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NATURALISMO VS CONTRATUALISMO SOBRE A ORIGEM DO SOCIAL

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NATURALISMO V.S. CONTRATUALISMO: 
SOBRE A ORIGEM DO SOCIAL 
 
 
 
AMANDA CARLA MOURA BRAGA1 
CLISTENES CHAVES DE FRANÇA2 
 
 
Resumo: Neste trabalho propomo-nos expor e explicar, de forma breve, duas correntes de pensamento que têm 
como objetivo principal solucionar o enigma da origem do social. Enigma este que sempre esteve presente no 
imaginário do homem. A partir desse pressuposto serão analisados a corrente naturalista e o pensamento de alguns 
de seus adeptos, que defendem uma origem natural do social, e a corrente contratualista e alguns de seus principais 
filósofos que, por sua vez, afirmam a origem do social a partir de um ato deliberado da vontade humana. 
 
Palavras-chave: Origem do Social. Naturalistas. Contratualistas. 
 
 
NATURALISM V.S. CONTRACTARIANISM: 
THE ORIGINS OF THE SOCIAL 
 
Abstract: In this work, we try to show and explain the ideas about the origins of the social life, 
which two of the most important political thought schools defend. The origins of the social life 
represents a puzzle, which both schools want to solve. The naturalist school about the social 
origin defend that the social life responds to a natural necessity, while the contractarianism say 
that the social life begins only after an act of the human will. 
 
Keywords: Origins of the Social. Naturalism. Contractarianism. 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho tem o objetivo de realizar uma exposição/explicação acerca das 
teorias que buscam solucionar o enigma acerca da origem do social. O tema em questão é de 
 
1 Acadêmica de Direito do 6° semestre pela Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: 
amanda.moura1@outlook.com 
2 Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestre em Filosofia pela 
Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestre em Filosofia pela Ruhr-Universität Bochum/Alemanha. 
Doutorando em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor da Faculdade Luciano Feijão 
(FLF), nos cursos de Direito e Administração. E-mail: clisteneschaves@hotmail.com 
2 
 
 
 
tamanha relevância que conquistou especial atenção de diversos pensadores renomados de 
diversas épocas da história humana, tais como Aristóteles, Santo Tomás de Aquino, Thomas 
Hobbes, Jean-Jacques Rousseau, entre outros, o que mostra que, além de possuir grande 
importância, o tema também é uma constante no pensamento e na curiosidade do ser humano. 
A vida em sociedade traz inúmeros benefícios para o ser humano, contudo resulta 
também em diversas restrições, de modo que, algumas vezes, pode chegar até mesmo a limitar 
a própria liberdade humana (DALLARI, 2005, p. 9). Sendo assim, qual o motivo de o homem 
decidir – ou não – pela vida em sociedade e nela permanecer? Dessa forma, surge a seguinte 
questão: qual a origem do social? 
Buscando responder à questão do parágrafo anterior surgem duas correntes de 
pensamento, quais sejam: os naturalistas e os contratualistas. Tais correntes de pensamento se 
propõem a construir ideias que expliquem/respondam como a nossa sociedade atual, com todas 
as suas imperfeições, surgiu. 
No decorrer desse trabalho realizaremos uma breve apresentação das referidas correntes 
de pensamento, bem como, exporemos as teses que tiveram maior impacto e aceitação no 
tratamento de nosso tema, fazendo referência a alguns dos principais autores de cada corrente, 
de modo que seja possível o alcance de uma compreensão acerca do tema e dos reflexos de tais 
teorias no esclarecimento da questão sobre a origem do social. 
 
