas, tuaregues, iourubás, mandingas, 
minas, háussas, adamauás entre outros.
b) ( ) No Brasil não entraram as teorias criadas pelas es-
colas do racismo científico.
c) ( ) A comunidade negra, por meio de seus intelectuais 
e de sua imprensa negra lutou pela afirmação e inclu-
são das populações negras nos finais do século XIX.
d) ( ) O Brasil é um caldeirão racial, não existindo proble-
mas destas ordem a exemplo dos Estados Unidos da 
América.
e) ( ) Abdias do Nascimento foi o principal líder do Teatro 
Experimental do Negro.
 5) Leia com atenção o que se pede e marque somente duas 
alternativas como verdadeiras (alternativas A, B, C e D).
Capítulo 6 Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas 133
a. ( ) A ideologia da negritude foi uma construção advin-
da das escolas racistas europeias do século XIX.
b. ( ) No Brasil a influência das africanidades ocorrem em 
nossa linguagem e em nossa cultura e em nosso jeito 
de ser.
c. ( ) É possível afirmar que a comunidade negra utilizava 
a data de comemoração do dia 13 de maio para rei-
vindicar por sua cidadania.
d. ( ) Para Darci Ribeiro, as línguas africanas prejudicaram 
a originalidade do português falado do Brasil, que po-
deria ser parecido com o de Portugal.
Gabarito
1) c, d, e: verdadeiras; a, b: falsas
2) a, c, e: verdadeiras; b, d: falsas
3) a, b, c, e
4) b, d: falsas; a, c, e: verdadeiras
5) b, c
??????????
Capítulo ?
Engenhos, Casa-
Grande e Senzala, 
União Ibérica, 
Invasões Holandesas 
e Restauração 
Pernambucana1
Engenhos, Casa-Grande e Senzala, União Ibérica...
1 Doutora em História, professora adjunta do Curso de História e do Mestrado em 
Educação da Universidade Luterana do Brasil, membro do NEABI/ULBRA.
Maria Angélica Zubaran1
Capítulo 7
Capítulo 7 Engenhos, Casa-Grande e Senzala, União Ibérica... 135
Introdução
O açúcar retirado da cana-de-açúcar só se tornou conhecido 
para os europeus por volta do século X, por meio dos Árabes. 
Antes dessa época, usava-se mel como adoçante. Durante os 
séculos XVII e XVIII o Brasil e as Antilhas foram praticamente os 
únicos fornecedores de açúcar para a Europa. Posteriormen-
te, na primeira metade do século XVIII, um químico prussiano 
conseguiu extrair açúcar da beterraba e Napoleão Bonaparte 
passou a incentivar a produção de açúcar de beterraba nas 
suas colônias.
Neste Capítulo estudaremos a expansão dos engenhos de 
açúcar no Brasil Colônia durante os séculos XVI e XVII, a união 
das Coroas de Portugal e Espanha, conhecida como União 
Ibérica (1580-1640) e as invasões e guerras com os holande-
ses no nordeste e seu impacto na colônia. Portanto, entre os 
assuntos desse Capítulo, temos uma história de engenhos de 
açúcar, guerras e insurreições.
1 Engenhos, Casa-Grande e Senzala
O engenho
Conforme assinalam Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota 
(2008), a expansão da agroindústria açucareira constituiu 
mais uma etapa do domínio português das especiarias colo-
niais e atingiu grandes proporções a partir do final do século 
136 História do Brasil Colônia
XVI, para cobrir os gastos da instalação dos engenhos e da 
mão de obra importada da África.
A produção e comercialização do açúcar formavam uma 
rede de interesses que envolvia não só os senhores de enge-
nho das capitanias da Bahia e Pernambuco, que eram os prin-
cipais produtores do produto, como também os portugueses 
traficantes de escravos e os comerciantes holandeses que se 
encarregavam da distribuição do açúcar na Europa.
Também Mary Del Priore e Renato Pinto Venâncio (2001) 
sublinham que a instalação de um engenho constituía um em-
preendimento considerável que requeria muito capital. O en-
genho constituía o centro em torno do qual se estruturava a 
economia colonial desde meados do século XVI e abrangia 
as plantações de cana, o equipamento para processá-la, as 
construções, os escravos, os empregados, o gado, as pasta-
gens, além da casa-grande e da senzala. A maior parte dos 
engenhos localizava-se próximo as matas e ao longo dos rios, 
pois precisavam de lenha para as fornalhas e da água para 
consumo. A instalação de um engenho se dava com créditos 
que provinham da própria coroa portuguesa ou de estrangeiro 
entre eles, holandeses, italianos e alemães.
O engenho contava também com pequenos empreende-
dores, chamados lavradores, que abasteciam o engenho com 
suas canas e pequenos proprietários que plantavam cana-de-
-açúcar para obter outros derivados, como a aguardente, que 
servia não só para o consumo, como também para o comércio 
de escravos na África, o melado utilizado para alimentação e 
para curar o fumo em corda e a rapadura, de fácil transporte 
e muito consumida pelos sertanejos.
Capítulo 7 Engenhos, Casa-Grande e Senzala, União Ibérica... 137
Figura 1 Engenho de Açúcar,1660, Frans Post.
Fonte: Frans Post: people.ufpr.br
A imagem do engenho de açúcar do artista holandês Frans 
Post revela as relações de poder existentes no engenho: a ca-
sa-grande encontra-se no fundo, no alto, e do seu lado direito, 
bem no canto a capela, onde se realizavam batismos e casa-
mentos. A seguir, no primeiro plano, o coração do engenho 
com a moenda e a casa de purgar.
As várias fases na fabricação do açúcar
A extração do caldo da cana dava-se na moenda, movida 
por força hidráulica ou por animais (gado e cavalos) e seu cozi-
mento era em tachos de cobre nas casas de caldeira e purgação.
O mestre do açúcar dava o ponto às meladuras. Depois de 
seco, o açúcar era embalado em caixas e levado por transpor-
138 História do Brasil Colônia
te fluvial ou no lombo de animais até os portos de embarque 
(Recife e Salvador).
A mão de obra foi inicialmente constituída por escravos indí-
genas e a partir da segunda metade do século XVI e especialmen-
te no século XVII cada vez mais a mão de obra escrava africana.
A casa-grande
A casa-grande, com um ou dois pisos, era onde vivia a 
família do senhor do engenho e onde predominava a simpli-
cidade e o desconforto. De acordo com Mary Del Priore e Re-
nato Pinto Venâncio (2001) o senhor de engenho geralmente 
alimentava-se mal, consumia víveres mal conservados e sofria 
de doenças do estômago. A sua volta movimentava-se peque-
na multidão de parentes, escravos, agregados e dependentes 
em busca de favores. Era o senhor de engenho que tomava as 
decisões sobre a vida e morte dessa extensa família.
Figura 2 Casa de Fazenda, 1651, Frans Post.
Fonte: Frans Post: pople.ufpr.br
Capítulo 7 Engenhos, Casa-Grande e Senzala, União Ibérica... 139
A família patriarcal
Sob o comando do senhor do engenho que impunha autorida-
de e respeito subordinava-se a esposa, filhos, parentes, bastar-
dos, afilhados, escravos e agregados. A esposa vivia para ge-
rar filhos e para supervisionar as atividades domésticas, além 
de dedicar-se à costura, bordados e à devoção. Era a dona de 
casa e mãe dos filhos. No engenho havia uma espécie de vida 
em comum entre brancos, negros, indígenas e mestiços.
A senzala
A senzala era o local onde viviam os escravos africanos e seus 
descendentes, construídas de barro, sem janelas e cobertas de 
palha. Elas eram trancadas à noite pelos feitores para evitar a 
fuga e separadas por sexo, embora alguns engenhos permitis-
sem casebres para abrigar escravos casados. No seu interior 
não tinham móveis, apenas estrados de madeiras cobertos por 
esteiras.
Os escravos africanos eram tratados como coisas no en-
genho e vigiados pelo feitor que mantinha o ritmo do traba-
lho e aplicava punições. Alimentavam-se a base de farinha de 
mandioca e farinha de milho, e a carne era excepcionalmente 
servida aos doentes.As roupas eram raras, as mulheres ves-
tiam-se com saia e blusa e os homens apenas com calças e o 
torso nu. Como as roupas eram poucas e lavadas com muita 
frequência muitos escravos andavam maltrapilhos e esfarra-
pados. O castigo físico exagerado era condenado para não 
danificar a peça.
140 História do Brasil Colônia
2 A União Ibérica
Em 1578, o rei português D. Sebastião, último rei da dinastia 
de Avis, partiu à frente de um numeroso exército para conquis-
tar o Marrocos, porém na batalha de Alcácer-Quibir, contra os 
mouros, perdeu a batalha e a vida. Como era solteiro e não 
tinha filhos, a Coroa passou para seu tio-avô, o cardeal D. 
Henrique, único descendente masculino da linha de Avis. Em 
1580 morreu o cardeal-regente sem deixar sucessor.
Filipe II, rei da Espanha, neto do rei português D. Manuel, 
achou-se no direito de ocupar o trono português e invadiu 
Portugal sendo apoiado por parte da burguesia portuguesa.
Assim, iniciava-se a União Ibérica, ou seja, a união das 
duas coroas, de Portugal e da Espanha, que durou 60 anos, 
de 1580 a 1640. Portugal passou, desde então, a integrar o 
império espanhol.
A união das duas coroas não significou o fim da indepen-
dência do reino, que conservou sua autonomia administrativa, 
governado por um vice-rei.
A União Ibérica acabou em 1640, com uma rebelião da 
aristocracia lusa com apoio da França e a instalação de uma 
nova dinastia no país, a de Bragança, que reinaria até a pro-
clamação da República no Brasil. Durante esse período algu-
mas modificações importantes ocorreram no Brasil Colônia.
Capítulo 7 Engenhos, Casa-Grande e Senzala, União Ibérica... 141
Resultados da União Ibérica para o Brasil
A União Ibérica provocou na prática o descumprimento tem-
porário do Meridiano de Tordesilhas, abrindo à penetração 
dos portugueses os territórios situados na região amazônica e 
em áreas que hoje fazem parte do Brasil central e, portanto, 
ampliando a ocupação portuguesa na América.
A consequência mais significativa se deu no plano das re-
lações internacionais. Com a união Ibérica, Portugal herdou 
os inimigos dos espanhóis, entre eles, as Províncias Unidas dos 
Países Baixos (Holanda e Bélgica), que moviam uma guerra de 
independência contra a Espanha. Com a União Ibérica Filipe 
II, rei da Espanha e de Portugal, restringiu o comércio das po-
tências estrangeiras que não tivessem licença expressa do rei, 
com os portos do reino. Essa política restritiva estimulou a rea-
ção dos holandeses que impedidos de comerciarem o açúcar 
com o nordeste brasileiro invadiram a colônia.
3 As Invasões Holandesas
Antes da União Ibérica, os portugueses haviam se associado 
aos holandeses no comércio do açúcar. O Brasil produzia o 
açúcar, Portugal o comprava em regime de monopólio, ven-
dendo-o à Holanda que o revendia na Europa. Após a União 
Ibérica, a Espanha não permitiria a continuidade desse negó-
cio. Então os holandeses fundaram a Companhia das Índias 
Ocidentais (1621) para atuar no Atlântico e para conquistar 
o Brasil.
142 História do Brasil Colônia
A Invasão dos Holandeses em Salvador (1624-1625)
Em 1624, os holandeses atacaram Salvador, sede do governo-
-geral, grande produtora de açúcar, que foi ocupada e saque-
ada. No entanto, não conseguiram expandir seus domínios, 
pois foram impedidos pelos luso-brasileiros de penetrar no 
interior. Os senhores de engenho organizaram a resistência 
utilizando-se da tática de guerrilhas. Receberam reforços da 
esquadra luso-espanhola, com 52 navios e mais de 12 mil 
homens que se juntaram aos combatentes. Os holandeses 
renderam-se em maio de 1625. Tinham permanecido em Sal-
vador por um ano.
A Invasão dos Holandeses em Pernambuco 
(1630-1654)
Em 1630, os holandeses tomaram a vila de Olinda, em Per-
nambuco e duas semanas depois ocuparam Recife, iniciando 
um período de longa ocupação no nordeste e depois uma 
guerra de reconquista.
Nos dois primeiros anos o invasor dominou o porto e a 
cidade e os colonos luso-brasileiros dominaram o interior e o 
sistema produtivo. A partir de 1632, os holandeses consegui-
ram romper as linhas de resistência e dominaram praticamente 
todo o nordeste: tomaram o Ceará, a Paraíba, o Rio Grande 
do Norte e parte do Maranhão.
Na medida em que os holandeses avançavam, luso-brasi-
leiros passavam para o lado holandês. Destaca-se de forma 
negativa na visão luso-brasileira, a figura de Domingos Fer-
nandes Calabar, que passou das forças luso-brasileiras para 
Capítulo 7 Engenhos, Casa-Grande e Senzala, União Ibérica... 143
as holandesas, até ser preso e condenado à morte, estrangu-
lado e depois esquartejado como traidor.
Um segundo período do domínio holandês se inicia em 
1637, com a chegada do conde holandês João Maurício de 
Nassau-Siegen em Pernambuco, para ser o Governador- Geral 
da Nova Holanda. Ele trouxe consigo uma grande corte que 
incluía naturalistas e famosos pintores como Albert Eckhout e 
Frans Boas, que pintaram as primeiras paisagens e cenas da 
vida no Brasil colônia.
Nassau concedeu empréstimos para retomada dos enge-
nhos abandonados e para compra de escravos, visando reati-
var o sistema produtivo desmantelado pela guerra de conquis-
ta. Estabeleceu um clima de tolerância religiosa com católicos 
e cristãos novos e um grupo de judeus fundou uma sinagoga 
no Recife, a primeira sinagoga das Américas. A cidade de Re-
cife foi urbanizada, construíram-se pontes, palácios e jardins. 
O governo de Nassau (1637-1644) foi considerado o apogeu 
do domínio holandês no nordeste.
Tão logo conseguiram estabilizar a indústria açucareira no 
nordeste, os holandeses trataram de garantir o suprimento de 
escravos africanos ocupando a ilha de São Tomé e Angola, 
na África, visando facilitar o tráfico de escravos para a zona 
açucareira.
No entanto, o colapso do preço do açúcar na Europa des-
truiu o otimismo de Nassau. Os senhores de engenho estavam 
cada vez mais endividados e começaram a atrasar pagamen-
tos à Companhia das Índias Ocidentais. Em 1642 começa a 
144 História do Brasil Colônia
ruína dos comerciantes do açúcar e a falência de mercadores 
flamengos.
Em razão das desavenças com a Companhia das Índias 
Ocidentais Nassau regressou à Europa em 1844.
