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RESUMO RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE TURISMO
JOÃO MARCOS RABELO DA SILVA 
RESUMO
Cultura e Relações Internacionais: a influência das telenovelas no turismo emissivo brasileiro
O turismo internacional na economia-mundo capitalista: elementos
para uma crítica
São Luís
2017
JOÃO MARCOS RABELO DA SILVA
RESUMO
Cultura e Relações Internacionais: a influência das telenovelas no turismo emissivo brasileiro
O turismo internacional na economia-mundo capitalista: elementos
para uma crítica
Resumo apresentado à Disciplina de Relações Internacionais e Turismo, como requisito para obtenção de nota da 2ª avaliação.
Orientador: Prof. Me. Ruan Tavares
São Luís
2017
Cultura e Relações Internacionais: a influência das telenovelas no turismo emissivo brasileiro
Com o passar dos anos, as sociedades observaram um crescente desenvolvimento dos meios de comunicação, que transformaram tanto a vida social das pessoas, quanto, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, as relações internacionais entre os países. A partir daí, com o forte aumento da troca de informações entre as nações, o elemento cultural passa cada vez mais a se fazer presentes nas relações de mundo. Sendo isto, um reflexo do crescimento do turismo, consequência da ascensão do poder aquisitivo da classe média, que passou a viajar mais. (RIBAS, 2005).
 De acordo com Delgado (1994) além de agentes determinantes tradicionais, como a política e a economia, a cultura tem se mostrado como um componente essencial da relação entre os Estados, dos povos e do resto dos atores que exercem sua influência pelas fronteiras.
Segundo Gomes (2007) a cultura pode ser definida como aquilo que caracteriza o homem. Em um país, por exemplo, se já é possível perceber a rica diversidade cultural existente de regiões para regiões, cidades para cidades. Em esfera global, a diversidade cultural é ainda mais perceptível. Existem diferentes culturas, religiões, idiomas, ideologias, relações sociais pertencentes a diversos grupos pelo mundo. São essas diversidades culturais que influenciam nas relações de um país com o restante do mundo, tornando cada vez mais complexas as relações internacionais. Há ainda, o risco de interpretações equivocadas, que geram com frequência choques culturais no mundo. 
Não obstante, vivemos em um mundo capitalista onde somos bombardeados diariamente por conteúdos de caráter manipuladores, com o único objetivo de incentivar o consumismo, reflexo da globalização e do desenvolvimento dos meios tecnológicos. Culturas são intensamente difundidas através do cinema, das telenovelas, do rádio e também da internet. Esses diferentes meios de comunicação facilitam a criação de comportamentos cada vez mais padronizados no mundo, criando novos hábitos de consumo ligados àquilo que se é transmitido por esses meios tecnológicos.
Nesse cenário, a música é um exemplo de expansão intensa, onde em questões de segundos um artista com sua arte, pode viralizar na internet, atingindo pessoas de diferentes países ao redor do mundo.	 Questões como essa e muitas outras possuem ligação direta com as relações internacionais, já que, aqueles países que conseguem difundir sua cultura e seu modo de vida na maior parte do mundo, consequentemente se sobressaem no mercado mundial. De acordo com Delgado (1994) essa influência é chamada de “Contaminação Cultural”, onde a própria cultura de um povo é influenciada pelas potências mundiais.
No Brasil a disseminação da cultura das telenovelas vem rompendo cada vez mais fronteiras e, ao mesmo tempo que leva a cultura brasileira para o mundo, traz culturas de outros países para a sociedade brasileira. Considerando o turismo um fenômeno sociocultural inserido no mercado internacional e tendo como base a repercussão das telenovelas no país, é de grande importância compreender até que ponto a cultura e as relações internacionais podem se tornar influenciadoras do mercado emissivo brasileiro.
Ademais a novela que se tem na atualidade tem sua base na antiga Idade Média, sobretudo no século XI, quando as obras no formato de poesias épicas eram lidas para algumas pessoas e posteriormente interpretadas. A telenovela surge como uma história de ficção que com o passar dos tempos passou do rádio para a TV, tornando-se um gênero televisivo de grande popularidade, atingindo pessoas de diferentes perfis e camadas sociais. Além disso, independente da época e da história que é produzida, apresenta questões atuais da sociedade que conseguem tanto conscientizar, e comover, quanto induzir e influenciar na tomada de decisões desses espectadores.