 
NATURALISTAS 
 
Uma das correntes de maior expressividade acerca da origem da vida social, possuindo 
um grande número de adeptos, é a que afirma a formação natural da sociedade humana, 
defendendo que o ser humano possui um impulso natural à vida em sociedade, ou seja, que é 
inerente ao ser humano a necessidade de coexistir em proximidade e em conjunto com outros 
seres humanos. Para essa corrente de pensamento, o ser humano possui mais que o desejo de 
viver em sociedade, em verdade, ele teria uma necessidade efetiva de viver com outros seres 
3 
 
 
 
humanos. Sendo assim, o motivo da vida em sociedade seria o impulso associativo natural 
inerente à espécie e não um ato deliberado de escolha. 
Os naturalistas acreditam, portanto, que o fator responsável pela associação humana 
advém da própria constituição da espécie. Esta definiria o ser humano como um animal 
gregário. 
É importante, contudo, salientarmos, que os naturalistas não se prendem à crença de que 
o ser humano é um ser social simplesmente por viver com seus semelhantes, antes o que eles 
defendem é que o ser humano apenas se torna realmente humano com a convivência social. 
Logo, o adjetivo “humano”, para os pensadores naturalistas, deve ser entendido como produto 
genuinamente coletivo da vida gregária dos seres humanos. Sendo assim, as características que 
diferenciam o ser humano dos outros animais – como, por exemplo, a produção e expressão de 
pensamentos em uma linguagem verbalmente diferenciada, o andar bípede ereto, ou a produção 
de artefatos culturais etc. – somente seriam adquiridas e plenamente desenvolvidas com a vida 
em sociedade. 
Entretanto, precisamos lembrar que os naturalistas não creditam a diversidade existente 
de formas de organização humana apenas ao impulso associativo. Os naturalistas não excluem 
a participação da liberdade e da vontade na modelagem da forma de organização social dos 
agrupamentos humanos, haja vista que ambas são responsáveis pela diversidade de formas de 
organização socioculturais3. 
 
 
ARISTÓTELES E SANTO TOMÁS DE AQUINO 
 
A corrente naturalista de pensamento possui diversos pensadores de destaque, dentre os 
quais Aristóteles e Santo Tomás de Aquino. Para ambos só podemos entender a vida social 
 
3 Diferentemente dos animais gregários que devem sua organização coletiva unicamente aos instintos naturais, 
como as abelhas, os lobos e os suricatos, a vida coletiva humana é marcada por uma diversidade espacial e 
temporalmente muito grande na forma como a vida social se estrutura. Em sendo, para os naturalistas, o instinto 
natural o mesmo em toda a espécie humana, a diversidade sociocultural só pode ser explicada como produto da 
liberdade e vontade humanas. 
4 
 
 
 
humana se a concebermos como animada por uma necessidade intrínseca à própria constituição 
natural da espécie. 
Aristóteles concebe o ser humano como um animal, mas um que se diferencia dos 
demais que agem puramente por instinto. O homem seria um animal racional, capaz de discernir 
e realizar escolhas livres. Por ser um animal político e racional, o homem precisaria viver em 
uma sociedade política/cidade (pólis) para concretizar sua natureza e sua essência4. Desse 
modo, é na cidade e por meio dela que a humanidade se torna capaz de atingir os fins de sua 
existência. Ou seja, é na cidade, e apenas nela, que os seres humanos se tornam seres humanos, 
podendo alcançar plenamente suas potencialidades (LOPES, ESTEVÃO, 2012, p.36). 
Conforme o filosófo grego: 
Toda Cidade é um tipo de associação, e toda associação é estabelecida tendo em vista 
algum bem (pois os homens sempre agem visando a algo que considerem ser um bem); 
por conseguinte, a sociedade política [pólis], é a mais alta dentre todas as associações,e que abarca todas as outras, tem em vista a maior vantagem possível, o bem mais alto 
dentre todos (ARISTÓTELES, 2001, p.53). 
Ou seja, o ser humano é mais que um animal gregário movido unicamente pelo instinto, 
ele é um animal político, que precisa viver em uma pólis em busca de um bem maior, pois este 
é o lugar natural do ser humano, em decorrência de sua racionalidade. O que o distingue dos 
demais animais seria a linguagem, que lhe possibilitaria discernir o bem do mal, o justo do 
injusto, o certo do errado. Dessa forma, “pensar a cidade como existindo por natureza equivale 
a vincular a natureza humana à cidade: [o ser humano seria então] um ser intermediário, nem 
deus nem besta, que pode escolher viver em conformidade com a virtude e a justiça e, então, 
realizar sua essência segundo o melhor fim, a eudaimonia.” (LOPES, ESTEVÃO, 2012, p. 41). 
Santo Tomás de Aquino, pensador que também defende a posição naturalista, afirma 
que o ser humano é um animal social e político, sendo natural que viva em sociedade. 
Expressivo seguidor de Aristóteles, Santo Tomás de Aquino concorda com o filósofo grego 
 