4 A Insurreição ou Restauração 
Pernambucana
Após Maurício de Nassau voltar à Holanda, os colonos do Bra-
sil resolveram enfrentar os holandeses. Em 1645, rebentava a 
guerra dos luso-brasileiros contra os holandeses no nordeste, 
conhecida como Insurreição Pernambucana. Recentemente o 
termo proposto para caracterizar a guerra contra os holande-
ses é Restauração Pernambucana.
João Fernandes Viera, um dos maiores devedores dos ho-
landeses foi o comandante dos rebeldes. Os índios potiguaras 
eram liderados por Filipe Camarão e a milícia de negros forros 
era liderada por Henrique Dias. Os historiadores considera-
ram, por isso, que a Restauração Pernambucana foi a primeira 
manifestação de nativismo no Brasil. Um sentimento de amor 
à terra que “uniu as três raças” formadoras da nacionalidade 
brasileira contra o “invasor holandês”.
A Guerra prolongou-se por vários anos, enquanto os revol-
tosos dominavam o interior, a cidade de Recife continuava nas 
mãos dos holandeses. Em 1648, os holandeses foram venci-
dos no Recife, nas duas batalhas de Guararapes.
Capítulo 7 Engenhos, Casa-Grande e Senzala, União Ibérica... 145
Figura 3 Batalha dos Guararapes, 1879.
Fonte: pt. wikepedia.org
Em 1654, Portugal resolveu intervir e enviou reforços para 
Recife. Pressionados por terra e mar os holandeses renderam-
-se. O Tratado de Paz firmado entre os portugueses e a Holan-
da, com a interferência inglesa, deixava o nordeste do Brasil 
para Portugal que se comprometia a pagar, como indeniza-
ção, quatro milhões de cruzados.
Resultados das “guerras do açúcar” para o 
NordesteForam necessários vários anos para a recuperação da empre-
sa do açúcar, que empurrou a economia açucareira da co-
lônia para uma grande crise da qual somente sairia com a 
descoberta de ouro em Minas Gerais.
146 História do Brasil Colônia
Comerciantes judeus e holandeses transferiram o conheci-
mento de técnicas agrícolas do Brasil para as Antilhas (ilhas da 
América Central), onde iniciaram uma produção açucareira 
própria, determinando o declínio do açúcar no Brasil na se-
gunda metade do século XVII.
Por outro lado, a expulsão dos holandeses impulsionou um 
sentimento nativista e Pernambuco tornou-se centro de mani-
festações de autonomia, de independência e de revolta aberta 
ao longo dos anos.
Recapitulando
Neste Capítulo aprendemos que o engenho de cana-de-açú-
car foi a unidade central da economia e da sociedade colonial 
no Brasil entre os séculos XVI e XVII. Seu maquinário era com-
posto pela moenda, caldeira e casa de purgar. Na estrutura 
social do engenho dominava o senhor de engenho rodeado 
de grande escravaria, procedente do tráfico africano de es-
cravos.
Como vimos, os holandeses tiveram participação tanto no 
financiamento das instalações da empresa açucareira no nor-
deste quanto na comercialização dos produtos derivados do 
mercado europeu.
Em 1580, o Brasil passou para o domínio Espanhol, na 
chamada União Ibérica, e herdou as rivalidades da Espanha 
com a Holanda. Durante esse período, a Espanha em guer-
ra com a Holanda, proibiu as relações comerciais da colônia 
Capítulo 7 Engenhos, Casa-Grande e Senzala, União Ibérica... 147
com a Holanda. Os holandeses impedidos de comercializarem 
diretamente com a colônia fundaram em 1621, a Companhia 
das Índias Ocidentais e invadiram o nordeste do Brasil.
Primeiro, os holandeses ocuparam a cidade de Salvador 
(1624-1625) e depois a cidade do Recife (1630-1654). O 
período do apogeu do domínio holandês em Pernambuco foi 
durante o governo do conde Maurício de Nassau. Durante a 
sua administração (1637-1644), Nassau reativou a economia 
açucareira dizimada pela guerra, concedeu empréstimos aos 
senhores de engenho e concedeu liberdade religiosa nos do-
mínios holandeses.
A Guerra para expulsar os Holandeses do nordeste cha-
mou-se Restauração Pernambucana e durou 10 anos, unin-
do senhores de engenho, índios e negros. Um dos resultados 
dessa guerra foi o declínio do açúcar no Brasil, na segunda 
metade do século XVII.
Referências
ABREU, Capistrano de. Capítulos de Histórias Colonial. Sal-
vador: P555 Edições, 2006.
DEL Priore, Mary; VENÂNCIO, Renato Pinto. O Livro de Ouro 
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FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Uni-
versidade de São Paulo: Fundação do Desenvolvimento da 
Educação, 1995.
148 História do Brasil Colônia
LOPEZ, Adriana e Carlos Guilherme Motta. História do Bra-
sil: Uma Interpretação. São Paulo: Editora Senac São Pau-
lo, 2008.
LINHARES, Maria Yeda (org.). História Geral do Brasil. Rio 
de Janeiro: Campus, 1990.
MAESTRI, Mário. Uma História do Brasil: Colônia. São Pau-
lo: Contexto, 2002.
NOVAIS, Fernando. Estrutura e Dinâmica do Antigo Siste-
ma Colonial. São Paulo: Brasiliense, 1993.
Atividades
 1) A produção de açúcar no Brasil colonial:
a) possibilitou o povoamento e a ocupação de todo o 
território nacional, enriquecendo grande parte da po-
pulação.
b) praticada por grandes, médios e pequenos lavradores, 
permitiu a formação de uma sólida classe média rural.
c) consolidou no nordeste uma economia baseada no 
latifúndio monocultor e escravocrata que atendia aos 
interesses do sistema colonial português.
d) desde o início garantiu o enriquecimento da região 
Sul do país e foi a base econômica de sua hegemonia 
política na República.
Capítulo 7 Engenhos, Casa-Grande e Senzala, União Ibérica... 149
e) não exigindo muitos braços, desencorajou a impor-
tação de escravos, liberando capitais para atividades 
lucrativas.
 2) As invasões holandesas no Brasil relacionam-se:
a) aos conflitos entre os holandeses (protestantes) e por-
tugueses (católicos) no quadro das guerras de religião 
europeias.
b) à aliança entre Holanda e Inglaterra, as duas maiores 
potências navais europeias, contra Portugal.
c) aos conflitos entre Holanda e Espanha, com a União 
Ibérica, e aos interesses comerciais holandeses no 
açúcar brasileiro.
d) à política francesa de expansão colonial que pretendia 
estabelecer no Brasil a “França Antártica”.
e) à pretensão holandesa de transformar o Brasil num im-
portante entreposto para o comércio de escravos.
 3) Durante a fase colonial, o Brasil foi alvo de vários ataques 
estrangeiros, sendo um deles em Pernambuco, marcado 
pela administração de João Maurício de Nassau. Este re-
presentava:
a) os interesses da burguesia inglesa que avançava na 
sua acumulação primitiva de Capital, ao explorar o 
açúcar brasileiro.
b) a reação dos judeus portugueses interessados em 
manter o exclusivo comércio do pau-brasil.
150 História do Brasil Colônia
c) os interesses dos holandeses, que, através da Compa-
nhia das Índias Ocidentais, queriam voltar a ter con-
trole do comércio do açúcar, perdido com a União 
Ibérica.
d) a tentativa dos protestantes franceses de fundar uma 
colônia de povoamento.
e) a intenção da Coroa Portuguesa de garantir a efetiva 
exploração aurífera na região.
 4) Foram, respectivamente, fatores importantes na ocupação 
holandesa do nordeste do Brasil e na sua posterior expul-
são:
a) o envolvimento da Holanda no tráfico de escravos e os 
desentendimentos entre Maurício de Nassau e a Cia 
das Índias Ocidentais.
b) a participação da Holanda na economia do açúcar 
e o endividamento dos senhores de engenho com a 
Companhia das Índias Ocidentais.
c) o interesse da Holanda na economia do ouro e a re-
sistência e não aceitação do domínio estrangeiro pela 
população.
d) a tentativa da Holanda em monopolizar o comércio 
colonial e o fim da dominação espanhola em Portugal.
e) a exclusão da Holanda da economia açucareira e a 
mudança de interesses da Cia das Índias Ocidentais.
Capítulo 7 Engenhos, Casa-Grande e Senzala, União Ibérica... 151
 5) Na administração de Maurício de Nassau durante a ocu-
pação holandesa no Brasil, foram tomadas algumas medi-
das. Entre elas pode-se citar, exceto:
a) os engenhos abandonados por seus senhores foram 
vendidos a crédito
b) O domínio holandês se ampliou fora do Brasil com a 
tomada na África da ilha de São Tomé e de Angola, 
visando facilitar o tráfico de escravos para a zona açu-
careira.
c) os capitalistas holandeses concederam empréstimos 
para que os engenhos voltassem a funcionar.
d) assegurou-se a liberdade de culto aos católicos, pro-
testantes e judeus.
e) foram expulsos sábios, cientistas e artistas, incentivan-
do a vinda de comerciantes.
Gabarito
1 (c); 2 (c); 3 (c); 4 (b), 5 (e)
??????????
Capítulo ?
O Ouro e as Minas 
Gerais1
1 Doutor em História pelo PPGH-PUCRS, professor de História da FAPA – Faculda-
de Porto Alegrense e do Ensino Básico (Fundamental: séries finais e ensino médio) 
do Estado do Rio Grande do Sul. 
Arilson dos Santos Gomes1
Capítulo 8
Capítulo 8 O Ouro e as Minas Gerais 153
Apresentação
Neste tópico será narrada a origem e como se desenvolveu a 
cobiça relacionada ao precioso metal dourado no Brasil Co-
lônia no final do século XVII. A presente proposta pretende 
instigar o acadêmico a conhecer a importância histórica do 
denominado “ciclo do ouro” na trajetória econômica, cultural, 
política e social do Brasil. Caracterizada pelo período em que 
a autonomia política e econômica do território inexistia, já que 
administrativamente a Coroa Portuguesa constituía-se como 
a Metrópole e o Brasil como Colônia, este Capítulo discuteo contexto e os acontecimentos vinculados ao precioso metal 
que alterou as relações territoriais do país em um relativo curto 
espaço de tempo.
Diante disso, o Capítulo tem por seguintes objetivos: de-
monstrar o início da exploração do ouro no Brasil; evidenciar 
as políticas portuguesas em decorrência do minério; examinar 
o cotidiano dos grupos sociais da época; caracterizar o apo-
geu e a crise da economia vinculada ao ouro.
No Capítulo, o acadêmico desenvolverá as seguintes ha-
bilidades: compreensão da dinâmica social, cultural e econô-
mica da época; percepção da importância do ouro para a 
formação territorial do Brasil; motivação do censo crítico para 
o entendimento da história do Brasil.
Neste Capítulo, pretende-se que o aluno tenha competên-
cia para interpretar, a partir de sua relação com o presente, 
as principais características econômicas, culturais, políticas e 
sociais da época em que o ouro possibilitou a riqueza e, ao 
154 História do Brasil Colônia
mesmo tempo, a inoperância da Coroa Portuguesa diante dos 
problemas atrelados ao contexto internacional da época ape-
sar das potencialidades de sua rica colônia. Época que poucos 
enriquecerem e muitos passaram fome.
Introdução
Neste Capítulo abordaremos a importância do ouro para a 
compreensão da formação cultural, social, política e econô-
mica do Brasil entre os séculos XVII e XVIII, com destaque para 
a região conhecida como Minas Gerais, localizada no centro 
da Colônia. Território aurífero e próspero em minérios e dia-
mantes, cobiçado por grupos de outras regiões do nordeste e 
do sul do país e do exterior, que viam na região possibilidades 
de enriquecimento rápido a qualquer custo. No entanto, ou-
tras dinâmicas podem ser observadas na história das “Gerais”, 
como a pobreza e a exploração de indivíduos e de grupos a 
partir da opressão da Coroa Portuguesa, bem como pela atua-
ção direta dos bandeirantes, conhecidos como desbravadores 
paulistas, que participaram direto na escravização dos grupos 
indígenas, bem como para a localização do precioso metal no 
interior do Brasil. Diante dessas situações será demonstrado 
neste Capítulo, como ocorreu a descoberta de ouro nas Ge-
rais, quais as políticas executadas pela Coroa Portuguesa na 
província e como se desenvolveu a arte e a cultura por meio 
dos principais expoentes da época, além de apresentar como 
se desenvolveu e quais foram as relações dos grupos sociais 
no contexto do ciclo do ouro e, por fim, como ocorreu a deca-
dência daquela produção.
Capítulo 8 O Ouro e as Minas Gerais 155
O texto será dividido da seguinte forma: a descoberta do 
ouro nas Gerais; a opulência e o fausto na região; as políticas 
administrativas da Coroa; o desenvolvimento cultural do terri-
tório; os grupos sociais e o contexto aurífero; e a decadência 
do ciclo do ouro no Brasil.
1 A descoberta do ouro nas gerais
As três primeiras décadas do descobrimento ou achamento do 
Brasil, termo utilizado por pesquisadores para informar que 
os portugueses somente encontraram uma área já conheci-
da, foram motivadas pelo sonho de encontrar ouro nas terras 
além-mar, a exemplo do que ocorreu com os espanhóis nas 
Américas. Algo que, para os lusos, demorou praticamente dois 
séculos para acontecer depois de firmarem-se nestas terras.
O processo de colonização, desencadeado de fato em 
1530, teve como atividade econômica a extração do pau-
-brasil, que não foi um ciclo econômico propriamente dito 
(SCHILLING, 2010), e era utilizado como meio natural para 
produção de tinta vermelha que serviam para colorir as roupas 
e os tapetes da nobreza portuguesa na Europa.
Nos séculos XVI e XVII a região mais próspera da colônia 
era a nordeste, principalmente em virtude do açúcar, consi-
derado a principal atividade econômico-mercantil de Portu-
gal junto ao Brasil. Devido a isso, o litoral, era a área onde 
ocorriam as dinâmicas mais candentes, sendo localizada em 
Salvador e em capitanias próximas a riqueza produzida pelo 
156 História do Brasil Colônia
plantio e comercialização dos produtos que tinham por base 
a cana-de-açúcar. Movida pela mão de obra escravizada, 
primeiro a indígena, e depois a africana, esses trabalhadores 
eram considerados artigos de luxo, que eram trocados pelos 
manufaturados do açúcar. A monocultura, o latifúndio e a es-
cravização constituíram a sustentação desse sistema frágil, que 
com o tempo possibilitou o desenvolvimento da pecuária. En-
tretanto, a região interiorana do Brasil, continuava uma incóg-
nita devido ao descaso do Império.