No Brasil, as telenovelas surgiram em 1950, seguindo modelos de obras latinoamericanas, sobretudo mexicanas, argentinas e cubanas. Somente a partir da década de 60, que a teledramaturgia brasileira ganha aspectos próprios e alguns anos mais tarde, a estrutura de produção de teledramaturgias no Brasil já era tão sofisticada e profissional que as principais novelas de sucesso viraram produtos de exportação. Produções como, “Escrava Isaura” e “Dancin Days”, foram vendidas para cerca de cem países, onde esses países podiam acompanhar o desenrolar da trama em episódios dublados. Desde então, a indústria nacional das telenovelas se concentrou nas mãos da Rede Globo de Televisão, que com o passar do tempo foi investindo em narrativas brasileiras que passaram a incluir cenários internacionais, dos mais diversos em suas tramas, e consequentemente tendo um crescimento substancial em audiência. Marrocos, Turquia, Índia, Argentina, Peru e muitos outros países tiveram seus territórios apropriados pelas telenovelas brasileiras.
Nesse cenário, entra as Relações Internacionais, pois para a realização das telenovelas brasileiras no exterior, há necessidade de acordos internacionais, firmados entre as produções brasileiras e o governo dos países onde as telenovelas são gravadas. Os acordos preveem o interesse de promover o lugar turisticamente e de realizar uma produção televisiva satisfatória para as emissoras de TV, usufruindo de um espaço novo aos olhares curiosos do telespectador.
Atualmente, a televisão é um veículo de comunicação que vem se tornando cada vez mais essencial para a população brasileira. Segundo estudos realizados e divulgados em 2010 pelo (IBGE) através da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), cerca de 49,2% das pessoas assistem mais de três horas de TV por dia, ou seja, um bombardeio de informações é lançado diariamente sobre o telespectador. No entanto, mesmo com uma grande variedade de programação, são as telenovelas que ganham destaque por trazerem personagens comuns, que retratam na dramaturgia aquilo que vivemos em nosso cotidiano, fazendo com que os telespectadores criem um forte sentimento de identificação com as histórias contadas. Em 2012, por exemplo, a teledramaturgia brasileira atingiu um marco ao “parar o país” para assistir ao capítulo final de “Avenida Brasil”, que segundo dados oficias do IBOPE, conseguiu a maior audiência do ano ao atingir 50,9 pontos, sendo cada ponto correspondente a 65.201 domicílios. A Rede Globo responsável pela transmissão de tal feito, é atualmente a segunda maior emissora de televisão do planeta, atrás somente da americana American Broadcasting Company (ABC). É assistida diariamente por um público estimado de 150 milhões de pessoas no Brasil e no mundo.
Depois que as novelas brasileiras alcançaram determinado sucesso, se tornaram artigos de exportação. A partir do momento que são exportadas, acabam sofrendo alterações para se ambientarem dentro dos padrões culturais dos outros países, podemos dizer que há uma adaptação do sistema de símbolos, para que o público estrangeiro possa compreender as mensagens enviadas, aumentando os níveis de sua audiência. Como por exemplo, “Avenida Brasil” que parou o Brasil em 2012, conseguiu repetir esse feito anos depois na Argentina, onde foi possível ver pessoas lotando estádios para conseguirver o último capítulo da trama. Essa troca cultural proporcionada pelas telenovelas, tanto daqueles que assistem as produções brasileiras no exterior, quanto o público nacional que acompanha tramas ambientadas em diversos outros países, dentro de suas casas, através das novelas, faz com que a distância entre essas regiões pareça ser menor, aproxima os países e as culturas e de alguma maneira consegue estreitar as relações internacionais entre os países, seja pelo maior conhecimento da cultura do outro, seja pelo interesse de visitar lugares inusitados e muitas vezes exóticos.
O impacto causado na sociedade devido às manipulações de imagem transmitidas pelas telenovelas, que levam os telespectadores a demandarem, cada vez mais, produtos expostos pelas mesmas, inclusive aqueles relacionados ao turismo, pode ser verificado a partir da análise de algumas novelas veiculadas ao longo dos anos, como Salve Jorge, gravada na Turquia, que no ápice da novela observou-se um aumento de 70,3% da demanda pelo destino em relação ao ano anterior. Sendo que na mesma época o pacote turístico levava o nome da própria novela. Além de Salve Jorge, outro dado relevante está relacionado à telenovela “Amor à Vida”, exibida pela Rede Globo entre 2013 e 2014, em que o número de buscas por passagens aéreas para Cusco, no Peru – local onde as primeiras cenas da atração foram exibidas - cresceu 542% e a busca por hospedagens 170%.