4 Sobre a concepção naturalista da vida em sociedade de Aristóteles, afirma MACIEL (2013, p.10): “Aristóteles 
inicia a obra [A Política] discutindo acerca da origem do Estado, ou seja, da sociedade política e revela que tal 
origem remonta às leis naturais. O Estado teria um fundamento natural, pois seria o resultado de um processo 
desencadeado por força da natureza.”. 
5 
 
 
 
quanto ao caráter natural da associação, do social. Para ele, a cidade representa a suprema 
sociedade/comunidade humana, a mais completa e perfeita. Sendo um animal racional, a 
existência do ser humano estaria diretamente ligada à vida conjunta, que é possibilitada pela 
presença da linguagem. Esta seria algo próprio dos seres humanos, haja vista que, 
diferentemente dos demais animais que possuem apenas a voz, o ser humano é detentor da 
capacidade de se comunicar por meio de símbolos convencionais aptos a adquirir determinados 
significados em dadas situações. 
Uma vez que o ser humano possui essa qualidade essencial, a cidade se torna necessária 
e natural, pois constitui o local em que ele poderá efetuá-la, já que a comunicação é uma ação 
dependente da vida em comunidade.5 Com isso, é licito afirmar que o social é algo natural ao 
ser humano, sendo a cidade a mais perfeita e ampla comunidade, na qual o ser humano é capaz 
de atingir sua essência (LOPES, ESTEVÃO, 2012, p. 39). 
Conforme Santo Tomás de Aquino, o ser humano seria um animal social que 
necessitaria mais que os outros da vida em sociedade. O notável italiano ainda acrescenta que 
o ser humano somente viveria isoladamente em três hipóteses, quais sejam: excelentia naturae 
– caso de ser humano extremamente virtuoso vivendo em comunhão com a própria divindade; 
corruptio naturae – que envolveria os casos de anomalia mental; e mala fortuna – que 
abrangeria, os casos de acidente que obrigam os seres humanos, por circunstâncias alheias à 
sua vontade, a viver só. 
Assim, podemos concluir que, segundo as principais ideias avançadas pelo pensamento 
naturalista, o ser humano vive em sociedade por um impulso intrínseco à constituição natural 
de nossa espécie, mas que, diferentemente dos demais animais gregários, esse instinto é 
complementado pela vontade, liberdade e racionalidade humanas, que faz com que o ser 
humano em sociedade não seja simplesmente mais um animal gregário, mas se torne um animal 
 
5 Como afirma OLIVEIRA (2012, p.58), para Santo Tomaz de Aquino “. . . a fala humana auxilia o homem a 
realizar aquilo que o distingue dos demais animais: a capacidade de entender e comunicar o útil e o nocivo, o justo 
e o injusto. E como a natureza nada faz em vão, quando ela dá ao homem a capacidade de comunicar o útil e o 
nocivo, o justo e o injusto, ela dá ao homem a capacidade de se comunicar com outro homem. Ora, é evidente que 
o homem só é capaz de se comunicar quando vive em comunidade . . .”. 
6 
 
 
 
político que busca comunicar-se com os outros seres humanos e alcançar sua perfeição na vida 
coletiva. 
 