As bandeiras foram importantes para a interiorização do 
território. No século XVII, expedições lançaram-se pelo sertão 
em busca de indígenas a serem escravizados e metais precio-
sos. Existiu uma forte relação entre os bandeirantes paulistas 
e a Coroa Portuguesa. Embora complexa, de um modo geral, 
a busca de metais preciosos, o apresamento de índios e a ex-
pansão territorial eram compatíveis com o interesse da Metró-
pole (FAUSTO, 2011, p.51). Os bandeirantes também reprimi-
ram populações e rebeliões contra o poder português, como 
a campanha liderada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho 
na destruição do Quilombo dos Palmares, entre 1690-1695.
Também em 1695, próximo às cidades de Sabará e Caeté, 
no Estado de Minas Gerais, mais precisamente no rio das Ve-
lhas, que as bandeiras de Borba Gato, Antônio Dias e Pascoal 
Moreira Cabral encontraram as primeiras descobertas do ouro 
(LOPEZ, 1981; FAUSTO, 2011).
O Padre Antonil, escritor do livro Cultura e Opulência do 
Brasil, apontou que um “mulato” acompanhante de uma ban-
deira paulista na região das Minas Gerais, conhecida como 
Capítulo 8 O Ouro e as Minas Gerais 157
Cerro do Tripuí, tenha sido o primeiro a localizar o metal na 
região (SCHILLING, 2004). Independentemente das informa-
ções é ponto comum que os bandeirantes protagonizaram a 
descoberta.
O ciclo do ouro favoreceu o povoamento do interior, já 
que deslocou o eixo histórico colonial do nordeste para o cen-
tro sul da colônia além de ter caracterizado uma economia 
mais flexível do que a açucareira que necessitava de vultosos 
recursos de seus participantes.
A economia mineradora possibilitou uma articulação en-
tre as regiões da Colônia, já que gado e os alimentos do 
nordeste e do sul, antes regionalizados, passaram, por meio 
do comércio, a ser realizados entre estes territórios. O que 
representou a formação do primeiro mercado interno colo-
nial. Pelotas, no Rio Grande do Sul, surgiu neste contexto, já 
que a produção do charque ocorreu em grande escala para 
abastecer as minas.
Para Schilling (2004, p.130), as consequências da des-
coberta do ouro no Brasil Colônia podem ser analisadas em 
três dimensões: a) o deslocamento da atividade econômica 
e político-administrativa para o eixo centro-sul do país; b) a 
fixação da população em outras regiões além do litoral e do 
sertão para o interior do país; e c) o surgimento do primeiro 
complexo urbano composto pelas vilas auríferas e diamantífe-
ras, diferente do que existia no nordeste.
Neste contexto, no século XVIII, sugiram as cidades de Ouro 
Preto, Sabará, Mariana, São João Del Rey e as capitanias de 
Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso (LOPEZ, 1981). Nestas 
158 História do Brasil Colônia
localidades, durante quarenta anos, foi encontrado ouro. Ini-
ciando literalmente “a corrida do ouro”.
2 A opulência e o fausto na região e as 
políticas administrativas da coroa
A notícia da descoberta do metal precioso no interior do Brasil 
foi considerado até então o maior manancial encontrado em 
todo o ocidente (SCHILLING, 2004, p.111). O ouro provocou 
uma leva imigratória de Portugal para o Brasil. Durante os 60 
primeiros anos do século XVIII, a corrida do ouro provocou, 
segundo Souza (2004, p. 42) a saída de aproximadamente 
600.000 pessoas de Portugalpara o Brasil, para desespero 
das autoridades. Em 1702, o governador geral do Brasil, D. 
Rodrigo Costa comunicou ao rei de Portugal que a situação 
tornava-se calamitosa.
Ressalta-se que o minério era considerado monopólio real. 
Os metais preciosos vieram aliviar a crise financeira de Portu-
gal em virtude do desequilíbrio da balança comercial entre o 
país e a Inglaterra. Segundo Boris Fausto (2011, p.53-54) por 
vários anos o ouro localizado no Brasil serviu para compensar 
os dividendos de Portugal com os ingleses.
O que ocorria por meio de um circuito triangular:
Uma parte ficou no Brasil, dando origem à relativa ri-
queza das minas; outra seguiu para Portugal, onde foi 
consumida no longo reinado de Dom João V (1706-
1750), em especial nos gastos da Corte e em obras, e 
Capítulo 8 O Ouro e as Minas Gerais 159
finalmente, via contrabando, ou indireta, foi parar em 
mãos britânicas, acelerando a acumulação da Inglater-
ra (FAUSTO, 2011, p.53).
A extração do ouro e diamantes deu origem à ampla inter-
venção regulamentadora da Coroa no Brasil. Em um primeiro 
momento, o minério era encontrado em minas superficiais e 
leitos de rios, mas no século XIX, a mineração passou a ser 
explorada por concessionárias e conglomerados norte- ameri-
canos e ingleses (LOPEZ, 1981, p.69).
Existiam duas formas de extração de ouro no século XVIII, 
por Lavras, quando realizada em regime empresarial, ou por 
ação de faiscadores (mineradores sem escravos), quando re-
alizado por iniciativa privada individual. Negociando direto 
com o faiscador, muitos escravizados puderam acumular valo-
res para negociar a sua liberdade para a compra de alforria.
Na região chegavam pessoas de todo o tipo, logicamente, 
influenciadas pela descoberta. Também, imaginem a quanti-
dade de ouro localizado? Muitos quiseram ajeitar definitiva-
mente suas vidas. Homens e mulheres, moços e velhos, pobres 
e ricos, nobres e plebeus, clérigos e religiosos. Na multidão 
também vinham “criminosos, vagabundos e malfeitores” (SAL-
VADOR, 1992, p. 14). A política da Coroa Portuguesa na re-
gião das minas, além de emitir passaporte para o trânsito de 
pessoas e facultar a vinda de homens de negócios, mercado-
res e comissários, constituiu em fixar a população em aldea-
mentos e o governador Antônio Albuquerque tratou de fundar 
vilas, das quais citam-se Mariana (1711), Vila Rica do Ouro 
Preto (1711) e Vila Real de Sabará (1711) (SCHILLING, 2004).
160 História do Brasil Colônia
Quanto ao controle econômico, de um modo geral, houve, 
conforme Boris Fausto (2011), duas formas: o quinto e a capi-
tação. Na primeira, a determinação da quinta parte de todos 
os metais extraídos devia ser do rei e na segunda, a capita-
ção, consistia em um imposto cobrado por cabeça de escra-
vo, maior de doze anos. Eram cobrados impostos de oficinas, 
lojas, hospedarias, matadouros etc. Outra forma de controle 
foi a do território, já que passou-se a estabelecer limites de en-
trada de pessoas à região das Minas, que teve como resultado 
a Guerra dos Emboabas, entre paulistas contra estrangeiros e 
baianos (1708-1709) (FAUSTO, 2011, p. 54).
Um episódio conhecido, porém, mais adiante em 1792, 
foi a Inconfidência Mineira, motivada pela insatisfação da co-
brança da “derrama”, imposto advindo da extração do ouro 
e que teve como destaque o alferes Joaquim José da Silva 
Xavier, o Tiradentes. Morto e esquartejado no dia 21 de abri 
de 1792.
Para Luiz Roberto Lopes:
No aspecto político, não poderíamos deixar de mencio-
nar que o ouro foi uma das causas da mudança da ca-
pital do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro (1763). 
Além disso, incentivou a política centralizadora da me-
trópole e favoreceu o absolutismo da família real dos 
Braganças, pois os Reis D. João V e D. José I puderam 
se tornar financeiramente independentes das cortes gra-
ças aos impostos cobrados no Brasil na época faustosa 
do (quinto) e da derrama, outro imposto da mineração 
(LOPEZ, 1981, p.70).
Capítulo 8 O Ouro e as Minas Gerais 161
Roberto Simonsen informa no livro História Econômica 
do Brasil que a produção do ouro no país atingiu cerca de 
50% do que o resto do mundo extraiu nos séculos XVI e XVIII 
(SCHILLING, 2004, p.120).
Quantidade de Ouro extraídas
Tabela 1
Período Quantidade em KG
1691-1700 15.000
1701-1720 55.000
1721-1740 177.000
1741-1760 292.000
1761-1780 207.000
1781-1800 109.000
Fonte: Roberto Simonsen (1969, p.237)
3 O desenvolvimento cultural do território
Com tanta riqueza, apesar da pobreza, as “Gerais” foram 
campos férteis para o surgimento de uma cultura reconhecida 
e qualificada. Em Ouro Preto surgiu dois nomes da arte barro-
ca: o mulato Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, filho de 
um construtor português e uma escrava, considerado o único 
gênio artístico do Brasil Colonial, cujas obras podem ser apre-
ciadas na Igreja de São Francisco de Assis e Nossa Senhora 
162 História do Brasil Colônia
do Carmo, e o Mestre Ataíde, pintor de abóbodas das mesmas 
igrejas. Na música se destacaram José Joaquim Emérico e o 
Padre José Maurício (FAUSTO, 2011; SCHILLING, 2004).
Em 1748, ocorreu a grande festa de efusão do Barroco: 
a festa do Áureo Trono Episcopal, para demonstrar a abun-
dância e a opulência do ouro, do minério mitológico. Uma 
das poucas coisas que fazia com que a sociedade deixasse o 
trabalho cotidiano para apreciar a rica procissão. No entanto, 
segundo os cronistas, nesse momento o ouro já estava em 
decadência.
O barroco mineiro predominou na construção das casas, 
palácios e igrejas, são consideradas na atualidade as maravi-
lhas dos tempos áureos. Contudo, a maior crítica feita a des-
coberta do ouro foi quanto ao seu desperdício. Gastou-se em 
escravos, oferendas religiosas, capelinhas e igrejas, mas não 
se investiu. O ouro não repercutiu em desenvolvimento de in-
dústrias, considerado por muitos como resultado do tratado de 
Methuen, além de outros fatores, que veremos adiante.
4 Os grupos sociais e o contexto aurífero
Historiadores confirmam que um traço marcante da sociedade 
da mineração foi o desenvolvimento de grupos intermediários 
e de classes ricas e pobres. Para Luiz Roberto Lopez (1981) isso 
ocorreu por dois motivos, um relacionada a própria condição 
da economia do ouro, que ao contrário do açúcar, não exigia 
altos investimentos para começar sua exploração, e outro foi 
Capítulo 8 O Ouro e as Minas Gerais 163
que o ouro, também diferente do açúcar, possibilitou um maior 
controle contra o contrabando, o que fez com que a Coroa 
criasse atividades administrativas para coibir o desvio.
Segundo Boris Fausto (2011), gente de toda condição 
afluiu para Minas Gerais. A partir da chegada dos paulistas, 
de seus escravos indígenas e de imigrantes de todo o Brasil. 
Assim, a sociedade das Gerais passou a ser constituída por 
mineradores, negociantes, advogados, padres, fazendeiros, 
artesãos, burocratas e militares. A vida social ficou concentra-
da nas cidades nas relações econômicas e nas festas comemo-
rativas. Na base da sociedade estavam os escravos.
O desenvolvimento da mineração atraiu um notável incre-
mento da atividade comercial resultante da convergência de 
produtos para os estabelecimentos comerciais fixos, como lojas 
e vendas, que comercializavam tecidos, instrumentos de traba-
lho, bebidas, comestíveis etc. (FIGUEIREDO, 1993, p. 40).
As vendas eram os locais preferidos pelos diversos segmen-
tos da população pobre que compunham a sociedade mineira, 
em busca de alimentos, instrumentos de trabalho, vestimentas 
e outros produtos como aguardente. Nesses espaços, negros 
refugiados em quilombos buscavam armas e pólvora (FIGUEI-
REDO, 1993, p. 45). Por isso a Coroa passou a intensificar o 
controle nas vendas. Contudo, outra atividade, essencialmente 
feminina, era o comércio ambulante,“as negras de tabuleiro”, 
que preocupavam o governador das Minas.
As negras vendiam quitutes e aguardente, o que motivava 
o desvio de ouro extraído por escravos, deixando de converter 
em volume de metal arrecadado pelo produtor e, consequen-
164 História do Brasil Colônia
temente, uma diminuição de sua contribuição para o quinto 
real (FIGUEIREDO, 1993, p. 61-62).
Como se vê, a sociedade do ouro não era feita somente 
de esplendor, mas de crises. O período inicial, a corrida do 
ouro se mostrou promissora. Entretanto, além da falta de or-
ganização e de carência na distribuição das riquezas, a falta 
de suporte de outras atividades gerou falta de alimentos e uma 
inflação que atingiu toda a Colônia (FAUSTO, 2011).
Conforme salientou Laura de Mello e Souza (2004), os 
anos de 1697, 1698 e 1700, 1701 foram os das maiores cri-
ses, os mineiros morriam à míngua, com a falta de alimentos 
e com a consequente inflação, já que milho, feijão, galinha, 
passaram a ser considerados artigos caros em virtude de sua 
necessidade. Cidades como Ribeirão do Carmo e da Serra do 
Ouro Preto tornaram-se desertos, a debandada destes locais 
foi geral. Minas Gerais, com toda a riqueza produzida pelo 
minério, tinha 70% da produção de ouro da Colônia, contudo, 
o sistema colonial, por meio do fisco, da tributação sobre o 
escravo e a partir da própria manutenção da escravaria, tor-
nava o saldo de toda a riqueza produzida negativa (SOUZA, 
2004, p. 47).
A sociedade mineira acabou por acumular riquezas cujos 
vestígios estão nas construções e nas obras de arte das cida-
des históricas. No entanto, essas riquezas geradas a partir das 
Minas ficaram nas mãos de poucos (FAUSTO, 2011, p.56), ge-
rando o que Souza (2004) denominou de um espaço privilegia-
do de desclassificação social de homens pobres, livres, indíge-
nas e escravizados, desmobilizados pelo trabalho compulsório.
Capítulo 8 O Ouro e as Minas Gerais 165
Na mineração, como de resto em qualquer atividade pri-
mordial da Colônia, a força de trabalho era basicamen-
te escrava, havendo, entretanto os interstícios ocupados 
pelo trabalho livre ou semilivre. Dificilmente o homem 
livre destituído de recursos vultosos poderia se manter 
como proprietário, sobretudo em Minas, região que, 
apesar de tida tradicionalmente como rica e democrá-
tica, apresentava possibilidades favoráveis apenas para 
um pequeno número de pessoas (SOUZA, 2004, p.99).