A partir destes exemplos, pode-se entender como as telenovelas atuais são utilizadas pelas empresas e governos como elemento de marketing turístico, estreitando relações entre os países. Se por um lado, é interessante para os países terem seus atrativos divulgados em locais onde a transmissão das telenovelas possui grande apoio da população, por outro, as empresas aéreas, agências e operadoras de viagem, redes hoteleiras e todo o setor turístico se beneficiam da atração dos telespectadores por novos lugares. Ou seja, a transmissão de uma trama televisiva pelas emissoras, consegue influenciar as relações internacionais e turísticas ao redor do mundo.
O turismo internacional na economia-mundo capitalista: elementos
para uma crítica
De acordo com Andrade (2005) o turismo “é um fenômeno social, complexo e diversificado” tanto que, devido a sua abrangência, hoje não se idealiza o turismo apenas como atividade de lazer, mas também permite a inserção de novas formas de analisá-lo, mobilizando pessoas pelos mais variados motivos, para os mais diversos destinos.
O desenvolvimento econômico e social é pautado pelo aumento do consumo. O turismo, por sua vez, é um fenômeno que contribui para esse desenvolvimento econômico, bem como pela sua capacidade de geração de emprego e renda. É um segmento capaz de alavancar a economia, além de contribuir significativamente para a preservação do patrimônio natural e cultural, uma vez que estes são matérias-primas básicas para a existência desse fenômeno. No entanto, nem sempre esse desenvolvimento se dar de uma maneira que beneficia a todas as camadas sociais diretamente. 
Há inúmeros relatos, na literatura internacional sobre fenômenos desse tipo. Poirier (1995) traz um bom panorama sobre a situação na Tunísia, mostrando os impactos sociais e ambientais da expansão do turismo no país, além do choque cultural entre a cultura islâmica e os valores europeus. Hussey (1989) descreve em detalhes o que ocorreu em Kuta, pequena vila na Ilha de Bali, na Indonésia, mostrando as transformações no modo de vida da população local. Chávez (1999) apresenta um breve relato sobre a situação em comunidades indígenas no continente africano, expondo que os efeitos do turismo sobre as comunidades nativas têm sido sumamente nocivos, como expulsão em massa de suas terras, deslocamento econômico, destruição dos valores tradicionais e degradação ambiental.
A partir destes exemplos, percebe-se que a expansão do turismo em determinados destinos sofre em sua maioria choques culturais e surtos de desenvolvimento acelerado, que na maioria das vezes não afeta direta e positivamente a sociedade ao seu entorno. Entretanto, o turismo não é, por si só, condição necessária e nem mesmo suficiente para que um país ou região periférica alcance o “desenvolvimento”. Mesmo assim, nos países e regiões periféricos, desde há muito tempo que o turismo vem sendo encarado como o “passaporte para o desenvolvimento”. É óbvio que a introdução das atividades turísticas em muitas regiões produz algumas prosperidades, criando circuitos privilegiados de consumo e produção. Contudo, essa prosperidade restringe-se a poucos. De modo geral, a maioria dos residentes das regiões periféricas não se beneficia com o “progresso” prometido pelo turismo. Na realidade, os dados apresentados no artigo em questão, sugerem que a condição periférica não é alterada pela atividade turística, e que existe uma desigual distribuição da renda produzida pelo turismo internacional.
Entretanto, ao mesmo tempo, parece claro que o turismo está mudando a geografia do mundo, inserindo nos circuitos econômicos globais localidades, regiões e países das periferias capitalistas. Contudo, é cada vez mais evidente que o turismo não é, por si só, mais indutor do desenvolvimento do que as atividades agrícolas ou industriais. E tem se mostrado incapaz de reduzir a enorme distância que separa o centro da periferia. Há pouca evidência empírica que nos permita corroborar que o turismo possa continuar sendo encarado como um “passaporte para o desenvolvimento”, ou uma fuga da condição periférica. Na verdade, de acordo a expressão de Turner e Ash (1991) podemos perceber que as “periferias do prazer”, continuam sendo o que sempre foram: periferias.
Segundo Turner e Ash (1991) “[...] em muitas partes do mundo, é incomum o fato de parte da população passar as férias fora do país”. Os dados do turismo mundial indicam, na verdade, que são os países e regiões centrais, mais desenvolvidas, que concentram o turismo emissivo mundial, além de concentrarem a chegada de turistas e as receitas turísticas. Em outras palavras, o turismo também expressa a desigualdade histórica existente no mundo.

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