 
CONTRATUALISTAS 
 
Os autores contratualistas rejeitam veementemente a existência de um impulso 
associativo natural ou de qualquer instinto natural que seja responsável pela associação humana. 
Para eles, as sociedades não foram formadas de modo natural/instintivo, houve, em verdade, 
um momento no qual os seres humanos por um ato deliberado de vontade decidiram se associar. 
A corrente de pensamento contratualista acredita, em geral, que houve um momento na 
história humana em que os seres humanos, embora vivessem próximos uns dos outros, viveriam 
isolados, isto é, sem que houvesse um contato duradouro de modo a se organizarem 
socialmente. Esse momento anterior à formação da sociedade seria o estado de natureza. 
Conforme o pensador contratualista analisado, a concepção do modo como se deu o estado de 
natureza pode variar drasticamente, assim como as razões para a assinatura do contrato social 
e o modo como se estabeleceria o estado civil. Dessa forma, precisamos lembrar que existe uma 
diversidade de autores contratualistas, que articulam de maneira distinta as ideias fundamentais 
do contratualismo. Entretanto, todos concordam em dizer que a vida em sociedade não se deu 
em decorrência de um impulso associativo natural, mas sim por um ato livre de escolha humana. 
 
 
HOBBES 
 
Dentre os autores que defendem essa corrente contratualista destaca-se Thomas Hobbes. 
Para ele, o estado de natureza não apenas significava o momento anterior à formação da 
sociedade, mas também o momento mais embrutecido da história da humanidade, no qual os 
indivíduos possuíam uma vida breve, animalesca, sórdida e bestial. O estado de natureza 
caracteriza-se, para esse pensador, como o momento em que imperava o caos. Além disso, 
Hobbes entende o estado de natureza como uma ameaça constante que paira sobre a sociedade, 
7 
 
 
 
ou seja, a ameaça de retorno do caos e desordem caso falte uma autoridade capaz de conter as 
más paixões humanas, impondo-lhes restrições e limites.6 
Para Hobbes, o estado de natureza seria produto necessário de quatro fatores, quais 
sejam: a natureza vil da humanidade, a natureza desejante dos indivíduos, a igualdade de todos 
entre si e a escassez de bens aptos a satisfazerem as necessidades e os desejos de todos os 
indivíduos. 
Em sendo vil, o ser humano sempre estaria disposto a praticar os atos mais sórdidos para 
atingir seus objetivos. Lembremos que no estado de natureza não há instituições sociais aptas a 
controlar as más paixões dos seres humanos, o que oferece um campo livre de atuação para as 
maldades inerentes ao nosso ser. 
Em sendo um ser desejante, o ser humano nunca se sentiria satisfeito com o que tem e 
sempre procuraria ter mais na tentativa inglória de aplainar seus desejos. Ora, a lógica do desejo 
é ser insaciável, posto que todo apaziguamento de um desejo é sempre temporário e tende a 
intensificar o desejo tão logo a sensação de saciedade tenha evanescido com o tempo. 
Ao tratar da igualdade, é perceptível que Hobbes a compreende de forma negativa. Para 
o filósofo, embora os seres humanos não fossem absolutamente iguais, eles eram iguais o 
suficiente para que nenhum pudessetriunfar sobre o outro (RIBEIRO, 2005, p. 55). Sendo 
assim, vivendo em constante estado de temor, já que todos eram iguais na capacidade de 
prejudicarem-se mutuamente, e por não saber o que o outro faria, visando preservar sua vida, 
Hobbes acredita que a escolha do ser humano nesta situação seria atacar seu semelhante mesmo 
antes de ser atacado. 
Por sua vez, a escassez de bens exige que a satisfação temporária de um desejo ou 
necessidade se dê por meio do impedimento de que os outros indivíduos apossem-se 
primeiramente do objeto visado. 
 
6 Sobre o estatuto teórico da referência ao estado de natureza em Hobbes, BRANCO (2013, p.60) alega: “Na 
filosofia política de Hobbes podemos (. . .) encontrar dois tipos de estados de natureza. O primeiro fictício ou 
hipotético e o segundo histórico. O primeiro é alcançado por meio da imaginação da ausência do Estado. Já o 
segundo, o estado de natureza histórico, indica o estágio inicial da humanidade cuja existência antecede a fundação 
do Estado.”. 
8 
 
 
 