5 A decadência do ciclo do ouro no Brasil
No plano das relações internacionais o século XVIII foi marca-
do pela institucionalização da dependência de Portugal à In-
glaterra. Em 1703, por meio do Tratado de Methuen, nome do 
diplomata inglês que o obteve, a Inglaterra ficou responsável 
pela sustentação militar e diplomática da Colônia. Na Europa, 
era conflagrada a guerra de sucessão da Espanha. Em troca 
os lusos abririam os portos aos produtos manufaturados bri-
tânicos. A partir disso Portugal passou a ter déficit na balança 
comercial com a Inglaterra, com prejuízos a sua potencialida-
de interna de industrialização no Brasil (LOPEZ, 1981).
Na busca pela ampliação de mercados, os ingleses foram 
impondo ao mundo o livre comércio e ao abandono dos prin-
cípios mercantilistas, ao mesmo tempo tratavam de proteger 
o seu mercado e de suas colônias com tarifas mercantilistas 
e abriram cada vez mais a brechas com acordos comerciais, 
como o de Methuen. O mundo colonial também foi afeta-
166 História do Brasil Colônia
do pela extinção da escravidão, manifestada pela Inglaterra e 
França (FAUSTO, 2011, p. 59).
As medidas de José de Carvalho Melo, Marquês do Pom-
bal, representou o esforço para tornar eficaz a administração 
portuguesa, ante o difícil contexto (1750-1777) em que, inter-
namente, o ouro começou a arrefecer. Assim, passou a preva-
lecer aquela velha máxima: “tudo que é bom acaba”.
Nas Gerais, conforme rareava o ouro, os mineradores se 
viam impossibilitados de suportar o ônus da manutenção da 
escravaria. A máquina, em decorrência desse estado de coi-
sas, compulsoriamente, sucateava-se (SOUZA, 2004, p.48).
Recapitulando
Neste Capítulo foi abordada a importância do ouro para a 
compreensão da formação cultural, social, política e econô-
mica do Brasil entre os séculos XVII, XVIII e XIX. As bandeiras 
foram importantes para a interiorização do território. No sé-
culo XVII, expedições lançaram-se pelo sertão em busca de 
indígenas a serem escravizados e metais preciosos. A notícia 
da descoberta do metal precioso no interior do Brasil foi con-
siderado até então o maior manancial encontrado em todo o 
ocidente. O ciclo do ouro favoreceu o povoamento do interior, 
já que deslocou o eixo histórico colonial do nordeste para o 
centro sul da colônia além de ter caracterizado uma economia 
mais flexível do que a açucareira que necessitava de vultosos 
recursos de seus participantes. No entanto, a grande procura 
motivou o controle da Coroa, tanto no trânsito de pessoas ao 
Capítulo 8 O Ouro e as Minas Gerais 167
território quanto ao controle econômico, de um modo geral, 
houve, conforme Boris Fausto (2011), duas formas de impos-
tos: o quinto e a capitação.
As consequências da descoberta do ouro no Brasil Colônia 
podem ser analisadas em três dimensões: a) o deslocamento 
da atividade econômica e político-administrativa para o eixo 
centro-sul do país; b) a fixação da população em outras regi-
ões além do litoral e do sertão para o interior do país; e c) o 
surgimento do primeiro complexo urbano composto pelas vilas 
auríferas e diamantíferas, diferente do que existia no nordeste.
A produção do ouro no país alcançou cerca de 50% do que 
o resto do mundo. Com tanta riqueza, apesar da pobreza, as 
“Gerais” foram campos férteis para o surgimento de uma cultu-
ra reconhecida e qualificada. Em Ouro Preto surgiram dois no-
mes da arte barroca: o mulato Antônio Francisco Lisboa, o Alei-
jadinho, e o Mestre Ataíde. O desenvolvimento da mineração 
atraiu um notável incremento da atividade comercial resultante 
da convergência de produtos para os estabelecimentos comer-
ciais fixos, como lojas e vendas além das “negras de tabuleiro”, 
que tencionaram as relações econômicas. Nas Gerais, confor-
me rareava o ouro, os mineradores se viam impossibilitados de 
suportar o ônus da manutenção da escravaria.
Referências
SCHILLING, Voltaire. Um olhar sobre a história da eco-
nomia do Brasil. Povoamento e civilização movidos a 
168 História do Brasil Colônia
pau-brasil, cana e ouro. Porto Alegre: Duetto/Rimoli As-
sociados, 2010.
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: Edusp, 
2011.
LOPES, Luiz Roberto. História do Brasil Colonial. Porto Ale-
gre: Mercado Aberto, 1981.
SOUZA, Laura de Mello e. Nas redes do poder. In: Desclas-
sificados do ouro, Rio de Janeiro: Graal, 2004.
FIGUEIREDO, Luciano. O avesso da memória: cotidiano e 
trabalho da mulher em Minas Gerais do século XVIII. Bra-
sília: EDUMB, 1993.
Salvador, José Gonçalves. Os Cristãos-Novos Em Minas Ge-
rais Durante O Ciclo Do Ouro, 1695-1755: Relações 
Com a Inglaterra. São Paulo: Pioneira, 1992. 
Atividades
 1) Assinalar (V) para as assertivas verdadeiras e (F) para as 
falsas.
a) ( ) Nos séculos XVI e XVII a região mais próspera da 
colônia era a nordeste, principalmente em virtude do 
açúcar, considerado a principal atividade econômico-
-mercantil de Portugal junto ao Brasil.
b) ( ) As bandeiras foram importantes para a interiorização 
do território. No século XVII, expedições lançaram-se 
Capítulo 8 O Ouro e as Minas Gerais 169
pelo sertão em busca de indígenas a serem escraviza-
dos e metais preciosos.
c) ( ) As bandeiras foram importantes para a interiorização 
do território. No século XVII, expedições lançaram-se 
pelo sertão em busca de africanos a serem escraviza-
dos e metais preciosos.
d) ( ) O ciclodo ouro favoreceu o povoamento do interior, 
já que deslocou o eixo histórico colonial do nordeste 
para o centro sul da colônia além de ter caracterizado 
uma economia mais flexível do que a açucareira que 
necessitava de vultosos recursos de seus participantes.
e) ( ) O ciclo do ouro favoreceu o povoamento do litoral, 
já que deslocou o eixo histórico colonial do nordeste 
para o centro sul da colônia além de ter caracterizado 
uma economia mais flexível do que a açucareira que 
necessitava de vultosos recursos de seus participantes.
 2) Assinalar (V) para as assertivas verdadeiras e (F) para as 
falsas.
As consequências da descoberta do ouro no Brasil Colônia 
podem ser analisadas em três dimensões:
a) ( ) a. o deslocamento da atividade econômica e polí-
tico-administrativa para o eixo centro-sul do país; b. 
a fixação da população em outras regiões além do 
litoral e do sertão para o interior do país; e c. o surgi-
mento do primeiro complexo urbano composto pelas 
vilas auríferas e diamantíferas, diferente do que existia 
no nordeste.
170 História do Brasil Colônia
b) ( ) a. o deslocamento da atividade econômica e políti-
co-administrativa para o eixo centro-sul do país; b. a 
fixação da população em outras regiões além do lito-
ral e do sertão para o interior do país; e c. o surgimen-
to da industrialização no Brasil aos moldes ingleses.
c) ( ) O ouro atraiu as Minas Gerais, homens e mulheres, 
moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, clé-
rigos e religiosos. Na multidão também vinham “crimi-
nosos, vagabundos e malfeitores”.
d) ( ) O ouro no país atingiu cerca de 50% do que o resto 
do mundo extraiu nos séculos XVI e XVIII.
e) ( ) Os negros e os grupos indígenas tornaram-se os 
maiores mineradores das Minas Gerais, o que possibi-
litou a compra de alforrias e o final da escravidão.
 3) A partir dos estudos desenvolvidos neste Capítulo, marque 
(X) somente nas assertivas verdadeiras.
a) ( ) Historiadores confirmam que um traço marcante 
da sociedade da mineração foi o desenvolvimento de 
grupos intermediários e de classes ricas e pobres.
b) ( ) As negras vendiam quitutes e aguardente, o que 
motivava o desvio de ouro extraído por escravos.
c) ( ) Minas Gerais com toda a riqueza produzida pelo 
minério tinha 70% da produção de ouro da Colônia, 
contudo, o sistema colonial por meio do fisco, da tri-
butação sobre o escravo e a partir da própria manu-
Capítulo 8 O Ouro e as Minas Gerais 171
tenção da escravaria, tornava o saldo de toda a rique-
za produzida negativa.
d) ( ) Os grupos sociais se organizaram e começaram a 
controlar a riqueza, principalmente os religiosos.
e) ( ) A sociedade mineira acabou por acumular riquezas 
cujos vestígios estão nas construções e nas obras de 
arte das cidades históricas.
 4) Assinalar (V) para as assertivas verdadeiras e (F) para as 
falsas.
Os grupos envolvidos nas revoltas foram:
a) ( ) Os anos de 1697, 1698 e 1700, 1701 foram os das 
maiores crises, os mineiros morriam à míngua, com a 
falta de alimentos e com a consequente inflação.
b) ( ) Os anos de 1697, 1698 e 1700, 1701 foram os 
mais prósperos em virtude da autonomia dos mineiros 
na coleta e comercialização do ouro.
c) ( ) Em 1703, por meio do Tratado de Methuen, Portu-
gal passou a coordenar os negócios à frente da Ingla-
terra.
d) ( ) Na busca pela ampliação de mercados, os ingleses 
foram impondo ao mundo o livre comércio e ao aban-
dono dos princípios mercantilistas, ao mesmo tempo 
trataram de proteger o seu mercado.
e) ( ) Na busca pela ampliação de mercados, os ingleses 
foram impondo o fechamento dos mercados e portos.
172 História do Brasil Colônia
 5) Leia com atenção o que se pede e marque apenas duas 
alternativas como verdadeiras:
a) ( ) A sociedade do ouro não era feita somente de es-
plendor, mas de crises. O período inicial, a corrida 
do ouro se mostrou promissora. No entanto, além da 
falta de organização e de carência na distribuição das 
riquezas gerou falta de alimentos.
b) ( ) Nas vendas, muitos negros refugiados em quilom-
bos buscavam armas e pólvora.
c) ( ) Na sociedade de Minas Gerais a prosperidade rei-
nou, pois tinha muito ouro, não existindo crises.
d) ( ) À medida que o ouro diminuía a Coroa Portuguesa 
liberava as populações do pagamento de impostos.
Gabarito
1) a, b, d: verdadeiras; c, e: falsas
2) a, c, d: verdadeiras; b, e: falsas
3) a, b, c, e
4) b, c, e: falsas; a, d: verdadeiras
5) a, b
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Capítulo ?
As Revoltas Coloniais1
1 Doutor em História pelo PPGH-PUCRS, professor de História da FAPA – Faculda-
de Porto Alegrense e do Ensino Básico (Fundamental: séries finais e ensino médio) 
do Estado do Rio Grande do Sul. 
Arilson dos Santos Gomes1
Capítulo 9
174 História do Brasil Colônia
Apresentação
Neste capitulo serão demonstradas as principais revoltas do 
período colonial brasileiro.
Diante disso, o Capítulo tem por seguintes objetivos: ana-
lisar as principais causas das revoltas estudadas; demonstrar 
as tensões entre os grupos sociais brasileiros; evidenciar os 
indivíduos que lideraram destacadas rebeliões do período; es-
tabelecer relações entre o poder colonial e a sociedade da 
época; interpretar os resultados das revoltas.
No Capítulo, o acadêmico desenvolverá as seguintes habi-
lidades: compreender a origem das tensões existentes no Brasil 
colonial entre 1640 e 1720; entender as diferentes deman-
das dos grupos sociais na colônia brasileira; perceber o pro-
tagonismo dos diferentes grupos e indivíduos em momentos 
de pressão e de disputas pelo poder político e econômico de 
determinadas regiões do país.
Neste Capítulo, pretende-se que o aluno consiga compre-
ender as dinâmicas sociais e políticas das revoltas do Brasil 
colonial.
Introdução
No século XVI e XVII, Portugal passou a intensificar a explora-
ção em sua rica colônia. Era uma necessidade de expansão de 
lucros, de comércio e de consumo, características efetuadas 
nas colônias de exploração, como foi o caso do Brasil.
Capítulo 9 As Revoltas Coloniais 175
O açúcar foi o primeiro produto deste modelo colonial, com 
técnica de extração sem grandes tecnologias, o gênero tropi-
cal comum as grandes propriedades, era exportado à Europa. 
O capital inicial da estrutura colonial de produção (plantation) 
era holandês. Esse pequeno país com populações flamengas 
foi o credor da iniciativa portuguesa. Ou seja, os maiores acu-
muladores da extração do açúcar brasileiro eram estrangeiros. 
Uma parte do lucro era de Portugal e outra, maior, ia parar nas 
mãos dos investidores holandeses (SANTOS, 1979).
A força motriz do empreendimento era baseada na mão 
de obra escrava, que em conjunto com a grande propriedade, 
possibilitava aos produtores altos lucros, em que pese toda a 
resistência das comunidades africanas e indígenas sob aquela 
condição. Muitos portugueses e europeus em geral vieram para 
o Brasil no intuito de enriquecer, tornarem-se senhores de seus 
negócios. Uns atravessaram o oceano para serem explorados 
enquanto outros para enriquecerem. Alguns tinham perspectivas 
de lucros e outros tinham perspectivas do desconhecido, porém 
com reconhecidas perdas. Uns para investir dinheiro e outros 
grupos marcados pelo estigma, para servir de mola propulsora 
do incipiente capitalismo. Os próprios holandeses não contentes 
tentaram se apropriar das terras produtoras de açúcar da Bahia 
(1624) e de Pernambuco (1630), em episódios conhecidos como 
“as invasões holandesas”. Em Pernambuco, definitivamente, der-
rotados na batalha de Guararapes ocorrida em (1648-1654).
Com a descoberta do ouro, no século XVII e XVIII, tem-
-se outro ciclo. Contudo, as relações dos portugueses com a 
colônia passou a ser mais direta, sem atravessadores. O que 
desencadeou uma séria de mudanças na forma de a Coroa176 História do Brasil Colônia
Portuguesa explorar o Brasil, inclusive, com a criação de apa-
rato administrativo direto, no intuito de controlar ao máximo 
a produção por meio de impostos e pelo uso da força. Assim 
como o que ocorreu com o açúcar, por meio dos flamengos, 
ocorreu com o ouro, por meio dos ingleses. Em virtude de con-
tratos mal formulados, os portugueses passariam a depender 
cada vez mais dos capitais ingleses. Segundo demonstrado no 
Capítulo do “Ouro e as Minas Gerais”, grande parte dos lu-
cros do ouro brasileiro encheram os cofres ingleses.