Hobbes tem ainda uma concepção negativa da liberdade humana, haja vista que, por 
meio dela o ser humano possuiria o direito de tudo querer e poder, sendo possível fazer o uso 
de todas as suas forças e capacidades para alcançar seus objetivos. 
A soma desses fatores supracitados levaria à instauração da chamada "guerra de todos 
contra todos". O caos constituiria uma consequência necessária do estado de natureza. Pela 
conjunção dos elementos nele presentes, a guerra seria uma necessidade de sobrevivência e não 
uma escolha opcional para os indivíduos. 
Todavia, conforme o filósofo inglês, o ser humano, apesar de tudo, é um ser dotado de 
razão e percebe a inviabilidade de permanecer nesse estado em que seu bem mais precioso – 
sua própria vida – está sob constate ameaça. Isso o leva a imaginar uma situação na qual esta 
ameaça seja eliminada. Para Hobbes, chegado a esse ponto, os indivíduos vislumbram que a 
única forma de escaparem do estado de natureza é por meio da mútua associação, tendo em 
vista a implementação de uma coexistência pacífica. A formulação do pacto social se dá, 
portanto, no exato momento em que a razão humana subordina o lado vil e desejante do ser 
humano, e institui as regras e instituições necessárias para a convivência pacífica. Assim, a 
função do pacto social é a preservação da segurança humana, e sua manutenção não se dá por 
outro motivo além da preservação da vida e dos bens dos indivíduos. 
Através dessa associação tem origem o estado civil, no qual o Soberano – o Estado – 
seria a autoridade responsável por garantir a segurança dos indivíduos, devendo punir 
severamente quem descumprisse quaisquer de suas normas, haja vista que ele seria a única 
garantia do não retorno ao estado de natureza. Desse modo, os seres humanos, no momento da 
instituição do pacto social, teriam transferido seu direito de autodefesa para o Soberano. Logo, 
os seres humanos não mais lutariam entre si para preservar o que lhes é mais precioso, este 
poder pertenceria unicamente ao Soberano (BRITO, 2012, p. 121). 
Para Hobbes, no estado civil, os seres humanos de fato não possuiriam uma gama ampla 
de direitos e os direitos existentes poderiam ser excluídos se necessário à conservação do corpo 
9 
 
 
 
político. A liberdade dos indivíduos, no estado civil, seria a possibilidade de fazer o que a lei 
não proíbe. 
Hobbes recusa aceitar qualquer confrontação ao Soberano, uma vez que, para ele, 
mesmo um governo ruim ainda é melhor que o caos representado pelo estado de natureza. Em 
consequência disso não haveriam limites ao Soberano, salvo os que ele mesmo se impusesse. 
Por conta da concepção de poder dada ao Estado, por Hobbes, podemos dizer que ele 
manifestou grande apoio à forma absolutista de governo, como bem detectou Dalmo de Abreu 
Dallari (2005, p. 14): 
encontra-se na obra de Hobbes uma clara sugestão ao absolutismo, sendo certo que 
suas ideias exerceram grande influência prática, tanto por seu prestígio pessoal junto 
à nobreza inglesa [...], como pelas circunstâncias de que tais ideias ofereciam uma 
solução para conflitos de autoridade, de ordem e de segurança, de grande intensidade 
no século XVII. 
A sistematização das ideias contratualistas realizada por Hobbes permitiu um grande 
avanço na discussão política acerca da natureza do social. Outros autores que vieram depois de 
Hobbes aderiram ao contratualismo, mas rejeitaram veementemente o conteúdo que Hobbes 
deu a essa estrutura conceitual de compreensão da origem do social. Vejamos a seguir um 
grande continuador das ideias contratualistas, mas opositor ferrenho do pensamento 
hobbesiano, Jean-Jacques Rousseau. 
 
ROUSSEAU 
 
Rousseau acredita que no estado de natureza os seres humanos não estabeleceriam 
qualquer vínculo social com seus semelhantes a não ser aqueles estritamente necessários à sua 
sobrevivência. Os seres humanos não só não possuiriam vínculos entre si, mas também não 
necessitariam destes. Todavia, a inexistência de vínculos não significa necessariamente a 
desordem, pois, para Rousseau, a única preocupação humana, nesse estado, seria com a sua 
autopreservação, sendo que, por possuir natureza essencialmente boa, o ser humano não 
possuiria qualquer predisposição de atacar seu semelhante (ROMÊO, 2013, p. 170). Desse 
10 
 
 
 
modo, considerando as aspirações e natureza humanas, inexistiria a "guerra de todos contra 
todos" afirmada por Hobbes. O ser humano, embora sozinho, viveria em paz. 
Para Rousseau, o ser humano possuiria duas características próprias ao estado de 
natureza: liberdade e igualdade. Os indivíduos seriam livres, pois a inexistência de vínculos 
garantiria também a ausência de qualquer obrigação e restrição. Eles seriam ainda iguais pela 
falta de qualquer autoridade superior capaz de submetê-los à sua vontade. Os indivíduos teriam 
direito a tudo querer e poder, mediante o uso da razão. 
O aparecimento da linguagem adquire, em Rousseau, uma significação importante no 
que concerne à criação de laços e regras. Através da linguagem, em algum momento, um dos 
seres humanos decidiu instituir através de convenções a ideia de propriedade, que possui estreita 
ligação com a desigualdade, ao passo que retira algo do coletivo transformando em individual. 
Segundo Rousseau, haveria dois tipos de igualdade/desigualdade: as físicas e as sociais. 
Estas se radicam nas convenções impostas pelos seres humanos e, por não serem fruto da 
natureza, não possuem legitimidade. Desse modo, a sociedade traz a infelicidade, dá origem à 
corrupção humana. Isso porque, inicialmente feliz no estado de natureza, o ser humano decide 
por meio de seu egoísmo instituir noções individualistas que geram sua própria decadência. 
Rousseau compreende que o ser humano não poderia voltar ao seu estado natural, isso 
porque voltar no tempo é algo impossível. Contudo, o ser humano não poderia permanecer na 
decadência instituída pela sua individualidade e, por meio de um artifício, buscou a 
recuperações de seus princípios naturais. Assim, haveria chegado um momento em que as 
dificuldades de manutenção tornaram-se crescentes de modo a dificultar ou mesmo impedir que 
o ser permanecesse naquele estado. Por ser dotado de razão, o ser humano teria se 
conscientizado da impossibilidade de vencer sozinho tais dificuldades e, tendo consciência de 
quea liberdade e a força são as chaves para a sua conservação, decidiu unir forças com seus 
semelhantes formando a sociedade. 
Com o objetivo de recuperar a liberdade natural por meio da instituição da liberdade 
civil e de ampliar a igualdade natural, o ser humano teria assinado um pacto social. Todos os 
11 
 
 
 
seres humanos, na condição de iguais, teriam decidido pela alienação total de seus direitos em 
favor da criação de uma autoridade formada por eles mesmos. Isto é, a elaboração de leis e 
regras se daria pelo povo e este mesmo povo seria sujeito passivo de tais regramentos 
(NASCIMENTO, 2005). Desse modo, ao obedecer a si mesmo, por meio da vontade geral, o 
ser humano permanece tão livre e igual como dantes. Logo, o pacto seria responsável pela 
instauração do Estado, que por sua vez, deveria estruturar-se de modo a ser um mero 
representante da vontade geral, que não se resume a qualquer vontade individual. 
Para Dalmo de Abreu Dallari, as bases das ideias afirmadas por Rousseau tiveram 
determinante importância para o movimento que realizou a defesa da forma democrática de 
governo, pois: 
verifica-se que várias das ideias que constituem a base de pensamento de Rousseau 
são hoje consideradas fundamentos da democracia. É o que se dá, por exemplo, com 
a afirmação da predominância da vontade popular, com o reconhecimento de uma 
liberdade natural e com a busca da igualdade, que se reflete, inclusive, na aceitação 
da vontade da maioria como critério para obrigar o todo . . . (DALLARI, 2005, p.18).7 
Rousseau, como apresentado acima, mesmo utilizando a mesma arquitetura teórica do 
contratualismo, que pressupõe a existência de um momento anterior à vida social no qual os 
indivíduos viviam próximos mas isolados, momento que seria superado pela celebração de um 
pacto social entre os indivíduos para a constituição da vida político-social, desenvolve um 
conjunto de ideias abertamente contrárias às conclusões avançadas por Hobbes no que concerne 
à natureza da organização político-social humana. 
 