Estas relações gerariam tensões constantes entre as grandes 
potências da época, mas principalmente tensões internas entre 
os grupos que compunham a sociedade no Brasil colonial.
No entanto, quais foram as principais revoltas entre o final 
do século XVII e início do século XVIII? Quais os motivos gera-
dores de cada revolta? Como os grupos se organizavam? O 
que queriam e quais foram os resultados destas rebeliões para 
os grupos e indivíduos envolvidos?
Para a resposta destas questões, o Capítulo será dividido a 
partir dos seguintes itens:
A Aclamação de Amador Bueno, a revolta de Beckmann, 
a guerra dos emboabas, a guerra dos Mascates e a revolta de 
Vila Rica.
1 Aclamação de amador Bueno
Amador Bueno Ribeira (1584-1649) faleceu em São Paulo. 
Espanhol, tomou posse como ouvidor-mor da Capitania de 
Capítulo 9 As Revoltas Coloniais 177
São Vicente em 1627. No ano de 1633 foi nomeado provedor 
e contador da fazenda. Teve muitos conflitos com os bandei-
rantes na pessoa de Raposo Tavares, mas uniu-se aos bandei-
rantes contra os jesuítas que queriam o fim da escravização 
indígena (FLORES, 2008, p.108). A Aclamação de Amador 
Bueno aconteceu em 1641 na futura vila de São Paulo, e foi, 
segundo a história tradicional, a primeira ação consciente re-
alizada no Brasil Colônia reivindicando autonomia diante de 
Portugal metrópole.
Aclamação de Amador Bueno
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5e/Oscar_Pereira_da_Silva_-_1931_-
_Aclama%C3%A7%C3%A3o_de_Amador_Bueno.jpg
Na realidade, o evento serviu apenas para demonstrar o 
descontentamento de alguns colonos ricos com a dominação 
178 História do Brasil Colônia
portuguesa marcada pela tumultuada relação entre Portugal e 
Espanha. Amador Bueno, que era de origem espanhola, ga-
nhou destaque por ter se envolvido diretamente na defesa de 
proprietários brasileiros contra os interesses portugueses, na 
questão de quem teria mais direitos na exploração do território 
nacional, se portugueses ou espanhóis, em um contexto re-
cente da interrupção da união das coroas ibéricas, em 1640.
Com a restauração do trono português, sob a figura de 
D. João VI, colonos portugueses ficaram satisfeitos de suas 
demandas no Brasil, principalmente as autoridades locais da 
Colônia (SANTOS, 2006, p. 44). Em contrapartida, desagra-
dou aos interesses das elites de São Paulo. Esta insatisfação 
levou os proprietários a aclamar Amador Bueno como o rei da 
vila, que prontamente recusou o convite e prestou na Câmara 
juramento a favor do rei de Portugal, com isto enfraquecendo 
o movimento. No entanto, a insatisfação dos brasileiros foi 
tamanha que Amador Bueno teve que se refugiar junto a um 
convento no interior de São Paulo. Seria a manutenção de 
seus privilégios a principal causa da recusa de Amador Bueno 
de tornar-se líder da resistência local contra a coroa de Portu-
gal? Seria esta atitude uma forma de evitar um conflito entre 
os brasileiros e os portugueses? O fato foi que os paulistas 
acabaram por aceitar a subordinação a Portugal. Após esta 
aclamação, lembrada como um dos mais longos registros his-
tóricos das tensões existentes entre grupos residentes no país 
contra interesses da metrópole.
Capítulo 9 As Revoltas Coloniais 179
2 A revolta de Beckmann
Manuel Beckmann e seu irmão Tomás Beckmann chefiaram 
uma rebelião contra o governo colonial em São Luiz do Mara-
nhão, em 25 de fevereiro de 1684. Representantes dos senho-
res de engenho rebelaram-se contra as relações desiguais en-
tre os interesses econômicos das elites maranhenses contra os 
interesses da Coroa Portuguesa, representadas no Brasil pela 
Companhia de Comércio do Maranhão.
Manoel e Tomás, em conjunto com outros senhores de 
engenho, prenderam o capitão-mor Baltasar Fernandes, ocu-
param um depósito da Cia do Maranhão e encarceraram os 
jesuítas no seu próprio colégio.
Conforme Joel Rufino dos Santos (1979, p. 61), na noite 
do dia 24 de fevereiro de 1684, os rebeldes prenderam o 
governador, em seguida, os rebeldes se dirigiram ao colégio 
dos jesuítas, derrubaram o portão, violaram celas, injuriaram 
padres e profanaram o oratório. Foram, depois aos armazéns 
da Cia Geral de Comércio do Maranhão, saquearam e des-
truíram tudo.
Em seguida, Manoel Beckmann, que conhecia livros de 
cunho liberal, criou um governo com membros do povo, do 
clero e da nobreza. Existia o cargo de procuradores do povo, 
que ouviam reclamações (CHIAVENATO, 2007, p.20). O 
membro do povo eram pessoas com posses.
180 História do Brasil Colônia
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-88IJW4vlg3k/UBKIMq893dI/AAAAAAAAB8E/aCQc1G9Q5qI/s1600/end.jpg
Para Chiavenato (2007), na raiz desta rebelião estava à 
falta da mão de obra. Poucos negros chegavam ao Maranhão, 
e os índios não podiam ser escravizados em virtude da “pro-
teção” dos jesuítas. Sabe-se que esta “proteção” legou quase 
à extinção dos grupos indígenas. Todavia, seriam necessários 
mais negros para abastecer os interesses das elites e de Beck-
mann.
Visando atenuar o problema Lisboa chegou a prometer 
o envio de navios negreiros para abastecer os reclamantes e 
manter uma relação mais igual entre os interesses da Compa-
nhia do Maranhão e os produtores locais, que eram constan-
temente roubados na relação de troca entre os seus produtos 
Capítulo 9 As Revoltas Coloniais 181
locais e os produtos importados, que eram de responsabilida-
des da Companhia.
Com a falta de indígenas e africanos e a falta de uma re-
lação econômica harmoniosa, na troca de seus produtos pe-
las mercadorias importadas, restou aos senhores de engenho 
violentamente reivindicar. Todavia, o sucesso e a rapidez da 
vitória de Beckmann foram pela insatisfação geral dos pro-
prietários da terra contra a exploração que sofriam. Visando 
enfraquecer o movimento, o governador do Maranhão, Sá de 
Meneses, tentou subornar Beckmann, o que foi inviável, já que 
defender os interesses da elite local seria, certamente, mais 
rentável a todos os enganchados no movimento. Até porque 
se Beckmann aceitasse o suborno, como ele viveria diante dos 
olhos das insatisfações das elites?
A reação da metrópole tardou um ano, mas foi dura (SAN-
TOS, 1979). A Coroa Portuguesa venceu a revolta com duas 
ações. Primeiro destituiu o governador Sá de Meneses por Go-
mes Freire de Andrade e acabou com o monopólio da Compa-
nhia de Comércio do Maranhão. Isso enfraqueceu Beckmann 
e o movimento. Beckmann acabou sendo traído por seu filho 
adotivo e enforcado no dia 2 de novembro de 1686 (CHIAVE-
NATO, 2007, p. 22). Tomas Beckmann também foi enforcado. 
A principal causa da guerra era a liberdade comercial obtida 
com o fechamento da Companhia Comercial e a manutenção 
da escravaria por posse das elites maranhenses.
182 História do Brasil Colônia
3 A guerra dos emboabas
Em pleno boom da descoberta do ouro no Brasil, tem-se mais 
um episódio das revoltas da época colonial, denominado de 
guerra dos emboabas. Emboaba significa alguém de fora, es-
trangeiro, forasteiros.
A recente descoberta do ouro na atual região de Minas 
Gerais, no final do século XVII, atraiu milhares de pessoas em 
busca do metal precioso. Homens, mulheres, pobres, aventu-
reiros etc. Todos queriam se estabelecer nas Minas.
Entre os gruposque adentraram o território para explorar 
o minério estavam os nordestinos, os bandeirantes, os pau-
listas e, obviamente, os estrangeiros. Isso porque o Brasil era 
um território vasto e inóspito, ocupado basicamente em faixas 
litorâneas, constituindo seu interior como um local ao mesmo 
tempo rico de recursos naturais para exploração. Cientes des-
ta situação, grupos beligerantes e ávidos em fazer fortuna do 
ouro passaram a disputar os espaços das gerais. Por isso, em 
1702, como se viu no capítulo específico sobre o ouro, o go-
vernador geral do Brasil, D. Rodrigo Costa, comunicou ao rei 
de Portugal que a situação tornava-se calamitosa.
As bandeiras paulistas foram utilizadas pela Coroa Portu-
guesa para a interiorização do território. Embora complexa, 
de um modo geral, a busca de metais preciosos e a expan-
são territorial eram compatíveis com o interesse da Metrópole 
(FAUSTO, 2011, p. 51).
No entanto, com medo de ver esvaindo o metal, a extração 
do ouro e diamantes, deu origem à ampla intervenção regu-
lamentadora da Coroa no Brasil. Entre estes, estão o controle 
Capítulo 9 As Revoltas Coloniais 183
da imigração para a região e o aumento de impostos. Como 
se defenderam os bandeirantes paulistas? Os paulistas defen-
dem-se sonegando os impostos e contrabandeando ouro.
No ano de 1664 os bandeirantes teriam que pagar, por 
descoberta, um quinto de impostos à Coroa Portuguesa. Con-
forme aumentaram as descobertas, mais impostos passaram a 
incidir sobre o ouro localizado pelos bandeirantes.
Em 1702, o governador Silveira e Albuquerque decretou 
uma lei que tentava impedir os acessos as Minas Gerais. Fato 
que causou mais irritação contra o governo português, que 
pretendia levar o ouro em grandes quantidades para Portugal.
Com isso, os bandeirantes abandonaram as minas, pois a 
fome passou a imperar, contudo, os caminhos abertos eram 
cobiçados pelos emboabas, os de fora e os forasteiros. Surgi-
ram conflitos entre os grupos interessados pelo precioso metal.
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-b13Y-I-
CfAY/UZu9SNqFptI/AAAAAAAACW8/5AyycB62cns/s1600/BANDEIRANTE+E+OS+INDIOS++CA%C3%87ADA+(1).jpg
184 História do Brasil Colônia
A guerra iniciou de fato com o cerco da vila de Sabará 
pelos emboabas, que, com maior contingente e melhores ar-
mamentos, enfrentaram os bandeirantes e venceram. A guerra 
durou dois anos (1708-1710), com milhares de mortos.
O confronte derradeiro foi em Capão, conhecido como 
Capão da Traição, pois os emboabas prometeram poupar a 
vida dos bandeirantes que entregassem as armas, o que não 
ocorreu, já que houve um massacre com cerca de 300 mortos 
(CHIAVENATO, 2007, p. 23; FLORES, 2008, p. 211).
Para o governo português não importavam os vencedores 
ou os derrotados, mas sim, o seu lado: a manutenção do ouro. 
Após o conflito, o governo português intensificou o controle e 
qualificou sua administração nas gerais, criando a capitania 
das Minas do Ouro separada do Rio de Janeiro (CHIAVENATO, 
2007). Outro resultado foi a criação da capitania de São Paulo.
A disputa pelo ouro possibilitou as causas desta guerra que 
como resultado teve uma maior atenção da Coroa Portuguesa a 
sua mais rica colônia de exploração localizada no novo mundo.
Nesse contexto foi criado o cargo de Juiz de Fora, magis-
trado do distrito que teve seu regimento em 1709, sua fun-
ção era proceder contra os que cometiam crime no município 
(FLORES, 2008, p. 330).
4 A guerra dos mascates
Esta guerra foi deflagrada em virtude da guerra comercial en-
tre proprietários abrasileirados e brasileiros contra a expansão 
Capítulo 9 As Revoltas Coloniais 185
econômica e financeira dos comerciantes portugueses. No fi-
nal do século XVII com a crise do açúcar e o aumento pela 
procura do ouro e, superadas as invasões holandesas (1654), 
surgiram novos grupos na elite local. A cidade de Olinda pas-
sou a ser sede política. Sobretudo, com espírito comercial na-
tivo. A tensão entre os comerciantes que vivam no Brasil e os 
comerciantes portugueses, patrocinados pela Coroa Portugue-
sa, passou a ser generalizada.
Para Chiavenato (2007), a causa aparente desta guerra foi 
o desejo dos portugueses de fazer de Recife a capital da pro-
víncia, em lugar de Olinda. Os comerciantes de Olinda revol-
taram-se e apelaram às armas. Foi isso? Acredita-se que não.
Fonte: http://www.brasilescola.com/upload/conteudo/images/a0f57f379b9323d6e31617f1e77758e2.jpg
186 História do Brasil Colônia
É nítido que existiu uma tomada de consciência dos co-
merciantes locais em usufruir do seu território de origem e 
não mais viver a mercê dos comerciantes estrangeiros. Santos 
(2009, p. 62), diz que Olinda era uma cidade bela com arqui-
tetura clássica, era uma vila estruturada com pelourinho (poste 
de madeira, erguido na praça central para tortura pública de 
escravos e criminosos) e tinha uma Câmara Municipal.
Recife, ao contrário, era cinzenta e baixa. No entanto, era 
Recife que servia de moradia para comerciantes (mascates), 
oriundos de Portugal e do estrangeiro. Esta cidade também 
quis ter seu pelourinho e sua câmara, e o rei português conce-
deu. Com isso os comerciantes e fazendeiros de Olinda der-
rubaram o governador e se dirigiram a cidade para derrubar 
o poste do pelourinho. Era o estopim da crise. A luta entre 
os mascates portugueses e os senhores de terras da região 
intensificaram-se.
Outro motivo para esta crise, entre elites locais e estrangei-
ras estavam, segundo alguns historiadores, relacionadas dire-
tamente à crise do açúcar, já que muitos senhores de engenho 
pediam empréstimos, justamente, para os mascates, correndo 
riscos de perder seu patrimônio que muitas vezes era penho-
rado. Quanto aos mascates, estes cobravam altos juros nas 
negociações. Os mascates tinham poder econômico, mas não 
poder político, o que lhe daria vantagem nas cobranças judi-
ciais. Para preservar suas posses os proprietários brasileiros 
fizeram a guerra contra os mascates.
Os mascates estrangeiros venceram os latifundiários locais, 
porém, por meio de um acordo entre estes e a Coroa Portu-
Capítulo 9 As Revoltas Coloniais 187
guesa, fez com que nenhuma propriedade fosse confiscada 
por falta de pagamento, mantendo os privilégios. Contudo, 
o centro do poder mudou de Olinda para Recife, como que-
riam os mascates. E as elites, mesmo divergentes, mantiveram 
suas posses, representadas pelos seus latifúndios e sua mão de 
obra escravizada.