CONCLUSÃO 
 
As teorias expostas ao longo desse trabalho nos mostram que a pergunta pela origem do 
social pode obter respostas bem díspares entre si. Enquanto a corrente de pensamento naturalista 
centra-se na tese de que a vida social é produto de uma necessidade intrínseca à espécie humana, 
 
7 Rousseau chega em sua obra a uma conclusão basilar para a fundamentação da democracia quando afirma que é 
somente ao poder legítimo que devemos obediência. “Convenhamos, pois, que a força não faz o direito e que não 
se é obrigado a obedecer senão a poderes legítimos.” (ROUSSEAU, 2014, p.30) 
12 
 
 
 
que só realizaria plenamente todas as suas capacidades por meio da vida coletiva, a corrente de 
pensamento contratualista centra sua resposta na ideia de que somente a vontade e liberdade 
humanas podem dar origem ao social e estão aptas a explicar a natureza de nossas instituições. 
Apesar de o contratualismo, como explicação historicamente válida da emergência da vida em 
sociedade, não possuir adeptos declarados atualmente, suas ideias têm grande valor como 
justificativa filosófica das instituições sociais. O contratualismo de Rousseau, por exemplo, 
possui manifesta influência no que hoje convencionamos chamar de democracia. 
Seria plenamente factível, em um movimento dialético de síntese, entendermos que 
ambas as teorias possuem ideias relevantes para o esclarecimento do caráter social da vida 
humana. Assim, poderíamos dizer que a sociedade humana é fruto tanto do instinto quanto do 
desejo humano. Instinto de sobrevivência e desejo de formar um grupo para que unidos os 
indivíduos possam transpor os obstáculos que ameaçam sua existência. Dessa forma, 
concluímos que a sociedade é resultado tanto da natureza, quanto da vontade, liberdade e 
inteligência humanas. 
 
REFERÊNCIAS 
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BRANCO, Pedro H. V. B. Castelo. Hobbes e a fundação da teoria política moderna. IN: FERREIRA, Lier Pires, 
GUANABARA, Ricardo, JORGE, Vladimyr Lombardo. (Orgs.). Curso de ciência política: grandes autores do 
pensamento político moderno e contemporâneo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. 
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FRATESCHE, Yara. (Orgs.) Manual de Filosofia Política: para cursos de teoria do Estado e ciência política, 
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DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. 
LOPES, Marisa da Silva, ESTÊVÃO, José Carlos. Platão e Aristóteles: o nascimento da filosofia política. IN: 
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ciência política: grandes autores do pensamento político moderno e contemporâneo. Rio de Janeiro: Elsevier, 
2013. 
13 
 
 
 
NASCIMENTO, Milton Meira do. Rousseau: da servidão à liberdade. IN: WEFFORT, Francisco C. (Org.). Os 
Clássicos da Política. São Paulo: Editora Ática, 2005. 
OLIVEIRA, Carlos Eduardo de. Filosofia Política e Idade Média: conhecimento, vontade e bem comum como 
fundamentos da política medieval. IN: RAMOS, Flamarion Caldeira, MELO, Rúrion, FRATESCHE, Yara. (Orgs) 
Manual de Filosofia Política: para cursos de teoria do Estado e ciência política, filosofia e ciências sociais. São 
Paulo: Saraiva, 2012. 
RIBEIRO, Renato Janine. Hobbes: o medo e a esperança. IN: WEFFORT, Francisco C. (Org.). Os Clássicos da 
Política. São Paulo: Editora Ática, 2005. 
ROMÊO, Christiane Itabaiana Martins. Jean-Jacques Rousseau: da inocência natural à Sociedade Política. IN: 
FERREIRA, Lier Pires, GUANABARA, Ricardo, JORGE, Vladimyr Lombardo. (Orgs.). Curso de ciência 
política: grandes autores do pensamento político moderno e contemporâneo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. 
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. 4. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014.

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