Para Joel Rufino dos Santos (1979, p. 62), tratou-se de 
uma luta de senhores de engenho contra a Metrópole, com um 
espírito nacionalista, já que Bernardo Vieira de Melo, fazen-
deiro de Olinda, teria dito, pelos nossos interesses: “Sejamos 
Brasileiros!”. No entanto, para Chiavenato (2007, p. 26), Ber-
nardo Vieira de Melo apelava sim para a república como um 
meio para preservar o latifúndio e o regime servil.
5 A revolta de Vila Rica
Em 1720, um homem chamado Felipe dos Santos, um em-
boaba, revoltou-se oito dias depois de instalação da Casa de 
Fundição. Nesta repartição todo o ouro da capitania devia ser 
fundido e quitado – isto é, deduzido dele um 1/5 de imposto 
(SANTOS, 1979). Ele se dirigiu a casa do governador, D. Pe-
dro de Almeida Portugal, instalada em Vila Rica, para cobrar 
satisfações. Não precisou de aparato policial para acabar com 
a sedição, pois se conseguiu localizar um representante da 
insatisfação, Felipe.
188 História do Brasil Colônia
Fonte: http://www.jornallivre.com.br/images_enviadas/o-que-foi-a-guerra-dos-mascate.jpg
D. Pedro mandou enforcar Felipe e que o esquartejassem 
em praça publica, amarrando seus braços e pernas em quatro 
cavalos que partiram em direções opostas (SANTOS, 1979).
Castro (2008) refletiu sobre a revolta que teve como úni-
co condenado Felipe. Segundo ele, “Felipe dos Santos, par-
ticipante da Revolta de VilaRica, foi o único dos envolvidos 
na sedição que foi condenado a morte, assim como ocorreu 
com Tiradentes na Inconfidência Mineira. No entanto, nunca 
teve a mesma importância na historiografia brasileira do que o 
personagem da Inconfidência Mineira”. É possível estabelecer 
algumas hipóteses que justificariam isso.
Para Castro (2008), Felipe dos Santos não é lembrado 
como importante para o nacionalismo brasileiro por dois mo-
Capítulo 9 As Revoltas Coloniais 189
tivos, em primeiro lugar Felipe dos Santos era português, nas-
cido em Cascais, enquanto Tiradentes era nascido na Colônia, 
mais precisamente na cidade de São José del Rey, hoje Tira-
dentes. Felipe migrou para a Colônia em 1713 deixando a sua 
esposa, Thereza Maria Caetana, em Portugal e em Vila Rica 
atuou como muladeiro, ou seja, transportador de animais de 
carga, a serviço de Pascoal da Silva, um dos mais importantes 
homens envolvidos na revolta. O ofício exercido por Felipe dos 
Santos aparece, portanto, como uma segunda questão para 
reforçar o porquê da sua figura ter sido relegada a uma expo-
sição menor que a de Tiradentes, que desempenhou serviços 
militares.
Portanto, desta revolta de Vila Rica fica a indagação: se 
Felipe dos Santos era português e carregava mulas, tem-se na 
sua figura elementos para pensar o quanto a insatisfação con-
tra o governo metropolitano português atingiu amplos setores 
sociais, já que Felipe, um carregador de mulas, foi considera-
do tão perigoso que sua morte pode ser pensada com o ca-
rácter pedagógico para todos que ousassem desafiar a Coroa. 
A partir disto, entende-se que muitos atores preocuparam o 
poder colonial.
Concorda-se com Luiz Roberto Lopes (1981, p. 73-74), 
quando menciona que nenhum desses movimentos teve qual-
quer objetivo nacional, eram de perspectivas locais, imediatis-
tas e regionais, sem projetos políticos consistentes. Devemos 
analisar estas rebeliões com suas especificidades, isoladas. 
Contudo, demostram as contradições forjadas no decorrer da 
existência colonial do Brasil.
190 História do Brasil Colônia
Recapitulando
A Aclamação de Amador Bueno, segundo a história tradicio-
nal, foi a primeira ação consciente realizada no Brasil Co-
lônia reivindicando autonomia diante de Portugal metrópo-
le. Na realidade, o evento serviu apenas para demonstrar o 
descontentamento de alguns colonos ricos com a dominação 
portuguesa marcada pela tumultuada relação entre Portugal 
e Espanha. Amador Bueno foi aclamado como o rei da vila 
de Vicente, mas prontamente recusou o convite e prestou na 
Câmara juramento a favor do rei de Portugal, com isto enfra-
quecendo o movimento. A Revolta de Manuel Beckmann e de 
seu irmão Tomás Beckmann era contra o governo colonial em 
São Luiz do Maranhão, e eclodiu no dia 25 de fevereiro de 
1684. Com a falta de indígenas e africanos e a falta de uma 
relação econômica harmoniosa, na troca de seus produtos pe-
las mercadorias importadas, restou aos senhores de engenho 
violentamente reivindicar. Os líderes foram enforcados e a Co-
roa portuguesa se viu obrigada a fechar a Cia Comercial e a 
manutenção da escravaria por posse das elites maranhenses.
A guerra dos emboabas foi motivada pela pressão exercida 
aos bandeirantes. No ano de 1664 os bandeirantes teriam que 
pagar, por descoberta, um quinto de impostos à Coroa Portu-
guesa. Conforme aumentaram as descobertas, mais impostos 
passaram a incidir sobre o ouro localizado pelos bandeirantes. 
Eles passaram fome e saíram das minas, porém os forasteiros 
passaram a ocupar os caminhos descobertos pelos bandei-
rantes. A guerra iniciou de fato com o cerco da vila de Sabará 
pelos emboabas, que, com maior contingente e melhores ar-
Capítulo 9 As Revoltas Coloniais 191
mamentos, enfrentaram os bandeirantes e venceram. A guerra 
durou dois anos (1708-1710), com milhares de mortos. Como 
resultado o governo português intensificou o controle em sua 
Colônia mais rica.
A guerra dos Mascates foi deflagrada em virtude da guerra 
comercial entre proprietários abrasileirados e brasileiros con-
tra a expansão econômica e financeira dos comerciantes por-
tugueses. Os mascates estrangeiros venceram os latifundiários 
locais, porém, por meio de um acordo entre estes e a Coroa 
Portuguesa, fez com que nenhuma propriedade fosse confisca-
da por falta de pagamento, mantendo os privilégios.
A revolta de Vila Rica, em 1720, teve como protagonista, 
um homem chamado Felipe dos Santos, um emboaba que se 
revoltou oito dias depois de instalação da Casa de Fundição. 
Esta insatisfação faz perceber-se o descontentamento de mui-
tos setores ao monopólio colonial. As características das revol-
tas até aqui são regionais e desarticuladas.
Referências
CASTRO, João Henrique Ferreira de. Do despertar do sen-
timento nacional à importância das redes de sociabi-
lidade: balanço sobre a produção historiográfica brasilei-
ra sobre a Revolta de Vila Rica. Sérgio Ricardo da Mata, 
Helena Miranda Mollo & Flávia Florentino Varella (org.). 
Caderno de resumos & Anais do 2º. Seminário Nacional 
de História da Historiografia. A dinâmica do historicismo: 
192 História do Brasil Colônia
tradições historiográficas modernas. Ouro Preto: EdUFOP, 
2008. Disponível em: <http://anpuh.org/anais/wp-con-
tent/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.0188.pdf>. Acesso em: 
20 de setembro de 2014.
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drina, V, 4, N. 3, P. 268-281, SET./DEZ. 2009. Disponível 
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Globalização – a formação dos múltiplos territórios em 
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SANTOS, Joel Rufino dos. História do Brasil. São Paulo: Mar-
co Editorial, 1979.
Capítulo 9 As Revoltas Coloniais 193
Atividades
 1) Assinalar (V) para as assertivas verdadeiras e (F) para as 
falsas.
A revolta de Beckmann teve como uma de suas reivindicações:
a) ( ) o fim da derrama, imposto do ouro cobrado da 
população.
b) ( ) a liberdade dos escravizados.
c) ( ) a instauração de um poder republicano.
d) ( ) o monopólio comercial da Companhia do Mara-
nhão.
e) ( ) aplicar as ideias liberais europeias.
 2) Assinalar (V) para as assertivas verdadeiras e (F) para as 
falsas.
Sobre a guerra dos emboabas é possível dizer que:
a) ( ) foi uma luta travada entre os sul-rio-grandenses 
com o império, com a vitória dos imperiais sobre os 
sul-rio-grandenses.
b) ( ) foi uma luta travada entre os paulistas bandeirantes 
contra os forasteiros, com a derradeira vitória para os 
forasteiros no Capão da Traição.
c) ( ) foi uma luta travada entre os brasileiros e portugue-
ses, com a vitória dos portugueses em Salvador.
194 História do Brasil Colônia
d) ( ) foi uma luta travada entre o clero e a nobreza, com 
a vitória da Santa Igreja.
e) ( ) foi uma luta travada entre os bandeirantes e os pau-
listas, com a vitória dos bandeirantes em São Paulo.
 3) A partir dos estudos desenvolvidos neste Capítulo, marque 
(X) somente nas assertivas verdadeiras.
a) ( ) Tomas Beckmann foi enforcado. A principal cau-
sa da guerra era a liberdade comercial obtida com 
o fechamento da Cia Comercial e a manutenção da 
escravaria por posse das elites maranhenses.
b) ( ) Os ideais liberais e democráticospassaram a ditar 
os planos da Inconfidência Baiana. Seus integrantes 
eram suspeitos de espalhar pela cidade de Salvador 
mensagens audaciosas sobre liberdade e igualdade.
c) ( ) Amador Bueno Ribeira (1584-1649) faleceu em São 
Paulo. Espanhol, tomou posse como ouvidor-mor da 
Capitania de São Vicente em 1627. No ano de 1633 
foi nomeado provedor e contador da fazenda.
d) ( ) Amador Bueno Ribeira (1584-1649) faleceu em São 
Paulo. Português, tomou posse como governador Ge-
ral da Capitania de São Vicente em 1627.
e) ( ) A Aclamação de Amador Bueno aconteceu em 
1641 na futura vila de São Paulo foi, segundo a his-
tória tradicional, a primeira ação consciente realizada 
no Brasil Colônia reivindicando autonomia diante de 
Portugal metrópole.
Capítulo 9 As Revoltas Coloniais 195
 4) Assinalar (V) para as assertivas verdadeiras e (F) para as 
falsas.
Os grupos envolvidos nas revoltas foram:
a) ( ) da de Beckmann: negros, índios e brancos pobres.
b) ( ) Amador Bueno aceitou sua aclamação, feita por 
pobres, negros e índios, considerando-se rei de São 
Vicente e representando estes grupos.
c) ( ) na Revolução de Pernambuco: maçons, padres, la-
tifundiários e o povo.
d) ( ) na de Vila Rica: um negro escravizado.
e) ( ) Amador Bueno recusou sua aclamação e se refu-
giou em convento do interior.
 5) Leia com atenção o que se pede e marque apenas duas 
alternativas como verdadeiras.
a) ( ) A forca e o esquartejamento eram práticas comuns 
realizadas pelo poder português contra os revoltosos 
no intuito de servir como exemplo aos demais que de-
safiavam a Coroa.
b) ( ) As revoltas discutiam amplamente sobre o fim da 
escravidão dos negros no Brasil.
c) ( ) Os movimentos trabalhados neste Capítulo foram 
bem articulados entre os grupos sociais das diversas 
províncias e cobravam, planejadamente, a indepen-
dência do Brasil.
196 História do Brasil Colônia
d) ( ) Nenhum desses movimentos citados, de fato, teve 
qualquer objetivo nacional, eram de perspectivas lo-
cais, imediatistas e regionais, sem projetos políticos 
consistentes.
Gabarito
1) d: verdadeira; a, b, c, e: falsas
2) b: verdadeira; a, c, d, e: falsas
3) a, b, c, e
4) a, b, d: falsas; c, e: verdadeiras
5) a, d
A Crise do Sistema 
Colonial: Quadro 
Internacional e Nacional 
(Inconfidência Mineira e 
Inconfidência Baiana)1
A Crise do Sistema 
Colonial: Quadro...
1 Mestre em História. Professora da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA.
Juliane Maria Puhl Gomes1
Capítulo 10
198 História do Brasil Colônia
Introdução
O sistema colonial consistiu em um padrão específico de re-
lações estabelecidas entre colônias e metrópoles, nas quais as 
primeiras subordinavam-se política, administrativa e economi-
camente às segundas.
É possível afirmarmos que esta modalidade de relações 
vigorou de meados do século XVI, quando do início do pro-
cesso de colonização da América pelas potências Europeias, 
com especial destaque a Portugal e Espanha, naquilo que a 
historiografia convencionou denominar de expansão marítima 
europeia, até o final do século XVIII, período em que teve início 
o processo de independência das colônias europeias no con-
tinente americano.
Ainda que tenhamos que enfatizar as diferentes caracte-
rísticas da colonização americana, levada a termo pelas res-
pectivas metrópoles, é possível identificarmos elementos de 
unidade nesse processo, com especial destaque às relações 
estabelecidas entre segmentos mercantis coloniais e metropo-
litanos, na medida que o sistema estabelecia a subordinação 
dos primeiros em relação aos segundos, criando monopólios 
que favoreciam os capitais metropolitanos.
As áreas metropolitanas se constituíam como o centro do 
sistema, disputando entre si o controle e a hegemonia na Amé-
rica, na África e na Ásia, além de serem responsáveis exclusivas 
pelo abastecimento da colônia e pela aquisição da produção 
oriunda das regiões coloniais, além de onerar essas áreas, 
identificadas como a periferia do sistema, com pesados tribu-
Capítulo 10 A Crise do Sistema Colonial: Quadro... 199
tos, de tal sorte que a economia colonial organizasse como 
complementar da economia metropolitana europeia.
É importante destacar que esse conjunto de normas e pro-
cedimentos compunha o denominado pacto colonial ou exclu-
sivo metropolitano no qual o monopólio do comércio colonial 
era constituinte das relações metrópole-colônia.
Feitas essas considerações preliminares passaremos agora 
a aprofundar nossas reflexões sobre a crise do sistema colo-
nial brasileiro, ainda que seja fundamental percebê-lo como 
parte de um processo mais ampliado que atinge o mundo e a 
América como um todo, e que ainda que estejamos diante de 
um conjunto importante de singularidades, as transformações 
ocorridas no Brasil estão intimamente vinculadas a transforma-
ções que ocorriam no cenário mundial.
1 Sistema colonial brasileiro e seu 
esgotamento
Conforme informado anteriormente o sistema colonial, tam-
bém denominado de sistema colonial mercantilista, justamente 
pela preponderância das relações mercantis, é parte de um ar-
ranjo socio-político-econômico que pautou as relações entre 
metrópoles e colônias, relações essas que passam por signifi-
cativas transformações decorrentes em sua dimensão econô-
mica do esgotamento do mercantilismo e pelas transformações 
advindas da revolução industrial que acaba por redimensionar 
o papel da Inglaterra nas relações internacionais.
200 História do Brasil Colônia
Segundo Arruda:
A função precípua da colônia era, portanto, a de ace-
lerar a acumulação primitiva de capitais, produzir ex-
cedentes por meio da comercialização dos produtos 
coloniais nos mercados europeus, lucros estes que be-
neficiaram diretamente a burguesia mercantil do Reino e 
a elite aristocrática, incrustada no aparelho de Estrado. 
Eram lucros de monopólio. Não quaisquer lucros. Ex-
pressavam a exclusividade da compra dos produtos co-
loniais a preços rebaixados e a certeza de altos lucros na 
revenda. O abastecimento das necessidades coloniais 
com produtos produzidos na metrópole ou adquiridos 
nos mercados continentais, igualmente garantidores de 
vantagens excepcionais, completavam o circuito (ARRU-
DA, 2000, p. 246).
Na segunda metade do século XVIII o governo lusitano 
sofreu a influência dos princípios iluministas, percebida com 
a chegada de Sebastião José de Carvalho – mais conhecido 
como Marques de Pombal, aos quadros ministeriais do gover-
no de Dom José I, propondo a modernização da administração 
pública do país e ampliando ao máximo os lucros provenientes 
da exploração colonial, principalmente em relação à colônia 
brasileira. Essas medidas, no entanto, não foram capazes de 
reverter o quadro de crise da monarquia portuguesa, além de 
fazer um esforço para tornar mais eficaz a administração por-
tuguesa com mudanças no relacionamento metrópole-colô-
nia, buscando uma articulação entre o absolutismo ilustrado e 
o mercantilismo.
Capítulo 10 A Crise do Sistema Colonial: Quadro... 201
Com o objetivo de desenvolver o norte do Brasil, Pombal 
criou a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e a 
Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba, tendo ainda se 
notabilizado pela expulsão dos jesuítas da América Portuguesa.
1.1 Alguns antecedentes externos do 
esgotamento
Para a compreensão do desdobramento dessas questões no 
Brasil, destacamos que Portugal, neste período, passava por 
uma crise significativa que aumentava a dependência em rela-
ção à economia inglesa, de tal forma que é possível afirmar-
mos a existência de um conflito entre o emergente capitalismo 
industrial inglês e o frágil e esgotado colonialismo mercantilista 
português, fortemente amparado na existência de monopólios 
comerciais e no trabalho compulsório, exatamente ospontos 
mais combatidos pelo capitalismo inglês.
O trabalho compulsório, prioritariamente da população 
africana e/ou afrobrasileira, constituía-se em um significativo 
impedimento à configuração de um mercado consumidor ca-
paz de absorver a produção industrial inglesa em processo de 
expansão, sendo notórias as pressões britânicas pela aboli-
ção da escravidão, que no caso brasileiro foi significativamen-
te tardia quando comparado a tradições de nossos vizinhos 
americanos.
Ademais, a existência de monopólios comerciais obstacu-
lizava a livre circulação de capitais ingleses na América Por-
tuguesa o que desagradava os interesses ingleses, mesmo em 
202 História do Brasil Colônia
um período em que a dependência lusitana para com os capi-
tais britânicos era absoluta.
A revolução industrial, ocorrida na Inglaterra na segunda 
metade do século XVIII, pode ser identificada com um proces-
so mais ampliado de transformações de diferentes naturezas 
ocorrido no período, ao qual a historiografia denomina de 
“revoluções burguesas”, com especial destaque à Revolução 
Industrial, Revolução Americana com a independência das 13 
colônias inglesas na América1 e Revolução Francesa2.
Elemento importante para a compreensão dessas transfor-
mações decorreu da influência do Iluminismo, constituída do 
contexto do Século das Luzes, marcado pelo culto ao raciona-
lismo e defesa da ideia da liberdade e igualdade, ainda que 
esses princípios tenham sido apropriados das mais variadas 
formas nos diferentes contextos, e ponto de convergência des-
tas interpretações, possamos encontrar uma efetiva oposição 
ao Antigo Regime.
Todas as transformações apontadas foram fatores que re-
fletiram nos domínios portugueses no continente americano, 
tendo sido potencializadas pela crescente demanda lusitana 
por ouro, em uma tentativa de minimizar o impacto da crise 
econômica que assolava o país, e que resultou em inúmeros 
1 A Revolução Americana do ano de 1770 teve como principal consequên-
cia o fato de as Treze Colônias inglesas tornarem-se independentes, e após 
longa guerra contra a Inglaterra, a Declaração de Independência em 1776.
2 A Revolução Francesa, em 1789, pode ser caracterizada pela ascensão da bur-
guesia francesa ao poder, modificando-se profundamente a noção de política no 
mundo desde então, tendo sido responsável pela quebra do antigo regime que 
tinha por base o sistema colonial.
Capítulo 10 A Crise do Sistema Colonial: Quadro... 203
abusos por parte do governo português nas áreas produtoras 
de minérios, ensejando levantes autonomistas que veremos na 
sequência.
1.2 Alguns antecedentes internos do 
esgotamento
Até o presente momento privilegiamos como antecedentes da 
crise do sistema colonial elementos cuja compreensão impli-
cam na percepção de transformações externas à América Por-
tuguesa. Passaremos agora a apontar variáveis relacionadas 
às transformações internas pelas quais passava a região no 
período em análise.
No século XVII, especialmente no seu último quartel, está-
vamos diante do que a historiografia convencionou denominar 
de desenvolvimento interno da colônia cujas principais carac-
terísticas foram a interiorização da América Portuguesa em ra-
zão de um processo de expansão territorial, além de crescente 
complexificação das relações produtivas e comerciais o que 
acabou por provocar uma insatisfação progressiva das elites 
coloniais com a condução da política e da economia colonial 
ensejando a emergência de sentimentos nativistas.
Desde o início do período colonial o padrão de fixação 
territorial lusitana privilegiou o litoral, postura essa que aca-
bou se notabilizando pela fala de Frei Vicente de Salvador, em 
1627, que afirmou que “os portugueses pareciam caranguejos 
uma vez que permaneciam fixados na costa brasileira”.
Cabe destacar que essa postura muito se deveu à dificul-
dade de locomoção para o interior da colônia, bem como a 
204 História do Brasil Colônia
forte resistência indígena. Esse cenário começou a apresentar 
mudanças a partir do século XVII em razão da ação dos jesuí-
tas, de soldados, do bandeirantismo e do desenvolvimento da 
pecuária, elementos que potencializaram a interiorização dos 
domínios portugueses.
Como consequência do movimento de interiorização, te-
mos um crescente dinamismo na economia colonial, com a 
formação de núcleos populacionais e constituição de grupos 
sociais intermediários que, juntamente com outros, reagem às 
pressões metropolitanas potencializando a resistência contra o 
absolutismo português.
A crise no sistema colonial esta relacionada a emergên-
cia de novas ideias, acrescidas de importantes transformações 
econômicas e políticas ocorridas no interior da América por-
tuguesa que conflitava com interesses metropolitanos (após a 
Restauração em 1640) em intensificar o pacto colonial como 
uma estratégia de enfrentamento a crise financeira decorrente 
do domínio espanhol, de tal sorte a ocasionar na população 
colonial um desejo de emancipação.
Entre esses movimentos destacaremos: Inconfidência Mi-
neira e Conjura Baiana.
2 Inconfidência ou conjuração mineira 
(1789)
A Inconfidência Mineira foi um movimento nativista que ocorreu 
em Minas Gerais, muito influenciado pelas ideias do Iluminis-
Capítulo 10 A Crise do Sistema Colonial: Quadro... 205
mo e da independência dos Estados Unidos da América, que 
circulavam na região, resistindo prioritariamente à cobrança 
crescente de impostos por parte da metrópole portuguesa, e 
mais precisamente em razão da Derrama3.
A expressiva maioria dos participantes desse movimento 
pertencia à alta sociedade mineira, sendo que entre os mais 
atuantes destacamos: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antô-
nio Gonzaga, Inácio José Alvarenga, José de Oliveira Rolim 
e o alferes Joaquim José da Silva Xavier (conhecido historica-
mente como Tiradentes).
Os inconfidentes propunham a adoção do regime republi-
cano, tendo a Constituição dos Estados Unidos como modelo; 
fomentavam a adoção de medidas industrializantes, além da 
adoção de uma nova bandeira, tendo ao centro um triângulo 
com os dizeres: Libertas quae sera tamen, que em latim, signi-
fica “Liberdade ainda que tardia”.
Chama atenção o fato que, mesmo fortemente influenciado 
pelas ideias de liberdade e igualdade, os inconfidentes nada 
definiram acerca da escravidão, visto que seus componentes 
não chegavam a um consenso acerca do tema.
A ação dos inconfidentes deveria ter início quando da de-
cretação da Derrama, o que não chegou a ocorrer uma vez 
3 A Derrama era um procedimento que foi estabelecido pela Coroa Portuguesa no 
sentido de garantir um valor mínimo de arrecadação, sendo que se uma região 
não conseguisse destinar o montante de 1500 quilos de ouro para a metrópole 
Portugal, as forças militares poderiam expropriar a população até completar o valor 
fixado. Os fiscais, acompanhados de muitos soldados, chegavam de surpresa às 
cidades e invadiam as casas tomando tudo que fosse de valor até completar o valor 
estipulado.
206 História do Brasil Colônia
que as autoridades foram avisadas dessas intenções, dando 
início à prisão dos inconfidentes. Dentre os acusados apenas 
“Tiradentes” assumiu a responsabilidade pela conspiração, o 
que resultou em sua condenação à morte no ano de 1792, 
tendo sendo enforcado no dia 21 de abril, na cidade do Rio de 
Janeiro. Outros conspiradores foram condenados ao desterro, 
e Cláudio Manuel da Costa enforcou-se na prisão.
Quadro Síntese Inconfidência Mineira
PRINCIPAIS CAUSAS
1. Exploração política e econômica exercida por Portugal sobre 
sua principal colônia, o Brasil.
2. Derrama: caso uma região não conseguisse pagar 1500 
quilos de ouro para Portugal, soldados entravam nas casas 
das pessoas para pegar bens até completar o valor devido.
3. A proibição dainstalação de manufaturas no Brasil.
PRINCIPAIS OBJETIVOS
1. Obter a independência do Brasil em relação a Portugal.
2. Implantar uma República no Brasil.
3. Liberar e favorecer a implantação de manufaturas no 
Brasil.
4. Criação de uma universidade pública na cidade de Vila 
Rica.
3 Conjura ou inconfidência baiana (1798)
No início do século XVIII o nordeste brasileiro e principalmente 
a Bahia passavam por uma significativa crise econômica de-
Capítulo 10 A Crise do Sistema Colonial: Quadro... 207
corrente da decadência da economia açucareira e da transfe-
rência da capital da colônia, em 1763, para o Rio de Janei-
ro. Essa crise vitimava principalmente as camadas populares, 
formadas por ex-escravizados, pequenos artesãos e mestiços, 
que com frequência promoviam manifestações e contestações, 
promovendo vários saques em estabelecimentos comerciais 
portugueses de Salvador.
Os ideais de liberdade e igualdade, oriundos da Revolução 
Francesa, contrastavam com a precária situação da popula-
ção que penava com a elevada carga tributária e a escassez 
de alimentos, acentuando o grave quadro sócio-econômico 
do Brasil.
Naquele contexto foi fundada em Salvador a “Academia 
dos Renascidos”, um clube literário que debatia os ideais do 
Iluminismo, assim como os problemas sociais da população.
Os chamamentos para o movimento decorreram dos de-
bates promovidos pela Academia dos Renascidos contando 
com a participação de pequenos comerciantes, soldados, ar-
tesãos, alfaiates, libertos e mulatos, sendo um dos primeiros 
movimentos populares da História do Brasil.
Em meados de 1798, circulavam panfletos dirigidos à po-
pulação, convocando todas as parcelas socias para um levan-
te que resultaria na proclamação da República Baianense. O 
material distribuído, fortemente influenciado pelas ideias da 
fase radical da Revolução Francesa, defendia a igualdade so-
cial, a liberdade de comércio, o trabalho livre, extinção de 
todos os privilégios sociais e preconceitos de cor.
208 História do Brasil Colônia
[...] cada um, soldado e cidadão, principalmente os ho-
mens pardos e pretos que vivem escornados e aban-
donados, todos serão iguais, não haverá diferença, só 
haverá liberdade, igualdade, e fraternidade (Manifesto 
dirigido ao “Poderoso e Magnífico Povo Bahiense Re-
publicano”, em 1798. apud NEVES; NADAI, 1990, p. 
119).
Entre as lideranças do movimento encontramos dois al-
faiates, João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino dos 
Santos Lira, além dos soldados Lucas Dantas e Luiz Gonzaga 
das Virgens, todos mulatos. Merece referência, ainda, a par-
ticipação de mulheres negras, como as forras Ana Romana e 
Domingas Maria do Nascimento. A Conjura ou Inconfidência 
Baiana, em razão do seu perfil popular e da profissão de al-
gumas de suas lideranças, também ficou conhecida como a 
“Conjuração dos alfaiates”.
O movimento foi duramente reprimido pelas autoridades 
metropolitanas, sendo que seus líderes foram condenados à 
morte por enforcamento ou receberam pena de degredo na 
África. As lideranças que tinham vínculo com a maçonaria 
(pertencentes a elite baiana) foram absolvidas, o que eviden-
cia o grande temor das autoridades com os levantes populares 
realizados por negros e mulatos (ainda resquícios de medo da 
Revolução do Haiti).
A atuação de segmentos populares e o objetivo de eman-
cipar a colônia e abolir a escravidão apontam uma diferença 
significativa desse movimento em relação à Inconfidência Mi-
neira, caracterizada por uma composição social mais elitista, 
Capítulo 10 A Crise do Sistema Colonial: Quadro... 209
além de não ter se posicionado acerca da escravidão como já 
dito anteriormente.
Quadro Síntese Inconfidência Baiana
PRINCIPAIS OBJETIVOS
1. Abolição da Escravatura.
2. Proclamação da República.
3. Diminuição dos Impostos.
4. Abertura dos Portos.
5. Fim do Preconceito.
6. Aumento Salarial.
4 A transferência da corte portuguesa 
para o Brasil (1808)
Um elemento importante para entendermos a crise do siste-
ma colonial brasileiro está diretamente relacionado a ques-
tões cujo epicentro encontramos na Europa, na conjuntura 
de transição do século XVIII para o XIX. Naquele momento as 
disputas entre ingleses e franceses afetava diretamente as Co-
roas Ibéricas provocando desdobramentos em seus domínios 
americanos.
Como mencionado no início deste capítulo, a Inglaterra 
passava por importantes transformações de ordem econômi-
ca decorrentes da Revolução Industrial, colocando-se como a 
mais importante potência naquele contexto.
210 História do Brasil Colônia
Contrapondo os projetos britânicos a França, liderada por 
Napoleão Bonaparte, pretendia enfraquecer a Inglaterra im-
pondo o Bloqueio Continental, pelo qual nenhum país da Eu-
ropa Continental poderia manter relações comerciais com a 
Inglaterra.
Naquele contexto Portugal era economicamente dependen-
te da Inglaterra, portanto não era capaz de cumprir as determi-
nações do Bloqueio Continental, ficando vulnerável à invasão 
do temido exército francês, pois representava uma brecha no 
bloqueio (FAUSTO, 2002).
As pressões francesas foram tão intensas que o Príncipe 
D. João (regente do trono Português), mediante uma série de 
tratativas e negociações com a Inglaterra4, transferiu-se com 
a ajuda do embaixador inglês em Lisboa, Lord Strangford, no 
dia 29 de novembro de 1807, para o Brasil, acompanhado de 
sua Corte composta por aproximadamente 15.000 pessoas.
Todo o aparelho burocrático vinha para a Colônia: mi-
nistros, conselheiros, juízes da Corte Suprema, funcio-
nários do Tesouro, patentes do exército e da marinha, 
membros do alto clero. Seguiram também o tesouro 
real, os arquivos do governo, uma máquina impressora 
e várias bibliotecas que seriam a base da Biblioteca Na-
cional do Rio de Janeiro (FAUSTO, 2002, p. 121).
4 Dentre as tratativas estava: a esquadra portuguesa seria entregue à Inlaterra; a 
Ilha da Madeira, ocupada pelos ingleses, serviria como ponto de combate após a 
ocupação total da Península Ibérica pelas tropas francesas; a Inglaterra teria direito 
a um porto livre, de preferência na ilha de Santa Catarina (Florianópolis); seriam 
assinados novos tratados comerciais, assim que o Estado português se estabeleces-
se aqui (ALENCAR et al, 1996, p. 81).
Capítulo 10 A Crise do Sistema Colonial: Quadro... 211
No dia 30 de novembro as forças francesas, comandadas 
pelo general Junot, invadiam Lisboa. D. João chegou à Bahia 
em 22 de janeiro de 1808, estabelecendo uma nova fase na 
História do Brasil, na qual a presença inglesa consolidou-se 
de forma substantiva, fragilizando o sistema colonial brasilei-
ro, especialmente em decorrência de crescente autonomia das 
elites nacionais no que tange as transações mercantis sem a 
mediação portuguesa.
A viagem para o Brasil é relatada de forma “novelesca”, 
como denomina Boris Fausto (2002), mas a grande verdade é 
que a partir da chegada da Família Real ao Brasil, as relações 
entre a Metrópole e a Colônia ficaram no mínimo alteradas.
Na sequência apresentaremos as principais medidas ado-
tadas pelo governo português na denominada administração 
Joanina no Brasil (1808-1820), extremamente benéfica aos 
interesses ingleses.
28/01/1808: Abertura dos Portos às Nações Amigas: De-
creto que pôs fim ao monopólio luso sobre o comércio brasi-
leiro. A principal interessada na medida era a Inglaterra, que 
procurava ampliar o mercado consumidor de seus produtos 
manufaturados.
01/04/1808: Alvará de Permissão Industrial que concedia 
liberdade para o estabelecimento de indústrias e manufaturas 
na colônia. Essa medida não se concretizou pela concorrência 
dos produtos ingleses - principalmente após 1810 - e pela 
concentração de recursos na lavoura exportadora.
212 História do Brasil Colônia
1810: Tratados de Aliança, Comércioe Navegação: As-
sinados com a Inglaterra tendo validade por 14 anos, sendo 
que o Tratado de Comércio estabelecia taxa de apenas 15% 
sobre a importação de produtos ingleses; produtos portugue-
ses pagariam uma taxa de 16% e produtos de outras nações 
pagariam 24%.
 Aos cidadãos ingleses ainda foi concedido o direito de 
extraterritorialidade, ou seja, continuariam submetidos às leis 
britânicas. O tratado estabelecia ainda que o governo lusitano 
deveria abolir o tráfico negreiro.
16/12/1815: Elevação do Brasil a Reino Unido a Portugal 
e Algarves. Representando um avanço no que tange a progres-
siva emancipação política.
Outras medidas de D. João: Fundação do Banco do Bra-
sil; instalação de Ministérios, Tribunais, cartórios; Criação da 
Imprensa Régia, escolas, bibliotecas; o Jardim Botânico, entre 
outras medidas. O estabelecimento destas estruturas no Brasil 
teve grande significado, pois foi o primeiro passo para a auto-
nomia de poderes no país. Mesmo que estes poderes estives-
sem submetidos à Coroa, eles inauguraram células de poder, 
ou exercício de poderes no Brasil.
A presença da corte no Rio de Janeiro criou em todo o 
Brasil, entre as classes proprietárias e as camadas ur-
banas, uma “ideia de Império”, ou seja, um esboço de 
sentimento de nacionalidade. Os proprietários rurais 
começaram a perceber que o Brasil ia além das suas 
terras. E que os seus interesses eram os mesmos de ou-
tros senhores escravocratas. A Corte, como centro cata-
Capítulo 10 A Crise do Sistema Colonial: Quadro... 213
lisador, ia acabando com a dispersão. (ALENCAR et al, 
1996, p. 85).
Houve a promoção do cultivo de novas espécies vegetais 
como chás, café, noz moscada, carambola, groselha, fruta 
pão, dentre outras.
A corte doou sesmarias e incentivou a vinda de estrangei-
ros de diferentes nações europeias, talvez pensando em uma 
estratégia para a hipótese do fim da escravidão.
Naquele momento o desenvolvimento artístico e cultural do 
Brasil foi potencializado pela vinda da Missão Artística France-
sa, a convite de D. João. O mais famoso representante desta 
missão foi Jean Baptist Debret, que deixou várias pinturas, de-
senhos e aquarelas, retratando os costumes do Brasil Joanino.
Tantas foram as mudanças que alguns autores chegam a 
afirmar que a vinda da Família Real representou o “redescobri-
mento” do Brasil pelos portugueses. Infelizmente, os indígenas, 
assim como no achamento em 1500, sofreram mais consequ-
ências. D. João autorizou (1808) a guerra contra os remanes-
centes indígenas de São Paulo e Minas Gerais, condenando os 
índios capturados a 15 anos de cativeiro (trabalhos forçados). 
Obviamente que o exército tentava de todas as formas não 
matar os “rebeldes” para aumentar a força de trabalho na 
colônia. Em 1809 a medida se estendeu a qualquer indígena 
preso em conflito com brancos.
A presença da Família Real ao mesmo tempo que trouxe o 
poder de forma concreta ao Brasil, ensinou que a autonomia 
era possível. Algumas novidades se mesclaram a antigas es-
214 História do Brasil Colônia
truturas e poderes. Abria-se uma possibilidade de mudanças 
no horizonte, que em anos anteriores havia sido interrompida 
pela punição aos chamados “inconfidentes”.
Estes ventos de mudança levaram à Revolução de 1817, 
iniciada em Pernambuco. A Corte estava aqui, mas os interes-
ses defendidos ainda eram os portugueses. Os impostos au-
mentaram muito, para que fosse possível manter e aumentar 
as novas estruturas trazidas por D. João. Além disso, a mudan-
ça da capital para o Rio de Janeiro deslocou o eixo de pode-
res, deixando o nordeste a parte dos favorecimentos locais.
A revolta logo agregou diferentes camadas populares, com 
objetivos diversos, mas com um ponto em comum: o descon-
tentamento com o desfavorecimento dos brasileiros em prol 
dos portugueses.
O movimento foi duramente reprimido pelas tropas por-
tuguesas e após mais de dois meses de combate, os rebeldes 
foram vencidos, seus líderes presos e executados.
Recapitulando
A crise no sistema colonial com seus desdobramentos específi-
cos para o caso português, só pode ser efetivamente compre-
endida à medida que considerarmos elementos de natureza 
externa, principalmente aqueles decorrentes dos novos arran-
jos produtivos que constituíram o capitalismo industrial sob a 
hegemonia dos capitais ingleses; o surgimento e a difusão de 
ideias ilustradas, com especial destaque aquelas provenientes 
Capítulo 10 A Crise do Sistema Colonial: Quadro... 215
da Revolução Francesa e Revolução Americana, além do pró-
prio esgotamento das políticas mercantilistas que era a base 
de sustentação do Antigo Sistema Colonial.
Ademais é preciso considerar transformações de ordem in-
terna que ocorriam na América Portuguesa, principalmente em 
razão de um processo de interiorização e de crescente autono-
mia das elites locais, fragilizando o Pacto Colonial, o que foi 
agravado com a vinda da família real para o Brasil e com os 
desdobramentos de ordem comercial favoráveis à Inglaterra 
decorrentes desta transferência, potencializando no limite um 
sentimento de emancipação, que acaba por provocar a inde-
pendência política do Brasil, em um contexto de emancipação 
da América Latina como um todo.
Referências
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V.T. História da Sociedade Brasileira. 18. ed. Rio de Ja-
neiro: Ao Livro Técnico, 1996.
ARRUDA, José. O sentido da Colônia: revisitando a cri-
se do antigo sistema colonial no Brasil (1780-1830). In: 
TENGARRINHA, José (org.). História de Portugal. Bauru: 
EDUSC; São Paulo: UNESP, 2000. [pp. 245-263].
CHIAVENATO, Júlio José. As várias faces da Inconfidência 
Mineira. 4. ed. São Paulo: Contexto, 1994. [Coleção re-
pensando a História].
216 História do Brasil Colônia
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 10. ed. São Paulo: EDUSP, 
2002.
FRAGOSO, João, FLORENTINO, Manolo, FARIA, Sheila de 
Castro. A Economia Colonial Brasileira (Séculos XVI-
-XIX). São Paulo: Atual, 1998.
GUAZZELLI, César. A crise do sistema colonial e o processo 
de independência. In: WASSERMAN, Claudia (Org.). His-
tória da América Latina: cinco séculos. Porto Alegre: Edito-
ra da Universidade, 1996. [pp. 120-177].
NEVES, Joana; NADAI, Elza. História do Brasil: da Colônia à 
República. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 119.
NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos Quadros do Antigo Sis-
tema Colonial. In: MOTA, Carlos G. (org.) Brasil em Pers-
pectiva. 10.ed. Rio de Janeiro, São Paulo: DIFEL, 1978.
__________. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema 
Colonial (l1977-l808). São Paulo: Hucitec, 1995.
RESENDE, Maria Efigênia Lage de. Inconfidência Mineira. 
4.ed. São Paulo: Global, 1988. [Coleção História Popular].
Atividades
 1) A crise do sistema colonial pode ser explicada consideran-
do variáveis internas e externas. Como variáveis externas 
podemos destacar:
Capítulo 10 A Crise do Sistema Colonial: Quadro... 217
a) A interiorização da América portuguesa em razão da 
ação do bandeirantismo.
b) Um processo de urbanização no interior dos domínios 
portugueses na América.
c) O crescente desenvolvimento do capitalismo industrial 
inglês cujas práticas conflitavam com o mercantilismo 
típico do sistema colonial.
d) Levantes independentistas mineiros e baianos.
e) Aumento dos poderes dos senhores locais pelo cresci-
mento econômio proporcionado pela manufatura bra-
sileira.
 2) A transferência da Corte Portuguesa para o Brasil resultou 
em inúmeras mudanças para a vida da colônia, EXCETO:
a) A extinção do monopólio, através do decreto da Aber-
tura de Portos, em 1808.
b) O Alvará de Liberdade Industrial anulado em grande 
parte pela concorrência inglesa.
c) As iniciativas que favoreceram a vida cultural da co-
lônia, como o ensino superior, a imprensa régia e a 
Missão Francesa.d) A manutenção da estrutura urbana e administrativa 
idêntica ao período anterior.
e) Os Tratados de 1810, assinados com a Inglaterra, que 
aboliram vantagens e privilégios, bem como a prepon-
derância comercial deste país em relação aos brasileiros.
218 História do Brasil Colônia
 3) No final do século XVIII, as restrições econômicas de Portu-
gal ao Brasil chegaram ao máximo; o ouro declinava e as 
ideias liberais difundiam-se pelo país. Tais fatos provoca-
ram um movimento pela independência, acentuadamente 
popular, com fortes preocupações sociais, conhecido por:
a) Inconfidência ou Conjura Mineira.
b) Guerra dos Mascates.
c) Revolta de Felipe dos Santos.
d) Conjura Literária.
e) Inconfidência ou Conjura Baiana.
 4) A Inconfidência ou Conjura Mineira, no plano das ideias, 
foi inspirada:
a) Nas reivindicações das camadas menos favorecidas 
da colônia.
b) No pensamento liberal dos filósofos da ilustração eu-
ropeia.
c) Nos princípios do socialismo utópico de Saint-Simon.
d) Nas ideias absolutistas defendidas pelos pensadores 
iluministas.
e) Na Revolução do Haiti.
 5) Os objetivos da Inconfidência ou Conjura Baiana eram:
I – Abolição da escravatura e manutenção do Pacto Colo-
nial.
Capítulo 10 A Crise do Sistema Colonial: Quadro... 219
II – Abolição da escravatura e Proclamação da República.
III – Proclamação da República e manutenção do Pacto 
Colonial.
IV – Diminuição dos impostos e abertura dos portos.
V – Fim do preconceito e aumento salarial.
A alternativa correta é:
a) As alternativas I, IV e V estão corretas.
b) As alternativas II, IV e V estão corretas.
c) As alternativas III, IV e V estão corretas.
d) As alternativas II e IV estão corretas.
e) As alternativas I e IV estão corretas.
Gabarito
1) c, 2) d, 3) e, 4) b, 5) b
	A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta” do Brasil
	Os Indígenas na Colônia
	A Colonização da América Portuguesa
	Religiosidades na Colônia
	O Trabalho na Colônia: Escravização de índios e Negros
	Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas
	Engenhos, Casa-Grande e Senzala, União Ibérica, Invasões Holandesas e Restauração Pernambucana
	O Ouro e as Minas Gerais
	As Revoltas Coloniais
	A Crise do Sistema Colonial: Quadro Internacional e Nacional (Inconfidência Mineira e Inconfidência Baiana)

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